SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 32
Baixar para ler offline
Jorge Cândido de Assis
Cecília Cruz Villares
Rodrigo Affonseca Bressan




   CONVERSANDO SOBRE
   a esquizofrenia




             Recuperação e novas perspectivas   6
Sobre os autores
   Jorge Cândido de Assis é portador de esquizofrenia há 22 anos, atualmente é
aluno do curso de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e diretor adjunto da
Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE).
Tem participado e ministrado aulas para o curso de medicina da Universidade Fe-
deral de São Paulo (UNIFESP), palestrante nos três últimos Congressos Brasileiros
de Psiquiatria.
   Cecília Cruz Villares é vice-presidente da ABRE; terapeuta ocupacional e tera-
peuta de família; mestre em saúde mental e doutoranda pela UNIFESP, onde tra-
balha no Programa de Esquizofrenia (PROESQ) e supervisiona alunas do curso de
Especialização em Terapia Ocupacional em Saúde Mental. Participa ativamente em
âmbitos nacional e internacional do estudo e combate ao estigma relacionado aos
transtornos mentais.
    Rodrigo Affonseca Bressan é familiar de uma pessoa que teve esquizofrenia
e membro da ABRE; professor adjunto do Departamento de Psiquiatra da UNIFESP;
Ph.D. pelo Institute of Psychiatry, University of London, onde é professor honorário;
coordenador do PROESQ e coordenador do Laboratório de Neurociências Clínicas
(LiNC), ambos da UNIFESP.
Sumário



      Introdução ........................................................... 4

      A ciência ajuda a entender os sintomas ........ 6

      Avanços científicos permitem entender
      melhor a esquizofrenia ..................................... 8

      A ciência mostra como
      acontece a esquizofrenia ................................10

      Medicamentos: utilizando bem
      os recursos disponíveis ....................................12

      Medicamentos: novas perspectivas..............14

      Recuperação de Carlos ....................................16

      Recuperação de Francisca ..............................18

      Recuperação de Gabriel ..................................20

      Juntos o caminho fica mais fácil ...................22

      Participação e defesa de direitos ..................24

      O futuro – detecção precoce ..........................26

      Esperança realista ............................................28
Introdução
Este livreto fecha a série “Conversando sobre a esquizofrenia”. Nele,
abordaremos os avanços da ciência no conhecimento da esquizofrenia
e as alternativas possíveis para a recuperação, ambos como novas
perspectivas. Procuramos apresentar, em linguagem acessível, uma
visão panorâmica da produção atual de conhecimentos sobre a esqui-
zofrenia, porque acreditamos que esses novos conhecimentos podem
contribuir para melhorar os tratamentos e também para diminuir o pre-
conceito da população em relação aos transtornos mentais.
    Trazemos também algumas informações sobre a detecção preco-
ce da esquizofrenia, um campo de pesquisas muito promissor pelo
potencial de contribuir para a criação de estratégias de diagnóstico,
tratamento e educação da comunidade que efetivamente mude o ce-
nário da esquizofrenia em um futuro próximo.
   Os grandes avanços no desenvolvimento de medicamentos podem
melhorar a vida das pessoas com esquizofrenia, trazendo uma pers-
pectiva animadora para o futuro. Mas para que isso ocorra, medi-
camentos e intervenções psicossociais precisam ser oferecidos de
forma consistente e coordenada.
    Para gerar práticas integradas e socialmente responsáveis, o
conhecimento científico deve promover diálogo entre os vários pro-
fissionais de saúde e entre os profissionais e os pacientes e seus
familiares. Nesse sentido, apresentamos também neste volume como
os familiares e portadores podem se organizar para ter acesso a tra-
tamentos atuais e também se integrarem na comunidade, seja por
meio de grupos de ajuda mútua ou de participação em movimentos
pela defesa de direitos.
   A esquizofrenia é uma doença que modifica a vida da pessoa e de
seus familiares. Entendemos que a recuperação não significa voltar

                                  4
a um estado anterior ao aparecimento da doença, mas aprender a
conviver com a doença e viver com qualidade, individualmente e em
família. A partir dessa visão, apresentamos como se deu esse proces-
so para os personagens desta série – Carlos, Francisca e Gabriel.
   Escrever estes livretos foi um desafio que demandou muito diálogo
e reflexão, e resultou em crescimento para nós, autores desta série.
Esperamos que esta coleção contribua para esclarecer os aspectos
vivenciais da esquizofrenia e para melhorar tanto sua qualidade de
vida, nosso leitor, quanto a de seus familiares. Com esse objetivo
formamos uma equipe e construímos um site para você continuar a
conversar conosco.
   Esperamos sua visita!
   http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao
   www.abrebrasil.org.br




                                 5
A ciência ajuda a entender os sintomas
A esquizofrenia é a doença mental mais estudada no mundo, e exis-
tem grandes avanços científicos que vêm contribuindo para o melhor
entendimento da doença. Inúmeros grupos em todo o mundo investi-
gam os mais diversos aspectos da esquizofrenia, tais como: sintomas,
tratamento com medicamentos, técnicas de psicoterapia, abordagens
psicossociais e neurocognitivas, funcionamento cerebral, desenvol-
vimento do cérebro durante o crescimento da pessoa, genética por
intermédio do estudo dos cromossomos e como eles afetam a doença
e aspectos sociais da esquizofrenia, principalmente o estigma asso-
ciado à doença.
   Preconceitos são frutos da ignorância das pessoas. Os avanços do
conhecimento científico sobre os vários aspectos da esquizofrenia es-
tão proporcionando a mudança de idéias antigas e preconceituosas.
Apresentaremos a seguir um exemplo esclarecedor desse processo
de mudança:
    Durante muito tempo, Carlos ouviu vozes que comentavam sobre
seu comportamento ou lhe davam ordens (alucinações auditivas). As
pessoas achavam que ele ouvia vozes que não existiam e rotulavam
isso de “loucura”. Pesquisas utilizando técnicas que permitem obser-
var o cérebro em funcionamento (ressonância magnética funcional)
mostram que, quando uma pessoa tem uma alucinação auditiva como
a de Carlos, existe uma alteração nos padrões de funcionamento do
cérebro. Ocorre uma ativação de áreas cerebrais ligadas à audição e
à linguagem. Assim, apesar das pessoas acharem que as vozes não
existem, as pesquisas mostram que elas são geradas pelo cérebro e,
por isso, quem ouve vozes as percebe como estímulos reais. A dificul-
dade do portador de esquizofrenia está em perceber e compreender
que as vozes estão sendo geradas no cérebro e não no meio ambien-
te, o que desorienta muito a pessoa.

                                  6
Quando atuam em equipe, os profissionais de saúde podem traçar
estratégias de tratamento que integrem a compreensão desses fenô-
menos e o entendimento das vivências de cada paciente. O psiquiatra
prescreve medicamentos que, por meio de mudanças químicas no
cérebro, permitem que o portador comece a perceber que as vozes
não são externas, mas produzidas “dentro de sua cabeça”. Ao dimi-
nuir a importância das vozes, é possível para o portador se concentrar
em outras coisas mais relevantes para sua vida e construir junto aos
profissionais que o atendem um projeto terapêutico que leve em con-
sideração todos os aspectos significativos para sua recuperação.
   Hoje vivemos em um mundo em que as mudanças são muito rápi-
das e isso favorece que novos conhecimentos e descobertas científi-
cas sejam mais prontamente acessíveis e ajudem a melhorar nossas
vidas. Continuaremos a abordar esse assunto nos próximos capítulos.

                                  7
Avanços científicos permitem entender
melhor a esquizofrenia
A transmissão de informação entre as células do cérebro acontece por
meio de substâncias químicas, chamadas neurotransmissores. Assim,
nossa visão, audição, paladar, olfato e tato, bem como tudo o que pensa-
mos e sentimos, são informações transmitidas por substâncias químicas
dentro do cérebro. Os avanços científicos permitem estudar como essas
substâncias funcionam para as pessoas que têm esquizofrenia, por in-
termédio de um tipo de tomografia (neuroimagem molecular). Vejamos,
com um exemplo de Gabriel, como esses novos conhecimentos explicam
aspectos importantes da esquizofrenia.
    Gabriel, em sua segunda crise (livreto 2), passou a dar muita impor-
tância às coisas que escrevia. Na medida em que a crise foi se intensi-
ficando, ele passou a ter certeza que suas idéias mudariam a maneira
de ver das novas gerações e desenvolveu a crença de que escritores
famosos queriam roubar essas idéias. Essa crença era tão importante
para Gabriel que ele passou a se dedicar integralmente para evitar que
as idéias fossem roubadas e deixou sua vida de lado. Esse é um exemplo
típico de delírio, um sintoma da esquizofrenia que se caracteriza por uma
idéia pouco provável, mas que para a pessoa se constitui numa certeza
absoluta e se torna o centro de sua vida.
   Até pouco tempo, não se sabia por que as pessoas tinham delírios.
Com o surgimento de técnicas especiais de imagem, tornou-se possível
investigar alguns neurotransmissores no cérebro. As pesquisas mostra-
ram que portadores de esquizofrenia apresentam um aumento de do-
pamina cerebral quando estão apresentando sintomas como delírios.
A dopamina é um neurotransmissor que tem a função de determinar a
importância que damos às coisas que percebemos e pensamos, processo
chamado de “saliência”. Portanto, o aumento da função da dopamina em

                                    8
determinadas regiões do cérebro leva a uma atribuição de importância
(saliência) exagerada às idéias que são pouco prováveis.
   No caso de Gabriel, a crença de que escritores famosos estavam rou-
bando suas idéias era pouco provável, mas para Gabriel era fundamental,
e ele não pensava em outra coisa. Segundo essa concepção, essa idéia
ganhou relevância exagerada a ponto de ele perder a crítica (juízo de
realidade), em razão do aumento de dopamina em seu cérebro.
    Os medicamentos para esquizofrenia, também chamados antipsicóti-
cos, diminuem a ação aumentada da dopamina e, dessa forma, reduzem
a intensidade dos sintomas. Ou seja, com a medicação, as impressões
e certezas ficam menos absolutas e mais relativas. Por exemplo, depois
que Gabriel voltou a tomar os remédios, a impressão de que os escritores
queriam roubar suas idéias foi ficando progressivamente menos impor-
tante. Com o tempo, outros fatos importantes da vida, tais como estudar,
namorar e conviver com os amigos passaram a ser mais relevantes, en-
quanto o delírio foi perdendo importância.
   É importante salientar que os exames que descrevemos são reali-
zados somente para pesquisas em esquizofrenia, nas quais se utiliza
um número grande de pessoas para observar diferenças pela média.
Apesar desses exames não serem utilizados na
prática clínica, eles contri-
buem muito para um co-
nhecimento mais apro-
fundado da doença e
no desenvolvimento
de medicações mais
eficientes.




                                   9
A ciência mostra como
acontece a esquizofrenia
O que cada pessoa é e como se relaciona com o mundo é resultado da
soma de vários fatores. Desde o período em que estamos na barriga de
nossas mães até a vida adulta, nosso cérebro está em constante desen-
volvimento. Essas mudanças do cérebro ao longo da vida são chamadas
de neurodesenvolvimento. Os cientistas também estão estudando como
a esquizofrenia acontece nesse caminho de amadurecimento do cére-
bro. Por outro lado, a esquizofrenia, em muitos casos, acarreta processos
neurodegenerativos que podem ser entendidos como perdas de funcio-
namento. A compreensão desses processos pode ajudar as pessoas a
minimizar esses déficits e essas perdas. Vamos esclarecer esses dois
conceitos importantes para o entendimento da esquizofrenia.
   Nosso corpo é resultado de um processo biológico que se inicia na
concepção, quando a carga genética do óvulo da mãe e a carga genética
do espermatozóide do pai se unem e inicia-se um processo que nos dá
a vida. Pequenos problemas durante a gestação e o parto podem tornar
as pessoas mais vulneráveis a desenvolver doenças no futuro, e esse é
o caso da esquizofrenia. A doença, no entanto, só se manifestará no final
da adolescência ou no começo da vida adulta.
   Quando nascemos, nosso cérebro não está pronto, ele vai amadu-
recendo até o começo da idade adulta. Nesse processo, o cérebro pode
se formar de diversas maneiras, que variam de pessoa para pessoa em
conseqüência de fatores genéticos e ambientais. Vários fatores podem
induzir alterações no neurodesenvolvimento determinando mudanças no
funcionamento das células do cérebro (neurônios) e na forma como elas
se conectam umas às outras, chamada tecnicamente de “arborização
neuronal”. Essas alterações levam às mudanças estruturais no cérebro e
a um aumento da liberação de dopamina.

                                   10
Em função desse neurodesenvolvimento diferenciado, as pessoas se
tornam mais vulneráveis aos efeitos desorganizadores de fatores, tais
como o abuso de drogas, eventos traumáticos e situações muito estres-
santes que podem desencadear o início da doença. Estresse e substân-
cias como a maconha e a cocaína aumentam a liberação de dopamina.
Em indivíduos que não são vulneráveis, essas substâncias não causam
grandes problemas, mas nas pessoas que têm alterações do neurode-
senvolvimento e predisposição genética, esses fatores podem desenca-
dear um quadro agudo de esquizofrenia.
    Depois que a doença aparece, a ocorrência de novas crises e o tempo
decorrido sem tratamento determinam uma progressão dessas altera-
ções na estrutura cerebral e em seu funcionamento, que são chamadas
de processos neurodegenerativos. Por isso é muito importante seguir os
tratamentos e principalmente tomar os remédios, pois eles protegem o
cérebro prevenindo o aparecimento de novas crises.
   Muitos avanços foram feitos no sentido de entender os aspectos
científicos da esquizofrenia e muito ainda está por vir. Espera-se que
o conhecimento mais aprofundado da doença permita no futuro o de-
senvolvimento de tratamentos ainda mais eficazes para o controle e
eventualmente a prevenção da esquizofrenia.

                                  11
Medicamentos: utilizando
bem os recursos disponíveis
Em relação aos medicamentos para tratar esquizofrenia (antipsicóticos),
vamos nos lembrar que existe um grande número de medicamentos
disponíveis, e eles representam importantes avanços em termos de efi-
cácia com menores efeitos colaterais (ver livreto 3). Em seguida, apre-
sentamos os desenvolvimentos na área que devem contribuir para o
tratamento no futuro.
    Após muitas pesquisas feitas, podemos hoje afirmar com convicção
que os medicamentos antipsicóticos são fundamentais para o tratamento
da esquizofrenia. Os principais benefícios dos medicamentos são evitar
novo episódio agudo da doença e permitir que a pessoa com esquizofrenia
tenha bom controle dos sintomas para que possa ter uma vida com mais
qualidade. A medicação não exclui as intervenções psicossociais, tais
como terapia ocupacional, psicoterapias, psicoeducação, grupos de con-
vivência e terapia familiar. Na verdade, medicamentos e terapias se com-
plementam, pois os medicamentos permitem que os pacientes tenham
funcionamento melhor e se beneficiem ainda mais das intervenções.
   Por exemplo, Gabriel pôde se recuperar de sua segunda crise por
meio do uso dos medicamentos, das sessões de terapia ocupacional, que
o ajudaram a reorganizar seu cotidiano, e da psicoterapia, que serviu de
suporte para ele lidar com sentimentos negativos e de desmoralização
por ter esquizofrenia.
    O desenvolvimento dos medicamentos antipsicóticos representou um
grande avanço para o tratamento da esquizofrenia ao permitir que vá-
rias pessoas pudessem viver bem na comunidade. No entanto, a primeira
geração de medicamentos era utilizada em doses altas e induzia muitos
efeitos colaterais semelhantes aos da doença de Parkinson, tais como
tremor das mãos, rigidez muscular e lentidão. Nas últimas duas déca-

                                   12
das, surgiu uma segunda geração de medicamentos que são tão eficazes
quanto aqueles de primeira geração, mas causam muito menos efeitos
colaterais. Com esses novos produtos, não tem sentido que os portado-
res de esquizofrenia sofram efeitos colaterais desagradáveis por longo
tempo. Assim que esses sintomas ocorram, deve-se diminuir as doses ou
trocar o medicamento por um que não cause tanto desconforto.
   Gabriel, por exemplo, teve efeitos colaterais, queixou-se para seu mé-
dico, e este resolveu trocar seu remédio. Gabriel se adaptou bem à troca,
e passou a tomá-lo regularmente, o que permitiu que ele seguisse um
caminho de recuperação reconstruindo sua vida.
   Para os pacientes que não respondem a dois medicamentos conven-
cionais (refratários), existe medicação específica, que é especialmente
eficaz nessas situações. Apesar de o tratamento ser um pouco mais
complicado por exigir exames de sangue semanais, ele vale a pena, pois
pode mudar a vida das pessoas, melhorando drasticamente os sintomas.
O exemplo de Carlos, discutido no livreto 3, demonstra isso com clareza.




                                   13
Medicamentos: novas perspectivas
No mundo todo, existe um grande investimento por parte das agências
governamentais de pesquisa e da indústria farmacêutica para desen-
volver novos medicamentos. Até o momento, todos os medicamentos
antipsicóticos disponíveis comercialmente agem no sistema de um
neurotransmissor chamado dopamina (um dos elementos da transmis-
são de informação no cérebro). Esses medicamentos funcionam bem
para a redução de sintomas chamados positivos, tais como alucina-
ções e delírios, e para evitarem-se novos episódios agudos da doença.
No entanto, eles são menos eficazes em sintomas chamados negativos,
como o isolamento e a dificuldade de sociabilização. Existem muitas
pesquisas buscando medicamentos que atuem em outros sistemas de
transmissão cerebral (como o glutamato), que possam ser mais efica-
zes nos sintomas negativos.
   Alguns pacientes apresentam dificuldades cognitivas, tais como pro-
blemas para concentrar a atenção, para manter informações na memó-
ria e para coordenar o planejamento de uma tarefa. Essas alterações
dificultam o dia-a-dia, atrapalhando até mesmo a medicação e o acom-
panhamento nas terapias. Existe uma série de medicamentos sendo de-
senvolvidos exatamente com o propósito de melhorar o desempenho
cognitivo das pessoas com esquizofrenia.
   Outras pesquisas concentram-se em testar medicamentos desenvol-
vidos para evitar processos cerebrais que resultem na cronificação da
doença, chamados medicamentos neuroprotetores. Caso essa nova clas-
se de medicamentos venha a funcionar, imagina-se que serão especial-
mente úteis nos estágios iniciais da doença ou até mesmo no período que
antecede seus primeiros sinais, antes que todos os sintomas da doença
se manifestem.

                                  14
Hoje, o psiquiatra lança mão dos medicamentos que estão disponíveis
e aos quais a pessoa tem acesso, principalmente os que ela pode retirar
gratuitamente nas farmácias do Estado. Muitos avanços estão ocorrendo
e devem contribuir para o tratamento num futuro próximo, mas lembre-
mos que os medicamentos disponíveis atualmente para tratar esquizo-
frenia já são uma grande conquista, infelizmente não acessível a todos.
É fundamental que os portadores e as famílias conheçam seus efeitos
para que possam ajudar o médico e os terapeutas a encontrar a melhor
opção para cada caso.




                                  15
Recuperação de Carlos
A esquizofrenia apareceu na vida de Carlos de forma grave, pois, mes-
mo com os medicamentos, os sintomas continuaram a dificultar suas
relações familiares e sociais, causando desentendimentos e isolamento.
Essa situação só pôde ser contornada com um tratamento específico
para esquizofrenia refratária. Entretanto, no caso de Carlos, a doença
acarretou perdas em áreas importantes de seu funcionamento. Para ele,
a recuperação consistiu em um processo de aprendizado a partir das
condições de estabilização que os tratamentos proporcionaram, com o
controle dos sintomas.
    No início de seu percurso de tratamento, o local onde se tratava era o
único espaço público que Carlos freqüentava. Considerando tal restrição
de vida, os profissionais de saúde foram incentivando-o e criando condi-
ções para ampliar sua rede social. É importante lembrar-se que algumas
atividades que para a maioria das pessoas parecem simples podem de-
mandar grande esforço para o portador de esquizofrenia. Por exemplo,
Carlos já conhecia há anos Seu Fábio, o jornaleiro, mas foi preciso muito
esforço para tomar a iniciativa de falar com ele e pedir para olhar algu-
mas revistas de seu interesse. Esse foi um grande passo que abriu cami-
nho com o tempo para outros maiores, como fazer amizade e jogar com
as pessoas da praça. Aos poucos, o convívio desfez a imagem negativa
da doença como algo perigoso na comunidade, e Carlos passou a atuar
como monitor na escola infantil do bairro nos fins de semana.
   A família de Carlos aprendeu com as experiências e no diálogo com
os profissionais de saúde que ele tem certas limitações que precisam
ser respeitadas e que em muitas coisas precisa ser cuidado. Ao mesmo
tempo, Carlos também foi descobrindo novas maneiras de viver e estar
com as pessoas, de corresponder ao acolhimento da família e encontrar
seu lugar no mundo.

                                    16
Esse é o sentido da recuperação de Carlos: superar a perda das re-
ferências do que é a realidade e construir seu espaço entre as pessoas.
Para quem olha de fora parece que as mudanças foram pequenas, mas
quem já viveu um período de completa desorientação na vida pode en-
tender o verdadeiro crescimento humano que Carlos experimentou ao
longo de sua recuperação.
    Nos últimos anos, Carlos vem aprendendo pintura com uma terapeuta
ocupacional que tem formação em artes. No início, os quadros eram pou-
co expressivos, mas Carlos foi aprendendo com ela noções de estética e
técnicas de pintura, e desenvolveu um potencial que até então não sabia
ter. Essa terapeuta mostrou os trabalhos de Carlos para um especialista
que reconheceu seu valor artístico e propôs a ele expor alguns de seus
quadros em uma galeria de arte. Carlos, pela primeira vez em tanto tem-
po, sentiu-se muito realizado!
   A recuperação é um longo percurso e todos podem construir esse
caminho, não importa quantas crises vividas ou dificuldades enfrentadas.
O que realmente importa é criar e restabelecer relações significativas
com as pessoas e procurar realizar coisas que estejam a seu alcance.
Entendemos que as questões importantes para qualquer pessoa que pro-
cura viver bem valem também para o portador de esquizofrenia.

                                  17
Recuperação de Francisca
Francisca foi afetada pela esquizofrenia de maneira que as experiências
que ela teve sempre foram percebidas como reais. Ela nunca viveu o
estranhamento que permite pôr em dúvida se as coisas realmente estão
acontecendo ou não. A recuperação de Francisca foi dando-se a partir de
mudanças que foram possíveis desde o controle dos sintomas, na me-
dida em que ela, depois de várias crises, passou a confiar e concordar
com seu pai e seguir os tratamentos propostos.
    O fato de Francisca nunca ter aceitado ter uma doença mental a
levou a tentar sempre impor suas certezas aos familiares. Uma vez que
tais certezas eram frutos de seus sintomas, esse processo dificultou o
relacionamento familiar e social e exigiu muita paciência dos pais e da
irmã, por quase dois anos, até Francisca aceitar o tratamento com medi-
cação de depósito ministrada nas consultas com o psiquiatra. Francisca
só aceitou se tratar quando percebeu a dedicação sincera da família e
confiou que o tratamento que estavam propondo seria bom para ela e
para todos.
   Os demais profissionais do serviço no qual Francisca se tratava, per-
cebendo sua dificuldade para aderir ao plano terapêutico, incentivaram-
na a seguir o acompanhamento com o psiquiatra e recomendaram um
curso de mosaico em um centro cultural. Com o controle dos sintomas,
Francisca foi reencontrando caminhos para viver melhor. O apoio da fa-
mília e o curso de mosaico possibilitaram a ela fazer novas amizades.
   No centro cultural ela conheceu um rapaz, Alexandre, e logo se criou
grande afinidade entre eles. Depois de alguns meses de amizade próxi-
ma e atividades de lazer em comum, Francisca e Alexandre começaram
a namorar. Esse relacionamento trouxe um novo colorido para a vida
de Francisca, um tipo de troca especial marcada por cumplicidade de
sentimentos e afetos que deram novo significado para sua vida. Todas as

                                  18
dificuldades que ela viveu até então passaram a ter menos importância
em seu cotidiano. Atualmente Francisca faz outros cursos oferecidos no
centro cultural, participa da vida familiar principalmente com a mãe e a
irmã, e divide sua intimidade com o namorado.
   A recuperação de Francisca mostra que quando a pessoa não se
compreende doente é importante procurar caminhos de negociação para
construir um sentido para o tratamento, já que esse não é entendido
como necessário pela pessoa. Nesse percurso, é importante preservar
os laços de confiança, por mais difícil que seja o relacionamento com a
pessoa doente. A confiança é a ponte para a aceitação, pois é mais fácil
concordar com as pessoas em quem confiamos.
   A pessoa que não aceita que tem a esquizofrenia, porque não se vê
doente, precisa de uma atenção especial para seguir os tratamentos e
construir um processo de recuperação. É importante entender que isso
também é um sintoma da esquizofrenia que precisa de cuidado e acompa-
nhamento. Há muitos portadores nessa condição e a história de Francisca
é um exemplo de que com os cuidados da família e dos profissionais de
saúde é possível, com o tempo, buscar um caminho de recuperação.




                                   19
Recuperação de Gabriel
Gabriel teve seu caminho de vida mudado pela esquizofrenia, que o
levou a uma experiência interior muito sofrida e deixou marcas profun-
das em sua maneira de se ver no mundo. Seu caminho de recuperação,
além dos tratamentos e controle dos sintomas, passou também por
um processo de achar seu lugar na vida e se desfazer do sofrimento
de saber-se diferente das outras pessoas por causa de seu transtorno
mental. A consciência da doença pode ser um fardo muito pesado para
alguns portadores. Esse foi o caso de Gabriel.
   Ao longo do tempo, Gabriel foi estabelecendo relacionamentos com
seus familiares e com os profissionais de saúde que tornaram sua vida
possível de ser suportada. Os irmãos e os pais foram aprendendo como
serem acolhedores com Gabriel. O psiquiatra, Dr. Marcelo, pôde sempre
ser receptivo às queixas e às questões de Gabriel, e mostrar caminhos
para que ele entendesse as experiências e melhorasse. Fátima, a tera-
peuta ocupacional, ajudou Gabriel a manter e procurar novas ativida-
des, auxiliando-o a perceber a importância destas para dar sentido ao
dia-a-dia. Sônia, a psicóloga, acompanhou o processo de sofrimento de
Gabriel e o ajudou a ir desfazendo-se dele, apontando possibilidades e
servindo de suporte para que essa superação se tornasse possível.
   Gabriel passou um tempo trabalhando como aprendiz de marceneiro
com Seu Agostinho, um senhor com a sabedoria da vida que o acolheu e
lhe deu bons conselhos, convencendo-o a voltar a estudar. Seu pai pas-
sou para ele a tarefa de cuidar do orçamento da casa, até mesmo dos
pagamentos no banco, o que o ajudou muito a resgatar sua auto-estima.
Gabriel descobriu que lidava bem com números. Após assistir algumas
aulas de introdução à estatística na faculdade do irmão, decidiu fazer
um curso de estatística. Prestou o vestibular, foi aprovado, e durante o
curso foi aos poucos conseguindo reencontrar seu lugar no mundo, com
novas amizades e superação de suas dificuldades intelectuais.

                                   20
Hoje Gabriel está trabalhando com estatística em uma empresa,
utiliza as habilidades práticas aprendidas com a Fátima, o bom-senso
aprendido com Dr. Marcelo e Seu Agostinho, tem a tranqüilidade interior
construída com a Sônia e a responsabilidade que aprendeu com seu
pai. É um bom funcionário e trabalha com atividades que gosta de de-
senvolver. Tem cuidado e responsabilidade com seus tratamentos, vai
regularmente ao psiquiatra e toma os remédios todos os dias.
   A recuperação de Gabriel mostra que a esquizofrenia é uma doença,
mas também é uma experiência humana com possibilidades de supe-
ração. Se olharmos tudo apenas como sintomas da doença, não conse-
guiremos ver outras possibilidades que a vida oferece. Gabriel teve um
longo caminho de aprendizado com a esquizofrenia e entendeu como
encontrar um caminho para sua vida. Esse é o sentido da esperança
realista na superação das dificuldades impostas pela esquizofrenia.



                                  21
Juntos o caminho fica mais fácil
Apresentamos até aqui os avanços da ciência em relação à esquizofrenia e
o percurso de nossos protagonistas rumo à recuperação. Queremos, neste
capítulo, enfatizar a importância do apoio à família, pois sabemos que as
questões que os familiares das pessoas com esquizofrenia enfrentam são
também complexas e centrais para a recuperação de seus entes queridos.
    Vimos até agora como os familiares de Gabriel, Carlos e Francisca
foram aprendendo a lidar com os altos e baixos da doença e desenvol-
veram maneiras de se aproximar para melhor compreendê-los. Mas no-
vas dúvidas e inquietações surgem no decorrer da vida da família, por
exemplo, questões relativas ao futuro de seus filhos. Os familiares de
nossos protagonistas encontraram meios de compartilhar suas questões
por meio de grupos de apoio em encontros promovidos por associações
de familiares de sua cidade. Nesses espaços de troca, entenderam tam-
bém que tão importante quanto seguir o tratamento e buscar informações
sobre novas perspectivas é associarem-se para a troca de experiências,
o apoio mútuo e a defesa de direitos. Nesses encontros, os familiares de
nossos protagonistas encontraram:
   • outros familiares com histórias semelhantes e soluções criativas
     para as dificuldades;
   • familiares com histórias muito diferentes e problemas mais agu-
     dos ou complicados, o que os ajudou a ver que eles têm recursos
     para ajudar essas pessoas solitárias, exaustas e sem esperança;
   • profissionais com quem aprender sobre vários aspectos da con-
     vivência com a doença e sobre cuidados com a saúde;
   • amigos com quem partilhar bons e maus momentos;
   • alternativas de atividades na comunidade;
   • informações sobre tratamentos existentes, sobre o funcionamento
     da rede pública de atenção em saúde mental e sobre direitos e
     benefícios dos portadores de transtornos mentais.

                                   22
Diante dos desafios da esquizofrenia, é preciso vencer o isolamento, a
vergonha e a sensação de impotência. Muitas questões que a família vive
podem ter resoluções mais fáceis e efetivas quando compartilhadas com
outras pessoas que vivem situações semelhantes.
   A experiência dos autores desta série na organização de uma asso-
ciação de portadores e familiares desde 2002 é de que juntos temos
mais potência para lidar com questões práticas, para nos desfazer de
sentimentos negativos, entender e aceitar a esquizofrenia. Juntos, profis-
sionais, familiares e portadores, podemos nos fortalecer para encontrar
caminhos e construir novas compreensões e soluções para os desafios
impostos pela esquizofrenia.
    O momento atual é de grandes mudanças no atendimento à saúde
mental no Brasil, por isso é tão importante promover novas abordagens
de tratamento e disseminar as experiências bem-sucedidas entre fami-
liares, portadores e profissionais de saúde de todo o País. É essa união
de esforços que propiciará que os avanços no conhecimento tornem-se
práticas que mudem o cenário da esquizofrenia no País.




                                   23
Participação e defesa de direitos
A esquizofrenia, como todas as doenças de longa evolução, demanda
tratamento continuado ao paciente e apoio à família para que todos
desenvolvam recursos para enfrentar seus desafios e dificuldades.
Entretanto, uma parte considerável das dificuldades não se deve à
doença em si, mas ao desconhecimento, ao preconceito e à falta de
recursos para o tratamento na rede pública. Nesse sentido, é impor-
tante que pacientes e familiares conheçam mais sobre seus direitos e
exijam que eles sejam cumpridos.
   O Brasil tem uma política nacional de saúde mental que vem sendo
aplicada por meio de legislação específica. Familiares e portadores po-
dem e devem conhecer mais sobre essa política – leis, portarias, dados
e serviços – acessando o portal do Ministério da Saúde: http://portal.
saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=925.
   Os familiares também podem atuar nas decisões sobre os proce-
dimentos cotidianos relativos ao sistema de tratamento de saúde em
seus municípios por intermédio da participação nos conselhos de saú-
de. Há muitas maneiras de participar: saber o que está acontecendo
na comunidade, buscar recursos e juntar-se a outros para demandar
melhorias e mudanças são exemplos de atividade civil nessa área.
    Existem hoje no Brasil dezenas de grupos e associações trabalhando
para que pessoas que têm transtornos mentais recebam tratamento
e apoio dignos em suas comunidades. Apresentamos neste livreto a
atuação da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de
Esquizofrenia (Abre) para ilustrar como as organizações da sociedade
civil podem se unir para gerar mudanças na comunidade.
    A Abre, fundada em São Paulo em 2002 por um grupo de fami-
liares, portadores e amigos, prioriza ações a fim de possibilitar que
seus membros sejam protagonistas e que gerem o diálogo entre todos

                                  24
os participantes. Dentre as principais atividades, desenvolve: grupos
de apoio para familiares e para portadores; encontros públicos para
conversar sobre questões relacionadas à esquizofrenia com a partici-
pação de profissionais, familiares e portadores; estratégias de infor-
mação por meio de informativos, boletins, materiais impressos e um
site (www.abrebrasil.org.br).
   Além disso, a Abre tem atuado na construção de uma rede de inter-
câmbio, apoio e defesa de direitos junto a outras associações e movi-
mentos nacionais e internacionais, buscando contribuir para fortalecer
ações em parceria e disseminar informação e esperança às pessoas,
aos grupos, e às associações afins no Brasil e na América Latina.
   Esta série de livretos é também uma iniciativa que visa a contribuir
para que as pessoas afetadas pela esquizofrenia fortaleçam-se para
vencer o isolamento e combater o estigma em relação à esquizofrenia
e aos transtornos mentais em geral. Queremos trocar experiências e
incentivar as pessoas a conhecer, apoiar e atuar em suas comunidades
pelo fortalecimento das associações já constituídas.




                                  25
O futuro – detecção precoce
Uma das frentes de pesquisa inovadoras relacionadas à esquizofrenia se
dedica a detectar o aparecimento da doença em suas fases iniciais, tam-
bém chamadas de pródromos. Quando isso é possível, o início do trata-
mento pode diminuir sensivelmente as chances de uma primeira crise,
evitando perdas nos relacionamentos da pessoa e minimizando os efeitos
da doença no cérebro, melhorando muito o prognóstico da esquizofrenia.
    Sabe-se hoje que, antes da esquizofrenia aparecer, há um conjunto
específico de mudanças no funcionamento da pessoa. Ter essas mudan-
ças não significa que a doença aparecerá, mas que a pessoa tem um
risco alto de ter esquizofrenia. O que os cientistas fazem? Eles desen-
volveram testes elaborados que detectam essas mudanças e aplicam
esses testes na população jovem, na faixa etária em que normalmente
a esquizofrenia aparece (16 a 25 anos). Aquelas pessoas que têm um
risco alto são convidadas a seguir um acompanhamento periódico sem
nenhum uso de medicamento. As pessoas desse grupo que apresenta-
rem os sintomas iniciais da esquizofrenia começam o tratamento logo
no surgimento da doença.
   A detecção precoce na população em geral é um processo muito
trabalhoso, exige entrevistar e aplicar testes em muitas pessoas para
encontrar apenas algumas que têm o risco de desenvolver a esquizofre-
nia. Esse tipo de pesquisa se justifica por dois motivos: o acompanha-
mento precoce da esquizofrenia pode contribuir para que as pessoas
tenham um futuro melhor e com menos sofrimento; os avanços nessas
pesquisas poderão fornecer aos futuros médicos conhecimentos e pro-
cedimentos para reconhecer em seus pacientes casos de esquizofrenia
em sua fase inicial.
   Outra linha de pesquisa que se relaciona com a detecção precoce
é o desenvolvimento de medicamentos neuroprotetores que evitem os

                                  26
processos cerebrais que afetam o cérebro da pessoa com esquizofrenia.
Caso esses medicamentos venham a funcionar, no futuro será possível
desenvolver procedimentos de prevenção da esquizofrenia.
    Um aspecto muito positivo dessas pesquisas em detecção precoce
é que elas são acompanhadas de um trabalho educativo com os jo-
vens sobre a importância da saúde mental. Com isso, espera-se que
os jovens aprendam que a esquizofrenia é uma doença e que tem trata-
mento, e que esse entendimento contribua para diminuir o preconceito e
a discriminação sofridos pelos portadores.
    Hoje podemos vislumbrar um futuro melhor para as pessoas que po-
derão ter esquizofrenia, de serem acolhidas e tratadas nas fases iniciais
da doença com medicações cada vez mais eficazes e protetoras. Este é
o grande investimento dos cientistas para descobrir novas maneiras de
tratar e minimizar os efeitos da esquizofrenia.




                                   27
Esperança realista
Nesta série de seis livretos, procuramos abordar vários aspectos da esqui-
zofrenia, escolhendo apresentar atitudes e entendimentos que sejam úteis
para você, nosso leitor. É preciso dizer que escrever os livretos exigiu mui-
to diálogo entre os autores, negociação entre nossos diferentes pontos de
vista e, às vezes, superar divergências para construir acordos, semelhante
ao que ocorre no percurso de negociação com a doença, na vivência do
portador e entre ele e as outras pessoas envolvidas.
   Um de nossos objetivos foi apresentar temas e situações nos quais
nossos leitores pudessem se reconhecer, enxergando o lado humano do
convívio com a esquizofrenia, pois sabemos que esta é uma grande difi-
culdade. Outro objetivo foi convidar nossos leitores a procurar conhecer
suas questões particulares. É importante o reconhecimento como ponto
de partida para, por meio dele, procurar entender as questões individuais
que são vivenciadas, caminhos e soluções próprios.
    As histórias de Gabriel, Carlos e Francisca, seus familiares e amigos,
foram constituídas com base em pessoas com quem convivemos. Sabía-
mos desde o início que não daríamos conta de todas as histórias que
conhecemos, então, nos orientamos por intermédio da esperança realista
para apresentar alguns caminhos possíveis.
    Temos consciência das dificuldades reais que muitas pessoas com es-
quizofrenia e seus familiares enfrentam em seu dia-a-dia. Nesse sentido,
procuramos reunir um pouco de nossa experiência e apontar as possibili-
dades diante da doença, porque o sofrimento e os problemas imensos que
as pessoas vivem as tornam freqüentemente prisioneiras dele e dificultam
o reconhecimento de alternativas.
   Desejamos, sinceramente, que nosso trabalho possa cumprir o papel
de promover o diálogo entre todas as pessoas envolvidas e interessadas
na questão da esquizofrenia. Muitas dificuldades só podem ser superadas

                                     28
quando conseguimos ver o mundo com os olhos do outro, para entender os
porquês de suas atitudes e de seu comportamento. É um exercício neces-
sário e constante na esquizofrenia, seja para entender o que acontece com
o portador, seja para o portador entender que os profissionais de saúde e
familiares querem o melhor para ele. Este é o verdadeiro papel do diálogo.
    O Brasil passa atualmente por um processo de consolidar o tratamen-
to dos transtornos mentais na comunidade, deixando para trás o modelo
de exclusão representado pelas longas internações para doenças como
a esquizofrenia. Entendemos que a série “Conversando sobre a esqui-
zofrenia” soma-se a esse esforço de esclarecer as pessoas para que os
tratamentos sejam os melhores possíveis, dentro das condições de cada
local e de cada um.
    Sabemos que não esgotamos o tema. Muitas histórias são diferentes
daquelas que contamos nestes livretos, e, mesmo aqueles que tenham
reconhecido nas trajetórias de Gabriel, Francisca, Carlos e seus familiares,
histórias muito semelhantes às suas próprias, terão outras questões não
abordadas nestes livretos. Portanto, reconhecendo a importância de infor-
mar com qualidade e escutar nossos leitores, formamos uma equipe que
mantém uma página de psicoeducação sobre a esquizofrenia na internet,
na qual pretendemos ampliar a proposta de nossa série e continuar con-
versando sobre a esquizofrenia.
   Faça-nos uma visita!
   http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao
   www.abrebrasil.org.br




                                    29
Av. Vereador José Diniz, 3.300, 15o andar, Campo Belo – 04604-006 – São Paulo, SP Fone: 11 3093-3300
                                                                                 .
• www.segmentofarma.com.br • segmentofarma@segmentofarma.com.br
Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Diretor administrativo-financeiro: Antonio Carlos
Alves Dias Editor de arte: Maurício Domingues Gerente de negócios: Marcela Crespi Assistente comercial: Karina
Cardoso Coordenador-geral: Alexandre Costa Coordenadora editorial: Fabiana Souza Projeto gráfico: Renata Variso
Diagramadora: Andrea T. H. Furushima Ilustrações: Claudio Murena Revisora: Renata Del Nero Produtores gráficos:
Fabio Rangel e Tiago Manga Cód. da publicação: 6839.06.08
A nossa intenção e a nossa motivação com essa
             série de livretos é contribuir para melhorar a vida das
             pessoas afetadas pela esquizofrenia e seus familiares.
                Nós, os autores, temos grande interesse em conhe-
             cer as suas opiniões e as suas experiências com a lei-




                                                                       1616563 - Produzido em junho/2008
             tura, para isso mantemos abertos os seguintes canais
             de comunicação:


                   http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao
                   http://www.abrebrasil.org.br




www.abrebrasil.org.br

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Ansiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoAnsiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoRafael Almeida
 
Depressaocompatibilidade
DepressaocompatibilidadeDepressaocompatibilidade
DepressaocompatibilidadeRenata Semann
 
Perturbações Mentais
Perturbações MentaisPerturbações Mentais
Perturbações MentaisJorge Barbosa
 
Seminario saude mental
Seminario saude mentalSeminario saude mental
Seminario saude mentalmorganal13
 
05 esquizofrenia ppbi n
05 esquizofrenia ppbi n05 esquizofrenia ppbi n
05 esquizofrenia ppbi nGraça Martins
 
Aconselhamento para adultos enlutados
Aconselhamento para adultos enlutadosAconselhamento para adultos enlutados
Aconselhamento para adultos enlutadosMary Kay do Brasil
 
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticosEsquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticosSimoneHelenDrumond
 
Esquizofrenia E Estrutura Organizacional
Esquizofrenia E  Estrutura OrganizacionalEsquizofrenia E  Estrutura Organizacional
Esquizofrenia E Estrutura OrganizacionalAntonio Luis Sanfim
 
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio - dezembro 2014 - policia...
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio -  dezembro 2014 - policia...Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio -  dezembro 2014 - policia...
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio - dezembro 2014 - policia...Dr. Icaro Alves Alcântara
 
3º Tema: Que papo é esse de neurose?
3º Tema: Que papo é esse de neurose?3º Tema: Que papo é esse de neurose?
3º Tema: Que papo é esse de neurose?monnavasconcelos
 
Borderline hegenberg.pdf
 Borderline   hegenberg.pdf Borderline   hegenberg.pdf
Borderline hegenberg.pdfHolosconsultant
 
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante VieiraAnáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante VieiraThiago Neves
 
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)Alexandre Simoes
 
Depressão - Marcelly e Marcilene
Depressão -  Marcelly e MarcileneDepressão -  Marcelly e Marcilene
Depressão - Marcelly e Marcilenemahvieira
 

Mais procurados (20)

Esquizofrenia - CETAM
Esquizofrenia - CETAMEsquizofrenia - CETAM
Esquizofrenia - CETAM
 
Ansiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superaçãoAnsiedade, Depressão & superação
Ansiedade, Depressão & superação
 
Depressaocompatibilidade
DepressaocompatibilidadeDepressaocompatibilidade
Depressaocompatibilidade
 
Perturbações Mentais
Perturbações MentaisPerturbações Mentais
Perturbações Mentais
 
Seminario saude mental
Seminario saude mentalSeminario saude mental
Seminario saude mental
 
Decifra me ou te devoro
Decifra me ou te devoroDecifra me ou te devoro
Decifra me ou te devoro
 
05 esquizofrenia ppbi n
05 esquizofrenia ppbi n05 esquizofrenia ppbi n
05 esquizofrenia ppbi n
 
Aconselhamento para adultos enlutados
Aconselhamento para adultos enlutadosAconselhamento para adultos enlutados
Aconselhamento para adultos enlutados
 
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticosEsquizofrenia e outros transtornos psicóticos
Esquizofrenia e outros transtornos psicóticos
 
Esquizofrenia E Estrutura Organizacional
Esquizofrenia E  Estrutura OrganizacionalEsquizofrenia E  Estrutura Organizacional
Esquizofrenia E Estrutura Organizacional
 
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio - dezembro 2014 - policia...
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio -  dezembro 2014 - policia...Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio -  dezembro 2014 - policia...
Palestra stress, ansiedade, depressão e suicídio - dezembro 2014 - policia...
 
Transtornos mentais
 Transtornos mentais Transtornos mentais
Transtornos mentais
 
3º Tema: Que papo é esse de neurose?
3º Tema: Que papo é esse de neurose?3º Tema: Que papo é esse de neurose?
3º Tema: Que papo é esse de neurose?
 
Borderline hegenberg.pdf
 Borderline   hegenberg.pdf Borderline   hegenberg.pdf
Borderline hegenberg.pdf
 
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante VieiraAnáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira
Anáclise e Dependência Afetiva - Ana Carolina Barcelos Cavalcante Vieira
 
Cuidador de idoso_29
Cuidador de idoso_29Cuidador de idoso_29
Cuidador de idoso_29
 
365 an 07_fevereiro_2012.ok
365 an 07_fevereiro_2012.ok365 an 07_fevereiro_2012.ok
365 an 07_fevereiro_2012.ok
 
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)
PSICOPATOLOGIA II: Aula 05 (CID-10 – F20 a F29)
 
Depressão - Marcelly e Marcilene
Depressão -  Marcelly e MarcileneDepressão -  Marcelly e Marcilene
Depressão - Marcelly e Marcilene
 
Esquizofrenia
EsquizofreniaEsquizofrenia
Esquizofrenia
 

Semelhante a Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 6 - Recuperação e novas perspectivas

Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docx
Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docxMentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docx
Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docxMagalyKarpen2
 
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!Leonardo Pereira
 
Guia pratico sobre psicoses
Guia pratico sobre psicosesGuia pratico sobre psicoses
Guia pratico sobre psicosesSUELI SANTOS
 
Apostila psicologia-clinica-life-ead
Apostila psicologia-clinica-life-eadApostila psicologia-clinica-life-ead
Apostila psicologia-clinica-life-eadSilvanaLima74
 
O estilo emocional do cerebro - richard j. davidson[1]
O estilo emocional do cerebro   - richard j. davidson[1]O estilo emocional do cerebro   - richard j. davidson[1]
O estilo emocional do cerebro - richard j. davidson[1]Sueli Oliveira
 
Trabalho FEC - FINAL PROJECT
Trabalho FEC - FINAL PROJECTTrabalho FEC - FINAL PROJECT
Trabalho FEC - FINAL PROJECTMaria Neves
 
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdf
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdfAULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdf
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdfMirnaKathary1
 
Apometria -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismo
Apometria  -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismoApometria  -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismo
Apometria -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismoAlessandra F. Torres
 
José lacerda apometria
José lacerda   apometriaJosé lacerda   apometria
José lacerda apometriaandreafratti
 
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeGlaciane Betiollo
 
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdfGabriela Benigno
 
Psicanálise e uso de medicação
Psicanálise e uso de medicaçãoPsicanálise e uso de medicação
Psicanálise e uso de medicaçãoEdleusa Silva
 
Estilos parentais & práticas educativas
Estilos parentais & práticas educativasEstilos parentais & práticas educativas
Estilos parentais & práticas educativasFabiana Silva
 
spi9 psicologia e psicanálise cristã
spi9 psicologia e psicanálise cristãspi9 psicologia e psicanálise cristã
spi9 psicologia e psicanálise cristãfaculdadeteologica
 

Semelhante a Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 6 - Recuperação e novas perspectivas (20)

esquizofrenia,
esquizofrenia,esquizofrenia,
esquizofrenia,
 
Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docx
Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docxMentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docx
Mentes_e_Cerebros_para_Gestalt_Terapeutas.docx
 
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!
A pesquisa mediúnica na obra de lamartine palhano!
 
Guia pratico sobre psicoses
Guia pratico sobre psicosesGuia pratico sobre psicoses
Guia pratico sobre psicoses
 
Hipnoterapia
HipnoterapiaHipnoterapia
Hipnoterapia
 
Esquizofrenia
EsquizofreniaEsquizofrenia
Esquizofrenia
 
Apostila psicologia-clinica-life-ead
Apostila psicologia-clinica-life-eadApostila psicologia-clinica-life-ead
Apostila psicologia-clinica-life-ead
 
Esquizofrenia
EsquizofreniaEsquizofrenia
Esquizofrenia
 
O estilo emocional do cerebro - richard j. davidson[1]
O estilo emocional do cerebro   - richard j. davidson[1]O estilo emocional do cerebro   - richard j. davidson[1]
O estilo emocional do cerebro - richard j. davidson[1]
 
Trabalho FEC - FINAL PROJECT
Trabalho FEC - FINAL PROJECTTrabalho FEC - FINAL PROJECT
Trabalho FEC - FINAL PROJECT
 
Esquizofrenia
EsquizofreniaEsquizofrenia
Esquizofrenia
 
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdf
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdfAULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdf
AULA 01 INTRODUÇÃO A PSI APLICADA.pdf
 
Apometria -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismo
Apometria  -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismoApometria  -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismo
Apometria -josé_lacerda_de_azevedo_-_viagem_astral_-_espiritismo
 
José lacerda apometria
José lacerda   apometriaJosé lacerda   apometria
José lacerda apometria
 
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesadeCristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
Cristina cairolinguagemdocorpo2belezaesade
 
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
429008673 apostila-resumos-psiquiatria-pdf
 
Psicanálise e uso de medicação
Psicanálise e uso de medicaçãoPsicanálise e uso de medicação
Psicanálise e uso de medicação
 
Estilos parentais & práticas educativas
Estilos parentais & práticas educativasEstilos parentais & práticas educativas
Estilos parentais & práticas educativas
 
Esquizofrenia
EsquizofreniaEsquizofrenia
Esquizofrenia
 
spi9 psicologia e psicanálise cristã
spi9 psicologia e psicanálise cristãspi9 psicologia e psicanálise cristã
spi9 psicologia e psicanálise cristã
 

Último

Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannRegiane Spielmann
 
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.ppt
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.pptHIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.ppt
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.pptAlberto205764
 
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptaula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptDaiana Moreira
 
Fisiologia da Digestão sistema digestiv
Fisiologia da Digestão sistema digestivFisiologia da Digestão sistema digestiv
Fisiologia da Digestão sistema digestivProfessorThialesDias
 
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdfInteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdfMedTechBiz
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdfMichele Carvalho
 
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...DL assessoria 31
 
88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptxLEANDROSPANHOL1
 

Último (8)

Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.ppt
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.pptHIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.ppt
HIV-Gastrointestinal....infeccao.....I.ppt
 
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptaula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
 
Fisiologia da Digestão sistema digestiv
Fisiologia da Digestão sistema digestivFisiologia da Digestão sistema digestiv
Fisiologia da Digestão sistema digestiv
 
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdfInteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
Inteligência Artificial na Saúde - A Próxima Fronteira.pdf
 
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
700740332-0601-TREINAMENTO-LAVIEEN-2021-1.pdf
 
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
 
88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx
 

Schiz-X: Conversando Sobre A Esquizofrenia - Vol. 6 - Recuperação e novas perspectivas

  • 1. Jorge Cândido de Assis Cecília Cruz Villares Rodrigo Affonseca Bressan CONVERSANDO SOBRE a esquizofrenia Recuperação e novas perspectivas 6
  • 2. Sobre os autores Jorge Cândido de Assis é portador de esquizofrenia há 22 anos, atualmente é aluno do curso de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e diretor adjunto da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (ABRE). Tem participado e ministrado aulas para o curso de medicina da Universidade Fe- deral de São Paulo (UNIFESP), palestrante nos três últimos Congressos Brasileiros de Psiquiatria. Cecília Cruz Villares é vice-presidente da ABRE; terapeuta ocupacional e tera- peuta de família; mestre em saúde mental e doutoranda pela UNIFESP, onde tra- balha no Programa de Esquizofrenia (PROESQ) e supervisiona alunas do curso de Especialização em Terapia Ocupacional em Saúde Mental. Participa ativamente em âmbitos nacional e internacional do estudo e combate ao estigma relacionado aos transtornos mentais. Rodrigo Affonseca Bressan é familiar de uma pessoa que teve esquizofrenia e membro da ABRE; professor adjunto do Departamento de Psiquiatra da UNIFESP; Ph.D. pelo Institute of Psychiatry, University of London, onde é professor honorário; coordenador do PROESQ e coordenador do Laboratório de Neurociências Clínicas (LiNC), ambos da UNIFESP.
  • 3. Sumário Introdução ........................................................... 4 A ciência ajuda a entender os sintomas ........ 6 Avanços científicos permitem entender melhor a esquizofrenia ..................................... 8 A ciência mostra como acontece a esquizofrenia ................................10 Medicamentos: utilizando bem os recursos disponíveis ....................................12 Medicamentos: novas perspectivas..............14 Recuperação de Carlos ....................................16 Recuperação de Francisca ..............................18 Recuperação de Gabriel ..................................20 Juntos o caminho fica mais fácil ...................22 Participação e defesa de direitos ..................24 O futuro – detecção precoce ..........................26 Esperança realista ............................................28
  • 4. Introdução Este livreto fecha a série “Conversando sobre a esquizofrenia”. Nele, abordaremos os avanços da ciência no conhecimento da esquizofrenia e as alternativas possíveis para a recuperação, ambos como novas perspectivas. Procuramos apresentar, em linguagem acessível, uma visão panorâmica da produção atual de conhecimentos sobre a esqui- zofrenia, porque acreditamos que esses novos conhecimentos podem contribuir para melhorar os tratamentos e também para diminuir o pre- conceito da população em relação aos transtornos mentais. Trazemos também algumas informações sobre a detecção preco- ce da esquizofrenia, um campo de pesquisas muito promissor pelo potencial de contribuir para a criação de estratégias de diagnóstico, tratamento e educação da comunidade que efetivamente mude o ce- nário da esquizofrenia em um futuro próximo. Os grandes avanços no desenvolvimento de medicamentos podem melhorar a vida das pessoas com esquizofrenia, trazendo uma pers- pectiva animadora para o futuro. Mas para que isso ocorra, medi- camentos e intervenções psicossociais precisam ser oferecidos de forma consistente e coordenada. Para gerar práticas integradas e socialmente responsáveis, o conhecimento científico deve promover diálogo entre os vários pro- fissionais de saúde e entre os profissionais e os pacientes e seus familiares. Nesse sentido, apresentamos também neste volume como os familiares e portadores podem se organizar para ter acesso a tra- tamentos atuais e também se integrarem na comunidade, seja por meio de grupos de ajuda mútua ou de participação em movimentos pela defesa de direitos. A esquizofrenia é uma doença que modifica a vida da pessoa e de seus familiares. Entendemos que a recuperação não significa voltar 4
  • 5. a um estado anterior ao aparecimento da doença, mas aprender a conviver com a doença e viver com qualidade, individualmente e em família. A partir dessa visão, apresentamos como se deu esse proces- so para os personagens desta série – Carlos, Francisca e Gabriel. Escrever estes livretos foi um desafio que demandou muito diálogo e reflexão, e resultou em crescimento para nós, autores desta série. Esperamos que esta coleção contribua para esclarecer os aspectos vivenciais da esquizofrenia e para melhorar tanto sua qualidade de vida, nosso leitor, quanto a de seus familiares. Com esse objetivo formamos uma equipe e construímos um site para você continuar a conversar conosco. Esperamos sua visita! http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao www.abrebrasil.org.br 5
  • 6. A ciência ajuda a entender os sintomas A esquizofrenia é a doença mental mais estudada no mundo, e exis- tem grandes avanços científicos que vêm contribuindo para o melhor entendimento da doença. Inúmeros grupos em todo o mundo investi- gam os mais diversos aspectos da esquizofrenia, tais como: sintomas, tratamento com medicamentos, técnicas de psicoterapia, abordagens psicossociais e neurocognitivas, funcionamento cerebral, desenvol- vimento do cérebro durante o crescimento da pessoa, genética por intermédio do estudo dos cromossomos e como eles afetam a doença e aspectos sociais da esquizofrenia, principalmente o estigma asso- ciado à doença. Preconceitos são frutos da ignorância das pessoas. Os avanços do conhecimento científico sobre os vários aspectos da esquizofrenia es- tão proporcionando a mudança de idéias antigas e preconceituosas. Apresentaremos a seguir um exemplo esclarecedor desse processo de mudança: Durante muito tempo, Carlos ouviu vozes que comentavam sobre seu comportamento ou lhe davam ordens (alucinações auditivas). As pessoas achavam que ele ouvia vozes que não existiam e rotulavam isso de “loucura”. Pesquisas utilizando técnicas que permitem obser- var o cérebro em funcionamento (ressonância magnética funcional) mostram que, quando uma pessoa tem uma alucinação auditiva como a de Carlos, existe uma alteração nos padrões de funcionamento do cérebro. Ocorre uma ativação de áreas cerebrais ligadas à audição e à linguagem. Assim, apesar das pessoas acharem que as vozes não existem, as pesquisas mostram que elas são geradas pelo cérebro e, por isso, quem ouve vozes as percebe como estímulos reais. A dificul- dade do portador de esquizofrenia está em perceber e compreender que as vozes estão sendo geradas no cérebro e não no meio ambien- te, o que desorienta muito a pessoa. 6
  • 7. Quando atuam em equipe, os profissionais de saúde podem traçar estratégias de tratamento que integrem a compreensão desses fenô- menos e o entendimento das vivências de cada paciente. O psiquiatra prescreve medicamentos que, por meio de mudanças químicas no cérebro, permitem que o portador comece a perceber que as vozes não são externas, mas produzidas “dentro de sua cabeça”. Ao dimi- nuir a importância das vozes, é possível para o portador se concentrar em outras coisas mais relevantes para sua vida e construir junto aos profissionais que o atendem um projeto terapêutico que leve em con- sideração todos os aspectos significativos para sua recuperação. Hoje vivemos em um mundo em que as mudanças são muito rápi- das e isso favorece que novos conhecimentos e descobertas científi- cas sejam mais prontamente acessíveis e ajudem a melhorar nossas vidas. Continuaremos a abordar esse assunto nos próximos capítulos. 7
  • 8. Avanços científicos permitem entender melhor a esquizofrenia A transmissão de informação entre as células do cérebro acontece por meio de substâncias químicas, chamadas neurotransmissores. Assim, nossa visão, audição, paladar, olfato e tato, bem como tudo o que pensa- mos e sentimos, são informações transmitidas por substâncias químicas dentro do cérebro. Os avanços científicos permitem estudar como essas substâncias funcionam para as pessoas que têm esquizofrenia, por in- termédio de um tipo de tomografia (neuroimagem molecular). Vejamos, com um exemplo de Gabriel, como esses novos conhecimentos explicam aspectos importantes da esquizofrenia. Gabriel, em sua segunda crise (livreto 2), passou a dar muita impor- tância às coisas que escrevia. Na medida em que a crise foi se intensi- ficando, ele passou a ter certeza que suas idéias mudariam a maneira de ver das novas gerações e desenvolveu a crença de que escritores famosos queriam roubar essas idéias. Essa crença era tão importante para Gabriel que ele passou a se dedicar integralmente para evitar que as idéias fossem roubadas e deixou sua vida de lado. Esse é um exemplo típico de delírio, um sintoma da esquizofrenia que se caracteriza por uma idéia pouco provável, mas que para a pessoa se constitui numa certeza absoluta e se torna o centro de sua vida. Até pouco tempo, não se sabia por que as pessoas tinham delírios. Com o surgimento de técnicas especiais de imagem, tornou-se possível investigar alguns neurotransmissores no cérebro. As pesquisas mostra- ram que portadores de esquizofrenia apresentam um aumento de do- pamina cerebral quando estão apresentando sintomas como delírios. A dopamina é um neurotransmissor que tem a função de determinar a importância que damos às coisas que percebemos e pensamos, processo chamado de “saliência”. Portanto, o aumento da função da dopamina em 8
  • 9. determinadas regiões do cérebro leva a uma atribuição de importância (saliência) exagerada às idéias que são pouco prováveis. No caso de Gabriel, a crença de que escritores famosos estavam rou- bando suas idéias era pouco provável, mas para Gabriel era fundamental, e ele não pensava em outra coisa. Segundo essa concepção, essa idéia ganhou relevância exagerada a ponto de ele perder a crítica (juízo de realidade), em razão do aumento de dopamina em seu cérebro. Os medicamentos para esquizofrenia, também chamados antipsicóti- cos, diminuem a ação aumentada da dopamina e, dessa forma, reduzem a intensidade dos sintomas. Ou seja, com a medicação, as impressões e certezas ficam menos absolutas e mais relativas. Por exemplo, depois que Gabriel voltou a tomar os remédios, a impressão de que os escritores queriam roubar suas idéias foi ficando progressivamente menos impor- tante. Com o tempo, outros fatos importantes da vida, tais como estudar, namorar e conviver com os amigos passaram a ser mais relevantes, en- quanto o delírio foi perdendo importância. É importante salientar que os exames que descrevemos são reali- zados somente para pesquisas em esquizofrenia, nas quais se utiliza um número grande de pessoas para observar diferenças pela média. Apesar desses exames não serem utilizados na prática clínica, eles contri- buem muito para um co- nhecimento mais apro- fundado da doença e no desenvolvimento de medicações mais eficientes. 9
  • 10. A ciência mostra como acontece a esquizofrenia O que cada pessoa é e como se relaciona com o mundo é resultado da soma de vários fatores. Desde o período em que estamos na barriga de nossas mães até a vida adulta, nosso cérebro está em constante desen- volvimento. Essas mudanças do cérebro ao longo da vida são chamadas de neurodesenvolvimento. Os cientistas também estão estudando como a esquizofrenia acontece nesse caminho de amadurecimento do cére- bro. Por outro lado, a esquizofrenia, em muitos casos, acarreta processos neurodegenerativos que podem ser entendidos como perdas de funcio- namento. A compreensão desses processos pode ajudar as pessoas a minimizar esses déficits e essas perdas. Vamos esclarecer esses dois conceitos importantes para o entendimento da esquizofrenia. Nosso corpo é resultado de um processo biológico que se inicia na concepção, quando a carga genética do óvulo da mãe e a carga genética do espermatozóide do pai se unem e inicia-se um processo que nos dá a vida. Pequenos problemas durante a gestação e o parto podem tornar as pessoas mais vulneráveis a desenvolver doenças no futuro, e esse é o caso da esquizofrenia. A doença, no entanto, só se manifestará no final da adolescência ou no começo da vida adulta. Quando nascemos, nosso cérebro não está pronto, ele vai amadu- recendo até o começo da idade adulta. Nesse processo, o cérebro pode se formar de diversas maneiras, que variam de pessoa para pessoa em conseqüência de fatores genéticos e ambientais. Vários fatores podem induzir alterações no neurodesenvolvimento determinando mudanças no funcionamento das células do cérebro (neurônios) e na forma como elas se conectam umas às outras, chamada tecnicamente de “arborização neuronal”. Essas alterações levam às mudanças estruturais no cérebro e a um aumento da liberação de dopamina. 10
  • 11. Em função desse neurodesenvolvimento diferenciado, as pessoas se tornam mais vulneráveis aos efeitos desorganizadores de fatores, tais como o abuso de drogas, eventos traumáticos e situações muito estres- santes que podem desencadear o início da doença. Estresse e substân- cias como a maconha e a cocaína aumentam a liberação de dopamina. Em indivíduos que não são vulneráveis, essas substâncias não causam grandes problemas, mas nas pessoas que têm alterações do neurode- senvolvimento e predisposição genética, esses fatores podem desenca- dear um quadro agudo de esquizofrenia. Depois que a doença aparece, a ocorrência de novas crises e o tempo decorrido sem tratamento determinam uma progressão dessas altera- ções na estrutura cerebral e em seu funcionamento, que são chamadas de processos neurodegenerativos. Por isso é muito importante seguir os tratamentos e principalmente tomar os remédios, pois eles protegem o cérebro prevenindo o aparecimento de novas crises. Muitos avanços foram feitos no sentido de entender os aspectos científicos da esquizofrenia e muito ainda está por vir. Espera-se que o conhecimento mais aprofundado da doença permita no futuro o de- senvolvimento de tratamentos ainda mais eficazes para o controle e eventualmente a prevenção da esquizofrenia. 11
  • 12. Medicamentos: utilizando bem os recursos disponíveis Em relação aos medicamentos para tratar esquizofrenia (antipsicóticos), vamos nos lembrar que existe um grande número de medicamentos disponíveis, e eles representam importantes avanços em termos de efi- cácia com menores efeitos colaterais (ver livreto 3). Em seguida, apre- sentamos os desenvolvimentos na área que devem contribuir para o tratamento no futuro. Após muitas pesquisas feitas, podemos hoje afirmar com convicção que os medicamentos antipsicóticos são fundamentais para o tratamento da esquizofrenia. Os principais benefícios dos medicamentos são evitar novo episódio agudo da doença e permitir que a pessoa com esquizofrenia tenha bom controle dos sintomas para que possa ter uma vida com mais qualidade. A medicação não exclui as intervenções psicossociais, tais como terapia ocupacional, psicoterapias, psicoeducação, grupos de con- vivência e terapia familiar. Na verdade, medicamentos e terapias se com- plementam, pois os medicamentos permitem que os pacientes tenham funcionamento melhor e se beneficiem ainda mais das intervenções. Por exemplo, Gabriel pôde se recuperar de sua segunda crise por meio do uso dos medicamentos, das sessões de terapia ocupacional, que o ajudaram a reorganizar seu cotidiano, e da psicoterapia, que serviu de suporte para ele lidar com sentimentos negativos e de desmoralização por ter esquizofrenia. O desenvolvimento dos medicamentos antipsicóticos representou um grande avanço para o tratamento da esquizofrenia ao permitir que vá- rias pessoas pudessem viver bem na comunidade. No entanto, a primeira geração de medicamentos era utilizada em doses altas e induzia muitos efeitos colaterais semelhantes aos da doença de Parkinson, tais como tremor das mãos, rigidez muscular e lentidão. Nas últimas duas déca- 12
  • 13. das, surgiu uma segunda geração de medicamentos que são tão eficazes quanto aqueles de primeira geração, mas causam muito menos efeitos colaterais. Com esses novos produtos, não tem sentido que os portado- res de esquizofrenia sofram efeitos colaterais desagradáveis por longo tempo. Assim que esses sintomas ocorram, deve-se diminuir as doses ou trocar o medicamento por um que não cause tanto desconforto. Gabriel, por exemplo, teve efeitos colaterais, queixou-se para seu mé- dico, e este resolveu trocar seu remédio. Gabriel se adaptou bem à troca, e passou a tomá-lo regularmente, o que permitiu que ele seguisse um caminho de recuperação reconstruindo sua vida. Para os pacientes que não respondem a dois medicamentos conven- cionais (refratários), existe medicação específica, que é especialmente eficaz nessas situações. Apesar de o tratamento ser um pouco mais complicado por exigir exames de sangue semanais, ele vale a pena, pois pode mudar a vida das pessoas, melhorando drasticamente os sintomas. O exemplo de Carlos, discutido no livreto 3, demonstra isso com clareza. 13
  • 14. Medicamentos: novas perspectivas No mundo todo, existe um grande investimento por parte das agências governamentais de pesquisa e da indústria farmacêutica para desen- volver novos medicamentos. Até o momento, todos os medicamentos antipsicóticos disponíveis comercialmente agem no sistema de um neurotransmissor chamado dopamina (um dos elementos da transmis- são de informação no cérebro). Esses medicamentos funcionam bem para a redução de sintomas chamados positivos, tais como alucina- ções e delírios, e para evitarem-se novos episódios agudos da doença. No entanto, eles são menos eficazes em sintomas chamados negativos, como o isolamento e a dificuldade de sociabilização. Existem muitas pesquisas buscando medicamentos que atuem em outros sistemas de transmissão cerebral (como o glutamato), que possam ser mais efica- zes nos sintomas negativos. Alguns pacientes apresentam dificuldades cognitivas, tais como pro- blemas para concentrar a atenção, para manter informações na memó- ria e para coordenar o planejamento de uma tarefa. Essas alterações dificultam o dia-a-dia, atrapalhando até mesmo a medicação e o acom- panhamento nas terapias. Existe uma série de medicamentos sendo de- senvolvidos exatamente com o propósito de melhorar o desempenho cognitivo das pessoas com esquizofrenia. Outras pesquisas concentram-se em testar medicamentos desenvol- vidos para evitar processos cerebrais que resultem na cronificação da doença, chamados medicamentos neuroprotetores. Caso essa nova clas- se de medicamentos venha a funcionar, imagina-se que serão especial- mente úteis nos estágios iniciais da doença ou até mesmo no período que antecede seus primeiros sinais, antes que todos os sintomas da doença se manifestem. 14
  • 15. Hoje, o psiquiatra lança mão dos medicamentos que estão disponíveis e aos quais a pessoa tem acesso, principalmente os que ela pode retirar gratuitamente nas farmácias do Estado. Muitos avanços estão ocorrendo e devem contribuir para o tratamento num futuro próximo, mas lembre- mos que os medicamentos disponíveis atualmente para tratar esquizo- frenia já são uma grande conquista, infelizmente não acessível a todos. É fundamental que os portadores e as famílias conheçam seus efeitos para que possam ajudar o médico e os terapeutas a encontrar a melhor opção para cada caso. 15
  • 16. Recuperação de Carlos A esquizofrenia apareceu na vida de Carlos de forma grave, pois, mes- mo com os medicamentos, os sintomas continuaram a dificultar suas relações familiares e sociais, causando desentendimentos e isolamento. Essa situação só pôde ser contornada com um tratamento específico para esquizofrenia refratária. Entretanto, no caso de Carlos, a doença acarretou perdas em áreas importantes de seu funcionamento. Para ele, a recuperação consistiu em um processo de aprendizado a partir das condições de estabilização que os tratamentos proporcionaram, com o controle dos sintomas. No início de seu percurso de tratamento, o local onde se tratava era o único espaço público que Carlos freqüentava. Considerando tal restrição de vida, os profissionais de saúde foram incentivando-o e criando condi- ções para ampliar sua rede social. É importante lembrar-se que algumas atividades que para a maioria das pessoas parecem simples podem de- mandar grande esforço para o portador de esquizofrenia. Por exemplo, Carlos já conhecia há anos Seu Fábio, o jornaleiro, mas foi preciso muito esforço para tomar a iniciativa de falar com ele e pedir para olhar algu- mas revistas de seu interesse. Esse foi um grande passo que abriu cami- nho com o tempo para outros maiores, como fazer amizade e jogar com as pessoas da praça. Aos poucos, o convívio desfez a imagem negativa da doença como algo perigoso na comunidade, e Carlos passou a atuar como monitor na escola infantil do bairro nos fins de semana. A família de Carlos aprendeu com as experiências e no diálogo com os profissionais de saúde que ele tem certas limitações que precisam ser respeitadas e que em muitas coisas precisa ser cuidado. Ao mesmo tempo, Carlos também foi descobrindo novas maneiras de viver e estar com as pessoas, de corresponder ao acolhimento da família e encontrar seu lugar no mundo. 16
  • 17. Esse é o sentido da recuperação de Carlos: superar a perda das re- ferências do que é a realidade e construir seu espaço entre as pessoas. Para quem olha de fora parece que as mudanças foram pequenas, mas quem já viveu um período de completa desorientação na vida pode en- tender o verdadeiro crescimento humano que Carlos experimentou ao longo de sua recuperação. Nos últimos anos, Carlos vem aprendendo pintura com uma terapeuta ocupacional que tem formação em artes. No início, os quadros eram pou- co expressivos, mas Carlos foi aprendendo com ela noções de estética e técnicas de pintura, e desenvolveu um potencial que até então não sabia ter. Essa terapeuta mostrou os trabalhos de Carlos para um especialista que reconheceu seu valor artístico e propôs a ele expor alguns de seus quadros em uma galeria de arte. Carlos, pela primeira vez em tanto tem- po, sentiu-se muito realizado! A recuperação é um longo percurso e todos podem construir esse caminho, não importa quantas crises vividas ou dificuldades enfrentadas. O que realmente importa é criar e restabelecer relações significativas com as pessoas e procurar realizar coisas que estejam a seu alcance. Entendemos que as questões importantes para qualquer pessoa que pro- cura viver bem valem também para o portador de esquizofrenia. 17
  • 18. Recuperação de Francisca Francisca foi afetada pela esquizofrenia de maneira que as experiências que ela teve sempre foram percebidas como reais. Ela nunca viveu o estranhamento que permite pôr em dúvida se as coisas realmente estão acontecendo ou não. A recuperação de Francisca foi dando-se a partir de mudanças que foram possíveis desde o controle dos sintomas, na me- dida em que ela, depois de várias crises, passou a confiar e concordar com seu pai e seguir os tratamentos propostos. O fato de Francisca nunca ter aceitado ter uma doença mental a levou a tentar sempre impor suas certezas aos familiares. Uma vez que tais certezas eram frutos de seus sintomas, esse processo dificultou o relacionamento familiar e social e exigiu muita paciência dos pais e da irmã, por quase dois anos, até Francisca aceitar o tratamento com medi- cação de depósito ministrada nas consultas com o psiquiatra. Francisca só aceitou se tratar quando percebeu a dedicação sincera da família e confiou que o tratamento que estavam propondo seria bom para ela e para todos. Os demais profissionais do serviço no qual Francisca se tratava, per- cebendo sua dificuldade para aderir ao plano terapêutico, incentivaram- na a seguir o acompanhamento com o psiquiatra e recomendaram um curso de mosaico em um centro cultural. Com o controle dos sintomas, Francisca foi reencontrando caminhos para viver melhor. O apoio da fa- mília e o curso de mosaico possibilitaram a ela fazer novas amizades. No centro cultural ela conheceu um rapaz, Alexandre, e logo se criou grande afinidade entre eles. Depois de alguns meses de amizade próxi- ma e atividades de lazer em comum, Francisca e Alexandre começaram a namorar. Esse relacionamento trouxe um novo colorido para a vida de Francisca, um tipo de troca especial marcada por cumplicidade de sentimentos e afetos que deram novo significado para sua vida. Todas as 18
  • 19. dificuldades que ela viveu até então passaram a ter menos importância em seu cotidiano. Atualmente Francisca faz outros cursos oferecidos no centro cultural, participa da vida familiar principalmente com a mãe e a irmã, e divide sua intimidade com o namorado. A recuperação de Francisca mostra que quando a pessoa não se compreende doente é importante procurar caminhos de negociação para construir um sentido para o tratamento, já que esse não é entendido como necessário pela pessoa. Nesse percurso, é importante preservar os laços de confiança, por mais difícil que seja o relacionamento com a pessoa doente. A confiança é a ponte para a aceitação, pois é mais fácil concordar com as pessoas em quem confiamos. A pessoa que não aceita que tem a esquizofrenia, porque não se vê doente, precisa de uma atenção especial para seguir os tratamentos e construir um processo de recuperação. É importante entender que isso também é um sintoma da esquizofrenia que precisa de cuidado e acompa- nhamento. Há muitos portadores nessa condição e a história de Francisca é um exemplo de que com os cuidados da família e dos profissionais de saúde é possível, com o tempo, buscar um caminho de recuperação. 19
  • 20. Recuperação de Gabriel Gabriel teve seu caminho de vida mudado pela esquizofrenia, que o levou a uma experiência interior muito sofrida e deixou marcas profun- das em sua maneira de se ver no mundo. Seu caminho de recuperação, além dos tratamentos e controle dos sintomas, passou também por um processo de achar seu lugar na vida e se desfazer do sofrimento de saber-se diferente das outras pessoas por causa de seu transtorno mental. A consciência da doença pode ser um fardo muito pesado para alguns portadores. Esse foi o caso de Gabriel. Ao longo do tempo, Gabriel foi estabelecendo relacionamentos com seus familiares e com os profissionais de saúde que tornaram sua vida possível de ser suportada. Os irmãos e os pais foram aprendendo como serem acolhedores com Gabriel. O psiquiatra, Dr. Marcelo, pôde sempre ser receptivo às queixas e às questões de Gabriel, e mostrar caminhos para que ele entendesse as experiências e melhorasse. Fátima, a tera- peuta ocupacional, ajudou Gabriel a manter e procurar novas ativida- des, auxiliando-o a perceber a importância destas para dar sentido ao dia-a-dia. Sônia, a psicóloga, acompanhou o processo de sofrimento de Gabriel e o ajudou a ir desfazendo-se dele, apontando possibilidades e servindo de suporte para que essa superação se tornasse possível. Gabriel passou um tempo trabalhando como aprendiz de marceneiro com Seu Agostinho, um senhor com a sabedoria da vida que o acolheu e lhe deu bons conselhos, convencendo-o a voltar a estudar. Seu pai pas- sou para ele a tarefa de cuidar do orçamento da casa, até mesmo dos pagamentos no banco, o que o ajudou muito a resgatar sua auto-estima. Gabriel descobriu que lidava bem com números. Após assistir algumas aulas de introdução à estatística na faculdade do irmão, decidiu fazer um curso de estatística. Prestou o vestibular, foi aprovado, e durante o curso foi aos poucos conseguindo reencontrar seu lugar no mundo, com novas amizades e superação de suas dificuldades intelectuais. 20
  • 21. Hoje Gabriel está trabalhando com estatística em uma empresa, utiliza as habilidades práticas aprendidas com a Fátima, o bom-senso aprendido com Dr. Marcelo e Seu Agostinho, tem a tranqüilidade interior construída com a Sônia e a responsabilidade que aprendeu com seu pai. É um bom funcionário e trabalha com atividades que gosta de de- senvolver. Tem cuidado e responsabilidade com seus tratamentos, vai regularmente ao psiquiatra e toma os remédios todos os dias. A recuperação de Gabriel mostra que a esquizofrenia é uma doença, mas também é uma experiência humana com possibilidades de supe- ração. Se olharmos tudo apenas como sintomas da doença, não conse- guiremos ver outras possibilidades que a vida oferece. Gabriel teve um longo caminho de aprendizado com a esquizofrenia e entendeu como encontrar um caminho para sua vida. Esse é o sentido da esperança realista na superação das dificuldades impostas pela esquizofrenia. 21
  • 22. Juntos o caminho fica mais fácil Apresentamos até aqui os avanços da ciência em relação à esquizofrenia e o percurso de nossos protagonistas rumo à recuperação. Queremos, neste capítulo, enfatizar a importância do apoio à família, pois sabemos que as questões que os familiares das pessoas com esquizofrenia enfrentam são também complexas e centrais para a recuperação de seus entes queridos. Vimos até agora como os familiares de Gabriel, Carlos e Francisca foram aprendendo a lidar com os altos e baixos da doença e desenvol- veram maneiras de se aproximar para melhor compreendê-los. Mas no- vas dúvidas e inquietações surgem no decorrer da vida da família, por exemplo, questões relativas ao futuro de seus filhos. Os familiares de nossos protagonistas encontraram meios de compartilhar suas questões por meio de grupos de apoio em encontros promovidos por associações de familiares de sua cidade. Nesses espaços de troca, entenderam tam- bém que tão importante quanto seguir o tratamento e buscar informações sobre novas perspectivas é associarem-se para a troca de experiências, o apoio mútuo e a defesa de direitos. Nesses encontros, os familiares de nossos protagonistas encontraram: • outros familiares com histórias semelhantes e soluções criativas para as dificuldades; • familiares com histórias muito diferentes e problemas mais agu- dos ou complicados, o que os ajudou a ver que eles têm recursos para ajudar essas pessoas solitárias, exaustas e sem esperança; • profissionais com quem aprender sobre vários aspectos da con- vivência com a doença e sobre cuidados com a saúde; • amigos com quem partilhar bons e maus momentos; • alternativas de atividades na comunidade; • informações sobre tratamentos existentes, sobre o funcionamento da rede pública de atenção em saúde mental e sobre direitos e benefícios dos portadores de transtornos mentais. 22
  • 23. Diante dos desafios da esquizofrenia, é preciso vencer o isolamento, a vergonha e a sensação de impotência. Muitas questões que a família vive podem ter resoluções mais fáceis e efetivas quando compartilhadas com outras pessoas que vivem situações semelhantes. A experiência dos autores desta série na organização de uma asso- ciação de portadores e familiares desde 2002 é de que juntos temos mais potência para lidar com questões práticas, para nos desfazer de sentimentos negativos, entender e aceitar a esquizofrenia. Juntos, profis- sionais, familiares e portadores, podemos nos fortalecer para encontrar caminhos e construir novas compreensões e soluções para os desafios impostos pela esquizofrenia. O momento atual é de grandes mudanças no atendimento à saúde mental no Brasil, por isso é tão importante promover novas abordagens de tratamento e disseminar as experiências bem-sucedidas entre fami- liares, portadores e profissionais de saúde de todo o País. É essa união de esforços que propiciará que os avanços no conhecimento tornem-se práticas que mudem o cenário da esquizofrenia no País. 23
  • 24. Participação e defesa de direitos A esquizofrenia, como todas as doenças de longa evolução, demanda tratamento continuado ao paciente e apoio à família para que todos desenvolvam recursos para enfrentar seus desafios e dificuldades. Entretanto, uma parte considerável das dificuldades não se deve à doença em si, mas ao desconhecimento, ao preconceito e à falta de recursos para o tratamento na rede pública. Nesse sentido, é impor- tante que pacientes e familiares conheçam mais sobre seus direitos e exijam que eles sejam cumpridos. O Brasil tem uma política nacional de saúde mental que vem sendo aplicada por meio de legislação específica. Familiares e portadores po- dem e devem conhecer mais sobre essa política – leis, portarias, dados e serviços – acessando o portal do Ministério da Saúde: http://portal. saude.gov.br/portal/saude/cidadao/area.cfm?id_area=925. Os familiares também podem atuar nas decisões sobre os proce- dimentos cotidianos relativos ao sistema de tratamento de saúde em seus municípios por intermédio da participação nos conselhos de saú- de. Há muitas maneiras de participar: saber o que está acontecendo na comunidade, buscar recursos e juntar-se a outros para demandar melhorias e mudanças são exemplos de atividade civil nessa área. Existem hoje no Brasil dezenas de grupos e associações trabalhando para que pessoas que têm transtornos mentais recebam tratamento e apoio dignos em suas comunidades. Apresentamos neste livreto a atuação da Associação Brasileira de Familiares, Amigos e Portadores de Esquizofrenia (Abre) para ilustrar como as organizações da sociedade civil podem se unir para gerar mudanças na comunidade. A Abre, fundada em São Paulo em 2002 por um grupo de fami- liares, portadores e amigos, prioriza ações a fim de possibilitar que seus membros sejam protagonistas e que gerem o diálogo entre todos 24
  • 25. os participantes. Dentre as principais atividades, desenvolve: grupos de apoio para familiares e para portadores; encontros públicos para conversar sobre questões relacionadas à esquizofrenia com a partici- pação de profissionais, familiares e portadores; estratégias de infor- mação por meio de informativos, boletins, materiais impressos e um site (www.abrebrasil.org.br). Além disso, a Abre tem atuado na construção de uma rede de inter- câmbio, apoio e defesa de direitos junto a outras associações e movi- mentos nacionais e internacionais, buscando contribuir para fortalecer ações em parceria e disseminar informação e esperança às pessoas, aos grupos, e às associações afins no Brasil e na América Latina. Esta série de livretos é também uma iniciativa que visa a contribuir para que as pessoas afetadas pela esquizofrenia fortaleçam-se para vencer o isolamento e combater o estigma em relação à esquizofrenia e aos transtornos mentais em geral. Queremos trocar experiências e incentivar as pessoas a conhecer, apoiar e atuar em suas comunidades pelo fortalecimento das associações já constituídas. 25
  • 26. O futuro – detecção precoce Uma das frentes de pesquisa inovadoras relacionadas à esquizofrenia se dedica a detectar o aparecimento da doença em suas fases iniciais, tam- bém chamadas de pródromos. Quando isso é possível, o início do trata- mento pode diminuir sensivelmente as chances de uma primeira crise, evitando perdas nos relacionamentos da pessoa e minimizando os efeitos da doença no cérebro, melhorando muito o prognóstico da esquizofrenia. Sabe-se hoje que, antes da esquizofrenia aparecer, há um conjunto específico de mudanças no funcionamento da pessoa. Ter essas mudan- ças não significa que a doença aparecerá, mas que a pessoa tem um risco alto de ter esquizofrenia. O que os cientistas fazem? Eles desen- volveram testes elaborados que detectam essas mudanças e aplicam esses testes na população jovem, na faixa etária em que normalmente a esquizofrenia aparece (16 a 25 anos). Aquelas pessoas que têm um risco alto são convidadas a seguir um acompanhamento periódico sem nenhum uso de medicamento. As pessoas desse grupo que apresenta- rem os sintomas iniciais da esquizofrenia começam o tratamento logo no surgimento da doença. A detecção precoce na população em geral é um processo muito trabalhoso, exige entrevistar e aplicar testes em muitas pessoas para encontrar apenas algumas que têm o risco de desenvolver a esquizofre- nia. Esse tipo de pesquisa se justifica por dois motivos: o acompanha- mento precoce da esquizofrenia pode contribuir para que as pessoas tenham um futuro melhor e com menos sofrimento; os avanços nessas pesquisas poderão fornecer aos futuros médicos conhecimentos e pro- cedimentos para reconhecer em seus pacientes casos de esquizofrenia em sua fase inicial. Outra linha de pesquisa que se relaciona com a detecção precoce é o desenvolvimento de medicamentos neuroprotetores que evitem os 26
  • 27. processos cerebrais que afetam o cérebro da pessoa com esquizofrenia. Caso esses medicamentos venham a funcionar, no futuro será possível desenvolver procedimentos de prevenção da esquizofrenia. Um aspecto muito positivo dessas pesquisas em detecção precoce é que elas são acompanhadas de um trabalho educativo com os jo- vens sobre a importância da saúde mental. Com isso, espera-se que os jovens aprendam que a esquizofrenia é uma doença e que tem trata- mento, e que esse entendimento contribua para diminuir o preconceito e a discriminação sofridos pelos portadores. Hoje podemos vislumbrar um futuro melhor para as pessoas que po- derão ter esquizofrenia, de serem acolhidas e tratadas nas fases iniciais da doença com medicações cada vez mais eficazes e protetoras. Este é o grande investimento dos cientistas para descobrir novas maneiras de tratar e minimizar os efeitos da esquizofrenia. 27
  • 28. Esperança realista Nesta série de seis livretos, procuramos abordar vários aspectos da esqui- zofrenia, escolhendo apresentar atitudes e entendimentos que sejam úteis para você, nosso leitor. É preciso dizer que escrever os livretos exigiu mui- to diálogo entre os autores, negociação entre nossos diferentes pontos de vista e, às vezes, superar divergências para construir acordos, semelhante ao que ocorre no percurso de negociação com a doença, na vivência do portador e entre ele e as outras pessoas envolvidas. Um de nossos objetivos foi apresentar temas e situações nos quais nossos leitores pudessem se reconhecer, enxergando o lado humano do convívio com a esquizofrenia, pois sabemos que esta é uma grande difi- culdade. Outro objetivo foi convidar nossos leitores a procurar conhecer suas questões particulares. É importante o reconhecimento como ponto de partida para, por meio dele, procurar entender as questões individuais que são vivenciadas, caminhos e soluções próprios. As histórias de Gabriel, Carlos e Francisca, seus familiares e amigos, foram constituídas com base em pessoas com quem convivemos. Sabía- mos desde o início que não daríamos conta de todas as histórias que conhecemos, então, nos orientamos por intermédio da esperança realista para apresentar alguns caminhos possíveis. Temos consciência das dificuldades reais que muitas pessoas com es- quizofrenia e seus familiares enfrentam em seu dia-a-dia. Nesse sentido, procuramos reunir um pouco de nossa experiência e apontar as possibili- dades diante da doença, porque o sofrimento e os problemas imensos que as pessoas vivem as tornam freqüentemente prisioneiras dele e dificultam o reconhecimento de alternativas. Desejamos, sinceramente, que nosso trabalho possa cumprir o papel de promover o diálogo entre todas as pessoas envolvidas e interessadas na questão da esquizofrenia. Muitas dificuldades só podem ser superadas 28
  • 29. quando conseguimos ver o mundo com os olhos do outro, para entender os porquês de suas atitudes e de seu comportamento. É um exercício neces- sário e constante na esquizofrenia, seja para entender o que acontece com o portador, seja para o portador entender que os profissionais de saúde e familiares querem o melhor para ele. Este é o verdadeiro papel do diálogo. O Brasil passa atualmente por um processo de consolidar o tratamen- to dos transtornos mentais na comunidade, deixando para trás o modelo de exclusão representado pelas longas internações para doenças como a esquizofrenia. Entendemos que a série “Conversando sobre a esqui- zofrenia” soma-se a esse esforço de esclarecer as pessoas para que os tratamentos sejam os melhores possíveis, dentro das condições de cada local e de cada um. Sabemos que não esgotamos o tema. Muitas histórias são diferentes daquelas que contamos nestes livretos, e, mesmo aqueles que tenham reconhecido nas trajetórias de Gabriel, Francisca, Carlos e seus familiares, histórias muito semelhantes às suas próprias, terão outras questões não abordadas nestes livretos. Portanto, reconhecendo a importância de infor- mar com qualidade e escutar nossos leitores, formamos uma equipe que mantém uma página de psicoeducação sobre a esquizofrenia na internet, na qual pretendemos ampliar a proposta de nossa série e continuar con- versando sobre a esquizofrenia. Faça-nos uma visita! http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao www.abrebrasil.org.br 29
  • 30. Av. Vereador José Diniz, 3.300, 15o andar, Campo Belo – 04604-006 – São Paulo, SP Fone: 11 3093-3300 . • www.segmentofarma.com.br • segmentofarma@segmentofarma.com.br Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Diretor administrativo-financeiro: Antonio Carlos Alves Dias Editor de arte: Maurício Domingues Gerente de negócios: Marcela Crespi Assistente comercial: Karina Cardoso Coordenador-geral: Alexandre Costa Coordenadora editorial: Fabiana Souza Projeto gráfico: Renata Variso Diagramadora: Andrea T. H. Furushima Ilustrações: Claudio Murena Revisora: Renata Del Nero Produtores gráficos: Fabio Rangel e Tiago Manga Cód. da publicação: 6839.06.08
  • 31.
  • 32. A nossa intenção e a nossa motivação com essa série de livretos é contribuir para melhorar a vida das pessoas afetadas pela esquizofrenia e seus familiares. Nós, os autores, temos grande interesse em conhe- cer as suas opiniões e as suas experiências com a lei- 1616563 - Produzido em junho/2008 tura, para isso mantemos abertos os seguintes canais de comunicação: http://proesq.institucional.ws/psicoeducacao http://www.abrebrasil.org.br www.abrebrasil.org.br