O documento discute os princípios da pedagogia crítica de Paulo Freire. Ele argumenta que docência e discência são processos dialógicos e interdependentes onde tanto professores quanto alunos aprendem e ensinam mutuamente. Freire defende uma educação problematizadora, crítica e transformadora que respeita a experiência dos alunos e os envolve como sujeitos ativos na construção do conhecimento.
3. “Não há docência sem discência, as duas se
explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças,
não se reduzem à condição de objeto, um do
outro.”
“Ensinar é mais que verbo transitivo relativo, pede
um objeto direto: quem ensina, ensina alguma
coisa; pede um objeto indireto: à alguém, mas
também ensinar inexiste sem aprender e aprender
inexiste sem ensinar.”
“... Quanto mais criticamente se exerça a
capacidade de aprender tanto mais se constrói e
desenvolve a curiosidade epistemológica, sem a
qual não alcançamos o conhecimento cabal do
objeto.”
4.
5. “ O educador democrático, crítico, em sua
prática docente deve forçar a capacidade de
crítica do educando, sua curiosidade, sua
insubmissão.”
“...ele precisa ser um educador criador,
instigador, inquieto, rigorosamente curiosos,
humilde e persistente...”
6. “Educador e educandos, lado a lado, vão se
transformando em reais sujeitos da construção e
da reconstrução do saber. É impossível tornar-se
um professor crítico, aquele que é
mecanicamente um memorizador, um repetidor
de frases e ideias inertes, e não um desafiador.
Pensa mecanicamente. Pensa errado...”
“...uma das condições necessárias a pensar
certo é não estarmos demasiados certos de
nossas certezas. O professor que pensa certo
deixa transparecer aos educandos a beleza de
estarmos no mundo e com o mundo, como seres
históricos, intervindo no mundo e conhecendo-
o.”
10. “Estabelecer uma intimidade entre os saberes
curriculares fundamentais aos alunos e a
experiência social que eles tem como
indivíduos. Discutir as implicações políticas e
ideológicas, e a ética de classe relacionada a
descasos.”
11.
12. “Entre o saber feito de pura experiência e o
resultante dos procedimentos
metodicamente rigorosos, não há ruptura,
mas uma superação que se dá na medida em
que a curiosidade ingênua, associada ao
saber do senso comum, vai sendo substituída
pela curiosidade crítica ou epistemológica
que se rigoriza metodicamente.”
13.
14. “Somos seres históricos – sociais, capazes de
comparar, valorizar, intervir, escolher, decidir,
romper e por isso, nos fizemos seres éticos. Só
somos porque estamos sendo.”
“Pensar certo demanda profundidade na
compreensão e interpretação dos fatos. Não
é possível mudar e fazer de conta que não
mudou. Coerência entre o pensar certo e o
agir certo.”
15.
16. “É preciso uma prática testumunhal que
confirme o que se diz em lugar de desdizê-
lo.”
17.
18. “A prática preconceituosa de raça, classe,
gênero ofende a substantividade do ser
humano e nega radicalmente a
democracia.”
“...É tarefa do educador desafiar o
educando com quem se comunica e a
quem comunica, produzindo nele a
compreensão do que sendo
comunicado.”
19.
20. “Através da reflexão crítica sobre a prática de
hoje ou de ontem é que se pode melhorar a
próxima prática.”
21.
22. “Uma das tarefas mais importantes da
prática educativo-crítica é propiciar
condições para que os educandos em
suas relações sejam levados à
experiências de assumir-se. Como ser
social e histórico, ser pensante,
transformador, criador, capaz de ter
raiva porque capaz de amar.”
24. “O suporte vai se ampliando, vira mundo e a
vida, existência na medida em que ele se
torna consciente, apreendedor, transformador,
criador de beleza e não de ‘espaço’ vazio a ser
preenchido por conteúdos.”
“Não é possível existir sem assumir o direito
e o dever de optar, decidir, lutar, fazer
política.”
“Meu ‘destino não é predeterminado, ele
precisa ser feito e dessa responsabilidade não
posso me eximir.”
25.
26. “É o saber de nossa inconclusão assumida.
Sei que sou inacabado, porém consciente
disto, sei que posso ir mais além, através
da tensão entre o que herdo geneticamente
e o que herdo social, cultural e
historicamente. Lutando deixo de ser
apenas objeto, para ser também sujeito da
História.”
27.
28. “Ensinar, portanto, exige respeito a
curiosidade e ao gosto estético do
educando, à sua inquietude, linguagem, às
suas diferenças.”
29.
30. “Quanto mais pomos em prática de forma
metódica nossa capacidade de indagar,
aferir e duvidar, tanto mais crítico se faz
nosso bom senso.”
31.
32. “A luta dos professores em defesa de
seus direitos e dignidade, deve ser
entendida como um momento importante
de sua prática docente enquanto prática
ética.”
33.
34. “O homem é um ser consciente que usa sua
capacidade de aprender não apenas para se
adaptar, mas sobretudo para transformar a
realidade.”
“Para nós, aprender é aventura criadora, é
construir, reconstruir, constatar para mudar,
e isto não se faz sem abertura ao risco.”
35.
36. “O homem é um ser naturalmente esperançoso.
A esperança crítica é indispensável à
experiência histórica que só acontece onde há
problematização do futuro. Um futuro não
determinado, mas que pode ser mudado.”
37.
38. “É o saber da História como possibilidade e não
como determinação.”
“Como educador preciso considerar o saber
de ‘experiência feito’ pelos grupos populares,
sua explicação do mundo e a compreensão de
sua própria presença nele. Tudo isso vem
explicitado na ‘leitura do mundo’ que precede
a ‘leitura da palavra’.”
39.
40. “Como professor devo saber que sem a
curiosidade que me move, não aprendo nem
ensino. É fundamental que alunos e professor
se assumam epistemologicamente curiosos.
Saibam que sua postura é dialógica, aberta,
curiosa, indagadora e não apassivada,
enquanto fala ou ouve.”
43. “O educando que exercita sua liberdade vai
se tornando tão mais livre quanto mais
eticamente vá assumindo as
responsabilidade de suas ações.
Testemunho da autoridade democrática
deixa claro que o fundamental é a
construção, pelo indivíduo, da
responsabilidade da liberdade que ele
assume. É o aprendizado da autonomia.”
44.
45. “Devo revelar aos alunos, minha capacidade de
analisar, comparar, avaliar, de fazer justiça, de
não falhar à verdade. Meu testemunho tem que
ser ético. O espaço pedagógico neutro prepara
os alunos para práticas apolíticas. A maneira
humana de se estar no mundo não é, nem pode
ser neutra.”
46.
47. “Não posso reduzir minha prática docente ao
puro ensino dos conteúdos, pois meu
testemunho ético ao ensiná-los é igualmente
importante. É o respeito ao saber de
‘experiência feito’ dos alunos, o qual busco
superar com eles. É coerência entre o que digo,
o que escrevo e o que faço.”
48.
49. “A autonomia vai se constituindo na
experiência de várias e inúmeras decisões
que vão sendo tomadas. Vamos
amadurecendo todo dia, ou não.”
50.
51. “A educação especificidade humana é um ato
de intervenção no mundo. Tanto intervenções
que aspiram mudanças radicais na
sociedade, no campo da economia, das
relações humanas, da propriedade, do direito
ao trabalho, à terra, à educação, etc. quanto
as que pelo contrário, pretendem imobilizar a
História e manter a ordem injusta.”
52.
53. “Somente quem escuta paciente e criticamente o
outro, fala com ele, e sem precisar se impor. No
processo da fala e escuta, a disciplina do silêncio
a ser assumido a seu tempo pelos sujeitos que
falam e escutam é um ‘sine qua’ da comunicação
dialógica.”
54.
55. “Como professor, devo estar advertido do
poder do discurso ideológico. Ele nos ameaça
de anestesiar a mente, de confundir a
curiosidade, de distorcer a percepção das
coisas. No exercício crítico de minha
resistência ao poder manhoso da ideologia,
vou gerando certas qualidade que vão virando
sabedoria indispensável à minha prática
docente.”
56.
57. “Aberto ao mundo e aos outros, estabeleço a
relação dialógica em que se confirma a
inconclusão no permanente movimento na
História.”
58.
59. “Aberto ao querer bem significa minha
disponibilidade à alegria de viver. Quanto
mais metodicamente rigoroso me torno na
minha busca e minha docência, tanto mais
alegre e esperançoso me sinto.”