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INSTITUTO PIAGET
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO
CAMPUS DE ALMADA
Curso de Animação Sociocultural
Disciplina de Trabalho de Campo Antropológico
Observação sobre Idosas com a
Patologia de Alzheimer
Docente – Sra. Professora Dra. Cristina Granado
Curso de Animação Sociocultural
1º Ano / 2009-2010
2
Discente – Verónica Patinho
Nº de Aluna – 43445
2 º Semestre do Ano Lectivo 2009/2010
ÍNDICE
1 - INTRODUÇÃO PÁG . 5
2- CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA PÁG. 6
3 - ENTREVISTA À DRA ANA PAULA PÁG. 8
4 - CARACTERIZAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO PÁG. 16
5 - CARACTERIZAÇÃO DOS TÉCNICOS PROFISSIONAIS PÁG. 18
6 - CARACTERIZAÇÃO DOS IDOSOS PÁG. 19
7 - PROGRAMAS QUE A INST. OFERECE PÁG. 25
8 - A SITUAÇÃO FAMILIAR DOS UTENTES PÁG. 25
9 - METODOLOGIA PÁG. 27
10 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS PÁG. 29
10.1 - CARACTERIZAÇÃO DAS AUXILIARES PÁG. 37
11 - ENTREVISTAS ÀS AUXILIARES PÁG. 37
12 - ENTREVISTAS AOS TÉCNICOS E PROFISSIONAIS PÁG. 41
13 - ENTREVISTAS AOS FAMILIARES DOS UTENTES PÁG. 43
14 - ENTREVISTA AO DR. CARLOS ARAÚJO PÁG. 46
CONCLUSÃO PÁG. 48
BIBLIOGRAFIA PÁG. 49
ANEXOS
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AGRADECIMENTOS
Tenho de agradecer a todos aqueles que me ajudaram ao longo da Observação realizada
na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza. Em primeiro que tudo, ao Dr. Carlos Araújo e Dra.
Graciete Araújo, pelos seus preciosos conselhos e críticas ao longo da elaboração deste Trabalho.
Às Auxiliares Ana Almeida, Manuela Sota, Ana Isabel e Fernanda Oliveira, que se
predispuseram para entrevistas e opiniões.
Devo muito aos colegas que aceitaram ler, criticar e corrigir o meu Trabalho de Campo
Antropológico, em particular Catarina Justo e Anabela Marques.
Agradeço também a todos os familiares dos Utentes respectivos, que colaboraram com
depoimentos e histórias de vida passadas e que são vividas actualmente.
Gostaria por fim de agradecer a todos os técnicos profissionais, que trabalham na
Instituição como a Médica, o Enfermeiro, o Osteopata e o Fisioterapeuta, que por numerosas
conversas, sugestões e críticas com que me quiseram cumular, me ajudaram a concluir o meu
trabalho.
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1º Ano / 2009-2010
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“ O bem mais precioso do ser Humano é o seu espírito, sem desejo de viver, sem
sentido de dignidade, sua personalidade. Embora possamos ser descritos em termos de
tendões, ossos e terminações nervosas, jamais devemos perder de vista a pessoa que
estamos a tratar”.
Paul Brand
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1º Ano / 2009-2010
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INTRODUÇÃO
O tema do presente trabalho é sobre a doença de Alzheimer. Entre 50 a 70 por cento de
todas as pessoas com demência têm a doença de Alzheimer.
A demência é uma decadência progressiva da capacidade mental em que a memória, a
reflexão, o juízo, a concentração e a capacidade de aprendizagem estão diminuídas e pode
produzir-se uma deterioração da personalidade. A demência pode aparecer subitamente em
pessoas jovens, no entanto a demência habitualmente desenvolve-se de forma lenta e afecta as
pessoas com mais de 60 anos. Apesar de tudo, a demência não faz parte do processo normal de
envelhecimento, à medida que a pessoa envelhece, as alterações do cérebro causam uma certa
perda de memória e uma deterioração na capacidade de aprendizagem. Estas alterações não
afectam as funções normais. A demência é uma deterioração muito mais grave da capacidade
mental e piora com o tempo. A causa mais comum da demência é a doença de Alzheimer.
A doença de Alzheimer pode ter várias causas tais como: sexo, factores genéticos,
hereditariedade, traumatismos cranianos, e outros factores.
Elaborou-se um perfil neuropsicológico do doente com Alzheimer e a nível de intervenção
com estes doentes, constatamos que esta deve ser multidisciplinar, preventiva e sintomático.
A intervenção faz-se a nível psicossocial, terapia comportamental, reestruturação
cognitiva e o respectivo tratamento medicamentoso.
Enfatizamos também o papel da nutrição e a importância da actividade física, bem como
alguns conselhos para a família destes doentes.
As demências são incuráveis, e urge uma intervenção bem estruturada de maneira a
proporcionar alguma qualidade de vida digna para estes doentes.
Para a realização do meu trabalho de Observação, para a disciplina de Trabalho de Campo
Antropológico, que tem como docente a Professora Dra. Cristina Granado, foi necessário primeiro
escolher um tema que iria trabalhar e posteriormente travar contactos com a Instituição em
causa para a realização do mesmo.
Decidi observar sobre uma questão que hoje em dia as pessoas têm muito pouco
conhecimento, a Doença de Alzheimer, tal como já foi referido anteriormente, esta patologia tem
vindo a aparecer cada vez mais.
Uma vez que trabalho diariamente com Idosos, achei que seria deveras interessante
realizar um trabalho desta natureza.
Tendo de admitir que foi complicado tomar uma decisão acerca de que doença iria falar,
pois numa Residência para Idosos/Lares de Idosos, deparamo-nos com uma variedade de
patologias diferentes.
Exerço a função de Animadora Sociocultural na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza, de
onde tomei o meu ponto de partida para construir o meu Diário de Bordo.
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O meu interesse neste Trabalho concerne-se com o facto de lidar com este público – alvo
todos os dias e através da Observação perceber melhor os seus comportamentos.
Tem como objectivo teórico a Valorização dos idosos numa idade avançada e que apesar
de sofrerem de determinadas doenças, nomeadamente o Alzheimer, devemos de intervir com
variadíssimas actividades, tendo como objectivo de quebrar a monotonia dos idosos, mantê-los
activos, dar-lhes mais conforto, criando momentos de alegria e de conforto, quer com as
funcionárias, quer com os familiares na hora de visita, quer no convívio entre Idosos nas horas
de refeições ou noutros tempos livres, que apesar de serem momentos simples, se tornem
memoráveis para estes Idosos.
A principal preocupação deste trabalho, é que a minha intervenção enquanto observadora
sobre este caso específico, incentive uma continuidade do projecto quer pelos familiares, quer
pela direcção do Lar, uma vez que a estas pessoas e cada vez mais estão constantemente a
aparecer na nossa Sociedade, e infelizmente cada vez mais novas; talvez grande parte das
pessoas não sabe como lidar com este tipo de doença.
Com a realização deste Trabalho pretendo ter um contacto mais profundo com a
realidade, que possivelmente irei encontrar num Futuro próximo, ou seja, aperfeiçoar o
conhecimento sobre o que é a Doença de Alzheimer, quais são as características principais da
doença de Alzheimer, quais os principais estádios de desenvolvimento da doença de Alzheimer,
em que idades aparecem, como se diagnostica esta doença e como obter ajuda.
Tudo isto irá verificar através da observação participante e da observação directa, bem
como através das entrevistas aos familiares, técnicos, auxiliares e donos da Instituição.
Segundo o autor Ladislas Robert, do Livro “o Envelhecimento”, caracteriza a Doença de
Alzheimer da seguinte forma:
1 - Caracterização da Doença
Doenças que mais afectam os Idosos
Como se sabe os idosos são a faixa etária que mais vulnerável está a doenças, inclusive
existem doenças que só surgem a partir de determinada idade.
Alzheimer
É uma doença degenerativa, até agora sem cura e terminal;
Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer;
Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única mas existem pontos em
comum, como a perda de memória.
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A evolução da doença está dividida em quatro fases:
Predemência, com a perda de memória a curto prazo, perda a flexibilidade no pensamento
e de dar atenção a algo;
Demência inicial, em que as memórias mais antigas são as menos afectadas, há
dificuldade na execução de movimentos e há um desleixo na execução de actividades;
Demência moderada, em que o paciente vai perdendo a capacidade de fazer as mais
simples tarefas diárias;
Demência avançada, em que a sua linguagem está reduzida, a sua massa muscular e a
sua mobilidade degeneram-se e fica Acamado.
Alguns concelhos para lidar com doentes de Alzheimer
Como se comunica com o doente de Alzheimer?
Olhe olhos nos olhos, quando conversam;
Permaneça calmo e fale pausadamente;
Evite ruídos (TV, rádio...)
Vaguear, deambular e andar sem rumo é um perigo. O que fazer para o minimizar?
Previna os vizinhos e comerciantes próximos do estado do doente;
Se o doente quiser sair de casa, não deve impedi-lo de o fazer, vigiando-o à distância.
O que fazer quando o doente se mostra agressivo?
Procure compreender o que originou a reacção agressiva;
Evite discutir ou ralhar;
Procure manter-se calmo.
Como prevenir que surjam crises de agressividade?
Não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente;
Deixe que o doente faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo;
Existem práticas que podem ajudar a manter a qualidade de vida do doente:
A medicação não trata por completo a doença, mas permite ao paciente manter as suas
actividades diárias;
Praticar actividades físicas regularmente contribui para manter a mobilidade nas pessoas
afectadas pela doença de Parkinson;
A fisioterapia e as ajudas mecânicas (como as cadeiras de rodas) apoiam a autonomia do
doente;
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É importante uma dieta rica em fibras, para combater a obstipação (prisão de ventre) que
pode ocorrer devido à inactividade, à desidratação e ao uso de alguns medicamentos.
Local de Intervenção
Para o meu trabalho escolhi a observação num Lar de Idosos.
Mas porquê um lar de idosos?
Ajudar um lar de idosos chamou especialmente a minha atenção, isto porque normalmente
os idosos são os mais esquecidos pela nossa sociedade, além disso o facto de interagir e conviver
com eles sensibiliza-nos e ajuda-nos a compreender outra realidade com a qual não estamos
habituados a lidar e que só nos trás sabedoria e nos mostra a verdadeira escola, a Escola da
Vida!
Foi realizado no dia 26 de Junho, uma entrevista à médica responsável da instituição com
o objectivo de esclarecer os sintomas e desenvolvimento da doença de Alzheimer.
2 - Entrevista à Dra. Ana Paula (Médica da Instituição)
O que é uma Demência?
O termo “demência” refere-se a um sindroma, portanto, a um conjunto de sintomas e
sinais que se manifestam em pessoas com doenças cerebrais. O dano cerebral altera as
capacidades mentais – memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, etc. –
produzindo uma deterioração intelectual que se repercute na capacidade funcional e no
comportamento do doente.
As causas mais habituais de demência são as denominadas doenças neurodegenerativas,
das quais a mais comum é a Doença de Alzheimer. Chamam-se degenerativas porque não têm
mecanismo causal conhecido, têm manifestações neurológicas previsíveis (sistematizadas) para
cada uma delas, cursam com agravamento progressivo e têm, muitas vezes, carácter familiar.
Numa percentagem de casos as doenças que estão na origem do sindroma demencial são
tratáveis e o processo de deterioração mental pode ser interrompido ou mesmo revertido; estes
doentes devem, por isso, ser diagnosticados e tratados precocemente. Deve referir-se, no
entanto, que mesmo nas formas degenerativas, o perfil de agravamento da doença, ou seja a
forma como os sintomas referidos acima vão evoluindo, pode variar de doente para doente e,
nalguns casos, o estado da pessoa pode melhorar ou estabilizar por um determinado período de
tempo.
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O que é a Doença de Alzheimer???
Cerca de 50 a 70% das pessoas com demência sofrem de Doença de Alzheimer. Esta
designação vem de Alois Alzheimer, um psiquiatra e neuropatologista alemão que em 1906
descreveu pela primeira vez as alterações neuropatológicas características da doença – morte de
neurónios em determinadas áreas do cérebro, tranças neurofibrilhares e placas senis.
Como já referido, a doença manifesta-se por alteração da memória e de outras faculdades
mentais – orientação no tempo e no espaço, linguagem, cálculo, desenho, raciocínio – e
acompanha-se frequentemente de perturbações psicológicas, como por exemplo alterações do
humor ou da personalidade. Apesar da variabilidade individual da expressão e evolução dos
sintomas, o quadro clínico é relativamente típico. Inicialmente os sintomas, tais como as falhas
de memória e a desorientação no tempo podem ser tão subtis que podem passar despercebidos à
família e aos amigos; no entanto, à medida que a doença progride, os sintomas tornam-se cada
vez mais notórios e começam a interferir com o trabalho de rotina e com as actividades sociais.
Em fases mais adiantadas os doentes começam a apresentar dificuldades em tarefas diárias
simples como a higiene pessoal e o vestir, e, com o tempo, ficam completamente dependentes.
A doença de Alzheimer não é infecciosa nem contagiosa, mas é uma doença crónica,
progressiva e actualmente incurável. Nas fases adiantadas o doente fica acamado, perde peso, o
sistema imunitário fica debilitado e os doentes acabam por falecer, em geral de complicações
infecciosas. No passado, a designação de Doença de Alzheimer era utilizada somente para
denominar as formas com início precoce (com limite estabelecido arbitrariamente abaixo dos 65
anos), em oposição à demência senil, mais frequente e mais conhecida. Na sequência dos
estudos de Alois Alzheimer, verificou-se que as alterações neuropatológicas consideradas
características da doença eram comuns às formas pré-senis e senis, passando a utilizar-se a
designação comum de Doença de Alzheimer, independentemente da idade de início.
Quais são as características principais da Doença de Alzheimer?
Perda de Memória:
Um defeito grave da capacidade de memória, como o que existe na Doença de Alzheimer,
pode ter repercussões em múltiplas actividades e funções. Citam-se as dificuldades de
comunicação, riscos de segurança, alteração nas actividades de vida diária e alterações de
comportamento. É importante considerar as diversas componentes ou tipos de memória para
compreender como esta função está comprometida na demência.
Memória Episódica
Refere-se à capacidade de recordar eventos que ocorrem na vida das pessoas, desde os
mais mundanos, aos mais pessoais e significativos. A memória episódica pode ainda ser
classificada em memória recente – referente a acontecimentos que ocorreram nos últimos
minutos ou horas – e memória remota – eventos mais distantes no tempo.
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Uma característica notória para todos os que lidam com doentes com Alzheimer, é a de
que nas fases iniciais da doença as pessoas parecem não ter dificuldades em lembrar
acontecimentos distantes, ao mesmo tempo que são incapazes de recordar o que fizeram cinco
minutos antes.
Além disso, e precisamente porque as memórias antigas estão relativamente conservadas
e existe um defeito muito grave da memória recente, aquelas tendem a interferir com o presente
de uma forma activa. Por exemplo, as pessoas podem como que recuar no tempo e executar
rotinas do passado, que, como é óbvio, são perfeitamente desadequadas no tempo presente.
Memória Semântica
Esta forma de memória refere-se à capacidade de conhecer o significado das palavras,
como por exemplo flor ou cão. Assim, e ao contrário da memória episódica, é comum a todos os
que falam a mesma língua, agindo como elo de ligação e permitindo a comunicação entre as
pessoas. Além disso, estes dois tipos de memória utilizam circuitos ou redes neuronais próprios
e com localizações cerebrais diferenciadas, sendo por isso afectadas de uma forma não
homogénea.
Na Doença de Alzheimer a memória episódica é mais precocemente e mais severamente
atingida que a memória semântica, enquanto que em determinadas formas de demência fronto-
temporal se verifica o contrário.
Memória de Procedimentos
Corresponde à memória e conhecimento consciente ou inconsciente das diversas etapas,
em termos de processo físicos e mentais, que conduzem aos actos. Como exemplos citamos o uso
de uma faca ou andar de bicicleta. A alteração da memória de procedimentos pode resultar em
dificuldades em efectuar rotinas, tais como o vestir, lavar ou cozinhar.
Esta forma de memória é a mais poupada nas situações demenciais, e o seu perfil de
afectação é semelhante ao verificado com outras funções: primeiro os actos mais complexos e
por fim as actividades designadas como automáticas, ou seja, as coisas muito bem aprendidas e
que nos habituamos a fazer sem ter de pensar.
A dissociação temporal entre o comprometimento da memória semântica (afectada mais
precocemente) e a memória de procedimentos (a mais resistente) permite compreender a
capacidade dos doentes para cantar correctamente e com fluência, quando são incapazes de
nomear objectos ou manter uma conversa.
Apraxia
É o termo usado para descrever a incapacidade para executar gestos aprendidos, apesar
da integridade da força muscular, da sensibilidade e coordenação. Em termos práticos implica a
perda de capacidade para abrir uma torneira, abotoar botões, ligar o rádio ou fazer adeus.
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Afasia
Refere-se à dificuldade ou mesmo perda de capacidade para falar ou compreender o
código linguístico, quer na forma de comunicação oral, quer escrita. Exemplos de perturbações
precoces habituais na Doença de Alzheimer são a anomia (dificuldade em dizer o nome de um
objecto) e a troca de palavras ou parafasias. A troca pode verificar-se entre palavras associadas
pelo significado (tempo em vez de relógio), entre palavras que têm uma sonoridade parecida
(barco em vez de marco), ou o doente utilizar uma palavra completamente diferente e sem
relação aparente com a que deveria ser correctamente escolhida. No seu conjunto, estas
alterações e os defeitos de compreensão, prejudicam de uma forma significativa a capacidade de
comunicação do doente.
Nas fases mais avançadas o discurso fica habitualmente restringido à repetição
involuntária de palavras ou frases ditas pelo interlocutor (ecolália), ou à repetição,
eventualmente compulsiva, de uma palavra ou fragmentos de palavras. O defeito da escrita e da
leitura acompanham a alteração da linguagem falada, pelo que é frequente, em fases avançadas,
que o doente seja incapaz de identificar (por leitura) ou escrever o seu próprio nome.
Agnosia
É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer a informação
captada pelos sentidos o que conduz a comportamentos bizarros. Por exemplo, uma pessoa com
agnosia pode utilizar uma faca como uma caneta, ou um sapato como se fosse uma chávena. No
que diz respeito às pessoas, esse facto pode implicar que as não reconheça pelas suas
características faciais individuais, ou seja, sem que isso se deva à perda de memória, mas como
resultado de dificuldades em interpretar as suas percepções ou impressões visuais.
Alterações da personalidade
As pessoas com Doença de Alzheimer podem mudar as características básicas da sua
personalidade: uma pessoa calma, afável e educada pode passar a comportar-se de uma forma
agressiva, impaciente e egoísta.
São também frequentes as mudanças bruscas de humor.
Alterações da actividade ou do comportamento
A manifestação mais frequente neste domínio é, talvez, a deambulação diurna e nocturna.
A deambulação pode ter muitas causas, nomeadamente a necessidade fisiológica de movimento,
ou a insónia, mas a identificação dessas causas é habitualmente dificultada pelos problemas de
comunicação apresentados pelos doentes. São exemplo de outras perturbações afins, a
agressividade e as alterações do comportamento alimentar.
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Problemas físicos
Na Doença de Alzheimer a perda de peso pode ocorrer apesar de uma ingestão adequada
de alimentos. Também pode ser uma consequência de uma dieta desequilibrada (sobretudo em
doentes que vivem sozinhos e já não sabem cozinhar), ou, nas fases tardias, por problemas de
deglutição. Uma outra consequência da doença é a redução da massa muscular, que predispõe
ao desenvolvimento de escaras de decúbito em doentes acamados.
O acamamento e o envelhecimento tornam estes doentes também especialmente
vulneráveis a infecções, nomeadamente a pneumonias e infecções urinárias. As pneumonias são
aliás as intercorrências mais frequentemente fatais na Doença de Alzheimer.
Quais os principais aspectos nos três estádios de desenvolvimento da Doença de
Alzheimer?
As pessoas com Doença de Alzheimer não apresentam todas os mesmos sintomas, nem os
sintomas aparecem exactamente pela mesma ordem ou com a mesma gravidade em todos os
casos. Apesar disso, existe um padrão geral de evolução da doença que pode ser organizado em
três principais estádios de gravidade. A descrição que apresentaremos em seguida, apesar de
não ser exaustiva, fornece uma orientação sumária da evolução da doença, permitindo aos
cuidadores antecipar as dificuldades e problemas futuros e prepara-se física e psicologicamente
para as etapas subsequentes
Estádio 1
O primeiro estádio caracteriza-se por alterações da memória, tais como o esquecimento de
nomes, números de telefone, mensagens e tarefas que foram ou deveriam ter sido executadas.
Inicialmente estas alterações são subtis e podem passar relativamente despercebidas. Quando os
problemas de memória se tornam mais notórios, o doente pode, por constrangimento ou por
receio, tentar evitar que os outros se apercebam disso.
Também é frequente que os familiares e amigos subestimem essas alterações, atribuindo-
as ao processo natural do envelhecimento. Nos doentes mais jovens as perturbações da memória
raramente passam despercebidas devido à sua interferência marcada e óbvia nas actividades
profissionais. Outra função afectada neste estádio é a capacidade de atenção.
A combinação de alterações da memória e da atenção tem repercussões práticas na
execução de tarefas seriadas, ou seja, tarefas que impliquem várias etapas, como acontece na
grande maioria das actividades profissionais, procedimentos sociais e actividades domésticas
mais complexas. Mais ou menos concomitantemente, muitos doentes começam a apresentar
dificuldades de linguagem; as alterações mais precoces desta esfera de sintomas, são
habitualmente a dificuldade de compreensão de frases mais complexas, a pessoa tem dificuldade
em acompanhar uma conversa, pois torna-se difícil evocar os nomes ou as palavras exactas para
descrever os objectos, pessoas ou situações (anomia).
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O discurso dos doentes fica assim mais limitado, podendo consistir essencialmente em
frases simples e curtas, ou, pelo contrário, em frases muito longas, redundantes e de difícil
compreensão devido à omissão das palavras-chave (nomes). Alguns doentes mais conscientes
das suas dificuldades isolam-se, evitam conversar e ficam deprimidos. A orientação no tempo e
no espaço encontram-se também frequentemente afectadas neste estádio: os doentes
desconhecem ou cometem erros na sua localização no tempo (dia da semana, mês, ano, estação
do ano, etc.) e perdem-se – primeiro em locais menos conhecidos, e depois na sua localidade e na
própria residência.
Nesta fase quase todas pessoas apresentam dificuldades mais ou menos severas em
compreender e representar material simbólico e abstracto; o cálculo, sobretudo o cálculo mental
mais complexo, a interpretação de linguagem simbólica e o desenho tridimensional, são tarefas
comuns em que a abstracção é fundamental, e exemplos das consequências práticas destas
dificuldades são a incapacidade de fazer trocos ou utilizar o dinheiro, compreender provérbios e
desenhar um cubo.
Referimos previamente que alguns doentes ficam deprimidos; hoje sabe-se que a
depressão pode ser reactiva à frustração experimentada pelo doente e ao isolamento, mas
também uma forma de expressão (sintoma) da própria doença e anteceder o aparecimento dos
sintomas cognitivo-mnésicos demenciais. Outra perturbação psicológica notória e frequente
neste estádio é a apatia; os doentes perdem a iniciativa para executar tarefas, ficando
progressivamente mais parados e inactivos.
Menos frequentemente os doentes desenvolvem gostos estranhos, nomeadamente em
relação à roupa (preferência por cores berrantes) ou à alimentação (doces, por exemplo). As
alterações enunciadas podem ser mais ou menos notórias, dependendo de um número de
factores, tais como actividade profissional do doente, a família, o estilo de vida e a personalidade
prévia. Acrescenta-se mais uma vez que este estádio pode tornar-se muito desgastante e
frustrante para os doentes que se apercebem da sua incapacidade progressiva.
Estádio 2
O agravamento progressivo dos sintomas determina que neste estádio os doentes sejam
incapazes de manter a sua actividade profissional; outras actividades complexas, como por
exemplo a condução de veículos e a administração das finanças estão severamente
comprometidas, conduzindo a uma dependência cada vez maior de terceiras pessoas.
Relativamente às perturbações cognitivas, salientam-se mais uma vez as alterações da memória,
da linguagem e da orientação no espaço e no tempo.
Neste estádio, o defeito de memória mantém as características genéricas já enunciadas,
ou seja, uma perturbação marcada da memória para factos recentes, com conservação parcial da
memória para factos distantes.
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No dia-a-dia, algumas das consequências práticas desta dissociação são a incapacidade
em reconhecer os elementos mais jovens da família – netos, por exemplo – esquecerem-se das
visitas dos familiares próximos, ou mesmo confusões mais perturbadoras – transposição de
familiares falecidos para o presente, falsos reconhecimentos e incapacidade global para
reconhecer a família. Os defeitos de linguagem tornam-se também mais salientes, tanto em
termos de compreensão da linguagem oral ou escrita como da produção de palavras – falar e
escrever. Neste estádio não é invulgar que os pacientes repitam constantemente as mesmas
palavras ou frases. A alteração grave na orientação temporal e espacial, associada a um
compromisso emergente da interpretação de estímulos (tacto, paladar, visão e audição),
provocam uma desorganização dos horários e ritmos biológicos, como por exemplo, nos horários
das refeições, nos ritmos de sono-vigília (insónia ou troca parcial do sono nocturno por períodos
de sonolência diurna).
Neste estádio surgem também frequentemente dificuldades no controlo dos movimentos
finos, na coordenação da postura corporal e no controlo esfincteriano; as suas consequências
práticas são a impossibilidade de executar de uma forma autónoma as actividades simples da
vida diária (higiene, alimentação, vestir), as quedas ou acidentes e a incontinência nocturna. As
alterações psicológicas típicas deste estádio são as previsíveis num doente que apresenta
dificuldades de percepção, de memória, incapacidade para reconhecer os seus familiares e o
ambiente que o rodeia e que, alem disso, muitas vezes não tem crítica para o seu estado de
doença.
Os pacientes são irritáveis, sofrem mudanças bruscas do humor, podem apresentar-se
extremamente apáticos ou, pelo contrário, muito agitados repetindo incessantemente os mesmos
movimentos ou actos, podem apresentar alucinações visuais ou auditivas, podem ficar egoístas e
agressivos e, como dissemos, muitas vezes têm perturbações do apetite e do sono.
Estádio 3
No estádio 3 os doentes apresentam uma demência grave. Em termos cognitivos, pode
dizer-se que perderam quase todas as funções mentais. Perderam, por exemplo, a capacidade
para entender e utilizar palavras, restringindo-se o seu discurso à repetição do final das frases
do interlocutor (ecolália) ou à repetição de sons; perderam a capacidade para andar, sentar-se,
sorrir, engolir e controlar os esfíncteres.
Os doentes ficam acamados, rígidos e sem movimentos dirigidos, tornando-se
extremamente vulneráveis a infecções ou escaras de decúbito e necessitando apoio permanente.
Apesar da severidade do defeito cognitivo, provavelmente quase todos os doentes mantêm
alguma ressonância afectiva, sendo sensíveis ao contacto físico e à voz suave dos seus
familiares. Mantenha este laço!
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Idade
O número de casos de Doença de Alzheimer e com demência em geral, aumenta
exponencialmente com a idade – o número duplica cada 5 anos; assim, no grupo etário superior
aos 65 anos, cerca de uma em cada vinte pessoas desenvolve Doença de Alzheimer enquanto que
o número de casos em cada mil pessoas com idades inferiores aos 65 anos é inferior a um. Como
a esperança de vida tem aumentado sucessivamente nos últimos anos, ou seja, as pessoas vivem
mais tempo do que no passado, o número absoluto de pessoas com Doença de Alzheimer e com
as outras formas de demência tem aumentado, e vai continuar a aumentar no futuro.
Não deve depreender-se do que foi dito, que a demência é um resultado inevitável da
idade ou que é a idade a causa da perda de capacidades intelectuais e de demência; a maioria
das pessoas com mais de 80 anos permanece mentalmente lúcida e existem outros factores de
risco genéricos e ambientais que se conjugam para determinar este aumento crescente da
doença com a idade.
Sexo
A maioria dos estudos populacionais indica que a doença é mais frequente nas mulheres;
inicialmente pensou-se que se tratava de um risco artificial porque as mulheres vivem mais
tempo que os homens e, como foi dito, o número de casos aumenta com o envelhecimento. No
entanto actualmente existe um consenso de resultados apontando para um risco real acrescido
no sexo feminino, pelo menos após a menopausa.
Esta relação da doença com a menopausa, ou mais propriamente com a baixa dramática
de hormonas femininas – os estrógenios – que ocorre nesta fase da vida das mulheres, justifica a
importância actual da investigação destas substâncias na fisiopatologia da Doença de Alzheimer
e do seu interesse como terapêutica protectora (prevenção da doença).
Traumatismos cranianos
Alguns estudos epidemiológicos mostraram que os traumatismos cranianos com perda do
conhecimento aumentam a probabilidade de desenvolvimento ulterior de Doença de Alzheimer
mas esta conclusão é ainda controversa.
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3 - Caracterização do Objecto de Estudo
Caracterização da Instituição
A Santa Rita Geriátrica é a mais recente Casa de Repouso no centro de Cascais. A Casa
Santa Rita foi concebida de raiz para a valência de Lar de Idosos e Casa de Repouso, pelo que
está licenciada pelo Instituto de Segurança Social I.P.
Infelizmente a maior parte de nós tem uma vida muito atarefada, o que não nos permite
dispor de tempo e de pessoal qualificado para dar a atenção devida aos nossos pais, sogros ou
avós, quando a sua situação de independência se torna problemática.
E quantas vezes isso também acontece com outro tipo de parentes ou amigos, que por
uma infelicidade ou fatalidade, necessitam temporariamente que olhem e tratem deles, minuto a
minuto, por exemplo num pós-operatório?
Por muito que nos custe não podemos retribuir os cuidados que nos deram na infância.
Os tempos são outros. Os nossos filhos precisam de crescer com pais dedicados e presentes, a
família alargada é um caso raro, a profissão é cada vez mais exigente, as ajudas são poucas e as
distâncias enormes.
E se a melhor opção for arranjar uma Casa de Repouso, onde tratem os nossos Queridos
com toda a excelência que a particular situação de cada um exija? Se for essa a opção, que seja
numa Instituição vocacionada de origem para lhes proporcionar todo o carinho, o conforto e o
cuidado que merecem!
São 1000 m2 de construção, divididos em 4 pisos, que obedecem ao normativo legal em
vigor sobre a edificação de estruturas de género. A Santa Rita Residência Geriátrica, foi
acompanhada desde a fase do projecto, por todas as entidades oficiais que regulam e fiscalizam
esta actividade, nomeadamente: Instituto de Segurança Social, Autoridade Nacional de Protecção
Civil, Direcção Geral de Saúde e Câmara Municipal de Cascais.
O ambiente genuinamente familiar, os equipamentos novos, o pessoal experiente e
qualificado, os enfermeiros e os médicos de serviço garantem o nível de profissionalismo exigido
pelas pessoas que não abdicam de um tratamento gentil, personalizado e de qualidade.
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Fotos da Instituição
Entrada para a Instituição com contactos na Parede
Logótipo da Instituição da Casa Geriátrica de Santa Rita
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4 - Caracterização dos Técnicos Profissionais
Dr. Carlos Araújo
Com formação de base em Gestão e Economia e com Mestrado em Unidade Hospitalar e
Geriatria. Exerce o seu poder como dono da Instituição e apoios a nível económico que o lar
necessite, realizando toda a gestão do mesmo.
Dra. Graciete Araújo
Com formação de base em Sociologia e com Mestrado em Enfermagem e Geriatria e
Gerontologia. Exerce a função de Directora Técnica, tratando de toda a documentação
relacionada com as idosas e dando de certa forma algum apoio psicológico às Idosas e familiares.
Dra. Ana Paula
Com formação de base em Medicina Geral e com Mestrado em Patologias Neurológicas.
Exerce a função de Médica na Instituição, vindo regularmente ao Lar (todos os dias), a fim de
efectuar uma consulta a todos os Utentes e observar os comportamentos e reacções, feridas e
medicação que seja necessária passar ou alterar.
Sr. Pedro Oliveira
Com formação de base de Osteopata, exerce a função de exercício e
movimentação/reabilitação dos músculos e artérias que estejam mais paradas. Vem ao Lar duas
vezes por semana, realizando diversos exercícios e massagens tentando que as pessoas que não
andam ganhem forças para voltar a andar.
Sr. José Barrinha
Com formação de base em Fisioterapia e reabilitação, exerce a função de Fisioterapeuta
na Instituição, três vezes por semana, com pessoas que sofrem das mais diversas patologias.
Realizando ginástica, nas passadeiras, no espaldar, nas bicicletas e outros recursos de apoio.
Dr. Hélio Canastra
Com formação de base em Enfermagem geral e ortopedia com mestrado em reabilitação
física, exercendo a função cinco dias por semana na Instituição, realizando todo o tipo de
trabalho relacionado com medicação, pensos, feridas, escaras, etc.
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5 - Caracterização dos Idosos
Sra. D. Lurdes Carriço
Esta idosa está internada na Casa Geriátrica Santa Rita, através da Segurança Social,
devido a maus tratos por parte da filha, que sofre de uma patologia chamada: esquizofrenia.
Esta senhora esteve sempre lúcida, (2º indicação de familiares), até à data em que começou a
sofrer graves espancamentos, ao ponto de ficar com uma deficiência no pescoço e continuação
da coluna, que a cabeça da senhora não está direccionada na posição de frente correctamente.
Após queixas diversas de familiares e vizinhos às autoridades e Segurança Social, foi
levada de imediato ao Hospital, afim de realizar vários exames para que os Médicos pudessem
detectar outras fracturas antigas ou até mesmo doenças, que pudessem estar a aparecer com o
avanço da idade e com o tipo de vida que estava a levar. Foi então diagnosticado, após vários
exames neurológicos que sofria da Patologia de Alzheimer.
É uma senhora extremamente meiga e muito, muito carente de mimos, pois chega ao
ponto de nos chamar para pedir Beijos e abraçar-nos. Não é uma Idosa agressiva no que diz
respeito a algo que lhe seja imposto. Com muitas perdas de memória. Ex/ pede-nos imensas
vezes para comer e diz-nos que está cheia de fome, quando acabou de almoçar há apenas 5
minutos. Ex/ pergunta-nos diversas vezes onde se apanha o comboio para ir para casa, para ir
dar de jantar à sua mãe que está acamada e ao pai que foi trabalhar. Ou seja, identifica-se
muito com o passado – Juventude, sem se aperceber que já teve filhos, sem se aperceber do sítio
onde está, até mesmo da sua própria aparência, pois não se reconhece ao espelho.
Pode-se considerar que esta senhora está numa fase da doença já muito avançada.
A Sra. D. Lurdes, tem neste momento 82 anos.
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Sra. D. Ana Rúbio
A senhora D. Ana Rúbio, é uma Utente em que a doença foi diagnosticada desde muito
cedo (aproximadamente com 70 anos), os sintomas foram aparecendo com esquecimentos
pequenos, ex/ o fogão que ficava aceso, a luz do quarto que ficava acesa, por fim não conseguia
regressar a casa. São sintomas que à partida, podem nos parecer de envelhecimento prematuro
– o esquecimento, perda de memória são palavras-chave, que são associadas à 3ª idade. Por
grande vontade dos dois filhos desta Idosa, foi levada ao médico por precaução, afim de perceber
se seria apenas esquecimento ou algo mais.
Verificou-se através de diversos exames que a Sra. D. Ana sofria da doença de Alzheimer,
à qual se estava a começar a desenvolver, e que graças às novas Tecnologias foi medicada a
tempo. No entanto, esta Utente já tem neste preciso momento 86 anos, mas a doença encontra-
se estacionada no momento.
É uma Utente que está sempre bem-disposta, com um lindo sorriso nos lábios, sempre
pronta a beijar-nos; com os seus velhos ditados antigos e com os seus versos, nos elogia
deixando-nos “derretidas” com a sua forma carinhosa de nos afagar.
É uma senhora que se lhe pedirmos para fazer algo, ex/ cortar um desenho, ao fim de 10
minutos já não se recorda que foi ela que recortou esse mesmo desenho. Acontece exactamente o
mesmo quando os filhos a levam para passear, quando regressa e lhe perguntamos onde foi
passear com os filhos, simplesmente não se recorda, embora saiba que foi sair com eles.
No entanto, é capaz de se lembrar de músicas tradicionais portuguesas que cantava
quando era mais nova, e participava na Feira da Flor de Campo Maior. Tudo isto, porque a sua
mente apenas recorda a sua juventude e os momentos agradáveis que passou com as suas
amigas.
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Sra. D. Lurdes Barradas
A Sra. D. Lurdes B. é uma Utente que está instalada na Casa Geriátrica Santa Rita, há
relativamente pouco tempo. Esteve durante cerca de 8 anos a viver na sua casa com o respectivo
esposo, juntamente com uma dama de companhia, que lhe ajudava na sua Higiene diária e
pessoal. Foi-lhe diagnosticada a doença de Alzheimer, também com aproximadamente 75 anos,
detectada pelo marido, devido à forma como conversava, pois as frases não faziam anexo, nem
conseguia completar o raciocínio.
No entanto, acerca da caracterização podemos dizer que logo no início foi muito difícil
lidar com esta senhora, ao chegar às instalações do Lar, devido à adaptação e à falta de
medicação, pois a família não lhe conseguia dar a medicação que supostamente deveria tomar ao
longo do dia. Estava muito agressiva, inclusive bateu numa das auxiliares, enquanto lhe davam
banho /higiene pessoal.
Hoje, é uma Utente calma, integrada no local onde se encontra, apesar de não saber que
está numa Casa de Repouso. Reconhece o marido nas horas das visitas, mas não consegue
realizar frases completas. Com a falta de medicação, ficou totalmente descompensada e a doença
evolui imenso.
A Sra. D. Lurdes, tem boas recordações daquilo que viveu, é uma senhora da Alta
Burguesia com bastantes posses financeiras. É extremamente meiga, e sempre nos agradece
quando lhe atendemos a algum pedido seu, ex/ quando nos pede um simples copo de água, ou a
levamos à casa de banho, agradece-nos, dizendo “obrigada” e pergunta se nos pode dar um beijo
como forma de agradecimento.
Actualmente tem 85 anos.
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6 - Programas que a Instituição Oferece
Internamento Prolongado ou Temporário
Os serviços de Internamento Prolongado estão preparados para receber os Utentes na sua
fase mais delicada e são efectuados por profissionais formados na área de Geriatria.
O Internamento Prolongado conta com o seguinte quadro técnico:
- Médico de Medicina Interna e Oncologia
- Equipa de Enfermagem
- Auxiliares de acção Médica
- Animadora Sociocultural
- Terapeuta da Fala
- Pessoal administrativo
- Pessoal de limpeza, de apoio e de serviços gerais
7 - A situação Familiar dos Utentes
Sra. D. Lurdes Carriço
Acerca dos Familiares desta Utente não me foi possível realizar entrevista, pois foi
internada através da Segurança Social, e permanece internada ao abrigo da mesma. Recebe
pouquíssimas visitas, sendo o meu período de observação resignado apenas a conversas
mantidas entre outros Utentes/convívio, com as auxiliares e com os donos da Instituição. Não
podendo assim realizar uma caracterização dos familiares responsáveis da Idosa, pois a filha
actualmente está internada no Hospital Júlio de Matos.
Sra. D. Ana Rúbio
Dr. Rui Rúbio (Filho responsável)
A utente tem dois filhos, sendo que um dos filhos o Dr. Luís Rúbio, encontra-se com
problemas graves de saúde não podendo vir visitar a mãe à instituição, como tal, não me foi
possível entrevistar e manter uma observação participante com esta pessoa.
No entanto, consegui realizar observação directa por diversas vezes com o Dr. Rui, que
aos fins-de-semana vem sempre buscar a sua Querida Mãe para passear, ou simplesmente ir
dormir à sua casa.
É um familiar muito presente, muito atencioso com a mãe, que ao fim ao cabo existe um
elo de ligação muito forte entre eles, porque a D. Ana, quando chega ao sábado e ao Domingo, já
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começa a ficar impaciente dizendo: “ os meus Anjos de Guarda devem estar por aí a aparecer”,
ou seja, que são só filhos/noras que a vêem buscar.
Foto de alguns Familiares da D. Ana Rúbio
Sra. D. Lurdes Barradas
Sr. Engenheiro José Barradas (Marido)
Esta Idosa – a Sra. D. Lurdes é visitada todos os dias pelo marido das 15.00 horas até às
18.00 horas. É um esposo muito presente, muito meigo e carinhoso para com a sua cara-
metade. Não há nenhum dia que não venha ver a sua “Princesa”. Como forma de amor, traz-lhe
sempre algo diferente, tais como: um pequeno lanche ex/ bolos de salões de chá que
antigamente frequentavam os dois; perfumes; lindos lenços; água; chocolates, etc. Este Homem,
não é capaz de vir visitar a sua querida Mulher sem lhe trazer algo simbólico. Homem muito
Generoso, como personalidade que tem.
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8 - Metodologia
Este trabalho de observação realizou-se por fases, fases essas, que se revelaram bem
distintas umas das outras.
Após um contacto directo com os Donos da Instituição onde exerço a Função de
Animadora Sociocultural, consegui marcar uma reunião para o dia 21de Maio de 2010, reunião
que durou cerca de 30 minutos, onde expressei os meus objectivos para este Trabalho e onde me
foram dadas algumas informações acerca da Instituição, do seu funcionamento e das Utentes a
serem observadas.
Terminada a reunião, marquei na minha agenda quais os dias em que seriam feitas as
Observações e a sua hora respectiva.
O meu primeiro dia de Observação foi no dia 22 de Maio.
Estive na Instituição, no período das Visitas, durante 3 horas, nas quais fiz uma
observação participante.
No dia 28 de Maio, foi realizado um passeio à rua, juntamente com as funcionárias.
No dia 5 e 12 de Junho, foi feita novamente a observação participante, com a duração
também de 3 horas, pois colide com o período da visita.
No dia 19 de Junho, mais uma vez realizei observação participante às 3 Utentes, com a
duração também de 3 horas.
No dia 20 de Junho, foram realizadas as entrevistas às auxiliares, ficando eu na
Instituição o período de aproximadamente 6 horas. As auxiliares mostraram-se receptivas às
questões respondendo a todas elas com visível sinceridade.
No dia 26 e 27 de Junho, voltei novamente à Instituição a fim de realizar algumas
entrevistas com os Técnicos, nomeadamente: os Donos da Instituição, Dr. Carlos Araújo e Dra.
Graciete Araújo, a Médica: Dra. Ana Paula, o Osteopata: Dr. Pedro Oliveira e o Fisioterapeuta:
Sr. José Barrinha, que durante estes dois dias totalizei um numero de 8 horas.
No decorrer de todo o trabalho de observação propriamente dito desenrolou-se durante 29
Horas e 30 Minutos, distribuídas por 6 semanas, sendo que o contacto directo com os familiares
das Idosas e com as Utentes, foram realizados nas primeiras semanas, só nas últimas duas
semanas foi realizado o contacto com o pessoal técnico e auxiliares.
Para realizar este Trabalho, para além da Observação no qual se revelou o mais
importante, primeiramente foram necessárias várias horas de pesquisa que também
demonstraram ser preciosas ao longo de todo o trabalho.
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Grelha de Observação
Dia Horas Tipos de Observação
21 de Maio 30mn. Reunião com o Dr. Carlos e Dra. Graciete
22 de Maio 3 Horas Observação participante
28 de Maio 3 Horas Observação participante
05 de Junho 3 Horas Observação participante
12 de Junho 3 Horas Observação participante
19 de Junho 3 Horas Observação participante
20 de Junho 6 Horas Entrevista às Auxiliares de Acção directa
26 de Junho 4 Horas Entrevista aos Técnicos da Instituição
27 de Junho 4 Horas Entrevista aos Donos da Instituição
No início da observação, aquando das visitas dos familiares aos Utentes, tive alguma
dificuldade, pois as pessoas viam-me escrever muito, e perguntavam o que escrevia. Percebi que
alguns familiares não estavam muito receptivos a este tipo de trabalho e de Observação.
Ao longo das semanas, a minha opinião foi mudando e hoje agradeço a compreensão e
ajuda que estas pessoas nos deram para a realização deste trabalho. Compreendo que deve ser
extremamente difícil de repente, no horário da visita termos uma pessoa a observar-nos e a
efectuar registos enquanto conversam, pois os Utentes tinham tendência a ficarem calados e
envergonhados, pela nossa presença, até que ao longo do tempo, simplesmente habituaram-se
com a minha presença.
As Auxiliares mesmo sabendo que sou Animadora Sociocultural e que naquele momento
estava a desempenhar uma função totalmente diferente, no caso de “Observadora”, mostraram-
se grandes pilares de apoio, intervindo com as Utentes e com as famílias enquanto eu fazia a
Observação.
Em relação ao Dr. Carlos Araújo, o dono da Instituição e à Directora Técnica, Dra.
Graciete Araújo, só tenho a agradecer, pelo facto de me terem permitido realizar este trabalho na
hora da visita e sempre aos fins-de-semana.
Para além de já trabalhar com este tipo de público – alvo, a 3ª Idade, apercebo-me do tipo
de atitudes, conversas, comportamentos, das pessoas que sofrem desta patologia, no entanto ao
nos ser dado uma proposta desta categoria, ou seja, de realizar um trabalho de Observação, logo
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me surgiu a ideia de observar pessoas com este tipo de patologia, pois sempre tive muita
curiosidade em saber o passado, destas pessoas e como eram antes de serem afectadas por esta
doença.
9 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS
Observação das utentes
Comportamento durante hora da visita (dia 22 de Maio)
Lurdes
Carriço
Neste dia a Sra. D. Lurdes não teve visita, no entanto fiz observação
participante durante uma hora, em que conversei com a Idosa. Em que
realizei o registo de diversas frases: “Menina, gosto tanto de a ter ao pé de
mim, não gosto de me sentir sozinha”, “… menina, pode me dar água? ,
Obrigada” “… sabe a que horas passa aqui o comboio para eu ir para casa? É
que eu tenho de ir fazer o jantar para a minha mãe que está acamada e o meu
pai deve estar quase a regressar do trabalho, eu não posso ficar aqui muito
mais tempo.” “… Menina, preciso de ir à casa de banho, será que pode ir
comigo ou me dizer onde é?”. Durante a hora do lanche, a auxiliar trouxe à
idosa, Torradas com doce de morango e chá verde. “Obrigada, como é que
você sabia que eu estava com fome?”
Ana Rúbio Observei a D. Ana Rúbio durante 60 minutos, dia esse que a Idosa sabia que
era fim-de-semana e esperava ansiosamente pelos seus “Anjos da Guarda”-
que são os seus queridos filhos. Olhou diversas vezes ao relógio, ansiosa que
eles aparecessem para a vir buscar para sair. Verifiquei numa das suas
conversas de convívio com a Idosa do lado: “Você também está à espera de
alguém da sua família? Olhe, eu estou à espera dos meu anjinhos da guarda,
que devem estar mesmo por aí a aparecer”. Por volta das 16.00 horas
apareceu o Dr. Rui, para vir buscar a sua mãe. Em que assim que ela o viu
sorriu de alegria e agarrou imediatamente na sua mala. De imediato
perguntou ao filho: “meu anjinho, onde vamos nós hoje passear?” o filho
respondeu que iriam tomar um lanche até à beira mar e apanhar ar fresco.
Saiu de braço dado com o seu filho e toda Feliz. No regresso à Instituição,
passada aproximadamente 2 horas, a D. Ana dá novamente entrada na
Instituição em que logo lhe perguntei onde tinha ido, “fui passear com os
meus anjos da guarda, andámos por aí vendo flores, passeando e andando”.
Lurdes
Barradas
Observei a D. Lurdes durante também uma hora, em que recebeu a visita do
Sr. Engenheiro Barradas. Assim que chegou ao pé da sua esposa, deu-lhe
dois beijinhos na face, ela sorriu e disse: “estás cá hoje meu amor?”. Ou seja,
ela reconhece-o, mas ainda é das poucas pessoas que reconhece, pois
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vinham mais duas vizinhas e grandes amigas, em que ela olhou para elas e
lhes disse: “quem são vocês”? O marido disse-lhe que trazia um colar muito
bonito, que estava lá em casa no seu guarda-jóias, e perguntou-lhe:
“Lembras-te meu amor, de usares este colar em que te comprei numa viagem
que fomos a África?” a D. Lurdes respondeu: “não, não me lembro”, o marido
voltou a insistir novamente para que ela avivasse a sua memória e disse-lhe:
“lembras-te que me disseste na altura que era um colar feito de ossos dos
animais?” e a D. Lurdes, mesmo assim não se conseguiu lembrar. A Auxiliar
trouxe-lhe o lanche, ao qual o Esposo lhe deu á boca com todo o carinho. E
conversaram durante bastante tempo, mas que na maior parte das vezes a
D. Lurdes, não compreendia o que diziam.
O comportamento das três idosas é diferente na medida em que a D. Lurdes Carriço, por
ter recebido maus tratos da filha, sente-se muito carente, e sempre quer estar com alguém por
perto para lhe fazer companhia, observei que apesar da demência é uma senhora com muita
dignidade e respeito, acima de tudo muito educada, pois logo agradeceu quando lhe enchi a
garrafa com água para lhe dar. Sente-se só, porque vê que as outras pessoas têm visitas e ela
nunca tem ninguém que a venha visitar, talvez por esse motivo e pelo seu passado amargo, nos
diz que gosta de sentir acompanhada e que não gosta de estar sozinha.
Nós percebemos logo que a sua conversa não faz muito sentido quando nos diz que tem de
ir apanhar o comboio para ir fazer o almoço para o pai e para a mãe, pois a sua memória apenas
reteve o passado da sua juventude, na sua mente imagina que ainda é uma jovem, ao ponto de
nem se lembrar que já casou, teve filhos; a D. Lurdes não se consegue aperceber que necessita
sempre de uma terceira pessoa para sua cuidadora, nem sabe que está num Lar internada.
Quando me pediu para levá-la à casa de banho, percebemos também o grau de avanço da
doença, tal como vimos em cima na explicação dada pela Dra. Ana Paula, a memória de
procedimentos, que é uma rotina, o caminho que tem de levar para ir à casa de banho e já se
encontra internada há cerca de um ano, e não consegue elaborar sozinha esse caminho, nem se
lembra sequer de como faze-lo.
A auxiliar ao trazer o lanche, diz-lhe que traz algo que ela gosta muito, pude observar que
ela ficou feliz, por se lembrarem que ela poderia ter fome, e observei que logo se esqueceu do
lugar onde estava, nem nunca mais tornou a falar que tinha de ir apanhar o comboio para ir
fazer o jantar para os pais, aqui verificamos a tal perda de memória, que é um dos principais
sintomas desta doença, tal como foi dito no inicio do trabalho pela Dra. Ana Paula.
No caso da D. Ana Rúbio, consegui observar que tinha noção do tempo, pois sabe ver as
Horas e usa um relógio, constantemente olhava ao relógio para ver as horas, porque a auxiliar
disse-lhe que o filho tinha telefonado a dizer para ela estar preparada que por volta das 16:00
horas, estaria no Lar para vir buscá-la para irem passear e lanchar juntos. Tomei registo que
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tinha noção do tempo – relógio e noção do tempo – dias, pois ela sabia perfeitamente que era um
dia de fim-de-semana.
Ao longo da observação, observei que a D. Ana gosta muito de conversar com as outras
pessoas, não consegue estar calada durante muito tempo, arranjando sempre um pretexto ou
tema de conversa para falar com a Senhora que está ao seu lado. Onde perguntou a senhora que
estava ao seu lado se também tinha visitas ou estava à espera de alguém. Pelo nome que ela
aplica aos seus filhos – “os meus Anjos da Guarda”, percebemos que existe uma certa afinidade
e um grande carinho por eles, pois não tem mais ninguém, isto para dizer que não tem netos de
ambos os filhos e sente uma grande necessidade de estar com eles, visto que perdeu o seu ente
querido, o marido muito cedo.
A D. Ana logo se aprontou para sair com o Filho e com a sua Mala, que nunca a larga,
pronta para ir passear. No seu regresso à Instituição observei que ao lhe perguntar onde tinha
ido, não me conseguiu responder, ou seja, sabia que tinha ido passear com os seus ente
queridos, mas não se conseguia lembrar onde. Percebemos aqui um dos estádios da doença, tal
como a Dra. Ana Paula explicou na entrevista, existe a perda de memória e possivelmente a D.
Ana estará entre o 1º estádio de desenvolvimento, ou na passagem para o 2º estádio, isto porque
se vê que a Doença está estacionada e não teve mais evoluções.
Nos registos efectuados à D. Lurdes B. verifiquei que há o reconhecimento do seu marido
– Sr. Engenheiro Barradas, ao qual conviveu durante anos na mesma casa, onde não acontece o
mesmo com as sua vizinha/amigas, em que também conviveu diariamente mas de uma forma
um pouco mais afastada, pois estas senhoras ao cumprimenta-la, a Lurdes B. não as
reconheceu. Verificamos novamente a perda de memória.
O Marido trouxe-lhe um colar lindíssimo, que tinha guardado em casa das suas inúmeras
viagens que fizeram em conjunto, uma delas a África, tentou relembrá-la de onde o tinham
comprado, e voltou novamente a insistir mas a D. Lurdes não conseguiu entender o que o
marido lhe tentava dizer.
Neste dia, foi uma Observação deveras interessante, porque as Idosas saíram em conjunto
com as auxiliares até à rua a fim de dar um passeio, entre as 14.00 e as 17.00 horas.
As 3 Idosas saíram juntamente com outros Utentes da Instituição.
E lá fui eu, com o meu caderno de registos atrás, o que fiquei muito surpreendida com
esta Observação.
Comportamento durante hora da visita (dia 28 de Maio)
Lurdes
Carriço
Durante o passeio a D. Lurdes C. admirou as flores de campo que estavam à
beira da estrada e disse: “estas flores são tão bonitas que parecem as do meu
Quintal..” Virou-se para uma das auxiliares e disse: “menina sabe onde é a
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minha casa? Gostava muito que fosse um dia lanchar comigo em minha casa,
aproveitava e via o meu quintal”. A D. Lurdes disse para uma das auxiliares:
“ai filha, está tanto calor”
Ana Rúbio Na caminhada a D. Ana observava as Flores e dizia várias vezes repetidas: “
estas Flores fazem-me lembrar as flores da festa de Campo Maior, em que eu
participei tantas vezes enfeitando as ruas e casas, nunca falhei…” e disse para
uma das Utentes: “você conhece a Festa da Flor de Campo Maior?” Em
conversa com a D. Lurdes C., a D. Ana respondeu: “tanto calor, e nós com a
cabeça ao sol, mas não faz mal, porque assim também apanhamos este ar
puro, que sabe tão bem”.
Lurdes
Barradas
No passeio realizado, a D. Lurdes B. permaneceu quase sempre calada,
observei que não conseguia efectuar construções de frases, no entanto,
registei uma das suas frases que com algumas perguntas intervenientes da
auxiliar, conseguimos perceber e concluir o que nos queria dizer: “Quando eu
era pequena e o meu pai me mandava para o campo guardar as Ovelhas,
também havia muitas flores de campo e eram lindas como estas”.
Neste passeio à rua, em que as 3 Idosas foram passear juntamente com outras Utentes e
com as auxiliares percebi que estavam muito satisfeitas, por alguém as trazer à rua para dar
uma caminhada, que acima de tudo estavam acompanhadas com alguém, pois observei que
todas elas iam de braço dado umas com as outras, mais uma vez observávamos aqui o
aconchego e o carinho que as pessoas que sofrem desta patologia quase sempre se verifica.
Percebi que ao longo da caminhada todos se queixavam com o calor, tanto na cabeça,
como o próprio vento que corria que era bastante quente. A d. Lurdes C. e a D. Ana sempre
conversavam ao longo do passeio sobre algo, ainda que a D. Ana, tinha noção daquilo que dizia,
enquanto que a D. Lurdes C. apenas se limitava a responder em sequencia à conversa, tal como
ela nos falou de ir visitar a casa dela e ir lanchar na casa dela, conseguimos perceber aqui a
perda de memoria mais uma vez e a doença mais avançada que a D. Ana. No entanto, a D.
Lurdes B. uma vez que já está com a doença no estádio 3, como pudemos ver na explicação da
Dra. Ana Paula na entrevista, já não consegue realizar construções de frases, apenas consegue
dizer algumas palavras, pois ela apontava também para as flores, percebíamos que queria dizer
algo, mas não conseguíamos perceber, e a única forma foi fazer varias perguntas, ela ir
respondendo, para conseguirmos perceber o que ela nos queria transmitir. Tal como já foi
referido na entrevista com a Dra. Ana Paula, verificámos aqui a afasia.
O comportamento das três idosas é diferente na medida em que apesar de sofrerem da
mesma patologia, os estádios estão mais avançados que outros.
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Comportamento durante hora da visita (dia 5 de Junho)
Lurdes
Carriço
Neste dia, o comportamento da L.C. foi interessante na medida em que
observei a interacção de uma auxiliar com a Idosa. Uma vez que esta Utente
nunca tem visitas, a auxiliar foi ter com ela e propôs-lhe se queria jogar
dominó, o que ela logo aceitou, apesar de ter respondido: “mas há algumas
coisas que já não me lembro”... Estava bastante participativa, sorriu diversas
vezes, e perguntava repetidamente: “agora é a minha vez de jogar?”. Durante
uma hora ela esteve entretida com a funcionária.
Ana Rúbio Não pude realizar observação directa e participante à D. Ana pois tinha
saído com o filho para passar o fim-de-semana fora.
Lurdes
Barradas
Mais uma vez, recebeu a visita do seu querido esposo, que assim que chegou
a cumprimentou com dois beijos na cara, como sempre faz, observei que a
L.B., conforme ele a beijou, logo de imediato o reconheceu e lhe passou a
mão no rosto, como gesto de afecto e ao mesmo tempo sorriu. O Sr.
Engenheiro trazia um ramo de flores lindíssimo com flores da Madeira, que
conforme lhe ofereceu ela disse: “são para mim, estas lindas Flores?”, ele
respondeu-lhe que sim, e de logo respondeu: “são lindas, não precisavas de
incomodar”. Enquanto conversavam, os olhos da L.C. estavam sempre
postos nas flores, foi um dos momentos únicos da sua lucidez, porque ao
longo da visita a idosa não conseguiu realizar mais construções de frases, e
tão completas, apenas dizia palavras soltas, e muitas delas nem
correspondiam aquilo que queria dizer.
Nesta observação concluí que a D. L. C. apesar de muitas vezes solicitar para ir embora e
dizer que tem de ir fazer o almoço para os pais, neste dia nem referiu tal coisa. Estava
extremamente calma, tranquila. Quando a auxiliar de Geriatria lhe propôs para jogar dominó,
logo lhe respondeu que sim, mas ao mesmo tempo disse que já não se lembrava muito bem. O
mais interessante é que apesar da sua perda de memória, ela conseguia identificar as peças que
tinha de colocar na mesa, o que fazia com que estimulasse a parte cognitiva, ou seja, algo que
lhe ficou gravado e que nunca mais esqueceu.
No caso da D. Ana Rúbio, infelizmente não pude realizar a Observação, pois quando
cheguei à Instituição e vi que não estava sentada no seu lugar como de costume, de imediato
perguntei às auxiliares de acção directa, onde ela estava, onde me disseram que tinha saído com
o filho e só regressava no dia a seguir ao final do dia.
A D. Lurdes Barradas, recebeu mais uma vez a visita do seu querido marido, como de
costume que todos os dias a vem visitar. Assim que o viu logo o reconheceu e sorriu ao beijá-lo.
E foi dos poucos momentos em que esteve lúcida e conseguiu construir frases, foi precisamente
no momento em que o marido lhe ofereceu um lindo ramo de flores da Madeira, e que ela
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pergunta se eram para ela. Algo lhe fez lembrar, o que não consegui perceber porquê, porque ao
longo dos 60 minutos de observação, ela não conseguiu fazer mais frases completas.
Comportamento durante hora da visita (dia 12 de Junho)
Lurdes
Carriço
A L.C. não teve visitas no entanto observei-a durante 60 minutos. Foi um dia
em que estava muito irrequieta, pois não parava no lugar e dizia várias vezes:
“menina não sabe onde é a porta para eu sair? Tenho de me ir embora que os
meus pais estão à minha espera, e tenho de ir fazer o almoço”.
Ana Rúbio Foi um dia muito calmo para a D. Ana Rúbio, pois ela já sabia à partida que o
filho não a viria buscar para sair ou ir lanchar, pois ele ligou e as auxiliares
avisaram a D. Ana, o que não fez com que ela ficasse nada ansiosa.
Conversou com a idosa que estava ao seu lado onde fiz registo: “Já viu como
aquelas gaiatas que estão a dançar na TV se mexem tão bem e estão tão
despidas? No meu tempo não era nada assim, até para ir ao baile, tínhamos de
levar um vestido que não estivesse mais do que um palmo acima do joelho..
Esta geração de agora é muito diferente do que era antigamente”. Ao lhe
trazerem o lanche a D. Ana R. logo respondeu: “ai, obrigada amiga..”
Lurdes
Barradas
Foi visitada pelo Sr. Engenheiro Barradas e por uma sobrinha. Como sempre
costuma acontecer, reconheceu o seu querido marido, mas não consegui
identificar a menina que era sua sobrinha e que segundo me foi dito pelo
E.B., ela até cuidou desta menina logo quando nasceu. Como habitual o
marido trouxe-lhe algo, desta vez foram uns bolinhos de um Salão de Chá,
que era costume irem ao fim de semana. Ao lhe oferecer os bolinhos,
perguntou-lhe: “lembras-te destes bolinhos que costumávamos comer à beira
mar, naquele salão de chá chamado: “Doce e Creme”? A L.B. respondeu-lhe:
“não, não me lembro”… o marido tentou novamente insistir para que ela se
lembrasse e ela por fim respondeu: “sim… parece que já me lembro”.
Nos meus registos de Observação deste dia, observei que a D. Lurdes Carriço estava muito
inquieta, durante os 60 minutos andou sempre a vaguear pelo lar a abrir portas e a fechar, a
abrir luzes e a fechar, a compor as toalhas que estavam em cima das mesas de refeições, e por
diversas vezes passava por familiares de outros utentes, pelas auxiliares e até mesmo a mim, e
perguntava, onde era a porta de saída, pois queria ir para casa para dar de jantar aos seus
queridos e amados pais. A mãe, porque a esperava numa cama e o pai porque tinha ido
trabalhar e quando viesse queria comer. Registei que foi um dos dias mais agitados da D. Lurdes
C., em que concluí, que nem sempre são dias calmos, existem dias em que doentes desta
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patologia se podem tornar agressivos; aqui consegui perceber a tal mudança de comportamento
que a Dra. Ana Paula me falou na entrevista, em que se podem tornar agressivos, mudar o seu
comportamento ou personalidade.
A D. Ana Rúbio neste dia não recebeu visitas dos filhos, isto porque o filho sabendo que a
mãe ainda tem a noção das horas, logo de manha ligou para a Instituição para avisar a sua
querida mãe de que não viria buscá-la para passear, pois não fosse ela ficar ansiosa. A auxiliar
avisou a D. Ana, o que ela não ficou ansiosa, nem se importou com tal situação, compreendeu e
aceitou perfeitamente aquilo que lhe fora dito.
Enquanto observei esta idosa, apercebi-me de que ela presta atenção aos mínimos dos
pormenores de que vê na TV, pois tal como registei na grelha, ela meteu conversa com a senhora
que estava ao seu lado, dizendo que as meninas que estavam a dançar na TV estão quase
despidas e se mexiam com rapidez a dançar, fazendo uma comparação com a sua juventude, em
que sempre que iam para os bailes e festas da aldeia, tinham de ir bem tapadas para os rapazes
não verem nada, de preferência com vestidos ou saias que não estivessem muito acima do
joelho. Observei também a sua delicadeza e educação que apesar da doença não se deixou de
verificar, pois quando a funcionária lhe trouxe o lanche e lhe colocou no colo, ela agradeceu logo.
Em relação à D. Lurdes B., como sempre reconhece o seu querido marido mas desta vez
também não reconhecer uma menina à qual era a sua sobrinha, e a qual ela criou deste muito
bebé. O marido traz-lhe sempre um miminho e desta vez foram bolinhos de um salão de chá a
que costumavam ir, do qual ela não conseguiu se lembrar, apesar da insistência para que se
lembrasse, ela acabou por responder que parecia que se lembrava.
Comportamento durante hora da visita (dia 19 de Junho)
Lurdes
Carriço
Neste dia em que observei a L.C. também não teve visitas como é habitual,
uma vez que está ao abrigo da instituição, por ter recebido maus tratos da
filha, não consegui perceber onde se encontra a restante família? Amigos?
Sobrinhos? Primos? Irmãos? Foi algo que observei ao longo dos dias que
estive a realizar participação directa. Foi um dia em que as auxiliares lhe
deram banho à tarde, antes das 15.00 horas, que é quando começa a visita.
Observei que não é uma pessoa agressiva durante a Higienização pessoal e
até colabora no banho. Gosta imenso de se lavar, enquanto lhe colocam o
champô no cabelo e o gel de duche no corpo. Algumas das suas frases que
registei: “eu tinha um cabelo tão bonito e agora estou cheia de cabelos
brancos”.(…) “humm.. A água está tão quente e sabe tão bem a bater nas
costas”.
Ana Rúbio A D. Ana teve uma visita inesperada que foi a do filho mais velho, pois ele
tinha sido internado para uma operação e há muito tempo que não o via.
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“Querido Anjo da Guarda, há tanto tempo que não te via, pensei que te tinhas
esquecido de mim.. Tinha tantas saudades tuas”. Logo de seguida perguntou:
“e hoje onde vamos meus queridos?”
Lurdes
Barradas
A D. Lurdes Barradas teve a visita do seu marido, que neste dia lhe trouxe
uns rebuçados de mentol e alguns de fruta. Trouxe um pequeno saco. – “Isto
é para mim, meu querido?” (…) hum.. São tão bons estas coisas que me deste”.
Neste meu último dia de observação, em que como sempre é costume eu fazer, reparti as
3 horas pelas 3 idosas, sendo que 60 minutos para cada Idosa de Observação directa e
participante.
A D. L.C. não teve visitas, o que me deixou bastante intrigada e curiosa, pois mesmo
sabendo que sofria maus tratos por parte da filha, tive conhecimento que foram as próprias
vizinhas e alguns familiares que fizeram queixa na polícia e na Segurança Social de que a
senhora sofria maus tratos, no entanto em nenhum dos dias em que fiz observação, pude contar
com a participação da família, pois nem sobrinhos, nem irmãos, nem vizinhos, simplesmente é
uma senhora que nunca tem ninguém para falar com ela e que lhe dê algum carinho e afecto e
juntamente com ela reparta alguns momentos de alegria que já tenham sido vividos.
Foi um dia que pude observar a sua Higienização pessoal, à qual não consegue realizar
sozinha, foi também um dos pontos mencionados pela Dra. Ana Paula em que deparamos com o
factor de Apraxia, em que não sabe como faze-lo nem o consegue fazer sozinha. Mostrou-se uma
senhora muito calma, sem nenhuma agressividade, falou durante o banho e também disponível
para com o desempenho da auxiliar.
A D. Ana teve uma visita inesperada. Aos fins-de-semana normalmente os filhos vêem
sempre busca-la para dar um passeio. No entanto, já há algum tempo que um dos filhos estava
internado para uma cirurgia e que há algum tempo que não via a mãe. Quando ele entrou na
Instituição juntamente com o irmão, os seus olhos ficaram vidrados e logo sorriu e correu para
os abraçar, os seus queridos anjos da guarda, como ela lhes chama. Ela sabia que tinha muitas
saudades deste filho, mas a sua perda de memória não a deixava perceber porquê, até que o
filho mais novo, lhe disse e lhe fez relembrar que outrora o irmão tinha estado internado e por
esse motivo não veio visitar a mãe mais vezes.
Ao invés de saírem para passear como é habitual, ficaram sentados num sofá a conversar
e “matar saudades”.
A D. Lurdes Barradas recebeu mais uma vez a visita do seu marido, que lhe trouxe um
saco com rebuçados de mentol e de fruta, em que observei que mais uma vez ela não conversou
muito, apenas olhava para o seu ente querido e não conseguia construir frases, e das poucas
frases que conseguiu construir foi dizer-lhe ou tentar transmitir que os rebuçados eram bons,
mas não conseguiu dar o nome correcto aos rebuçados, não fez associação.
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10 - Caracterização das Auxiliares
→ Humanas
→ Generosas
→ Simpáticas
→ Meigas
→ Bem-dispostas
10.1 - Entrevistas às Auxiliares
A formação é um dado importante, mas na minha singela opinião não é o mais revelante,
porque por vezes a experiencia é que determina o à vontade que as auxiliares de Geriatria e
Gerontologia se relacionam com os Idosos.
A Teoria, por vezes, na prática não funciona.
Temos que constatar, mesmo como futuros licenciados que seremos, ou Animadores Sócio
Culturais, que por vezes a prática passa à frente de qualquer formação, é bom por um lado, mas
preocupante por outro. Será que todo o esforço que estamos a ter ira ter valor? Na verdade,
infelizmente, uma auxiliar por vezes acaba por completar o trabalho de uma Animadora
Sociocultural, ou de uma Enfermeira, ou Sociólogo, entre outros.
Na Casa Geriátrica de Santa Rita, constatei que o facto de alguma auxiliares, não terem
formação necessária não as impede de desempenhar as mesmas funções que as auxiliares com
Formação adequada.
A Formação é um factor com alguma importância, mas não o mais relevante é a
experiência que determina a vontade e o carinho com que as Auxiliares se relacionam com os
idosos.
Podemos então concluir que a experiencia e a formação complementam-se mesmo que não
sejam ambas as características de uma única pessoa, ou seja, neste caso por exemplo os idosos,
que têm de ter os seus cuidadores, uma terceira pessoa sempre disponível para os ajudar
naquilo que for preciso, juntamente com a formação de outros técnicos profissionais
harmonizam-se e obtém bons resultados, porque no fundo todos trabalham em Equipa e para o
mesmo fim, que é o bem-estar de cada Idoso/Utente.
Entrevistadas Formação das entrevistadas
Ana Almeida “ Não tenho formação específica em Geriatria, mas fiz algumas formações
na Cruz Vermelha, sobre o levante e posicionamento de idosos, e trabalhei
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como encarregada num lar durante algum tempo”.
Manuela Sota “Não tenho nenhuma formação com idosos, tudo o que aprendi até hoje, e
o que sei hoje devo ao Enfermeiro Hélio e à Dra. Graciete, em conjunto com
as colegas de trabalho que tenho ao meu lado a trabalhar como equipa”.
Ana Isabel
“Fiz um curso de geriatria / gerontologia e saúde do idoso no centro de
Formação Profissional de Lisboa”.
Fernanda Oliveira “Não tenho formação específica em Geriatria, mas ao longo dos anos fui
fazendo várias formações, na Misericórdia do Lisboa”.
A importância do trabalho de um auxiliar de Geriatria/Gerontologia
num Lar de Idosos
Ana Almeida “No meu ponto de vista, o trabalho de auxiliar é muito importante, porque
cada vez mais existe uma população mais envelhecida e é fundamental,
haver alguém que goste do que faz e se preocupe com estas pessoas que
tantas vezes nem família têm, ou seja, nós somos tudo para eles, é
connosco que eles convivem todos os dias e os últimos dias da vida
deles”.
Manuela Sota “Com o nosso trabalho e com os cuidados que temos ajudamos a
melhorar a qualidade de vida do idoso, promovendo a sua auto-estima e o
convívio com os outros utentes”.
Ana Isabel “Dado que a população esta cada vez mais envelhecida e existem mais
pessoas dependentes, que não têm pessoas que cuidem delas, pois por
motivos de força maior, muitas das vezes o trabalho e filhos não lhes
permite ajudar nas necessidades básicas e que acabam por ser
totalmente preenchidas pelo meu tipo de serviço: alimentação, higiene
pessoal, acompanhamento ao médico, higiene habitacional, tratamento de
roupas, socialização, abrangendo cada individuo”.
Fernanda Oliveira “Eu já tive várias formações na Santa Casa da Misericórdia em Lisboa, o
que me dá um grande alento para trabalhar com idosos, penso que nós
somos mais do que a sua família por vezes, porque convivemos com eles
24 horas sobre 24 horas com eles, mesmo que não queiramos, acabamos
por ganhar algum afecto com eles.”
Em que sentido o trabalho de uma Auxiliar melhora a qualidade de
vida dos Idosos com Patologia de Alzheimer
Ana Almeida “A partir do meu trabalho tento a cada dia melhorar a vida dos idosos,
que estão sozinhos, principalmente aqueles cujas famílias, não
correspondem como devia, pois temos casos de maus tratos, como o da D.
Lurdes Carriço. Muitas das vezes é com as auxiliares, que se sentem
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acompanhados e acarinhados”.
Manuela Sota “O meu trabalho, para além do cuidado base, que é melhorar a qualidade
vida do idoso, ajudamos na parte da auto-estima e na área emocional ou
seja ajudamos a superar a solidão, a depressão, com que muitos utentes
vivem diariamente. Transmitindo carinho afecto e solidariedade”.
Ana Isabel “Em vários sentidos, podemos sempre ajudar aqueles que dependem
totalmente da ajuda do auxiliar de geriatria como: acamados, semi-
acamados, pessoas com patologias de Alzheimer e que se sentem muitas
vezes perdidas, dentro do próprio lar, perdem o sentido, utentes que
necessitam de uma pequena ajuda para realizarem a sua higiene e
tarefas diárias. Em todas estas vertentes é necessário ter sempre a
preocupação de manter o indivíduo o mais confortável possível e quando
esse trabalho é assim realizado dentro do tempo disponível para cada
utente como pessoa a sua qualidade de vida aumenta sempre que se alia
o carinho e afecto o sofrimento destes pode ser minimizado”.
Fernanda Oliveira “Para além de proporcionar os cuidados de higiene essenciais, ajudamos
o idoso a reaprender a sua independência e sempre que possível
conversamos um pouco com eles e damos a atenção devida que eles
precisam e merecem”.
Fotos de algumas Auxiliares
Ana Isabel, Manuela Sota, Fernanda Oliveira, eu e Dra. Graciete
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Fernanda Oliveira, Manuela Sota, Beatriz e Ana Almeida
Todas as Funcionárias da Instituição, juntamente com o Dr. Carlos e Dra. Graciete
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11 - Entrevistas aos Técnicos e Profissionais
Na medida em que são todos profissionais e trabalham em áreas diferentes, mas na
Instituição trabalham todos para o mesmo fim, que é o bem-estar dos Utentes, cada um tem
uma opinião diferente, ou seja, uma perspectiva diferente.
Recomendações para quem cuida de um doente de ALZHEIMER
Dra. Ana Paula
(Médica) “Esteja próximo e olhe bem para o seu doente, olhos nos olhos, quando
conversam; Permaneça calmo e quieto. Fale clara e pausadamente, num
tom de voz nem demasiado alto nem demasiado baixo; Evite ruídos
(rádio, televisão ou conversas próximas); Se for possível, segure na mão
do doente ou ponha a sua mão no ombro dele. Demonstre-lhe carinho e
apoio. Em todas as fases da doença, é necessário manter uma atitude
carinhosa e tranquilizadora, mesmo quando o doente parece não reagir
às nossas tentativas de comunicação e às nossas expressões de afecto”.
Sr. Pedro Oliveira
(Osteopata)
“Há que ter também em atenção que o doente, dependendo do grau de
incapacidade em que se encontra, tem o direito de optar se quer ou não
ser informado sobre a sua situação clínica e de falar ou não sobre ela
com familiares ou amigos. O desejo de confidencialidade deve ser
respeitado. O doente de Alzheimer, como todos os doentes, para além da
fase da doença em que se encontra e dos sintomas que apresenta, é
sempre sensível à forma como é tratado reagindo positivamente ao
afecto (voz suave, toque, beijo) e reagindo negativamente ao facto de o
ignorarem e/ou demonstrarem comportamentos de agressividade”.
Sr. José Barrinha
(Fisioterapeuta)
“A maior parte dos doentes com Alzheimer passa a viver no passado,
uma vez que já não se conseguem lembrar do que fizeram ontem, dos
nomes das pessoas com quem habitualmente lidam, números de telefone
ou conversas recentes. Por norma, a memória de longa duração não é
afectada, ou só o é já em fases adiantadas da doença, o que significa
que o passado do doente passa a ser o seu presente, sendo que os
eventos recentes são pura e simplesmente esquecidos. Será mais fácil,
para todos, adaptar-se ao doente e não ao contrário, ou seja, fazer um
esforço para viver a realidade actual da pessoa, mesmo que seja uma
época da sua vida de há 20 anos atrás. Pelo menos assim há a
possibilidade de recordar e conversar, aproveitando o facto de o doente
continuar atento e comunicativo”.
Sr. Hélio Canastra
(Enfermeiro)
“Sem querer tornar a sua casa numa prisão e o doente num prisioneiro,
promova um ambiente seguro: retire da casa de banho pequenos
electrodomésticos como secadores ou máquinas de barbear; feche à
chave armários com produtos perigosos ou quartos onde o doente corre
algum risco de se magoar; coloque barreiras de segurança nas escadas;
muitos doentes já não reconhecem o seu próprio reflexo e, por isso, os
espelhos ou vidros podem confundir ou assustar uma pessoa com
Alzheimer – se isso acontecer, opte por arruma-los ou cobri-los.
Disponibilize um espaço amplo, limpo e tranquilo onde ele possa estar à
vontade; rodei-o de objectos familiares, como fotografias ou outras
lembranças pessoais”.
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Dr. Carlos Araújo
(gerente)
“A comunicação ou falta dela pode ser um grande desafio. Muitos
doentes têm dificuldade em formular frases completas, outros deixam de
falar por completo. Fique atento à linguagem corporal e às suas
expressões faciais e não se esqueça que conhece bem esta pessoa. Se
sempre gostou de música clássica, ponha um CD a tocar; se é um
apaixonado por futebol, ligue a televisão na altura de um jogo; mime o
doente com carinhos e afectos, um forte abraço ou apenas a sua
companhia podem fazer maravilhas. Não é o Alzheimer em si que
provoca a morte, mas sim as infecções e doenças que podem surgir em
sequência desta. Há que ser rigoroso: estabeleça e cumpra os horários
da toma da medicação e de ir à casa de banho; certifique-se que o
doente beba muita água; se verificar alterações nos hábitos alimentares
ou de sono vá ao médico; as mudanças de comportamento e de estado
de espírito – como ansiedade, querer estar sozinho ou tristeza – também
devem ser vigiadas”.
Dra. Graciete Araújo
(Direct. Técnica)
“Manter a mente e o corpo activos é fundamental. Tarefas de reduzida
dificuldade, como apanhar ou dobrar a roupa, mantêm as pessoas
ocupadas, sem as frustrar ou aborrecer. Existem muitas actividades que
podem e devem realizar-se com um doente de Alzheimer, até para
estimular os sentidos: dançar, cantar, jardinar, pintar, caminhar,
conviver com crianças, cozinhar, fazer a manicure ou tratar do seu
cabelo, são apenas alguns exemplos.”
Quando o doente de Alzheimer é agressivo
Dra. Ana Paula
(Médica) “Pacientes com transtornos psicóticos prévios, e que começam a
apresentar prejuízo progressivo da cognição (integração da consciência),
evoluem muito mais rapidamente para a demência. Havendo alguma
doença mental anterior à Doença de Alzheimer, principalmente doenças
do tipo psicose, fará com que o paciente apresente muito maiores
alterações comportamentais, tais como delírios, alucinações,
agressividade, agitação, furor, mudanças de personalidade, alterações
sexuais e perda das noções de higiene, no caso de se tornar um doente
agressivo, há que lhe mostrarmos que não temos medo dele, pois ele
pressente isso, falar com ele, olhando-o nos olhos”.
Sr. Pedro Oliveira
(Osteopata)
“A terapia deve também ajudar o doente a habilitar a sua memória
utilizando métodos específicos, tais como utilização de agendas
adaptadas ao doente e outras coisas práticas que o ajudem na sua vida
quotidiana. Outras técnicas de habilitação cognitiva, consistem em
utilizar exercícios que permitam “desenvolver” a linguagem, a memória, a
atenção e concentração, a leitura, a escrita, a orientação e a coordenação
motora.”
Sr. José Barrinha
(Fisioterapeuta)
“ Sinceramente lido com idosos, mas na minha área particularmente não
lido muito com doentes de Alzheimer, como tal sei como reagiria no caso
de um doente se tornar mais agressivo, mas não sei muito bem os
termos técnicos. No entanto, sei que deverei manter a calma e mostrar ao
doente aquilo que realmente quero fazer é correcto e para o bem dele,
tentando não contrariá-lo muito”.
Sr. Hélio Canastra
(Enfermeiro)
“Além da memória, também a capacidade de localização no tempo e no
espaço é afectada. E, de um dia para o outro, os doentes deixam de
conseguir encontrar caminhos. Perdem-se na própria casa, na
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vizinhança. E desenvolvem comportamentos estranhos como a
deambulação errática. O risco de desaparecerem ou de terem a vida em
perigo é, pois, elevado, mas pode ser minimizado. Assim, os doentes
devem andar sempre identificados, os vizinhos e comerciantes próximos
devem ter conhecimento do seu estado, a possibilidade de saírem de
casa sozinhos deve ser reduzida. A confusão não afecta apenas os
passos dos doentes: eles escondem objectos e depois esquecem-se de
onde os deixaram, comportam-se como se estivessem sempre à procura
de alguém ou de algo. Em qualquer uma destas circunstâncias carecem
de ajuda: para voltar a casa ou para encontrar o que perderam. Mas, por
mais difícil que seja, há que resistir à tentação de os recriminar: fazê-lo
aumenta a insegurança e pode estimular a agressividade. A
agressividade espreita nestes doentes, o que é, desde logo, explicado
pelo facto de não reconhecerem a nova realidade nem saberem lidar com
ela. Não ser capaz de realizar tarefas banais e rotineiras, não conseguir
identificar pessoas e lugares, não se recordar de acontecimentos e rostos
familiares, ter dificuldade em comunicar é, afinal, razão mais do que
suficiente para que os doentes de Alzheimer se sintam confusos,
frustrados, reagindo com oscilações do humor, instabilidade e
agressividade. É um tumulto de emoções ao assalto dos doentes e dos
seus cuidadores, para quem o Alzheimer é um fardo muito pesado.
Também eles precisam, pois, de ajuda.”
Dr. Carlos Araújo
(gerente)
“É possível que em algumas fases da doença, o doente se torne
agressivo. A agressividade pode ser tanto verbal como física. Procure
perceber o que levou o doente a ficar agressivo; Evite ralhar, discutir ou
colocar o doente de castigo; Evite o contacto físico e dê espaço ao doente;
Não mostre medo ou ansiedade; Tente manter um ambiente calmo; Fala
tranquilamente com o doente e tente chamar-lhe a atenção para outra
coisa. Procure ajuda e aconselhamento médico caso seja necessário e
não consiga lidar com a situação. Deve recordar-se que não está sozinho.
Algumas sugestões para evitar as crises de agressividade…Ajude o
doente, mas evitar dar ordens; Não seja demasiado exigente nas rotinas
do doente; Faça elogios ao doente (não exagerando), e evite críticas; Se o
doente ainda conseguir fazer algumas actividades, deixe-o fazer ao seu
ritmo; Sugira actividades físicas que o doente goste; Procure actividades
que o doente aprecie; Esteja a atento a sinais que possam indicar que
uma crise se aproxima e tente desviar-lhe a atenção.”
12 - Entrevistas aos Familiares dos Utentes
Informação clínica dada pelo Médico, confirmada em como sofre
da Patologia de Alzheimer
Dr. Carlos e Dra.
Graciete (Cuidadores
da Idosa Lurdes
Carriço)
“No caso da D. Lurdes, nós recebemos a Utente na nossa Instituição
através da Polícia e da Segurança Social. Quando chegou até nós, as
Assistentes Sociais já traziam toda a informação clínica e exames
realizados no Hospital, onde lhe foi detectado esta patologia, que já
existia, mas com o agravamento de maus tratos por parte da filha. É
uma senhora que raramente tem visitas, nós somos os cuidadores
principais dela, a família que apareceu cá na Instituição foram apenas
uma sobrinha e uma irmã, mas a utente já está connosco há cerca de 1
ano e essas pessoas só apareceram cá uma única vez. Podemos dizer
Curso de Animação Sociocultural
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que a nível familiar está quase como ao que o “abandono”, não está
porque cuidamos dela todos os dias e damos-lhe tudo o que ela
necessita. Nunca foi uma idosa agressiva, apesar dos maus tratos que
teve por parte da filha, mas está num estado da doença já muito
avançado, uma vez que se perde no caminho para a casa de banho,
não sabe onde está e pensa que vive numa geração de há 20 ou 30
anos atrás.”
Dr. Rui (filho da D.
Ana Rúbio)
“ A minha mãe ficou doente desde muito nova, aproximadamente pelos
70 anos, em que se esquecia de muita coisa, como apagar o fogão, não
conseguia abotoar os botões das camisas, entre muitas outras coisas.
Foi levada ao médico ao qual constatamos definitivamente que sofria da
patologia de Alzheimer. A minha mãe anda bem sozinha, não necessita
de cadeira de rodas, tem uma boa estabilidade funcional e um equilíbrio
dinâmico e estático. Tem uma capacidade de raciocino num ambiente
controlado. Demonstra maior desenvoltura nas actividades diárias,
participando activamente delas. No entanto desde que está internada
aqui no lar é que começou a manifestar total vontade de fazer a sua
higiene matinal autonomamente e demonstra períodos de grande tensão
emocional e ansiedade quando vai a casa ou passear connosco. Come
pela sua mão própria, é uma pessoa semi-autónoma, porque precisa de
ajuda para ir à casa de banho ou nos banhos. Começou por apresentar
os sintomas normais da doença: como a falta de memória, agnosia ou
falta de reconhecimento de certos objectos, pessoas, sons e formas”.
Eng. Barradas
(Marido da Lurdes
Barradas
“A minha esposa começou a mostrar sinais da patologia de Alzheimer
com as vizinhas, pois fazia conversas sem anexo nenhum, e não
conseguia acabar de construir as frases, foi levada ao médico ao qual a
analisou e disse que ela estava com uma deficiência cognitiva e com uma
depressão profunda que se agravou com a morte do meu filho há 4 anos.
O quadro clínico era compatível com depressão em favorável demência
vascular. E dado ao estado do deficiência cognitiva da minha mulher
estar tão avançado, já não conseguias se guiar a si própria nem os seus
próprios bens, não estava no seu juízo perfeito face à doença que sofria,
e precisava de uma terceira pessoa em acompanhamento constante.
Esteve comigo em casa com uma dama de companhia durante alguns
anos, até que fiquei também doente a nível psicológico, pois é bastante
cansativo cuidar de pessoas assim. Trouxe-a para esta instituição onde
cuidam muito bem dela, com os profissionais adequados”.
Na medida em que as pessoas não estavam muito receptíveis para falar, decidi não
realizar mais perguntas, ao qual me parece bastante esclarecedor por parte dos familiares tudo
aquilo que foi observado ao longo de todo o trabalho.
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Algumas fotos das Utentes na Instituição
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13 - Entrevista ao Dr. Carlos Araújo
Comentário acerca dos Idosos
Dr. Carlos Araújo “A Terceira Idade está a tornar-se uma preocupação que importa olhar
“com olhos de ver”, com vista à resolução dos problemas que a mesma
acarreta. Nem sempre é fácil ao idoso deixar a casa e recolher-se num lar,
porque não tem ninguém ou foi esquecido pelos seus. Para uns, os dias são
um verdadeiro pesadelo, enquanto outros se vão adaptando a novas vidas e
novas experiências. Todos sabemos que, infelizmente, ser idoso, na nossa
sociedade, significa, não raras vezes, ser votado ao esquecimento e conviver
com o nevoeiro da vida. “Só te peço para que cuides de mim quando
envelhecer! Não me ponhas num lar ao abandono!…” – são palavras de
homens e mulheres que estão no limiar da velhice e pedem aos filhos para
cuidarem deles”.
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Ainda temos muitos idosos a olhar para a janela para ver se a família
aparece?
Dr. Carlos Araújo “Ainda temos muitos idosos nestas circunstâncias e nós não conseguimos
resolver esse problema. Podemos atenuá-lo, criando uma certa dinâmica,
pensando até em contratar uma técnica vocacionada, cujo trabalho vai ser
apenas articular os aspectos lúdicos das duas casas, ocupando-se disso 24
horas dia. Isso tem em vista atenuar todos os aspectos de solidão e um certo
abandono em que algumas pessoas se encontram, mas não podemos fazer
tudo, porque ninguém consegue superar a falta da sua própria família.
Podemos atenuar mas não resolver”.
Acha que é importante cada vez mais as pessoas prepararem-se
para a velhice?
Dr. Carlos Araújo “È fundamental. Penso que a minha geração deve começar a pensar nisso
urgentemente, porque é errado pensar que os nossos filhos nos vão resolver
o problema. Este é um conceito muito radical, tendo em conta a forma como
fomos educados a ver esta situação. Os nossos pais nunca pensaram assim,
pelo que hoje, infelizmente, ainda existem pessoas que estão muito
enganadas, porque nós somos os velhos de amanhã. Não podemos esperar
que o Estado faça alguma coisa por nós porque não vai fazer. O Estado está
muito pobre”.
Os idosos hoje em dia nos lares …
Dr. Carlos Araújo “Bom, já existe o estatuto do idoso e também a Delegacia do Idoso - no caso
de maus tratos deve-se denunciar. Creio que não é uma questão de fazer
alguma coisa, mas sim sentir algo maior como respeito e amor por quem
passou uma vida trabalhando e cuidando de filhos e até mesmo de netos. A
palavra mágica sempre será AMOR”.
Curso de Animação Sociocultural
1º Ano / 2009-2010
48
CONCLUSÃO
Com todo o trabalho de Observação realizado e por meio de diversos meios de recolha de
informação, como as entrevistas e as grelhas de observação, foi possível verificar os
comportamentos das idosas nos seus mais variados estádios.
Os Idosos são inseridos nos Lares por muitos motivos, mas são os seus próprios filhos,
em sua maioria, que determinam essa condição.
Regularmente, os profissionais de Instituições referem-se às famílias de Idosos de forma
extremamente negativa, no entanto depois desta observação devemos pensar que nem todas as
famílias sentem afecto e senso de responsabilidade pelo idoso. Alem disso, pode haver problemas
de relacionamento familiar nunca resolvidos.
Talvez, a circunstância de levar ou não o idoso para viver num Lar, pode vir a ser a
oportunidade de colocar avante o empreendimento de compreender significados mais profundos,
muitas vezes, esquecidos pela comodidade de não querer significar sentimentos que nos trazem
desconforto e que parecem não ter jamais um bom fim.
O estatuto do Idoso propõe melhorias para a Socialização do Idoso, e suas condições de
vida, sendo respeitado em suas atitudes e vivencia. Entretanto, os conhecimentos desenvolvidos
por movimentos de terapia familiar, e particularmente, sobre terapia e orientação da família, isto
é, aspectos de suporte psicológico, podem ser muito úteis para todos aqueles que lidam com
esses problemas no seu dia-a-dia.
Faz-se necessário, portanto, o conhecimento, por parte de todos, do quadro geral da
doença : sintomas, evolução e tratamento; tudo para que o sofrimento do paciente (e daqueles
que a ele dirigem cuidados) seja minimizado, ao menos. Informação é vantagem, em se tratando
de Doença de Alzheimer. Ainda mais em tempos (como o nosso) de crescente preocupação com
questões ligadas à bioética e, consequentemente, ao biodireito.
Concluo a minha Observação, dizendo que foi um trabalho com o qual aprendi muito, que
apesar de já estar familiarizada com esta patologia, pois trabalho como Animadora Sociocultural
e com idosos há cerca de 8 anos, não tinha ideia desta doença no seu mais profundo contexto.
Toda a pesquisa realizada, as entrevistas fizeram-me compreender melhor os comportamentos
de cada pessoa.
Pergunto-me a mim própria se toda a população tem noção do que é esta doença, como se
cuida de pessoas com esta patologia, lidar com a morte de pessoas que sofrem desta patologia,
porque afinal de contas, estas pessoas ao estarem a ser cuidadas por profissionais em Lares de
Idosos, e com o mais alto nível, apenas estão esperando pelos seus últimos dias de vida, e somos
nós que estamos com eles, aguardando por esse ultimo dia, e enquanto tal não acontece,
devemos saber lidar com estas pessoas, dando-lhes o maior conforto, paciência, carinho e
compreensão, ainda que por muitas vezes todos estes afectos e comportamentos nos faltem.
Curso de Animação Sociocultural
1º Ano / 2009-2010
49
Bibliografia
Robert, Ladislas. “ O Envelhecimento”, Edições Instituto Piaget, 1994
Curso de Animação Sociocultural
1º Ano / 2009-2010
50

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  • 1. INSTITUTO PIAGET ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO CAMPUS DE ALMADA Curso de Animação Sociocultural Disciplina de Trabalho de Campo Antropológico Observação sobre Idosas com a Patologia de Alzheimer Docente – Sra. Professora Dra. Cristina Granado
  • 2. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 2 Discente – Verónica Patinho Nº de Aluna – 43445 2 º Semestre do Ano Lectivo 2009/2010 ÍNDICE 1 - INTRODUÇÃO PÁG . 5 2- CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA PÁG. 6 3 - ENTREVISTA À DRA ANA PAULA PÁG. 8 4 - CARACTERIZAÇÃO DO OBJECTO DE ESTUDO PÁG. 16 5 - CARACTERIZAÇÃO DOS TÉCNICOS PROFISSIONAIS PÁG. 18 6 - CARACTERIZAÇÃO DOS IDOSOS PÁG. 19 7 - PROGRAMAS QUE A INST. OFERECE PÁG. 25 8 - A SITUAÇÃO FAMILIAR DOS UTENTES PÁG. 25 9 - METODOLOGIA PÁG. 27 10 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS PÁG. 29 10.1 - CARACTERIZAÇÃO DAS AUXILIARES PÁG. 37 11 - ENTREVISTAS ÀS AUXILIARES PÁG. 37 12 - ENTREVISTAS AOS TÉCNICOS E PROFISSIONAIS PÁG. 41 13 - ENTREVISTAS AOS FAMILIARES DOS UTENTES PÁG. 43 14 - ENTREVISTA AO DR. CARLOS ARAÚJO PÁG. 46 CONCLUSÃO PÁG. 48 BIBLIOGRAFIA PÁG. 49 ANEXOS
  • 3. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 3 AGRADECIMENTOS Tenho de agradecer a todos aqueles que me ajudaram ao longo da Observação realizada na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza. Em primeiro que tudo, ao Dr. Carlos Araújo e Dra. Graciete Araújo, pelos seus preciosos conselhos e críticas ao longo da elaboração deste Trabalho. Às Auxiliares Ana Almeida, Manuela Sota, Ana Isabel e Fernanda Oliveira, que se predispuseram para entrevistas e opiniões. Devo muito aos colegas que aceitaram ler, criticar e corrigir o meu Trabalho de Campo Antropológico, em particular Catarina Justo e Anabela Marques. Agradeço também a todos os familiares dos Utentes respectivos, que colaboraram com depoimentos e histórias de vida passadas e que são vividas actualmente. Gostaria por fim de agradecer a todos os técnicos profissionais, que trabalham na Instituição como a Médica, o Enfermeiro, o Osteopata e o Fisioterapeuta, que por numerosas conversas, sugestões e críticas com que me quiseram cumular, me ajudaram a concluir o meu trabalho.
  • 4. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 4 “ O bem mais precioso do ser Humano é o seu espírito, sem desejo de viver, sem sentido de dignidade, sua personalidade. Embora possamos ser descritos em termos de tendões, ossos e terminações nervosas, jamais devemos perder de vista a pessoa que estamos a tratar”. Paul Brand
  • 5. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 5 INTRODUÇÃO O tema do presente trabalho é sobre a doença de Alzheimer. Entre 50 a 70 por cento de todas as pessoas com demência têm a doença de Alzheimer. A demência é uma decadência progressiva da capacidade mental em que a memória, a reflexão, o juízo, a concentração e a capacidade de aprendizagem estão diminuídas e pode produzir-se uma deterioração da personalidade. A demência pode aparecer subitamente em pessoas jovens, no entanto a demência habitualmente desenvolve-se de forma lenta e afecta as pessoas com mais de 60 anos. Apesar de tudo, a demência não faz parte do processo normal de envelhecimento, à medida que a pessoa envelhece, as alterações do cérebro causam uma certa perda de memória e uma deterioração na capacidade de aprendizagem. Estas alterações não afectam as funções normais. A demência é uma deterioração muito mais grave da capacidade mental e piora com o tempo. A causa mais comum da demência é a doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer pode ter várias causas tais como: sexo, factores genéticos, hereditariedade, traumatismos cranianos, e outros factores. Elaborou-se um perfil neuropsicológico do doente com Alzheimer e a nível de intervenção com estes doentes, constatamos que esta deve ser multidisciplinar, preventiva e sintomático. A intervenção faz-se a nível psicossocial, terapia comportamental, reestruturação cognitiva e o respectivo tratamento medicamentoso. Enfatizamos também o papel da nutrição e a importância da actividade física, bem como alguns conselhos para a família destes doentes. As demências são incuráveis, e urge uma intervenção bem estruturada de maneira a proporcionar alguma qualidade de vida digna para estes doentes. Para a realização do meu trabalho de Observação, para a disciplina de Trabalho de Campo Antropológico, que tem como docente a Professora Dra. Cristina Granado, foi necessário primeiro escolher um tema que iria trabalhar e posteriormente travar contactos com a Instituição em causa para a realização do mesmo. Decidi observar sobre uma questão que hoje em dia as pessoas têm muito pouco conhecimento, a Doença de Alzheimer, tal como já foi referido anteriormente, esta patologia tem vindo a aparecer cada vez mais. Uma vez que trabalho diariamente com Idosos, achei que seria deveras interessante realizar um trabalho desta natureza. Tendo de admitir que foi complicado tomar uma decisão acerca de que doença iria falar, pois numa Residência para Idosos/Lares de Idosos, deparamo-nos com uma variedade de patologias diferentes. Exerço a função de Animadora Sociocultural na Casa Geriátrica de Santa Rita – Galiza, de onde tomei o meu ponto de partida para construir o meu Diário de Bordo.
  • 6. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 6 O meu interesse neste Trabalho concerne-se com o facto de lidar com este público – alvo todos os dias e através da Observação perceber melhor os seus comportamentos. Tem como objectivo teórico a Valorização dos idosos numa idade avançada e que apesar de sofrerem de determinadas doenças, nomeadamente o Alzheimer, devemos de intervir com variadíssimas actividades, tendo como objectivo de quebrar a monotonia dos idosos, mantê-los activos, dar-lhes mais conforto, criando momentos de alegria e de conforto, quer com as funcionárias, quer com os familiares na hora de visita, quer no convívio entre Idosos nas horas de refeições ou noutros tempos livres, que apesar de serem momentos simples, se tornem memoráveis para estes Idosos. A principal preocupação deste trabalho, é que a minha intervenção enquanto observadora sobre este caso específico, incentive uma continuidade do projecto quer pelos familiares, quer pela direcção do Lar, uma vez que a estas pessoas e cada vez mais estão constantemente a aparecer na nossa Sociedade, e infelizmente cada vez mais novas; talvez grande parte das pessoas não sabe como lidar com este tipo de doença. Com a realização deste Trabalho pretendo ter um contacto mais profundo com a realidade, que possivelmente irei encontrar num Futuro próximo, ou seja, aperfeiçoar o conhecimento sobre o que é a Doença de Alzheimer, quais são as características principais da doença de Alzheimer, quais os principais estádios de desenvolvimento da doença de Alzheimer, em que idades aparecem, como se diagnostica esta doença e como obter ajuda. Tudo isto irá verificar através da observação participante e da observação directa, bem como através das entrevistas aos familiares, técnicos, auxiliares e donos da Instituição. Segundo o autor Ladislas Robert, do Livro “o Envelhecimento”, caracteriza a Doença de Alzheimer da seguinte forma: 1 - Caracterização da Doença Doenças que mais afectam os Idosos Como se sabe os idosos são a faixa etária que mais vulnerável está a doenças, inclusive existem doenças que só surgem a partir de determinada idade. Alzheimer É uma doença degenerativa, até agora sem cura e terminal; Foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra alemão Alois Alzheimer; Cada paciente de Alzheimer sofre a doença de forma única mas existem pontos em comum, como a perda de memória.
  • 7. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 7 A evolução da doença está dividida em quatro fases: Predemência, com a perda de memória a curto prazo, perda a flexibilidade no pensamento e de dar atenção a algo; Demência inicial, em que as memórias mais antigas são as menos afectadas, há dificuldade na execução de movimentos e há um desleixo na execução de actividades; Demência moderada, em que o paciente vai perdendo a capacidade de fazer as mais simples tarefas diárias; Demência avançada, em que a sua linguagem está reduzida, a sua massa muscular e a sua mobilidade degeneram-se e fica Acamado. Alguns concelhos para lidar com doentes de Alzheimer Como se comunica com o doente de Alzheimer? Olhe olhos nos olhos, quando conversam; Permaneça calmo e fale pausadamente; Evite ruídos (TV, rádio...) Vaguear, deambular e andar sem rumo é um perigo. O que fazer para o minimizar? Previna os vizinhos e comerciantes próximos do estado do doente; Se o doente quiser sair de casa, não deve impedi-lo de o fazer, vigiando-o à distância. O que fazer quando o doente se mostra agressivo? Procure compreender o que originou a reacção agressiva; Evite discutir ou ralhar; Procure manter-se calmo. Como prevenir que surjam crises de agressividade? Não seja demasiado exigente com a rotina diária do doente; Deixe que o doente faça o que ainda lhe é possível fazer, ao seu ritmo; Existem práticas que podem ajudar a manter a qualidade de vida do doente: A medicação não trata por completo a doença, mas permite ao paciente manter as suas actividades diárias; Praticar actividades físicas regularmente contribui para manter a mobilidade nas pessoas afectadas pela doença de Parkinson; A fisioterapia e as ajudas mecânicas (como as cadeiras de rodas) apoiam a autonomia do doente;
  • 8. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 8 É importante uma dieta rica em fibras, para combater a obstipação (prisão de ventre) que pode ocorrer devido à inactividade, à desidratação e ao uso de alguns medicamentos. Local de Intervenção Para o meu trabalho escolhi a observação num Lar de Idosos. Mas porquê um lar de idosos? Ajudar um lar de idosos chamou especialmente a minha atenção, isto porque normalmente os idosos são os mais esquecidos pela nossa sociedade, além disso o facto de interagir e conviver com eles sensibiliza-nos e ajuda-nos a compreender outra realidade com a qual não estamos habituados a lidar e que só nos trás sabedoria e nos mostra a verdadeira escola, a Escola da Vida! Foi realizado no dia 26 de Junho, uma entrevista à médica responsável da instituição com o objectivo de esclarecer os sintomas e desenvolvimento da doença de Alzheimer. 2 - Entrevista à Dra. Ana Paula (Médica da Instituição) O que é uma Demência? O termo “demência” refere-se a um sindroma, portanto, a um conjunto de sintomas e sinais que se manifestam em pessoas com doenças cerebrais. O dano cerebral altera as capacidades mentais – memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, etc. – produzindo uma deterioração intelectual que se repercute na capacidade funcional e no comportamento do doente. As causas mais habituais de demência são as denominadas doenças neurodegenerativas, das quais a mais comum é a Doença de Alzheimer. Chamam-se degenerativas porque não têm mecanismo causal conhecido, têm manifestações neurológicas previsíveis (sistematizadas) para cada uma delas, cursam com agravamento progressivo e têm, muitas vezes, carácter familiar. Numa percentagem de casos as doenças que estão na origem do sindroma demencial são tratáveis e o processo de deterioração mental pode ser interrompido ou mesmo revertido; estes doentes devem, por isso, ser diagnosticados e tratados precocemente. Deve referir-se, no entanto, que mesmo nas formas degenerativas, o perfil de agravamento da doença, ou seja a forma como os sintomas referidos acima vão evoluindo, pode variar de doente para doente e, nalguns casos, o estado da pessoa pode melhorar ou estabilizar por um determinado período de tempo.
  • 9. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 9 O que é a Doença de Alzheimer??? Cerca de 50 a 70% das pessoas com demência sofrem de Doença de Alzheimer. Esta designação vem de Alois Alzheimer, um psiquiatra e neuropatologista alemão que em 1906 descreveu pela primeira vez as alterações neuropatológicas características da doença – morte de neurónios em determinadas áreas do cérebro, tranças neurofibrilhares e placas senis. Como já referido, a doença manifesta-se por alteração da memória e de outras faculdades mentais – orientação no tempo e no espaço, linguagem, cálculo, desenho, raciocínio – e acompanha-se frequentemente de perturbações psicológicas, como por exemplo alterações do humor ou da personalidade. Apesar da variabilidade individual da expressão e evolução dos sintomas, o quadro clínico é relativamente típico. Inicialmente os sintomas, tais como as falhas de memória e a desorientação no tempo podem ser tão subtis que podem passar despercebidos à família e aos amigos; no entanto, à medida que a doença progride, os sintomas tornam-se cada vez mais notórios e começam a interferir com o trabalho de rotina e com as actividades sociais. Em fases mais adiantadas os doentes começam a apresentar dificuldades em tarefas diárias simples como a higiene pessoal e o vestir, e, com o tempo, ficam completamente dependentes. A doença de Alzheimer não é infecciosa nem contagiosa, mas é uma doença crónica, progressiva e actualmente incurável. Nas fases adiantadas o doente fica acamado, perde peso, o sistema imunitário fica debilitado e os doentes acabam por falecer, em geral de complicações infecciosas. No passado, a designação de Doença de Alzheimer era utilizada somente para denominar as formas com início precoce (com limite estabelecido arbitrariamente abaixo dos 65 anos), em oposição à demência senil, mais frequente e mais conhecida. Na sequência dos estudos de Alois Alzheimer, verificou-se que as alterações neuropatológicas consideradas características da doença eram comuns às formas pré-senis e senis, passando a utilizar-se a designação comum de Doença de Alzheimer, independentemente da idade de início. Quais são as características principais da Doença de Alzheimer? Perda de Memória: Um defeito grave da capacidade de memória, como o que existe na Doença de Alzheimer, pode ter repercussões em múltiplas actividades e funções. Citam-se as dificuldades de comunicação, riscos de segurança, alteração nas actividades de vida diária e alterações de comportamento. É importante considerar as diversas componentes ou tipos de memória para compreender como esta função está comprometida na demência. Memória Episódica Refere-se à capacidade de recordar eventos que ocorrem na vida das pessoas, desde os mais mundanos, aos mais pessoais e significativos. A memória episódica pode ainda ser classificada em memória recente – referente a acontecimentos que ocorreram nos últimos minutos ou horas – e memória remota – eventos mais distantes no tempo.
  • 10. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 10 Uma característica notória para todos os que lidam com doentes com Alzheimer, é a de que nas fases iniciais da doença as pessoas parecem não ter dificuldades em lembrar acontecimentos distantes, ao mesmo tempo que são incapazes de recordar o que fizeram cinco minutos antes. Além disso, e precisamente porque as memórias antigas estão relativamente conservadas e existe um defeito muito grave da memória recente, aquelas tendem a interferir com o presente de uma forma activa. Por exemplo, as pessoas podem como que recuar no tempo e executar rotinas do passado, que, como é óbvio, são perfeitamente desadequadas no tempo presente. Memória Semântica Esta forma de memória refere-se à capacidade de conhecer o significado das palavras, como por exemplo flor ou cão. Assim, e ao contrário da memória episódica, é comum a todos os que falam a mesma língua, agindo como elo de ligação e permitindo a comunicação entre as pessoas. Além disso, estes dois tipos de memória utilizam circuitos ou redes neuronais próprios e com localizações cerebrais diferenciadas, sendo por isso afectadas de uma forma não homogénea. Na Doença de Alzheimer a memória episódica é mais precocemente e mais severamente atingida que a memória semântica, enquanto que em determinadas formas de demência fronto- temporal se verifica o contrário. Memória de Procedimentos Corresponde à memória e conhecimento consciente ou inconsciente das diversas etapas, em termos de processo físicos e mentais, que conduzem aos actos. Como exemplos citamos o uso de uma faca ou andar de bicicleta. A alteração da memória de procedimentos pode resultar em dificuldades em efectuar rotinas, tais como o vestir, lavar ou cozinhar. Esta forma de memória é a mais poupada nas situações demenciais, e o seu perfil de afectação é semelhante ao verificado com outras funções: primeiro os actos mais complexos e por fim as actividades designadas como automáticas, ou seja, as coisas muito bem aprendidas e que nos habituamos a fazer sem ter de pensar. A dissociação temporal entre o comprometimento da memória semântica (afectada mais precocemente) e a memória de procedimentos (a mais resistente) permite compreender a capacidade dos doentes para cantar correctamente e com fluência, quando são incapazes de nomear objectos ou manter uma conversa. Apraxia É o termo usado para descrever a incapacidade para executar gestos aprendidos, apesar da integridade da força muscular, da sensibilidade e coordenação. Em termos práticos implica a perda de capacidade para abrir uma torneira, abotoar botões, ligar o rádio ou fazer adeus.
  • 11. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 11 Afasia Refere-se à dificuldade ou mesmo perda de capacidade para falar ou compreender o código linguístico, quer na forma de comunicação oral, quer escrita. Exemplos de perturbações precoces habituais na Doença de Alzheimer são a anomia (dificuldade em dizer o nome de um objecto) e a troca de palavras ou parafasias. A troca pode verificar-se entre palavras associadas pelo significado (tempo em vez de relógio), entre palavras que têm uma sonoridade parecida (barco em vez de marco), ou o doente utilizar uma palavra completamente diferente e sem relação aparente com a que deveria ser correctamente escolhida. No seu conjunto, estas alterações e os defeitos de compreensão, prejudicam de uma forma significativa a capacidade de comunicação do doente. Nas fases mais avançadas o discurso fica habitualmente restringido à repetição involuntária de palavras ou frases ditas pelo interlocutor (ecolália), ou à repetição, eventualmente compulsiva, de uma palavra ou fragmentos de palavras. O defeito da escrita e da leitura acompanham a alteração da linguagem falada, pelo que é frequente, em fases avançadas, que o doente seja incapaz de identificar (por leitura) ou escrever o seu próprio nome. Agnosia É o termo utilizado para descrever a perda de capacidade para reconhecer a informação captada pelos sentidos o que conduz a comportamentos bizarros. Por exemplo, uma pessoa com agnosia pode utilizar uma faca como uma caneta, ou um sapato como se fosse uma chávena. No que diz respeito às pessoas, esse facto pode implicar que as não reconheça pelas suas características faciais individuais, ou seja, sem que isso se deva à perda de memória, mas como resultado de dificuldades em interpretar as suas percepções ou impressões visuais. Alterações da personalidade As pessoas com Doença de Alzheimer podem mudar as características básicas da sua personalidade: uma pessoa calma, afável e educada pode passar a comportar-se de uma forma agressiva, impaciente e egoísta. São também frequentes as mudanças bruscas de humor. Alterações da actividade ou do comportamento A manifestação mais frequente neste domínio é, talvez, a deambulação diurna e nocturna. A deambulação pode ter muitas causas, nomeadamente a necessidade fisiológica de movimento, ou a insónia, mas a identificação dessas causas é habitualmente dificultada pelos problemas de comunicação apresentados pelos doentes. São exemplo de outras perturbações afins, a agressividade e as alterações do comportamento alimentar.
  • 12. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 12 Problemas físicos Na Doença de Alzheimer a perda de peso pode ocorrer apesar de uma ingestão adequada de alimentos. Também pode ser uma consequência de uma dieta desequilibrada (sobretudo em doentes que vivem sozinhos e já não sabem cozinhar), ou, nas fases tardias, por problemas de deglutição. Uma outra consequência da doença é a redução da massa muscular, que predispõe ao desenvolvimento de escaras de decúbito em doentes acamados. O acamamento e o envelhecimento tornam estes doentes também especialmente vulneráveis a infecções, nomeadamente a pneumonias e infecções urinárias. As pneumonias são aliás as intercorrências mais frequentemente fatais na Doença de Alzheimer. Quais os principais aspectos nos três estádios de desenvolvimento da Doença de Alzheimer? As pessoas com Doença de Alzheimer não apresentam todas os mesmos sintomas, nem os sintomas aparecem exactamente pela mesma ordem ou com a mesma gravidade em todos os casos. Apesar disso, existe um padrão geral de evolução da doença que pode ser organizado em três principais estádios de gravidade. A descrição que apresentaremos em seguida, apesar de não ser exaustiva, fornece uma orientação sumária da evolução da doença, permitindo aos cuidadores antecipar as dificuldades e problemas futuros e prepara-se física e psicologicamente para as etapas subsequentes Estádio 1 O primeiro estádio caracteriza-se por alterações da memória, tais como o esquecimento de nomes, números de telefone, mensagens e tarefas que foram ou deveriam ter sido executadas. Inicialmente estas alterações são subtis e podem passar relativamente despercebidas. Quando os problemas de memória se tornam mais notórios, o doente pode, por constrangimento ou por receio, tentar evitar que os outros se apercebam disso. Também é frequente que os familiares e amigos subestimem essas alterações, atribuindo- as ao processo natural do envelhecimento. Nos doentes mais jovens as perturbações da memória raramente passam despercebidas devido à sua interferência marcada e óbvia nas actividades profissionais. Outra função afectada neste estádio é a capacidade de atenção. A combinação de alterações da memória e da atenção tem repercussões práticas na execução de tarefas seriadas, ou seja, tarefas que impliquem várias etapas, como acontece na grande maioria das actividades profissionais, procedimentos sociais e actividades domésticas mais complexas. Mais ou menos concomitantemente, muitos doentes começam a apresentar dificuldades de linguagem; as alterações mais precoces desta esfera de sintomas, são habitualmente a dificuldade de compreensão de frases mais complexas, a pessoa tem dificuldade em acompanhar uma conversa, pois torna-se difícil evocar os nomes ou as palavras exactas para descrever os objectos, pessoas ou situações (anomia).
  • 13. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 13 O discurso dos doentes fica assim mais limitado, podendo consistir essencialmente em frases simples e curtas, ou, pelo contrário, em frases muito longas, redundantes e de difícil compreensão devido à omissão das palavras-chave (nomes). Alguns doentes mais conscientes das suas dificuldades isolam-se, evitam conversar e ficam deprimidos. A orientação no tempo e no espaço encontram-se também frequentemente afectadas neste estádio: os doentes desconhecem ou cometem erros na sua localização no tempo (dia da semana, mês, ano, estação do ano, etc.) e perdem-se – primeiro em locais menos conhecidos, e depois na sua localidade e na própria residência. Nesta fase quase todas pessoas apresentam dificuldades mais ou menos severas em compreender e representar material simbólico e abstracto; o cálculo, sobretudo o cálculo mental mais complexo, a interpretação de linguagem simbólica e o desenho tridimensional, são tarefas comuns em que a abstracção é fundamental, e exemplos das consequências práticas destas dificuldades são a incapacidade de fazer trocos ou utilizar o dinheiro, compreender provérbios e desenhar um cubo. Referimos previamente que alguns doentes ficam deprimidos; hoje sabe-se que a depressão pode ser reactiva à frustração experimentada pelo doente e ao isolamento, mas também uma forma de expressão (sintoma) da própria doença e anteceder o aparecimento dos sintomas cognitivo-mnésicos demenciais. Outra perturbação psicológica notória e frequente neste estádio é a apatia; os doentes perdem a iniciativa para executar tarefas, ficando progressivamente mais parados e inactivos. Menos frequentemente os doentes desenvolvem gostos estranhos, nomeadamente em relação à roupa (preferência por cores berrantes) ou à alimentação (doces, por exemplo). As alterações enunciadas podem ser mais ou menos notórias, dependendo de um número de factores, tais como actividade profissional do doente, a família, o estilo de vida e a personalidade prévia. Acrescenta-se mais uma vez que este estádio pode tornar-se muito desgastante e frustrante para os doentes que se apercebem da sua incapacidade progressiva. Estádio 2 O agravamento progressivo dos sintomas determina que neste estádio os doentes sejam incapazes de manter a sua actividade profissional; outras actividades complexas, como por exemplo a condução de veículos e a administração das finanças estão severamente comprometidas, conduzindo a uma dependência cada vez maior de terceiras pessoas. Relativamente às perturbações cognitivas, salientam-se mais uma vez as alterações da memória, da linguagem e da orientação no espaço e no tempo. Neste estádio, o defeito de memória mantém as características genéricas já enunciadas, ou seja, uma perturbação marcada da memória para factos recentes, com conservação parcial da memória para factos distantes.
  • 14. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 14 No dia-a-dia, algumas das consequências práticas desta dissociação são a incapacidade em reconhecer os elementos mais jovens da família – netos, por exemplo – esquecerem-se das visitas dos familiares próximos, ou mesmo confusões mais perturbadoras – transposição de familiares falecidos para o presente, falsos reconhecimentos e incapacidade global para reconhecer a família. Os defeitos de linguagem tornam-se também mais salientes, tanto em termos de compreensão da linguagem oral ou escrita como da produção de palavras – falar e escrever. Neste estádio não é invulgar que os pacientes repitam constantemente as mesmas palavras ou frases. A alteração grave na orientação temporal e espacial, associada a um compromisso emergente da interpretação de estímulos (tacto, paladar, visão e audição), provocam uma desorganização dos horários e ritmos biológicos, como por exemplo, nos horários das refeições, nos ritmos de sono-vigília (insónia ou troca parcial do sono nocturno por períodos de sonolência diurna). Neste estádio surgem também frequentemente dificuldades no controlo dos movimentos finos, na coordenação da postura corporal e no controlo esfincteriano; as suas consequências práticas são a impossibilidade de executar de uma forma autónoma as actividades simples da vida diária (higiene, alimentação, vestir), as quedas ou acidentes e a incontinência nocturna. As alterações psicológicas típicas deste estádio são as previsíveis num doente que apresenta dificuldades de percepção, de memória, incapacidade para reconhecer os seus familiares e o ambiente que o rodeia e que, alem disso, muitas vezes não tem crítica para o seu estado de doença. Os pacientes são irritáveis, sofrem mudanças bruscas do humor, podem apresentar-se extremamente apáticos ou, pelo contrário, muito agitados repetindo incessantemente os mesmos movimentos ou actos, podem apresentar alucinações visuais ou auditivas, podem ficar egoístas e agressivos e, como dissemos, muitas vezes têm perturbações do apetite e do sono. Estádio 3 No estádio 3 os doentes apresentam uma demência grave. Em termos cognitivos, pode dizer-se que perderam quase todas as funções mentais. Perderam, por exemplo, a capacidade para entender e utilizar palavras, restringindo-se o seu discurso à repetição do final das frases do interlocutor (ecolália) ou à repetição de sons; perderam a capacidade para andar, sentar-se, sorrir, engolir e controlar os esfíncteres. Os doentes ficam acamados, rígidos e sem movimentos dirigidos, tornando-se extremamente vulneráveis a infecções ou escaras de decúbito e necessitando apoio permanente. Apesar da severidade do defeito cognitivo, provavelmente quase todos os doentes mantêm alguma ressonância afectiva, sendo sensíveis ao contacto físico e à voz suave dos seus familiares. Mantenha este laço!
  • 15. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 15 Idade O número de casos de Doença de Alzheimer e com demência em geral, aumenta exponencialmente com a idade – o número duplica cada 5 anos; assim, no grupo etário superior aos 65 anos, cerca de uma em cada vinte pessoas desenvolve Doença de Alzheimer enquanto que o número de casos em cada mil pessoas com idades inferiores aos 65 anos é inferior a um. Como a esperança de vida tem aumentado sucessivamente nos últimos anos, ou seja, as pessoas vivem mais tempo do que no passado, o número absoluto de pessoas com Doença de Alzheimer e com as outras formas de demência tem aumentado, e vai continuar a aumentar no futuro. Não deve depreender-se do que foi dito, que a demência é um resultado inevitável da idade ou que é a idade a causa da perda de capacidades intelectuais e de demência; a maioria das pessoas com mais de 80 anos permanece mentalmente lúcida e existem outros factores de risco genéricos e ambientais que se conjugam para determinar este aumento crescente da doença com a idade. Sexo A maioria dos estudos populacionais indica que a doença é mais frequente nas mulheres; inicialmente pensou-se que se tratava de um risco artificial porque as mulheres vivem mais tempo que os homens e, como foi dito, o número de casos aumenta com o envelhecimento. No entanto actualmente existe um consenso de resultados apontando para um risco real acrescido no sexo feminino, pelo menos após a menopausa. Esta relação da doença com a menopausa, ou mais propriamente com a baixa dramática de hormonas femininas – os estrógenios – que ocorre nesta fase da vida das mulheres, justifica a importância actual da investigação destas substâncias na fisiopatologia da Doença de Alzheimer e do seu interesse como terapêutica protectora (prevenção da doença). Traumatismos cranianos Alguns estudos epidemiológicos mostraram que os traumatismos cranianos com perda do conhecimento aumentam a probabilidade de desenvolvimento ulterior de Doença de Alzheimer mas esta conclusão é ainda controversa.
  • 16. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 16 3 - Caracterização do Objecto de Estudo Caracterização da Instituição A Santa Rita Geriátrica é a mais recente Casa de Repouso no centro de Cascais. A Casa Santa Rita foi concebida de raiz para a valência de Lar de Idosos e Casa de Repouso, pelo que está licenciada pelo Instituto de Segurança Social I.P. Infelizmente a maior parte de nós tem uma vida muito atarefada, o que não nos permite dispor de tempo e de pessoal qualificado para dar a atenção devida aos nossos pais, sogros ou avós, quando a sua situação de independência se torna problemática. E quantas vezes isso também acontece com outro tipo de parentes ou amigos, que por uma infelicidade ou fatalidade, necessitam temporariamente que olhem e tratem deles, minuto a minuto, por exemplo num pós-operatório? Por muito que nos custe não podemos retribuir os cuidados que nos deram na infância. Os tempos são outros. Os nossos filhos precisam de crescer com pais dedicados e presentes, a família alargada é um caso raro, a profissão é cada vez mais exigente, as ajudas são poucas e as distâncias enormes. E se a melhor opção for arranjar uma Casa de Repouso, onde tratem os nossos Queridos com toda a excelência que a particular situação de cada um exija? Se for essa a opção, que seja numa Instituição vocacionada de origem para lhes proporcionar todo o carinho, o conforto e o cuidado que merecem! São 1000 m2 de construção, divididos em 4 pisos, que obedecem ao normativo legal em vigor sobre a edificação de estruturas de género. A Santa Rita Residência Geriátrica, foi acompanhada desde a fase do projecto, por todas as entidades oficiais que regulam e fiscalizam esta actividade, nomeadamente: Instituto de Segurança Social, Autoridade Nacional de Protecção Civil, Direcção Geral de Saúde e Câmara Municipal de Cascais. O ambiente genuinamente familiar, os equipamentos novos, o pessoal experiente e qualificado, os enfermeiros e os médicos de serviço garantem o nível de profissionalismo exigido pelas pessoas que não abdicam de um tratamento gentil, personalizado e de qualidade.
  • 17. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 17 Fotos da Instituição Entrada para a Instituição com contactos na Parede Logótipo da Instituição da Casa Geriátrica de Santa Rita
  • 18. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 18 4 - Caracterização dos Técnicos Profissionais Dr. Carlos Araújo Com formação de base em Gestão e Economia e com Mestrado em Unidade Hospitalar e Geriatria. Exerce o seu poder como dono da Instituição e apoios a nível económico que o lar necessite, realizando toda a gestão do mesmo. Dra. Graciete Araújo Com formação de base em Sociologia e com Mestrado em Enfermagem e Geriatria e Gerontologia. Exerce a função de Directora Técnica, tratando de toda a documentação relacionada com as idosas e dando de certa forma algum apoio psicológico às Idosas e familiares. Dra. Ana Paula Com formação de base em Medicina Geral e com Mestrado em Patologias Neurológicas. Exerce a função de Médica na Instituição, vindo regularmente ao Lar (todos os dias), a fim de efectuar uma consulta a todos os Utentes e observar os comportamentos e reacções, feridas e medicação que seja necessária passar ou alterar. Sr. Pedro Oliveira Com formação de base de Osteopata, exerce a função de exercício e movimentação/reabilitação dos músculos e artérias que estejam mais paradas. Vem ao Lar duas vezes por semana, realizando diversos exercícios e massagens tentando que as pessoas que não andam ganhem forças para voltar a andar. Sr. José Barrinha Com formação de base em Fisioterapia e reabilitação, exerce a função de Fisioterapeuta na Instituição, três vezes por semana, com pessoas que sofrem das mais diversas patologias. Realizando ginástica, nas passadeiras, no espaldar, nas bicicletas e outros recursos de apoio. Dr. Hélio Canastra Com formação de base em Enfermagem geral e ortopedia com mestrado em reabilitação física, exercendo a função cinco dias por semana na Instituição, realizando todo o tipo de trabalho relacionado com medicação, pensos, feridas, escaras, etc.
  • 19. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 19 5 - Caracterização dos Idosos Sra. D. Lurdes Carriço Esta idosa está internada na Casa Geriátrica Santa Rita, através da Segurança Social, devido a maus tratos por parte da filha, que sofre de uma patologia chamada: esquizofrenia. Esta senhora esteve sempre lúcida, (2º indicação de familiares), até à data em que começou a sofrer graves espancamentos, ao ponto de ficar com uma deficiência no pescoço e continuação da coluna, que a cabeça da senhora não está direccionada na posição de frente correctamente. Após queixas diversas de familiares e vizinhos às autoridades e Segurança Social, foi levada de imediato ao Hospital, afim de realizar vários exames para que os Médicos pudessem detectar outras fracturas antigas ou até mesmo doenças, que pudessem estar a aparecer com o avanço da idade e com o tipo de vida que estava a levar. Foi então diagnosticado, após vários exames neurológicos que sofria da Patologia de Alzheimer. É uma senhora extremamente meiga e muito, muito carente de mimos, pois chega ao ponto de nos chamar para pedir Beijos e abraçar-nos. Não é uma Idosa agressiva no que diz respeito a algo que lhe seja imposto. Com muitas perdas de memória. Ex/ pede-nos imensas vezes para comer e diz-nos que está cheia de fome, quando acabou de almoçar há apenas 5 minutos. Ex/ pergunta-nos diversas vezes onde se apanha o comboio para ir para casa, para ir dar de jantar à sua mãe que está acamada e ao pai que foi trabalhar. Ou seja, identifica-se muito com o passado – Juventude, sem se aperceber que já teve filhos, sem se aperceber do sítio onde está, até mesmo da sua própria aparência, pois não se reconhece ao espelho. Pode-se considerar que esta senhora está numa fase da doença já muito avançada. A Sra. D. Lurdes, tem neste momento 82 anos.
  • 20. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 20
  • 21. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 21 Sra. D. Ana Rúbio A senhora D. Ana Rúbio, é uma Utente em que a doença foi diagnosticada desde muito cedo (aproximadamente com 70 anos), os sintomas foram aparecendo com esquecimentos pequenos, ex/ o fogão que ficava aceso, a luz do quarto que ficava acesa, por fim não conseguia regressar a casa. São sintomas que à partida, podem nos parecer de envelhecimento prematuro – o esquecimento, perda de memória são palavras-chave, que são associadas à 3ª idade. Por grande vontade dos dois filhos desta Idosa, foi levada ao médico por precaução, afim de perceber se seria apenas esquecimento ou algo mais. Verificou-se através de diversos exames que a Sra. D. Ana sofria da doença de Alzheimer, à qual se estava a começar a desenvolver, e que graças às novas Tecnologias foi medicada a tempo. No entanto, esta Utente já tem neste preciso momento 86 anos, mas a doença encontra- se estacionada no momento. É uma Utente que está sempre bem-disposta, com um lindo sorriso nos lábios, sempre pronta a beijar-nos; com os seus velhos ditados antigos e com os seus versos, nos elogia deixando-nos “derretidas” com a sua forma carinhosa de nos afagar. É uma senhora que se lhe pedirmos para fazer algo, ex/ cortar um desenho, ao fim de 10 minutos já não se recorda que foi ela que recortou esse mesmo desenho. Acontece exactamente o mesmo quando os filhos a levam para passear, quando regressa e lhe perguntamos onde foi passear com os filhos, simplesmente não se recorda, embora saiba que foi sair com eles. No entanto, é capaz de se lembrar de músicas tradicionais portuguesas que cantava quando era mais nova, e participava na Feira da Flor de Campo Maior. Tudo isto, porque a sua mente apenas recorda a sua juventude e os momentos agradáveis que passou com as suas amigas.
  • 22. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 22
  • 23. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 23 Sra. D. Lurdes Barradas A Sra. D. Lurdes B. é uma Utente que está instalada na Casa Geriátrica Santa Rita, há relativamente pouco tempo. Esteve durante cerca de 8 anos a viver na sua casa com o respectivo esposo, juntamente com uma dama de companhia, que lhe ajudava na sua Higiene diária e pessoal. Foi-lhe diagnosticada a doença de Alzheimer, também com aproximadamente 75 anos, detectada pelo marido, devido à forma como conversava, pois as frases não faziam anexo, nem conseguia completar o raciocínio. No entanto, acerca da caracterização podemos dizer que logo no início foi muito difícil lidar com esta senhora, ao chegar às instalações do Lar, devido à adaptação e à falta de medicação, pois a família não lhe conseguia dar a medicação que supostamente deveria tomar ao longo do dia. Estava muito agressiva, inclusive bateu numa das auxiliares, enquanto lhe davam banho /higiene pessoal. Hoje, é uma Utente calma, integrada no local onde se encontra, apesar de não saber que está numa Casa de Repouso. Reconhece o marido nas horas das visitas, mas não consegue realizar frases completas. Com a falta de medicação, ficou totalmente descompensada e a doença evolui imenso. A Sra. D. Lurdes, tem boas recordações daquilo que viveu, é uma senhora da Alta Burguesia com bastantes posses financeiras. É extremamente meiga, e sempre nos agradece quando lhe atendemos a algum pedido seu, ex/ quando nos pede um simples copo de água, ou a levamos à casa de banho, agradece-nos, dizendo “obrigada” e pergunta se nos pode dar um beijo como forma de agradecimento. Actualmente tem 85 anos.
  • 24. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 24
  • 25. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 25 6 - Programas que a Instituição Oferece Internamento Prolongado ou Temporário Os serviços de Internamento Prolongado estão preparados para receber os Utentes na sua fase mais delicada e são efectuados por profissionais formados na área de Geriatria. O Internamento Prolongado conta com o seguinte quadro técnico: - Médico de Medicina Interna e Oncologia - Equipa de Enfermagem - Auxiliares de acção Médica - Animadora Sociocultural - Terapeuta da Fala - Pessoal administrativo - Pessoal de limpeza, de apoio e de serviços gerais 7 - A situação Familiar dos Utentes Sra. D. Lurdes Carriço Acerca dos Familiares desta Utente não me foi possível realizar entrevista, pois foi internada através da Segurança Social, e permanece internada ao abrigo da mesma. Recebe pouquíssimas visitas, sendo o meu período de observação resignado apenas a conversas mantidas entre outros Utentes/convívio, com as auxiliares e com os donos da Instituição. Não podendo assim realizar uma caracterização dos familiares responsáveis da Idosa, pois a filha actualmente está internada no Hospital Júlio de Matos. Sra. D. Ana Rúbio Dr. Rui Rúbio (Filho responsável) A utente tem dois filhos, sendo que um dos filhos o Dr. Luís Rúbio, encontra-se com problemas graves de saúde não podendo vir visitar a mãe à instituição, como tal, não me foi possível entrevistar e manter uma observação participante com esta pessoa. No entanto, consegui realizar observação directa por diversas vezes com o Dr. Rui, que aos fins-de-semana vem sempre buscar a sua Querida Mãe para passear, ou simplesmente ir dormir à sua casa. É um familiar muito presente, muito atencioso com a mãe, que ao fim ao cabo existe um elo de ligação muito forte entre eles, porque a D. Ana, quando chega ao sábado e ao Domingo, já
  • 26. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 26 começa a ficar impaciente dizendo: “ os meus Anjos de Guarda devem estar por aí a aparecer”, ou seja, que são só filhos/noras que a vêem buscar. Foto de alguns Familiares da D. Ana Rúbio Sra. D. Lurdes Barradas Sr. Engenheiro José Barradas (Marido) Esta Idosa – a Sra. D. Lurdes é visitada todos os dias pelo marido das 15.00 horas até às 18.00 horas. É um esposo muito presente, muito meigo e carinhoso para com a sua cara- metade. Não há nenhum dia que não venha ver a sua “Princesa”. Como forma de amor, traz-lhe sempre algo diferente, tais como: um pequeno lanche ex/ bolos de salões de chá que antigamente frequentavam os dois; perfumes; lindos lenços; água; chocolates, etc. Este Homem, não é capaz de vir visitar a sua querida Mulher sem lhe trazer algo simbólico. Homem muito Generoso, como personalidade que tem.
  • 27. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 27 8 - Metodologia Este trabalho de observação realizou-se por fases, fases essas, que se revelaram bem distintas umas das outras. Após um contacto directo com os Donos da Instituição onde exerço a Função de Animadora Sociocultural, consegui marcar uma reunião para o dia 21de Maio de 2010, reunião que durou cerca de 30 minutos, onde expressei os meus objectivos para este Trabalho e onde me foram dadas algumas informações acerca da Instituição, do seu funcionamento e das Utentes a serem observadas. Terminada a reunião, marquei na minha agenda quais os dias em que seriam feitas as Observações e a sua hora respectiva. O meu primeiro dia de Observação foi no dia 22 de Maio. Estive na Instituição, no período das Visitas, durante 3 horas, nas quais fiz uma observação participante. No dia 28 de Maio, foi realizado um passeio à rua, juntamente com as funcionárias. No dia 5 e 12 de Junho, foi feita novamente a observação participante, com a duração também de 3 horas, pois colide com o período da visita. No dia 19 de Junho, mais uma vez realizei observação participante às 3 Utentes, com a duração também de 3 horas. No dia 20 de Junho, foram realizadas as entrevistas às auxiliares, ficando eu na Instituição o período de aproximadamente 6 horas. As auxiliares mostraram-se receptivas às questões respondendo a todas elas com visível sinceridade. No dia 26 e 27 de Junho, voltei novamente à Instituição a fim de realizar algumas entrevistas com os Técnicos, nomeadamente: os Donos da Instituição, Dr. Carlos Araújo e Dra. Graciete Araújo, a Médica: Dra. Ana Paula, o Osteopata: Dr. Pedro Oliveira e o Fisioterapeuta: Sr. José Barrinha, que durante estes dois dias totalizei um numero de 8 horas. No decorrer de todo o trabalho de observação propriamente dito desenrolou-se durante 29 Horas e 30 Minutos, distribuídas por 6 semanas, sendo que o contacto directo com os familiares das Idosas e com as Utentes, foram realizados nas primeiras semanas, só nas últimas duas semanas foi realizado o contacto com o pessoal técnico e auxiliares. Para realizar este Trabalho, para além da Observação no qual se revelou o mais importante, primeiramente foram necessárias várias horas de pesquisa que também demonstraram ser preciosas ao longo de todo o trabalho.
  • 28. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 28 Grelha de Observação Dia Horas Tipos de Observação 21 de Maio 30mn. Reunião com o Dr. Carlos e Dra. Graciete 22 de Maio 3 Horas Observação participante 28 de Maio 3 Horas Observação participante 05 de Junho 3 Horas Observação participante 12 de Junho 3 Horas Observação participante 19 de Junho 3 Horas Observação participante 20 de Junho 6 Horas Entrevista às Auxiliares de Acção directa 26 de Junho 4 Horas Entrevista aos Técnicos da Instituição 27 de Junho 4 Horas Entrevista aos Donos da Instituição No início da observação, aquando das visitas dos familiares aos Utentes, tive alguma dificuldade, pois as pessoas viam-me escrever muito, e perguntavam o que escrevia. Percebi que alguns familiares não estavam muito receptivos a este tipo de trabalho e de Observação. Ao longo das semanas, a minha opinião foi mudando e hoje agradeço a compreensão e ajuda que estas pessoas nos deram para a realização deste trabalho. Compreendo que deve ser extremamente difícil de repente, no horário da visita termos uma pessoa a observar-nos e a efectuar registos enquanto conversam, pois os Utentes tinham tendência a ficarem calados e envergonhados, pela nossa presença, até que ao longo do tempo, simplesmente habituaram-se com a minha presença. As Auxiliares mesmo sabendo que sou Animadora Sociocultural e que naquele momento estava a desempenhar uma função totalmente diferente, no caso de “Observadora”, mostraram- se grandes pilares de apoio, intervindo com as Utentes e com as famílias enquanto eu fazia a Observação. Em relação ao Dr. Carlos Araújo, o dono da Instituição e à Directora Técnica, Dra. Graciete Araújo, só tenho a agradecer, pelo facto de me terem permitido realizar este trabalho na hora da visita e sempre aos fins-de-semana. Para além de já trabalhar com este tipo de público – alvo, a 3ª Idade, apercebo-me do tipo de atitudes, conversas, comportamentos, das pessoas que sofrem desta patologia, no entanto ao nos ser dado uma proposta desta categoria, ou seja, de realizar um trabalho de Observação, logo
  • 29. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 29 me surgiu a ideia de observar pessoas com este tipo de patologia, pois sempre tive muita curiosidade em saber o passado, destas pessoas e como eram antes de serem afectadas por esta doença. 9 - APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS Observação das utentes Comportamento durante hora da visita (dia 22 de Maio) Lurdes Carriço Neste dia a Sra. D. Lurdes não teve visita, no entanto fiz observação participante durante uma hora, em que conversei com a Idosa. Em que realizei o registo de diversas frases: “Menina, gosto tanto de a ter ao pé de mim, não gosto de me sentir sozinha”, “… menina, pode me dar água? , Obrigada” “… sabe a que horas passa aqui o comboio para eu ir para casa? É que eu tenho de ir fazer o jantar para a minha mãe que está acamada e o meu pai deve estar quase a regressar do trabalho, eu não posso ficar aqui muito mais tempo.” “… Menina, preciso de ir à casa de banho, será que pode ir comigo ou me dizer onde é?”. Durante a hora do lanche, a auxiliar trouxe à idosa, Torradas com doce de morango e chá verde. “Obrigada, como é que você sabia que eu estava com fome?” Ana Rúbio Observei a D. Ana Rúbio durante 60 minutos, dia esse que a Idosa sabia que era fim-de-semana e esperava ansiosamente pelos seus “Anjos da Guarda”- que são os seus queridos filhos. Olhou diversas vezes ao relógio, ansiosa que eles aparecessem para a vir buscar para sair. Verifiquei numa das suas conversas de convívio com a Idosa do lado: “Você também está à espera de alguém da sua família? Olhe, eu estou à espera dos meu anjinhos da guarda, que devem estar mesmo por aí a aparecer”. Por volta das 16.00 horas apareceu o Dr. Rui, para vir buscar a sua mãe. Em que assim que ela o viu sorriu de alegria e agarrou imediatamente na sua mala. De imediato perguntou ao filho: “meu anjinho, onde vamos nós hoje passear?” o filho respondeu que iriam tomar um lanche até à beira mar e apanhar ar fresco. Saiu de braço dado com o seu filho e toda Feliz. No regresso à Instituição, passada aproximadamente 2 horas, a D. Ana dá novamente entrada na Instituição em que logo lhe perguntei onde tinha ido, “fui passear com os meus anjos da guarda, andámos por aí vendo flores, passeando e andando”. Lurdes Barradas Observei a D. Lurdes durante também uma hora, em que recebeu a visita do Sr. Engenheiro Barradas. Assim que chegou ao pé da sua esposa, deu-lhe dois beijinhos na face, ela sorriu e disse: “estás cá hoje meu amor?”. Ou seja, ela reconhece-o, mas ainda é das poucas pessoas que reconhece, pois
  • 30. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 30 vinham mais duas vizinhas e grandes amigas, em que ela olhou para elas e lhes disse: “quem são vocês”? O marido disse-lhe que trazia um colar muito bonito, que estava lá em casa no seu guarda-jóias, e perguntou-lhe: “Lembras-te meu amor, de usares este colar em que te comprei numa viagem que fomos a África?” a D. Lurdes respondeu: “não, não me lembro”, o marido voltou a insistir novamente para que ela avivasse a sua memória e disse-lhe: “lembras-te que me disseste na altura que era um colar feito de ossos dos animais?” e a D. Lurdes, mesmo assim não se conseguiu lembrar. A Auxiliar trouxe-lhe o lanche, ao qual o Esposo lhe deu á boca com todo o carinho. E conversaram durante bastante tempo, mas que na maior parte das vezes a D. Lurdes, não compreendia o que diziam. O comportamento das três idosas é diferente na medida em que a D. Lurdes Carriço, por ter recebido maus tratos da filha, sente-se muito carente, e sempre quer estar com alguém por perto para lhe fazer companhia, observei que apesar da demência é uma senhora com muita dignidade e respeito, acima de tudo muito educada, pois logo agradeceu quando lhe enchi a garrafa com água para lhe dar. Sente-se só, porque vê que as outras pessoas têm visitas e ela nunca tem ninguém que a venha visitar, talvez por esse motivo e pelo seu passado amargo, nos diz que gosta de sentir acompanhada e que não gosta de estar sozinha. Nós percebemos logo que a sua conversa não faz muito sentido quando nos diz que tem de ir apanhar o comboio para ir fazer o almoço para o pai e para a mãe, pois a sua memória apenas reteve o passado da sua juventude, na sua mente imagina que ainda é uma jovem, ao ponto de nem se lembrar que já casou, teve filhos; a D. Lurdes não se consegue aperceber que necessita sempre de uma terceira pessoa para sua cuidadora, nem sabe que está num Lar internada. Quando me pediu para levá-la à casa de banho, percebemos também o grau de avanço da doença, tal como vimos em cima na explicação dada pela Dra. Ana Paula, a memória de procedimentos, que é uma rotina, o caminho que tem de levar para ir à casa de banho e já se encontra internada há cerca de um ano, e não consegue elaborar sozinha esse caminho, nem se lembra sequer de como faze-lo. A auxiliar ao trazer o lanche, diz-lhe que traz algo que ela gosta muito, pude observar que ela ficou feliz, por se lembrarem que ela poderia ter fome, e observei que logo se esqueceu do lugar onde estava, nem nunca mais tornou a falar que tinha de ir apanhar o comboio para ir fazer o jantar para os pais, aqui verificamos a tal perda de memória, que é um dos principais sintomas desta doença, tal como foi dito no inicio do trabalho pela Dra. Ana Paula. No caso da D. Ana Rúbio, consegui observar que tinha noção do tempo, pois sabe ver as Horas e usa um relógio, constantemente olhava ao relógio para ver as horas, porque a auxiliar disse-lhe que o filho tinha telefonado a dizer para ela estar preparada que por volta das 16:00 horas, estaria no Lar para vir buscá-la para irem passear e lanchar juntos. Tomei registo que
  • 31. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 31 tinha noção do tempo – relógio e noção do tempo – dias, pois ela sabia perfeitamente que era um dia de fim-de-semana. Ao longo da observação, observei que a D. Ana gosta muito de conversar com as outras pessoas, não consegue estar calada durante muito tempo, arranjando sempre um pretexto ou tema de conversa para falar com a Senhora que está ao seu lado. Onde perguntou a senhora que estava ao seu lado se também tinha visitas ou estava à espera de alguém. Pelo nome que ela aplica aos seus filhos – “os meus Anjos da Guarda”, percebemos que existe uma certa afinidade e um grande carinho por eles, pois não tem mais ninguém, isto para dizer que não tem netos de ambos os filhos e sente uma grande necessidade de estar com eles, visto que perdeu o seu ente querido, o marido muito cedo. A D. Ana logo se aprontou para sair com o Filho e com a sua Mala, que nunca a larga, pronta para ir passear. No seu regresso à Instituição observei que ao lhe perguntar onde tinha ido, não me conseguiu responder, ou seja, sabia que tinha ido passear com os seus ente queridos, mas não se conseguia lembrar onde. Percebemos aqui um dos estádios da doença, tal como a Dra. Ana Paula explicou na entrevista, existe a perda de memória e possivelmente a D. Ana estará entre o 1º estádio de desenvolvimento, ou na passagem para o 2º estádio, isto porque se vê que a Doença está estacionada e não teve mais evoluções. Nos registos efectuados à D. Lurdes B. verifiquei que há o reconhecimento do seu marido – Sr. Engenheiro Barradas, ao qual conviveu durante anos na mesma casa, onde não acontece o mesmo com as sua vizinha/amigas, em que também conviveu diariamente mas de uma forma um pouco mais afastada, pois estas senhoras ao cumprimenta-la, a Lurdes B. não as reconheceu. Verificamos novamente a perda de memória. O Marido trouxe-lhe um colar lindíssimo, que tinha guardado em casa das suas inúmeras viagens que fizeram em conjunto, uma delas a África, tentou relembrá-la de onde o tinham comprado, e voltou novamente a insistir mas a D. Lurdes não conseguiu entender o que o marido lhe tentava dizer. Neste dia, foi uma Observação deveras interessante, porque as Idosas saíram em conjunto com as auxiliares até à rua a fim de dar um passeio, entre as 14.00 e as 17.00 horas. As 3 Idosas saíram juntamente com outros Utentes da Instituição. E lá fui eu, com o meu caderno de registos atrás, o que fiquei muito surpreendida com esta Observação. Comportamento durante hora da visita (dia 28 de Maio) Lurdes Carriço Durante o passeio a D. Lurdes C. admirou as flores de campo que estavam à beira da estrada e disse: “estas flores são tão bonitas que parecem as do meu Quintal..” Virou-se para uma das auxiliares e disse: “menina sabe onde é a
  • 32. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 32 minha casa? Gostava muito que fosse um dia lanchar comigo em minha casa, aproveitava e via o meu quintal”. A D. Lurdes disse para uma das auxiliares: “ai filha, está tanto calor” Ana Rúbio Na caminhada a D. Ana observava as Flores e dizia várias vezes repetidas: “ estas Flores fazem-me lembrar as flores da festa de Campo Maior, em que eu participei tantas vezes enfeitando as ruas e casas, nunca falhei…” e disse para uma das Utentes: “você conhece a Festa da Flor de Campo Maior?” Em conversa com a D. Lurdes C., a D. Ana respondeu: “tanto calor, e nós com a cabeça ao sol, mas não faz mal, porque assim também apanhamos este ar puro, que sabe tão bem”. Lurdes Barradas No passeio realizado, a D. Lurdes B. permaneceu quase sempre calada, observei que não conseguia efectuar construções de frases, no entanto, registei uma das suas frases que com algumas perguntas intervenientes da auxiliar, conseguimos perceber e concluir o que nos queria dizer: “Quando eu era pequena e o meu pai me mandava para o campo guardar as Ovelhas, também havia muitas flores de campo e eram lindas como estas”. Neste passeio à rua, em que as 3 Idosas foram passear juntamente com outras Utentes e com as auxiliares percebi que estavam muito satisfeitas, por alguém as trazer à rua para dar uma caminhada, que acima de tudo estavam acompanhadas com alguém, pois observei que todas elas iam de braço dado umas com as outras, mais uma vez observávamos aqui o aconchego e o carinho que as pessoas que sofrem desta patologia quase sempre se verifica. Percebi que ao longo da caminhada todos se queixavam com o calor, tanto na cabeça, como o próprio vento que corria que era bastante quente. A d. Lurdes C. e a D. Ana sempre conversavam ao longo do passeio sobre algo, ainda que a D. Ana, tinha noção daquilo que dizia, enquanto que a D. Lurdes C. apenas se limitava a responder em sequencia à conversa, tal como ela nos falou de ir visitar a casa dela e ir lanchar na casa dela, conseguimos perceber aqui a perda de memoria mais uma vez e a doença mais avançada que a D. Ana. No entanto, a D. Lurdes B. uma vez que já está com a doença no estádio 3, como pudemos ver na explicação da Dra. Ana Paula na entrevista, já não consegue realizar construções de frases, apenas consegue dizer algumas palavras, pois ela apontava também para as flores, percebíamos que queria dizer algo, mas não conseguíamos perceber, e a única forma foi fazer varias perguntas, ela ir respondendo, para conseguirmos perceber o que ela nos queria transmitir. Tal como já foi referido na entrevista com a Dra. Ana Paula, verificámos aqui a afasia. O comportamento das três idosas é diferente na medida em que apesar de sofrerem da mesma patologia, os estádios estão mais avançados que outros.
  • 33. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 33 Comportamento durante hora da visita (dia 5 de Junho) Lurdes Carriço Neste dia, o comportamento da L.C. foi interessante na medida em que observei a interacção de uma auxiliar com a Idosa. Uma vez que esta Utente nunca tem visitas, a auxiliar foi ter com ela e propôs-lhe se queria jogar dominó, o que ela logo aceitou, apesar de ter respondido: “mas há algumas coisas que já não me lembro”... Estava bastante participativa, sorriu diversas vezes, e perguntava repetidamente: “agora é a minha vez de jogar?”. Durante uma hora ela esteve entretida com a funcionária. Ana Rúbio Não pude realizar observação directa e participante à D. Ana pois tinha saído com o filho para passar o fim-de-semana fora. Lurdes Barradas Mais uma vez, recebeu a visita do seu querido esposo, que assim que chegou a cumprimentou com dois beijos na cara, como sempre faz, observei que a L.B., conforme ele a beijou, logo de imediato o reconheceu e lhe passou a mão no rosto, como gesto de afecto e ao mesmo tempo sorriu. O Sr. Engenheiro trazia um ramo de flores lindíssimo com flores da Madeira, que conforme lhe ofereceu ela disse: “são para mim, estas lindas Flores?”, ele respondeu-lhe que sim, e de logo respondeu: “são lindas, não precisavas de incomodar”. Enquanto conversavam, os olhos da L.C. estavam sempre postos nas flores, foi um dos momentos únicos da sua lucidez, porque ao longo da visita a idosa não conseguiu realizar mais construções de frases, e tão completas, apenas dizia palavras soltas, e muitas delas nem correspondiam aquilo que queria dizer. Nesta observação concluí que a D. L. C. apesar de muitas vezes solicitar para ir embora e dizer que tem de ir fazer o almoço para os pais, neste dia nem referiu tal coisa. Estava extremamente calma, tranquila. Quando a auxiliar de Geriatria lhe propôs para jogar dominó, logo lhe respondeu que sim, mas ao mesmo tempo disse que já não se lembrava muito bem. O mais interessante é que apesar da sua perda de memória, ela conseguia identificar as peças que tinha de colocar na mesa, o que fazia com que estimulasse a parte cognitiva, ou seja, algo que lhe ficou gravado e que nunca mais esqueceu. No caso da D. Ana Rúbio, infelizmente não pude realizar a Observação, pois quando cheguei à Instituição e vi que não estava sentada no seu lugar como de costume, de imediato perguntei às auxiliares de acção directa, onde ela estava, onde me disseram que tinha saído com o filho e só regressava no dia a seguir ao final do dia. A D. Lurdes Barradas, recebeu mais uma vez a visita do seu querido marido, como de costume que todos os dias a vem visitar. Assim que o viu logo o reconheceu e sorriu ao beijá-lo. E foi dos poucos momentos em que esteve lúcida e conseguiu construir frases, foi precisamente no momento em que o marido lhe ofereceu um lindo ramo de flores da Madeira, e que ela
  • 34. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 34 pergunta se eram para ela. Algo lhe fez lembrar, o que não consegui perceber porquê, porque ao longo dos 60 minutos de observação, ela não conseguiu fazer mais frases completas. Comportamento durante hora da visita (dia 12 de Junho) Lurdes Carriço A L.C. não teve visitas no entanto observei-a durante 60 minutos. Foi um dia em que estava muito irrequieta, pois não parava no lugar e dizia várias vezes: “menina não sabe onde é a porta para eu sair? Tenho de me ir embora que os meus pais estão à minha espera, e tenho de ir fazer o almoço”. Ana Rúbio Foi um dia muito calmo para a D. Ana Rúbio, pois ela já sabia à partida que o filho não a viria buscar para sair ou ir lanchar, pois ele ligou e as auxiliares avisaram a D. Ana, o que não fez com que ela ficasse nada ansiosa. Conversou com a idosa que estava ao seu lado onde fiz registo: “Já viu como aquelas gaiatas que estão a dançar na TV se mexem tão bem e estão tão despidas? No meu tempo não era nada assim, até para ir ao baile, tínhamos de levar um vestido que não estivesse mais do que um palmo acima do joelho.. Esta geração de agora é muito diferente do que era antigamente”. Ao lhe trazerem o lanche a D. Ana R. logo respondeu: “ai, obrigada amiga..” Lurdes Barradas Foi visitada pelo Sr. Engenheiro Barradas e por uma sobrinha. Como sempre costuma acontecer, reconheceu o seu querido marido, mas não consegui identificar a menina que era sua sobrinha e que segundo me foi dito pelo E.B., ela até cuidou desta menina logo quando nasceu. Como habitual o marido trouxe-lhe algo, desta vez foram uns bolinhos de um Salão de Chá, que era costume irem ao fim de semana. Ao lhe oferecer os bolinhos, perguntou-lhe: “lembras-te destes bolinhos que costumávamos comer à beira mar, naquele salão de chá chamado: “Doce e Creme”? A L.B. respondeu-lhe: “não, não me lembro”… o marido tentou novamente insistir para que ela se lembrasse e ela por fim respondeu: “sim… parece que já me lembro”. Nos meus registos de Observação deste dia, observei que a D. Lurdes Carriço estava muito inquieta, durante os 60 minutos andou sempre a vaguear pelo lar a abrir portas e a fechar, a abrir luzes e a fechar, a compor as toalhas que estavam em cima das mesas de refeições, e por diversas vezes passava por familiares de outros utentes, pelas auxiliares e até mesmo a mim, e perguntava, onde era a porta de saída, pois queria ir para casa para dar de jantar aos seus queridos e amados pais. A mãe, porque a esperava numa cama e o pai porque tinha ido trabalhar e quando viesse queria comer. Registei que foi um dos dias mais agitados da D. Lurdes C., em que concluí, que nem sempre são dias calmos, existem dias em que doentes desta
  • 35. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 35 patologia se podem tornar agressivos; aqui consegui perceber a tal mudança de comportamento que a Dra. Ana Paula me falou na entrevista, em que se podem tornar agressivos, mudar o seu comportamento ou personalidade. A D. Ana Rúbio neste dia não recebeu visitas dos filhos, isto porque o filho sabendo que a mãe ainda tem a noção das horas, logo de manha ligou para a Instituição para avisar a sua querida mãe de que não viria buscá-la para passear, pois não fosse ela ficar ansiosa. A auxiliar avisou a D. Ana, o que ela não ficou ansiosa, nem se importou com tal situação, compreendeu e aceitou perfeitamente aquilo que lhe fora dito. Enquanto observei esta idosa, apercebi-me de que ela presta atenção aos mínimos dos pormenores de que vê na TV, pois tal como registei na grelha, ela meteu conversa com a senhora que estava ao seu lado, dizendo que as meninas que estavam a dançar na TV estão quase despidas e se mexiam com rapidez a dançar, fazendo uma comparação com a sua juventude, em que sempre que iam para os bailes e festas da aldeia, tinham de ir bem tapadas para os rapazes não verem nada, de preferência com vestidos ou saias que não estivessem muito acima do joelho. Observei também a sua delicadeza e educação que apesar da doença não se deixou de verificar, pois quando a funcionária lhe trouxe o lanche e lhe colocou no colo, ela agradeceu logo. Em relação à D. Lurdes B., como sempre reconhece o seu querido marido mas desta vez também não reconhecer uma menina à qual era a sua sobrinha, e a qual ela criou deste muito bebé. O marido traz-lhe sempre um miminho e desta vez foram bolinhos de um salão de chá a que costumavam ir, do qual ela não conseguiu se lembrar, apesar da insistência para que se lembrasse, ela acabou por responder que parecia que se lembrava. Comportamento durante hora da visita (dia 19 de Junho) Lurdes Carriço Neste dia em que observei a L.C. também não teve visitas como é habitual, uma vez que está ao abrigo da instituição, por ter recebido maus tratos da filha, não consegui perceber onde se encontra a restante família? Amigos? Sobrinhos? Primos? Irmãos? Foi algo que observei ao longo dos dias que estive a realizar participação directa. Foi um dia em que as auxiliares lhe deram banho à tarde, antes das 15.00 horas, que é quando começa a visita. Observei que não é uma pessoa agressiva durante a Higienização pessoal e até colabora no banho. Gosta imenso de se lavar, enquanto lhe colocam o champô no cabelo e o gel de duche no corpo. Algumas das suas frases que registei: “eu tinha um cabelo tão bonito e agora estou cheia de cabelos brancos”.(…) “humm.. A água está tão quente e sabe tão bem a bater nas costas”. Ana Rúbio A D. Ana teve uma visita inesperada que foi a do filho mais velho, pois ele tinha sido internado para uma operação e há muito tempo que não o via.
  • 36. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 36 “Querido Anjo da Guarda, há tanto tempo que não te via, pensei que te tinhas esquecido de mim.. Tinha tantas saudades tuas”. Logo de seguida perguntou: “e hoje onde vamos meus queridos?” Lurdes Barradas A D. Lurdes Barradas teve a visita do seu marido, que neste dia lhe trouxe uns rebuçados de mentol e alguns de fruta. Trouxe um pequeno saco. – “Isto é para mim, meu querido?” (…) hum.. São tão bons estas coisas que me deste”. Neste meu último dia de observação, em que como sempre é costume eu fazer, reparti as 3 horas pelas 3 idosas, sendo que 60 minutos para cada Idosa de Observação directa e participante. A D. L.C. não teve visitas, o que me deixou bastante intrigada e curiosa, pois mesmo sabendo que sofria maus tratos por parte da filha, tive conhecimento que foram as próprias vizinhas e alguns familiares que fizeram queixa na polícia e na Segurança Social de que a senhora sofria maus tratos, no entanto em nenhum dos dias em que fiz observação, pude contar com a participação da família, pois nem sobrinhos, nem irmãos, nem vizinhos, simplesmente é uma senhora que nunca tem ninguém para falar com ela e que lhe dê algum carinho e afecto e juntamente com ela reparta alguns momentos de alegria que já tenham sido vividos. Foi um dia que pude observar a sua Higienização pessoal, à qual não consegue realizar sozinha, foi também um dos pontos mencionados pela Dra. Ana Paula em que deparamos com o factor de Apraxia, em que não sabe como faze-lo nem o consegue fazer sozinha. Mostrou-se uma senhora muito calma, sem nenhuma agressividade, falou durante o banho e também disponível para com o desempenho da auxiliar. A D. Ana teve uma visita inesperada. Aos fins-de-semana normalmente os filhos vêem sempre busca-la para dar um passeio. No entanto, já há algum tempo que um dos filhos estava internado para uma cirurgia e que há algum tempo que não via a mãe. Quando ele entrou na Instituição juntamente com o irmão, os seus olhos ficaram vidrados e logo sorriu e correu para os abraçar, os seus queridos anjos da guarda, como ela lhes chama. Ela sabia que tinha muitas saudades deste filho, mas a sua perda de memória não a deixava perceber porquê, até que o filho mais novo, lhe disse e lhe fez relembrar que outrora o irmão tinha estado internado e por esse motivo não veio visitar a mãe mais vezes. Ao invés de saírem para passear como é habitual, ficaram sentados num sofá a conversar e “matar saudades”. A D. Lurdes Barradas recebeu mais uma vez a visita do seu marido, que lhe trouxe um saco com rebuçados de mentol e de fruta, em que observei que mais uma vez ela não conversou muito, apenas olhava para o seu ente querido e não conseguia construir frases, e das poucas frases que conseguiu construir foi dizer-lhe ou tentar transmitir que os rebuçados eram bons, mas não conseguiu dar o nome correcto aos rebuçados, não fez associação.
  • 37. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 37 10 - Caracterização das Auxiliares → Humanas → Generosas → Simpáticas → Meigas → Bem-dispostas 10.1 - Entrevistas às Auxiliares A formação é um dado importante, mas na minha singela opinião não é o mais revelante, porque por vezes a experiencia é que determina o à vontade que as auxiliares de Geriatria e Gerontologia se relacionam com os Idosos. A Teoria, por vezes, na prática não funciona. Temos que constatar, mesmo como futuros licenciados que seremos, ou Animadores Sócio Culturais, que por vezes a prática passa à frente de qualquer formação, é bom por um lado, mas preocupante por outro. Será que todo o esforço que estamos a ter ira ter valor? Na verdade, infelizmente, uma auxiliar por vezes acaba por completar o trabalho de uma Animadora Sociocultural, ou de uma Enfermeira, ou Sociólogo, entre outros. Na Casa Geriátrica de Santa Rita, constatei que o facto de alguma auxiliares, não terem formação necessária não as impede de desempenhar as mesmas funções que as auxiliares com Formação adequada. A Formação é um factor com alguma importância, mas não o mais relevante é a experiência que determina a vontade e o carinho com que as Auxiliares se relacionam com os idosos. Podemos então concluir que a experiencia e a formação complementam-se mesmo que não sejam ambas as características de uma única pessoa, ou seja, neste caso por exemplo os idosos, que têm de ter os seus cuidadores, uma terceira pessoa sempre disponível para os ajudar naquilo que for preciso, juntamente com a formação de outros técnicos profissionais harmonizam-se e obtém bons resultados, porque no fundo todos trabalham em Equipa e para o mesmo fim, que é o bem-estar de cada Idoso/Utente. Entrevistadas Formação das entrevistadas Ana Almeida “ Não tenho formação específica em Geriatria, mas fiz algumas formações na Cruz Vermelha, sobre o levante e posicionamento de idosos, e trabalhei
  • 38. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 38 como encarregada num lar durante algum tempo”. Manuela Sota “Não tenho nenhuma formação com idosos, tudo o que aprendi até hoje, e o que sei hoje devo ao Enfermeiro Hélio e à Dra. Graciete, em conjunto com as colegas de trabalho que tenho ao meu lado a trabalhar como equipa”. Ana Isabel “Fiz um curso de geriatria / gerontologia e saúde do idoso no centro de Formação Profissional de Lisboa”. Fernanda Oliveira “Não tenho formação específica em Geriatria, mas ao longo dos anos fui fazendo várias formações, na Misericórdia do Lisboa”. A importância do trabalho de um auxiliar de Geriatria/Gerontologia num Lar de Idosos Ana Almeida “No meu ponto de vista, o trabalho de auxiliar é muito importante, porque cada vez mais existe uma população mais envelhecida e é fundamental, haver alguém que goste do que faz e se preocupe com estas pessoas que tantas vezes nem família têm, ou seja, nós somos tudo para eles, é connosco que eles convivem todos os dias e os últimos dias da vida deles”. Manuela Sota “Com o nosso trabalho e com os cuidados que temos ajudamos a melhorar a qualidade de vida do idoso, promovendo a sua auto-estima e o convívio com os outros utentes”. Ana Isabel “Dado que a população esta cada vez mais envelhecida e existem mais pessoas dependentes, que não têm pessoas que cuidem delas, pois por motivos de força maior, muitas das vezes o trabalho e filhos não lhes permite ajudar nas necessidades básicas e que acabam por ser totalmente preenchidas pelo meu tipo de serviço: alimentação, higiene pessoal, acompanhamento ao médico, higiene habitacional, tratamento de roupas, socialização, abrangendo cada individuo”. Fernanda Oliveira “Eu já tive várias formações na Santa Casa da Misericórdia em Lisboa, o que me dá um grande alento para trabalhar com idosos, penso que nós somos mais do que a sua família por vezes, porque convivemos com eles 24 horas sobre 24 horas com eles, mesmo que não queiramos, acabamos por ganhar algum afecto com eles.” Em que sentido o trabalho de uma Auxiliar melhora a qualidade de vida dos Idosos com Patologia de Alzheimer Ana Almeida “A partir do meu trabalho tento a cada dia melhorar a vida dos idosos, que estão sozinhos, principalmente aqueles cujas famílias, não correspondem como devia, pois temos casos de maus tratos, como o da D. Lurdes Carriço. Muitas das vezes é com as auxiliares, que se sentem
  • 39. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 39 acompanhados e acarinhados”. Manuela Sota “O meu trabalho, para além do cuidado base, que é melhorar a qualidade vida do idoso, ajudamos na parte da auto-estima e na área emocional ou seja ajudamos a superar a solidão, a depressão, com que muitos utentes vivem diariamente. Transmitindo carinho afecto e solidariedade”. Ana Isabel “Em vários sentidos, podemos sempre ajudar aqueles que dependem totalmente da ajuda do auxiliar de geriatria como: acamados, semi- acamados, pessoas com patologias de Alzheimer e que se sentem muitas vezes perdidas, dentro do próprio lar, perdem o sentido, utentes que necessitam de uma pequena ajuda para realizarem a sua higiene e tarefas diárias. Em todas estas vertentes é necessário ter sempre a preocupação de manter o indivíduo o mais confortável possível e quando esse trabalho é assim realizado dentro do tempo disponível para cada utente como pessoa a sua qualidade de vida aumenta sempre que se alia o carinho e afecto o sofrimento destes pode ser minimizado”. Fernanda Oliveira “Para além de proporcionar os cuidados de higiene essenciais, ajudamos o idoso a reaprender a sua independência e sempre que possível conversamos um pouco com eles e damos a atenção devida que eles precisam e merecem”. Fotos de algumas Auxiliares Ana Isabel, Manuela Sota, Fernanda Oliveira, eu e Dra. Graciete
  • 40. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 40 Fernanda Oliveira, Manuela Sota, Beatriz e Ana Almeida Todas as Funcionárias da Instituição, juntamente com o Dr. Carlos e Dra. Graciete
  • 41. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 41 11 - Entrevistas aos Técnicos e Profissionais Na medida em que são todos profissionais e trabalham em áreas diferentes, mas na Instituição trabalham todos para o mesmo fim, que é o bem-estar dos Utentes, cada um tem uma opinião diferente, ou seja, uma perspectiva diferente. Recomendações para quem cuida de um doente de ALZHEIMER Dra. Ana Paula (Médica) “Esteja próximo e olhe bem para o seu doente, olhos nos olhos, quando conversam; Permaneça calmo e quieto. Fale clara e pausadamente, num tom de voz nem demasiado alto nem demasiado baixo; Evite ruídos (rádio, televisão ou conversas próximas); Se for possível, segure na mão do doente ou ponha a sua mão no ombro dele. Demonstre-lhe carinho e apoio. Em todas as fases da doença, é necessário manter uma atitude carinhosa e tranquilizadora, mesmo quando o doente parece não reagir às nossas tentativas de comunicação e às nossas expressões de afecto”. Sr. Pedro Oliveira (Osteopata) “Há que ter também em atenção que o doente, dependendo do grau de incapacidade em que se encontra, tem o direito de optar se quer ou não ser informado sobre a sua situação clínica e de falar ou não sobre ela com familiares ou amigos. O desejo de confidencialidade deve ser respeitado. O doente de Alzheimer, como todos os doentes, para além da fase da doença em que se encontra e dos sintomas que apresenta, é sempre sensível à forma como é tratado reagindo positivamente ao afecto (voz suave, toque, beijo) e reagindo negativamente ao facto de o ignorarem e/ou demonstrarem comportamentos de agressividade”. Sr. José Barrinha (Fisioterapeuta) “A maior parte dos doentes com Alzheimer passa a viver no passado, uma vez que já não se conseguem lembrar do que fizeram ontem, dos nomes das pessoas com quem habitualmente lidam, números de telefone ou conversas recentes. Por norma, a memória de longa duração não é afectada, ou só o é já em fases adiantadas da doença, o que significa que o passado do doente passa a ser o seu presente, sendo que os eventos recentes são pura e simplesmente esquecidos. Será mais fácil, para todos, adaptar-se ao doente e não ao contrário, ou seja, fazer um esforço para viver a realidade actual da pessoa, mesmo que seja uma época da sua vida de há 20 anos atrás. Pelo menos assim há a possibilidade de recordar e conversar, aproveitando o facto de o doente continuar atento e comunicativo”. Sr. Hélio Canastra (Enfermeiro) “Sem querer tornar a sua casa numa prisão e o doente num prisioneiro, promova um ambiente seguro: retire da casa de banho pequenos electrodomésticos como secadores ou máquinas de barbear; feche à chave armários com produtos perigosos ou quartos onde o doente corre algum risco de se magoar; coloque barreiras de segurança nas escadas; muitos doentes já não reconhecem o seu próprio reflexo e, por isso, os espelhos ou vidros podem confundir ou assustar uma pessoa com Alzheimer – se isso acontecer, opte por arruma-los ou cobri-los. Disponibilize um espaço amplo, limpo e tranquilo onde ele possa estar à vontade; rodei-o de objectos familiares, como fotografias ou outras lembranças pessoais”.
  • 42. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 42 Dr. Carlos Araújo (gerente) “A comunicação ou falta dela pode ser um grande desafio. Muitos doentes têm dificuldade em formular frases completas, outros deixam de falar por completo. Fique atento à linguagem corporal e às suas expressões faciais e não se esqueça que conhece bem esta pessoa. Se sempre gostou de música clássica, ponha um CD a tocar; se é um apaixonado por futebol, ligue a televisão na altura de um jogo; mime o doente com carinhos e afectos, um forte abraço ou apenas a sua companhia podem fazer maravilhas. Não é o Alzheimer em si que provoca a morte, mas sim as infecções e doenças que podem surgir em sequência desta. Há que ser rigoroso: estabeleça e cumpra os horários da toma da medicação e de ir à casa de banho; certifique-se que o doente beba muita água; se verificar alterações nos hábitos alimentares ou de sono vá ao médico; as mudanças de comportamento e de estado de espírito – como ansiedade, querer estar sozinho ou tristeza – também devem ser vigiadas”. Dra. Graciete Araújo (Direct. Técnica) “Manter a mente e o corpo activos é fundamental. Tarefas de reduzida dificuldade, como apanhar ou dobrar a roupa, mantêm as pessoas ocupadas, sem as frustrar ou aborrecer. Existem muitas actividades que podem e devem realizar-se com um doente de Alzheimer, até para estimular os sentidos: dançar, cantar, jardinar, pintar, caminhar, conviver com crianças, cozinhar, fazer a manicure ou tratar do seu cabelo, são apenas alguns exemplos.” Quando o doente de Alzheimer é agressivo Dra. Ana Paula (Médica) “Pacientes com transtornos psicóticos prévios, e que começam a apresentar prejuízo progressivo da cognição (integração da consciência), evoluem muito mais rapidamente para a demência. Havendo alguma doença mental anterior à Doença de Alzheimer, principalmente doenças do tipo psicose, fará com que o paciente apresente muito maiores alterações comportamentais, tais como delírios, alucinações, agressividade, agitação, furor, mudanças de personalidade, alterações sexuais e perda das noções de higiene, no caso de se tornar um doente agressivo, há que lhe mostrarmos que não temos medo dele, pois ele pressente isso, falar com ele, olhando-o nos olhos”. Sr. Pedro Oliveira (Osteopata) “A terapia deve também ajudar o doente a habilitar a sua memória utilizando métodos específicos, tais como utilização de agendas adaptadas ao doente e outras coisas práticas que o ajudem na sua vida quotidiana. Outras técnicas de habilitação cognitiva, consistem em utilizar exercícios que permitam “desenvolver” a linguagem, a memória, a atenção e concentração, a leitura, a escrita, a orientação e a coordenação motora.” Sr. José Barrinha (Fisioterapeuta) “ Sinceramente lido com idosos, mas na minha área particularmente não lido muito com doentes de Alzheimer, como tal sei como reagiria no caso de um doente se tornar mais agressivo, mas não sei muito bem os termos técnicos. No entanto, sei que deverei manter a calma e mostrar ao doente aquilo que realmente quero fazer é correcto e para o bem dele, tentando não contrariá-lo muito”. Sr. Hélio Canastra (Enfermeiro) “Além da memória, também a capacidade de localização no tempo e no espaço é afectada. E, de um dia para o outro, os doentes deixam de conseguir encontrar caminhos. Perdem-se na própria casa, na
  • 43. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 43 vizinhança. E desenvolvem comportamentos estranhos como a deambulação errática. O risco de desaparecerem ou de terem a vida em perigo é, pois, elevado, mas pode ser minimizado. Assim, os doentes devem andar sempre identificados, os vizinhos e comerciantes próximos devem ter conhecimento do seu estado, a possibilidade de saírem de casa sozinhos deve ser reduzida. A confusão não afecta apenas os passos dos doentes: eles escondem objectos e depois esquecem-se de onde os deixaram, comportam-se como se estivessem sempre à procura de alguém ou de algo. Em qualquer uma destas circunstâncias carecem de ajuda: para voltar a casa ou para encontrar o que perderam. Mas, por mais difícil que seja, há que resistir à tentação de os recriminar: fazê-lo aumenta a insegurança e pode estimular a agressividade. A agressividade espreita nestes doentes, o que é, desde logo, explicado pelo facto de não reconhecerem a nova realidade nem saberem lidar com ela. Não ser capaz de realizar tarefas banais e rotineiras, não conseguir identificar pessoas e lugares, não se recordar de acontecimentos e rostos familiares, ter dificuldade em comunicar é, afinal, razão mais do que suficiente para que os doentes de Alzheimer se sintam confusos, frustrados, reagindo com oscilações do humor, instabilidade e agressividade. É um tumulto de emoções ao assalto dos doentes e dos seus cuidadores, para quem o Alzheimer é um fardo muito pesado. Também eles precisam, pois, de ajuda.” Dr. Carlos Araújo (gerente) “É possível que em algumas fases da doença, o doente se torne agressivo. A agressividade pode ser tanto verbal como física. Procure perceber o que levou o doente a ficar agressivo; Evite ralhar, discutir ou colocar o doente de castigo; Evite o contacto físico e dê espaço ao doente; Não mostre medo ou ansiedade; Tente manter um ambiente calmo; Fala tranquilamente com o doente e tente chamar-lhe a atenção para outra coisa. Procure ajuda e aconselhamento médico caso seja necessário e não consiga lidar com a situação. Deve recordar-se que não está sozinho. Algumas sugestões para evitar as crises de agressividade…Ajude o doente, mas evitar dar ordens; Não seja demasiado exigente nas rotinas do doente; Faça elogios ao doente (não exagerando), e evite críticas; Se o doente ainda conseguir fazer algumas actividades, deixe-o fazer ao seu ritmo; Sugira actividades físicas que o doente goste; Procure actividades que o doente aprecie; Esteja a atento a sinais que possam indicar que uma crise se aproxima e tente desviar-lhe a atenção.” 12 - Entrevistas aos Familiares dos Utentes Informação clínica dada pelo Médico, confirmada em como sofre da Patologia de Alzheimer Dr. Carlos e Dra. Graciete (Cuidadores da Idosa Lurdes Carriço) “No caso da D. Lurdes, nós recebemos a Utente na nossa Instituição através da Polícia e da Segurança Social. Quando chegou até nós, as Assistentes Sociais já traziam toda a informação clínica e exames realizados no Hospital, onde lhe foi detectado esta patologia, que já existia, mas com o agravamento de maus tratos por parte da filha. É uma senhora que raramente tem visitas, nós somos os cuidadores principais dela, a família que apareceu cá na Instituição foram apenas uma sobrinha e uma irmã, mas a utente já está connosco há cerca de 1 ano e essas pessoas só apareceram cá uma única vez. Podemos dizer
  • 44. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 44 que a nível familiar está quase como ao que o “abandono”, não está porque cuidamos dela todos os dias e damos-lhe tudo o que ela necessita. Nunca foi uma idosa agressiva, apesar dos maus tratos que teve por parte da filha, mas está num estado da doença já muito avançado, uma vez que se perde no caminho para a casa de banho, não sabe onde está e pensa que vive numa geração de há 20 ou 30 anos atrás.” Dr. Rui (filho da D. Ana Rúbio) “ A minha mãe ficou doente desde muito nova, aproximadamente pelos 70 anos, em que se esquecia de muita coisa, como apagar o fogão, não conseguia abotoar os botões das camisas, entre muitas outras coisas. Foi levada ao médico ao qual constatamos definitivamente que sofria da patologia de Alzheimer. A minha mãe anda bem sozinha, não necessita de cadeira de rodas, tem uma boa estabilidade funcional e um equilíbrio dinâmico e estático. Tem uma capacidade de raciocino num ambiente controlado. Demonstra maior desenvoltura nas actividades diárias, participando activamente delas. No entanto desde que está internada aqui no lar é que começou a manifestar total vontade de fazer a sua higiene matinal autonomamente e demonstra períodos de grande tensão emocional e ansiedade quando vai a casa ou passear connosco. Come pela sua mão própria, é uma pessoa semi-autónoma, porque precisa de ajuda para ir à casa de banho ou nos banhos. Começou por apresentar os sintomas normais da doença: como a falta de memória, agnosia ou falta de reconhecimento de certos objectos, pessoas, sons e formas”. Eng. Barradas (Marido da Lurdes Barradas “A minha esposa começou a mostrar sinais da patologia de Alzheimer com as vizinhas, pois fazia conversas sem anexo nenhum, e não conseguia acabar de construir as frases, foi levada ao médico ao qual a analisou e disse que ela estava com uma deficiência cognitiva e com uma depressão profunda que se agravou com a morte do meu filho há 4 anos. O quadro clínico era compatível com depressão em favorável demência vascular. E dado ao estado do deficiência cognitiva da minha mulher estar tão avançado, já não conseguias se guiar a si própria nem os seus próprios bens, não estava no seu juízo perfeito face à doença que sofria, e precisava de uma terceira pessoa em acompanhamento constante. Esteve comigo em casa com uma dama de companhia durante alguns anos, até que fiquei também doente a nível psicológico, pois é bastante cansativo cuidar de pessoas assim. Trouxe-a para esta instituição onde cuidam muito bem dela, com os profissionais adequados”. Na medida em que as pessoas não estavam muito receptíveis para falar, decidi não realizar mais perguntas, ao qual me parece bastante esclarecedor por parte dos familiares tudo aquilo que foi observado ao longo de todo o trabalho.
  • 45. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 45 Algumas fotos das Utentes na Instituição
  • 46. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 46 13 - Entrevista ao Dr. Carlos Araújo Comentário acerca dos Idosos Dr. Carlos Araújo “A Terceira Idade está a tornar-se uma preocupação que importa olhar “com olhos de ver”, com vista à resolução dos problemas que a mesma acarreta. Nem sempre é fácil ao idoso deixar a casa e recolher-se num lar, porque não tem ninguém ou foi esquecido pelos seus. Para uns, os dias são um verdadeiro pesadelo, enquanto outros se vão adaptando a novas vidas e novas experiências. Todos sabemos que, infelizmente, ser idoso, na nossa sociedade, significa, não raras vezes, ser votado ao esquecimento e conviver com o nevoeiro da vida. “Só te peço para que cuides de mim quando envelhecer! Não me ponhas num lar ao abandono!…” – são palavras de homens e mulheres que estão no limiar da velhice e pedem aos filhos para cuidarem deles”.
  • 47. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 47 Ainda temos muitos idosos a olhar para a janela para ver se a família aparece? Dr. Carlos Araújo “Ainda temos muitos idosos nestas circunstâncias e nós não conseguimos resolver esse problema. Podemos atenuá-lo, criando uma certa dinâmica, pensando até em contratar uma técnica vocacionada, cujo trabalho vai ser apenas articular os aspectos lúdicos das duas casas, ocupando-se disso 24 horas dia. Isso tem em vista atenuar todos os aspectos de solidão e um certo abandono em que algumas pessoas se encontram, mas não podemos fazer tudo, porque ninguém consegue superar a falta da sua própria família. Podemos atenuar mas não resolver”. Acha que é importante cada vez mais as pessoas prepararem-se para a velhice? Dr. Carlos Araújo “È fundamental. Penso que a minha geração deve começar a pensar nisso urgentemente, porque é errado pensar que os nossos filhos nos vão resolver o problema. Este é um conceito muito radical, tendo em conta a forma como fomos educados a ver esta situação. Os nossos pais nunca pensaram assim, pelo que hoje, infelizmente, ainda existem pessoas que estão muito enganadas, porque nós somos os velhos de amanhã. Não podemos esperar que o Estado faça alguma coisa por nós porque não vai fazer. O Estado está muito pobre”. Os idosos hoje em dia nos lares … Dr. Carlos Araújo “Bom, já existe o estatuto do idoso e também a Delegacia do Idoso - no caso de maus tratos deve-se denunciar. Creio que não é uma questão de fazer alguma coisa, mas sim sentir algo maior como respeito e amor por quem passou uma vida trabalhando e cuidando de filhos e até mesmo de netos. A palavra mágica sempre será AMOR”.
  • 48. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 48 CONCLUSÃO Com todo o trabalho de Observação realizado e por meio de diversos meios de recolha de informação, como as entrevistas e as grelhas de observação, foi possível verificar os comportamentos das idosas nos seus mais variados estádios. Os Idosos são inseridos nos Lares por muitos motivos, mas são os seus próprios filhos, em sua maioria, que determinam essa condição. Regularmente, os profissionais de Instituições referem-se às famílias de Idosos de forma extremamente negativa, no entanto depois desta observação devemos pensar que nem todas as famílias sentem afecto e senso de responsabilidade pelo idoso. Alem disso, pode haver problemas de relacionamento familiar nunca resolvidos. Talvez, a circunstância de levar ou não o idoso para viver num Lar, pode vir a ser a oportunidade de colocar avante o empreendimento de compreender significados mais profundos, muitas vezes, esquecidos pela comodidade de não querer significar sentimentos que nos trazem desconforto e que parecem não ter jamais um bom fim. O estatuto do Idoso propõe melhorias para a Socialização do Idoso, e suas condições de vida, sendo respeitado em suas atitudes e vivencia. Entretanto, os conhecimentos desenvolvidos por movimentos de terapia familiar, e particularmente, sobre terapia e orientação da família, isto é, aspectos de suporte psicológico, podem ser muito úteis para todos aqueles que lidam com esses problemas no seu dia-a-dia. Faz-se necessário, portanto, o conhecimento, por parte de todos, do quadro geral da doença : sintomas, evolução e tratamento; tudo para que o sofrimento do paciente (e daqueles que a ele dirigem cuidados) seja minimizado, ao menos. Informação é vantagem, em se tratando de Doença de Alzheimer. Ainda mais em tempos (como o nosso) de crescente preocupação com questões ligadas à bioética e, consequentemente, ao biodireito. Concluo a minha Observação, dizendo que foi um trabalho com o qual aprendi muito, que apesar de já estar familiarizada com esta patologia, pois trabalho como Animadora Sociocultural e com idosos há cerca de 8 anos, não tinha ideia desta doença no seu mais profundo contexto. Toda a pesquisa realizada, as entrevistas fizeram-me compreender melhor os comportamentos de cada pessoa. Pergunto-me a mim própria se toda a população tem noção do que é esta doença, como se cuida de pessoas com esta patologia, lidar com a morte de pessoas que sofrem desta patologia, porque afinal de contas, estas pessoas ao estarem a ser cuidadas por profissionais em Lares de Idosos, e com o mais alto nível, apenas estão esperando pelos seus últimos dias de vida, e somos nós que estamos com eles, aguardando por esse ultimo dia, e enquanto tal não acontece, devemos saber lidar com estas pessoas, dando-lhes o maior conforto, paciência, carinho e compreensão, ainda que por muitas vezes todos estes afectos e comportamentos nos faltem.
  • 49. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 49 Bibliografia Robert, Ladislas. “ O Envelhecimento”, Edições Instituto Piaget, 1994
  • 50. Curso de Animação Sociocultural 1º Ano / 2009-2010 50