O documento discute as três dimensões da pessoa humana - biológica, social e espiritual. A dimensão biológica caracteriza os seres vivos através de traços físicos e hereditários. A dimensão social refere-se à capacidade de comunicação e organização em grupo. A dimensão espiritual inclui a vida interior do ser humano, como o pensamento, emoções e relação com o transcendente. Cada pessoa tem características únicas que a tornam irrepetível.
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De regresso à
Escola…
AMOSTRA
- Estamos de regresso à escola. Como passaram rapidamente as
férias! Pensamos nas experiências e vivências que estes meses nos
EMRC proporcionaram, algumas das quais lembraremos ao longo das nossas
vidas. Estamos cheios de curiosidade e queremos saber o que os nossos
colegas têm para nos contar sobre os dias em que não estivemos juntos.
Durante estes meses, conhecemos coisas novas e talvez tenhamos
mais antes de decidirmos. Esta capacidade de questionar e pensar sobre
as coisas que nos rodeiam parece aperfeiçoar-se. Somos cada vez mais
curiosos e este espírito leva-nos a novas descobertas. Subitamente, a
vida já não parece tão simples. Começamos a tomar cada vez mais feito novos amigos; é por isso que temos muitas novidades para partilhar.
Alguns falam sobre as pessoas e os sítios novos que conheceram, outros
contam como aprenderam coisas diferentes nos livros que leram, nos
programas de televisão que viram… em todas as experiências por que
passaram. Cada vez mais, os nossos amigos parecem ocupar um lugar
especial na nossa vida.
Crescemos! Pensamos de forma diferente sobre a realidade e reflectimos
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unidade 1
consciência da influência que os nossos comportamentos têm sobre os
outros e da maneira como nos afectam a nós. Sentimo-nos cada vez mais
responsáveis e disponíveis para aprender novas coisas. Esta abertura,
esta capacidade para aprender com todas as experiências que vivemos
torna-nos intervenientes na construção da sociedade em que estamos
inseridos.
Ser
seja ruído
seja beijo
seja voo
seja andorinha
seja lago
seja pacatez da árvore
seja aterragem de borboleta
seja mármore de elefante
seja alma de gaivota
seja luz num olhar
seja um cardume de tardes
e grite: JÁ SOU.
Ondjaki. 101 poetas: Iniciação à poesia em língua portuguesa.
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Sou Pessoa
Cada ser humano nasce inserido numa determinada comunidade.
Desenvolve-se na família, no grupo de amigos, na escola e nos vários
contextos com os quais contacta. Da comunidade recebemos saberes e
valores, através das experiências que fazemos e da abertura à realidade
que nos rodeia. Temos consciência da nossa existência, das nossas
experiências e aprendemos com elas. Afirmamo-nos através dos nossos
pensamentos, sentimentos e afectos, os quais comunicamos aos outros
através da linguagem, verbal ou corporal.
Com a linguagem, conseguimos partilhar as nossas experiências,
manifestando aos outros o que somos e aquilo em que acreditamos. De
igual modo, revelamos a nossa intimidade, os nossos pensamentos e
afectos através de palavras e comportamentos. Desenvolvemos a nossa
experiência espiritual, exteriorizamos os sentimentos e manifestamos a
nossa inteligência, abrindo-nos aos outros e a Deus.
EMRC - AMOSTRA
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Santo e Senha
Deixem passar quem vai na sua estrada.
Deixem passar
Quem vai cheio de noite e de luar.
Deixem passar e não lhe digam nada.
Deixem, que vai apenas
Beber água de Sonho a qualquer fonte;
Ou colher açucenas
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.
Vem da terra de todos, onde mora
E onde volta depois de amanhecer.
Deixem-no pois passar, agora
Que vai cheio de noite e solidão.
Que vai ser
Uma estrela no chão
Miguel Torga. Diário I (Coimbra, 3 de Janeiro de 1932)
EXEMPLO
Toda a tarde a pensar no meu destino,
E o rio, com mais água ou menos água,
Sossegado a correr
Num areal que o nega!
Que lhe importa que o chão do seu caminho
Seja seco e maninho,
Se ele é uma eterna fonte que se entrega?!
Miguel Torga. Diário VI (Coimbra, 21 de Março de 1953)
Vocabulário
Açucena: Planta
bolbosa da família das
Liliáceas, de flores
brancas e perfumadas,
também conhecida por
lírio branco; a flor desta
planta.
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Maninho: Estéril, não
cultivado.
Para saberes mais
Miguel Torga, escritor
português, nascido em S.
Martinho de Anta (Trás-os-
Montes), a 12 de
Agosto de 1907, exerceu
medicina em Coimbra,
onde veio a falecer a 17
de Janeiro de 1995.
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Acreditava-se, desde a Grécia antiga, que o ser humano era composto
por duas dimensões: o corpo e a alma ou o espírito. Este pensamento
integrou a filosofia de várias culturas, tendo chegado ao cristianismo.
Para o pensamento cristão actual, estas duas realidades — a corporal e a
espiritual — são inseparáveis. O ser humano é compreendido como uma
unidade corpo-espírito.
Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como
uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua
dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente
considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente
a sua grandeza.
Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est.
Deste modo, nem o espírito nem o corpo, isoladamente, dão conta
daquilo que é o ser humano. Nenhum de nós é simplesmente corpo, nem
simplesmente espírito. Quando amamos, pensamos ou tomamos decisões
fazemo-lo simultaneamente de forma espiritual e física.
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Para saberes mais
As encíclicas são cartas
pastorais enviadas pelo
bispo de Roma, o papa,
à Igreja. O nome das
encíclicas corresponde
às primeiras palavras do
texto, redigido em latim.
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unidade 1
Para saberes mais
A palavra ‘pessoa’, de origem latina, deriva de persona, “máscara de teatro”; por
extensão, significa o papel atribuído a essa máscara, a ‘personagem’. Relacionado
com o ser humano, o pensamento cristão e, sobretudo, Santo Agostinho, usou
a palavra para se referir às três pessoas (divinas) da Santíssima Trindade: o
Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra ‘pessoa’ designava a capacidade de
estabelecer relação com os outros.
Se não fôssemos corpo, não seríamos capazes de nos revelarmos aos
outros, de com eles comunicarmos e, em geral, de estabelecermos relações
de comunhão. É através do corpo que nós exprimimos o que pensamos,
o que sentimos ou as nossas decisões. Sem corpo seríamos seres virados
para dentro de nós, como conchas fechadas que não comunicam com o
exterior.O nosso corpo exprime as mensagens do nosso espírito. Observa,
as imagens que se seguem e procura captar, através das expressões
corporais ou da maneira de se vestirem e arranjarem, os sentimentos, as
emoções, os pensamentos ou a vontade que as personagens transmitem.
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Azulejos representando Crianças a
Brincar na Rua, Francisque Poulbot
Homem e mulher Masai, Tanzânia
Mulher com filho morto, Kathe
Schmidt
O Mártir, Auguste Rodin
Rua de Paris, Andre Fougeron Mãe e criança em Holland Park, Dora
Holzhamdler
A mulher grávida, Pablo Picasso Mikado, Anónimo
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Auto-retrato com chapéu de palha, Vincent van Gogh
Através dos meios de comunicação social, chega até nós um forte apelo
ao consumo de determinados produtos e marcas, cujo valor está baseado
no poder das imagens. Associada ao consumismo está uma determinada
imagem aparente de nós mesmos que procuramos transmitir aos outros,
a qual se constrói a partir de modelos que a sociedade cria, de que é
exemplo a moda.
Por vezes, procuramos mostrar aos outros que somos aquilo que de
facto não somos, vivendo uma vida de aparência, ou seja, uma vida não
autêntica. Ser genuíno e autêntico, relacionando-nos com os outros a
partir do que somos, daquilo em que acreditamos, nem sempre é fácil.
Mas a verdadeira riqueza pessoal não se encontra nos bens que cada um
possui, mas nos valores em que se acredita. Cada pessoa vale pelo que é
e não pelo que tem.
É importante estabelecer o equilíbrio entre o nosso interior (o nosso
mundo espiritual) e o aspecto exterior (o nosso mundo corporal).
Por isso, zelamos pela saúde do nosso corpo, mantendo cuidados de
higiene diários, bem como uma dieta alimentar equilibrada. O cuidado
que temos com a forma como aparecemos perante os outros não
significa falta de autenticidade. Desde que corresponda à beleza interior
(sentimentos positivos em relação aos outros), o facto de nos arranjarmos
exteriormente faz com que nos sintamos bem connosco próprios e faz
“Conhece-te a ti mesmo.”
Sócrates,
filósofo grego (séc. V)
A Autenticidade
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com que os outros tenham uma ideia mais agradável a nosso respeito.
Isto não pode ser confundido com vaidade, porque ser vaidoso é ser fútil,
superficial e viver quase exclusivamente para a sua imagem exterior, sem
atender aos aspectos mais importantes.
Num mundo que vive para o culto da aparência, onde a mentira é um
meio para se passar uma imagem de si que não corresponde à realidade,
é cada vez mais premente que cada ser humano seja autêntico, seja ele
mesmo, sem procurar enganar os outros. A maior riqueza encontra-se na
solidariedade e na entrega às outras pessoas, de forma desinteressada.
Madre Teresa de Caucutá, (1910-
1997)
O espaço que nos rodeia influencia a maneira como nos sentimos. Raoul Follereau, (1903 - 1977)
Por isso, procuramos harmonizar aquilo que somos com o espaço onde
habitamos ou trabalhamos.
Uma das mais antigas artes que o ser humano desenvolveu para
construir espaços onde se sinta bem foi a arquitectura. Utilizada desde a
pré-história, as suas primeiras funções foram a protecção e a habitação.
Actualmente, a arquitectura preocupa-se também com o conforto, a
estética e a eficiência energética. Seria bom que nos identificássemos
com os locais que frequentamos e com a casa onde vivemos, dado serem
relevantes para o nosso equilíbrio. Infelizmente, isso nem sempre é
possível, uma vez que muitas pessoas não têm possibilidade financeira
para escolherem o sítio onde gostariam de trabalhar ou onde gostariam
de viver. Acabam por se ter de contentar com as condições possíveis!
Para saberes mais
Existem investigações
sobre os ambientes e os
locais onde habitamos.
Uma delas é chamada
Feng Shui. É uma
ancestral técnica oriental
que permite compreender
a influência das cores,
materiais, formas e
elementos naturais à
nossa volta — tanto em
casa como no trabalho.
O quarto de Van Gogh, Vincent van Gogh
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As dimensões da pessoa
A pessoa caracteriza-se por três dimensões fundamentais, a biológica,
a social e a espiritual.
A dimensão biológica caracteriza todos os seres vivos, tornando-os,
neste aspecto, semelhantes. A dimensão social encontra-se associada às
espécies animais, à sua capacidade de comunicação, de organização em
grupo; no entanto, no ser humano, esta dimensão é muito mais complexa,
como podemos verificar pela organização das sociedades humanas.
A dimensão espiritual é a vida interior do ser humano: a sua capacidade
racional (o pensamento), a vontade e a consciência moral, a afectividade
(sentimentos, emoções) e a relação com o transcendente. Todas estas
capacidades espirituais estão na base da comunicação com os outros,
que acontece a um nível muito superior ao dos animais, especialmente
através da complexa linguagem verbal.
Um dos aspectos que distingue o ser humano de todas as outras espécies
é a sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal, de tomar decisões
livres e responsáveis, agindo assim sobre a realidade que o rodeia,
orientado por valores éticos e pela capacidade de análise da realidade.
Somos, portanto, livres e capazes de tomar opções individuais.
Mas as pessoas, embora partilhem muitos aspectos em comum, não
são iguais. Cada pessoa tem as suas particularidades e é naturalmente
irrepetível.
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Vocabulário
Transcendente: Deus; o
sagrado.
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Dimensão Biológica
Cada ser humano apresenta características biológicas únicas. Dos
nossos pais recebemos a herança genética através da qual partilhamos
traços fisionómicos com a nossa linhagem materna e paterna. Contudo,
as nossas características físicas não são apenas o somatório da herança
das características da mãe e do pai, apresentamos traços distintos que
fazem de cada pessoa um ser único.
A identidade sexual é um aspecto importante da dimensão biológica
da pessoa. Do pai recebemos a informação genética, que define a nossa
identidade sexual. Esta caracteriza-se pela diferenciação dos órgãos
genitais masculino e feminino, e, portanto, pela diferenciação do homem
e da mulher. Os homens e as mulheres não têm apenas diferenças do
ponto de vista biológico, também se diferenciam nas suas características
psicológicas e comportamentais.
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AMOSTRA
Para saberes mais
Vocabulário
- EMRC Para saberes mais
A identidade sexual do bebé é definida pelos cromossomas da célula sexual
masculina, o espermatozóide. Estes cromossomas apresentam a denominação
científica de cromossomas X e Y. É o cromossoma Y que define o sexo masculino
do bebé. Os cromossomas sexuais dos óvulos são sempre X. Se, no momento
da fecundação, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais X, o bebé fica com
um par de cromossomas XX (do pai e da mãe) e é uma menina. Se, pelo contrário,
o espermatozóide tiver cromossomas sexuais Y, o bebé fica com um par de
cromossomas XY (da mãe e do pai) e é um menino.
espécies animais. Este desenvolvimento faz com que os seres humanos
sejam dotados de inteligência superior, que se manifesta na capacidade
de resolver problemas complexos e elaborar raciocínios profundos. Esta
inteligência permite-lhes ao ser humano pensar e agir sobre o mundo
que os rodeia e confere-lhes grande autonomia, liberdade e capacidade
de decisão pessoal. Informação genética:
Conjunto de informação,
presente na cadeia de ADN
(ácido desoxirribonucleico),
transmitida de pais para
filhos através das células
sexuais.
Fisiológica: Que diz
respeito às funções dos
diferentes órgãos dos seres
vivos.
Fisionómica: Que diz
respeito aos traços do
rosto, às feições.
As células dos seres humanos contêm, cada uma, dois pares de 23 cromossomas,
num total de 46 cromossomas. Cada cromossoma contém uma cadeia, em forma
de hélice, de ADN com toda a informação genética.
Mas as células sexuais (o espermatozóide e o óvulo), ao contrário das outras
células, só têm 23 cromossomas. No momento da fecundação, o óvulo e o
espermatozóide unem-se e juntam, em pares, os 23 cromossomas provenientes
da mãe e os 23 cromossomas provenientes do pai, dando origem a um ser
geneticamente diferente. Todavia, a diferença do novo ser em relação aos pais
não se fica por aqui, uma vez que os cromossomas provenientes da mãe e do
pai trocam pequenos fragmentos de informação genética (ADN). As diferentes
combinações possíveis de cromossomas e ADN são tantas que cada ser humano
é uma espécie de “milagre”: um ser único e irrepetível.
O cérebro humano é muito mais desenvolvido do que o das restantes
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Dimensão Social
O ser humano afirma-se em sociedade, através da família e dos diversos
grupos sociais e culturais aos quais pertence. Nela, cada ser humano
estrutura os seus conhecimentos e valores que influenciam atitudes e
comportamentos, bem como as suas decisões.
A família tem uma importância fundamental no desenvolvimento da
pessoa, nela fazemos a primeira experiência de sermos únicos. De igual
modo, tomamos consciência de que cada uma das pessoas com que nos
relacionamos é única.
Quando os pais dão o nome a um filho, estão, simbolicamente, a atribuir-lhe
uma identidade própria que o distingue como pessoa e o diferencia
dos outros. Por isso, o profeta Isaías refere que Deus chama cada um pelo
seu nome, pois o nome (a identidade) de cada pessoa é sagrado. Assim se
entende a origem cristã do direito ao bom nome que cada pessoa tem, ou
seja a ser respeitado na dignidade e na sua identidade.
Artigo 26º
(Outros direitos pessoais)
1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade
civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da
intimidade da vida privada e familiar.
Constituição da República Portuguesa
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As associações culturais e recreativas, os clubes desportivos, assim
como outras instituições favorecem a participação das pessoas na vida
social. São formas de socialização que manifestam a tendência natural das
pessoas para cooperarem, procurando atingir objectivos que vão muito
para além das suas capacidades individuais. As associações estimulam as
aptidões de cada pessoa, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade,
contribuindo para o exercício da cidadania.
A vivência em sociedade permite a realização da vocação humana, uma
Marie Curie no seu laboratório,
Escola Inglesa (séc. XX) EMRC - AMOSTRA
vez que, em princípio, as sociedades estão orientadas para a realização
de cada indivíduo e para o cumprimento do bem comum.
Através delas, cada pessoa é herdeira de um passado e a ele devedora.
Dessa herança, cada um recebe tradições, crenças, formas de vida, leis,
regulamentos, etc. Estes últimos enquadram os direitos e os deveres das
pessoas. Assim, cada membro da sociedade sabe quais são os direitos que
pode reivindicar e os deveres que deve respeitar.
A curiosidade natural e a procura de respostas para problemas levam
o ser humano, individual e colectivamente, a progredir através de novas
aprendizagens e descobertas, por forma a encontrar soluções inovadoras.
Alguns dos resultados concretizam-se no chamado avanço tecnológico,
na inovação científica e no desenvolvimento material das sociedades.
Tudo isto resulta da acção do ser humano, enquanto sujeito influente e
corresponsável pelas transformações que ocorrem à sua volta.
Contudo, verificamos que, muitas vezes, as mudanças não respondem
aos verdadeiros interesses da pessoa. Por exemplo, algumas aplicações
tecnológicas, sendo aparentemente boas, podem revelar-se prejudiciais
para o ser humano. De facto, podemos usar a nossa inteligência e liberdade
tanto para o bem como para o mal.
Associação de Solidariedade
Social.
A pessoa humana é, e deve
ser, o princípio, o sujeito e o
fim de todas as instituições
sociais.
Gaudium et Spes 25,1
Nave espacial Soyuz a descolar Explosão Núclear sobre Bikini Atoll
Rússia
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A Comunicação
O ser humano tem a capacidade extraordinária de comunicar as suas
experiências individuais aos outros, através da linguagem.
Na comunicação, utilizamos a linguagem verbal — recorrendo a
palavras e sons — e a não verbal — gestos, posturas do corpo. A linguagem
não verbal pode reforçar ou prejudicar a mensagem que pretendemos
transmitir.
Para saberes mais
Árvore genealógica de algumas línguas Indo-Europeias
Italiano
Indo-Europeu
Grego
Germânico
Céltico
Itálico Balto-eslávico
Indo-Irânico
Persa
Sânscrito
Ucraniano
Russo
Polaco
Checo
Servo-croata
Romeno
Castelhano Francês
Português
Sueco
Norueguês
Dinamarquês
Inglês
Holandês
Alemão
Irlandês
Latim
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unidade 1
Kanimanbo Calunga!
Certo dia, ouvi contar, em língua ronga, uma história, junto às águas do grande mar
Índico, e de imediato percebi que era desconhecida de todos os que a escutavam.
Um velho e respeitado sábio contava que há muito, muito tempo, antes da chegada
do mulungo, o Criador, viajando numa nuvem, lançou as sementes das línguas que
haveriam de crescer com a humanidade. O Pai proferia a palavra, pronunciava o nome
e a língua surgia. Recordo ainda as suas palavras finais: «E Ele disse: “Faça-se a língua
swahili”. E fez-se a swahili. E depois Ele disse: “Faça-se a língua maconde”. E fez-se
a maconde. E depois Ele disse: “Faça-se a língua macua”. E fez-se a macua. E por
último Ele disse: “Faça-se a língua ronga”. E fez-se a ronga.»
Depois de percorrer o mundo e terminada a distribuição das línguas, dizem que
se retirou algures para os lados do Alto Molócue e por lá se deixou ficar, de onde
observa a Criação. Outros, porém, afirmam que descansa, mais a Norte, na região
de Niassa. Não houve uma só semente que não tivesse germinado, o que parecia ser
maningue bom para que os povos comunicassem. Mas as pessoas deixaram de se
compreender. Deixaram de escutar o que os outros diziam. A obra de Calunga não
foi compreendida pelos homens.
Então, os chefes das tribos reuniram-se próximo da baía das acácias, para tentar
resolver o problema. Todos reconheciam o problema, mas parecia difícil a solução.
Eis que um mwalimu do norte disse ter a solução. O problema do conflito não era
do céu, mas da terra! As línguas jamais desapareceriam e o problema continuaria,
enquanto um só homem não reconhecesse a grandeza da Criação. Então, todos
teriam de pronunciar «Eh Oena Calunga! kanimanbo, kanimanbo, kanimanbo!» três
vezes kanimanbo.
As tribos tinham-se reunido pela primeira vez e, trabalhando todos com o mesmo
objectivo, atingiram o coração de Calunga. Dizia o sábio madala que cada um tinha
alcançado não o coração de Calunga, mas o seu próprio coração. Desde então, os
povos não deixaram de comunicar, mesmo sem uma língua comum, mas unidos
pelo coração. Como forma de agradecimento, todos os anos, no mesmo dia, as
tribos juntam-se e partem em peregrinação, em direcção ao Norte. Há quem procure
todo o ano o lugar onde Calunga descansa, lugar onde, dizem, a luz brilha com
mais intensidade. O velho madala, porém, recusa-se a fazer a peregrinação. Diz ter
encontrado o Criador em casa, no seu próprio coração.
Era a primeira vez que o madala contava a história, tal como já a ouvira contar, uma só
vez, ainda em criança. Certo é que, ainda hoje, as pessoas agradecem do coração,
em ronga, pronunciando a palavra mágica kanimanbo.
Texto inédito de Carlos Guardado da Silva
Vocabulário
Vocabulário Ronga:
Calunga: Deus
Eh oena: Oh tu!
Kanimanbo: Obrigado
Madala: Pessoa idosa e
respeitada
Maningue: Muito
Mwalimu: Sacerdote,
professor (língua maconde)
Mulungo: Homem branco
Niassa: Província
moçambicana
Ronga: Dialecto mais
meridional do grupo
linguístico banto tsonga.
EMRC - AMOSTRA
18. 19
unidade 1
A comunicação entre os seres humanos não se faz apenas através
da linguagem verbal e corporal. Faz-se também através das produções
artísticas, fruto da criatividade humana e da capacidade de o ser humano
construir mundos que não existem. As artes são múltiplas: a música, a
dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro, o cinema… Aprender
a captar as mensagens transmitidas pelas obras de arte faz parte do
enriquecimento cultural de todas as pessoas.
EMRC - AMOSTRA
19. 20
unidade 1
Dimensão Espiritual
A pessoa realiza-se nas dimensões biológica e social. Contudo, só se
completa na dimensão espiritual. É esta característica que distingue o ser
humano dos outros animais e consiste na capacidade de pensar, de amar,
de tomar decisões livres e de agir sobre o mundo, participando na obra
do Criador. Embora outras espécies animais tenham comportamentos
que se aproximam dos comportamentos humanos, a maneira como o ser
humano usa a sua dimensão espiritual é qualitativamente diferente da
maneira como as outras espécies se comportam.
A inteligência, impelida pela sabedoria, conduz a pessoa a uma
permanente procura do bem, no relacionamento com os outros e consigo
próprio. A consciência moral é um dos aspectos que tornam o ser humano
qualitativamente diferente de todos os outros seres.
A capacidade de amar, aspecto central da vida espiritual, é a marca,
em cada um, da presença de Deus. Quem ama procura a verdade e o
bem, em cada situação da vida quotidiana. Está, assim, aberto aos outros,
seus irmãos, e eventualmente a Deus. A dimensão espiritual é também
a capacidade de cada indivíduo se relacionar com Deus, aspecto que só
ocorre entre os humanos.
São manifestações da vida espiritual do ser humano, para além das que
já se apontaram, as descobertas científicas, as realizações tecnológicas,
Rm 13, 8 EMRC - AMOSTRA
Já não sou eu que vivo; é
Cristo que vive em mim.
Gl 2,20
Não devam nada a ninguém,
a não ser o amor de uns para
com os outros. Quem ama o
próximo cumpre a Lei.
20. 21
unidade 1
as produções artísticas… Enquanto imagem e semelhança de Deus,
cada pessoa é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais
rico, onde a beleza, a verdade, a justiça e o amor possam orientar o
comportamento humano e a vida das sociedades.
A natureza espiritual da pessoa humana encontra a sua perfeição na sabedoria,
que suavemente atrai o espírito do homem à busca do amor da verdade e do
bem.
Mais do que nos séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria,
para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com
efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria. E é de
notar que muitas nações, pobres em bens económicos, mas ricas em sabedoria,
podem trazer às outras incalculáveis benefícios.
Gaudium et Spes 15
Oração em Taizé Procura AMOSTRA
na Biblia
Ef 4,16
- EMRC
21. 22
unidade 1
Sexualidade Humana
A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa, tanto ao nível
da dimensão física, como da dimensão social e espiritual. Traduz-se
na afectividade, que consiste na capacidade para amar e criar laços
de comunhão com o outro. A realização plena da sexualidade humana
concretiza-se na vocação da pessoa para amar o próximo. Esta vocação
pode realizar-se em qualquer circunstância da vida pessoal, quer a pessoa
tenha optado por partilhar a sua vida com alguém, quer tenha optado
por permanecer celibatária, dedicando-se, por exemplo, a uma profissão
ou a uma actividade que interpreta como um serviço ao próximo.
As três árvores
Um dia, numa bela manhã de sol, um sábio foi procurado pelo seu aprendiz, que lhe
perguntou:
— Mestre, que significado tem a amizade?
O mestre apontou para três árvores e respondeu:
— Repara nestas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas;
noutra, notamos frutos que chegam a dobrar os seus galhos; e, na última, há somente
folhas de muitas cores misturadas.
Subiram então a um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e o mestre
perguntou ao seu aprendiz:
— O que vês aqui de cima?
— Vejo apenas que essas árvores cresceram próximas e independentes; porém, as
suas copas fundem-se, produzindo uma única sombra — respondeu o aprendiz.
O mestre concluiu, então:
— Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas
que, quanto maiores, mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única
sombra, um único abrigo, onde é possível recuperar forças, e um conforto para os
olhos, para a alma e para o coração. Os amigos são como árvores diferentes que
crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, formando uma única força
e descobrindo coisas novas em cada encontro.
Adaptado de http://tiojuliao.diabetes.org.br/Divino/Mensagem/msg04.php (12/02/2009)
EMRC - AMOSTRA
Vocabulário
Vocação: A palavra
‘vocação’ deriva do verbo
latino ‘uocare’ que significa
chamar. Assim, a vocação
consiste no facto de alguém
se sentir chamado a abraçar
um certo estilo de vida ou
a dedicar-se a uma tarefa
específica.
Celibatário: que não
contraiu matrimónio; que
vive solteiro.
22. 23
unidade 1
Conto do Amor
Certa vez, um homem, cansado de ver tanta maldade na região onde vivia,
decidiu fazer uma peregrinação ao santuário de Deus, para lhe pedir que
mudasse aquela situação.
Ao entardecer, já cansado de tanto caminhar, parou debaixo de uma árvore
e ali preparou o local para passar a noite.
Quando já estava pronto para dormir, ouviu uma voz, vinda do nada, que
lhe dizia:
— Homem, como te chamas?
Ele, muito assustado, respondeu:
— Chamo-me Amor.
— De onde vens?
Muito triste, Amor respondeu-lhe:
— Venho de uma terra desolada, onde só existe maldade. A paz e a esperança
há muito findaram.
— Para onde te estás dirigindo com toda essa tristeza?
— Vou para o santuário de Deus, pedir-lhe que intervenha na minha região,
fazendo com que o bem volte a reinar.
A voz cessou por um instante e, depois, voltou a dizer:
— Não precisas de ir tão longe. Eu sou aquele que tu procuras. Mas só
posso conceder-te o teu desejo se pedires com muita fé.
E Amor pensou, entrou em oração e decidiu fazer o pedido:
— Quero que me transformes numa pedra e me coloques na boca daquele
vulcão.
E Deus, confuso, disse:
— Pensei que fosses pedir-me para restabelecer o bem na tua região. Por
que me pedes isso?
— Eu fiz como me disseste. Pedi com fé. Por isso, cumpre a sua
promessa.
E assim foi feito. Deus transformou-o numa pedra e colocou-o na boca do
vulcão.
Logo o vulcão entrou em erupção e, na primeira explosão, estilhaçou Amor
em milhões de pedaços que se espalharam por toda a terra.
Assim, em todos os lugares, passou a existir um pedaço de Amor e aquela
terra voltou a ter esperança.
Emerson Danda (adaptado de http://recantodasletras.uol.com.br/contos/35064 - 12/02/2009)
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23. 24
unidade 1
Na Bíblia, Deus não é uma força impessoal, uma espécie de energia
que se propaga pelo universo. A mensagem bíblica afirma a convicção
de que Deus é pessoa. Como já vimos, ser pessoa significa ser capaz
de estabelecer relação com os outros. Nos vários relatos bíblicos, Deus
manifesta-se ao ser humano, fala com ele, propõe-lhe um estilo de vida,
declara que o ama e que deseja a sua felicidade. Deus é o amigo da
humanidade. Indigna-se, quando o ser humano é vítima da injustiça e do
ódio alheio, e reafirma a promessa da sua presença constante, no meio
das adversidades. Deus é, portanto, um ser pessoal, inteligente e livre,
que ama e quer estabelecer com cada ser humano uma relação especial,
única.
O Salmo 139 é uma confissão de fé no Deus infinito, criador, omnisciente
e pessoal: um verdadeiro louvor à relação pessoal, íntima e única, entre
cada crente e Deus.
Trata-se de uma oração poética que foi redigida para ser cantada e
acompanhada por um instrumento musical de cordas: o saltério, a cítara,
a lira ou a harpa. Os Salmos são utilizados no culto religioso, tanto por
judeus como por cristãos. Jesus, durante a sua vida pública, também
citou vários trechos de salmos e, durante a oração nas sinagogas e no
Templo de Jerusalém, cantou Salmos em louvor a Deus.
Vocabulário
Infinito: Que não tem
princípio nem fim.
Omnisciente: Que tudo
sabe.
Deus é pessoa
EMRC - AMOSTRA
24. 25
unidade 1
Tu conheces, ó Deus, a minha intimidade!
1Senhor, tu examinaste-me e conheces-me.
2Conheces todos os meus movimentos;
à distância, sabes os meus pensamentos.
3Vês-me quando trabalho e quando descanso;
conheces todas as minhas acções.
4Mesmo antes de eu falar,
já tu sabes o que vou dizer.
5Tu estás em meu redor, por todo o lado;
proteges-me com o teu poder.
6O teu conhecimento a meu respeito é muito profundo;
está para além da minha compreensão.
7Onde poderia eu ir para me esconder de ti?
Para onde poderia eu fugir da tua presença?
8Se subisse aos céus, lá estarias;
se descesse ao mundo dos mortos, lá estarias também.
9Se eu voasse para além do oriente
ou fosse habitar nos lugares mais distantes do ocidente,
10também lá a tua mão desceria sobre mim,
lá estarias para me segurar!
11Se eu pedisse à escuridão para me esconder
ou à luz para se transformar em noite à minha volta,
12a escuridão não me havia de esconder de ti
e a noite seria para ti tão brilhante como o dia.
Para ti a escuridão e a luz são a mesma coisa!
13Foste tu que moldaste todo o meu ser;
formaste-me no ventre de minha mãe.
14Louvo-te, ó Altíssimo, por tão espantosas maravilhas;
fico admirado com as tuas obras.
Conheces intimamente o meu ser.
15Quando o meu corpo estava a ser formado,
sem que ninguém o pudesse ver;
quando eu me desenvolvia em segredo,
nada disso te escapava.
EMRC - AMOSTRA
Vocabulário
Examinar: Analisar;
investigar; observar.
Moldar: Dar forma a;
formar; criar.
Perscrutar: Tratar de
conhecer; investigar;
explorar.
Sondar: Tratar de
conhecer; avaliar;
investigar; explorar.
Vereda: Caminho estreito e
de terra batida.
25. 26
unidade 1
16Antes de eu estar formado, já tu me havias visto.
Tudo isso estava escrito no teu livro;
tinhas assinalado todos os dias da minha vida,
antes de qualquer deles existir.
17Mas para mim, que profundos são os teus pensamentos, ó Deus!
Que misterioso é o seu conteúdo.
23Examina-me, ó Deus, e sonda o meu coração;
põe-me à prova e perscruta os meus pensamentos.
24Vê se eu sigo pelo caminho do mal
e guia-me pela tua vereda, ó Deus eterno.
AMOSTRA
Salmo 139(138),1-17.23-24
- EMRC Neste Salmo, o autor dirige-se a Deus, interpelando-o. O crente vive
na certeza de que Deus o conhece ainda melhor do que ele próprio se
conhece.
O autor refere-se a Deus atribuindo-lhe acções que são próprias da
atitude relacional da pessoa: Deus examina, conhece, sabe, vê, está
presente, protege, faz descer a mão, molda, forma, assinala, pensa, sonda,
perscruta, guia. Qualquer destes verbos exprime a ideia de que Deus está
de tal forma presente na vida humana que nenhuma pessoa pode alguma
vez estar inteiramente sozinha.
26. 27
unidade 1
A dignidade Humana
Direitos e Deveres
Pelo facto de se ser pessoa, todos somos portadores de direitos e de
deveres. Tanto uns como outros são necessários à vida das sociedades
humanas. O que seria uma comunidade em que aos membros não fossem
reconhecidos direitos, nem eles assumissem deveres para com os outros?
Na verdade, a defesa dos direitos individuais exige o respeito pelos
direitos dos outros (deveres). As leis e os regulamentos servem para
garantir esses direitos e clarificar os deveres.
O estabelecimento e reconhecimento dos direitos humanos, tal como
os conhecemos hoje, levou muito tempo a ser alcançado e ainda é um
processo longe de estar concluído. Na verdade, os direitos humanos não
são cumpridos em todo o lado. Exige-se, pois, uma cultura de cidadania,
de liberdade e de respeito pela dignidade de cada pessoa, para que cada
uma possa realizar-se plenamente.
A história da humanidade é também uma história de libertação. Nela,
o ser humano fez um longo percurso na procura da liberdade.
EMRC - AMOSTRA
A opressão nunca conseguiu
suprimir nas pessoas o desejo
de viver em liberdade.
Dalai Lama
27. 28
unidade 1
Libertação do povo hebreu do
Egipto
Século X a.c.
Século X d.c.
Ano 0
Século XII a.c.
A democracia ateniense
Século VI a.c.
Jesus Cristo
EMRC - AMOSTRA
Moisés fechando o Mar Vermelho
(Edward Gover, 1870’s (litho), Bendixen,
Siegfried Detler (1786-1864))
Virgem com criança,
Ìcon Ortodoxo
Nesta conquista pela liberdade, a Revolução Francesa, com o lema
“liberdade, igualdade e fraternidade”, foi um acontecimento marcante
da história recente da luta pela liberdade e igualdade entre as pessoas.
Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade têm a sua raiz na
cultura grega e no cristianismo. Mas foi a partir da Revolução Francesa
que começaram a ganhar contornos políticos e sociais mais vastos.
A mais famosa representação da liberdade encontra-se na célebre
Estátua da Liberdade, em Nova Iorque: uma mulher — a liberdade —
vestida com uma toga, ergue, numa mão, uma tocha de luz (símbolo
do fogo eterno da liberdade), na outra segura uma placa com a data da
independência dos EUA (4 de Julho de 1776, em algarismos romanos).
Sob os seus pés, estão cadeias quebradas, símbolo da libertação da
tirania. Na cabeça tem um diadema de sete espigões, que representam
os setes oceanos (Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico
Tirania: Governo opressor e
cruel; opressão; violência.
Diadema: Coroa.
Proclamação da Emancipação,
A.A. Lamb
Vocabulário
28. 29
unidade 1
Século XX d.c.
A magna carta
Século XIII d.c.
Revolução Francesa – 1848
Final da escravatura em
Portugal – 1869
Libertação dos campos de
concentração nazi - Junho 1945
25 Abril 1974
Libertação de Nelson
Mandela – 12 Fevereiro 1990
Revolução Francesa,
(Escola Inglesa,
(século XX))
Rei João a assinar
a Magna carta,
Ilustração sem data
após uma pintura
de Chappel
Escravatura,
(McBride, Angus
(1931-2007))
Criança
subrevivente do
Holocausto
Soldados
Portugueses nas
ruas após o 25 de
Abril
Nelson Mandela
a sair da prisão
Sul, Árctico, Antárctico, Índico) e os sete continentes (América do Norte,
América do Sul, Europa, África, Ásia, Oceânia, e Antárctica), sugerindo
que a liberdade é para todos os povos da Terra.
No século XIX começou a batalha para a abolição da escravatura.
Ao mesmo tempo, lutava-se pela defesa do sufrágio universal, ou seja,
o direito de todo o povo votar e eleger os seus representantes. Estes
direitos políticos foram essenciais para a afirmação da dignidade de
todas as pessoas, independentemente da sua classe social, povo, etnia,
género, religião, etc.
Uma cavalgada pela liberdade - Os escravos fugitivos, Eastman Johnson
EMRC - AMOSTRA
Para saberes mais
Portugal foi o primeiro
país do mundo a abolir a
escravatura. Os primeiros
escravos, a serem
libertados em 1854,
pertenciam ao Estado
português.
29. 30
unidade 1
A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde
28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da
Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês
ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da
liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the
World (‘A Liberdade Iluminando o Mundo’).
Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi
(1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com
a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros
(92,99 metros contando o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158
toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre
(31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo.
No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da
americana Emma Lazarus, intitulado “The new Colossus”:
AMOSTRA
Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost, to me,
I lift my lamp beside the golden door!
Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres
- E confusas, ansiando por respirar liberdade,
EMRC Os indigentes que recusam a vossa costa abundante.
Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade,
Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha!
Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde,
como património mundial da humanidade, pela Unesco.
quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por
este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa
medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos
que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção
na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os
deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o
respeito pelo bem comum. Estátua da Liberdade
Para saberes mais
Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que
30. 31
unidade 1
Pedacinhos de Deus
Se sentes dentro de ti a vontade de amar
em gestos que criem fontes, a audácia de sonhar
mais longínquos horizontes e o apelo a escalar
cada vez mais altos montes,
cada vez mais altos montes,
então…
Tens em ti um pedacinho de Deus,
tens rumos certos no coração.
Desperta o sonho: tens em ti os céus,
liberta a vida da palma da mão.
Faz desses rumos os caminhos teus:
de B.P. recebeste esta missão.
Se sentes dentro de ti sempre a sede de gritar
o nome da liberdade, a coragem de falar
a palavra da verdade e a servir participar
na construção da cidade,
na construção da cidade,
então…
Se sentes dentro de ti o silêncio inspirar
a paz ao teu coração chamando-te a enfrentar
a vida com decisão e teimas acreditar
na esperança de um mundo bom,
na esperança de um mundo bom,
então…
Música e letra: Alexandre Reis, Pe. José Nuno
Intérprete: Junta Regional do Porto
Álbum: Rumos
EMRC - AMOSTRA
31. 32
unidade 1
publicação, a 20 de Junho de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Edifício das Nações Unidas EMRC - AMOSTRA
Quando os direitos não estão
garantidos...
A humanidade já viveu períodos sombrios, mesmo na história recente,
nos quais morreram milhões de homens, mulheres e crianças. A primeira
guerra mundial (1914-1918), por exemplo, provocou milhares de mortos
e, feriu de tal modo o coração das pessoas que o ódio, o medo e a
desconfiança tomaram conta das relações entre alguns povos e pessoas.
Quando a guerra terminou, ficaram muitas discórdias por resolver. Não
demorou muito até à eclosão da segunda guerra mundial (1939-1945).
Neste conflito bélico, como em todos, foi notório o desrespeito pelo
ser humano, enquanto pessoa dotada de dignidade.
No final da segunda guerra mundial, com o objectivo de evitar novos
conflitos, algumas nações uniram-se e criaram a Organização das Nações
Unidas (ONU), que é ainda hoje uma organização muito prestigiada.
Os seus objectivos são: promover a paz no mundo, proteger os direitos
humanos; fomentar o desenvolvimento económico e social das nações;
estimular a autonomia dos povos; reforçar laços entre todas as nações.
Actualmente, a ONU reúne mais de 190 países.
Um dos marcos mais importantes da vida desta instituição foi a
32. 33
unidade 1
Humanos (DUDH). Todos os membros têm a obrigação de respeitar e
fazer respeitar os direitos que essa declaração proclama.
Muitos países membros da ONU continuam a desrespeitar os preceitos
inscritos nesta declaração. A muitos povos, bem como a grupos específicos,
ainda hoje é vedado o exercício dos seus direitos fundamentais. As
crianças constituem, indiscutivelmente, um dos grupos mais vulnerável.
Direitos da Criança
Os direitos das crianças são o resultado de uma conquista recente da
história da humanidade. Outrora, não se reconheciam direitos específicos
às crianças, por isso não havia qualquer legislação sobre o assunto. A
criança dependia totalmente da vontade dos adultos com quem vivia.
Se observarmos factos da vida privada das pessoas, ao longo dos
diferentes períodos da história, podemos verificar que as crianças
estavam inteiramente submetidas à deliberação dos adultos, não lhes
sendo garantidos quaisquer direitos pessoais.
Entretanto, a consciência dos povos foi evoluindo e hoje reconhece-se
à criança direitos próprios que não dependem da vontade dos adultos.
Assim, os adultos que cuidam das crianças não têm sobre elas direitos
de propriedade, como se se tratasse de objectos e não de pessoas. Bem
pelo contrário, estão obrigados a zelar pelo interesse das crianças, pelo
seu bem-estar, pela sua felicidade, pelo seu crescimento harmonioso, bem
como a ouvi-las e a permitir que tomem algumas decisões. Quando os
direitos básicos delas não são respeitados pelos adultos, outras entidades
podem e devem intervir para garantir a sua saúde e bem-estar.
Esta evolução positiva tem a sua origem nos valores cristãos. De facto,
ao observarmos a maneira como Jesus se relacionava com as crianças,
verificamos que era muito diferente da maneira como era esperado que
o fizesse. Alguns traziam as suas crianças até Jesus para ele as abençoar,
EMRC - AMOSTRA
Procura na Biblia
Mt 18, 1-5
33. 34
unidade 1
mas os discípulos zangavam-se com eles, provavelmente por acharem
que Jesus devia dedicar-se a gente mais importante do que crianças.
No entanto, Jesus ficava indignado com os discípulos (Mc 10,14) e
repreendia-os, dizendo-lhes que deixassem passar as crianças porque
elas eram o modelo de todo aquele que quisesse aceitar a sua mensagem
de salvação.
Esta maneira realmente inovadora de se relacionar com as crianças
abriu as portas para o reconhecimento da sua dignidade pessoal e,
portanto, dos seus direitos.
Na Idade Média, o nascimento era olhado com algum desprendimento
social, dada a incerteza da sobrevivência de cada bebé, nos primeiros
tempos de vida. De facto, até muito recentemente, eram elevadíssimas as
taxas de mortalidade infantil.
Ainda hoje, apesar de se reconhecerem direitos às crianças, nem
todas os vêem respeitados. Muitas crianças sofrem a indiferença ou até a
violência dos adultos.
EMRC - AMOSTRA
34. 35
unidade 1
Balada da Neve
Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim…
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente
E a chuva não bate assim…
É talvez a ventania;
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho…
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento, com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve, branca e fria…
— Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro bem definidos,
— Depois em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza…
— E cai no meu coração.
Augusto Gil. Luar de Janeiro
EMRC - AMOSTRA
35. 36
unidade 1
Garantir direitos às Crianças
Dada a vulnerabilidade das crianças e o facto de tantas sofrerem
atentados contra a sua dignidade, a sociedade foi desenvolvendo
mecanismos — legais e outros — para a sua protecção e para o
cumprimento efectivo dos seus direitos.
Com este fim, a ONU criou, em 11 de Dezembro de 1946, um organismo
dedicado exclusivamente a atender as necessidades básicas das crianças
no mundo e garantir o seu pleno desenvolvimento — a UNICEF.
A UNICEF — United Nations International Children’s Emergency
Fund — dedica-se à defesa e salvaguarda dos direitos das crianças em
todo o mundo. O seu lema é “Para todas as crianças saúde, educação,
igualdade e protecção”.
EMRC - AMOSTRA
Como indicado na
Declaração dos Direitos
da Criança, a criança,
por motivo de falta de
maturidade física e
intelectual, tem necessidade
de protecção e cuidados
especiais, nomeadamente de
protecção jurídica adequada,
tanto antes como depois do
nascimento.
Preâmbulo da Convenção
sobre os Direitos da Criança.
Jogos de Crianças, Pieter Bruegel the Elder
36. 37
unidade 1
Mas não bastava ter um organismo que se dedicasse às crianças, era
preciso que todos os Estados e todas as pessoas do mundo soubessem quais
são efectivamente os direitos das crianças. Por isso, a ONU promulgou,
por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 20 de
Novembro de 1989.
Este documento procura clarificar quais são os direitos fundamentais
das crianças e obriga os Estados que o adoptam a garantir a sua
aplicação.
Quase todos os países do mundo aceitaram esta Convenção, que
assenta em quatro grandes pilares.
1.º: A não discriminação que determina que todas as crianças dos mundo e em
qualquer momento têm o direito de desenvolver todo o seu potencial.
2.º: O interesse superior da criança deve ser prioritário em todas as acções e
decisões que envolvam a própria criança.
3.º: A sobrevivência e desenvolvimento que sublinha a importância vital da garantia
de acesso a serviços básicos e à igualdade de oportunidades para que as
crianças possam desenvolver-se plenamente.
4.º: A opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida
em conta em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos.
Adaptado de UNICEF. A Convenção sobre os Direitos da Criança.
Datas importantes para a defesa dos direitos da criança:
• 1924: Declaração de Genebra sobre os direitos da criança (Sociedade das
Nações).
• 1946: Fundação da UNICEF (ONU).
• 1848: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU).
• 1959: Declaração dos Direitos da Criança (ONU).
• 1976: A ONU proclama o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança.
• 1989: Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU). Portugal ratificou esta
convenção em 21 de Setembro de 1990.
Para saberes mais
EMRC - AMOSTRA
37. 38
unidade 1
Os seus 54 artigos podem ser divididos em quatro subcategorias de
direitos: direito à sobrevivência (ex.: cuidados médicos adequados);
direito ao desenvolvimento (ex.: educação); direitos à protecção (ex.:
protecção de formas de exploração e trabalho infantil); direito de
participação (ex.: participação da criança na sociedade e expressão das
suas opiniões).
Atentados aos direitos da Criança
Infelizmente, há ainda muito por fazer para que todas as crianças
vejam respeitados os seus direitos. Os atentados aos direitos das crianças
assumem as mais variadas formas. O abandono é uma delas.
O seu abandono, sob a forma de venda, já acontecia na antiga Babilónia
(século XVIII-XVII a.C.), como o atesta o Código de Hamurabi.
Na Idade Moderna, a criança indesejada e rejeitada era deixada na
Roda. Seguidamente, lavrava-se um registo individual em que constavam
normalmente a data, hora e local do enjeite, a idade aparente, o relato do
vestuário, a cópia na íntegra dos bilhetes que, por vezes, acompanhavam
o exposto, a referência ao baptismo (se foi administrado por alguém antes
do abandono) e o nome, já indicado ou escolhido no momento. Mais
EMRC - AMOSTRA
117.º:
Se alguém tem uma dívida
e, para a pagar, vende a
mulher, o filho e a filha, estes
deverão trabalhar três anos
na casa do comprador ou do
senhor; no quarto ano este
deverá libertá-los.
38. 39
unidade 1
tarde, acrescentava-se a ama a que o enjeitado fora entregue, apontando
o respectivo nome, estado civil, nome do cônjuge e residência. Em caso
de óbito, mencionava-se igualmente a data no mesmo registo.
O enjeitamento acontecia sobretudo à noite, depois do pôr-do-sol,
aumentando progressivamente até à uma hora da manhã, porque
a noite encobria o segredo. Raramente se abandonavam crianças que
já se exprimissem correctamente, uma vez que poderiam denunciar os
familiares que as haviam desamparado.
EMRC - AMOSTRA
39. 40
unidade 1
Para saberes mais
D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, foi uma das fundadoras do primeiro hospital
para recolher crianças no reino de Portugal, com o nome de Ecclesiae Innocentum
Hospitalis Puerorum (Hospital das Crianças Inocentes da Igreja), situado no Bairro
da Mouraria, em Lisboa, nas imediações da capela da Senhora da Saúde.
Apesar de, actualmente, existir legislação que protege as crianças,
Notícia do Semanário “SOL” em 28 de Outubro de 2008 EMRC - AMOSTRA
existem locais no mundo onde elas continuam a não ser respeitadas e
a ser exploradas das mais diferentes formas. Tal ocorre quer nos países
desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento.
A muitas crianças é negado o acesso aos cuidados básicos de saúde
e higiene, apesar de haver tratamento adequado para algumas das
doenças de que padecem. Por vezes, não existe solidariedade dos países
economicamente mais poderosos em relação a outros países onde há
carência de medicamentos.
Nunca existiu tão elevada produção de alimentos, no entanto
continuam a morrer de fome milhares de crianças em todo o mundo,
vítimas da escassez de alimentos ou da má nutrição. Este facto é uma
mancha no coração da humanidade!
A palavra progresso não
terá qualquer sentido
enquanto houver crianças
infelizes.
Albert Einstein
Para saberes mais
A subnutrição é uma das causas que contribui para mais de um terço dos 9,2
milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos no mundo. Embora se
tenham registado desde 1990 algumas melhorias relativamente à percentagem de
crianças desta faixa etária com baixo peso, estima-se que 148 milhões de crianças
continuem a sofrer de subnutrição nos países em desenvolvimento. Para que estas
crianças tenham hipóteses de sobreviver, é preciso intensificar esforços a fim de
satisfazer as necessidades nutricionais das mulheres dos bebés e das crianças.
Nova Iorque / Genebra, 12 de Setembro de 2008
In http://www.unicef.pt (16/02/2009)
Mais de 600 detidos em operação contra prostituição infantil
O FBI deteve 642 pessoas em vários estados dos EUA numa operação que resultou
no desmantelamento de uma rede que explorava pelo menos 47 menores, obrigados
a prostituir-se.
40. 41
unidade 1
Há crianças que estão ainda sujeitas a gravíssimos abusos psicológicos
e físicos, que passam por maus-tratos ou mesmo pela prostituição. São
situações de sofrimento extremo às quais, na maioria dos casos, as crianças
não têm hipótese de fugir. Os maus-tratos podem ser de vária ordem: a
simples ausência de afecto, a violência constante através de palavras, o
espancamento, os abusos sexuais. Algumas crianças são vendidas pela
própria família ou por aqueles que as têm a seu cargo, normalmente para
prostituição. Há redes de delinquência que raptam crianças para, depois,
serem vendidas para adopção noutros países ou para prostituição.
12 de Junho de 2008, Nova Iorque
A UNICEF estima que existem 158 milhões de crianças menores de 15 anos que
estão presas nas malhas do trabalho infantil em todo o mundo. A vasta maioria
dessas crianças tem pouca ou nenhuma esperança de conseguir acesso à instrução
que quebraria o ciclo de pobreza e analfabetismo que lhes mina o futuro.
Mais de 100 milhões de crianças, quase 70% da população laboral infantil, trabalham
na agricultura em áreas rurais onde o acesso à escola, a disponibilidade de professores
preparados e o material educativo é muito limitado. Mesmo nas áreas urbanas, as
crianças pobres e marginalizadas não podem beneficiar de um acesso mais alargado
às instalações escolares devido ao custo, à classe social e a questões culturais.
Contudo, dados recentes vieram trazer esperança à batalha contra o trabalho infantil.
A Educação é a melhor arma neste combate à escala global, e o número de crianças
fora da escola desceu de 115 milhões em 2002 para 93 milhões em 2005-2006.
Mas com mais de 150 milhões de crianças a trabalhar em vez de aprender, os
governos e a comunidade internacional podem fazer mais para ajudar essas
crianças a regressarem à escola. Nomeadamente, assegurando a Educação
gratuita para todas as crianças pelo menos até à idade mínima para trabalhar;
proporcionar programas educativos flexíveis e com recursos adequados para
crianças trabalhadoras e outros grupos marginalizados a fim de que as crianças
possam aprender bem apesar de trabalharem; e proporcionar educação de
qualidade e acções de formação que sejam amigas-das-crianças facultadas por
professores com formação e recursos adequados.
In http://www.unicef.pt (16/02/2009)
Ninguém deve deixar de denunciar casos semelhantes a estes, se os
conhecer. A criança não é propriedade das famílias ou das pessoas que as
têm a seu cargo. Todos somos responsáveis pelo seu bem-estar e pela sua
integração na sociedade em que vivemos, quer sejam da nossa família,
quer não.
EMRC - AMOSTRA
41. 42
unidade 1
Garantir o direito a
ser pessoa
O ser humano é naturalmente aberto, acolhedor e receptivo. A sua
dimensão espiritual, de abertura ao outro e eventualmente a Deus, faz
com que sinta uma natural inclinação para o acolhimento do próximo.
Este acolhimento torna-se efectivo quando a pessoa, individual ou
colectivamente, cria condições para que todos se realizem enquanto
pessoas.
O direito de realização da vocação humana depende da protecção
do direito à liberdade de consciência, à livre manifestação de opinião
e à liberdade religiosa. Impõe-se também a aceitação das diferenças,
nomeadamente culturais, religiosas, sociais e físicas.
Por diferentes razões, em qualquer momento da nossa vida, podemos
tornar-nos portadores de deficiência.
A Constituição da República Portuguesa prevê que os cidadãos
portadores de deficiência gozem dos mesmos direitos dos demais
cidadãos.
EMRC - AMOSTRA
Para saberes mais
Ludwig van Beethoven
nasceu em 1770 e
faleceu em 1827. Foi um
dos maiores compositores
de música clássica
de todos os tempos e
compôs a sua única ópera
já parcialmente surdo.
42. 43
unidade 1
Existem diversas organizações que se dedicam à promoção, integração
e desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência. Estas organizações
são muito importantes, permitindo a valorização, o desenvolvimento e a
realização pessoal de todos.
Artigo 71.º·(Cidadãos portadores de deficiência)
1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente
dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição,
com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se
encontrem incapacitados.
2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de
tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência
e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a
sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a
assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos
direitos e deveres dos pais ou tutores.
Constituição da República Portuguesa
EMRC - AMOSTRA
Para saberes mais
A Associação Portuguesa
de Pais e Amigos do
Cidadão Deficiente
Mental — APPACDM,
congrega diferentes
associações com esta
missão.
Jesus, o amigo dos pobres, dos desamparados, dos discriminados,
orientou a sua acção para a promoção dos mais desfavorecidos, porque
via neles a presença de Deus. Assim, vemo-lo a curar os leprosos, os
cegos, os paralíticos e outras pessoas que, de alguma maneira, eram mais
vulneráveis do que os outros. Para Jesus, as pessoas com deficiência e os
doentes são amados por Deus e dignos de toda a atenção.
Tiago, o discípulo e parente de Jesus, escreveu uma carta a todos os
cristãos. Nela deixou claro que o amor deve ser a motivação para a acção
dos crentes e que ter fé não significa apenas dizer que se acredita em
Deus, mas também agir em favor dos outros.
Procura na Biblia
Mc 12,29-31.
43. 44
unidade 1
Nas coisas necessárias, a
unidade; nas duvidosas, a
liberdade; e em todas, o
amor.
Santo Agostinho
de Hipona
Para saberes mais
Santo Agostinho de
Hipona nasceu em 354,
em Hipona (África do
Norte), e faleceu em 430.
Filho de pai pagão e de
mãe cristã, converteu-se
ao Cristianismo, já
em idade adulta, por
influência de Santo
Ambrósio, bispo de
Milão. Teólogo e filósofo,
escreveu várias obras,
destacando-se A Cidade
de Deus e Confissões.
Texto bíblico
A fé e as obras
Procedem bem se cumprirem o mandamento
Cristo curando os doentes, Laura James
fundamental: “Amarás o teu semelhante como a
ti mesmo.” Mas se fizerem acepção de pessoas,
isso está mal.
Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não
põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem
nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia.
Vocês podem dizer-lhes: “Vão em paz! Hão-de encontrar com
que se aquecer e matar a fome!” Mas se não lhes dão aquilo
de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do
mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta!
Tg 2,8-9.14-17
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44. 45
unidade 1
Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior
de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das
organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política.
Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas
externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa.
Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est.
Na fé e na esperança
o mundo discordará,
mas todo o interesse da
humanidade está no amor.
Alexandre, O Grande.
Século IV a.C.
Queridos avós,
Aproveito o início de mais este ano para mandar notícias. Este vai ser, com
certeza, o melhor ano nas nossas vidas. É a mãe quem continua a dizer isso.
Como dizia, aliás, em relação ao ano passado. Eu estou certa, no entanto, de
que será mesmo este o melhor.
Sabem, hoje na estação dos comboios passei por uma rapariga, uma mulher
jovem, que tentava a muito custo carregar um carrinho de bebé. Eu fiz o mesmo
que fizeram todas as pessoas que corriam para cá e para lá e passei simplesmente
ao lado. Reparei que algumas tinham a ousadia de olhar pelo canto do olho,
outras nem reparavam. Todas, como eu, passavam e iam às suas vidas.
Mas eu não era assim. Eu não era aquela rapariga que passou apenas. Por isso,
voltei para trás e informei a mulher e o carrinho de que os ajudaria a subir as
escadas. Impressionou-me, nos meus, às vezes cobardolas, 12 anos, a coragem
de não ter, sequer, perguntado se precisavam de ajuda. Não, fui logo dizendo
“Venha, eu ajudo-a!”
A ajuda terá sido preciosa, embora atrapalhada, por causa da mala que eu
transportava a tiracolo e dos cadernos novos que trazia nas mãos, o que tornou
a viagem pelas escadas acima até um pouco mais divertida.
No final da viagem, encontrámos um outro senhor, esse já mesmo idoso. Pelo
menos, na dificuldade que aparentava ter em deslocar-se e pelas duas bengalas
com que se fazia acompanhar.
Senti-me confusa, porque não me dava mesmo jeito nenhum passar esse dia a
ajudar pessoas a subir e a descer escadas. Isso foi, no entanto, desnecessário,
porque, quando eu me baixei para apanhar o caderno de Inglês que tinha caído
no chão, ouvi uma voz que dizia “Venha, eu ajudo-o!”.
Aquela, sim, era eu. E nem me importei muito por não ter entregado o trabalho de
férias de Inglês, que, entretanto, insistiu em ter fugido pelas escadas abaixo.
Esta sou eu, aqui. E senti-me tão cheia de felicidade por ter sido eu nas escadas,
que tive esta vontade de partilhar convosco que este ano, tenho a certeza, será
o melhor da minha vida. Que, acima de tudo, as escadas dos meus dias me
ajudem na descoberta de mim própria.
Os maiores beijinhos de saudades, queridos avós; adorei as férias aí na terra.
Ana Catarina
P. S.: Beijinhos também no focinho do Lucas.
Texto original de c
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