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Murilo Mendes “  o anjo pousa de leve no quarto onde a moça pura remenda a roupa dos pobres. “
Biografia: Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901. Ainda menino, transferiu-se para Niterói, onde concluiu seus estudos secundários.  Em 1953 mudou-se para a  Europa, percorrendo vários  países; faleceu em Portugal,  em 13 de agosto de 1975.
SOLIDARIEDADE “  Sou ligado pela herança do espírito e do sangue  Ao mártir, ao assassino, ao anarquista. Sou ligado Aos casais na terra e no ar, Ao vendeiro da esquina, Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida, Ao mecânico, ao poeta, ao soldado, Ao santo e ao demônio, Construídos à minha imagem e semelhança
O homem,a luta e a eterninade Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo.
A mulher vista do alto de uma pirâmide Eu vejo em ti as épocas que já viveste E as épocas que ainda tens para viver. Minha ternura é feita de todas as ternuras Que descem sobre nós desde o começo de Adão. Estás encarcerada nas formas Que se engrenam em outras na corrente dos séculos. E outras formas estão ansiosas por despontarem em ti. Quando eu te contemplo Vejo tatuada no teu corpo A história de todas as gerações. Encerras tua filha, tua neta e a neta de tua neta. Ó mulher, tu és a convergência de dois mundos. Quando te olho a extensão do tempo se desdobra ante mim.
Estudo para um caos O ÚLTIMO  anjo derrama seu cálice no ar. Os sonhos caem da cabeça do homem As crianças são expelidas do ventre materno As estrelas se despregam do firmamento. Uma tocha enorme pega fogo no fogo. A água dos rios e dos mares jorra cadáveres. Os vulcões vomitam cometas em furor E as mil pernas da Grande Dançarina Fazem cair sobre a terra uma chuva de sangue. Rachou-se o teto do céu em quatro partes. Instintivamente eu me agarro ao abismo. Procurei meu rosto, não o achei. Depois a treva foi ajuntada à própria treva.
Carlos Drummond de Andrade “ Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer. “
Biografia: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902.  De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".
No meio do caminho    No meio do caminho  Carlos Drummond de Andrade  No meio do caminho tinha uma pedra  tinha uma pedra no meio do caminho  tinha uma pedra  no meio do caminho tinha uma pedra.  Nunca me esquecerei desse acontecimento  na vida de minhas retinas tão fatigadas.  Nunca me esquecerei que no meio do caminho  tinha uma pedra  tinha uma pedra no meio do caminho . no meio do caminho tinha uma pedra.
Composição E é sempre a chuva  nos desertos sem guarda-chuva,  e a cicatriz, percebe-se, no muro nu.  E são dissolvidos fragmentos de estuque  e o pó das demolições de tudo  que atravanca o disforme país futuro.  Débil, nas ramas, o socorro do imbu.  Pinga, no desarvorado campo nu.  Onde vivemos é água. O sono, úmido,  em urnas desoladas. Já se entornam,  fungidas, na corrente, as coisas caras  que eram pura delícia, hoje carvão.  O mais é barro, sem esperança de escultura.
O mundo é grande O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é g rande e cabe no breve espaço de beijar.
Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundo que não amava Maria que amava  Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos,  Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia. Joaquim se suicidou e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na históoria.
Jorge de Lima “  Olhei para o Céu e vi, quando me voltei para o lado vi, na minha frente lá estava, olhei para o chão e vi novamente  '
Biografia: Jorge Matheos de Lima nasceu em Alagoas, em 1893. Fez os primeiros estudos em sua cidade, União, e depois em Maceió, no Colégio dos Irmãos Maristas. Estudou Medicina em Salvador,  transferindo-se para o Rio de Janeiro,  onde defendeu tese sobre os serviços  de higiene na capital federal .
Essa infanta Essa infanta boreal era a defunta em noturna pavana sempre ungida, colorida de galos silenciosos, extrema-ungida de óleos renovados. Hoje é rosa distante prenunciada, cujos cabelos de Altair são dela; dela é a visão dos homens subterrâneos, consolo como chuva desejada. Tendo-a a insônia dos tempos despertado, ontem houve enforcados, hoje guerras,  amanhã surgirão campos mais mortos Ó antípodas, ó pólos, somos trégua, reconciliemo-nos na noite dessa eterna infanta para sempre amada.  
Mulher proletária Mulher proletária — única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus,  forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária,  o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário.
Minha Sombra   De manhã a minha sombra  com meu papagaio e o meu macaco começam a me arremedar. E quando eu saio a minha sombra vai comigo fazendo o que eu faço seguindo os meus passos. Depois é meio-dia. E a minha sombra fica do tamaninho de quando eu era menino. Depois é tardinha. Ea minha sombra tão comprida brinca de pernas de pau.
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  • 1. Murilo Mendes “ o anjo pousa de leve no quarto onde a moça pura remenda a roupa dos pobres. “
  • 2. Biografia: Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901. Ainda menino, transferiu-se para Niterói, onde concluiu seus estudos secundários. Em 1953 mudou-se para a Europa, percorrendo vários países; faleceu em Portugal, em 13 de agosto de 1975.
  • 3. SOLIDARIEDADE “ Sou ligado pela herança do espírito e do sangue Ao mártir, ao assassino, ao anarquista. Sou ligado Aos casais na terra e no ar, Ao vendeiro da esquina, Ao padre, ao mendigo, à mulher da vida, Ao mecânico, ao poeta, ao soldado, Ao santo e ao demônio, Construídos à minha imagem e semelhança
  • 4. O homem,a luta e a eterninade Adivinho nos planos da consciência dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos mundo de planetas em fogo vertigem desequilíbrio de forças, matéria em convulsão ardendo pra se definir. Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades, o mundo ainda é pequeno pra te encher. Abala as colunas da realidade, desperta os ritmos que estão dormindo.
  • 5. A mulher vista do alto de uma pirâmide Eu vejo em ti as épocas que já viveste E as épocas que ainda tens para viver. Minha ternura é feita de todas as ternuras Que descem sobre nós desde o começo de Adão. Estás encarcerada nas formas Que se engrenam em outras na corrente dos séculos. E outras formas estão ansiosas por despontarem em ti. Quando eu te contemplo Vejo tatuada no teu corpo A história de todas as gerações. Encerras tua filha, tua neta e a neta de tua neta. Ó mulher, tu és a convergência de dois mundos. Quando te olho a extensão do tempo se desdobra ante mim.
  • 6. Estudo para um caos O ÚLTIMO  anjo derrama seu cálice no ar. Os sonhos caem da cabeça do homem As crianças são expelidas do ventre materno As estrelas se despregam do firmamento. Uma tocha enorme pega fogo no fogo. A água dos rios e dos mares jorra cadáveres. Os vulcões vomitam cometas em furor E as mil pernas da Grande Dançarina Fazem cair sobre a terra uma chuva de sangue. Rachou-se o teto do céu em quatro partes. Instintivamente eu me agarro ao abismo. Procurei meu rosto, não o achei. Depois a treva foi ajuntada à própria treva.
  • 7. Carlos Drummond de Andrade “ Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer. “
  • 8. Biografia: Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental".
  • 9. No meio do caminho   No meio do caminho Carlos Drummond de Andrade No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho . no meio do caminho tinha uma pedra.
  • 10. Composição E é sempre a chuva nos desertos sem guarda-chuva, e a cicatriz, percebe-se, no muro nu. E são dissolvidos fragmentos de estuque e o pó das demolições de tudo que atravanca o disforme país futuro. Débil, nas ramas, o socorro do imbu. Pinga, no desarvorado campo nu. Onde vivemos é água. O sono, úmido, em urnas desoladas. Já se entornam, fungidas, na corrente, as coisas caras que eram pura delícia, hoje carvão. O mais é barro, sem esperança de escultura.
  • 11. O mundo é grande O mundo é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é g rande e cabe no breve espaço de beijar.
  • 12. Quadrilha João amava Teresa que amava Raimundo que não amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento, Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia. Joaquim se suicidou e Lili casou com J. Pinto Fernandes que não tinha entrado na históoria.
  • 13. Jorge de Lima “ Olhei para o Céu e vi, quando me voltei para o lado vi, na minha frente lá estava, olhei para o chão e vi novamente '
  • 14. Biografia: Jorge Matheos de Lima nasceu em Alagoas, em 1893. Fez os primeiros estudos em sua cidade, União, e depois em Maceió, no Colégio dos Irmãos Maristas. Estudou Medicina em Salvador, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde defendeu tese sobre os serviços de higiene na capital federal .
  • 15. Essa infanta Essa infanta boreal era a defunta em noturna pavana sempre ungida, colorida de galos silenciosos, extrema-ungida de óleos renovados. Hoje é rosa distante prenunciada, cujos cabelos de Altair são dela; dela é a visão dos homens subterrâneos, consolo como chuva desejada. Tendo-a a insônia dos tempos despertado, ontem houve enforcados, hoje guerras, amanhã surgirão campos mais mortos Ó antípodas, ó pólos, somos trégua, reconciliemo-nos na noite dessa eterna infanta para sempre amada.  
  • 16. Mulher proletária Mulher proletária — única fábrica que o operário tem, (fabrica filhos) tu na tua superprodução de máquina humana forneces anjos para o Senhor Jesus, forneces braços para o senhor burguês. Mulher proletária, o operário, teu proprietário há de ver, há de ver: a tua produção, a tua superprodução, ao contrário das máquinas burguesas salvar o teu proprietário.
  • 17. Minha Sombra   De manhã a minha sombra com meu papagaio e o meu macaco começam a me arremedar. E quando eu saio a minha sombra vai comigo fazendo o que eu faço seguindo os meus passos. Depois é meio-dia. E a minha sombra fica do tamaninho de quando eu era menino. Depois é tardinha. Ea minha sombra tão comprida brinca de pernas de pau.
  • 18.