SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 11
ouvir
Endechas a Bárbara escrava
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Ua graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta
amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
Aquela cativa
que me tem cativo
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
O sujeito poético começa com um jogo de palavras:
cativo/cativa que é sugestivo da escravidão
amorosa do sujeito poético.
Se por um lado Bárbara é escrava/cativa
(socialmente), o sujeito poético também o é.
É escravo do seu amor.
O sujeito poético faz um elogio à beleza da
amada, construindo já a tradicional
hipérbole, onde superioriza a amada.
Os elementos da Natureza são os escolhidos
para ajudar a descrever a beleza da amada
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular
Olhos sossegados
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Comparativamente com as flores e/ou as
estrelas, a sua amada é muito mais bela.
Note-se que todo o elogio é pessoal, ou seja,
parece ao sujeito poético que a sua amada tem
uma beleza incomparável à beleza da
grandiosidade da Natureza. Está presente uma
comparação.
O rosto da amada não é um rosto banal, é
singular/diferente/único, ou seja não
corresponde aos padrões habituais.
Mais uma vez, os olhos são apresentados como um espelho
da alma, neste caso estão sossegados, o que mais uma vez
reforça a ideia da calma e serenidade que caracterizava as
mulheres da lírica camoniana.
Mas logo de seguida, apresenta características que se
opõem ao modelo de mulher: “olhos pretos e cansados”, ou
seja, olhos escuros e doridos do trabalho duro.
Mais uma vez o
sujeito poético joga
com as palavras e diz
que ela está cansada,
mas não de matar
…de amor, não de
seduzir e de inspirar
paixões.
ua graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde a opinião
Que os louros são belos.
O “povo vão”, ou seja, a opinião geral e pouco
acertada é de que os cabelos louros é que são
belos.
O sujeito poético põe em causa o modelo da
época e substitui-o por outro.
Antecedente – “olhos”
Mais uma vez se joga com as palavras
“senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de que
apesar de ser cativa/escrava, domina, é senhora
dos corações apaixonados.
O reforço da graciosidade da
mulher é contínuo e assemelha-se
ao modelo de mulher.
Pretidão de amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo.
E, pois nela vivo,
É força que viva.
Inicia esta oitava com uma apóstrofe à
mulher amada, pondo em destaque
precisamente as características que se
opõem ao modelo de mulher da época,
Mas logo se sucedem características
psicológicas que se adequam ao modelo:
Doçura, leda mansidão, siso.
Toda esta descrição pode parecer
diferente, mas não agressiva, ofensiva
(“bárbara”).
Novamente o reforço da serenidade. E também a
presença da antítese, que põe em destaque as
contradições amorosas e os conflitos de opinião.
O sujeito poético encaminha para uma conclusão todo
este elogio, dizendo que nela se concentra a sua
inspiração poética e sofrimento poético (“pena”).
Aquela cativa
que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Em no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular
Olhos sossegados
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
ua graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
de quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde a opinião
Que os louros são belos
Pretidão de amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Ela, enfim descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo.
E, pois nela vivo,
É força que viva.
“Aquela” implica um distanciamento, pois o sujeito
poético ainda não apresentou a personagem.
“ Esta” implica
proximidade, pois
agora as
características desta
personagem são
conhecidas.
A escrava contraria o modelo de mulher renascentista pelas suas características
físicas que fogem ao pré-estabelecido: loiro, olhos claros, pele branca.
A sua serenidade, sensatez, calma e forma distante já se inscrevem nesse modelo.
Tema a beleza da amada
Qualidades físicas da
amada
bela "rosa", formosa "fermosa", rosto "singular", olhos
"sossegados, pretos e cansados" com "graça viva", cabelos
"pretos", negra "pretidão de amor", figura "doce",
presença "serena".
Qualidades psicológicas
da amada
Sossegada "olhos sossegados", doce "doce a figura",
alegre e meiga "leda mansidão", ajuizada "o siso
acompanha", "Presença serena"
Classe social da amada
Escrava "Aquela cativa", "para ser senhora/de quem é
cativa"
Justificação de
expressões
Esta é a cativa que me tem cativo
Ela é escrava do sujeito poético mas sujeita-o como seu
vassalo pois conseguiu que ele a amasse, ficou cativo dela
pelo amor
Recursos estilísticos
utilizados no retrato
Trocadilho: "Cativa/cativo; vivo/viva";
Hipérbole: "Eu nunca… fermosa", "Nem no campo… amores",
"que a neve… de cor", "presença… amansa";
Adjectivação: em todo o poema;
Enumeração: "Eu nunca… matar";
Personificação: "a neve lhe jura";
Antítese: "Presença… amansa“
Tipo de composição
Endechas - tema triste, quadras (ou oitavas) em versos de
redondilha menor (5). Cada quadra se chama endecha.
Rima: abba (se considerarmos as quadras)
Ou: abbacddc // (se considerarmos as oitavas)
Rima emparelhada nos versos 2,3, 6 e 7 e interpolada nos
restantes
Disciplina de Português
Profª: Helena MariaCoutinho

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Pois nossas madres van a san simón
Pois nossas madres van a san simónPois nossas madres van a san simón
Pois nossas madres van a san simónHelena Coutinho
 
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoCantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoGijasilvelitz 2
 
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35luisprista
 
Lírica de Camões
Lírica de CamõesLírica de Camões
Lírica de Camõesinessalgado
 
Símbolos nas cantigas de amigo
Símbolos nas cantigas de amigoSímbolos nas cantigas de amigo
Símbolos nas cantigas de amigorevoltalingua
 
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)Joaquim Moreira
 
Analise leda serenidade deleitosa
Analise leda serenidade deleitosaAnalise leda serenidade deleitosa
Analise leda serenidade deleitosacnlx
 
Caique e thiago amor eterno
Caique e thiago amor eternoCaique e thiago amor eterno
Caique e thiago amor eternocaique45
 
O trovadorismo e a mpb
O trovadorismo e a mpbO trovadorismo e a mpb
O trovadorismo e a mpbVictor Said
 
Endechas Bárbara escrava
Endechas Bárbara escravaEndechas Bárbara escrava
Endechas Bárbara escravaMaria Gois
 

Mais procurados (18)

Cantigas de amigo
Cantigas de amigoCantigas de amigo
Cantigas de amigo
 
Pois nossas madres van a san simón
Pois nossas madres van a san simónPois nossas madres van a san simón
Pois nossas madres van a san simón
 
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumoCantigas de escárnio e maldizer - resumo
Cantigas de escárnio e maldizer - resumo
 
Cantigas trovadorescas
Cantigas trovadorescasCantigas trovadorescas
Cantigas trovadorescas
 
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35
Apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 35
 
110
110110
110
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Lírica de Camões
Lírica de CamõesLírica de Camões
Lírica de Camões
 
Símbolos nas cantigas de amigo
Símbolos nas cantigas de amigoSímbolos nas cantigas de amigo
Símbolos nas cantigas de amigo
 
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)
HCA - TAG1 - Módulo 3 - Bruna Pedro - Cantigas de escário e maldizer (1)
 
Analise leda serenidade deleitosa
Analise leda serenidade deleitosaAnalise leda serenidade deleitosa
Analise leda serenidade deleitosa
 
A lírica de camões medida nova
A lírica de camões   medida novaA lírica de camões   medida nova
A lírica de camões medida nova
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
Caique e thiago amor eterno
Caique e thiago amor eternoCaique e thiago amor eterno
Caique e thiago amor eterno
 
Trovadorismo1
Trovadorismo1Trovadorismo1
Trovadorismo1
 
O trovadorismo e a mpb
O trovadorismo e a mpbO trovadorismo e a mpb
O trovadorismo e a mpb
 
Trovadorismo
TrovadorismoTrovadorismo
Trovadorismo
 
Endechas Bárbara escrava
Endechas Bárbara escravaEndechas Bárbara escrava
Endechas Bárbara escrava
 

Semelhante a Endechasabrbara 111031012541-phpapp02

Semelhante a Endechasabrbara 111031012541-phpapp02 (20)

Endechas a Bárbara, Análise do Poema
Endechas a Bárbara, Análise do PoemaEndechas a Bárbara, Análise do Poema
Endechas a Bárbara, Análise do Poema
 
A poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camõesA poesia lírica de luís vaz de camões
A poesia lírica de luís vaz de camões
 
Feras da Poetica
Feras da PoeticaFeras da Poetica
Feras da Poetica
 
Mestres Da Poesia Pps 2a EdiçãO(Fmm Prod)
Mestres Da Poesia Pps 2a EdiçãO(Fmm Prod)Mestres Da Poesia Pps 2a EdiçãO(Fmm Prod)
Mestres Da Poesia Pps 2a EdiçãO(Fmm Prod)
 
POETAS E POESIA
POETAS E POESIAPOETAS E POESIA
POETAS E POESIA
 
Poetas e poesia
Poetas e poesiaPoetas e poesia
Poetas e poesia
 
Mestres da Poesia
Mestres da PoesiaMestres da Poesia
Mestres da Poesia
 
Mestres Da Poesia
Mestres Da PoesiaMestres Da Poesia
Mestres Da Poesia
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas
PoetasPoetas
Poetas
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas An
Poetas AnPoetas An
Poetas An
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Poetas A N
Poetas  A NPoetas  A N
Poetas A N
 
Mestres da Poesia
Mestres da PoesiaMestres da Poesia
Mestres da Poesia
 

Mais de Ana Paula

Historia7e8ano 2
Historia7e8ano 2Historia7e8ano 2
Historia7e8ano 2Ana Paula
 
Resumoglobalbiologia12ano
Resumoglobalbiologia12anoResumoglobalbiologia12ano
Resumoglobalbiologia12anoAna Paula
 
F ava int_2_2_pt2
F ava int_2_2_pt2F ava int_2_2_pt2
F ava int_2_2_pt2Ana Paula
 
Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ana Paula
 
111129717 teste-portugues
111129717 teste-portugues111129717 teste-portugues
111129717 teste-portuguesAna Paula
 
Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ana Paula
 
Correcção da ft 1 grandezas físicas que caracterizam o movimento.doc
Correcção da ft 1   grandezas físicas que caracterizam o movimento.docCorrecção da ft 1   grandezas físicas que caracterizam o movimento.doc
Correcção da ft 1 grandezas físicas que caracterizam o movimento.docAna Paula
 
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticos
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticosAuto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticos
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticosAna Paula
 
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01Ana Paula
 
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01Ana Paula
 

Mais de Ana Paula (12)

Bandeiras
BandeirasBandeiras
Bandeiras
 
Historia7e8ano 2
Historia7e8ano 2Historia7e8ano 2
Historia7e8ano 2
 
Resumoglobalbiologia12ano
Resumoglobalbiologia12anoResumoglobalbiologia12ano
Resumoglobalbiologia12ano
 
F ava int_2_2_pt2
F ava int_2_2_pt2F ava int_2_2_pt2
F ava int_2_2_pt2
 
Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2
 
111129717 teste-portugues
111129717 teste-portugues111129717 teste-portugues
111129717 teste-portugues
 
Gustavao 1
Gustavao 1Gustavao 1
Gustavao 1
 
Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2Ae plv5 teste_avancado2
Ae plv5 teste_avancado2
 
Correcção da ft 1 grandezas físicas que caracterizam o movimento.doc
Correcção da ft 1   grandezas físicas que caracterizam o movimento.docCorrecção da ft 1   grandezas físicas que caracterizam o movimento.doc
Correcção da ft 1 grandezas físicas que caracterizam o movimento.doc
 
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticos
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticosAuto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticos
Auto da-barca-do-inferno-quadro-sintese-com- rscurssos estilisticos
 
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01
Errosmeusmfortunaamorardente 130402002701-phpapp01
 
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01
Osrecursosexpressivosouasfigurasdeestilo 130204091713-phpapp01
 

Último

E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?Rosalina Simão Nunes
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOColégio Santa Teresinha
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasRosalina Simão Nunes
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxBeatrizLittig1
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumAugusto Costa
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.silves15
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.MrPitobaldo
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniCassio Meira Jr.
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila RibeiroMarcele Ravasio
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxkarinedarozabatista
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfAdrianaCunha84
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

Em tempo de Quaresma .
Em tempo de Quaresma                            .Em tempo de Quaresma                            .
Em tempo de Quaresma .
 
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
E agora?! Já não avalio as atitudes e valores?
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃOLEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
LEMBRANDO A MORTE E CELEBRANDO A RESSUREIÇÃO
 
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicasCenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
Cenários de Aprendizagem - Estratégia para implementação de práticas pedagógicas
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docxMapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
Mapa mental - Classificação dos seres vivos .docx
 
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - CartumGÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
GÊNERO TEXTUAL - TIRINHAS - Charges - Cartum
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
A horta do Senhor Lobo que protege a sua horta.
 
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
1.ª Fase do Modernismo Brasileira - Contexto histórico, autores e obras.
 
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e TaniModelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
Modelos de Desenvolvimento Motor - Gallahue, Newell e Tani
 
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila RibeiroLivro O QUE É LUGAR DE FALA  - Autora Djamila Ribeiro
Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
 
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptxAD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
AD2 DIDÁTICA.KARINEROZA.SHAYANNE.BINC.ROBERTA.pptx
 
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdfWilliam J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
William J. Bennett - O livro das virtudes para Crianças.pdf
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptxSlides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
Slides Lição 03, Central Gospel, O Arrebatamento, 1Tr24.pptx
 

Endechasabrbara 111031012541-phpapp02

  • 2. Endechas a Bárbara escrava Aquela cativa Que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. Nem no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular, Olhos sossegados, Pretos e cansados, Mas não de matar. Ua graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora De quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde opinião Que os louros são belos. Pretidão de Amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão, Que o siso acompanha; Bem parece estranha, Mas bárbara não. Presença serena Que a tormenta amansa; Nela, enfim, descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo; E. pois nela vivo, É força que viva.
  • 3. Aquela cativa que me tem cativo Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. O sujeito poético começa com um jogo de palavras: cativo/cativa que é sugestivo da escravidão amorosa do sujeito poético. Se por um lado Bárbara é escrava/cativa (socialmente), o sujeito poético também o é. É escravo do seu amor. O sujeito poético faz um elogio à beleza da amada, construindo já a tradicional hipérbole, onde superioriza a amada. Os elementos da Natureza são os escolhidos para ajudar a descrever a beleza da amada
  • 4. Nem no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular Olhos sossegados Pretos e cansados, Mas não de matar. Comparativamente com as flores e/ou as estrelas, a sua amada é muito mais bela. Note-se que todo o elogio é pessoal, ou seja, parece ao sujeito poético que a sua amada tem uma beleza incomparável à beleza da grandiosidade da Natureza. Está presente uma comparação. O rosto da amada não é um rosto banal, é singular/diferente/único, ou seja não corresponde aos padrões habituais. Mais uma vez, os olhos são apresentados como um espelho da alma, neste caso estão sossegados, o que mais uma vez reforça a ideia da calma e serenidade que caracterizava as mulheres da lírica camoniana. Mas logo de seguida, apresenta características que se opõem ao modelo de mulher: “olhos pretos e cansados”, ou seja, olhos escuros e doridos do trabalho duro. Mais uma vez o sujeito poético joga com as palavras e diz que ela está cansada, mas não de matar …de amor, não de seduzir e de inspirar paixões.
  • 5. ua graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora de quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde a opinião Que os louros são belos. O “povo vão”, ou seja, a opinião geral e pouco acertada é de que os cabelos louros é que são belos. O sujeito poético põe em causa o modelo da época e substitui-o por outro. Antecedente – “olhos” Mais uma vez se joga com as palavras “senhora” e “cativa”, reforçando a ideia de que apesar de ser cativa/escrava, domina, é senhora dos corações apaixonados. O reforço da graciosidade da mulher é contínuo e assemelha-se ao modelo de mulher.
  • 6. Pretidão de amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão Que o siso acompanha; Bem parece estranha Mas bárbara não. Presença serena Que a tormenta amansa; Nela, enfim descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo. E, pois nela vivo, É força que viva. Inicia esta oitava com uma apóstrofe à mulher amada, pondo em destaque precisamente as características que se opõem ao modelo de mulher da época, Mas logo se sucedem características psicológicas que se adequam ao modelo: Doçura, leda mansidão, siso. Toda esta descrição pode parecer diferente, mas não agressiva, ofensiva (“bárbara”). Novamente o reforço da serenidade. E também a presença da antítese, que põe em destaque as contradições amorosas e os conflitos de opinião. O sujeito poético encaminha para uma conclusão todo este elogio, dizendo que nela se concentra a sua inspiração poética e sofrimento poético (“pena”).
  • 7. Aquela cativa que me tem cativo, Porque nela vivo Já não quer que viva. Eu nunca vi rosa Em suaves molhos, Que pera meus olhos Fosse mais fermosa. Em no campo flores, Nem no céu estrelas Me parecem belas Como os meus amores. Rosto singular Olhos sossegados Pretos e cansados, Mas não de matar. ua graça viva, Que neles lhe mora, Pera ser senhora de quem é cativa. Pretos os cabelos, Onde o povo vão Perde a opinião Que os louros são belos Pretidão de amor, Tão doce a figura, Que a neve lhe jura Que trocara a cor. Leda mansidão Que o siso acompanha; Bem parece estranha Mas bárbara não. Presença serena Que a tormenta amansa; Ela, enfim descansa Toda a minha pena. Esta é a cativa Que me tem cativo. E, pois nela vivo, É força que viva. “Aquela” implica um distanciamento, pois o sujeito poético ainda não apresentou a personagem. “ Esta” implica proximidade, pois agora as características desta personagem são conhecidas.
  • 8. A escrava contraria o modelo de mulher renascentista pelas suas características físicas que fogem ao pré-estabelecido: loiro, olhos claros, pele branca. A sua serenidade, sensatez, calma e forma distante já se inscrevem nesse modelo.
  • 9. Tema a beleza da amada Qualidades físicas da amada bela "rosa", formosa "fermosa", rosto "singular", olhos "sossegados, pretos e cansados" com "graça viva", cabelos "pretos", negra "pretidão de amor", figura "doce", presença "serena". Qualidades psicológicas da amada Sossegada "olhos sossegados", doce "doce a figura", alegre e meiga "leda mansidão", ajuizada "o siso acompanha", "Presença serena" Classe social da amada Escrava "Aquela cativa", "para ser senhora/de quem é cativa" Justificação de expressões Esta é a cativa que me tem cativo Ela é escrava do sujeito poético mas sujeita-o como seu vassalo pois conseguiu que ele a amasse, ficou cativo dela pelo amor
  • 10. Recursos estilísticos utilizados no retrato Trocadilho: "Cativa/cativo; vivo/viva"; Hipérbole: "Eu nunca… fermosa", "Nem no campo… amores", "que a neve… de cor", "presença… amansa"; Adjectivação: em todo o poema; Enumeração: "Eu nunca… matar"; Personificação: "a neve lhe jura"; Antítese: "Presença… amansa“ Tipo de composição Endechas - tema triste, quadras (ou oitavas) em versos de redondilha menor (5). Cada quadra se chama endecha. Rima: abba (se considerarmos as quadras) Ou: abbacddc // (se considerarmos as oitavas) Rima emparelhada nos versos 2,3, 6 e 7 e interpolada nos restantes
  • 11. Disciplina de Português Profª: Helena MariaCoutinho