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Fisiologia
Renal.
100 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 101
A circulação extracorpórea é um
agentecapazdeproduziralteraçõesna
funçãodosistemarenalenoequilíbrio
doslíquidosedoseletrolitosdoorga-
nismo.Osrinssãofundamentaisna
regulaçãodomeiointerno,emqueestão
imersasascélulasdetodososórgãos.
Osrinsdesempenhamduasfunções
primordiais no organismo: 1. eli-
minação de produtos terminais do
metabolismo orgânico, como uréia,
creatininaeácidoúricoe,2. controle
dasconcentraçõesdaáguaedamaioria
dos constituintes dos líquidos do
organismo,taiscomosódio,potássio,
cloro,bicarbonatoefosfatos.
Osprincipaismecanismosatravésos
quaisosrinsexercemassuasfunções
sãoafiltraçãoglomerular,areabsorçãotubular
easecreçãotubulardediversassubstâncias.
Osistemaurinário,encarregadoda
produção,coletaeeliminaçãodaurina
estálocalizadonoespaçoretroperitonial,
decadaladodacolunavertebraldorso-
lombar.Éconstituidopelosrinsdireito
eesquerdo,apelverenal,querecebeos
coletoresdeurinadoparênquimarenal,
osuretéres,abexigaeauretra.
Os rins são envolvidos por uma
cápsulafibrosaqueaoníveldohilorenal
sedeixaatravessarpelaartériarenal,a
veia renal e a pelve coletora que se
continuacomoureter.Oparênquima
renalapresentaduasregiõesbastante
distintas:aregiãoperiférica,corticalou
córtexrenalearegiãocentral,medular
oumedularenal(Fig.5.1).
Àsemelhançadoalvéolopulmonar
na fisiologia respiratória, o rim é
constituido de unidades funcionais
completas,chamadasnéfron.Onéfron
representa a menor unidade do rim;
cadanéfronécapazdefiltrareformara
urinaindependentementedosdemais.
Fig. 5.1. Esquema do rim esquerdo, que demonstra as
regiões cortical, medular e o hilo renal. No hilo penetra
a artéria renal esquerda e emergem a veia renal e a
pelve coletora.
A função renal pode, portanto, ser
compreendidaestudando-seafunçãode
um único néfron. Existem aproxi-
madamente1.200.000néfronsemcada
rim,quefuncionamalternadamente,
conformeasnecessidadesdoorganismo
a cada momento. O néfron é cons-
tituidobasicamenteporumgloméruloe
umlongotúbuloquedesembocanos
tuboscoletoresdeurina(Fig.5.2).
O glomérulo é uma rede ou um
novelo de capilares recobertos por
célulasepiteliais.Umglomérulopode
teraté50capilares.Osanguepenetra
102 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
noglomérulopelaarteríolaaferentee
sáiatravésdaarteríolaeferente.
A camada cortical do rim, a mais
externa,éconstituidaprincipalmente
por néfrons corticais, que tem os
tubulos coletores menores que os
nefronslocalizadosmaispróximosda
regiãomedular,chamadosnéfronjusta-
medulares.
A camada medular é constituida
principalmentepeloslongostubulos
coletoresdeurina,quesejuntamem
tubulosmaioresatéseconstituiremna
pelverenal.
Oglomérulotemafunçãodefiltrar
osangueenquantoosistemadetúbulos
coletores absorve parte do líquido
filtrado nos glomérulos. Os túbulos
tambémpodemsecretardiversassubs-
tâncias,conformeasnecessidadesdo
organismo.
Envolvendocadagloméruloexiste
uma cápsula, chamada cápsula de
Bowmanquesecontinuacomotúbulo
proximal. A pressão do sangue nos
glomérulosproduzafiltraçãodelíquido
paraointeriordacápsuladeBowman,
deondeescoaparaotúbuloproximal.
Dotúbuloproximalolíquidopenetra
naalçadeHenle,quetemumaporção
comparedemuitofina,chamadaseg-
mentofinodaalçadeHenle.Daalçade
Henle, o líquido penetra no túbulo
distalqueseinserenumcanalcoletor,
juntamentecomostúbulosdistaisde
diversos outros glomérulos. O canal
coletoracumulaaurinaprovenientede
váriosnéfronseselançanapelverenal.
O líquido filtrado no glomérulo,
chamadofiltradoglomerular,étrans-
formadoemurinaàmedidaquepassa
pelostúbulosproximaledistal(Fig.5.3).
Fig. 5.2. Esquema completo do néfron, mostrando o
glomérulo e seus componentes e os tubos coletores,
conforme descrição detalhada no texto.
Fig. 5.3. Esquema simplificado do néfron, mostrando
os principais componentes funcionais, conforme
descrição do texto.
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 103
Asartériasrenaissãoramosdaaorta
abdominal.Aopenetrarnohilodorim,
a artéria renal dá origem a diversos
ramos,chamadosramosinterlobares
quemergulhamnaprofundidadedo
parênquimarenal.Dessesramosinter-
lobares,emergemasartériasarqueadas
das quais se originam as arteríolas
aferentes. Cada arteríola aferente
produzumtofoounovelodecapilares
queconstituemoglomérulo;noextre-
mo oposto os capilares se reunem
novamente,formandoaviadesaídado
glomérulo,aarteríolaeferente.
Aarteríolaeferenteseramificaem
diversosoutroscapilares,formandoa
redecapilarperitubular,queseemara-
nhacomostúbulosproximaisedistais
dosistemacoletor.Outrosvasosemer-
gemdaarteríolaeferenteesedirigem
às regiões que circundam as alças
tubulares,esãoconhecidoscomovasos
retos,queapósformaremasalçasna
medularenal,selançamnasveias.
FUNÇÃO
DONÉFRON
Afunçãoessencialdonéfronconsiste
emdepuraroplasmasanguíneodas
substânciasquedevemsereliminadas
do organismo. O néfron filtra uma
grandeproporçãodoplasmasanguíneo
atravésamembranaglomerular.Cerca
de 1/5 do volume que atravessa o
gloméruloéfiltradoparaacápsulade
Bowmanquecoletaofiltradoglome-
rular. Em seguida, à medida que o
filtradoglomerularatravessaostúbulos,
assubstânciasnecessárias,comoaágua
e grande parte dos eletrólitos são
reabsorvidas, enquanto as demais
substâncias,comouréia,creatininae
outras,nãosãoreabsorvidas.Aáguae
assubstânciasreabsorvidasnostúbulos
voltamaoscapilaresperitubularespara
acirculaçãovenosaderetorno,sendo
lançadas nas veias arqueadas, e fi-
nalmente,naveiarenal.Umapartedos
produtos eliminados pela urina é
constituida de substâncias que são
secretadaspelasparedesdostúbulose
lançadasnolíquidotubular.Aurina
formadanostúbuloséconstituidapor
substânciasfiltradasdoplasmaepe-
quenasquantidadesdesubstâncias
secretadaspelasparedestubulares.
Ofluxosanguíneoatravésdosrins
corresponde, em média, à aproxi-
madamente20%dodébitocardíaco,
podendovariar,mesmoemcondições
normais. Em um adulto de 60Kg de
peso,odébitocardíacocorrespondea
4.800ml/min;afraçãorenaldodébito
cardíacoseráde960ml.Ofluxosan-
guíneo renal é muito maior que o
necessárioparaosimplessuprimentode
oxigênio. Cerca de 90% do fluxo
sanguíneorenalsãodistrubuidospela
camada cortical, onde abundam os
glomérulose,apenas10%sedistribuem
pelaregiãomedular.
Osrinspossuemumeficientemeca-
nismodeautoregulaçãoquepermite
regularofluxodesanguee,atravésdele,
afiltraçãoglomerular.Estemecanismo
écapazdemanterumfluxorenalrelati-
vamenteconstantecompressõesarte-
riaisquevariamentre80e180mmHg.
104 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
Sobdeterminadascondições,comopor
exemplo na depleção líquida ou no
baixodébitocardíaco,quandoofluxo
renal não pode ser mantido, o me-
canismo autoregulador preserva a
filtraçãoglomerular,produzindovaso-
constrição da arteríola eferente, que
mantémogradientetransglomerularde
pressão.Aresistênciavascularrenalse
ajustaautomàticamenteàsvariaçõesna
pressãodeperfusãorenal.Asarteríolas
aferenteeeferentesãoinfluenciadaspor
muitosdosestímulosnervososehor-
monaisvasculares,emborasuaresposta
dependadasnecessidadesrenaiseseja
moderada pelos mecanismos auto-
regulatórios.
Amembranaglomerularpossuitrês
camadasprincipais:umacamadaendo-
telial,doprópriocapilar,umacamada
oumembranabasaleumacamadade
célulasepiteliaisnafacecorrespondente
àcápsuladeBowman.Apesardapre-
sençadastrêscamadas,apermeabilidade
damembranaglomerularécercade100
a1.000vêzesmaiordoqueaperme-
abilidadedocapilarcomum.Afraçãode
filtração glomerular é de aproxima-
damente125ml/minuto.Em24horas
são filtrados aproximadamente 180
litros de líquido por todos os glo-
mérulos (filtrado glomerular), para
formarde1a1,5litrosdeurina,oque
demonstra a enorme capacidade de
reabsorçãodostúbulosrenais.Olíquido
reabsorvidonostúbulospassaparaos
espaçosintersticiaisrenaisedaíparaos
capilaresperitubulares.Paraatenderà
essaenormenecessidadedereabsorção,
oscapilaresperitubularessãoextre-
mamenteporosos.
Agrandepermeabilidadedamem-
brana glomerular é dependente da
estrutura daquela membrana e das
numerosasfendaseporosexistentes,
cujodiâmetropermitealivrepassagem
das pequenas moléculas e impede a
filtraçãodasmoléculasmaiores,como
asproteinas.
Ofiltradoglomerularpossuiapro-
ximadamenteamesmacomposiçãodo
plasma,excetoemrelaçãoàsproteinas.
Existemnofiltradoglomerular,dimi-
nutasquantidadesdeproteinas,princi-
palmenteasdebaixopesomolecular.
FILTRAÇÃOGLOMERULAR
A filtração do plasma nos glo-
mérulos, obedece às diferenças de
pressão existentes no glomérulo. A
pressão nas artérias arqueadas é de
aproximadamente100mmHg.Asduas
principaisáreasderesistênciaaofluxo
renalatravésdonéfronsãoasarteríolas
aferente e eferente. A pressão de
100mmHgnaarteríolaaferente,cáipara
umapressãomédiade60mmHgnos
capilares do glomérulo, sendo esta a
pressãoquefavoreceasaídadoflitrado
doplasmaparaacápsuladeBowman.
A pressão no interior da cápsula de
Bowmanédecercade18mmHg.Como
nos capilares glomerulares 1/5 do
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 105
plasmafiltraparaointeriordacápsula,
aconcentraçãodeproteinasaumenta
cercade20%àmedidaqueosangue
passa pelos capilares do glomérulo,
fazendo com que a pressão coloido-
osmóticadoplasmaseelevede28para
36mmHg, com um valor médio de
32mmHg,noscapilaresglomerulares.
A pressão no interior da cápsula de
Bowmaneapressãocoloido-osmótica
dasproteinasdoplasmasãoasforçasque
tendemadificultarafiltraçãodoplasma
noscapilaresglomerulares.Dessaforma
apressãoefetivadefiltraçãonoscapila-
resglomerularesédeapenas10mmHg,
ou seja, a diferença entre a pressão
arterialmédianoscapilares(60mmHg)
e a soma da pressão da cápsula de
Bowmancomapressãocoloido-osmó-
ticadoplasma.
Diversos fatores podem afetar a
filtraçãoglomerular.Ofluxosanguíneo
renal aumentado, pode aumentar o
coeficientedefiltraçãoeaquantidade
final de urina produzida. O gráu de
vasoconstriçãodasarteríolasaferentes
dos glomérulos faz variar a pressão
glomerular e consequentemente a
fraçãodefiltraçãoglomerular.Omesmo
ocorrenaestimulaçãosimpáticaneuro-
gênicaouatravésdedrogassimpáticas
como a adrenalina, por exemplo. O
estímulopelaadrenalinaproduzcons-
triçãointensadasarteríolasaferentes,
com grande redução da pressão nos
capilares glomerulares que podem
reduzir dràsticamente a filtração do
plasma e consequente formação de
urina.
REABSORÇÃOTUBULAR
Ofiltradoglomerularquealcançaos
túbulosdonéfronfluiatravésdotúbulo
proximal,alçadeHenle,túbulodistale
canalcoletor,atéatingirapelverenal.
Aolongodessetrajetomais de99%da
água filtrada no glomérulo é rea-
bsorvida, e o líquido que penetra na
pelve renal constitui a urina pro-
priamente dita. O túbulo proximal é
responsávelpelareabsorçãodecercade
65%daquantidadedeáguafiltradanos
capilaresglomerulares,sendoorestante
reabsorvido na alça de Henle e no
túbulodistal.Aglicoseeosaminoácidos
sãoquaseinteiramentereabsorvidos
comaáguaenquantooutrassubstâncias,
pornãoseremreabsorvidosnotúbulos,
tem a sua concentração no líquido
tubular aumentada em cerca de 99
vêzes.
Areabsorçãodaglicoseexemplifica
bemosmecanismosdereabsorçãode
determinadassubstânciasdentrodos
túbulosrenais.Normalmentenãoexiste
glicosenaurinaounomáximo,existem
apenasligeirostraçosdaquelasubs-
tância, enquanto no plasma a sua
concentraçãooscilaentre80e120mg%.
Todaaglicosefiltradaéràpidamente
reabsorvidanostúbulos.Àmedidaque
aconcentraçãoplasmáticadeglicosese
aproximados200mg%,omecanismo
106 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
reabsortivo é acelerado até atingir o
pontomáximo,emqueareabsorçãose
tornaconstante,nãopodendosermais
aumentada. Esse ponto é chamado
limiardereabsorçãodaglicose.Acima
do valor plasmático de 340mg%, a
glicose deixa de ser completamente
absorvidanosistematubularepassapara
aurina,podendoserfacilmentedetec-
tadapelostestesdeglicosúria.
Osprodutosterminaisdometabo-
lismo,comoauréia,creatininaeuratos
tem outro tratamento nos túbulos
renais.Apenasquantidadesmoderadas
deuréia,aproximadamente50%dototal
filtrado,sãoreabsorvidosnostúbulos
enquantoacreatininanãoéreabsorvida.
Osuratossãoreabsorvidosemcercade
85%, da mesma forma que diversos
sulfatos,fosfatosenitratos.Comotodos
são reabsorvidos em muito menor
proporçãoqueaágua,asuaconcen-
traçãoaumentasignificativamentena
urinaformada.
A reabsorção nos túbulos renais
obedeceàdiferençadeconcentraçãodas
substânciasentreoespaçointersticial
peri-tubulareosvasosretosperitubu-
lares.Areabsorçãodeáguaédependente
da reabsorção de íon sódio, que é o
solutomaisreabsorvidonostúbulos
renais.
Existemaindadoismecanismosde
intercâmbio muito importantes. O
primeiroserefereàtrocadeíonsódio
(Na+
) pelo íon hidrogênio (H+
), nos
túbulos,comopartedosmecanismosde
regulação renal do equilíbrio ácido-
básico. Quando há necessidade de
eliminar íon hidrogênio, os túbulos
secretamativamenteohidrogêniopara
aluz,dentrodofiltradoe,emtroca,para
manteroequilíbrioiônicoabsorvemo
íon sódio. O outro mecanismo de
intercâmbiocorrespondeàreabsorção
deíonscloreto(Cl-
)quandoháneces-
sidadedeseeliminarácidosorgânicos
pelomecanismodesecreçãotubular.
Os mecanismos de transporte na
reabsorçãotubularpodemserativosou
passivos,dependendodanecessidadede
utilizar energia celular para a sua
realização.Osódio,aglicose,osfosfatos
eosaminoácidosestãoentreassubs-
tâncias cujo transporte é feito com
utilizaçãodeenergiacelular,transporte
ativo,enquantootransportedaágua,
uréiaecloretosnãonecessitaconsumir
aenergiadascélulas(transportepassivo).
SECREÇÃOTUBULAR
Asecreçãotubularatuaemdireção
opostaàreabsorção.Assubstânciassão
transportadasdointeriordoscapilares
para a luz dos túbulos, de onde são
eliminadaspelaurina.Osmecanismos
desecreçãotubular,àsemelhançados
mecanismosdereabsorção,podemser
ativosoupassivos,quandoincluema
utilizaçãodeenergiapelacélulaparaa
suaexecuçãoounão.Osprocessosde
secreçãomaisimportantesestãorela-
cionados à secreção tubular de íon
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 107
hidrogênio,potássioeamônia.Deter-
minadassubstânciassãoeliminadasdo
organismopelosmecanismosdesecre-
CONCENTRAÇÃOEDILUIÇÃODAURINA
ção tubular, após metabolização no
fígado.
Cercade1/5dosnéfrons,localizados
naregiãojusta-medular,temasalçasde
Henle imersas na medula renal e
retornamaocórtex.Nestesglomérulos
cercade65%dofiltradoglomerularé
reabsorvidonotúbuloproximalcomo
solução isotônica. Na porção mais
espessa da alça de Henle, em que o
epitélioérelativamenteimpermeávelà
água,ocloretodesódioéativamente
transportadodolumenparaoespaço
intersticial da medula, criando um
ambientehipertônicoeumgradiente
osmóticoquepropiciamecanismosde
secreção e reabsorção ditos contra-
corrente,capazesdepermitiraosrinsa
produção de urina concentrada ou
diluida, conforme a necessidade de
eliminarsubstânciasdissolvidasnaurina
eanecessidadedepreservarágua.Os
mecanismosfísico-químicosenvolvidos
sãobastantecomplexosesãobaseados
nasdiferençasdeconcentraçãodosódio
entreointerstícioeoscapilaresperi-
tubularesevasosretos.
A filtração e a produção de urina
dependemdediversosfatoresdentreos
quaisomaisimportanteséaautore-
gulaçãodofluxodesangueatravésos
glomérulos. Dentre de limites fisio-
lógicosaproduçãodiáriadeurinapor
umadultooscilaentre1e1,5litros/dia.
Adiuresemínima,capazdemanter
aadequadaeliminaçãodedejetosdo
metabolismo,equivalea0,5a1ml/Kg/
horaemcriançaseaproximadamente30
a40ml/horaparaosadultos.
Osrinssãofundamentaisnaregu-
lação do volume e da composição do
líquidoextracelular(intersticial),através
demecanismoscomplexosqueincluem
variações das pressões vasculares,
variaçõesdosvolumesfiltrados,alte-
rações da osmolaridade e ação de
hormônios.
Osreceptoresexistentesnaparede
dosátrios,direitoeesquerdo,quando
distendidospelahipervolemia,alteram
a frequência dos impulsos emitidos
produzindoumareduçãodaatividade
simpática,queresultaemdilataçãodas
arteríolas aferentes e consequente
aumentodafiltraçãoglomerular.Simul-
tâneamente, na hipófise posterior, é
inibidaasecreçãodehormônioanti-
diurético,reduzindoareabsorçãode
águanostúbulosdistaise,portanto,
aumentandoovolumedaurinaelimi-
nada. O hormônio antidiurético é
responsávelpeloaumentodareabsorção
deáguanostúbulosdistais,comoparte
dosmecanismosreguladoresdovolume
urinário.
Um pequeno segmento do túbulo
distal,pósalçadeHenle,seinsinuano
ângulo entre as arteríolas aferente e
108 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
eferente nos glomérulos, formando
umaregiãoespecial,conhecidacomo
aparelhojusta-glomerular.Nesteaparelho,
ascélulastemumadensidademaiorque
asdemais,cosntituindoaregiãocha-
madademáculadensa.Amáculadensaé
capaz de detectar a concentração de
sódio no túbulo distal e estimular a
produçãoderenina,pelascélulasdo
aparelho justa-glomerular. A renina
catalizaaformaçãodeangiotensinaI‘a
partirdoangiotensinogênioproduzido
no fígado. A angiotensina I origina a
angiotensina II, um potente vaso-
constritor das arteríolas renais. A
angiotensinaII,porseuturno,estimula
aproduçãodaaldosteronapelaglândula
supra-renal,quepromoveareabsorção
desódioeaeliminaçãodepotássionos
túbulosdistais,conformedemonstrao
esquemadafigura5.4.
TESTESDAFUNÇÃORENAL
Aexperiênciatemdemonstradoque
ocomprometimentodafunçãorenal
pré-operatória, aumenta considera-
velmente as chances de desenvol-
vimentodeinsuficiênciarenalaguda
após a circulação extracorpórea. A
avaliação da função renal antes da
perfusãoéfundamental,paraapreven-
ção de injúria renal induzida pela
perfusão.
Certas cardiopatias cianóticas de
longaduraçãopodemserassociadasà
gráuslevesdeinsuficiênciarenal,bem
como a aterosclerose, o diabetes e a
hipertensãoarterial.Ahistóriaclínicae
oexamedopacientepoderãomostrara
existência de edema, alterações do
volumeurinárioeapresençadeinfecção
urinária.
Ainsuficiênciarenalagudaéuma
alteração grave, com mortalidade e
morbidade elevadas, em que ocorre
deterioraçãosúbitadafunçãorenal,que
causaprofundadesordemnoequilíbrio
doorganismo.Háextremareduçãoda
excreçãodosprodutosnitrogenados,
ureiaecreatinina;alteraçõesdaregu-
laçãodovolumeedacomposiçãodos
líquidosdoorganismoealteraçõesda
síntese de determinados hormônios
essenciais.Omarcoclínicodasindrome
éaacumulaçãorápidadeprodutosfinais
nitrogenados,levandoàuremiaprogres-
sivaeàreduçãomarcantedadiurese.
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 109
Ocasionalmenteainsuficiênciarenal
agudapodeseacompanhardediurese
abundante.Aurinaeliminadaporém,
temdensidadebaixaporqueostúbulos
perdemacapacidadedereabsorverágua
e,emconsequênciaconcentraraurina.
Aavaliaçãopré-operatóriadafunção
renalincluiadeterminaçãodosníveis
da uréia e da creatinina no plasma
sanguíneoeoexamesumáriodaurina,
paraadetecçãodapresençadeelemen-
tosanormais.
Aureíaplasmáticaoscilaentre20e
60mg%enquantoacreatininaoscila
entre 1 e 2mg% nos adultos. Nas
criançasosvaloresnormaisvariamcom
aidade,sendo,emgeral,menores.O
examedaurinanãodeverevelarprotei-
núriaouhematúria.Anormalidadedos
valoresdauréiaedacreatininaequivale
àpresençadefunçãorenaladequada.
Quando os valores de ureia ou da
creatininaestãoelevadosouquandohá
proteinúriaouhematúrianoexameda
urina,torna-senecessáriaumaavaliação
mais completa da função renal, na
tentativadequantificarográudefunção
renalexistente.
AÇÃODOSDIURÉTICOS
Osdiuréticossãosubstânciasque
aumentamaformaçãodeurinaesua
principalaplicaçãoéreduziraquanti-
dade total de líquidos no organismo.
Durante a circulação extracorpórea
algunsdiuréticospodemserutilizados,
comaqueleobjetivo.Asdiversassubs-
tâncias com efeitos diuréticos tem
mecanismosdeaçãodiferentes.
Ao se administrar um diurético,
ocorreaeliminaçãoassociadadesódio
eágua.Seodiuréticoeliminasseapenas
aáguados líquidosorgânicos,haveria
umaumentodaconcentraçãodesódio
noslíquidos,quesetornariamhiper-
tônicoseprovocariamumarespostados
receptoresosmóticos,seguidadeau-
mentodasecreçãodohormônioanti-
diurético.Oexcessodessehormônio
promoveria a reabsorção de grande
quantidadedeáguanostúbulos,anu-
landoosefeitosdodiurético.Quando
osódioéeliminadojuntocomaágua,a
concentração iônica dos líquidos se
mantém e não há estimulação anti-
diurética.
DIURÉTICOS
OSMÓTICOS
O manitol é uma substância que
quandoinjetadanacirculação,pode
atravessar fàcilmente os poros da
membrana glomerular, sendo intei-
ramentefiltradapelosglomérulos.Suas
moléculas,contudo,nãosãoreabsor-
vidasnostúbulosrenaiseasuapresença
no líquido dos túbulos gera uma
sobrecargaosmóticaimportante.Essa
pressãoosmóticaelevadanointeriordos
túbulosimpedeareabsorçãodaágua,
fazendocomquegrandesquantidades
defiltradoglomerularatravessemos
110 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
túbulosesejameliminadoscomourina.
Níveismuitoelevadosdeglicoseno
sangueproduzemumadiureseosmótica
semelhanteàdomanitol.
DIURÉTICOS
DEALÇA
Sãosubstânciascapazesdereduziros
sistemastransportadoresnascélulas
tubulares,diminuindoareabsorção
ativadossolutostubularese,portanto,
aumentando a pressão osmótica no
interior dos túbulos, propiciando
grandeaumentodaeliminaçãodeurina.
Osprincipaisdiuréticosdessetiposão
afurosemidaeoácidoetacrínico.
Afurosemidabloqueiaareabsorção
ativadoíoncloronaporçãoascendente
daalçadeHenleenosegmentorestante
do túbulo distal. Como os íons cloro
nãosãoreabsorvidos,osíonspositivos
absorvidos em conjunto, principal-
menteosódiotambémnãosãoabsor-
vidos. O bloqueio da reabsorção de
cloroesódiodeterminadiurese,porque
permitequegrandesquantidadesde
solutossejamlevadasatéostúbulos
distais onde atuam como agentes
osmóticoseimpedemareabsorçãoda
água. Além disso, a incapacidade de
reabsorveríonscloroesódiopelaalça
de Henle para o interstício medular,
diminuiaconcentraçãodaquelesíons
no líquido intersticial medular e a
capacidade de concentrar urina fica
muitoreduzida.Essesdoismecanismos
tornam a furosemida um diurético
muitoeficiente.
Existemoutrosdiuréticosqueatuam
pormecanismosdiferentes,masnãosão
aplicadosnassituaçõesagudas,comona
circulaçãoextracorpórea.
OSRINSNACIRCULAÇÃOEXTRACORPÓREA
Diversas alterações funcionais e
orgânicasdosrinstemsidodetectadas
emrelaçãocomacirculaçãoextracor-
pórea.Esta,podeafetaradversamentea
funçãorenal,pordiversosmecanismos,
taiscomo:
1. Variações do tônus vascular,
produzindovasodilataçãoehipotensão
sistêmica;
2. Exacerbação da atividade sim-
pática, com produção e liberação
excessiva de catecolaminas na cir-
culação;
3. Exacerbação da atividade hor-
monal, com produção e liberação
excessiva de vasopressina e outros
hormônios;
4. Traumatismo aos elementos
figuradosdosangue,comliberaçãode
substânciasvasoconstritoras,comoo
tromboxanoA2dasplaquetas;
5.Redistribuiçãoirregulardofluxo
arterialsistêmico,reduzindoafração
renaldodébito;
6.Reduçãodofluxosanguíneorenal;
7.Alteraçõesdovolumeedacompo-
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 111
siçãoeletrolíticadolíquidoextracelular;
8.Aumentodaeliminaçãorenalde
sódioepotássio;
9.Hemóliseehemoglobinúria;
10.Produçãodemicroemboliana
circulaçãorenal.
Ahipotensãoébastantecomum,no
inícioeapósosprimeirosmomentosda
circulaçãoextracorpórea.Écausadapor
umamultiplicidadedefatoresqueagem
emsincronia,comoareduçãodofluxo
de perfusão em relação ao débito
cardíacodopaciente,ahemodiluição
comreduçãodaviscosidadedosangue
ediluiçãodascatecolaminascirculantes,
eareduçãodaremoçãodebradicinina
pelospulmõesnafasede“bypass”total.
A hipotensão estimula a atividade
simpática e aumenta a produção de
catecolaminas,renina,angiotensina,
aldosteronaehormônioantidiurético.
Ocasionalmente, a hipotensão pro-
duzidapelacirculaçãoextracorpórea
induzaadministraçãodedrogasadre-
nérgicasouvasoconstritoras.
Osrinsparticipamdosmecanismos
de redistribuição protetora do fluxo
sanguíneo,namedidaemquesacrificam
oseuprópriofluxosanguíneoatravés
daconstriçãodasarteríolasaferentes,
paraaumentaroafluxosanguíneode
outros órgãos, como o cérebro e o
miocárdio,duranteperíodosdehipo-
tensãoehipovolemia.
Operíodoinicialdehipotensãoda
circulaçãoextracorpóreaéseguidopor
umperíododeelevaçãoprogressivada
pressãoarterialcausadopelaresposta
regulatóriadopróprioorganismoque,
comfrequência,resultaemhipertensão.
Avasoconstriçãoproduzidapelahipo-
termia,aelevaçãodaresistênciavascular
sistêmicaeaausênciadepulsatilidade
nacirculação,sãotambémcontributivos
nagênesedarespostahipertensiva.Os
mecanismosdessarespostahipertensiva,
produzemvasoconstriçãorenal,que
reduzofluxosanguíneorenal,predis-
pondoosrinsàisquemiaeinjúria.
Areduçãodofluxosanguíneorenal
reduz a energia disponível para os
mecanismosdaatividaderenalnormal,
inclusiveaautoregulação.Algumasdas
alteraçõesrenaisduranteacirculação
extracorpóreapodemseratribuidasà
essareduçãodosuprimentodeenergia,
particularmenteadepressãodasfunções
dereabsorçãoativa,dasecreçãorenale
daregulaçãodaconcentraçãoediluição.
Aautoregulaçãoeobalançotubular
dependemdaintegridadedosmeca-
nismos de reabsorção de sódio. A
eliminaçãoexcessivadesódio(natriu-
rese),queocorreduranteaperfusão,
estimula a resposta regulatória do
aparelhojusta-glomerular,queaumenta
aproduçãoderenina,angiotensinae
aldosterona, que acentuam a vaso-
constriçãorenal.Aaldosteronaaumenta
aeliminaçãodepotássioereduzade
sódio. Esta diurese eletrolítica, pode
causardesequilíbrioeletrolíticodurante
acirculaçãoextracorpórea.
Aredistribuiçãodofluxosanguíneo,
duranteacirculaçãoextracorpórea,é
umarespostaqueobjetivaapreservação
docérebroedocoração,àscustasdos
demais leitos vasculares, inclusive o
renal.Aredistribuiçãoéoresultadodo
aumento da atividade simpática; os
112 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
órgãosmaisafetadossãoosquetem
preponderânciadeinervaçãosimpática
emuitosreceptoressimpáticos,como
osrins.
Ahipotermiatambémcontribuipara
avasoconstriçãorenaleredistribuição
dofluxosanguíneorenal.Ofluxorenal
reduzidoéredistribuidoparaaperiferia
da camada cortical. O mecanismo
concentradordosrins(mecanismosde
contra-corrente),devidoàreduçãode
fluxonacamadamedularédeprimido.
Aproteçãodahipotermiaémenos
eficaz para os rins, em relação aos
demaisórgãos.Avasoconstriçãorenalé
precoceecorreantesqueoórgãoesteja
uniformemente resfriado. Além da
vasoconstrição,ahipotermiaproduzo
aumentodaviscosidadedosangue,que
favoreceaaglutinaçãointravascularque,
contudo,podeserminimizadapelouso
criteriosodahemodiluição.
Ahemodiluiçãocomsoluçõescris-
taloides,quandoemexcesso,predispõe
opacienteàformaçãodeedema,devido
àreduçãodapressãocoloido-osmótica
doplasmaediminuiareabsorçãonos
capilaresperitubulares,queresultaem
umadiureseaquosaericaemeletrolitos.
Alémdecontribuirnaformaçãode
microêmbolos de restos celulares, a
hemóliseproduzvasoconstriçãopela
liberação de produtos vasoativos do
interiordascélulaslesadas.Ahemoglo-
binalivreécaptadapelahaptoglobina
doplasmaesubsequentementemetabo-
lizadanofígado.Quandosãoatingidos
níveisexcessivosdehemoglobinalivre,
elaéfiltradanosgloméruloseexcretada
naurina.Porserumamoléculagrande,
com peso molecular de 68.000, a
hemoglobinaéfiltradacomdificuldade
epodecristalizarnostúbulosrenais,
causandoobstruçãoenecrosetubular.
Umapráticafrequenteparaprevenir
estaocorrência,consisteemalcalinizar
aurinaeestimularadiurese.Aalcalini-
zaçãodaurinadificultaacristalização
dahemoglobinaeseobtémpelaadmi-
nistração de bicarbonato de sódio. A
diureseéestimuladapelaadministração
demanitol,queaceleraaeliminaçãoda
hemoglobinalivre.
Hánumerosasevidênciasdequeos
efeitosdeletériosdacirculaçãoextra-
corpórea sobre os rins, incluindo a
produçãodeinsuficiênciarenalaguda,
estãorelacionadosàduraçãodaperfu-
são.Issotornaimperativaacriteriosa
monotorizaçãodafunçãorenal,princi-
palmentenasperfusõesqueseprolon-
gamporduasatrêshoras.
FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 113
REFERÊNCIAS SELECIONADAS
1. Abel, R.M.; Buckley, M.J.; Austen, W.G.; Barnett,
G.O.; Beck, C.H, Jr.; Fischer, J.E. - Etiology,
incidence, and prognosis of renal failure follow-
ing cardiac operations. Results of a prospective
analysis of 500 consecutive patients. J. Thorac.
Cardiovasc. Surg. 71, 32-33, 1976.
2. Anthoni, C.P.; Thibodeau, G.A. - The Urinary
System. Textbook of Anatomy and Physiology.
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3. Best, C.H. - Hydrogen ion concentration and the
excretion of urine. Best and Taylor’s Physiological
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4. Guyton, A.C. - Renal Anatomy, Physiology and
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5. Krian, A. - Incidence, prevention, and treatment
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6. Nash, F.D.; Rostofer, H.H.; Bailie, M.D.; Wathen,
R.L.; Schneider, E.G. Renin release. Relation to
renal sodium load and dissociation from hemody-
namic changes. Circ. Res. 22, 473-487, 1968.
7. Read, D.H.; Manners, J.M. - Osmolar excretion
after open heart surgery. Anaesthesia, 38, 1053-
1061, 1983.
8. Ruch, T.C.; Patton, H.D. - The kdney. Introduc-
tion, Morphology and Diuresis. Physiology and
Biophysics - Vol. 2: Circulation, Respiration and
Fluid Balance. W.B. Saunders, Philadelphia, 1974.
9. Taylor, K.M.; Morton, I.J.; Brown, J.J.; Bain, W.H.;
Caves,P.K> - Hypertension and the renin-
angiotensin system following open-heart surgery.
J. Thorac. Cardiovasc. Surg. 74, 840-848, 1977.
10. Utley, J.R. - Current techniques of cardio-
pulmonary bypass in cardiac surgery. in State of
the art reviews. Hanley & Belfus, Philadelphia,
1991.
11. Utley, J.R. - Renal Effects of Cardiopulmonary
Bypass. in Gravlee, G.P.; Davis, R.F.; Utley, J.R.
Cardiopulmonary Bypass. Principles and Prac-
tice. Williams & Wilkins, Baltimore, 1993.
12. Utley, J.R. - Renal Effects of Cardiopulmonary
Bypass. in Utley, J.R.: Pathophysiology and
Techniques of Cardiopulmonary Bypass. Vol I.
Williams & Wilkins, Baltimore, 1982.
13. Vander, A.J.; Sherman, J.H.; Luciano, D.S. -
Human Physiology - The Mechanisms of Body
Function. McGraw-Hill. New York, 1975.
14. Yeboah, E.D.; Petrie, A.; Pead, J.L. - Acute renal
failure and open heart surgery. Br. Med. J. 1: 415-
418, 1972.

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Cap5 renal

  • 2. 100 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
  • 3. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 101 A circulação extracorpórea é um agentecapazdeproduziralteraçõesna funçãodosistemarenalenoequilíbrio doslíquidosedoseletrolitosdoorga- nismo.Osrinssãofundamentaisna regulaçãodomeiointerno,emqueestão imersasascélulasdetodososórgãos. Osrinsdesempenhamduasfunções primordiais no organismo: 1. eli- minação de produtos terminais do metabolismo orgânico, como uréia, creatininaeácidoúricoe,2. controle dasconcentraçõesdaáguaedamaioria dos constituintes dos líquidos do organismo,taiscomosódio,potássio, cloro,bicarbonatoefosfatos. Osprincipaismecanismosatravésos quaisosrinsexercemassuasfunções sãoafiltraçãoglomerular,areabsorçãotubular easecreçãotubulardediversassubstâncias. Osistemaurinário,encarregadoda produção,coletaeeliminaçãodaurina estálocalizadonoespaçoretroperitonial, decadaladodacolunavertebraldorso- lombar.Éconstituidopelosrinsdireito eesquerdo,apelverenal,querecebeos coletoresdeurinadoparênquimarenal, osuretéres,abexigaeauretra. Os rins são envolvidos por uma cápsulafibrosaqueaoníveldohilorenal sedeixaatravessarpelaartériarenal,a veia renal e a pelve coletora que se continuacomoureter.Oparênquima renalapresentaduasregiõesbastante distintas:aregiãoperiférica,corticalou córtexrenalearegiãocentral,medular oumedularenal(Fig.5.1). Àsemelhançadoalvéolopulmonar na fisiologia respiratória, o rim é constituido de unidades funcionais completas,chamadasnéfron.Onéfron representa a menor unidade do rim; cadanéfronécapazdefiltrareformara urinaindependentementedosdemais. Fig. 5.1. Esquema do rim esquerdo, que demonstra as regiões cortical, medular e o hilo renal. No hilo penetra a artéria renal esquerda e emergem a veia renal e a pelve coletora. A função renal pode, portanto, ser compreendidaestudando-seafunçãode um único néfron. Existem aproxi- madamente1.200.000néfronsemcada rim,quefuncionamalternadamente, conformeasnecessidadesdoorganismo a cada momento. O néfron é cons- tituidobasicamenteporumgloméruloe umlongotúbuloquedesembocanos tuboscoletoresdeurina(Fig.5.2). O glomérulo é uma rede ou um novelo de capilares recobertos por célulasepiteliais.Umglomérulopode teraté50capilares.Osanguepenetra
  • 4. 102 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA noglomérulopelaarteríolaaferentee sáiatravésdaarteríolaeferente. A camada cortical do rim, a mais externa,éconstituidaprincipalmente por néfrons corticais, que tem os tubulos coletores menores que os nefronslocalizadosmaispróximosda regiãomedular,chamadosnéfronjusta- medulares. A camada medular é constituida principalmentepeloslongostubulos coletoresdeurina,quesejuntamem tubulosmaioresatéseconstituiremna pelverenal. Oglomérulotemafunçãodefiltrar osangueenquantoosistemadetúbulos coletores absorve parte do líquido filtrado nos glomérulos. Os túbulos tambémpodemsecretardiversassubs- tâncias,conformeasnecessidadesdo organismo. Envolvendocadagloméruloexiste uma cápsula, chamada cápsula de Bowmanquesecontinuacomotúbulo proximal. A pressão do sangue nos glomérulosproduzafiltraçãodelíquido paraointeriordacápsuladeBowman, deondeescoaparaotúbuloproximal. Dotúbuloproximalolíquidopenetra naalçadeHenle,quetemumaporção comparedemuitofina,chamadaseg- mentofinodaalçadeHenle.Daalçade Henle, o líquido penetra no túbulo distalqueseinserenumcanalcoletor, juntamentecomostúbulosdistaisde diversos outros glomérulos. O canal coletoracumulaaurinaprovenientede váriosnéfronseselançanapelverenal. O líquido filtrado no glomérulo, chamadofiltradoglomerular,étrans- formadoemurinaàmedidaquepassa pelostúbulosproximaledistal(Fig.5.3). Fig. 5.2. Esquema completo do néfron, mostrando o glomérulo e seus componentes e os tubos coletores, conforme descrição detalhada no texto. Fig. 5.3. Esquema simplificado do néfron, mostrando os principais componentes funcionais, conforme descrição do texto.
  • 5. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 103 Asartériasrenaissãoramosdaaorta abdominal.Aopenetrarnohilodorim, a artéria renal dá origem a diversos ramos,chamadosramosinterlobares quemergulhamnaprofundidadedo parênquimarenal.Dessesramosinter- lobares,emergemasartériasarqueadas das quais se originam as arteríolas aferentes. Cada arteríola aferente produzumtofoounovelodecapilares queconstituemoglomérulo;noextre- mo oposto os capilares se reunem novamente,formandoaviadesaídado glomérulo,aarteríolaeferente. Aarteríolaeferenteseramificaem diversosoutroscapilares,formandoa redecapilarperitubular,queseemara- nhacomostúbulosproximaisedistais dosistemacoletor.Outrosvasosemer- gemdaarteríolaeferenteesedirigem às regiões que circundam as alças tubulares,esãoconhecidoscomovasos retos,queapósformaremasalçasna medularenal,selançamnasveias. FUNÇÃO DONÉFRON Afunçãoessencialdonéfronconsiste emdepuraroplasmasanguíneodas substânciasquedevemsereliminadas do organismo. O néfron filtra uma grandeproporçãodoplasmasanguíneo atravésamembranaglomerular.Cerca de 1/5 do volume que atravessa o gloméruloéfiltradoparaacápsulade Bowmanquecoletaofiltradoglome- rular. Em seguida, à medida que o filtradoglomerularatravessaostúbulos, assubstânciasnecessárias,comoaágua e grande parte dos eletrólitos são reabsorvidas, enquanto as demais substâncias,comouréia,creatininae outras,nãosãoreabsorvidas.Aáguae assubstânciasreabsorvidasnostúbulos voltamaoscapilaresperitubularespara acirculaçãovenosaderetorno,sendo lançadas nas veias arqueadas, e fi- nalmente,naveiarenal.Umapartedos produtos eliminados pela urina é constituida de substâncias que são secretadaspelasparedesdostúbulose lançadasnolíquidotubular.Aurina formadanostúbuloséconstituidapor substânciasfiltradasdoplasmaepe- quenasquantidadesdesubstâncias secretadaspelasparedestubulares. Ofluxosanguíneoatravésdosrins corresponde, em média, à aproxi- madamente20%dodébitocardíaco, podendovariar,mesmoemcondições normais. Em um adulto de 60Kg de peso,odébitocardíacocorrespondea 4.800ml/min;afraçãorenaldodébito cardíacoseráde960ml.Ofluxosan- guíneo renal é muito maior que o necessárioparaosimplessuprimentode oxigênio. Cerca de 90% do fluxo sanguíneorenalsãodistrubuidospela camada cortical, onde abundam os glomérulose,apenas10%sedistribuem pelaregiãomedular. Osrinspossuemumeficientemeca- nismodeautoregulaçãoquepermite regularofluxodesanguee,atravésdele, afiltraçãoglomerular.Estemecanismo écapazdemanterumfluxorenalrelati- vamenteconstantecompressõesarte- riaisquevariamentre80e180mmHg.
  • 6. 104 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA Sobdeterminadascondições,comopor exemplo na depleção líquida ou no baixodébitocardíaco,quandoofluxo renal não pode ser mantido, o me- canismo autoregulador preserva a filtraçãoglomerular,produzindovaso- constrição da arteríola eferente, que mantémogradientetransglomerularde pressão.Aresistênciavascularrenalse ajustaautomàticamenteàsvariaçõesna pressãodeperfusãorenal.Asarteríolas aferenteeeferentesãoinfluenciadaspor muitosdosestímulosnervososehor- monaisvasculares,emborasuaresposta dependadasnecessidadesrenaiseseja moderada pelos mecanismos auto- regulatórios. Amembranaglomerularpossuitrês camadasprincipais:umacamadaendo- telial,doprópriocapilar,umacamada oumembranabasaleumacamadade célulasepiteliaisnafacecorrespondente àcápsuladeBowman.Apesardapre- sençadastrêscamadas,apermeabilidade damembranaglomerularécercade100 a1.000vêzesmaiordoqueaperme- abilidadedocapilarcomum.Afraçãode filtração glomerular é de aproxima- damente125ml/minuto.Em24horas são filtrados aproximadamente 180 litros de líquido por todos os glo- mérulos (filtrado glomerular), para formarde1a1,5litrosdeurina,oque demonstra a enorme capacidade de reabsorçãodostúbulosrenais.Olíquido reabsorvidonostúbulospassaparaos espaçosintersticiaisrenaisedaíparaos capilaresperitubulares.Paraatenderà essaenormenecessidadedereabsorção, oscapilaresperitubularessãoextre- mamenteporosos. Agrandepermeabilidadedamem- brana glomerular é dependente da estrutura daquela membrana e das numerosasfendaseporosexistentes, cujodiâmetropermitealivrepassagem das pequenas moléculas e impede a filtraçãodasmoléculasmaiores,como asproteinas. Ofiltradoglomerularpossuiapro- ximadamenteamesmacomposiçãodo plasma,excetoemrelaçãoàsproteinas. Existemnofiltradoglomerular,dimi- nutasquantidadesdeproteinas,princi- palmenteasdebaixopesomolecular. FILTRAÇÃOGLOMERULAR A filtração do plasma nos glo- mérulos, obedece às diferenças de pressão existentes no glomérulo. A pressão nas artérias arqueadas é de aproximadamente100mmHg.Asduas principaisáreasderesistênciaaofluxo renalatravésdonéfronsãoasarteríolas aferente e eferente. A pressão de 100mmHgnaarteríolaaferente,cáipara umapressãomédiade60mmHgnos capilares do glomérulo, sendo esta a pressãoquefavoreceasaídadoflitrado doplasmaparaacápsuladeBowman. A pressão no interior da cápsula de Bowmanédecercade18mmHg.Como nos capilares glomerulares 1/5 do
  • 7. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 105 plasmafiltraparaointeriordacápsula, aconcentraçãodeproteinasaumenta cercade20%àmedidaqueosangue passa pelos capilares do glomérulo, fazendo com que a pressão coloido- osmóticadoplasmaseelevede28para 36mmHg, com um valor médio de 32mmHg,noscapilaresglomerulares. A pressão no interior da cápsula de Bowmaneapressãocoloido-osmótica dasproteinasdoplasmasãoasforçasque tendemadificultarafiltraçãodoplasma noscapilaresglomerulares.Dessaforma apressãoefetivadefiltraçãonoscapila- resglomerularesédeapenas10mmHg, ou seja, a diferença entre a pressão arterialmédianoscapilares(60mmHg) e a soma da pressão da cápsula de Bowmancomapressãocoloido-osmó- ticadoplasma. Diversos fatores podem afetar a filtraçãoglomerular.Ofluxosanguíneo renal aumentado, pode aumentar o coeficientedefiltraçãoeaquantidade final de urina produzida. O gráu de vasoconstriçãodasarteríolasaferentes dos glomérulos faz variar a pressão glomerular e consequentemente a fraçãodefiltraçãoglomerular.Omesmo ocorrenaestimulaçãosimpáticaneuro- gênicaouatravésdedrogassimpáticas como a adrenalina, por exemplo. O estímulopelaadrenalinaproduzcons- triçãointensadasarteríolasaferentes, com grande redução da pressão nos capilares glomerulares que podem reduzir dràsticamente a filtração do plasma e consequente formação de urina. REABSORÇÃOTUBULAR Ofiltradoglomerularquealcançaos túbulosdonéfronfluiatravésdotúbulo proximal,alçadeHenle,túbulodistale canalcoletor,atéatingirapelverenal. Aolongodessetrajetomais de99%da água filtrada no glomérulo é rea- bsorvida, e o líquido que penetra na pelve renal constitui a urina pro- priamente dita. O túbulo proximal é responsávelpelareabsorçãodecercade 65%daquantidadedeáguafiltradanos capilaresglomerulares,sendoorestante reabsorvido na alça de Henle e no túbulodistal.Aglicoseeosaminoácidos sãoquaseinteiramentereabsorvidos comaáguaenquantooutrassubstâncias, pornãoseremreabsorvidosnotúbulos, tem a sua concentração no líquido tubular aumentada em cerca de 99 vêzes. Areabsorçãodaglicoseexemplifica bemosmecanismosdereabsorçãode determinadassubstânciasdentrodos túbulosrenais.Normalmentenãoexiste glicosenaurinaounomáximo,existem apenasligeirostraçosdaquelasubs- tância, enquanto no plasma a sua concentraçãooscilaentre80e120mg%. Todaaglicosefiltradaéràpidamente reabsorvidanostúbulos.Àmedidaque aconcentraçãoplasmáticadeglicosese aproximados200mg%,omecanismo
  • 8. 106 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA reabsortivo é acelerado até atingir o pontomáximo,emqueareabsorçãose tornaconstante,nãopodendosermais aumentada. Esse ponto é chamado limiardereabsorçãodaglicose.Acima do valor plasmático de 340mg%, a glicose deixa de ser completamente absorvidanosistematubularepassapara aurina,podendoserfacilmentedetec- tadapelostestesdeglicosúria. Osprodutosterminaisdometabo- lismo,comoauréia,creatininaeuratos tem outro tratamento nos túbulos renais.Apenasquantidadesmoderadas deuréia,aproximadamente50%dototal filtrado,sãoreabsorvidosnostúbulos enquantoacreatininanãoéreabsorvida. Osuratossãoreabsorvidosemcercade 85%, da mesma forma que diversos sulfatos,fosfatosenitratos.Comotodos são reabsorvidos em muito menor proporçãoqueaágua,asuaconcen- traçãoaumentasignificativamentena urinaformada. A reabsorção nos túbulos renais obedeceàdiferençadeconcentraçãodas substânciasentreoespaçointersticial peri-tubulareosvasosretosperitubu- lares.Areabsorçãodeáguaédependente da reabsorção de íon sódio, que é o solutomaisreabsorvidonostúbulos renais. Existemaindadoismecanismosde intercâmbio muito importantes. O primeiroserefereàtrocadeíonsódio (Na+ ) pelo íon hidrogênio (H+ ), nos túbulos,comopartedosmecanismosde regulação renal do equilíbrio ácido- básico. Quando há necessidade de eliminar íon hidrogênio, os túbulos secretamativamenteohidrogêniopara aluz,dentrodofiltradoe,emtroca,para manteroequilíbrioiônicoabsorvemo íon sódio. O outro mecanismo de intercâmbiocorrespondeàreabsorção deíonscloreto(Cl- )quandoháneces- sidadedeseeliminarácidosorgânicos pelomecanismodesecreçãotubular. Os mecanismos de transporte na reabsorçãotubularpodemserativosou passivos,dependendodanecessidadede utilizar energia celular para a sua realização.Osódio,aglicose,osfosfatos eosaminoácidosestãoentreassubs- tâncias cujo transporte é feito com utilizaçãodeenergiacelular,transporte ativo,enquantootransportedaágua, uréiaecloretosnãonecessitaconsumir aenergiadascélulas(transportepassivo). SECREÇÃOTUBULAR Asecreçãotubularatuaemdireção opostaàreabsorção.Assubstânciassão transportadasdointeriordoscapilares para a luz dos túbulos, de onde são eliminadaspelaurina.Osmecanismos desecreçãotubular,àsemelhançados mecanismosdereabsorção,podemser ativosoupassivos,quandoincluema utilizaçãodeenergiapelacélulaparaa suaexecuçãoounão.Osprocessosde secreçãomaisimportantesestãorela- cionados à secreção tubular de íon
  • 9. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 107 hidrogênio,potássioeamônia.Deter- minadassubstânciassãoeliminadasdo organismopelosmecanismosdesecre- CONCENTRAÇÃOEDILUIÇÃODAURINA ção tubular, após metabolização no fígado. Cercade1/5dosnéfrons,localizados naregiãojusta-medular,temasalçasde Henle imersas na medula renal e retornamaocórtex.Nestesglomérulos cercade65%dofiltradoglomerularé reabsorvidonotúbuloproximalcomo solução isotônica. Na porção mais espessa da alça de Henle, em que o epitélioérelativamenteimpermeávelà água,ocloretodesódioéativamente transportadodolumenparaoespaço intersticial da medula, criando um ambientehipertônicoeumgradiente osmóticoquepropiciamecanismosde secreção e reabsorção ditos contra- corrente,capazesdepermitiraosrinsa produção de urina concentrada ou diluida, conforme a necessidade de eliminarsubstânciasdissolvidasnaurina eanecessidadedepreservarágua.Os mecanismosfísico-químicosenvolvidos sãobastantecomplexosesãobaseados nasdiferençasdeconcentraçãodosódio entreointerstícioeoscapilaresperi- tubularesevasosretos. A filtração e a produção de urina dependemdediversosfatoresdentreos quaisomaisimportanteséaautore- gulaçãodofluxodesangueatravésos glomérulos. Dentre de limites fisio- lógicosaproduçãodiáriadeurinapor umadultooscilaentre1e1,5litros/dia. Adiuresemínima,capazdemanter aadequadaeliminaçãodedejetosdo metabolismo,equivalea0,5a1ml/Kg/ horaemcriançaseaproximadamente30 a40ml/horaparaosadultos. Osrinssãofundamentaisnaregu- lação do volume e da composição do líquidoextracelular(intersticial),através demecanismoscomplexosqueincluem variações das pressões vasculares, variaçõesdosvolumesfiltrados,alte- rações da osmolaridade e ação de hormônios. Osreceptoresexistentesnaparede dosátrios,direitoeesquerdo,quando distendidospelahipervolemia,alteram a frequência dos impulsos emitidos produzindoumareduçãodaatividade simpática,queresultaemdilataçãodas arteríolas aferentes e consequente aumentodafiltraçãoglomerular.Simul- tâneamente, na hipófise posterior, é inibidaasecreçãodehormônioanti- diurético,reduzindoareabsorçãode águanostúbulosdistaise,portanto, aumentandoovolumedaurinaelimi- nada. O hormônio antidiurético é responsávelpeloaumentodareabsorção deáguanostúbulosdistais,comoparte dosmecanismosreguladoresdovolume urinário. Um pequeno segmento do túbulo distal,pósalçadeHenle,seinsinuano ângulo entre as arteríolas aferente e
  • 10. 108 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA eferente nos glomérulos, formando umaregiãoespecial,conhecidacomo aparelhojusta-glomerular.Nesteaparelho, ascélulastemumadensidademaiorque asdemais,cosntituindoaregiãocha- madademáculadensa.Amáculadensaé capaz de detectar a concentração de sódio no túbulo distal e estimular a produçãoderenina,pelascélulasdo aparelho justa-glomerular. A renina catalizaaformaçãodeangiotensinaI‘a partirdoangiotensinogênioproduzido no fígado. A angiotensina I origina a angiotensina II, um potente vaso- constritor das arteríolas renais. A angiotensinaII,porseuturno,estimula aproduçãodaaldosteronapelaglândula supra-renal,quepromoveareabsorção desódioeaeliminaçãodepotássionos túbulosdistais,conformedemonstrao esquemadafigura5.4. TESTESDAFUNÇÃORENAL Aexperiênciatemdemonstradoque ocomprometimentodafunçãorenal pré-operatória, aumenta considera- velmente as chances de desenvol- vimentodeinsuficiênciarenalaguda após a circulação extracorpórea. A avaliação da função renal antes da perfusãoéfundamental,paraapreven- ção de injúria renal induzida pela perfusão. Certas cardiopatias cianóticas de longaduraçãopodemserassociadasà gráuslevesdeinsuficiênciarenal,bem como a aterosclerose, o diabetes e a hipertensãoarterial.Ahistóriaclínicae oexamedopacientepoderãomostrara existência de edema, alterações do volumeurinárioeapresençadeinfecção urinária. Ainsuficiênciarenalagudaéuma alteração grave, com mortalidade e morbidade elevadas, em que ocorre deterioraçãosúbitadafunçãorenal,que causaprofundadesordemnoequilíbrio doorganismo.Háextremareduçãoda excreçãodosprodutosnitrogenados, ureiaecreatinina;alteraçõesdaregu- laçãodovolumeedacomposiçãodos líquidosdoorganismoealteraçõesda síntese de determinados hormônios essenciais.Omarcoclínicodasindrome éaacumulaçãorápidadeprodutosfinais nitrogenados,levandoàuremiaprogres- sivaeàreduçãomarcantedadiurese.
  • 11. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 109 Ocasionalmenteainsuficiênciarenal agudapodeseacompanhardediurese abundante.Aurinaeliminadaporém, temdensidadebaixaporqueostúbulos perdemacapacidadedereabsorverágua e,emconsequênciaconcentraraurina. Aavaliaçãopré-operatóriadafunção renalincluiadeterminaçãodosníveis da uréia e da creatinina no plasma sanguíneoeoexamesumáriodaurina, paraadetecçãodapresençadeelemen- tosanormais. Aureíaplasmáticaoscilaentre20e 60mg%enquantoacreatininaoscila entre 1 e 2mg% nos adultos. Nas criançasosvaloresnormaisvariamcom aidade,sendo,emgeral,menores.O examedaurinanãodeverevelarprotei- núriaouhematúria.Anormalidadedos valoresdauréiaedacreatininaequivale àpresençadefunçãorenaladequada. Quando os valores de ureia ou da creatininaestãoelevadosouquandohá proteinúriaouhematúrianoexameda urina,torna-senecessáriaumaavaliação mais completa da função renal, na tentativadequantificarográudefunção renalexistente. AÇÃODOSDIURÉTICOS Osdiuréticossãosubstânciasque aumentamaformaçãodeurinaesua principalaplicaçãoéreduziraquanti- dade total de líquidos no organismo. Durante a circulação extracorpórea algunsdiuréticospodemserutilizados, comaqueleobjetivo.Asdiversassubs- tâncias com efeitos diuréticos tem mecanismosdeaçãodiferentes. Ao se administrar um diurético, ocorreaeliminaçãoassociadadesódio eágua.Seodiuréticoeliminasseapenas aáguados líquidosorgânicos,haveria umaumentodaconcentraçãodesódio noslíquidos,quesetornariamhiper- tônicoseprovocariamumarespostados receptoresosmóticos,seguidadeau- mentodasecreçãodohormônioanti- diurético.Oexcessodessehormônio promoveria a reabsorção de grande quantidadedeáguanostúbulos,anu- landoosefeitosdodiurético.Quando osódioéeliminadojuntocomaágua,a concentração iônica dos líquidos se mantém e não há estimulação anti- diurética. DIURÉTICOS OSMÓTICOS O manitol é uma substância que quandoinjetadanacirculação,pode atravessar fàcilmente os poros da membrana glomerular, sendo intei- ramentefiltradapelosglomérulos.Suas moléculas,contudo,nãosãoreabsor- vidasnostúbulosrenaiseasuapresença no líquido dos túbulos gera uma sobrecargaosmóticaimportante.Essa pressãoosmóticaelevadanointeriordos túbulosimpedeareabsorçãodaágua, fazendocomquegrandesquantidades defiltradoglomerularatravessemos
  • 12. 110 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA túbulosesejameliminadoscomourina. Níveismuitoelevadosdeglicoseno sangueproduzemumadiureseosmótica semelhanteàdomanitol. DIURÉTICOS DEALÇA Sãosubstânciascapazesdereduziros sistemastransportadoresnascélulas tubulares,diminuindoareabsorção ativadossolutostubularese,portanto, aumentando a pressão osmótica no interior dos túbulos, propiciando grandeaumentodaeliminaçãodeurina. Osprincipaisdiuréticosdessetiposão afurosemidaeoácidoetacrínico. Afurosemidabloqueiaareabsorção ativadoíoncloronaporçãoascendente daalçadeHenleenosegmentorestante do túbulo distal. Como os íons cloro nãosãoreabsorvidos,osíonspositivos absorvidos em conjunto, principal- menteosódiotambémnãosãoabsor- vidos. O bloqueio da reabsorção de cloroesódiodeterminadiurese,porque permitequegrandesquantidadesde solutossejamlevadasatéostúbulos distais onde atuam como agentes osmóticoseimpedemareabsorçãoda água. Além disso, a incapacidade de reabsorveríonscloroesódiopelaalça de Henle para o interstício medular, diminuiaconcentraçãodaquelesíons no líquido intersticial medular e a capacidade de concentrar urina fica muitoreduzida.Essesdoismecanismos tornam a furosemida um diurético muitoeficiente. Existemoutrosdiuréticosqueatuam pormecanismosdiferentes,masnãosão aplicadosnassituaçõesagudas,comona circulaçãoextracorpórea. OSRINSNACIRCULAÇÃOEXTRACORPÓREA Diversas alterações funcionais e orgânicasdosrinstemsidodetectadas emrelaçãocomacirculaçãoextracor- pórea.Esta,podeafetaradversamentea funçãorenal,pordiversosmecanismos, taiscomo: 1. Variações do tônus vascular, produzindovasodilataçãoehipotensão sistêmica; 2. Exacerbação da atividade sim- pática, com produção e liberação excessiva de catecolaminas na cir- culação; 3. Exacerbação da atividade hor- monal, com produção e liberação excessiva de vasopressina e outros hormônios; 4. Traumatismo aos elementos figuradosdosangue,comliberaçãode substânciasvasoconstritoras,comoo tromboxanoA2dasplaquetas; 5.Redistribuiçãoirregulardofluxo arterialsistêmico,reduzindoafração renaldodébito; 6.Reduçãodofluxosanguíneorenal; 7.Alteraçõesdovolumeedacompo-
  • 13. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 111 siçãoeletrolíticadolíquidoextracelular; 8.Aumentodaeliminaçãorenalde sódioepotássio; 9.Hemóliseehemoglobinúria; 10.Produçãodemicroemboliana circulaçãorenal. Ahipotensãoébastantecomum,no inícioeapósosprimeirosmomentosda circulaçãoextracorpórea.Écausadapor umamultiplicidadedefatoresqueagem emsincronia,comoareduçãodofluxo de perfusão em relação ao débito cardíacodopaciente,ahemodiluição comreduçãodaviscosidadedosangue ediluiçãodascatecolaminascirculantes, eareduçãodaremoçãodebradicinina pelospulmõesnafasede“bypass”total. A hipotensão estimula a atividade simpática e aumenta a produção de catecolaminas,renina,angiotensina, aldosteronaehormônioantidiurético. Ocasionalmente, a hipotensão pro- duzidapelacirculaçãoextracorpórea induzaadministraçãodedrogasadre- nérgicasouvasoconstritoras. Osrinsparticipamdosmecanismos de redistribuição protetora do fluxo sanguíneo,namedidaemquesacrificam oseuprópriofluxosanguíneoatravés daconstriçãodasarteríolasaferentes, paraaumentaroafluxosanguíneode outros órgãos, como o cérebro e o miocárdio,duranteperíodosdehipo- tensãoehipovolemia. Operíodoinicialdehipotensãoda circulaçãoextracorpóreaéseguidopor umperíododeelevaçãoprogressivada pressãoarterialcausadopelaresposta regulatóriadopróprioorganismoque, comfrequência,resultaemhipertensão. Avasoconstriçãoproduzidapelahipo- termia,aelevaçãodaresistênciavascular sistêmicaeaausênciadepulsatilidade nacirculação,sãotambémcontributivos nagênesedarespostahipertensiva.Os mecanismosdessarespostahipertensiva, produzemvasoconstriçãorenal,que reduzofluxosanguíneorenal,predis- pondoosrinsàisquemiaeinjúria. Areduçãodofluxosanguíneorenal reduz a energia disponível para os mecanismosdaatividaderenalnormal, inclusiveaautoregulação.Algumasdas alteraçõesrenaisduranteacirculação extracorpóreapodemseratribuidasà essareduçãodosuprimentodeenergia, particularmenteadepressãodasfunções dereabsorçãoativa,dasecreçãorenale daregulaçãodaconcentraçãoediluição. Aautoregulaçãoeobalançotubular dependemdaintegridadedosmeca- nismos de reabsorção de sódio. A eliminaçãoexcessivadesódio(natriu- rese),queocorreduranteaperfusão, estimula a resposta regulatória do aparelhojusta-glomerular,queaumenta aproduçãoderenina,angiotensinae aldosterona, que acentuam a vaso- constriçãorenal.Aaldosteronaaumenta aeliminaçãodepotássioereduzade sódio. Esta diurese eletrolítica, pode causardesequilíbrioeletrolíticodurante acirculaçãoextracorpórea. Aredistribuiçãodofluxosanguíneo, duranteacirculaçãoextracorpórea,é umarespostaqueobjetivaapreservação docérebroedocoração,àscustasdos demais leitos vasculares, inclusive o renal.Aredistribuiçãoéoresultadodo aumento da atividade simpática; os
  • 14. 112 - VOL I - FUNDAMENTOS DA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA órgãosmaisafetadossãoosquetem preponderânciadeinervaçãosimpática emuitosreceptoressimpáticos,como osrins. Ahipotermiatambémcontribuipara avasoconstriçãorenaleredistribuição dofluxosanguíneorenal.Ofluxorenal reduzidoéredistribuidoparaaperiferia da camada cortical. O mecanismo concentradordosrins(mecanismosde contra-corrente),devidoàreduçãode fluxonacamadamedularédeprimido. Aproteçãodahipotermiaémenos eficaz para os rins, em relação aos demaisórgãos.Avasoconstriçãorenalé precoceecorreantesqueoórgãoesteja uniformemente resfriado. Além da vasoconstrição,ahipotermiaproduzo aumentodaviscosidadedosangue,que favoreceaaglutinaçãointravascularque, contudo,podeserminimizadapelouso criteriosodahemodiluição. Ahemodiluiçãocomsoluçõescris- taloides,quandoemexcesso,predispõe opacienteàformaçãodeedema,devido àreduçãodapressãocoloido-osmótica doplasmaediminuiareabsorçãonos capilaresperitubulares,queresultaem umadiureseaquosaericaemeletrolitos. Alémdecontribuirnaformaçãode microêmbolos de restos celulares, a hemóliseproduzvasoconstriçãopela liberação de produtos vasoativos do interiordascélulaslesadas.Ahemoglo- binalivreécaptadapelahaptoglobina doplasmaesubsequentementemetabo- lizadanofígado.Quandosãoatingidos níveisexcessivosdehemoglobinalivre, elaéfiltradanosgloméruloseexcretada naurina.Porserumamoléculagrande, com peso molecular de 68.000, a hemoglobinaéfiltradacomdificuldade epodecristalizarnostúbulosrenais, causandoobstruçãoenecrosetubular. Umapráticafrequenteparaprevenir estaocorrência,consisteemalcalinizar aurinaeestimularadiurese.Aalcalini- zaçãodaurinadificultaacristalização dahemoglobinaeseobtémpelaadmi- nistração de bicarbonato de sódio. A diureseéestimuladapelaadministração demanitol,queaceleraaeliminaçãoda hemoglobinalivre. Hánumerosasevidênciasdequeos efeitosdeletériosdacirculaçãoextra- corpórea sobre os rins, incluindo a produçãodeinsuficiênciarenalaguda, estãorelacionadosàduraçãodaperfu- são.Issotornaimperativaacriteriosa monotorizaçãodafunçãorenal,princi- palmentenasperfusõesqueseprolon- gamporduasatrêshoras.
  • 15. FISIOLOGIA RENAL - Vol I - 113 REFERÊNCIAS SELECIONADAS 1. Abel, R.M.; Buckley, M.J.; Austen, W.G.; Barnett, G.O.; Beck, C.H, Jr.; Fischer, J.E. - Etiology, incidence, and prognosis of renal failure follow- ing cardiac operations. Results of a prospective analysis of 500 consecutive patients. J. Thorac. Cardiovasc. Surg. 71, 32-33, 1976. 2. Anthoni, C.P.; Thibodeau, G.A. - The Urinary System. Textbook of Anatomy and Physiology. C.V. Mosby Co. St. Louis, 1977. 3. Best, C.H. - Hydrogen ion concentration and the excretion of urine. Best and Taylor’s Physiological Basis of Medical Practice. Williams & Wilkins, Baltimore, 1979. 4. Guyton, A.C. - Renal Anatomy, Physiology and Pharmacology. Textbook of Medical Physiology, 6th. edition. W.B. Saunders, Philadelphia, 1981. 5. Krian, A. - Incidence, prevention, and treatment of acute renal failure following cardiopulmonary bypass. Int. Anesth. Clin. 14, 87-101, 1976. 6. Nash, F.D.; Rostofer, H.H.; Bailie, M.D.; Wathen, R.L.; Schneider, E.G. Renin release. Relation to renal sodium load and dissociation from hemody- namic changes. Circ. Res. 22, 473-487, 1968. 7. Read, D.H.; Manners, J.M. - Osmolar excretion after open heart surgery. Anaesthesia, 38, 1053- 1061, 1983. 8. Ruch, T.C.; Patton, H.D. - The kdney. Introduc- tion, Morphology and Diuresis. Physiology and Biophysics - Vol. 2: Circulation, Respiration and Fluid Balance. W.B. Saunders, Philadelphia, 1974. 9. Taylor, K.M.; Morton, I.J.; Brown, J.J.; Bain, W.H.; Caves,P.K> - Hypertension and the renin- angiotensin system following open-heart surgery. J. Thorac. Cardiovasc. Surg. 74, 840-848, 1977. 10. Utley, J.R. - Current techniques of cardio- pulmonary bypass in cardiac surgery. in State of the art reviews. Hanley & Belfus, Philadelphia, 1991. 11. Utley, J.R. - Renal Effects of Cardiopulmonary Bypass. in Gravlee, G.P.; Davis, R.F.; Utley, J.R. Cardiopulmonary Bypass. Principles and Prac- tice. Williams & Wilkins, Baltimore, 1993. 12. Utley, J.R. - Renal Effects of Cardiopulmonary Bypass. in Utley, J.R.: Pathophysiology and Techniques of Cardiopulmonary Bypass. Vol I. Williams & Wilkins, Baltimore, 1982. 13. Vander, A.J.; Sherman, J.H.; Luciano, D.S. - Human Physiology - The Mechanisms of Body Function. McGraw-Hill. New York, 1975. 14. Yeboah, E.D.; Petrie, A.; Pead, J.L. - Acute renal failure and open heart surgery. Br. Med. J. 1: 415- 418, 1972.