Este documento fornece orientações sobre o transporte intra-hospitalar seguro de pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, descrevendo as etapas do transporte, equipamentos necessários, EPIs e medidas para evitar complicações. O transporte deve ser realizado por equipe treinada, monitorando sinais vitais e mantendo equipamentos como ventiladores mecânicos. A descontaminação após o transporte é essencial para evitar a disseminação do vírus.
5. 5
Condutas no transporte dos pacientes dentro da estrutura as-
sistencial.
TEMA:
JUSTIFICATIVA:
Fornecer orientações de procedimentos necessários para o manejo
de pacientes com suspeita e/ou confirmação da COVID-19, em ven-
tilação mecânica (VM), ou não, que necessitem de transporte para
outros setores intra-hospitalares.
Planejar, organizar e descrever o transporte intra-hospitalar, de
forma segura, para pacientes com suspeita e/ou confirmação
da COVID-19;
Padronizar e sistematizar as condutas da equipe durante o
transporte intra-hospitalar dos pacientes com suspeita e/ ou
confirmação da COVID-19.
OBJETIVOS:
O QUE É O TRANSPORTE
INTRA-HOSPITALAR?
Transporte intra-hospitalar é o encaminhamento temporário ou de-
finitivo de pacientes por profissionais de saúde dentro da estrutura
hospitalar assistencial, seja para fins diagnósticos ou terapêuticos1.
6. 6
INTRODUÇÃO:
Essas ações específicas requerem zonas designadas para
transportar esses pacientes, suprimentos adequados e suficientes
(como EPIs) e pessoal de apoio treinado (como agentes de seguran-
ça e equipes de limpeza).
Antes de realizar o transporte, é necessário conferir os dados
do paciente na pulseira de identificação e no prontuário que será
encaminhado para o setor de destino.
A monitorização contínua de parâmetros como: pressão ar-
terial (PA), frequência cardíaca (FC) e oximetria de pulso (SatO2)
devem ser realizadas durante todo o trajeto para todos os pacientes.
Além disso, o monitoramento contínuo de CO2 no final da expiração
em pacientes intubados é recomendado. Para isso, deve-se usar cap-
nógrafo acoplado ao monitor de transporte, quando possível3.
Alguns transportes devem estar equipados com monitores
com a função de desfibrilação ativada ou é necessário um desfibri-
lador separado para atendimento de possíveis emergências durante
o percurso. Nesse sentido, é recomendado avaliar a necessidade de
intubação antes do transporte. A melhor intubação é feita na UTI em
ambiente controlado com a equipe de saúde usando os Equipamen-
tos de Proteção Individual (EPIs)3.
Reconhecimento precoce do paciente em deterioração, para
transferência antecipada;
Segurança dos profissionais de saúde;
Segurança dos espectadores (pessoas que estão nas proximi-
dades);
Planos de contingência para emergências médicas durante o
transporte;
Descontaminação pós-transporte.
Os profissionais de saúde que lidam com o transporte de pa-
cientes com suspeita e/ ou confirmação da COVID-19 devem consi-
derar os seguintes princípios3:
7. 7
COMPLICAÇÕES:
Pacientes intubados em VM, se faz necessário ainda: verificar a
necessidade de aspirar a cânula orotraqueal (COT), verificar pressão
do cuff, fixação da cânula, ajustar e reforçar conexões do ventilador
mecânico.
É importante destacar um profissional para conduzir o ven-
tilador mecânico, que deverá manter o circuito contido para evitar
trações e desconexões, e outro profissional para tocar superfícies,
como maçanetas, botões de elevador etc. Esta medida visa evitar a
contaminação do ambiente e superfícies.
Além disso, ao chegar à unidade de destino, o paciente será
adaptado ao ventilador mecânico da unidade, sendo necessário o
“clampeamento” da COT com pinça reta e pausa ventilatória para
troca dos circuitos e equipamentos.
O mais seguro para o paciente é ficar no leito. Toda mobiliza-
ção envolve riscos, que será proporcional à infraestrutura, preparo
da equipe e doença de base do paciente2.
Os problemas mais comuns são os eventos adversos relacio-
nados às vias respiratórias que envolvem os equipamentos respira-
tórios e geram dessaturação de oxigênio, e a extubação acidental do
paciente2.
Outra complicação relacionada ao transporte dos pacientes
com suspeita e/ou confirmação da COVID-19 é o potencial de aeros-
solização e contaminação dos profissionais pelo uso do ressuscita-
dor manual com reservatório e máscara de coxim inflável (Ambu®).
O uso desse dispositivo deve ser evitado e, se necessário, estar com
filtro acoplado para reduzir a aerossolização e a contaminação viral.
Recomenda-se então, realizar a pré-oxigenação com máscara com
reservatório de oxigênio (máscara não reinalante) com o menor flu-
xo de ar possível para manter oxigenação efetiva, caso o paciente
necessite de suporte de O2 por extubação acidental ou em situa-
ções de emergência4.
8. 8
ETAPAS DO TRANSPORTE
Fase preparatória: Envolve a comunicação entre os locais de
origem e destino; avaliação da condição atual do paciente; escolha
da equipe que acompanhará o paciente; preparo dos equipamentos
para o transporte.
Nesta fase, a comunicação entre os setores é muito importante,
antes da saída do paciente da unidade de origem. Essa comunicação
deve considerar as informações sobre a situação clínica do paciente,
continuidade da assistência de Enfermagem e liberação do setor de
destino para o recebimento do mesmo (lembrar que o paciente está
em precauções específicas).
Fase de transferência: É o transporte propriamente dito. Ob-
jetiva manter a integridade do paciente até a sua unidade de destino.
Compreende desde a mobilização do paciente do leito da unidade
de origem para o meio de transporte, até sua retirada do meio de
transporte para o leito da unidade de destino, incluindo:
O protocolo assistencial do Hospital de Clínicas da Universida-
de Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM), disponível online, orien-
ta o planejamento e os cuidados necessários para o transporte do
paciente. O documento orienta classificar o tipo de transporte de
acordo com as condições clínicas do paciente e, a partir disso, definir
as necessidades de monitoramento e de equipe6.
CLASSIFICAÇÃO
Monitorar o nível de consciência e as funções vitais, de acordo
com o estado geral do paciente;
Manter a conexão de tubos endotraqueais, sondas vesicais e
nasogástricas, drenos torácicos e cateteres endovenosos, ga-
rantindo o suporte hemodinâmico, ventilatório e medicamen-
toso ao paciente;
Utilizar medidas de proteção (grades, cintos de segurança, en-
tre outras) para assegurar a integridade física do paciente;
Redobrar a vigilância nos casos de transporte de pacientes
instáveis, obesos, inquietos, idosos, prematuros, crianças, poli-
traumatizados e sob sedação5.
9. 9
Segue classificação:
Transporte de baixo risco ou não crítico: pacientes estáveis,
sem alterações críticas nas últimas 48 horas e que não sejam
dependentes de oxigenoterapia. Equipe necessária: (1) Técni-
co e/ou auxiliar de enfermagem.
Transporte de médio risco, semicrítico ou crítico sem VM: pa-
cientes estáveis, sem alterações críticas nas últimas 24 horas,
porém que necessitam de monitoração hemodinâmica ou oxi-
genoterapia. Equipe necessária: (1) Técnico e/ou Auxiliar de
enfermagem e (1) Enfermeiro ou (1) Médico.
Transporte de alto risco ou crítico em VM: paciente em uso de
droga vasoativa e/ou assistência ventilatória mecânica. Equipe
necessária: (1) Técnico e/ou Auxiliar de enfermagem, (1) Enfer-
meiro e (1) Médico.
Maca, leito do paciente ou cadeira de rodas;
Lençol, cobertor, travesseiro (de acordo com a necessidade de
conforto);
Ventilador mecânico: preferencialmente utilizar o equipamen-
to já em uso pelo paciente, se o mesmo tiver condições (bate-
ria carregada; ser portátil etc). Caso contrário, utilizar o venti-
lador de transporte;
Cilindro de oxigênio com no mínimo 150mmHg de pressão;
Ressuscitador manual com reservatório e máscara de coxim
inflável, tipo Ambu®, acoplado ao filtro ou condensador hi-
groscópico (itens necessários para o caso de emergências du-
rante opercurso);
EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS
PARA O TRANSPORTE:
No transporte de médio e alto risco, os pacientes devem ter os
seguintes parâmetros monitorados: frequência cardíaca (FC), satu-
ração de oxigênio (SatO2), e se necessário, pressão arterial sistêmica
(PA).
10. 10
Máscara com reservatório de oxigênio (máscara não reinalan-
te);
Cateter de O2 com extensão para adaptação;
Fluxômetro e intermediário de oxigênio (espigão ou umidifi-
cador);
Monitor portátil completo com cabos para FC, PA, SatO2 e
capnografia (quando disponível e se necessário);
Bombas de infusão com baterias carregadas;
Maleta com medicações para atendimento de emergência7.
EPIs NECESSÁRIOS
PARA O TRANSPORTE:
Máscara N95/PFF2 ou equivalente;
Máscara cirúrgica;
Avental descartável;
Luvas de procedimento;
Óculos de proteção;
Gorro.
11. 11
ATENÇÃO:
Durante o transporte entre unidades, a máscara cirúrgica deve
ser colocada no paciente, se o mesmo não estiver intubado em
VM8.
Os profissionais de saúde deverão trocar a máscara cirúrgica
por uma máscara N95/PFF2 ou equivalente, ao realizar pro-
cedimentos geradores de aerossóis como, por exemplo, intu-
bação ou aspiração traqueal, ventilação mecânica não invasi-
va, ressuscitação cardiopulmonar, ventilação manual antes da
intubação, coletas de amostras nasotraqueais, broncoscopias,
etc8.
Os profissionais que tiveram contato com o paciente e que
participarão do transporte deverão trocar as luvas de procedi-
mento, avental e higienizar as mãos, mas devem permanecer
com a máscara N95 e óculos de proteção antes de prosseguir
para o transporte do paciente.
Limitar o transporte ao estritamente necessário. Recomenda-
-se definir equipe dedicada ao transporte e utilizar o elevador
destinado a pacientes com suspeita/confirmação da COVID-19.
(Na ausência de um elevador para esse fim, solicitar à equipe
de higiene que realize a descontaminação imediatamente após
o uso, conforme recomendações da instituição)9.
Evitar atrasos durante o transporte. Otimizar o fluxo de ele-
vadores, optando sempre pelo trajeto mais curto. Use rotas
de transporte pre-determinadas para minimizar a exposição a
funcionários, outros pacientes e visitantes10.
Atentar-se para o nível de consciência do paciente e alarmes
dos parâmetros de sinais vitais. Nos pacientes em uso de VM,
deve-se redobrar a atenção para a permeabilidade de vias aé-
reas, ventilação contínua e parâmetros do respirador com alar-
mes habilitados. Além disso, estar atento a: condições do aces-
so venoso central ou periférico; fixação de sondas e drenos,
conexões do ventilador; nível de gases nos cilindros e cabos
de monitorização.
12. 12
Lembre-se de realizar a correta paramentação e desparamen-
tação para as precauções de contato, gotículas e/ou aerossóis,
quando necessárias.
Antes de sair da unidade de destino do paciente, ainda para-
mentado, o profissional deve desprezar lençóis, fronhas, co-
bertores e outros materiais têxteis em hamper. Após, retirar as
luvas de procedimento, higienizar as mãos, calçar novas luvas.
Realizar a limpeza e desinfecção da maca e equipamentos uti-
lizados no transporte, de acordo com as recomendações da
instituição, o mais rápido possível, preferencialmente, ainda no
setor de destino do paciente, para evitar a contaminação de
outros ambientes e exposição para outros profissionais. Quan-
do não for possível (falta de espaço apropriado, tempo sufi-
ciente), essa atividade deve ser feita imediatamente assim que
chegar à unidade de origem.
Retornar ao setor de origem com a maca e os equipamentos
utilizados para o transporte pela mesma rota de chegada.
Objetos destinados ao uso por profissionais (prontuário mé-
dico, relatórios, canetas ou qualquer outro objeto) não podem
ser colocados sobre o paciente e sua maca. Esses objetos de-
vem ser manipulados com atenção para não se tornarem veí-
culos de transmissão do vírus, portanto, devem ser colocados
em sacos plásticos.
Não se deve circular pelo serviço de saúde utilizando os EPIs
fora da área de assistência aos pacientes com suspeita e/ou
confirmação da COVID-19. Os EPIs devem ser imediatamen-
te removidos após a saída do quarto, enfermaria ou área de
isolamento. Porém, caso o profissional de saúde saia de um
quarto, enfermaria ou área de isolamento para atendimento de
outro paciente com suspeita e/ou confirmação da COVID-19,
na mesma área/setor de isolamento, logo em seguida, não há
necessidade de trocar gorro (quando necessário utilizar), ócu-
los/protetor facial e máscara, somente avental e luvas, além de
realizar a higiene de mãos8.
13. 13
A preferência pelo uso de materiais de transporte é para sem-
pre lembrar da necessidade do transporte rápido ao destino
definitivo do caso, além de evitar a contaminação de outros
materiais, deixando o setor pronto para receber outros pacien-
tes10.
Realizar a anotação em prontuário, que deve conter: condi-
ção de chegada e saída do paciente, horário, destino, meio de
transporte, acompanhante, artefato(s) terapêutico(s) (sondas,
drenos e cateteres)11.
1 - Nogueira VO, Marin HF, Cunha ICKO. Informações on-line sobre transporte de
pacientes críticos adultos. Acta Paul Enferm. 2005; 18(4):390-6.
2 - Parmentier-Decrucq E, Poissy J, Favory R, Nseir S, Onimus T, Guerry MJ, et al.
Adverse events during intrahospital transport of critically ill patients: Incidence
and risk factors. Ann Intensive Care. 2013;3:10.
3 - Liew et al. Safe patient transport for COVID-19. Critical Care. 2020;24:94.
4 - Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB. Orientações sobre o ma-
nuseio do paciente com pneumonia e insuficiência respiratória devido à infecção
pelo novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Março 2020. Disponível em: https://www.
amib.org.br/fileadmin/user_upload/amib/2020/marco/20/1_Orientacoes_so-
bre_o_manuseio_do_paciente_com_pneumonia_e_insuficiencia_respiratoria_de-
vido_a_infeccao_pelo_Coronavirus_ai.pdf. Acesso em: abr. 2020.
5 - Resolução Cofen nº 0588/2018. Normas para atuação da equipe de enfermagem
no processo de transporte de pacientes em ambiente interno aos serviços de saú-
de. Disponível em: http://www. cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-588-2018_66039.
html. Acesso em: abr. 2020.
6 - Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM),
administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – Ministé-
rio da Educação. Protocolo Assistencial Multiprofissional: Transporte intra-hospita-
lar de clientes – Uberaba: HCUFTM/Ebserh, 2017. 20 p.
7 - Comitê de Protocolos Assistenciais – COVID19. PRT. CPA-COVID-19.009 - Pá-
gina 1 a 3. Emissão: 26/03/2020. Transporte intra- hospitalar de pacientes em
ventilação mecânica com covid-19. Disponível em: http://www2.ebserh.gov.br/
documents/10197/4923501/ PRT. CPA-COVID19. 009+Protocolo+Transporte+de+-
Pacientes+em+VM.pdf/1bfd3f9d-6e4d-40c0-ae72-1b7be757daea. Acesso em: abr.
2020.
REFERÊNCIAS
14. 14
8 - Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Nota técnica. GVIMS/GG-
TES/ANVISA nº 04/2020. Orientações para serviços de saúde: medidas de preven-
ção e controle que devem ser adotadas durante a assistência aos casos suspeitos
ou confirmados de infecção pelo novo coronavírus (sars-cov-2). – 31.03.2020. Dis-
ponível em:http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271858/Nota+T%C3%
A9cnica+n+04-2020+GVIMS-GGTES-ANVISA-ATUALIZADA/ab598660-3de4-4f-
14-8e6f-b9341c196b28. Acesso em: abr. 2020.
9 - Associação de Medicina Intensiva Brasileira – AMIB. Recomendações da Asso-
ciação de Medicina Intensiva Brasileira para a abordagem do COVID-19 em medi-
cina intensiva. Abril 2020. Disponível em: https://www.amib.org.br/fileadmin/user_
upload/amib/2020/abril/13/Recomendaco__es_AMIB-atual.-16.04.pdf. Acesso
em: abr. 2020.
10 - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e In-
sumos Estratégicos em Saúde. – SCTIE. Diretrizes para diagnóstico e tratamento
da covid-19. Versão 2. 08 de abril de 2020.
11 - Universidade de São Paulo. Hospital Universitário da USP. Serviço de Educação
e Qualidade. Manual de Enfermagem. Manual de Procedimentos de Enfermagem
Adulto. Item 3: Segurança-cuidados que dão suporte à proteção contra danos.
3.2: Controle de risco. 3.2.4C: Transporte intra-hospitalar de pacientes não críticos,
semicríticos e críticos. São Paulo. HU-USP. 2014.