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133
INOVAÇÃO: PERSPECTIVA SCHUMPETERIANA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS
Luciano Antonio Prastes Junqueira1
Maria Cristina Amorim2
Maria Fatima Silva3
Resumo
O artigo apresenta uma discussão teórica sobre o tema da inovação a partir de Schumpeter, de
autores neo-schumpeterianos e de contribuições de outras ciências sociais. Trata-se de um ensaio
teórico-exploratório baseado em revisão bibliográfica (artigos científicos de revistas especializadas
e sites institucionais). As obras de Schumpeter e dos neo-schumpeterianos oferecem análises
situadas nos campos da economia e da administração. O artigo objetiva avaliar as contribuições de
outras ciências sociais para o tema inovação, na expectativa de um diálogo produtivo entre os
saberes. Observa-se que os rumos da inovação na sociedade contemporânea significa uma mudança
de enfoque analítico-conceitual, do contexto e da compreensão do sistema da inovação. Os desafios
nas pesquisas desta área é conseguir o equilíbrio entre as análises exclusivamente quantitativas
sobre evolução da tecnologia da informação e a dinâmica dos fenômenos culturais propriamente
ditos. Além disso, surge a oportunidade de ampliar a discussão da agenda da inovação com o
debate de outros aspectos relativos à dimensão social.
Palavras-chave: Inovação tecnológica. Schumpeter. Neo-schumpeterianos. Inovações
sociais.
INNOVATION: SCHUMPETERIANA PERSPECTIVE AND THE SOCIAL SCIENCES
Abstract
The paper presents a theoretical discussion on the topic of innovation from Schumpeter, of authors
neos-schumpeterianos and contributions from other social sciences. This theoretical test based on
exploratory bibliographical revision (scientific articles in specialized magazines and institutional
sites). The works of Schumpeter and the neos-schumpeterianos offer analyses on the field of
Economics and administration. The article aims to evaluate the contributions of other social
sciences for the innovation theme, in expectation of a productive dialogue between knowledge. It is
observed that the direction of innovation in contemporary society means a change of analytical-
conceptual approach, the context and the understanding of the innovation system. The challenges in
this research area are to achieve a balance between purely quantitative analyses on evolution of IT
and the dynamics of cultural phenomena themselves. In addition, there is the opportunity to
broaden the discussion of the innovation agenda with discussion of other aspects of the social
dimension.
Keywords: Technological innovation. Schumpeter. Neo-schumpeterianos. Social innovations.
1 INTRODUÇÃO
O economista austríaco Joseph Alois Schumpeter é uma das principais referências
no debate sobre inovação. Schumpeter publicou suas principais obras em duas fases, entre
1911 e 1954. Na primeira fase, as obras foram Essência da Economia Teórica, de 1908, e
Teoria do Desenvolvimento Econômico, de 1911; na segunda fase, destacam-se livros
1
Professor doutor em gestão social e redes sociais - PUC-SP. E-mail: junq@pucsp.br.
2
Professora doutora na área de Economia e Inovação - PUC-SP. E-mail: cris.amorim@pucsp.br
3
Doutoranda em Adminsitração - PUC. E-mail: junq@pucsp.br
134
como Capitalismo, Socialismo e Democracia, de 1942, Ciclos Econômicos, de 1939, e
História da Análise Econômica, de 1954, este publicado postumamente.
Suas obras contribuíram significativamente com análises sobre as relações entre
desenvolvimento econômico e inovação. Schumpeter é considerado um estudioso do papel
da tecnologia na sociedade, ao destacar essa variável como o motor do desenvolvimento
econômico, por sua vez, baseado na propriedade privada, divisão do trabalho e livre
concorrência. Como veremos adiante, toda a literatura posterior mantém esta ideia mestra:
articular empresas, mercados competitivos e ambientes econômicos adequados como
condição para o florescimento da inovação. Atualmente, quando o assunto é inovação,
destacam-se suas contribuições e sua influência sobre as vertentes teóricas dos autores
denominados neo-schumpeterianos, os quais continuaram a desenvolver pesquisas sobre
inovação nas décadas de 1970 e 1990, explorando as conexões entre desempenho
comercial e capacidade de inovar tecnologicamente no âmbito das empresas.
Os neo-chumpeterianos corroboram com a visão de Schumpeter ao destacar o
desenvolvimento tecnológico não apenas com papel primordial no processo da inovação,
mas também ao promover o diferencial competitivo e, assim, possibilitar a manutenção da
posição de mercado ou a conquista de outros mercados no setor de atuação de uma
determinada indústria. Nesse sentido, os neo-schumpterianos como Freeman (1987), Dosi
et al. (1990), Higgins (1995), Prahalad (2004), entre ouros, corroboram com a visão de
Schumpeter, ao destacarem que o processo da inovação compreende atividades de
concepção, experimentação, técnicas, desenvolvimento, gestão e adoção de novas
tecnologias.
Além da economia e da administração, as demais ciências sociais aplicadas
oferecem contribuições para a discussão. O artigo objetiva avaliar as contribuições de
outras ciências sociais para o tema inovação, na expectativa de um diálogo produtivo entre
os saberes.
Para tanto, o estudo está dividido em três partes. A primeira parte versa sobre os
conceitos de inovação na visão schumpeteriana e a visão dos neo-schumpeterianos. A
segunda apresenta as críticas dos cientistas sociais à tradição schumpeteriana: a
compreensão “ortodoxa” do fenômeno da inovação resultaria em modelos deterministas
e em abstrações que deveriam dar lugar a uma abordagem circunstancial e multilinear.
Para a crítica, as referências são Bruno Latour (2000), Maria Lúcia Maciel (2001) e
Manuel Castells (2003), olhares vindos da sociologia. A última parte contém as
considerações sobre a articulação dos conceitos apresentados. Esperamos que as
135
singularidades e interfaces dos constructos analisados contribuam para a agenda de
discussões sobre inovação.
2 INOVAÇÃO: DE SCHUMPTER AOS NEOS-SCHUMPETERIANOS
A construção da agenda da inovação teve seu maior impulso nos estudos da
economia. As contribuições de Joseph Alois Schumpeter, no início do século XX,
abordaram a importância dos avanços tecnológicos baseados nas inovações para explicar o
desenvolvimento das empresas e da economia, principalmente as profundas mudanças
econômicas e sociais do capitalismo ao longo de sua história. O autor destacou que a
inovação representava papel central no desenvolvimento econômico de um país. Santos et
al. (2011, p. 2) reiteram que a teoria econômica schumpeteriana sobre o modelo capitalista
do inicio da revolução industrial destacou a invenção e a inovação como principais forças
do desenvolvimento econômico.
A partir da obra schumpeteriana, o ciclo da inovação é compreendido nas
dimensões da invenção, inovação e imitação ou difusão. Invenção significa a ideia
potencialmente aberta para a exploração comercial, a inovação (exploração comercial) e a
difusão a (propagação de novos produtos e processos pelo mercado). A abordagem
schumpeteriana (1988) enfatiza as inovações radicais que envolvam mudanças no sistema
econômico, diferentes, portanto, das inovações incrementais (melhorias das inovações
radicais). A partir desses conceitos, diversos autores chamados de neo-schumpterianos
reforçaram a tese de Schumpeter sobre a importância da inovação e o impacto no
desenvolvimento econômico, além de ampliarem a análise para a importância e os
impactos da inovação na estrutura dos mercados e nas estratégias organizacionais. No
Quadro 1 estão às sínteses das perspectivas dos neo-schumpterianos e também do Manual
de Oslo, documento produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE, 2005) para orientar as políticas públicas de fomento à inovação. No
campo dos modelos de gestão da inovação, Tidd, Bessant e Pavit (2008) produziram um
conhecido hand book, reconhecendo as contribuições de Schumpeter, ou seja, sem novas
definições sobre o fenômeno.
136
Quadro 1 - Síntese da visão de alguns autores neo-schumpeterianos.
Autores Inovação
Freeman (1987) Inovar é o processo que inclui as atividades técnicas, concepção,
desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de novos (ou
melhorados) produtos, ou na primeira utilização de novos (ou
melhorados) processos.
Dosi; Pavitt;
Soete (1990)
Inovar é uma atividade complexa inserida em um processo ou
relacionada com descoberta, desenvolvimento, experimentação e
adoção de novos produtos e/ou processos produtivos.
Higgins (1995) Inovar é criar novos produtos ou processar melhorias em produtos
existentes e o mesmo ocorre para os serviços. Os processos podem ser
novos ou serem realizadas melhorias.
Rieg; Alves Filho
(2003)
Inovar significa desenvolver tecnologias de processos e produtos
viáveis comercialmente. Inovar tecnologicamente é aperfeiçoar o
desempenho do produto.
Prahalad;
Ramaswamy
(2004)
Inovar é adotar novas tecnologias que permitam aumentar a
competitividade da empresa no mercado.
Manual de Oslo
(2005)
Inovar é um processo contínuo e é adotado na melhoria de produtos e
processo organizacional e de marketing.
Kelley (2005) Inovar é o resultado de um trabalho em equipe, isto é, ser receptivo à
cultura e tendências de mercado, aplicando conhecimento de maneira a
visualizar o futuro e gerar produtos e serviços diferenciados.
Fonte: elaborado pelos autores (2015).
O Quadro 1 permite-nos compreender: 1) não há discordâncias significativas entre
os neo-schumpeterianos e Schumpeter; 2) a aproximação da teoria econômica sobre
desenvolvimento e dos estudos sobre estratégia, gestão de processos e marketing; 3) a
confirmação da importância da incorporação da tecnologia não apenas no produto e
processo, mas também na comercialização e no marketing. O estudo da obra dos neo-
schumpeterianos – que não é o objetivo do presente artigo – mostra o empenho desses
autores em compreender a inovação no âmbito das organizações, um esforço ainda
problemático para conciliar os campos de estudo da economia e da administração.
137
Para os neo-schumpeterianos, a inovação é estratégia e modelo de gestão;
reproduzem as ideias de Schumpeter sem avanços conceituais e mantêm a discussão sobre
inovação nos aspectos econômicos, não havendo lugar para variáveis como política,
cultura, entre outras. O Manual de Oslo (OCDE, terceira edição, 2005), base para as
políticas de fomento à inovação de vários países, mantém o viés econômico-
administrativo, apesar de existirem fortes razões para incluir abordagens mais amplas dos
sistemas de inovação.
Uma das primeiras vertentes na gestão do modelo de pesquisa sobre inovação é a
“hélice tripla”, que se propõe a entender os processos inovadores a partir da conjugação de
três segmentos: empresas, universidades e Estado, constituidores dos sistemas nacionais de
inovação. A proposta foi formulada por economistas e administradores ao longo dos anos
de 1970 e 1980, com o importante papel de direcionar o processo da inovação dentro de
formatos institucionais, além de proporcionar o financiamento da atividade inovadora em
determinados setores estratégicos (VALENTE, 2010).
O sistema proposto pela “hélice tripla”, no entanto, não atingiu o campo das
estratégias organizacionais e dos modelos de gestão associados aos investimentos
organizacionais privados em inovação. O limite da abordagem da “hélice tripla” é “de
origem”, isto é, resulta da premissa da economia neoclássica e de parte de seus modelos de
desenvolvimento nos quais as firmas operam sempre em condição de maximização dos
fatores de produção e na taxa média de lucro por setor, como apresentado por Nelson
(2006).
No segmento de tecnologia da informação e comunicação (TIC), Chesbroug (2006)
apontou os limites das estratégias estritamente competitivas ao propor a open innovation.
Sua abordagem apresenta inovação como estratégia para ser compreendida e gerida para
além das fronteiras da organização e do Estado nacional, um novo entendimento para as
atividades de P&D, que deveriam ser pautadas pela conectividade e pelo desenvolvimento,
como representado na Figura 1.
138
Figura 1 - Inovação Aberta – Conectividade e desenvolvimento Chesbrough
(2006).
Fonte: elaborada pelos autores.
No argumento da “inovação aberta”, a economia globalizada, a flexibilidade dos
formatos organizacionais (empresas, agências estatais e centros de pesquisa), a formação e
o desenvolvimento de redes ganham importância e são tema central das pesquisas sobre
inovação. Na perspectiva da inovação aberta, a utilização de nova tecnologia e as redes
permitirão o crescimento da organização, que deveria buscar novos modelos de gestão com
foco nas redes de conexão (CHESBROUGH, 2006).
No âmbito das ciências sociais, a rede pode ser entendida como uma ordem
espontânea que emerge do resultado das interações descentralizadas entre indivíduos e/ou
organizações (JUNQUEIRA, 2008). Essas redes de relações se constituem pelas interações
entre os diversos intervenientes de suas ações e essas organizações se compõem por várias
conexões, a fim de um resultado apoiado em uma relação colaborativa e sinérgica (LIMA;
CAMPOS FILHO, 2009; STEENSMA; MARINO; WEAVER, 2000). Essas organizações
devem trabalhar colaborativamente com outras organizações, pois, assim, podem gerar
novos inputs no sistema organizacional (CASTELLS, 2003).
Nos estudos realizados por Granovetter, evidencia-se a perspectiva sociológica de
que as redes integram os atores em seus contextos relacionais e possibilitam o acesso a
oportunidades existentes na estrutura social e econômica (2000). Assim, Granovetter,
define as redes como um “conjunto de nós ou atores (pessoas ou organizações) ligados por
relações sociais ou laços de tipos específicos”. Um laço ou relação entre dois autores tem
139
força (strength) e conteúdo. “O conteúdo inclui informação, conselho ou amizade,
interesses compartilhados ou pertencimentos e, tipicamente, algum nível de confiança”
(GRANOVETTER et. al., 1998, p. 219).
Segundo Castells (1999), a partir das tecnologias de informação e comunicação, as
redes sociais no mundo contemporâneo, nas arenas informacionais, devido ao uso múltiplo
e desregulamentado das redes tecnológicas, têm possibilitado o florescimento de
organizações e entidades inusitadas e cada vez mais atuantes em diferentes realidades
sociais e organizações, ao lidar com diversas situações. Dessa forma, as redes sociais
podem se constituir como uma das estratégias subjacentes utilizadas pelas organizações no
compartilhamento da informação e do conhecimento, mediante as relações entre atores que
as integram instituições, organizações e indivíduos e, assim, contribuir com os processos
de “inovação aberta”.
À medida que o conceito de estratégia avança para a “inovação aberta” e por isso
mesmo amplia o processo de pesquisa e desenvolvimento da organização, fenômenos
como interação entre os atores da cadeia de desenvolvimento da organização, como
demonstrado na Figura 1 (empresas, universidades, consumidores, fornecedores e canais
de distribuição), e cocriação produzem problemas novos que precisam de soluções
diferentes das tradicionais.
A inovação na perspectiva do “open innovation” destaca-se como fator importante
no processo de competitividade da organização em seu setor de atuação do ponto de vista
econômico. Entretanto, observam-se lacunas importantes para discutir quanto ao modelo
de gestão da inovação, como regras de propriedade intelectual, aspectos jurídicos,
formação das redes de pesquisa e sinergias entre setores público e privado na área
tecnológica. Essas questões têm ocupado a atenção do Estado na discussão das políticas
para inovação no Brasil, mas ainda é prematuro avaliar os impactos dessas políticas na
sociedade, particularmente porque a temática da inovação penetrou na agenda pública do
País apenas na dimensão econômica e organizacional (CAMPOS; AMORIM; GARCIA,
2007).
As contribuições das ciências sociais sobre sociedade em rede, análise dos impactos
da tecnologia da informação na vida cotidiana, entre outros, podem ajudar a responder a
esses desafios e contribuir para a solução de problemas associados à inovação, mas exige
ultrapassar as fronteiras da inovação para além da “visão ortodoxa” centrada na economia
e na administração.
140
3 A INOVAÇÃO PARA ALÉM DA ECONOMIA E DA ADMINISTRAÇÃO
Na década de 1970, o pensamento sociológico iniciou o debate sobre inovação
trazendo novas perspectivas de análise. De acordo com Flichy e Maciel (apud Andrade
2005, p. 146), o contexto tecnológico e os ambientes de inovação representam novas
possibilidades de incorporar teórica e empiricamente práticas de inovação em uma
dimensão sociológica.
No século XXI, discute-se incorporar nas análises do tema dimensões sociais,
culturais e políticas. Nicolas e Mytelka (apud Andrade, 2005, p. 148) criticam a visão
“ortodoxa”, como se vê na citação:
[...] abstraem o fato de que a tecnologia seja uma construção social, determinada
não somente pela acumulação de conhecimentos, mas também pelas forças
sociais, necessidades econômicas, decisões políticas e pelas pressões públicas
que influenciam a direção da mudança tecnológica [...]. Adotar uma definição
estreita da noção de progresso tecnológico e torná-lo o motor de toda uma cadeia
de acontecimentos faz com que um processo dinâmico pareça estático e linear
[...] (NICOLAS; MYTELKA, 1994, p. 7).
Com a crítica, os autores preparam o terreno para mostrar ao leitor a importância de
expandir-se o conceito de inovação, incluindo as condições coletivas para a qualificação de
profissionais, as necessidades dos setores marginalizados, a revitalização do espaço
urbano, entre outras questões. A pauta dos autores não é estranha às instituições
multilaterais, como se vê na posição da OCDE, que utiliza a expressão “inovação social”
para definir as inovações que podem ocorrer fora do trinômio empresa-Estado-
universidade.
A inovação social procura novas respostas para os problemas econômicos e
sociais, através da identificação e distribuição de novos serviços que melhoram a
qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades. Isto envolve o desenho e a
implementação de novos processos de integração dos mercados de trabalho,
novas competências, novas empregos e novas formas de participação. As
inovações sociais contribuem assim para o bem-estar das comunidades e dos
indivíduos, quer estes sejam consumidores ou produtores (OCDE, 2005, p. 299).
A inovação social deve ser explicada a partir de abordagem circunstancial e
multilinear, que não aceitam como autossuficientes os parâmetros das escolhas racionais.
Nessa perspectiva, Almeida (2006) destaca que as inovações sociais existem e estão
ligadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades por meio do emprego, do
consumo e da participação, e podem assumir as mais diversas formas. O aparecimento dos
141
jornais, o sistema educativo moderno, uma linha telefônica de apoio a grupos de risco, o
microcrédito e o software livre são apenas, alguns exemplos (ALMEIDA, 2006).
A definição de Bouchard (1997 apud ALMEIDA, 2006), embora mais sintética,
introduz alguns elementos importantes:
Qualquer abordagem nova, prática ou de intervenção, ou ainda qualquer produto
novo que tem vista melhorar uma situação ou solucionar um problema social e
que encontre um tomador no nível das instituições, das organizações e das
comunidades (BOUCHARD, 1997, p. 7 apud ALMEIDA, 2006, p. 61).
Essa definição de certa forma aproxima o conceito de inovação social da
categorização de Schumpeter, pois sugere a ideia de uma nova combinação (nova
abordagem, prática ou intervenção), de um novo produto ou de um novo serviço. Além
disso, inclui não só as inovações organizacionais, como também introduz bens e serviços
que têm por fim a resolução de problemas sociais. Por último, mas não menos importante,
a definição aborda a ideia presente na economia da inovação, ou seja, a noção de que a
inovação social não é apenas uma invenção, uma vez que necessita encontrar um tomador,
no nível das instituições, das organizações e das comunidades.
3.1 As especificidades e contribuições segundo os sociólogos sobre a visão das ciências
sociais
A partir das abordagens trazidas pelos cientistas sociais dos anos 1990, depreende-
se que em alguns casos as inovações se tornam menos tecnológicas e mais sociológicas,
como veremos na síntese dos estudos de Latour (2000), Maciel (1997) e Castells (2003).
Bruno Latour (2000) discute a perspectiva de novos parâmetros para a inovação em
confronto a visão Schumpteriana. Para ele, os fatores de análise econômica como
mecanismos de mercado e evolução tecnológica passam a ter sua capacidade explicativa
questionada por abordagens que privilegiam as relações circunstanciais da inovação.
Segundo o autor, a inovação deve se construir a partir da ação estratégica dos inovadores.
Nessa ação estratégica, o inovador precisa, ao mesmo tempo, controlar o contexto social
em que se desenrola a prática inovadora e se adaptar a ele. A análise engloba o contexto
tecnológico em torno de intervenções específicas e se aprofunda nas tramas operacionais
dos dispositivos técnicos. Entretanto, o ambiente da inovação irá representar um quadro de
relações aberto no tempo e no espaço. Maciel (1997) evidencia controvérsias específicas
em processos de tradução dos diferentes agentes e aponta aspectos intangíveis das relações
sociais mais amplos que repercutem no desenvolvimento tecnológico e econômico de uma
142
determinada configuração. A autora defende a utilização do conceito de ambientes de
inovação em estudos sociais sobre produção tecnológica e apresenta a seguinte definição:
[...] procura dar conta do conjunto de condições – limites, obstáculos,
possibilidades, estímulos – da inovação em uma determinada formação social.
Ambiente de inovação refere-se, portanto ao conjunto de fatores políticos,
econômicos, sociais e culturais que estimulam ou dificultam a inovação [...]
(MACIEL, 1997, p. 109).
Semelhante análise vem sendo conduzida por Castells (2003) sobre tecnologias de
informação e redes sociais. Segundo ele, no mundo contemporâneo, as novas arenas
informacionais e o uso múltiplo e desregulamentado das redes tecnológicas têm
possibilitado o florescimento de organizações e entidades sociais inusitadas e cada vez
mais atuantes.
No estudo de Maciel (1996) sobre o fortalecimento do processo da inovação nos
anos 1980 na Itália, o processo dependeu fortemente do enquadramento e da flexibilidade
de seu ambiente. A inovação ocorreu em muitos momentos independentemente dos
investimentos em P&D. Na mesma linha de análise, Castells (2003), quando se refere à
Cidade Digital de Amsterdã, identifica algo semelhante: o ambiente inovador suscitou
mudanças nas lideranças locais e nas novas atividades culturais com baixo incremento
tecnológico. Além disso, o autor relata que o crescimento da cultura digital pública nos
anos 1990 em Amsterdã, os fatores relativos às mudanças culturais e as novas legislações
contribuíram significativamente, mais do que propriamente as inovações tecnológicas.
Assim, observa-se que podem ser detectadas importantes práticas inovadoras sem invenção
tecnológica (inovação sem tecnologia).
A partir dos parâmetros da sociologia construtivista e das análises do ambiente da
inovação é possível ter opções teóricas e metodológicas para o reconhecimento de um
campo de inserção dos cientistas sociais na discussão sobre inovação tecnológica e
relações sociais, mesmo considerando suas especificidades. A noção de ambiente de
inovação proporciona um olhar mais amplo sobre a prática da inovação, o qual não se
deixa circunscrever a jogos de relações específicos e pontuais entre humanos e não
humanos, como o que ocorre nos processos de tradução de contextos analisados por Latour
(MACIEL, 2001).
Os estudos de projetos tecnológicos e avanços econômicos podem propiciar o
reconhecimento de um amplo espectro de relações coletivas que interferem nos rumos do
processo da inovação. Por intermédio da construção de contextos ou ambientes específicos,
143
é possível compreender a presença ou a omissão de fatores socioculturais nos rumos do
desenvolvimento tecnológico.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O brilhantismo de Joseph Shumpeter não está apenas em ser um pensador original e
criativo, mas em manter suas ideias de inovação tão atuais, com conteúdo universal, e se
aventurar a fazer uma análise da transição social sob o capitalismo durante esta transição.
Considerando as definições schumpeteriana e os autores neo-schumpeterianos, os
processos de inovação diferem de setor para setor quanto ao desenvolvimento, à taxa de
mudança tecnológica, às interações e acesso ao conhecimento, às estruturas
organizacionais e aos fatores institucionais.
Ao se analisar os setores tradicionais com o “paradigma” schumpeteriano, como os
mecanismos de mercado, ênfase econômica e nas ciências organizacionais e os
investimentos em P&D, a sociologia aponta que este pode não dar conta de explicar as
escolhas e as controvérsias da inovação na dimensão social. Assim, a importância da
tecnologia, por exemplo, pode ser submetida a uma infinidade de enfoques, sendo que as
ciências sociais têm contribuições a oferecer.
Como exemplifica Almeida (2006), ao destacar que as inovações sociais existem e
estão ligadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades (pelo emprego, consumo e
da participação), podem assumir as mais diversas formas. Mesmo a open innovation,
nascida no campo “ortodoxo” da estratégia organizacional já abre interações com outras
áreas do conhecimento ao demandar conhecimento sobre gestão de redes, das pessoas
interagindo sem hierarquia, etc.
A proposta dos pesquisadores sociais interessados em compreender os rumos da
inovação na sociedade contemporânea significa uma mudança de enfoque analítico-
conceitual, do contexto e da compreensão do sistema da inovação. Um dos desafios das
pesquisas nesta área é conseguir o equilíbrio entre as análises exclusivamente quantitativas
sobre evolução da tecnologia da informação e a dinâmica dos fenômenos culturais
propriamente ditos. Além disso, surge a oportunidade de ampliar a discussão da agenda da
inovação com o debate de outros aspectos relativos à dimensão social.
144
Recebido em março de 2015.
Aprovado em maio de 2015.
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VALENTE, Luciano. Entrevista: Henryetz kovitz, Hélice tríplice: metáfora dos anos 90
descreve bem o mais sustentável modelo de sistema de inovação. Conhecimento &
Inovação vol.6 no. 1 Campinas 2010. Disponível em:
<http://inovacao.scielo.br/pdf/cinov/v6n1/02.pdf.> Acesso em: 16 maio 2014.

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Inovação Schumpeter e ciências sociais

  • 1. 133 INOVAÇÃO: PERSPECTIVA SCHUMPETERIANA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS Luciano Antonio Prastes Junqueira1 Maria Cristina Amorim2 Maria Fatima Silva3 Resumo O artigo apresenta uma discussão teórica sobre o tema da inovação a partir de Schumpeter, de autores neo-schumpeterianos e de contribuições de outras ciências sociais. Trata-se de um ensaio teórico-exploratório baseado em revisão bibliográfica (artigos científicos de revistas especializadas e sites institucionais). As obras de Schumpeter e dos neo-schumpeterianos oferecem análises situadas nos campos da economia e da administração. O artigo objetiva avaliar as contribuições de outras ciências sociais para o tema inovação, na expectativa de um diálogo produtivo entre os saberes. Observa-se que os rumos da inovação na sociedade contemporânea significa uma mudança de enfoque analítico-conceitual, do contexto e da compreensão do sistema da inovação. Os desafios nas pesquisas desta área é conseguir o equilíbrio entre as análises exclusivamente quantitativas sobre evolução da tecnologia da informação e a dinâmica dos fenômenos culturais propriamente ditos. Além disso, surge a oportunidade de ampliar a discussão da agenda da inovação com o debate de outros aspectos relativos à dimensão social. Palavras-chave: Inovação tecnológica. Schumpeter. Neo-schumpeterianos. Inovações sociais. INNOVATION: SCHUMPETERIANA PERSPECTIVE AND THE SOCIAL SCIENCES Abstract The paper presents a theoretical discussion on the topic of innovation from Schumpeter, of authors neos-schumpeterianos and contributions from other social sciences. This theoretical test based on exploratory bibliographical revision (scientific articles in specialized magazines and institutional sites). The works of Schumpeter and the neos-schumpeterianos offer analyses on the field of Economics and administration. The article aims to evaluate the contributions of other social sciences for the innovation theme, in expectation of a productive dialogue between knowledge. It is observed that the direction of innovation in contemporary society means a change of analytical- conceptual approach, the context and the understanding of the innovation system. The challenges in this research area are to achieve a balance between purely quantitative analyses on evolution of IT and the dynamics of cultural phenomena themselves. In addition, there is the opportunity to broaden the discussion of the innovation agenda with discussion of other aspects of the social dimension. Keywords: Technological innovation. Schumpeter. Neo-schumpeterianos. Social innovations. 1 INTRODUÇÃO O economista austríaco Joseph Alois Schumpeter é uma das principais referências no debate sobre inovação. Schumpeter publicou suas principais obras em duas fases, entre 1911 e 1954. Na primeira fase, as obras foram Essência da Economia Teórica, de 1908, e Teoria do Desenvolvimento Econômico, de 1911; na segunda fase, destacam-se livros 1 Professor doutor em gestão social e redes sociais - PUC-SP. E-mail: junq@pucsp.br. 2 Professora doutora na área de Economia e Inovação - PUC-SP. E-mail: cris.amorim@pucsp.br 3 Doutoranda em Adminsitração - PUC. E-mail: junq@pucsp.br
  • 2. 134 como Capitalismo, Socialismo e Democracia, de 1942, Ciclos Econômicos, de 1939, e História da Análise Econômica, de 1954, este publicado postumamente. Suas obras contribuíram significativamente com análises sobre as relações entre desenvolvimento econômico e inovação. Schumpeter é considerado um estudioso do papel da tecnologia na sociedade, ao destacar essa variável como o motor do desenvolvimento econômico, por sua vez, baseado na propriedade privada, divisão do trabalho e livre concorrência. Como veremos adiante, toda a literatura posterior mantém esta ideia mestra: articular empresas, mercados competitivos e ambientes econômicos adequados como condição para o florescimento da inovação. Atualmente, quando o assunto é inovação, destacam-se suas contribuições e sua influência sobre as vertentes teóricas dos autores denominados neo-schumpeterianos, os quais continuaram a desenvolver pesquisas sobre inovação nas décadas de 1970 e 1990, explorando as conexões entre desempenho comercial e capacidade de inovar tecnologicamente no âmbito das empresas. Os neo-chumpeterianos corroboram com a visão de Schumpeter ao destacar o desenvolvimento tecnológico não apenas com papel primordial no processo da inovação, mas também ao promover o diferencial competitivo e, assim, possibilitar a manutenção da posição de mercado ou a conquista de outros mercados no setor de atuação de uma determinada indústria. Nesse sentido, os neo-schumpterianos como Freeman (1987), Dosi et al. (1990), Higgins (1995), Prahalad (2004), entre ouros, corroboram com a visão de Schumpeter, ao destacarem que o processo da inovação compreende atividades de concepção, experimentação, técnicas, desenvolvimento, gestão e adoção de novas tecnologias. Além da economia e da administração, as demais ciências sociais aplicadas oferecem contribuições para a discussão. O artigo objetiva avaliar as contribuições de outras ciências sociais para o tema inovação, na expectativa de um diálogo produtivo entre os saberes. Para tanto, o estudo está dividido em três partes. A primeira parte versa sobre os conceitos de inovação na visão schumpeteriana e a visão dos neo-schumpeterianos. A segunda apresenta as críticas dos cientistas sociais à tradição schumpeteriana: a compreensão “ortodoxa” do fenômeno da inovação resultaria em modelos deterministas e em abstrações que deveriam dar lugar a uma abordagem circunstancial e multilinear. Para a crítica, as referências são Bruno Latour (2000), Maria Lúcia Maciel (2001) e Manuel Castells (2003), olhares vindos da sociologia. A última parte contém as considerações sobre a articulação dos conceitos apresentados. Esperamos que as
  • 3. 135 singularidades e interfaces dos constructos analisados contribuam para a agenda de discussões sobre inovação. 2 INOVAÇÃO: DE SCHUMPTER AOS NEOS-SCHUMPETERIANOS A construção da agenda da inovação teve seu maior impulso nos estudos da economia. As contribuições de Joseph Alois Schumpeter, no início do século XX, abordaram a importância dos avanços tecnológicos baseados nas inovações para explicar o desenvolvimento das empresas e da economia, principalmente as profundas mudanças econômicas e sociais do capitalismo ao longo de sua história. O autor destacou que a inovação representava papel central no desenvolvimento econômico de um país. Santos et al. (2011, p. 2) reiteram que a teoria econômica schumpeteriana sobre o modelo capitalista do inicio da revolução industrial destacou a invenção e a inovação como principais forças do desenvolvimento econômico. A partir da obra schumpeteriana, o ciclo da inovação é compreendido nas dimensões da invenção, inovação e imitação ou difusão. Invenção significa a ideia potencialmente aberta para a exploração comercial, a inovação (exploração comercial) e a difusão a (propagação de novos produtos e processos pelo mercado). A abordagem schumpeteriana (1988) enfatiza as inovações radicais que envolvam mudanças no sistema econômico, diferentes, portanto, das inovações incrementais (melhorias das inovações radicais). A partir desses conceitos, diversos autores chamados de neo-schumpterianos reforçaram a tese de Schumpeter sobre a importância da inovação e o impacto no desenvolvimento econômico, além de ampliarem a análise para a importância e os impactos da inovação na estrutura dos mercados e nas estratégias organizacionais. No Quadro 1 estão às sínteses das perspectivas dos neo-schumpterianos e também do Manual de Oslo, documento produzido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE, 2005) para orientar as políticas públicas de fomento à inovação. No campo dos modelos de gestão da inovação, Tidd, Bessant e Pavit (2008) produziram um conhecido hand book, reconhecendo as contribuições de Schumpeter, ou seja, sem novas definições sobre o fenômeno.
  • 4. 136 Quadro 1 - Síntese da visão de alguns autores neo-schumpeterianos. Autores Inovação Freeman (1987) Inovar é o processo que inclui as atividades técnicas, concepção, desenvolvimento, gestão e que resulta na comercialização de novos (ou melhorados) produtos, ou na primeira utilização de novos (ou melhorados) processos. Dosi; Pavitt; Soete (1990) Inovar é uma atividade complexa inserida em um processo ou relacionada com descoberta, desenvolvimento, experimentação e adoção de novos produtos e/ou processos produtivos. Higgins (1995) Inovar é criar novos produtos ou processar melhorias em produtos existentes e o mesmo ocorre para os serviços. Os processos podem ser novos ou serem realizadas melhorias. Rieg; Alves Filho (2003) Inovar significa desenvolver tecnologias de processos e produtos viáveis comercialmente. Inovar tecnologicamente é aperfeiçoar o desempenho do produto. Prahalad; Ramaswamy (2004) Inovar é adotar novas tecnologias que permitam aumentar a competitividade da empresa no mercado. Manual de Oslo (2005) Inovar é um processo contínuo e é adotado na melhoria de produtos e processo organizacional e de marketing. Kelley (2005) Inovar é o resultado de um trabalho em equipe, isto é, ser receptivo à cultura e tendências de mercado, aplicando conhecimento de maneira a visualizar o futuro e gerar produtos e serviços diferenciados. Fonte: elaborado pelos autores (2015). O Quadro 1 permite-nos compreender: 1) não há discordâncias significativas entre os neo-schumpeterianos e Schumpeter; 2) a aproximação da teoria econômica sobre desenvolvimento e dos estudos sobre estratégia, gestão de processos e marketing; 3) a confirmação da importância da incorporação da tecnologia não apenas no produto e processo, mas também na comercialização e no marketing. O estudo da obra dos neo- schumpeterianos – que não é o objetivo do presente artigo – mostra o empenho desses autores em compreender a inovação no âmbito das organizações, um esforço ainda problemático para conciliar os campos de estudo da economia e da administração.
  • 5. 137 Para os neo-schumpeterianos, a inovação é estratégia e modelo de gestão; reproduzem as ideias de Schumpeter sem avanços conceituais e mantêm a discussão sobre inovação nos aspectos econômicos, não havendo lugar para variáveis como política, cultura, entre outras. O Manual de Oslo (OCDE, terceira edição, 2005), base para as políticas de fomento à inovação de vários países, mantém o viés econômico- administrativo, apesar de existirem fortes razões para incluir abordagens mais amplas dos sistemas de inovação. Uma das primeiras vertentes na gestão do modelo de pesquisa sobre inovação é a “hélice tripla”, que se propõe a entender os processos inovadores a partir da conjugação de três segmentos: empresas, universidades e Estado, constituidores dos sistemas nacionais de inovação. A proposta foi formulada por economistas e administradores ao longo dos anos de 1970 e 1980, com o importante papel de direcionar o processo da inovação dentro de formatos institucionais, além de proporcionar o financiamento da atividade inovadora em determinados setores estratégicos (VALENTE, 2010). O sistema proposto pela “hélice tripla”, no entanto, não atingiu o campo das estratégias organizacionais e dos modelos de gestão associados aos investimentos organizacionais privados em inovação. O limite da abordagem da “hélice tripla” é “de origem”, isto é, resulta da premissa da economia neoclássica e de parte de seus modelos de desenvolvimento nos quais as firmas operam sempre em condição de maximização dos fatores de produção e na taxa média de lucro por setor, como apresentado por Nelson (2006). No segmento de tecnologia da informação e comunicação (TIC), Chesbroug (2006) apontou os limites das estratégias estritamente competitivas ao propor a open innovation. Sua abordagem apresenta inovação como estratégia para ser compreendida e gerida para além das fronteiras da organização e do Estado nacional, um novo entendimento para as atividades de P&D, que deveriam ser pautadas pela conectividade e pelo desenvolvimento, como representado na Figura 1.
  • 6. 138 Figura 1 - Inovação Aberta – Conectividade e desenvolvimento Chesbrough (2006). Fonte: elaborada pelos autores. No argumento da “inovação aberta”, a economia globalizada, a flexibilidade dos formatos organizacionais (empresas, agências estatais e centros de pesquisa), a formação e o desenvolvimento de redes ganham importância e são tema central das pesquisas sobre inovação. Na perspectiva da inovação aberta, a utilização de nova tecnologia e as redes permitirão o crescimento da organização, que deveria buscar novos modelos de gestão com foco nas redes de conexão (CHESBROUGH, 2006). No âmbito das ciências sociais, a rede pode ser entendida como uma ordem espontânea que emerge do resultado das interações descentralizadas entre indivíduos e/ou organizações (JUNQUEIRA, 2008). Essas redes de relações se constituem pelas interações entre os diversos intervenientes de suas ações e essas organizações se compõem por várias conexões, a fim de um resultado apoiado em uma relação colaborativa e sinérgica (LIMA; CAMPOS FILHO, 2009; STEENSMA; MARINO; WEAVER, 2000). Essas organizações devem trabalhar colaborativamente com outras organizações, pois, assim, podem gerar novos inputs no sistema organizacional (CASTELLS, 2003). Nos estudos realizados por Granovetter, evidencia-se a perspectiva sociológica de que as redes integram os atores em seus contextos relacionais e possibilitam o acesso a oportunidades existentes na estrutura social e econômica (2000). Assim, Granovetter, define as redes como um “conjunto de nós ou atores (pessoas ou organizações) ligados por relações sociais ou laços de tipos específicos”. Um laço ou relação entre dois autores tem
  • 7. 139 força (strength) e conteúdo. “O conteúdo inclui informação, conselho ou amizade, interesses compartilhados ou pertencimentos e, tipicamente, algum nível de confiança” (GRANOVETTER et. al., 1998, p. 219). Segundo Castells (1999), a partir das tecnologias de informação e comunicação, as redes sociais no mundo contemporâneo, nas arenas informacionais, devido ao uso múltiplo e desregulamentado das redes tecnológicas, têm possibilitado o florescimento de organizações e entidades inusitadas e cada vez mais atuantes em diferentes realidades sociais e organizações, ao lidar com diversas situações. Dessa forma, as redes sociais podem se constituir como uma das estratégias subjacentes utilizadas pelas organizações no compartilhamento da informação e do conhecimento, mediante as relações entre atores que as integram instituições, organizações e indivíduos e, assim, contribuir com os processos de “inovação aberta”. À medida que o conceito de estratégia avança para a “inovação aberta” e por isso mesmo amplia o processo de pesquisa e desenvolvimento da organização, fenômenos como interação entre os atores da cadeia de desenvolvimento da organização, como demonstrado na Figura 1 (empresas, universidades, consumidores, fornecedores e canais de distribuição), e cocriação produzem problemas novos que precisam de soluções diferentes das tradicionais. A inovação na perspectiva do “open innovation” destaca-se como fator importante no processo de competitividade da organização em seu setor de atuação do ponto de vista econômico. Entretanto, observam-se lacunas importantes para discutir quanto ao modelo de gestão da inovação, como regras de propriedade intelectual, aspectos jurídicos, formação das redes de pesquisa e sinergias entre setores público e privado na área tecnológica. Essas questões têm ocupado a atenção do Estado na discussão das políticas para inovação no Brasil, mas ainda é prematuro avaliar os impactos dessas políticas na sociedade, particularmente porque a temática da inovação penetrou na agenda pública do País apenas na dimensão econômica e organizacional (CAMPOS; AMORIM; GARCIA, 2007). As contribuições das ciências sociais sobre sociedade em rede, análise dos impactos da tecnologia da informação na vida cotidiana, entre outros, podem ajudar a responder a esses desafios e contribuir para a solução de problemas associados à inovação, mas exige ultrapassar as fronteiras da inovação para além da “visão ortodoxa” centrada na economia e na administração.
  • 8. 140 3 A INOVAÇÃO PARA ALÉM DA ECONOMIA E DA ADMINISTRAÇÃO Na década de 1970, o pensamento sociológico iniciou o debate sobre inovação trazendo novas perspectivas de análise. De acordo com Flichy e Maciel (apud Andrade 2005, p. 146), o contexto tecnológico e os ambientes de inovação representam novas possibilidades de incorporar teórica e empiricamente práticas de inovação em uma dimensão sociológica. No século XXI, discute-se incorporar nas análises do tema dimensões sociais, culturais e políticas. Nicolas e Mytelka (apud Andrade, 2005, p. 148) criticam a visão “ortodoxa”, como se vê na citação: [...] abstraem o fato de que a tecnologia seja uma construção social, determinada não somente pela acumulação de conhecimentos, mas também pelas forças sociais, necessidades econômicas, decisões políticas e pelas pressões públicas que influenciam a direção da mudança tecnológica [...]. Adotar uma definição estreita da noção de progresso tecnológico e torná-lo o motor de toda uma cadeia de acontecimentos faz com que um processo dinâmico pareça estático e linear [...] (NICOLAS; MYTELKA, 1994, p. 7). Com a crítica, os autores preparam o terreno para mostrar ao leitor a importância de expandir-se o conceito de inovação, incluindo as condições coletivas para a qualificação de profissionais, as necessidades dos setores marginalizados, a revitalização do espaço urbano, entre outras questões. A pauta dos autores não é estranha às instituições multilaterais, como se vê na posição da OCDE, que utiliza a expressão “inovação social” para definir as inovações que podem ocorrer fora do trinômio empresa-Estado- universidade. A inovação social procura novas respostas para os problemas econômicos e sociais, através da identificação e distribuição de novos serviços que melhoram a qualidade de vida dos indivíduos e das comunidades. Isto envolve o desenho e a implementação de novos processos de integração dos mercados de trabalho, novas competências, novas empregos e novas formas de participação. As inovações sociais contribuem assim para o bem-estar das comunidades e dos indivíduos, quer estes sejam consumidores ou produtores (OCDE, 2005, p. 299). A inovação social deve ser explicada a partir de abordagem circunstancial e multilinear, que não aceitam como autossuficientes os parâmetros das escolhas racionais. Nessa perspectiva, Almeida (2006) destaca que as inovações sociais existem e estão ligadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades por meio do emprego, do consumo e da participação, e podem assumir as mais diversas formas. O aparecimento dos
  • 9. 141 jornais, o sistema educativo moderno, uma linha telefônica de apoio a grupos de risco, o microcrédito e o software livre são apenas, alguns exemplos (ALMEIDA, 2006). A definição de Bouchard (1997 apud ALMEIDA, 2006), embora mais sintética, introduz alguns elementos importantes: Qualquer abordagem nova, prática ou de intervenção, ou ainda qualquer produto novo que tem vista melhorar uma situação ou solucionar um problema social e que encontre um tomador no nível das instituições, das organizações e das comunidades (BOUCHARD, 1997, p. 7 apud ALMEIDA, 2006, p. 61). Essa definição de certa forma aproxima o conceito de inovação social da categorização de Schumpeter, pois sugere a ideia de uma nova combinação (nova abordagem, prática ou intervenção), de um novo produto ou de um novo serviço. Além disso, inclui não só as inovações organizacionais, como também introduz bens e serviços que têm por fim a resolução de problemas sociais. Por último, mas não menos importante, a definição aborda a ideia presente na economia da inovação, ou seja, a noção de que a inovação social não é apenas uma invenção, uma vez que necessita encontrar um tomador, no nível das instituições, das organizações e das comunidades. 3.1 As especificidades e contribuições segundo os sociólogos sobre a visão das ciências sociais A partir das abordagens trazidas pelos cientistas sociais dos anos 1990, depreende- se que em alguns casos as inovações se tornam menos tecnológicas e mais sociológicas, como veremos na síntese dos estudos de Latour (2000), Maciel (1997) e Castells (2003). Bruno Latour (2000) discute a perspectiva de novos parâmetros para a inovação em confronto a visão Schumpteriana. Para ele, os fatores de análise econômica como mecanismos de mercado e evolução tecnológica passam a ter sua capacidade explicativa questionada por abordagens que privilegiam as relações circunstanciais da inovação. Segundo o autor, a inovação deve se construir a partir da ação estratégica dos inovadores. Nessa ação estratégica, o inovador precisa, ao mesmo tempo, controlar o contexto social em que se desenrola a prática inovadora e se adaptar a ele. A análise engloba o contexto tecnológico em torno de intervenções específicas e se aprofunda nas tramas operacionais dos dispositivos técnicos. Entretanto, o ambiente da inovação irá representar um quadro de relações aberto no tempo e no espaço. Maciel (1997) evidencia controvérsias específicas em processos de tradução dos diferentes agentes e aponta aspectos intangíveis das relações sociais mais amplos que repercutem no desenvolvimento tecnológico e econômico de uma
  • 10. 142 determinada configuração. A autora defende a utilização do conceito de ambientes de inovação em estudos sociais sobre produção tecnológica e apresenta a seguinte definição: [...] procura dar conta do conjunto de condições – limites, obstáculos, possibilidades, estímulos – da inovação em uma determinada formação social. Ambiente de inovação refere-se, portanto ao conjunto de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais que estimulam ou dificultam a inovação [...] (MACIEL, 1997, p. 109). Semelhante análise vem sendo conduzida por Castells (2003) sobre tecnologias de informação e redes sociais. Segundo ele, no mundo contemporâneo, as novas arenas informacionais e o uso múltiplo e desregulamentado das redes tecnológicas têm possibilitado o florescimento de organizações e entidades sociais inusitadas e cada vez mais atuantes. No estudo de Maciel (1996) sobre o fortalecimento do processo da inovação nos anos 1980 na Itália, o processo dependeu fortemente do enquadramento e da flexibilidade de seu ambiente. A inovação ocorreu em muitos momentos independentemente dos investimentos em P&D. Na mesma linha de análise, Castells (2003), quando se refere à Cidade Digital de Amsterdã, identifica algo semelhante: o ambiente inovador suscitou mudanças nas lideranças locais e nas novas atividades culturais com baixo incremento tecnológico. Além disso, o autor relata que o crescimento da cultura digital pública nos anos 1990 em Amsterdã, os fatores relativos às mudanças culturais e as novas legislações contribuíram significativamente, mais do que propriamente as inovações tecnológicas. Assim, observa-se que podem ser detectadas importantes práticas inovadoras sem invenção tecnológica (inovação sem tecnologia). A partir dos parâmetros da sociologia construtivista e das análises do ambiente da inovação é possível ter opções teóricas e metodológicas para o reconhecimento de um campo de inserção dos cientistas sociais na discussão sobre inovação tecnológica e relações sociais, mesmo considerando suas especificidades. A noção de ambiente de inovação proporciona um olhar mais amplo sobre a prática da inovação, o qual não se deixa circunscrever a jogos de relações específicos e pontuais entre humanos e não humanos, como o que ocorre nos processos de tradução de contextos analisados por Latour (MACIEL, 2001). Os estudos de projetos tecnológicos e avanços econômicos podem propiciar o reconhecimento de um amplo espectro de relações coletivas que interferem nos rumos do processo da inovação. Por intermédio da construção de contextos ou ambientes específicos,
  • 11. 143 é possível compreender a presença ou a omissão de fatores socioculturais nos rumos do desenvolvimento tecnológico. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS O brilhantismo de Joseph Shumpeter não está apenas em ser um pensador original e criativo, mas em manter suas ideias de inovação tão atuais, com conteúdo universal, e se aventurar a fazer uma análise da transição social sob o capitalismo durante esta transição. Considerando as definições schumpeteriana e os autores neo-schumpeterianos, os processos de inovação diferem de setor para setor quanto ao desenvolvimento, à taxa de mudança tecnológica, às interações e acesso ao conhecimento, às estruturas organizacionais e aos fatores institucionais. Ao se analisar os setores tradicionais com o “paradigma” schumpeteriano, como os mecanismos de mercado, ênfase econômica e nas ciências organizacionais e os investimentos em P&D, a sociologia aponta que este pode não dar conta de explicar as escolhas e as controvérsias da inovação na dimensão social. Assim, a importância da tecnologia, por exemplo, pode ser submetida a uma infinidade de enfoques, sendo que as ciências sociais têm contribuições a oferecer. Como exemplifica Almeida (2006), ao destacar que as inovações sociais existem e estão ligadas ao bem-estar dos indivíduos ou das comunidades (pelo emprego, consumo e da participação), podem assumir as mais diversas formas. Mesmo a open innovation, nascida no campo “ortodoxo” da estratégia organizacional já abre interações com outras áreas do conhecimento ao demandar conhecimento sobre gestão de redes, das pessoas interagindo sem hierarquia, etc. A proposta dos pesquisadores sociais interessados em compreender os rumos da inovação na sociedade contemporânea significa uma mudança de enfoque analítico- conceitual, do contexto e da compreensão do sistema da inovação. Um dos desafios das pesquisas nesta área é conseguir o equilíbrio entre as análises exclusivamente quantitativas sobre evolução da tecnologia da informação e a dinâmica dos fenômenos culturais propriamente ditos. Além disso, surge a oportunidade de ampliar a discussão da agenda da inovação com o debate de outros aspectos relativos à dimensão social.
  • 12. 144 Recebido em março de 2015. Aprovado em maio de 2015. REFERÊNCIAS ANDRADE, T. Inovação e ciências sociais: em busca de novas referências. Revista Brasileira de Ciências Sociais: volume 20 nº 58 jul, 2005. ALMEIDA, V. O Terceiro Setor na economia do conhecimento. Instituto Superior Miguel Torga, Revista Interacções, out./2006, v.11. Pp. 53-83. Disponível em: <http://interacoes-ismt.com/index.php/revista/article/viewFile/195/2022010.> Acesso em: 16 maio 2014. CALLON, M. “Society in the making: the study of technology as a tool for sociological analysis”, In: Wiebe Bijker et al. (eds.), The social construction of technological systems, Mass., Cambridge, MIT Press, 1987. CAMPOS, A.G. AMORIM, R.L.C. GARCIA, R.C. (org.) Brasil: o estado de uma nação. DF: IPEA, 2007. CASTELLS, M. A sociedade em rede.Trad. Roneide Majer. São Paulo, Paz e Terra, 1999. _________. A galáxia da Internet.Trad. Maria Luiza Borges. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2003. CHESBROUGH, H. W. The era of open innovation. Managing innovation and change, Harvard Business review, v. 127, n. 3, p. 34-41, 2006. COSTA, O. M. E. Desenvolvimento na perspectiva estruturalista e neo- schumpeteriana – IPCE, Textos para discussão, N.96, 2011. DOSI, G., PAVITT, K., SOETE, L. The economics of technical change and international trade. London: Harvester Wheastsheaf, 1990. FLICHY, P. L´innovation technique. Paris, La Découverte, 1995. FREEMAN, C. Economics of industrial innovation. Cambridge, MIT, 1987. GRANOVETTER, M., CASTILLA, E., HWANG, H. Social Networks in Silicon Valley, The Silicon Valley Edge. In: LEE, C. M.; MILLER, W. F.; HANCOCK, M. G.; ROWEN, H. S. (Eds.) Stanford: Stanford University Press, 1998. p. 218-247, p. 219. HIGGINS, M. Innovate or evaporate – Test & improve your organizations I.Q. Its Innovation Quotient. New York: New Management Publishing Company, 1995. JUNQUEIRA, L. A. P. Gestão Social: Organizações parceria e redes sociais In: CANÇADO, A.C. et al. Os desafios da formação em gestão social . Palmas/To: Coleção Enanpegs, 2008. KELLEY, T. The ten faces of Innovation: IDEO’S Strategies for beating the devil’s advocate of driving creativity throughout your organization, NY: Doubleday, 2005.
  • 13. 145 LATOUR, B. Ciência em ação. Trad. Ivone Benedetti. São Paulo: Editora da Unesp, 2000. MACIEL, M. L. O milagre italiano: caos, crise e criatividade. Brasília, Paralelo 15, 1996. _________.“Inovação e conhecimento”, In: Fernanda Sobral et al. (orgs.), A alavanca de Arquimedes: ciência e tecnologia na virada do século, Brasília, Paralelo, 1997. _________ “Hélices, sistemas, ambientes e modelos: os desafios à sociologia da inovação. Sociologias, ano 3, 6: 18-29, 2001. NICOLAS, F., MYTELKA, L. L´innovation: le clef du développement. Paris: Masson, 1994. NELSON, R. As fontes do crescimento econômico. Campinas: Unicamp, 2006. OCDE. ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO. Manual de Oslo. 3. ed. 2005. Tradução oficial realizada pela FINEP/Brasil, baseada na versão original da OECD (2005). Disponível em: <http://download.finep.gov.br/dcom/brasil_inovador/arquivos/manual_de_oslo/cap1_01_in troducao.html.>. Acesso em: 12 maio 2014. PRAHALAD. C. K., RAMASWAMY, V. Co-creation experiences: The next practice in value creation. Journal of Interactive Marketing, Volume 18, Issue 3, p. 5-14, Summer 2004. RIEG, D. L., ALVES FILHO, A. G. Esforço tecnológico e desempenho inovador das empresas do setor médico-hospitalar localizadas em São Carlos, SP. Revista Gestão & Produção, 2003, v.10, n.3, p. 293-310. SANTOS, A. b. FAZION, C. MEROE, G. P.S. Inovação: um estudo sobre a evolução do conceito de Schumpeter. Caderno de Administração da FEA – PUC/SP.V.n. 5, 2011. SCHUMPETER, J. A. Teoria do desenvolvimento econômico. Trad. Maria SOUZA, e outros. Cultura, práticas sociais e inovações: três conceitos associados. Ver. Faces Belo Horizonte vol.II nº 2 p.210-230 abr./jun. 2011. TIDD, J. BESSANT, J. PAVITT, K. Gestão da inovação. 3ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2008. VALENTE, Luciano. Entrevista: Henryetz kovitz, Hélice tríplice: metáfora dos anos 90 descreve bem o mais sustentável modelo de sistema de inovação. Conhecimento & Inovação vol.6 no. 1 Campinas 2010. Disponível em: <http://inovacao.scielo.br/pdf/cinov/v6n1/02.pdf.> Acesso em: 16 maio 2014.