O documento descreve a evolução do território brasileiro ao longo dos séculos, desde o período do "meio natural" até o atual "meio técnico-científico-informacional". Inicialmente, o Brasil se assemelhava a um "arquipélago" com povoamento concentrado no litoral e ausência de integração. Posteriormente, com o desenvolvimento da economia de exportação e a construção de infraestrutura, o território passou a se integrar, culminando na construção de Brasília e na urbanização e industrialização do país.
Brasil do arquipélago ao continente - INTEGRAÇÃO NACIONAL
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Território Brasileiro:
do “arquipélago”
ao “continente”
PROFESSORA CAMILA – GEOGRAFIA
E.E. CARLOS AUGUSTO DE FREITAS VILLALVA JÚNIOR - 2014
Para analisarmos a evolução do território utilizaremos os conceitos
propostos por Milton Santos e Maria Laura Silveira na obra “O Brasil:
território e sociedade no início do sáculo XXI” (Rio de Janeiro:
Record, 2001. p.28-30)
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O “meio natural” é compreendido como o momento em que a natureza
ainda comandava a maior parte das ações humanas, no qual as técnicas e o
trabalho eram totalmente associados às dádivas da natureza. É caracterizado
como o período do “tempo lento”, que se estendeu do surgimento do
homem em sociedade ao advento das máquinas.
Associando a caracterização do “meio natural” à caracterização geral do
território brasileiro, entre o século XVI e o início do XX, é possível destacar que,
durante séculos (do século XVI até 1930), o Brasil pôde ser comparado a um
“arquipélago” ou país desarticulado.
1. Povoamento: concentrado no litoral e ao longo dos rios (influência do “meio
natural”). Nas áreas mais distantes da costa – o sertão –, uma população
dispersa se ocupava da criação extensiva de gado e culturas de subsistência.
2. Ausência de integração: as áreas econômicas mais ativas e densamente
povoadas estavam isoladas umas das outras, comunicando-se apenas por via
marítima (influência do “meio natural”).
3. Ocupação econômica: até meados do século XX, foi estimulada,
principalmente, pela de- manda de produtos para o comércio exterior.
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Entre os exemplos de conteúdos relacionados ao “meio natural” que
prevaleceu no Brasil entre o século XVI e o início do XX, e suas contrapartidas
territoriais observadas no mapa a (Anos 1890), cabe ressaltar e analisar:
1. Os ciclos econômicos e a incorporação do Brasil na divisão internacional
da produção (inclusive, é interessante citar o caso da cidade de Salvador
(BA) como a primeira capital escolhida em 1549 por sua posição geográfica
no “coração” de um país desarticulado, cujo desenvolvimento ocorreu
graças à primeira atividade agrícola de peso, a cana-de-açúcar, no
Recôncavo Baiano e também na zona da Mata do Nordeste).
2. A exploração do ouro e de pedras preciosas a partir do século XVIII,
responsável pela incorporação de novas regiões à fronteira econômica (os
atuais Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul).
3. Como as necessidades de escoamento e de fiscalização da produção
mineral deram ao Rio de Janeiro (que se tornou a segunda capital da
Colônia, em 1763, conforme refletido no mapa a) as condições de
desenvolvimento, ampliadas com a chegada da família real portuguesa, em
1808.
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O “meio técnico” surge quando o homem começa a se sobrepor ao
“império da natureza”, por intermédio da construção de sistemas técnicos.
A vigência desse meio geográfico é composta de vários subperíodos,
durante os quais o território brasileiro asilou a incorporação das máquinas
(telégrafos, ferrovias, portos etc.), de forma seletiva, caracterizando-se esse
meio por desigualdades regionais. Em âmbito mundial, o progresso técnico
era geograficamente circunscrito, instalando-se em poucos países e
regiões (no caso brasileiro, um exemplo seria São Paulo, conforme retrata o
mapa b).
A partir do final da II Guerra Mundial (1945) e até a década de 1970, o
“meio técnico” apresenta subperíodos de transição que fornecerão as
bases para a instalação do “meio técnico-científico-informacional” (atual).
Este se consolidará após um período de transição, cunhado por SANTOS &
SILVEIRA (2001: 28) como “período técnico-científico”, baseado na
tecnociência e caracterizado pela “revolução das telecomunicações”, no
qual ciência e técnica passam a estar intrinsecamente ligadas, ambas
regidas pelas leis do mercado (olhando-se os mapas b e c, essa transição
pode ser relacionada aos grandes eixos rodoviários e à maior integração
dos espaços à economia nacional, no mapa c).
Associando a caracterização do “meio técnico” à outra geral do território brasileiro entre o
final do século XIX (mapa a) e meados da década de 1940 (mapa b), é possível salientar
que, no século XIX, com o desenvolvimento da economia cafeeira no Sudeste, começou a
verificar-se uma nova inflexão no processo de valorização do território brasileiro (o que
também coincide com a transição entre o “meio natural” e o “meio técnico”). Suas
principais características foram:
1. A construção de sistemas técnicos com o surgimento de setores comerciais e bancários,
associados às novas condições de transportes e comunicações (estrada de ferro, telégrafo e
etc.).
2. A relativa integração do território que, no início do século XX, era constatada em torno do
Rio de Janeiro e de São Paulo, mas que, no entanto, não era efetiva nas demais regiões do
país, que mantinham com aqueles centros relações tênues e esporádicas.
3. A industrialização, cujo desenvolvimento ocorreu intensamente em São Paulo e arredores,
permitindo que a cidade e o Estado tivessem adquirido papel central na vida econômica do
país.
4. A ocupação econômica que, na década de 1950, foi favorecida em virtude da ampliação
dos esforços para equipar o espaço nacional com vias de circulação e infra- estrutura,
fortalecendo as relações entre o Sudeste e as demais regiões.
5. A construção de Brasília, a nova capital do país, durante o governo de Juscelino Kubitschek
(1956-1961), marco representativo do processo de interiorização, expandindo-o em direção ao
Centro-Oeste e à Amazônia.
Por último, vale salientar que, mais uma vez, o conjunto de processos indicados consolidou
uma configuração territorial que favoreceu o Estado de São Paulo, cuja capital firmou-se
como a metrópole econômica do país (aspecto claramente representado nos mapas b e c).
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A Construção de Brasília
Em termos estratégicos e econômicos, o governo de Juscelino
Kubitschek (1956-1961) foi marcado pela elaboração e aplicação
do Plano de Metas, que estava dividido em seis grandes objetivos:
energia, transportes, alimentação, indústria de base, educação e,
é claro, a construção de Brasília, o que foi chamado de meta-
síntese.
Apesar da descrença generalizada de que a nova capital fosse
realmente construída, Juscelino conseguiu aprovar no Congresso,
em 19 de setembro de 1956, a Lei n.º 2.874, que daria seguimento
ao processo de construção e criaria a Companhia Urbanizadora
da Nova Capital (Novacap), responsável pela execução do
projeto.
Entre os objetivos básicos para a mudança da capital,
destacavam-se: obedecer à Constituição de 1891, reafirmada
pela de 1946; integrar o interior do país; gerar empregos; ocupar
parte da mão-de-obra nordestina; e promover o desenvolvimento
do interior do país, contribuindo para desafogar a Região Centro-
Sul.
A construção de Brasília expressava o desejo, por parte tanto dos
arquitetos e engenheiros quanto dos políticos, de modernidade,
de igualdade defendida pelo Estado; enfim, de mudança
histórica, pois o Brasil, pela primeira vez, olhava para seu interior e
não para o Oceano Atlântico e a Europa.
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Por “meio técnico-científico-informacional” pode-se entender o
meio geográfico atual, cujo surgimento ocorreu a partir da
década de 1970, no qual a informação passou a ser variável
fundamental no período de globalização, de constituição de
um mercado global e de uma unicidade técnica planetária.
Seu funcionamento tem como base técnica a fusão das
tecnologias da informação com as telecomunicações,
gerando as novas tecnologias da informação. Embora os
dados naturais expliquem aspectos das atuais diferenças
regionais do território brasileiro, nas últimas décadas o
crescente acréscimo de ciência e tecnologia ao território
configura-se como o elemento central da diferenciação.
Associando a caracterização do “meio técnico-científico-
informacional” à outra geral do território brasileiro entre as
décadas de 1970 e 1990 (mapa c), é possível destacar que
desde a década de 1970 o território brasileiro apresenta novas
e significativas transformações.
1. Infraestrutura e integração nacional: aproveitamento das principais bacias
hidrográficas para a produção de eletricidade; modernização dos portos;
construção de ferrovias orientadas para produtos especializados;
desenvolvimento da rede rodoviária com a construção de autopistas nos
principais eixos de circulação e de estradas vicinais, principal- mente nas áreas
de maior densidade econômica; instalação de rede de telecomunicações com
alcance em todos os municípios, viabilizando maior contato com o resto do
mundo.
2. Diversificação econômica e desconcentração industrial: a partir das bases do
desenvolvimento criadas anteriormente (sucessivos meios técnicos), a indústria
tornou-se diversificada, inclusive iniciando sua desconcentração; a agricultura,
por seu turno, se moderniza no Sul e no Sudeste e em outras regiões, onde se
destacam os Estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Bahia. No
caso do Nordeste, a difusão da irrigação permitiu o aproveitamento agrícola
intensivo de parte de suas terras.
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3. Nova fase de urbanização: se, por um lado, nos primeiros 450 anos da história
do Brasil, o povoamento e a urbanização foram praticamente litorâneos,
atualmente constata-se um país urbanizado, com uma taxa de urbanização
superior a 75% e diversos níveis e tipos de cidades. Fatos semelhantes expressam
que o país passa por uma nova fase da organização do espaço e da
urbanização, fundada em uma vida de relações mais extensa e mais intensa.
Desde a década de 1970, constata-se a difusão do fenômeno urbano em todas
as regiões (urbanização do território), com a multiplicação do número de
cidades locais e a criação de numerosas cidades médias em todos os Estados.
Ao mesmo tempo, há o surgimento de novas grandes cidades e o processo de
metropolização é limitado apenas no Sudeste.
4. Região concentrada: representa a expressão mais intensa do “meio técnico-
científico-informacional”, pois é a área onde se verificam de modo contínuo os
acréscimos de ciência e tecnologia ao território. Embora sinais de modernização
sejam constatados em todo o território, essa região é formada pelos Estados do
Sul e do Sudeste e por parcelas do Centro-Oeste. Reúne o essencial da
atividade econômica do país, com São Paulo mantendo o papel de metrópole
nacional, baseado em sua condição de centro informacional e não mais como
centro industrial.
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