Nesta edição conheça a história do gato, desde os primeiros sinais de domesticação até se tornarem nos animais de estimação mais populares em todo o mundo. Isto e muito mais na Revista. https://www.mundodosanimais.pt/revista/
4. 4 MUNDO DOS ANIMAIS
24
ANIMAIS NO G
Elefantes, búf
várias aves e
Google Earth
34
FÓSSEIS VIVO
O que são fós
estes e outros
sidades sobre
58
A HISTÓRIA D
Desde os prim
se tornarem n
em todo o mu
Fotografia de capa: «My Wife’s Lovers» por Carl Kahler, 1893
Todas as ediçõe
www.mundodos
5. GOOGLE EARTH
falos, focas, hipopótamos, camelos,
e outros animais podem ser vistos no
h. Desfrute desta viagem!
OS
sseis vivos? Qual a diferença entre
s animais? Descubra factos e curio-
e estas espécies.
DO GATO
meiros indícios de domesticação até
no animal de estimação mais popular
undo.
BEM-VINDO(A)
Vamos regressar no tempo. Há
12 mil anos atrás, no Crescente
Fértil do Médio Oriente – região
que compreende os atuais Israel,
Jordânia, Líbano e partes da Sí-
ria, Iraque, Egito, Turquia e Irão
– dá-se a expansão das primeiras
sociedades agrícolas. O ser hu-
mano deixa de ser predominan-
temente caçador e fixa-se para
cultivar terras.
A produção agrícola é um chama-
riz para ratos, que se começam
a concentrar e reproduzir nessas
regiões. Mas não viriam sozinhos.
Atraídos pela quantidade de pre-
sas disponíveis, os gatos selva-
gens do Médio Oriente tomaram
a iniciativa de se aproximar dos
agricultores e criou-se de imedia-
to uma situação vantajosa para
ambos: os gatos beneficiaram do
alimento disponível e os seres
humanos beneficiaram da pro-
teção das suas plantações (com
a eliminação dos ratos por parte
dos gatos).
E assim começou uma fantástica
história, que melhora a cada dia
em cada uma das nossas casas.
Carlos Gandra
es disponíveis gratuitamente em:
sanimais.pt/revista
7. 7EDIÇÃO Nº 30
Um tucano antes e depois de receber um
novo bico em 3D. A ave foi agredida por um
grupo de adolescentes na Costa Rica, tendo
perdido uma parte significativa do bico e
deixando de se conseguir alimentar sem ajuda.
Acolhido pela ZooAve e com a ajuda preciosa
de donativos, foi possível salvar o tucano e
financiar esta prótese, que custou cerca de
7.400 euros (26.366 reais). Hoje é um dos
símbolos contra os maus-tratos a animais da
Costa Rica.
Fotografias: DR
8. 8 MUNDO DOS ANIMAIS
Mohammad Alaa Aljaleel, também conhecido
como “homem dos gatos”, é o herói que salva
os gatos de Aleppo, uma cidade em ruínas
em plena guerra civil na Síria. Anteriormente
eletricista, Mohammad criou um santuário para
os gatos em 2011 e desde então tem acolhido
os animais que muitos donos deixam para trás
quando fogem da guerra.
Fotografia: Mohammad Alaa Aljaleel / Facebook
11. Corinna Esterer rodeada de íbis-eremitas, a
espécie que, juntamente com Anne-Gabriela
Schmalstieg, está a tentar salvar da extinção
através da criação em cativeiro (e posterior
libertação na natureza). O íbis-eremita
(Geronticus eremita) é o íbis mais ameaçado
da Europa, tendo sido já extinto na Europa
Central há mais de três séculos. Corinna e
Anne-Gabriela dedicam seis meses por ano a
estas aves, a quem inclusive ensinam a rota de
migração sobre os Alpes.
Fotografia: Esther Horvath / Audubon
13. 13
Uma borboleta interrompeu uma sessão de
fotografia e filmagem com a koala Willow, no
Symbio Wildlife Park na Nova Gales do Sul,
Austrália. Os realizadores do vídeo sobre as
iniciativas sustentáveis daquele parque tiveram
de esperar; já a koala não pareceu ficar nada
incomodada com a visita do inseto.
Fotografia: Symbio Wildlife Park / via Facebook
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
14. O controverso artista gaulês Rémi
Gaillard, enjaulou-se num canil
de Montepellier no passado dia
11 de Novembro, prometendo
sair apenas quando 300 animais
fossem adotados ou 50 mil euros
(cerca de 180 mil reais) fossem
angariados. Com transmissão
ao vivo pelo Facebook durante a
sua estadia, a iniciativa terminou
no passado dia 15 de Novembro,
com mais de 200 mil euros (cerca
de 710 mil reais) arrecadados
para os animais da associação.
Fotografia: Rémi Gaillard / via
Facebook
15.
16. Cerca de duzentas pessoas juntaram-se na
praia de Porth Beach, em Cornwall, para
participar no último passeio do cão Walnut, de
18 anos, com uma doença terminal. Devido
ao seu estado débil, o dono de Walnut,
Mark Woods, levou o cão ao colo durante a
caminhada, onde também participaram vários
outros cães, numa homenagem emocionante.
Fotografias: Neil Hope
17.
18. Os residentes de um lar no Arizona estão a
ajudar a associação Pima Animal Care Center
(PACC) a lidar com o crescente número de
gatinhos órfãos que precisam de ajuda. Os
idosos alimentam os bebés, dão-lhe atenção e
carinho, partilhando do amor que têm para dar
e recebendo de volta a companhia impagável
dos pequenos felinos. Os gatos serão
posteriormente esterilizados e disponibilizados
para adoção.
Fotografias: Pima Animal Care
19.
20. 20
Pocket, uma cabra bebé que nasceu sem
cascos nas patas traseiras, ao cuidado
da associação Goats of Anarchy (GOA),
que faz precisamente a reabilitação de
cabras com deficiências físicas. Pocket
tem agora próteses para a ajudar a andar
e equilibrar-se, embora ainda não se
tenha adaptado totalmente ás mesmas.
Fotografia: Goats of Anarchy / Facebook
23. 23
Uma águia-real
fotografada no Parque
Nacional de Cairngorms,
na Escócia. A população
de águias-reais no Reino
Unido tem crescido
e já superou o nível
considerado viável para
a sobrevivência da
espécie a longo prazo.
Apesar de continuar
ausente de um terço do
seu território original,
existem agora 508 pares
reprodutores, todos na
Escócia, uma subida em
relação aos 442 pares
encontrados em 2003
e 422 pares em 1992.
Em Inglaterra, a última
águia-real deixou de ser
vista este ano e teme-se
que tenha morrido.
Fotografia: Peter Cairns /
RSPB
Veja mais fotos no Mundo dos Animais:
www.mundodosanimais.pt/fotos
24. O
Google Earth é uma caixinha
de tesouros que vai muito
além de observarmos o telha-
do da nossa casa. É provável
que já tenha passado algumas horas
a navegar pelo nosso mundo através
deste programa, mas já o utilizou para
explorar a fauna do planeta?
Apesar de muitos animais não terem
tamanho suficiente para serem per-
ceptíveis via satélite, a verdade é que
existem dezenas de locais nos mapas
onde é possível observar animais sel-
vagens, com grande destaque para o
continente africano. Elefantes, búfalos,
focas, hipopótamos, camelos, várias
aves e outros animais podem ser vistos
no seu habitat natural, seja a correr em
manadas, a descansar na praia ou em
“deliciosos” banhos de lama.
Descubra as melhores fotos de ani-
mais, acompanhadas das respetivas
coordenadas, que pode encontrar no
Google Earth na galeria de fotos que
selecionamos para si.
Animais no
Google Earth
24 MUNDO DOS ANIMAIS
33. Ligações úteis:
Instalar o Google Earth (compu-
tadores e dispositivos móveis):
https://www.google.com/earth/
explore/products/
Placemarks de animais (para
aceder diretamente aos locais
onde se encontram os animais
dentro do Google Earth):
https://goo.gl/HxARO6
Artigo na National Geographic
sobre animais no Google Earth
(em inglês):
http://voices.nationalgeogra-
phic.com/2009/05/27/african_
wildlife_safari_in_goo/
33
Elefantes adultos e juvenis
Latitude: 10°54’13.16”N
Longitude: 19°55’59.67”E
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
Descubra mais sobre animais selvagens em:
www.mundodosanimais.pt/animais-selvagens
34. O celacanto é um peixe que se julgava extinto há cerca de 66
milhões de anos, no mesmo evento que também extinguiu os
dinossauros e muitos outros animais. Em 1938 foi pescado
acidentalmente na África do Sul.
Fotografia: Laurent Ballesta /andromede-ocean.com / blancpain-
ocean-commitment.com
35. 31A TELEPATIA CANINA
Fósseis Vivos
Os animais que permaneceram inalterados (ou quase) desde
os tempos primitivos, incluindo alguns que conhecíamos ape-
nas do registo fóssil. Até nos aparecerem à frente. Vivos.
36. 36
F
óssil vivo é uma ex-
pressão informal, uma
designação atribuída
a animais conhecidos
através do registo fóssil de há
vários milhões de anos e que,
portanto, sobreviveram aos
eventos de extinção em massa
ocorridos na pré-história.
Estes animais chamados fós-
seis vivos, são animais muito
semelhantes aos seus ances-
trais. No entanto, convém sa-
lientar que apesar das poucas
ou nenhumas diferenças visí-
veis, a nível molecular as coisas
são diferentes e um fóssil vivo,
é tão evoluído geneticamente
como qualquer outro animal.
A dificuldade na compreensão
desta diferença, entre o que se
vê (anatómico) e o que “não se
vê” (molecular), é o principal fa-
tor que leva os defensores das
teorias criacionistas, a usar as
espécimes de animais fósseis
vivos como uma “prova” contra
a teoria da evolução. Segundo
os criacionistas, o facto de ani-
mais existentes há milhões de
anos continuarem vivos e inal-
terados hoje em dia, é uma ne-
gação da evolução.
Contudo e como se pode ver
num exemplo mais à frente – a
tuatara (na foto) – todos os ani-
mais evoluem e até bastante
rápido, mesmo que não “não
pareça”.
Entre os fósseis vivos, encontra-
mos criaturas bizarras, excên-
tricas ou simplesmente únicas,
com um aspeto muitas vezes
primitivo (como o tubarão-co-
bra) ou até alienígena (como os
caranguejos-ferradura).
Em principio, a sobrevivência
tão duradoura destes animais
poderia significar um grande
sucesso biológico dos mesmos,
no entanto, muitos dos animais
fósseis vivos, chegaram até nós
porque os seus habitats foram
sujeitos a poucas alterações
ao longo dos milhões de anos,
bem como a competição com
outras espécies não os levou
à extinção. No mesmo sentido,
são também alguns dos animais
mais vulneráveis e ameaçados
pela ação humana.
Independentemente da sua so-
MUNDO DOS ANIMAIS
37. Fotografia: Sid Mosdell / via Flickr
depois de já serem conhecidos
no registo fóssil e considerados
extintos;
4) O fóssil vivo mais conhecido
em todo o mundo é o Celacan-
to, cujos fósseis datam de há
400 milhões de anos atrás;
5) Existem outros fósseis vivos
que não são animais, tais como
bactérias e plantas (a Ginkgo
biloba já existe há 50 milhões
de anos).
De seguida, apresentamos-lhe
alguns animais fósseis vivos,
que talvez o surpreendam.
brevivência e da “saga” percor-
rida durante tantos milhões de
anos, os fósseis vivos são, so-
bretudo, a visão mais realista
que podemos ter de como era
o mundo há muito, muito tempo
atrás.
Ideias-chave sobre fósseis
vivos:
1) Poucas ou nenhumas altera-
ções anatómicas desde os tem-
pos primitivos;
2) Baixa diversidade genética;
3) Muitas vezes descobertos
38. 34 WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
Mixinas
As mixinas, também conhecidas como peixes-bruxa ou enguias-de-
-casulo (classe Agnatha ou Myxini) são os únicos animais vivos de
crânio sem coluna vertebral, o que leva alguns taxonomistas a hesitar
em classificá-las como animais vertebrados. Têm um aspeto e carac-
terísticas tão primitivas quanto os seus ancestrais, gravados no registo
fóssil desde há 550 milhões de anos. As mixinas possuem glândulas
segregadoras de muco em toda a pele, que usam para se defenderem
e escapar de predadores, e são consideradas uma ligação evolutiva
crucial entre animais vertebrados e invertebrados.
“Os cães estão recetivos à
Fotografia: Wikimedia Commons
39. 35A TELEPATIA CANINA
Fotografia: Wikimedia Commons
Nautilus
Com as suas conchas únicas, que serviram de inspiração a muitos ar-
tistas ao longo dos últimos séculos e que representam um dos melho-
res exemplos naturais de uma espiral logarítmica, estes cefalópodes
– parentes das lulas, dos polvos e dos chocos – já “vagueiam” pelos
oceanos desde há 500 milhões de anos atrás, tendo “convivido” com
inúmeros animais pré-históricos como as trilobites ou os dinossauros.
Atualmente, os nautilus podem ser encontrados nas águas do Indo-
-Pacífico.ães estão recetivos à
40. Caranguejo
ferradura
O caranguejo-ferradura, ou lí-
mulo (Limulus polyphemus),
além de ser um fóssil vivo –
está no registo fóssil do período
Ordoviciano, há cerca de 450
milhões de anos – é um animal
fascinante em muitos aspetos.
A sua aparência meio alieníge-
na e meio pré-histórica, escon-
de um sangue azul, literalmente
azul, considerado muito valioso
na medicina humana para o
combate a infeções bacteria-
nas, uma extração onde os ani-
mais não são sacrificados e são
posteriormente libertados.
Estes caranguejos são também
capazes de regenerar membros
perdidos, tal como uma estrela
do mar. Apesar do nome, estão
mais próximos das aranhas e
dos escorpiões do que dos ca-
ranguejos. Na verdade, é o ani-
mal vivo mais próximo das pri-
mitivas trilobites que podemos
observar.
42. 38 WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
Celacanto
O celacanto (Latimeria chalumnae e Latimeria menadoensis) é prova-
velmente o fóssil vivo mais conhecido em todo o mundo. Durante bas-
tante tempo pensou-se que estes peixes, com origem há cerca de 400
milhões de anos, tinha sido extinto juntamente com os dinossauros no
final do período Cretácico, há 66 milhões de anos. Até que em 1938
foi descoberto, junto com outros peixes, apanhados por um pescador
local na África do Sul. Desde então, já foram observados celacantos
no Quénia, Tanzânia, Moçambique e Madagáscar. Curiosamente, os
animais mais próximos taxonómicamente do celacanto, são os tetrá-
podes (vertebrados de quatro patas) e os peixes pulmonados. Os ce-
lacantos conseguem viver por mais de 100 anos.
Fotografia: Project Gombessa
43. 39A TELEPATIA CANINA
Fotografia: Wikimedia Commons
Barata
As baratas são insetos popularmente conhecidos – não popularmente
amados digamos assim – que já se encontram no registo fóssil data-
do de há cerca de 400 milhões de anos, no período Siluriano. Desde
então, as mudanças são realmente poucas. A barata na foto está pre-
servada em âmbar e viveu há 40 – 50 milhões de anos atrás.“Os cães
estão recetivos à
44. 40 MUNDO DOS ANIMAIS
Esturjão
Outro animal também popularmente conhecido, o esturjão, é encontra-
do no registo fóssil datado de há 200 – 230 milhões de anos. Tal como
é “normal” nos chamados fósseis vivos, o esturjão também pouco ou
nada mudou desde o seu aparecimento – juntamente com o apareci-
mento dos primeiros dinossauros – até ás nossas águas atuais.
“Os cães estão recetivos à
Fotografia: Wikimedia Commons
45. Fotografia: Wikimedia Commons
Triops
Semelhantes a caranguejos-ferradura, mas em miniatura, os triops
(Triops longicaudatus) são bem conhecidos dos aquariofilistas que
apreciam ter um autêntico fóssil vivo nos seus aquários. Originários no
período Triássico, há cerca de 220-230 milhões de anos, os triops res-
piram pelas patas e pertencem à família dos caranguejos e dos cama-
rões. O nome triops refere-se aos três olhos que possuem. Os triops
atuais são praticamente iguais aos que habitaram as águas do nosso
planeta há 70 milhões de anos, ainda no tempo dos dinossauros.“Os
cães estão recetivos à
46. Crocodilo
Provenientes de há cerca de
230 milhões de anos, junta-
mente com os esturjões e os
dinossauros, os crocodilos são
também os animais com apa-
rência mais… dinossauresca.
Por esse motivo, muitas vezes
os crocodilos não são apelida-
dos de fósseis vivos mas sim
de dinossauros vivos, um nome
que lhes assenta bem.
Os crocodilos atuais evoluíram
há cerca de 84 milhões de anos,
no período Cretácico, tendo so-
brevivido à extinção que ani-
quilou os dinossauros, à seme-
lhança das tartarugas e outros
animais. Apesar da aparência,
são os parentes vivos mais pró-
ximos das aves, representan-
do uma ligação entre répteis e
aves que divergiu há muitos mi-
lhões de anos.
A aparência dos crocodilos pra-
ticamente não se alterou desde
o tempo dos dinossauros, em-
bora tenha havido evolução no-
tória no esqueleto que os torna,
hoje, mais fortes e mais ágeis
do que no passado remoto.
48. 44 MUNDO DOS ANIMAIS
Tartaruga
As tartarugas que tão bem co-
nhecemos, inclusive como ani-
mais de estimação nas nossas
casas, fazem parte de um dos
grupos de répteis mais antigos
do planeta.
As primeiras tartarugas, cha-
madas proto-tartarugas, vive-
ram há cerca de 220 milhões
de anos, no período Triássico.
Estas proto-tartarugas tinham a
carapaça incompleta, como se
nunca tivessem passado do es-
tado embrionário, e tinham den-
tes.
À medida que foram evoluindo,
as carapaças tornaram-se mais
completas, e as espécies data-
das de há cerca de 160 milhões
de anos, no período Jurássico,
já eram muito semelhantes às
tartarugas que conhecemos
hoje em dia.
50. Tuatara
Um dos fósseis vivos mais conhecidos em todo o mundo, as tuata-
ras, animais “genuinamente” pré-históricos, tiveram origem no nosso
planeta há cerca de 200 milhões de anos, tendo sobrevivido até hoje
apenas duas espécies, a Sphenodon guntheri e a Sphenodon puncta-
tus. Embora as tuataras se assemelhem a lagartos, pertencem a uma
família com características absolutamente únicas entre os répteis.
Apesar de consideradas fósseis vivos, pelas muito poucas diferenças
anatómicas com os fósseis do período Triássico, estudos moleculares
recentes demonstraram que estes animais não estão parados na evo-
lução: pelo contrário, a evolução molecular das tuataras é mais rápida
do que a de qualquer outro animal até hoje analisado.
Fotografia: Wikimedia Commons
51. Fotografia: Autor Desconhecido
Tubarão-cobra
Não obstante o seu aspecto claramente primitivo e “desenquadrado”,
o tubarão-cobra vem de uma linhagem que terá surgido há mais de 90
milhões de anos, provavelmente mesmo há 150 milhões de anos. Ha-
bita águas profundas, como 1.500 metros de profundidade, e tem um
corpo parecido com as enguias. O espécime capturado nas águas su-
perficiais do Japão e logo transportado para um parque aquático, mor-
reu poucas horas depois, por doença – provavelmente a mesma doen-
ça que o levaria a subir das profundezas à superfície. A observação foi
contudo valiosa, dado tratar-se de um animal tão raro e primitivo.“Os
cães estão recetivos à
52. Ornitorrinco
Apesar de não ter um aspeto
típico primitivo, os ornitorrin-
cos (Ornithorhynchus anatinus)
também não se parecem com
mais nenhum outro animal.
Os ornitorrincos são mamíferos
que põem ovos e possuem ve-
neno, além de terem o conheci-
do bico de pato, de segregarem
o leite através de poros na pele
e de terem 10 cromossomas se-
xuais – ao contrário da maioria
dos mamíferos que possuem 2,
o X e o Y. A singularidade dos
ornitorrincos já levou mesmo os
cientistas a classificarem-nos
erradamente como répteis.
A presença dos ornitorrincos
na pré-história ficou comprova-
da pela existência de um fóssil
com cerca de 110 milhões de
anos, pertencente a um Stero-
phodon, parente do ornitorrinco
de aspeto muito similar e que
viveu no período Cretácico. A
origem mais ancestral parece
remontar, contudo, a cerca de
167 milhões de anos, no perío-
do Jurássico.
55. 55
S
abia que os koalas,
pandas-vermelhos e
musaranhos-elefantes
também são conside-
rados fósseis vivos? Os pri-
meiros ancestrais dos pandas
(quer dos pandas-vermelhos
como dos pandas-gigantes) ha-
bitaram o planeta no início do
período Terciário, há cerca de
65 milhões de anos atrás, logo
após a extinção que eliminou
os dinossauros.
O panda-vermelho propriamen-
te dito, está no registo fóssil
desde há 5-7 milhões de anos.
Já sobre os koalas, os registos
fósseis ascendem a 20 milhões
de anos, quando os seus an-
cestrais evoluíram no sentido
de habitarem as florestas tropi-
cais, ao contrário dos eucaliptos
que hoje lhes servem de casa.
Os musaranhos-elefantes
atuais (que apesar do nome,
não são parentes nem dos mu-
saranhos, nem dos elefantes,
nem de “coisa nenhuma” pois a
sua classificação ainda é mui-
to debatida) são praticamente
idênticos aos seus ancestrais
que floresceram no continente
africano há cerca de 30 milhões
de anos atrás. Tal como estes
ancestrais, são animais inse-
tívoros. Mais antigas são as
aranhas-de-alçapão (família
Ctenizidae), cuja existência já
remonta há 85 milhões de anos.
Outro animal bem conhecido
é o dragão-de-komodo, um la-
garto da Indonésia que partilha
com os crocodilos um aspeto
dinossauresco. Podendo atin-
gir 3 metros de comprimento e
70 quilos de peso, este géne-
ro de lagartos (Varanus) surgiu
na Ásia há cerca de 40 milhões
de anos, tendo depois migrado
para a Austrália. A colisão entre
a Austrália e o Sudoeste Asiáti-
co, ocorrida há uns 15 milhões
de anos, permitiu que os dra-
gões-de-komodo se deslocas-
sem para aquele que é, hoje,
o arquipélago indonésio. Os
dragões-de-komodo atuais di-
ferenciaram-se dos ancestrais
há cerca de 4 milhões de anos.
Há 23 milhões de anos, apare-
ceram os primeiros aardvarks
(Orycteropus afer), um mamífe-
ro noctívago africano, parente
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
56. dos elefantes, que tende a apa-
recer em primeiro lugar em to-
das as listas alfabéticas de ani-
mais (porque será?). No caso
do aardvark, não só a aparên-
cia mais também os seus cro-
mossomas têm-se mantidos
idênticos ao longo de milhões
de anos. Antes deles, há 46
milhões de anos, divergiram
dos marsupiais australianos os
monitos-del-monte (Dromiciops
gliroides), pequenos marsupiais
da América do Sul e únicos
membros vivos da sua ordem.
Medem apenas 13 centímetros
e pesam cerca de 30 gramas.
Para último mas nada menos
interessante, os okapis (Okapia
johnstoni). É uma das duas es-
pécies remanescentes da famí-
lia Giraffidae – sendo que a ou-
tra espécie, é a própria girafa.
Os okapis (na foto) foram con-
siderados animais extintos por
se conhecerem apenas através
do registo fóssil. Depois, foram
considerados animais críptidos,
pois apenas existiam relatos da
sua existência entre os habitan-
tes locais da República Demo-
crática do Congo. Por fim, este
fóssil vivo foi encontrado… vivo.
Os okapis têm um pescoço
muito mais curto que as girafas
atuais e são animais por norma
solitários. Tiveram origem há
cerca de 15 milhões de anos
e estão, de momento, em peri-
go de extinção. São o exemplo
vivo mais próximo das girafas
mais primitivas.
56 MUNDO DOS ANIMAIS
59. STÓRIA DO GATO
nais de domesticação, a ascenção divina no antigo
uição religiosa na Idade Média. O percurso histórico
stimação mais popular em todo o mundo.
“The Apotheosis of the Cats” Theophile-Alexandre Steinlen, 1885
60. O sarcófago do gato do príncipe
Tutmés, filho mais velho do
Faraó Amenófis III e da Rainha
Tiye. Os gatos foram venerados
como divindades no antigo
Egito, tendo recebido templos
em sua honra e aplicada neles
a prática da mumificação, que
estava reservada ás pessoas
mais importantes, como o próprio
Faraó.
Fotografia: Lazaroni / via Flickr
61.
62.
63. Mosaico de Pompeia, soterrado
pela erupção do Vesúvio em
79 d.C. Na Roma antiga, os
gatos eram importantes animais
caçadores e de companhia,
bem como um símbolo de
independência.
Fotografia: Ancient History Ency-
clopedia
64. 64 MUNDO DOS ANIMAIS
A
história do gato domés-
tico tem despoletado,
em particular nos últi-
mos anos, estudos que
se debruçaram sobre o tema e
nos permitiram conhecer me-
lhor a origem destes pequenos
felinos, bem como a sua histó-
ria desde os primeiros passos
junto aos seres humanos até
ao domínio (propositadamente
sem aspas) das nossas casas.
Uma das primeiras questões
que nos surgem quando pensa-
mos na domesticação do gato
é: porque motivo os domestica-
mos? Aparentemente, os gatos
são os únicos animais que do-
mesticamos sem termos uma
razão explicita para o fazermos.
Se verificarmos a história da
nossa civilização, vemos que o
ser humano domesticou vários
animais para deles retirar bene-
fícios essenciais à sua sobrevi-
vência, fosse através do traba-
lho, da carne, do leite ou da lã.
E fê-lo com animais que, em
modo selvagem, já viviam em
grupos com hierarquias bem
definidas, uma estrutura que
o ser humano aproveitou para
chamar a si o estatuto de indiví-
duo alfa e controlar esses gru-
pos.
Ora, os gatos não contribuem
para a sobrevivência do ser hu-
mano de nenhuma dessas for-
mas e, exceptuando os leões,
os felinos selvagens também
não vivem em grupos hierár-
quicos nem respondem peran-
te qualquer alfa – na verdade,
os gatos não são propensos a
obedecer ou a seguir ordens.
Então, qual foi o nosso interes-
se inicial em domesticar os ga-
tos? E será que nós realmen-
te os domesticamos? Vamos
explorar como tudo começou
e perceber porque motivo se
formou esta longa, bonita mas
também atribulada, história en-
tre seres humanos e gatos.
Anteriormente acreditava-se
que a origem dos nossos gatos
seria africana, como uma adap-
tação evolutiva do gato selva-
gem africano (Felis silvestris
cafra) e que o povo egípcio teria
sido o primeiro a domesticá-lo.
65. 51WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
Fotografia: Wikimedia Commons
No entanto, também é pouco
provável que alguém tivesse
decidido levar gatos selvagens
para a ilha, como referiu Des-
mond Morris no seu livro Cat-
watching: “um felino selvagem
em pânico, a bufar e a arra-
nhar seria o último companhei-
ro de viagem que a tripulação
quereria ter a bordo”. Então, é
plausível que esses gatos já es-
tivessem de alguma forma do-
mesticados e habituados à pre-
sença humana.
A prova de domesticação mais
convincente seria descoberta
em 2004, também no Chipre.
Porém e como vamos ver de
seguida, vestígios da presença
de gatos noutras partes do glo-
bo e em datas anteriores aos
achados egípcios (cerca de 4
mil anos atrás) vieram “reescre-
ver a história”.
Em 1983, no Chipre, arqueólo-
gos descobriram uma mandíbu-
la de gato datada de há 8 mil
anos atrás. Dadas as incríveis
semelhanças entre os esquele-
tos dos gatos domesticados e
dos gatos selvagens, era difícil
afirmar se os achados arqueo-
lógicos diziam respeito a um ou
a outro.
66. 66 MUNDO DOS ANIMAIS
Jean-Denis Vigne, do Museu
Nacional de História Natural de
Paris, e a sua equipa, desenter-
raram um túmulo onde estavam
sepultados, lado a lado, um ser
humano de sexo desconhecido
e um gato de cerca de 8 meses
(imagem em cima). Ambos os
corpos se encontravam sepul-
tados na mesma direção (oes-
te). Mais surpreendente foi a
datação desses restos mortais:
9.500 anos, ainda mais antigo
do que a descoberta de 1983.
Uma vez que os gatos não são
nativos das ilhas Mediterrâneas
e portanto tiveram mesmo de
Créditos: “Early Taming of the Cat in Cyprus”, J.D.Vigne, J.Guilaine, K.Debue, K.Haye E P.Gérard, em Science,
Vol.304; Abril, 2004
67. 67
ser transportados de barco,
bem como o enterro de um ser
humano e um gato lado a lado
no mesmo túmulo, forneceram
fortes evidências em como nes-
sa altura as pessoas já tinham
alguma relação especial e/ou
intencional com os gatos.
Em Junho de 2007, num estu-
do baseado em análises ge-
néticas e publicado na revista
Science, os autores do mesmo
afirmaram que os gatos do-
mésticos tiveram todos origem
nos gatos selvagens do Médio
Oriente (Felis silvestris lybica),
num processo que especulam
ter começado há 12 mil anos
atrás – quase 3 mil anos antes
da datação do gato encontra-
do sepultado com o “dono” no
Chipre. A data coincide com o a
expansão das primeiras socie-
dades agrícolas no Crescente
Fértil do Médio Oriente, o que
nos leva ao (provável) motivo
pelo qual seres humanos e ga-
tos deram início a esta jornada
juntos. “O que nós achamos
que aconteceu foi que os gatos
se domesticaram a si próprios”
afirmou Carlos Driscoll, um dos
autores deste estudo, ao Wa-
shington Post.
Quanto os seres humanos eram
predominantemente caçadores,
os cães eram os melhores com-
panheiros possíveis e assim se
deu origem à domesticação do
cão, muito antes da domestica-
ção do gato. Quando nos co-
meçamos a fixar e a cultivar as
terras, abriu-se uma janela de
oportunidade para os gatos.
Com a produção agrícola co-
meçaram a surgir ratos – que
ameaçavam essa mesma pro-
dução – e os gatos terão basi-
camente ficado fascinados com
a quantidade de presas (ratos)
que haviam junto daquelas
criaturas gigantes de aspeto
estanho (humanos). Por conse-
quência, os seres humanos da
altura também terão ficado en-
cantados com a capacidade de
eliminação dos ratos por parte
daqueles felinos em miniatura.
Uma relação simbiótica com
tudo para dar certo. Os gatos
fizeram-se convidados e nós
aceitamos de bom grado.
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
68. 68 MUNDO DOS ANIMAIS
Naturalmente, é de supor que
as pessoas terão dado prefe-
rência aos gatos mais mansos
e sociáveis, procurando afastar
das suas casas e proprieda-
des aqueles que se revelassem
mais agressivos, dando assim
origem a criações seletivas de
gatos cada vez mais afetuosos.
Contudo, enquanto os restan-
tes animais domésticos eram
sustentados inteiramente pelo
ser humano, os gatos continua-
ram a ter de se desenrascar
sozinhos para sobreviver – na
caça aos ratos e na procura
de restos de comida – motivo
pelo qual a sua independência
e apurado instinto de caça per-
manece praticamente inaltera-
do até aos dias de hoje.
Não é por acaso que, regra ge-
ral, um gato na rua se parece
conseguir desenrascar melhor
do que um cão na mesma si-
tuação (sendo evidentemente
uma situação indesejável para
qualquer animal doméstico e
que deve ser evitada a todo o
custo). Os cães foram sujeitos
a uma criação seletiva muito
ativa e são hoje bastante dife-
rentes dos seus ancestrais sel-
vagens, enquanto que o gato
mantém intactas praticamen-
te todas as características dos
gatos selvagens, incluindo uma
morfologia praticamente indis-
tinguível.
69. 51WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
O apurado instinto de caça dos gatos, em particular
de ratos (na imagem trata-se de um brinquedo) ajuda-
ram a aproximar gatos e seres humanos. As planta-
ções agrícolas eram uma fonte de ratos para os gatos,
que os apanhavam e assim evitavam a destruição das
plantações.
Fotografia: Ian Barbour / via Flickr
70. “The Gods and Their Makers” de Edwin Longsden
Long, 1898. Os gatos foram venerados como
entidades divinas no antigo Egito
71.
72. 72 MUNDO DOS ANIMAIS
Fotografia: Wikimedia Commons
73. A
convivência entre se-
res humanos e gatos
nem sempre foi pacífi-
ca. A personalidade in-
dependente, a elegância os há-
bitos mais noturnos e solitários
dos gatos despoletaram sen-
timentos mistos nas diversas
culturas e épocas pelas quais
passaram.
É bem conhecida a reverência
e fascínio do povo do antigo
Egito pelos gatos. Apesar de
não terem sido os primeiros a
“domesticar” os gatos como an-
teriormente se pensava, certa-
mente tiveram um papel históri-
co fundamental na forma como
os apreciamos e nos relaciona-
mos com eles, tendo chegado a
considerá-lo um animal divino.
A deusa egípcia Bastet era re-
presentada com a forma de um
gato, à qual era atribuída uma
personalidade afável e forte. Di-
versos templos foram construí-
dos em sua honra e milhares de
gatos foram mumificados, uma
prática reservada às pessoas
mais importantes, como por
exemplo o próprio Faraó. Os
arqueólogos descobriram um
cemitério em Beni-Hassan que
continha nada menos do que
73
300 mil gatos mumificados, o
que significa que o povo egíp-
cio fazia criação ativa de gatos
domésticos.
Os egípcios puniam com a pena
de morte qualquer pessoa que
ousasse matar um gato. Para
protegerem os seus preciosos
felinos, impuseram também
leis que proibiam a exporta-
ção dos gatos para outros paí-
ses. No entanto, esta proibição
só tornou os gatos ainda mais
valiosos, o que deu origem ao
transporte clandestino das “ra-
ridades” para outros países,
onde eram vendidos por um
preço elevado. O assunto era
tido como tão sério que foram
criadas “delegações governa-
mentais” cujo único propósito
era encontrar os locais para
onde os gatos tinham sido clan-
destinamente enviados e trazê-
-los de volta para o interior do
Egito. Os destinatários eram os
países banhados pelo Mar Me-
diterrâneo, que receberam os
gatos provavelmente transpor-
tados em barcos fenícios.
Na Pérsia, também começaram
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
74. 74 MUNDO DOS ANIMAIS
“Cats in the Garden” por Mao Yi, séc. XII | Imagem: Wikimedia Commons
a ser venerados. Havia a cren-
ça de que quem matasse um
gato preto, estaria a matar um
espírito amigo, criado especifi-
camente para fazer companhia
ao Homem na sua passagem
pela Terra.
Na Grécia, os gatos não tive-
ram a mesma facilidade em
ganhar o seu espaço junto das
pessoas, pois os gregos já ti-
nham o seu próprio controlador
de roedores: as doninhas.
Na Roma antiga, os gatos tive-
ram um papel importante como
animais caçadores e animais
de companhia, embora fossem
considerados mais um símbolo
de independência do que um
animal de utilidade – uma si-
tuação que se agravou depois
de o Imperador Teodósio banir
os cultos pagãos: a deusa Dia-
na tinha a imagem de um gato
e rituais ligados à lua, algo que
começou a não ser bem visto.
Ainda assim o Império Roma-
no contribuiu para que os ga-
tos formassem colónias em
várias partes da Europa, pois
viajavam com eles nos barcos
75. 75
Xilogravura do artista japonês Tachibana Morikuni, de 1720
enquanto os romanos expan-
diam o seu império.
Na China, o gato era visto es-
sencialmente como um animal
de companhia para as mulhe-
res. O brilho dos olhos dos ga-
tos durante a noite passou a ser
interpretado como um poder es-
pecial para afastar demónios.
No Japão, o gato foi oficialmen-
te introduzido no ano 999 d.C,
oferecido ao imperador Ichijo
como presente de aniversário.
O gato foi muito bem aceite na
sociedade japonesa e os gatos
tricolores passaram a ser os
favoritos, símbolos de sorte e
prosperidade. Era proibido por
lei meter um gato dentro de
uma jaula ou vendê-lo.
O gato doméstico terá chegado
à América a bordo dos navios
de Cristóvão Colombo e outros
navegadores, chegando mais
tarde (por volta do séc. XVII) à
Austrália ao viajarem junto dos
colonizadores europeus.
WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
76.
77. Ilustração do séc. XVII que associa os gatos à
prática de bruxaria. A Idade Média foi um ponto de
viragem drástico na popularidade dos gatos, que
começaram a ser perseguidos pela Igreja.
78. O
estatuto que os gatos
tinham conquistado
junto das pessoas,
mudou drasticamen-
te na Europa Medieval.
Os seus hábitos noturnos, per-
sonalidade enigmática, olhos
brilhantes e caminhar silen-
cioso diferenciavam o gato de
qualquer outro animal e, numa
Europa dominada pela Igreja
Católica e assustada pelo apa-
recimento da peste negra (que
se acreditava ter sido um cas-
tigo enviado por Deus) fizeram
com que as pessoas começas-
sem a associar os gatos a espí-
ritos malignos, bruxaria e cultos
satânicos.
O Papa Gregório IX, no séc.
XIII, deu início a uma persegui-
ção aos gatos que perduraria
durante séculos. Numa Bula
Papal de 1233, condenou o
gato preto como criatura diabó-
lica dando a sua bênção à tortu-
ra e à morte dos felinos.
Os Papas Inocêncio VII (1339-
1406) e VIII (1432-1492) conti-
nuaram a incentivar ativamente
a perseguição aos gatos e a
instruir os inquisidores a quei-
marem sempre os gatos vivos
78 MUNDO DOS ANIMAIS
juntamente com as alegadas
bruxas, nas fogueiras do Santo
Ofício.
Aparentemente, a única coisa
que podia salvar um gato preto
da fogueira naquela altura, era
possuir uma mancha de pêlo
branco, independentemente do
tamanho ou do lugar no corpo
em que se encontrasse. Era
considerada uma marca dos
anjos e um sinal de que aquele
gato, em particular, não deveria
ser sacrificado.
Sobre esta época tormentosa,
Desmond Morris escreveu:
“Como os gatos eram vistos
como maléficos, todos os tipos
de poderes assustadores lhes
foram atribuídos pelos escrito-
res da época. Diziam que os
seus dentes eram venenosos,
a sua carne tóxica, o seu pêlo
letal (causaria asfixia se aci-
dentalmente engolido) e o seu
hálito infecioso, destruindo os
pulmões e provocando consu-
mo (NR: um dos nomes dados
naquele tempo à tuberculose,
devido à abrupta perda de peso
dos infetados).”
A “paranóia” com os gatos foi
79. tão longe que nem as publica-
ções supostamente credíveis
melhoravam a situação, bem
pelo contrário, como continua a
descrever Desmond Morris:
“Até mesmo em 1658, Edward
Topsel, num trabalho sério de
história natural [escreveu]: os
familiares das bruxas aparecem
geralmente na forma de gatos,
o que atesta em como esta bes-
ta é perigosa para o corpo e a
alma.”
Ironicamente, o massacre dos
gatos nos rituais cristãos pare-
ce ter contribuído largamente
para a disseminação da peste
negra, transportada pelos ratos
que ficaram praticamente sem
inimigos naturais. A peste negra
acabou por matar cerca de 75
milhões de pessoas, um terço
de toda a população da época.
A perseguição aos gatos só
teve fim no reinado de Luís XIV
(1643-1715), Rei de França.
Ilustração de uma
bruxa e o seu gato,
na revista Weird Tales
(Setembro de 1941)
80. Winston Churchill acaricia Blackie, o gato oficial do navio HMS Prince of
Wales. Os gatos começaram a recuperar a sua reputação pela utilidade
que demonstravam enquanto “gatos de navio”, ajudando a manter a
alimentação dos marinheiros a salvo dos roedores.
81.
82. 82 MUNDO DOS ANIMAIS
Gato persa azul apresentado à Rainha Vitória de Inglaterra
83. 83WWW.MUNDODOSANIMAIS.PT
O
s gatos vieram a recu-
perar a sua reputação
quando começaram
a acompanhar as tri-
pulações nos navios, ajudando
a manter os alimentos dos ma-
rinheiros a salvo dos roedores.
Mais tarde, devido ao seu tama-
nho pequeno, hábitos de higie-
ne, beleza, agilidade e afetuosi-
dade, começaram a ser vistos
como animais finos e a oferece-
rem uma boa reputação social
aos seus donos.
A Rainha Vitória de Inglaterra
(1819-1901) começou a inte-
ressar-se por gatos à medida
que iam sendo divulgadas as
descobertas arqueológicas no
Egito sobre a adoração que
aquele povo tinha pelos pe-
quenos felinos. Por esta altu-
ra estavam a ser publicadas e
catalogadas todas as gravuras
e estátuas da deusa Bastet re-
cuperadas pelos arqueólogos e
a consequente associação do
gato a reinados e divindades.
A Rainha decidiu então adotar
dois persas azuis, que tratou
como elementos da sua corte.
Sendo uma Rainha popular, a
adoção dos gatos rapidamente
virou moda e chegou ao Esta-
dos Unidos através da revista
mais popular da época, Godey’s
Lady’s Book (1830-1878). Num
artigo da revista publicado em
1860, era afirmado que os ga-
tos não se destinavam apenas
ás pessoas mais idosas ou a
monarcas, mas que toda a gen-
te se deveria sentir confortável
em abraçar o “amor e a virtude”
do gato.
Pouco depois, em 1871 rea-
lizou-se a primeira exposição
de gatos, no Crystal Palace
em Londres. Em 1895, toda a
avenida de Madison Square
Garden, em Manhattan, rece-
bia com grande entusiasmo e
popularidade a primeira exposi-
ção de gatos nos EUA.
Hoje em dia, os gatos são pre-
sença assídua nas nossas ca-
sas e companheiros insepará-
veis das nossas vidas. Existem
mais de 600 milhões de gatos
a viver connosco, o que fazem
deste o animal de estimação
mais popular em todo o mundo.
Descubra mais sobre gatos em:
www.mundodosanimais.pt/gatos