Pedrini e ribeiro conferência da terra ea e ma conceitos em construção 24 05 08
Edu mar cbo 2008
1. III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2008
I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia – I CIAO
Fortaleza (CE), 20 a 24 de maio de 2008
PROJETO EDUMAR: EDUCAÇÃO E INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL
MARINHA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO BRASILEIRAS. RESULTADOS
PRELIMINARES
Pedrini1, A. de G.; Maneschy2, F.; Silva2, V. G.; Campos Silva2, P. H. de; Costa2, C.;
Andrade-Costa2, É.; Newton2, T.
1
Laboratório de Ficologia e Educação Ambiental, Departamento de Biologia Vegetal, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, sala 525/1, CEP 20550-013; Campus
2
Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, Brasil; pedrini@uerj.br; Alunos de graduação do Instituto de Oceanografia da UERJ.
RESUMO
As unidades de conservação marinhas brasileiras (UCMB´s) vêm sendo devastadas. “O Projeto
EduMar - Educação e Interpretação Ambiental Marinha” apresenta uma metodologia para
mitigação de efeitos ambientais negativos através de processos de Educação e Interpretação
Ambiental em UCMB´s. Adota preleções (briefings) antes dos mergulhos para mitigar ou extinguir
impactos negativos, identificando e quantificando os referidos impactos em costões rochosos. Na
Reserva Extrativista de Arraial do Cabo (RJ), selecionou como impacto a existência de: a)
arrancamento parcial ou total de organismos; b) pisoteamento/toques nos organismos; c)
ressuspensão de sedimento do fundo. As atitudes foram classificadas como voluntárias ou
involuntárias. Ocorreu eficácia do briefing, pois a impactação negativa medida antes da preleção
foi superior, com os mergulhadores respeitando consideravelmente os organismos após a
preleção. A intensificação dos testes é necessária para confirmar essa tendência.
Palavras chave: briefing, Reserva Extrativista Marinha, Arraial do Cabo.
INTRODUÇÃO
As unidades de conservação marinhas brasileiras (UCMB´s) ainda são em número
incipiente e de uma maneira geral inadequadamente administradas (cf. PEDRINI, 1990). PEDRINI
et al. (2007a) mostraram que visitantes em áreas protegidas com ambientes marinhos causam
impactos variados. AUGUSTOWSKI & FRANCINE Jr. (2002) apresentaram uma série de impactos
ambientais potencialmente negativos causados por mergulhadores recreativos em UCMB´s.
O uso público em UCMB´s por mergulhadores autônomos recreativos vem aumentando
(PEDRINI et al., 2007b). Estatísticas cuidadosas sobre o número de mergulhos nas UCM´s
também são de publicidade inexistente no Brasil. O trabalho de PEDRINI et al. (2007b) é uma
exceção, pois determinaram um número preocupante de mergulhos (próximo de 9.000 em 2004 e
20.000 em 2006 para a Reserva Extrativista Marinha de Arraial do Cabo - ResexMarAC). Esses
dados são importantes, pois o local possui treze operadoras de mergulho registradas e
ministrando regularmente cursos para capacitar mergulhadores recreativos.
O mergulho autônomo recreativo é tradicionalmente considerado como uma atividade de
baixo impacto no Brasil, apesar de exemplos contrários em recifes de coral em outras latitudes
(HAWKINS & ROBERTS, 1993). A Educação e Interpretação Ambiental pode minimizar efeitos
negativos dos usos conflitantes das UCMB´s (BERCHEZ et al., 2005). Em atividades de mergulho,
pode utilizar, por exemplo, preleções (briefings) para mitigar possíveis efeitos negativos dos
praticantes da atividade. No contexto internacional, há três trabalhos emblemáticos. Os dois
primeiros (MEDIO et al., 1999; TOWNSEND, 2000) provaram, através de preleções (muitas frases
e três frases, respectivamente) antes dos mergulhos, que os impactos podem ser minimizados. O
terceiro, de BAKERS & ROBERTS (2004), que usou uma só frase como briefing, não minimizou os
impactos.
O “Projeto EduMar - Educação e Interpretação Marinha” desenvolve metodologias tanto de
gestão como de execução de Educação e Interpretação Ambiental em UCMB´s para mitigar ou até
mesmo extinguir os impactos ambientais negativos.
MATERIAL E MÉTODOS
A proposta tem dois níveis de atuação: a) identificação e quantificação, através de
observação direta em ambiente subaquático, dos efeitos negativos dos mergulhadores, sendo
selecionadas como atitudes sugestivas de impacto ambiental negativo marinho: 1- a ocorrência de
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arrancamento parcial ou total de organismos; 2- número de toques/pisoteamento nos organismos;
3- ressuspensão de sedimento do fundo. As atitudes foram caracterizadas como voluntárias ou
involuntárias; b) realização de briefing prévio ao mergulho, ainda na embarcação da operadora.
Foram formados dois subgrupos dentro do EduMar, observação e briefing, cada um
trabalhando, respectivamente, em um dos níveis citados. Nas campanhas, enquanto o primeiro
subgrupo, portando planilhas impressas em folhas de PVC contendo os organismos prováveis de
sofrerem impactos, era incorporado aos turistas mergulhadores, o segundo permanecia no barco
para somente contribuir com o briefing proposto pelo projeto. Não houve comunicação entre esses
subgrupos durante as saídas de campo, assim como os mergulhadores não tomaram ciência de
que estavam sendo observados.
Foi previamente feito um levantamento das características sócio-ambientais do Costão do
Saltador, na Ilha de Porcos, Arraial do Cabo, ponto de mergulho mais visitado na ResexMarAC,
estimados em 30.000 por ano (PEDRINI et al., 2007b). O critério utilizado para seleção de
organismos sugestivos de impacto foi sua maior abundância no costão, por apresentarem maior
probabilidade de sofrerem os efeitos negativos. Os levantamentos fotográficos da macrobiota
marinha permitiram selecionar os organismos para inclusão tanto na preleção quanto na planilha
subaquática. Foram selecionados: algas bentônicas, como Sargassum spp., esponjas,
urocordados, como Phallusia nigra, ouriços, como Echinometra lucunter, estrelas-do-mar, como
Oreaster reticulatus e cnidários, como Palythoa caribaeorum e Phyllogorgia dilatata (gorgônia).
Foi utilizado o teste não paramétrico de Wilcoxon para comparar os resultados de impacto
negativo antes e após o briefing.
RESULTADOS
Nos casos estudados, notaram-se dois comportamentos básicos (cf. Quadro 1). Percebe-
se que o Mergulhador 1 mudou radicalmente seu comportamento após o briefing, mantendo-se na
posição ideal de flutuabilidade durante todo o mergulho, com as pernas flexionadas e nadadeiras
para o alto, mantendo uma distância “segura” dos organismos. Os Mergulhadores 2 e 3
apresentaram uma mudança parcial, porém voluntariamente nada causaram de efeito negativo ao
meio e reduziram seu impacto involuntário.
Quadro 1: Impactos ambientais negativos observados no mar causados por mergulhadores
autônomos em Arraial do Cabo, RJ, em 2007.
Antes do briefing Após o briefing
Mergulhador Voluntário Involuntário Voluntário Involuntário
- 9 toques em algas; - 7 toques em Nenhum impacto Nenhum impacto
1 - 5 ressuspensões; gorgônias; causado; causado;
- 1 arrancamento de uma - 8 toques em algas;
estrela-do-mar;
- 9 toques em algas; - 8 toques em algas; Nenhum impacto - 1 toque em alga;
2 - 5 ressuspensões; causado; - 1 arrancamento
- 10 toques em de esponja;
gorgônias; - 1 ressuspensão;
- 25 toques em gorgônias; - 2 toques em algas; Nenhum impacto - 7 toques em
3 - 2 toques em algas; - 3 ressuspensões; causado; esponja;
- 3 ressuspensões; - 2 toques em
alga;
O teste de Wilcoxon mostrou que o número de impactos voluntários foi significativamente
maior antes do briefing para todos os mergulhadores (p<0,05). Os impactos involuntários, o
número de toques em algas e gorgônias e ressuspensões, foram significativamente maiores antes
do briefing (p<0,05). O número de toques em esponjas foi significativamente maior após o briefing,
já que não havia sido observado antes.
DISCUSSÃO
Inexistem trabalhos congêneres publicados no Brasil, sobre briefings capazes de mitigar
efeitos ambientais negativos causados por mergulhadores autônomos recreativos. Existem apenas
para o Mar Vermelho (MEDIO et al.,1997) e Ilhas Virgens Britânicas no Caribe (TOWNSEND,
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2000). Eles conseguiram reduzir drasticamente os danos a corais causados por mergulhadores
recreativosparques marinhos, tal como ocorreu com os resultados do presente trabalho em
em
costões rochosos. O teste estatístico confirmou que os resultados posteriores ao briefing foram
significativamente menores, confirmando sua eficácia.
Para uma perfeita gestão ambiental do uso público na ResexMarAC por mergulhadores
com SCUBA, devem feitas urgentemente pesquisas para determinar que fatores são
ser
determinantes para que um mergulho transcorra sem efeito negativo ambiental. Eles podem ser
vários e agir sinergicamente, como: a) caracterização ambiental prévia das áreas de mergulho; b)
determinação da capacidade de carga de mergulhadores/área de mergulho; c) adequada
capacitação ambiental do mergulhador; d) restrição do número de mergulhos nas áreas críticas; e)
adoção extensiva de briefings. É necessário testar se a tendência ora encontrada permanece.
Programas de Educação e Interpretação Ambiental permanentes são essenciais para a
construção de sociedades sustentáveis.
AGRADECIMENTOS
Aos Mestres Osmar Luiz Junior e Jalton Gil Torres Pinho pela revisão do texto. À Dra.
Natalia Pirani Ghilardi pela ajuda na parte estatística.
REFERÊNCIAS
AUGUSTOWSKI, M.; FRANCINE Jr, R. 2002. O mergulho recreacional como ferramenta para o
turismo sustentável em unidades de conservação marinhas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 3, 1 v., Anais, p. 443-452.
BARKER, N. H. L.; ROBERTS, C. M. Scuba diver behaviour and the management of diving
impacts on coral reefs. Biological Conservation, v. 120, p. 481-489, 2004.
BERCHEZ, F., CARVALHAL, F.; ROBIM, M. J. 2005. Underwater interpretative trail – guidance in
improve education and decrease ecological damage. International Journal of Environment and
Sustainable Development, Genebra v. 4, n. 2, p. 128-139.
HAWKINS, J.P.; ROBERTS, C.M. 1993. Effects of recreational scuba diving on coral reefs:
trampling on reef-flat communities. Journal of Applied Ecology, v. 30, p. 25-30.
MEDIO, D.; ORMOND, R.F.G.; PEARSON, M. 1997. Effect of briefings on rates of damage to
corals by scuba divers. Biological Conservation, Vol. 79, pp. 91-95.
PEDRINI, A de G. 1990. Preservation of Marine Benthic Flora and Habitats in Brazil.
Environmental Conservation, Genebra, v. 17, n. 3, p. 262-266.
PEDRINI, A. de G. et al. 2007a. Efeitos ambientais da visitação de turistas em áreas protegidas
marinhas. Estudo de caso na Piscina Natural Marinha, Parque Estadual da Ilha Anchieta, Ubatuba,
São Paulo, Brasil. OLAM – Ciência e Tecnologia, Rio Claro (SP), v. 7, n.1, p. 676-698.
PEDRINI, A de G. et al. 2007b. Gestão Ambiental em Áreas Protegidas x Estatísticas de Mergulho
na Resex Marinha de Arraial do Cabo, RJ, Brasil. OLAM – Ciência e Tecnologia, Rio Claro (SP),
v. 7, n.2.
TOWNSEND, C. The Effects of Environmental Education on the Behaviour of SCUBA Divers; A
Case Study from British Virgin Island. M.Sc. Thesis of Tourism, Conservation and Sustainable
Development, University of Greenwich, 2000, 118 p.
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