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Unidade Lectiva 1 EMRC - AMOSTRA
A Pessoa Humana 
EMRC - AMOSTRA
4 
unidade 1 
De regresso à 
Escola… 
AMOSTRA 
- Estamos de regresso à escola. Como passaram rapidamente as 
férias! Pensamos nas experiências e vivências que estes meses nos 
EMRC proporcionaram, algumas das quais lembraremos ao longo das nossas 
vidas. Estamos cheios de curiosidade e queremos saber o que os nossos 
colegas têm para nos contar sobre os dias em que não estivemos juntos. 
Durante estes meses, conhecemos coisas novas e talvez tenhamos 
mais antes de decidirmos. Esta capacidade de questionar e pensar sobre 
as coisas que nos rodeiam parece aperfeiçoar-se. Somos cada vez mais 
curiosos e este espírito leva-nos a novas descobertas. Subitamente, a 
vida já não parece tão simples. Começamos a tomar cada vez mais feito novos amigos; é por isso que temos muitas novidades para partilhar. 
Alguns falam sobre as pessoas e os sítios novos que conheceram, outros 
contam como aprenderam coisas diferentes nos livros que leram, nos 
programas de televisão que viram… em todas as experiências por que 
passaram. Cada vez mais, os nossos amigos parecem ocupar um lugar 
especial na nossa vida. 
Crescemos! Pensamos de forma diferente sobre a realidade e reflectimos
5 
unidade 1 
consciência da influência que os nossos comportamentos têm sobre os 
outros e da maneira como nos afectam a nós. Sentimo-nos cada vez mais 
responsáveis e disponíveis para aprender novas coisas. Esta abertura, 
esta capacidade para aprender com todas as experiências que vivemos 
torna-nos intervenientes na construção da sociedade em que estamos 
inseridos. 
Ser 
seja ruído 
seja beijo 
seja voo 
seja andorinha 
seja lago 
seja pacatez da árvore 
seja aterragem de borboleta 
seja mármore de elefante 
seja alma de gaivota 
seja luz num olhar 
seja um cardume de tardes 
e grite: JÁ SOU. 
Ondjaki. 101 poetas: Iniciação à poesia em língua portuguesa. 
EMRC - AMOSTRA
6 
unidade 1 
Sou Pessoa 
Cada ser humano nasce inserido numa determinada comunidade. 
Desenvolve-se na família, no grupo de amigos, na escola e nos vários 
contextos com os quais contacta. Da comunidade recebemos saberes e 
valores, através das experiências que fazemos e da abertura à realidade 
que nos rodeia. Temos consciência da nossa existência, das nossas 
experiências e aprendemos com elas. Afirmamo-nos através dos nossos 
pensamentos, sentimentos e afectos, os quais comunicamos aos outros 
através da linguagem, verbal ou corporal. 
Com a linguagem, conseguimos partilhar as nossas experiências, 
manifestando aos outros o que somos e aquilo em que acreditamos. De 
igual modo, revelamos a nossa intimidade, os nossos pensamentos e 
afectos através de palavras e comportamentos. Desenvolvemos a nossa 
experiência espiritual, exteriorizamos os sentimentos e manifestamos a 
nossa inteligência, abrindo-nos aos outros e a Deus. 
EMRC - AMOSTRA
7 
unidade 1 
Santo e Senha 
Deixem passar quem vai na sua estrada. 
Deixem passar 
Quem vai cheio de noite e de luar. 
Deixem passar e não lhe digam nada. 
Deixem, que vai apenas 
Beber água de Sonho a qualquer fonte; 
Ou colher açucenas 
A um jardim que ele lá sabe, ali defronte. 
Vem da terra de todos, onde mora 
E onde volta depois de amanhecer. 
Deixem-no pois passar, agora 
Que vai cheio de noite e solidão. 
Que vai ser 
Uma estrela no chão 
Miguel Torga. Diário I (Coimbra, 3 de Janeiro de 1932) 
EXEMPLO 
Toda a tarde a pensar no meu destino, 
E o rio, com mais água ou menos água, 
Sossegado a correr 
Num areal que o nega! 
Que lhe importa que o chão do seu caminho 
Seja seco e maninho, 
Se ele é uma eterna fonte que se entrega?! 
Miguel Torga. Diário VI (Coimbra, 21 de Março de 1953) 
Vocabulário 
Açucena: Planta 
bolbosa da família das 
Liliáceas, de flores 
brancas e perfumadas, 
também conhecida por 
lírio branco; a flor desta 
planta. 
EMRC - AMOSTRA 
Maninho: Estéril, não 
cultivado. 
Para saberes mais 
Miguel Torga, escritor 
português, nascido em S. 
Martinho de Anta (Trás-os- 
Montes), a 12 de 
Agosto de 1907, exerceu 
medicina em Coimbra, 
onde veio a falecer a 17 
de Janeiro de 1995.
8 
unidade 1 
Acreditava-se, desde a Grécia antiga, que o ser humano era composto 
por duas dimensões: o corpo e a alma ou o espírito. Este pensamento 
integrou a filosofia de várias culturas, tendo chegado ao cristianismo. 
Para o pensamento cristão actual, estas duas realidades — a corporal e a 
espiritual — são inseparáveis. O ser humano é compreendido como uma 
unidade corpo-espírito. 
Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como 
uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua 
dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente 
considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente 
a sua grandeza. 
Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est. 
Deste modo, nem o espírito nem o corpo, isoladamente, dão conta 
daquilo que é o ser humano. Nenhum de nós é simplesmente corpo, nem 
simplesmente espírito. Quando amamos, pensamos ou tomamos decisões 
fazemo-lo simultaneamente de forma espiritual e física. 
EMRC - AMOSTRA 
Para saberes mais 
As encíclicas são cartas 
pastorais enviadas pelo 
bispo de Roma, o papa, 
à Igreja. O nome das 
encíclicas corresponde 
às primeiras palavras do 
texto, redigido em latim.
9 
unidade 1 
Para saberes mais 
A palavra ‘pessoa’, de origem latina, deriva de persona, “máscara de teatro”; por 
extensão, significa o papel atribuído a essa máscara, a ‘personagem’. Relacionado 
com o ser humano, o pensamento cristão e, sobretudo, Santo Agostinho, usou 
a palavra para se referir às três pessoas (divinas) da Santíssima Trindade: o 
Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra ‘pessoa’ designava a capacidade de 
estabelecer relação com os outros. 
Se não fôssemos corpo, não seríamos capazes de nos revelarmos aos 
outros, de com eles comunicarmos e, em geral, de estabelecermos relações 
de comunhão. É através do corpo que nós exprimimos o que pensamos, 
o que sentimos ou as nossas decisões. Sem corpo seríamos seres virados 
para dentro de nós, como conchas fechadas que não comunicam com o 
exterior.O nosso corpo exprime as mensagens do nosso espírito. Observa, 
as imagens que se seguem e procura captar, através das expressões 
corporais ou da maneira de se vestirem e arranjarem, os sentimentos, as 
emoções, os pensamentos ou a vontade que as personagens transmitem. 
EMRC - AMOSTRA 
Azulejos representando Crianças a 
Brincar na Rua, Francisque Poulbot 
Homem e mulher Masai, Tanzânia 
Mulher com filho morto, Kathe 
Schmidt 
O Mártir, Auguste Rodin 
Rua de Paris, Andre Fougeron Mãe e criança em Holland Park, Dora 
Holzhamdler 
A mulher grávida, Pablo Picasso Mikado, Anónimo
10 
unidade 1 
Auto-retrato com chapéu de palha, Vincent van Gogh 
Através dos meios de comunicação social, chega até nós um forte apelo 
ao consumo de determinados produtos e marcas, cujo valor está baseado 
no poder das imagens. Associada ao consumismo está uma determinada 
imagem aparente de nós mesmos que procuramos transmitir aos outros, 
a qual se constrói a partir de modelos que a sociedade cria, de que é 
exemplo a moda. 
Por vezes, procuramos mostrar aos outros que somos aquilo que de 
facto não somos, vivendo uma vida de aparência, ou seja, uma vida não 
autêntica. Ser genuíno e autêntico, relacionando-nos com os outros a 
partir do que somos, daquilo em que acreditamos, nem sempre é fácil. 
Mas a verdadeira riqueza pessoal não se encontra nos bens que cada um 
possui, mas nos valores em que se acredita. Cada pessoa vale pelo que é 
e não pelo que tem. 
É importante estabelecer o equilíbrio entre o nosso interior (o nosso 
mundo espiritual) e o aspecto exterior (o nosso mundo corporal). 
Por isso, zelamos pela saúde do nosso corpo, mantendo cuidados de 
higiene diários, bem como uma dieta alimentar equilibrada. O cuidado 
que temos com a forma como aparecemos perante os outros não 
significa falta de autenticidade. Desde que corresponda à beleza interior 
(sentimentos positivos em relação aos outros), o facto de nos arranjarmos 
exteriormente faz com que nos sintamos bem connosco próprios e faz 
“Conhece-te a ti mesmo.” 
Sócrates, 
filósofo grego (séc. V) 
A Autenticidade 
EMRC - AMOSTRA
11 
unidade 1 
com que os outros tenham uma ideia mais agradável a nosso respeito. 
Isto não pode ser confundido com vaidade, porque ser vaidoso é ser fútil, 
superficial e viver quase exclusivamente para a sua imagem exterior, sem 
atender aos aspectos mais importantes. 
Num mundo que vive para o culto da aparência, onde a mentira é um 
meio para se passar uma imagem de si que não corresponde à realidade, 
é cada vez mais premente que cada ser humano seja autêntico, seja ele 
mesmo, sem procurar enganar os outros. A maior riqueza encontra-se na 
solidariedade e na entrega às outras pessoas, de forma desinteressada. 
Madre Teresa de Caucutá, (1910- 
1997) 
O espaço que nos rodeia influencia a maneira como nos sentimos. Raoul Follereau, (1903 - 1977) 
Por isso, procuramos harmonizar aquilo que somos com o espaço onde 
habitamos ou trabalhamos. 
Uma das mais antigas artes que o ser humano desenvolveu para 
construir espaços onde se sinta bem foi a arquitectura. Utilizada desde a 
pré-história, as suas primeiras funções foram a protecção e a habitação. 
Actualmente, a arquitectura preocupa-se também com o conforto, a 
estética e a eficiência energética. Seria bom que nos identificássemos 
com os locais que frequentamos e com a casa onde vivemos, dado serem 
relevantes para o nosso equilíbrio. Infelizmente, isso nem sempre é 
possível, uma vez que muitas pessoas não têm possibilidade financeira 
para escolherem o sítio onde gostariam de trabalhar ou onde gostariam 
de viver. Acabam por se ter de contentar com as condições possíveis! 
Para saberes mais 
Existem investigações 
sobre os ambientes e os 
locais onde habitamos. 
Uma delas é chamada 
Feng Shui. É uma 
ancestral técnica oriental 
que permite compreender 
a influência das cores, 
materiais, formas e 
elementos naturais à 
nossa volta — tanto em 
casa como no trabalho. 
O quarto de Van Gogh, Vincent van Gogh 
EMRC - AMOSTRA
12 
unidade 1 
As dimensões da pessoa 
A pessoa caracteriza-se por três dimensões fundamentais, a biológica, 
a social e a espiritual. 
A dimensão biológica caracteriza todos os seres vivos, tornando-os, 
neste aspecto, semelhantes. A dimensão social encontra-se associada às 
espécies animais, à sua capacidade de comunicação, de organização em 
grupo; no entanto, no ser humano, esta dimensão é muito mais complexa, 
como podemos verificar pela organização das sociedades humanas. 
A dimensão espiritual é a vida interior do ser humano: a sua capacidade 
racional (o pensamento), a vontade e a consciência moral, a afectividade 
(sentimentos, emoções) e a relação com o transcendente. Todas estas 
capacidades espirituais estão na base da comunicação com os outros, 
que acontece a um nível muito superior ao dos animais, especialmente 
através da complexa linguagem verbal. 
Um dos aspectos que distingue o ser humano de todas as outras espécies 
é a sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal, de tomar decisões 
livres e responsáveis, agindo assim sobre a realidade que o rodeia, 
orientado por valores éticos e pela capacidade de análise da realidade. 
Somos, portanto, livres e capazes de tomar opções individuais. 
Mas as pessoas, embora partilhem muitos aspectos em comum, não 
são iguais. Cada pessoa tem as suas particularidades e é naturalmente 
irrepetível. 
EMRC - AMOSTRA 
Vocabulário 
Transcendente: Deus; o 
sagrado.
13 
unidade 1 
Dimensão Biológica 
Cada ser humano apresenta características biológicas únicas. Dos 
nossos pais recebemos a herança genética através da qual partilhamos 
traços fisionómicos com a nossa linhagem materna e paterna. Contudo, 
as nossas características físicas não são apenas o somatório da herança 
das características da mãe e do pai, apresentamos traços distintos que 
fazem de cada pessoa um ser único. 
A identidade sexual é um aspecto importante da dimensão biológica 
da pessoa. Do pai recebemos a informação genética, que define a nossa 
identidade sexual. Esta caracteriza-se pela diferenciação dos órgãos 
genitais masculino e feminino, e, portanto, pela diferenciação do homem 
e da mulher. Os homens e as mulheres não têm apenas diferenças do 
ponto de vista biológico, também se diferenciam nas suas características 
psicológicas e comportamentais. 
EMRC - AMOSTRA
14 
unidade 1 
AMOSTRA 
Para saberes mais 
Vocabulário 
- EMRC Para saberes mais 
A identidade sexual do bebé é definida pelos cromossomas da célula sexual 
masculina, o espermatozóide. Estes cromossomas apresentam a denominação 
científica de cromossomas X e Y. É o cromossoma Y que define o sexo masculino 
do bebé. Os cromossomas sexuais dos óvulos são sempre X. Se, no momento 
da fecundação, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais X, o bebé fica com 
um par de cromossomas XX (do pai e da mãe) e é uma menina. Se, pelo contrário, 
o espermatozóide tiver cromossomas sexuais Y, o bebé fica com um par de 
cromossomas XY (da mãe e do pai) e é um menino. 
espécies animais. Este desenvolvimento faz com que os seres humanos 
sejam dotados de inteligência superior, que se manifesta na capacidade 
de resolver problemas complexos e elaborar raciocínios profundos. Esta 
inteligência permite-lhes ao ser humano pensar e agir sobre o mundo 
que os rodeia e confere-lhes grande autonomia, liberdade e capacidade 
de decisão pessoal. Informação genética: 
Conjunto de informação, 
presente na cadeia de ADN 
(ácido desoxirribonucleico), 
transmitida de pais para 
filhos através das células 
sexuais. 
Fisiológica: Que diz 
respeito às funções dos 
diferentes órgãos dos seres 
vivos. 
Fisionómica: Que diz 
respeito aos traços do 
rosto, às feições. 
As células dos seres humanos contêm, cada uma, dois pares de 23 cromossomas, 
num total de 46 cromossomas. Cada cromossoma contém uma cadeia, em forma 
de hélice, de ADN com toda a informação genética. 
Mas as células sexuais (o espermatozóide e o óvulo), ao contrário das outras 
células, só têm 23 cromossomas. No momento da fecundação, o óvulo e o 
espermatozóide unem-se e juntam, em pares, os 23 cromossomas provenientes 
da mãe e os 23 cromossomas provenientes do pai, dando origem a um ser 
geneticamente diferente. Todavia, a diferença do novo ser em relação aos pais 
não se fica por aqui, uma vez que os cromossomas provenientes da mãe e do 
pai trocam pequenos fragmentos de informação genética (ADN). As diferentes 
combinações possíveis de cromossomas e ADN são tantas que cada ser humano 
é uma espécie de “milagre”: um ser único e irrepetível. 
O cérebro humano é muito mais desenvolvido do que o das restantes
15 
unidade 1 
Dimensão Social 
O ser humano afirma-se em sociedade, através da família e dos diversos 
grupos sociais e culturais aos quais pertence. Nela, cada ser humano 
estrutura os seus conhecimentos e valores que influenciam atitudes e 
comportamentos, bem como as suas decisões. 
A família tem uma importância fundamental no desenvolvimento da 
pessoa, nela fazemos a primeira experiência de sermos únicos. De igual 
modo, tomamos consciência de que cada uma das pessoas com que nos 
relacionamos é única. 
Quando os pais dão o nome a um filho, estão, simbolicamente, a atribuir-lhe 
uma identidade própria que o distingue como pessoa e o diferencia 
dos outros. Por isso, o profeta Isaías refere que Deus chama cada um pelo 
seu nome, pois o nome (a identidade) de cada pessoa é sagrado. Assim se 
entende a origem cristã do direito ao bom nome que cada pessoa tem, ou 
seja a ser respeitado na dignidade e na sua identidade. 
Artigo 26º 
(Outros direitos pessoais) 
1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade 
civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da 
intimidade da vida privada e familiar. 
Constituição da República Portuguesa 
EMRC - AMOSTRA
16 
unidade 1 
As associações culturais e recreativas, os clubes desportivos, assim 
como outras instituições favorecem a participação das pessoas na vida 
social. São formas de socialização que manifestam a tendência natural das 
pessoas para cooperarem, procurando atingir objectivos que vão muito 
para além das suas capacidades individuais. As associações estimulam as 
aptidões de cada pessoa, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade, 
contribuindo para o exercício da cidadania. 
A vivência em sociedade permite a realização da vocação humana, uma 
Marie Curie no seu laboratório, 
Escola Inglesa (séc. XX) EMRC - AMOSTRA 
vez que, em princípio, as sociedades estão orientadas para a realização 
de cada indivíduo e para o cumprimento do bem comum. 
Através delas, cada pessoa é herdeira de um passado e a ele devedora. 
Dessa herança, cada um recebe tradições, crenças, formas de vida, leis, 
regulamentos, etc. Estes últimos enquadram os direitos e os deveres das 
pessoas. Assim, cada membro da sociedade sabe quais são os direitos que 
pode reivindicar e os deveres que deve respeitar. 
A curiosidade natural e a procura de respostas para problemas levam 
o ser humano, individual e colectivamente, a progredir através de novas 
aprendizagens e descobertas, por forma a encontrar soluções inovadoras. 
Alguns dos resultados concretizam-se no chamado avanço tecnológico, 
na inovação científica e no desenvolvimento material das sociedades. 
Tudo isto resulta da acção do ser humano, enquanto sujeito influente e 
corresponsável pelas transformações que ocorrem à sua volta. 
Contudo, verificamos que, muitas vezes, as mudanças não respondem 
aos verdadeiros interesses da pessoa. Por exemplo, algumas aplicações 
tecnológicas, sendo aparentemente boas, podem revelar-se prejudiciais 
para o ser humano. De facto, podemos usar a nossa inteligência e liberdade 
tanto para o bem como para o mal. 
Associação de Solidariedade 
Social. 
A pessoa humana é, e deve 
ser, o princípio, o sujeito e o 
fim de todas as instituições 
sociais. 
Gaudium et Spes 25,1 
Nave espacial Soyuz a descolar Explosão Núclear sobre Bikini Atoll 
Rússia
17 
unidade 1 
A Comunicação 
O ser humano tem a capacidade extraordinária de comunicar as suas 
experiências individuais aos outros, através da linguagem. 
Na comunicação, utilizamos a linguagem verbal — recorrendo a 
palavras e sons — e a não verbal — gestos, posturas do corpo. A linguagem 
não verbal pode reforçar ou prejudicar a mensagem que pretendemos 
transmitir. 
Para saberes mais 
Árvore genealógica de algumas línguas Indo-Europeias 
Italiano 
Indo-Europeu 
Grego 
Germânico 
Céltico 
Itálico Balto-eslávico 
Indo-Irânico 
Persa 
Sânscrito 
Ucraniano 
Russo 
Polaco 
Checo 
Servo-croata 
Romeno 
Castelhano Francês 
Português 
Sueco 
Norueguês 
Dinamarquês 
Inglês 
Holandês 
Alemão 
Irlandês 
Latim 
EMRC - AMOSTRA
18 
unidade 1 
Kanimanbo Calunga! 
Certo dia, ouvi contar, em língua ronga, uma história, junto às águas do grande mar 
Índico, e de imediato percebi que era desconhecida de todos os que a escutavam. 
Um velho e respeitado sábio contava que há muito, muito tempo, antes da chegada 
do mulungo, o Criador, viajando numa nuvem, lançou as sementes das línguas que 
haveriam de crescer com a humanidade. O Pai proferia a palavra, pronunciava o nome 
e a língua surgia. Recordo ainda as suas palavras finais: «E Ele disse: “Faça-se a língua 
swahili”. E fez-se a swahili. E depois Ele disse: “Faça-se a língua maconde”. E fez-se 
a maconde. E depois Ele disse: “Faça-se a língua macua”. E fez-se a macua. E por 
último Ele disse: “Faça-se a língua ronga”. E fez-se a ronga.» 
Depois de percorrer o mundo e terminada a distribuição das línguas, dizem que 
se retirou algures para os lados do Alto Molócue e por lá se deixou ficar, de onde 
observa a Criação. Outros, porém, afirmam que descansa, mais a Norte, na região 
de Niassa. Não houve uma só semente que não tivesse germinado, o que parecia ser 
maningue bom para que os povos comunicassem. Mas as pessoas deixaram de se 
compreender. Deixaram de escutar o que os outros diziam. A obra de Calunga não 
foi compreendida pelos homens. 
Então, os chefes das tribos reuniram-se próximo da baía das acácias, para tentar 
resolver o problema. Todos reconheciam o problema, mas parecia difícil a solução. 
Eis que um mwalimu do norte disse ter a solução. O problema do conflito não era 
do céu, mas da terra! As línguas jamais desapareceriam e o problema continuaria, 
enquanto um só homem não reconhecesse a grandeza da Criação. Então, todos 
teriam de pronunciar «Eh Oena Calunga! kanimanbo, kanimanbo, kanimanbo!» três 
vezes kanimanbo. 
As tribos tinham-se reunido pela primeira vez e, trabalhando todos com o mesmo 
objectivo, atingiram o coração de Calunga. Dizia o sábio madala que cada um tinha 
alcançado não o coração de Calunga, mas o seu próprio coração. Desde então, os 
povos não deixaram de comunicar, mesmo sem uma língua comum, mas unidos 
pelo coração. Como forma de agradecimento, todos os anos, no mesmo dia, as 
tribos juntam-se e partem em peregrinação, em direcção ao Norte. Há quem procure 
todo o ano o lugar onde Calunga descansa, lugar onde, dizem, a luz brilha com 
mais intensidade. O velho madala, porém, recusa-se a fazer a peregrinação. Diz ter 
encontrado o Criador em casa, no seu próprio coração. 
Era a primeira vez que o madala contava a história, tal como já a ouvira contar, uma só 
vez, ainda em criança. Certo é que, ainda hoje, as pessoas agradecem do coração, 
em ronga, pronunciando a palavra mágica kanimanbo. 
Texto inédito de Carlos Guardado da Silva 
Vocabulário 
Vocabulário Ronga: 
Calunga: Deus 
Eh oena: Oh tu! 
Kanimanbo: Obrigado 
Madala: Pessoa idosa e 
respeitada 
Maningue: Muito 
Mwalimu: Sacerdote, 
professor (língua maconde) 
Mulungo: Homem branco 
Niassa: Província 
moçambicana 
Ronga: Dialecto mais 
meridional do grupo 
linguístico banto tsonga. 
EMRC - AMOSTRA
19 
unidade 1 
A comunicação entre os seres humanos não se faz apenas através 
da linguagem verbal e corporal. Faz-se também através das produções 
artísticas, fruto da criatividade humana e da capacidade de o ser humano 
construir mundos que não existem. As artes são múltiplas: a música, a 
dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro, o cinema… Aprender 
a captar as mensagens transmitidas pelas obras de arte faz parte do 
enriquecimento cultural de todas as pessoas. 
EMRC - AMOSTRA
20 
unidade 1 
Dimensão Espiritual 
A pessoa realiza-se nas dimensões biológica e social. Contudo, só se 
completa na dimensão espiritual. É esta característica que distingue o ser 
humano dos outros animais e consiste na capacidade de pensar, de amar, 
de tomar decisões livres e de agir sobre o mundo, participando na obra 
do Criador. Embora outras espécies animais tenham comportamentos 
que se aproximam dos comportamentos humanos, a maneira como o ser 
humano usa a sua dimensão espiritual é qualitativamente diferente da 
maneira como as outras espécies se comportam. 
A inteligência, impelida pela sabedoria, conduz a pessoa a uma 
permanente procura do bem, no relacionamento com os outros e consigo 
próprio. A consciência moral é um dos aspectos que tornam o ser humano 
qualitativamente diferente de todos os outros seres. 
A capacidade de amar, aspecto central da vida espiritual, é a marca, 
em cada um, da presença de Deus. Quem ama procura a verdade e o 
bem, em cada situação da vida quotidiana. Está, assim, aberto aos outros, 
seus irmãos, e eventualmente a Deus. A dimensão espiritual é também 
a capacidade de cada indivíduo se relacionar com Deus, aspecto que só 
ocorre entre os humanos. 
São manifestações da vida espiritual do ser humano, para além das que 
já se apontaram, as descobertas científicas, as realizações tecnológicas, 
Rm 13, 8 EMRC - AMOSTRA 
Já não sou eu que vivo; é 
Cristo que vive em mim. 
Gl 2,20 
Não devam nada a ninguém, 
a não ser o amor de uns para 
com os outros. Quem ama o 
próximo cumpre a Lei.
21 
unidade 1 
as produções artísticas… Enquanto imagem e semelhança de Deus, 
cada pessoa é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais 
rico, onde a beleza, a verdade, a justiça e o amor possam orientar o 
comportamento humano e a vida das sociedades. 
A natureza espiritual da pessoa humana encontra a sua perfeição na sabedoria, 
que suavemente atrai o espírito do homem à busca do amor da verdade e do 
bem. 
Mais do que nos séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, 
para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com 
efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria. E é de 
notar que muitas nações, pobres em bens económicos, mas ricas em sabedoria, 
podem trazer às outras incalculáveis benefícios. 
Gaudium et Spes 15 
Oração em Taizé Procura AMOSTRA 
na Biblia 
Ef 4,16 
- EMRC
22 
unidade 1 
Sexualidade Humana 
A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa, tanto ao nível 
da dimensão física, como da dimensão social e espiritual. Traduz-se 
na afectividade, que consiste na capacidade para amar e criar laços 
de comunhão com o outro. A realização plena da sexualidade humana 
concretiza-se na vocação da pessoa para amar o próximo. Esta vocação 
pode realizar-se em qualquer circunstância da vida pessoal, quer a pessoa 
tenha optado por partilhar a sua vida com alguém, quer tenha optado 
por permanecer celibatária, dedicando-se, por exemplo, a uma profissão 
ou a uma actividade que interpreta como um serviço ao próximo. 
As três árvores 
Um dia, numa bela manhã de sol, um sábio foi procurado pelo seu aprendiz, que lhe 
perguntou: 
— Mestre, que significado tem a amizade? 
O mestre apontou para três árvores e respondeu: 
— Repara nestas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas; 
noutra, notamos frutos que chegam a dobrar os seus galhos; e, na última, há somente 
folhas de muitas cores misturadas. 
Subiram então a um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e o mestre 
perguntou ao seu aprendiz: 
— O que vês aqui de cima? 
— Vejo apenas que essas árvores cresceram próximas e independentes; porém, as 
suas copas fundem-se, produzindo uma única sombra — respondeu o aprendiz. 
O mestre concluiu, então: 
— Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas 
que, quanto maiores, mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única 
sombra, um único abrigo, onde é possível recuperar forças, e um conforto para os 
olhos, para a alma e para o coração. Os amigos são como árvores diferentes que 
crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, formando uma única força 
e descobrindo coisas novas em cada encontro. 
Adaptado de http://tiojuliao.diabetes.org.br/Divino/Mensagem/msg04.php (12/02/2009) 
EMRC - AMOSTRA 
Vocabulário 
Vocação: A palavra 
‘vocação’ deriva do verbo 
latino ‘uocare’ que significa 
chamar. Assim, a vocação 
consiste no facto de alguém 
se sentir chamado a abraçar 
um certo estilo de vida ou 
a dedicar-se a uma tarefa 
específica. 
Celibatário: que não 
contraiu matrimónio; que 
vive solteiro.
23 
unidade 1 
Conto do Amor 
Certa vez, um homem, cansado de ver tanta maldade na região onde vivia, 
decidiu fazer uma peregrinação ao santuário de Deus, para lhe pedir que 
mudasse aquela situação. 
Ao entardecer, já cansado de tanto caminhar, parou debaixo de uma árvore 
e ali preparou o local para passar a noite. 
Quando já estava pronto para dormir, ouviu uma voz, vinda do nada, que 
lhe dizia: 
— Homem, como te chamas? 
Ele, muito assustado, respondeu: 
— Chamo-me Amor. 
— De onde vens? 
Muito triste, Amor respondeu-lhe: 
— Venho de uma terra desolada, onde só existe maldade. A paz e a esperança 
há muito findaram. 
— Para onde te estás dirigindo com toda essa tristeza? 
— Vou para o santuário de Deus, pedir-lhe que intervenha na minha região, 
fazendo com que o bem volte a reinar. 
A voz cessou por um instante e, depois, voltou a dizer: 
— Não precisas de ir tão longe. Eu sou aquele que tu procuras. Mas só 
posso conceder-te o teu desejo se pedires com muita fé. 
E Amor pensou, entrou em oração e decidiu fazer o pedido: 
— Quero que me transformes numa pedra e me coloques na boca daquele 
vulcão. 
E Deus, confuso, disse: 
— Pensei que fosses pedir-me para restabelecer o bem na tua região. Por 
que me pedes isso? 
— Eu fiz como me disseste. Pedi com fé. Por isso, cumpre a sua 
promessa. 
E assim foi feito. Deus transformou-o numa pedra e colocou-o na boca do 
vulcão. 
Logo o vulcão entrou em erupção e, na primeira explosão, estilhaçou Amor 
em milhões de pedaços que se espalharam por toda a terra. 
Assim, em todos os lugares, passou a existir um pedaço de Amor e aquela 
terra voltou a ter esperança. 
Emerson Danda (adaptado de http://recantodasletras.uol.com.br/contos/35064 - 12/02/2009) 
EMRC - AMOSTRA
24 
unidade 1 
Na Bíblia, Deus não é uma força impessoal, uma espécie de energia 
que se propaga pelo universo. A mensagem bíblica afirma a convicção 
de que Deus é pessoa. Como já vimos, ser pessoa significa ser capaz 
de estabelecer relação com os outros. Nos vários relatos bíblicos, Deus 
manifesta-se ao ser humano, fala com ele, propõe-lhe um estilo de vida, 
declara que o ama e que deseja a sua felicidade. Deus é o amigo da 
humanidade. Indigna-se, quando o ser humano é vítima da injustiça e do 
ódio alheio, e reafirma a promessa da sua presença constante, no meio 
das adversidades. Deus é, portanto, um ser pessoal, inteligente e livre, 
que ama e quer estabelecer com cada ser humano uma relação especial, 
única. 
O Salmo 139 é uma confissão de fé no Deus infinito, criador, omnisciente 
e pessoal: um verdadeiro louvor à relação pessoal, íntima e única, entre 
cada crente e Deus. 
Trata-se de uma oração poética que foi redigida para ser cantada e 
acompanhada por um instrumento musical de cordas: o saltério, a cítara, 
a lira ou a harpa. Os Salmos são utilizados no culto religioso, tanto por 
judeus como por cristãos. Jesus, durante a sua vida pública, também 
citou vários trechos de salmos e, durante a oração nas sinagogas e no 
Templo de Jerusalém, cantou Salmos em louvor a Deus. 
Vocabulário 
Infinito: Que não tem 
princípio nem fim. 
Omnisciente: Que tudo 
sabe. 
Deus é pessoa 
EMRC - AMOSTRA
25 
unidade 1 
Tu conheces, ó Deus, a minha intimidade! 
1Senhor, tu examinaste-me e conheces-me. 
2Conheces todos os meus movimentos; 
à distância, sabes os meus pensamentos. 
3Vês-me quando trabalho e quando descanso; 
conheces todas as minhas acções. 
4Mesmo antes de eu falar, 
já tu sabes o que vou dizer. 
5Tu estás em meu redor, por todo o lado; 
proteges-me com o teu poder. 
6O teu conhecimento a meu respeito é muito profundo; 
está para além da minha compreensão. 
7Onde poderia eu ir para me esconder de ti? 
Para onde poderia eu fugir da tua presença? 
8Se subisse aos céus, lá estarias; 
se descesse ao mundo dos mortos, lá estarias também. 
9Se eu voasse para além do oriente 
ou fosse habitar nos lugares mais distantes do ocidente, 
10também lá a tua mão desceria sobre mim, 
lá estarias para me segurar! 
11Se eu pedisse à escuridão para me esconder 
ou à luz para se transformar em noite à minha volta, 
12a escuridão não me havia de esconder de ti 
e a noite seria para ti tão brilhante como o dia. 
Para ti a escuridão e a luz são a mesma coisa! 
13Foste tu que moldaste todo o meu ser; 
formaste-me no ventre de minha mãe. 
14Louvo-te, ó Altíssimo, por tão espantosas maravilhas; 
fico admirado com as tuas obras. 
Conheces intimamente o meu ser. 
15Quando o meu corpo estava a ser formado, 
sem que ninguém o pudesse ver; 
quando eu me desenvolvia em segredo, 
nada disso te escapava. 
EMRC - AMOSTRA 
Vocabulário 
Examinar: Analisar; 
investigar; observar. 
Moldar: Dar forma a; 
formar; criar. 
Perscrutar: Tratar de 
conhecer; investigar; 
explorar. 
Sondar: Tratar de 
conhecer; avaliar; 
investigar; explorar. 
Vereda: Caminho estreito e 
de terra batida.
26 
unidade 1 
16Antes de eu estar formado, já tu me havias visto. 
Tudo isso estava escrito no teu livro; 
tinhas assinalado todos os dias da minha vida, 
antes de qualquer deles existir. 
17Mas para mim, que profundos são os teus pensamentos, ó Deus! 
Que misterioso é o seu conteúdo. 
23Examina-me, ó Deus, e sonda o meu coração; 
põe-me à prova e perscruta os meus pensamentos. 
24Vê se eu sigo pelo caminho do mal 
e guia-me pela tua vereda, ó Deus eterno. 
AMOSTRA 
Salmo 139(138),1-17.23-24 
- EMRC Neste Salmo, o autor dirige-se a Deus, interpelando-o. O crente vive 
na certeza de que Deus o conhece ainda melhor do que ele próprio se 
conhece. 
O autor refere-se a Deus atribuindo-lhe acções que são próprias da 
atitude relacional da pessoa: Deus examina, conhece, sabe, vê, está 
presente, protege, faz descer a mão, molda, forma, assinala, pensa, sonda, 
perscruta, guia. Qualquer destes verbos exprime a ideia de que Deus está 
de tal forma presente na vida humana que nenhuma pessoa pode alguma 
vez estar inteiramente sozinha.
27 
unidade 1 
A dignidade Humana 
Direitos e Deveres 
Pelo facto de se ser pessoa, todos somos portadores de direitos e de 
deveres. Tanto uns como outros são necessários à vida das sociedades 
humanas. O que seria uma comunidade em que aos membros não fossem 
reconhecidos direitos, nem eles assumissem deveres para com os outros? 
Na verdade, a defesa dos direitos individuais exige o respeito pelos 
direitos dos outros (deveres). As leis e os regulamentos servem para 
garantir esses direitos e clarificar os deveres. 
O estabelecimento e reconhecimento dos direitos humanos, tal como 
os conhecemos hoje, levou muito tempo a ser alcançado e ainda é um 
processo longe de estar concluído. Na verdade, os direitos humanos não 
são cumpridos em todo o lado. Exige-se, pois, uma cultura de cidadania, 
de liberdade e de respeito pela dignidade de cada pessoa, para que cada 
uma possa realizar-se plenamente. 
A história da humanidade é também uma história de libertação. Nela, 
o ser humano fez um longo percurso na procura da liberdade. 
EMRC - AMOSTRA 
A opressão nunca conseguiu 
suprimir nas pessoas o desejo 
de viver em liberdade. 
Dalai Lama
28 
unidade 1 
Libertação do povo hebreu do 
Egipto 
Século X a.c. 
Século X d.c. 
Ano 0 
Século XII a.c. 
A democracia ateniense 
Século VI a.c. 
Jesus Cristo 
EMRC - AMOSTRA 
Moisés fechando o Mar Vermelho 
(Edward Gover, 1870’s (litho), Bendixen, 
Siegfried Detler (1786-1864)) 
Virgem com criança, 
Ìcon Ortodoxo 
Nesta conquista pela liberdade, a Revolução Francesa, com o lema 
“liberdade, igualdade e fraternidade”, foi um acontecimento marcante 
da história recente da luta pela liberdade e igualdade entre as pessoas. 
Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade têm a sua raiz na 
cultura grega e no cristianismo. Mas foi a partir da Revolução Francesa 
que começaram a ganhar contornos políticos e sociais mais vastos. 
A mais famosa representação da liberdade encontra-se na célebre 
Estátua da Liberdade, em Nova Iorque: uma mulher — a liberdade — 
vestida com uma toga, ergue, numa mão, uma tocha de luz (símbolo 
do fogo eterno da liberdade), na outra segura uma placa com a data da 
independência dos EUA (4 de Julho de 1776, em algarismos romanos). 
Sob os seus pés, estão cadeias quebradas, símbolo da libertação da 
tirania. Na cabeça tem um diadema de sete espigões, que representam 
os setes oceanos (Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico 
Tirania: Governo opressor e 
cruel; opressão; violência. 
Diadema: Coroa. 
Proclamação da Emancipação, 
A.A. Lamb 
Vocabulário
29 
unidade 1 
Século XX d.c. 
A magna carta 
Século XIII d.c. 
Revolução Francesa – 1848 
Final da escravatura em 
Portugal – 1869 
Libertação dos campos de 
concentração nazi - Junho 1945 
25 Abril 1974 
Libertação de Nelson 
Mandela – 12 Fevereiro 1990 
Revolução Francesa, 
(Escola Inglesa, 
(século XX)) 
Rei João a assinar 
a Magna carta, 
Ilustração sem data 
após uma pintura 
de Chappel 
Escravatura, 
(McBride, Angus 
(1931-2007)) 
Criança 
subrevivente do 
Holocausto 
Soldados 
Portugueses nas 
ruas após o 25 de 
Abril 
Nelson Mandela 
a sair da prisão 
Sul, Árctico, Antárctico, Índico) e os sete continentes (América do Norte, 
América do Sul, Europa, África, Ásia, Oceânia, e Antárctica), sugerindo 
que a liberdade é para todos os povos da Terra. 
No século XIX começou a batalha para a abolição da escravatura. 
Ao mesmo tempo, lutava-se pela defesa do sufrágio universal, ou seja, 
o direito de todo o povo votar e eleger os seus representantes. Estes 
direitos políticos foram essenciais para a afirmação da dignidade de 
todas as pessoas, independentemente da sua classe social, povo, etnia, 
género, religião, etc. 
Uma cavalgada pela liberdade - Os escravos fugitivos, Eastman Johnson 
EMRC - AMOSTRA 
Para saberes mais 
Portugal foi o primeiro 
país do mundo a abolir a 
escravatura. Os primeiros 
escravos, a serem 
libertados em 1854, 
pertenciam ao Estado 
português.
30 
unidade 1 
A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde 
28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da 
Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês 
ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da 
liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the 
World (‘A Liberdade Iluminando o Mundo’). 
Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi 
(1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com 
a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros 
(92,99 metros contando o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158 
toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre 
(31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo. 
No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da 
americana Emma Lazarus, intitulado “The new Colossus”: 
AMOSTRA 
Give me your tired, your poor, 
Your huddled masses yearning to breathe free, 
The wretched refuse of your teeming shore. 
Send these, the homeless, tempest-tost, to me, 
I lift my lamp beside the golden door! 
Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres 
- E confusas, ansiando por respirar liberdade, 
EMRC Os indigentes que recusam a vossa costa abundante. 
Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade, 
Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha! 
Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde, 
como património mundial da humanidade, pela Unesco. 
quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por 
este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa 
medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos 
que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção 
na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os 
deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o 
respeito pelo bem comum. Estátua da Liberdade 
Para saberes mais 
Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que
31 
unidade 1 
Pedacinhos de Deus 
Se sentes dentro de ti a vontade de amar 
em gestos que criem fontes, a audácia de sonhar 
mais longínquos horizontes e o apelo a escalar 
cada vez mais altos montes, 
cada vez mais altos montes, 
então… 
Tens em ti um pedacinho de Deus, 
tens rumos certos no coração. 
Desperta o sonho: tens em ti os céus, 
liberta a vida da palma da mão. 
Faz desses rumos os caminhos teus: 
de B.P. recebeste esta missão. 
Se sentes dentro de ti sempre a sede de gritar 
o nome da liberdade, a coragem de falar 
a palavra da verdade e a servir participar 
na construção da cidade, 
na construção da cidade, 
então… 
Se sentes dentro de ti o silêncio inspirar 
a paz ao teu coração chamando-te a enfrentar 
a vida com decisão e teimas acreditar 
na esperança de um mundo bom, 
na esperança de um mundo bom, 
então… 
Música e letra: Alexandre Reis, Pe. José Nuno 
Intérprete: Junta Regional do Porto 
Álbum: Rumos 
EMRC - AMOSTRA
32 
unidade 1 
publicação, a 20 de Junho de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Edifício das Nações Unidas EMRC - AMOSTRA 
Quando os direitos não estão 
garantidos... 
A humanidade já viveu períodos sombrios, mesmo na história recente, 
nos quais morreram milhões de homens, mulheres e crianças. A primeira 
guerra mundial (1914-1918), por exemplo, provocou milhares de mortos 
e, feriu de tal modo o coração das pessoas que o ódio, o medo e a 
desconfiança tomaram conta das relações entre alguns povos e pessoas. 
Quando a guerra terminou, ficaram muitas discórdias por resolver. Não 
demorou muito até à eclosão da segunda guerra mundial (1939-1945). 
Neste conflito bélico, como em todos, foi notório o desrespeito pelo 
ser humano, enquanto pessoa dotada de dignidade. 
No final da segunda guerra mundial, com o objectivo de evitar novos 
conflitos, algumas nações uniram-se e criaram a Organização das Nações 
Unidas (ONU), que é ainda hoje uma organização muito prestigiada. 
Os seus objectivos são: promover a paz no mundo, proteger os direitos 
humanos; fomentar o desenvolvimento económico e social das nações; 
estimular a autonomia dos povos; reforçar laços entre todas as nações. 
Actualmente, a ONU reúne mais de 190 países. 
Um dos marcos mais importantes da vida desta instituição foi a
33 
unidade 1 
Humanos (DUDH). Todos os membros têm a obrigação de respeitar e 
fazer respeitar os direitos que essa declaração proclama. 
Muitos países membros da ONU continuam a desrespeitar os preceitos 
inscritos nesta declaração. A muitos povos, bem como a grupos específicos, 
ainda hoje é vedado o exercício dos seus direitos fundamentais. As 
crianças constituem, indiscutivelmente, um dos grupos mais vulnerável. 
Direitos da Criança 
Os direitos das crianças são o resultado de uma conquista recente da 
história da humanidade. Outrora, não se reconheciam direitos específicos 
às crianças, por isso não havia qualquer legislação sobre o assunto. A 
criança dependia totalmente da vontade dos adultos com quem vivia. 
Se observarmos factos da vida privada das pessoas, ao longo dos 
diferentes períodos da história, podemos verificar que as crianças 
estavam inteiramente submetidas à deliberação dos adultos, não lhes 
sendo garantidos quaisquer direitos pessoais. 
Entretanto, a consciência dos povos foi evoluindo e hoje reconhece-se 
à criança direitos próprios que não dependem da vontade dos adultos. 
Assim, os adultos que cuidam das crianças não têm sobre elas direitos 
de propriedade, como se se tratasse de objectos e não de pessoas. Bem 
pelo contrário, estão obrigados a zelar pelo interesse das crianças, pelo 
seu bem-estar, pela sua felicidade, pelo seu crescimento harmonioso, bem 
como a ouvi-las e a permitir que tomem algumas decisões. Quando os 
direitos básicos delas não são respeitados pelos adultos, outras entidades 
podem e devem intervir para garantir a sua saúde e bem-estar. 
Esta evolução positiva tem a sua origem nos valores cristãos. De facto, 
ao observarmos a maneira como Jesus se relacionava com as crianças, 
verificamos que era muito diferente da maneira como era esperado que 
o fizesse. Alguns traziam as suas crianças até Jesus para ele as abençoar, 
EMRC - AMOSTRA 
Procura na Biblia 
Mt 18, 1-5
34 
unidade 1 
mas os discípulos zangavam-se com eles, provavelmente por acharem 
que Jesus devia dedicar-se a gente mais importante do que crianças. 
No entanto, Jesus ficava indignado com os discípulos (Mc 10,14) e 
repreendia-os, dizendo-lhes que deixassem passar as crianças porque 
elas eram o modelo de todo aquele que quisesse aceitar a sua mensagem 
de salvação. 
Esta maneira realmente inovadora de se relacionar com as crianças 
abriu as portas para o reconhecimento da sua dignidade pessoal e, 
portanto, dos seus direitos. 
Na Idade Média, o nascimento era olhado com algum desprendimento 
social, dada a incerteza da sobrevivência de cada bebé, nos primeiros 
tempos de vida. De facto, até muito recentemente, eram elevadíssimas as 
taxas de mortalidade infantil. 
Ainda hoje, apesar de se reconhecerem direitos às crianças, nem 
todas os vêem respeitados. Muitas crianças sofrem a indiferença ou até a 
violência dos adultos. 
EMRC - AMOSTRA
35 
unidade 1 
Balada da Neve 
Batem leve, levemente, 
Como quem chama por mim… 
Será chuva? Será gente? 
Gente não é certamente 
E a chuva não bate assim… 
É talvez a ventania; 
Mas há pouco, há poucochinho, 
Nem uma agulha bulia 
Na quieta melancolia 
Dos pinheiros do caminho… 
Quem bate assim levemente, 
Com tão estranha leveza 
Que mal se ouve, mal se sente? 
Não é chuva, nem é gente, 
Nem é vento, com certeza. 
Fui ver. A neve caía 
Do azul cinzento do céu, 
Branca e leve, branca e fria… 
— Há quanto tempo a não via! 
E que saudades, Deus meu! 
Olho-a através da vidraça. 
Pôs tudo da cor do linho. 
Passa gente e, quando passa, 
Os passos imprime e traça 
Na brancura do caminho… 
Fico olhando esses sinais 
Da pobre gente que avança 
E noto, por entre os mais, 
Os traços miniaturais 
Duns pezitos de criança… 
E descalcinhos, doridos… 
A neve deixa inda vê-los, 
Primeiro bem definidos, 
— Depois em sulcos compridos, 
Porque não podia erguê-los!… 
Que quem já é pecador 
Sofra tormentos, enfim! 
Mas as crianças, Senhor, 
Porque lhes dais tanta dor?!… 
Porque padecem assim?!… 
E uma infinita tristeza, 
Uma funda turbação 
Entra em mim, fica em mim presa. 
Cai neve na natureza… 
— E cai no meu coração. 
Augusto Gil. Luar de Janeiro 
EMRC - AMOSTRA
36 
unidade 1 
Garantir direitos às Crianças 
Dada a vulnerabilidade das crianças e o facto de tantas sofrerem 
atentados contra a sua dignidade, a sociedade foi desenvolvendo 
mecanismos — legais e outros — para a sua protecção e para o 
cumprimento efectivo dos seus direitos. 
Com este fim, a ONU criou, em 11 de Dezembro de 1946, um organismo 
dedicado exclusivamente a atender as necessidades básicas das crianças 
no mundo e garantir o seu pleno desenvolvimento — a UNICEF. 
A UNICEF — United Nations International Children’s Emergency 
Fund — dedica-se à defesa e salvaguarda dos direitos das crianças em 
todo o mundo. O seu lema é “Para todas as crianças saúde, educação, 
igualdade e protecção”. 
EMRC - AMOSTRA 
Como indicado na 
Declaração dos Direitos 
da Criança, a criança, 
por motivo de falta de 
maturidade física e 
intelectual, tem necessidade 
de protecção e cuidados 
especiais, nomeadamente de 
protecção jurídica adequada, 
tanto antes como depois do 
nascimento. 
Preâmbulo da Convenção 
sobre os Direitos da Criança. 
Jogos de Crianças, Pieter Bruegel the Elder
37 
unidade 1 
Mas não bastava ter um organismo que se dedicasse às crianças, era 
preciso que todos os Estados e todas as pessoas do mundo soubessem quais 
são efectivamente os direitos das crianças. Por isso, a ONU promulgou, 
por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 20 de 
Novembro de 1989. 
Este documento procura clarificar quais são os direitos fundamentais 
das crianças e obriga os Estados que o adoptam a garantir a sua 
aplicação. 
Quase todos os países do mundo aceitaram esta Convenção, que 
assenta em quatro grandes pilares. 
1.º: A não discriminação que determina que todas as crianças dos mundo e em 
qualquer momento têm o direito de desenvolver todo o seu potencial. 
2.º: O interesse superior da criança deve ser prioritário em todas as acções e 
decisões que envolvam a própria criança. 
3.º: A sobrevivência e desenvolvimento que sublinha a importância vital da garantia 
de acesso a serviços básicos e à igualdade de oportunidades para que as 
crianças possam desenvolver-se plenamente. 
4.º: A opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida 
em conta em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos. 
Adaptado de UNICEF. A Convenção sobre os Direitos da Criança. 
Datas importantes para a defesa dos direitos da criança: 
• 1924: Declaração de Genebra sobre os direitos da criança (Sociedade das 
Nações). 
• 1946: Fundação da UNICEF (ONU). 
• 1848: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU). 
• 1959: Declaração dos Direitos da Criança (ONU). 
• 1976: A ONU proclama o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança. 
• 1989: Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU). Portugal ratificou esta 
convenção em 21 de Setembro de 1990. 
Para saberes mais 
EMRC - AMOSTRA
38 
unidade 1 
Os seus 54 artigos podem ser divididos em quatro subcategorias de 
direitos: direito à sobrevivência (ex.: cuidados médicos adequados); 
direito ao desenvolvimento (ex.: educação); direitos à protecção (ex.: 
protecção de formas de exploração e trabalho infantil); direito de 
participação (ex.: participação da criança na sociedade e expressão das 
suas opiniões). 
Atentados aos direitos da Criança 
Infelizmente, há ainda muito por fazer para que todas as crianças 
vejam respeitados os seus direitos. Os atentados aos direitos das crianças 
assumem as mais variadas formas. O abandono é uma delas. 
O seu abandono, sob a forma de venda, já acontecia na antiga Babilónia 
(século XVIII-XVII a.C.), como o atesta o Código de Hamurabi. 
Na Idade Moderna, a criança indesejada e rejeitada era deixada na 
Roda. Seguidamente, lavrava-se um registo individual em que constavam 
normalmente a data, hora e local do enjeite, a idade aparente, o relato do 
vestuário, a cópia na íntegra dos bilhetes que, por vezes, acompanhavam 
o exposto, a referência ao baptismo (se foi administrado por alguém antes 
do abandono) e o nome, já indicado ou escolhido no momento. Mais 
EMRC - AMOSTRA 
117.º: 
Se alguém tem uma dívida 
e, para a pagar, vende a 
mulher, o filho e a filha, estes 
deverão trabalhar três anos 
na casa do comprador ou do 
senhor; no quarto ano este 
deverá libertá-los.
39 
unidade 1 
tarde, acrescentava-se a ama a que o enjeitado fora entregue, apontando 
o respectivo nome, estado civil, nome do cônjuge e residência. Em caso 
de óbito, mencionava-se igualmente a data no mesmo registo. 
O enjeitamento acontecia sobretudo à noite, depois do pôr-do-sol, 
aumentando progressivamente até à uma hora da manhã, porque 
a noite encobria o segredo. Raramente se abandonavam crianças que 
já se exprimissem correctamente, uma vez que poderiam denunciar os 
familiares que as haviam desamparado. 
EMRC - AMOSTRA
40 
unidade 1 
Para saberes mais 
D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, foi uma das fundadoras do primeiro hospital 
para recolher crianças no reino de Portugal, com o nome de Ecclesiae Innocentum 
Hospitalis Puerorum (Hospital das Crianças Inocentes da Igreja), situado no Bairro 
da Mouraria, em Lisboa, nas imediações da capela da Senhora da Saúde. 
Apesar de, actualmente, existir legislação que protege as crianças, 
Notícia do Semanário “SOL” em 28 de Outubro de 2008 EMRC - AMOSTRA 
existem locais no mundo onde elas continuam a não ser respeitadas e 
a ser exploradas das mais diferentes formas. Tal ocorre quer nos países 
desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento. 
A muitas crianças é negado o acesso aos cuidados básicos de saúde 
e higiene, apesar de haver tratamento adequado para algumas das 
doenças de que padecem. Por vezes, não existe solidariedade dos países 
economicamente mais poderosos em relação a outros países onde há 
carência de medicamentos. 
Nunca existiu tão elevada produção de alimentos, no entanto 
continuam a morrer de fome milhares de crianças em todo o mundo, 
vítimas da escassez de alimentos ou da má nutrição. Este facto é uma 
mancha no coração da humanidade! 
A palavra progresso não 
terá qualquer sentido 
enquanto houver crianças 
infelizes. 
Albert Einstein 
Para saberes mais 
A subnutrição é uma das causas que contribui para mais de um terço dos 9,2 
milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos no mundo. Embora se 
tenham registado desde 1990 algumas melhorias relativamente à percentagem de 
crianças desta faixa etária com baixo peso, estima-se que 148 milhões de crianças 
continuem a sofrer de subnutrição nos países em desenvolvimento. Para que estas 
crianças tenham hipóteses de sobreviver, é preciso intensificar esforços a fim de 
satisfazer as necessidades nutricionais das mulheres dos bebés e das crianças. 
Nova Iorque / Genebra, 12 de Setembro de 2008 
In http://www.unicef.pt (16/02/2009) 
Mais de 600 detidos em operação contra prostituição infantil 
O FBI deteve 642 pessoas em vários estados dos EUA numa operação que resultou 
no desmantelamento de uma rede que explorava pelo menos 47 menores, obrigados 
a prostituir-se.
41 
unidade 1 
Há crianças que estão ainda sujeitas a gravíssimos abusos psicológicos 
e físicos, que passam por maus-tratos ou mesmo pela prostituição. São 
situações de sofrimento extremo às quais, na maioria dos casos, as crianças 
não têm hipótese de fugir. Os maus-tratos podem ser de vária ordem: a 
simples ausência de afecto, a violência constante através de palavras, o 
espancamento, os abusos sexuais. Algumas crianças são vendidas pela 
própria família ou por aqueles que as têm a seu cargo, normalmente para 
prostituição. Há redes de delinquência que raptam crianças para, depois, 
serem vendidas para adopção noutros países ou para prostituição. 
12 de Junho de 2008, Nova Iorque 
A UNICEF estima que existem 158 milhões de crianças menores de 15 anos que 
estão presas nas malhas do trabalho infantil em todo o mundo. A vasta maioria 
dessas crianças tem pouca ou nenhuma esperança de conseguir acesso à instrução 
que quebraria o ciclo de pobreza e analfabetismo que lhes mina o futuro. 
Mais de 100 milhões de crianças, quase 70% da população laboral infantil, trabalham 
na agricultura em áreas rurais onde o acesso à escola, a disponibilidade de professores 
preparados e o material educativo é muito limitado. Mesmo nas áreas urbanas, as 
crianças pobres e marginalizadas não podem beneficiar de um acesso mais alargado 
às instalações escolares devido ao custo, à classe social e a questões culturais. 
Contudo, dados recentes vieram trazer esperança à batalha contra o trabalho infantil. 
A Educação é a melhor arma neste combate à escala global, e o número de crianças 
fora da escola desceu de 115 milhões em 2002 para 93 milhões em 2005-2006. 
Mas com mais de 150 milhões de crianças a trabalhar em vez de aprender, os 
governos e a comunidade internacional podem fazer mais para ajudar essas 
crianças a regressarem à escola. Nomeadamente, assegurando a Educação 
gratuita para todas as crianças pelo menos até à idade mínima para trabalhar; 
proporcionar programas educativos flexíveis e com recursos adequados para 
crianças trabalhadoras e outros grupos marginalizados a fim de que as crianças 
possam aprender bem apesar de trabalharem; e proporcionar educação de 
qualidade e acções de formação que sejam amigas-das-crianças facultadas por 
professores com formação e recursos adequados. 
In http://www.unicef.pt (16/02/2009) 
Ninguém deve deixar de denunciar casos semelhantes a estes, se os 
conhecer. A criança não é propriedade das famílias ou das pessoas que as 
têm a seu cargo. Todos somos responsáveis pelo seu bem-estar e pela sua 
integração na sociedade em que vivemos, quer sejam da nossa família, 
quer não. 
EMRC - AMOSTRA
42 
unidade 1 
Garantir o direito a 
ser pessoa 
O ser humano é naturalmente aberto, acolhedor e receptivo. A sua 
dimensão espiritual, de abertura ao outro e eventualmente a Deus, faz 
com que sinta uma natural inclinação para o acolhimento do próximo. 
Este acolhimento torna-se efectivo quando a pessoa, individual ou 
colectivamente, cria condições para que todos se realizem enquanto 
pessoas. 
O direito de realização da vocação humana depende da protecção 
do direito à liberdade de consciência, à livre manifestação de opinião 
e à liberdade religiosa. Impõe-se também a aceitação das diferenças, 
nomeadamente culturais, religiosas, sociais e físicas. 
Por diferentes razões, em qualquer momento da nossa vida, podemos 
tornar-nos portadores de deficiência. 
A Constituição da República Portuguesa prevê que os cidadãos 
portadores de deficiência gozem dos mesmos direitos dos demais 
cidadãos. 
EMRC - AMOSTRA 
Para saberes mais 
Ludwig van Beethoven 
nasceu em 1770 e 
faleceu em 1827. Foi um 
dos maiores compositores 
de música clássica 
de todos os tempos e 
compôs a sua única ópera 
já parcialmente surdo.
43 
unidade 1 
Existem diversas organizações que se dedicam à promoção, integração 
e desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência. Estas organizações 
são muito importantes, permitindo a valorização, o desenvolvimento e a 
realização pessoal de todos. 
Artigo 71.º·(Cidadãos portadores de deficiência) 
1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente 
dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, 
com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se 
encontrem incapacitados. 
2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de 
tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência 
e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a 
sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a 
assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos 
direitos e deveres dos pais ou tutores. 
Constituição da República Portuguesa 
EMRC - AMOSTRA 
Para saberes mais 
A Associação Portuguesa 
de Pais e Amigos do 
Cidadão Deficiente 
Mental — APPACDM, 
congrega diferentes 
associações com esta 
missão. 
Jesus, o amigo dos pobres, dos desamparados, dos discriminados, 
orientou a sua acção para a promoção dos mais desfavorecidos, porque 
via neles a presença de Deus. Assim, vemo-lo a curar os leprosos, os 
cegos, os paralíticos e outras pessoas que, de alguma maneira, eram mais 
vulneráveis do que os outros. Para Jesus, as pessoas com deficiência e os 
doentes são amados por Deus e dignos de toda a atenção. 
Tiago, o discípulo e parente de Jesus, escreveu uma carta a todos os 
cristãos. Nela deixou claro que o amor deve ser a motivação para a acção 
dos crentes e que ter fé não significa apenas dizer que se acredita em 
Deus, mas também agir em favor dos outros. 
Procura na Biblia 
Mc 12,29-31.
44 
unidade 1 
Nas coisas necessárias, a 
unidade; nas duvidosas, a 
liberdade; e em todas, o 
amor. 
Santo Agostinho 
de Hipona 
Para saberes mais 
Santo Agostinho de 
Hipona nasceu em 354, 
em Hipona (África do 
Norte), e faleceu em 430. 
Filho de pai pagão e de 
mãe cristã, converteu-se 
ao Cristianismo, já 
em idade adulta, por 
influência de Santo 
Ambrósio, bispo de 
Milão. Teólogo e filósofo, 
escreveu várias obras, 
destacando-se A Cidade 
de Deus e Confissões. 
Texto bíblico 
A fé e as obras 
Procedem bem se cumprirem o mandamento 
Cristo curando os doentes, Laura James 
fundamental: “Amarás o teu semelhante como a 
ti mesmo.” Mas se fizerem acepção de pessoas, 
isso está mal. 
Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não 
põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem 
nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia. 
Vocês podem dizer-lhes: “Vão em paz! Hão-de encontrar com 
que se aquecer e matar a fome!” Mas se não lhes dão aquilo 
de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do 
mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta! 
Tg 2,8-9.14-17 
EMRC - AMOSTRA
45 
unidade 1 
Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior 
de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das 
organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. 
Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas 
externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa. 
Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est. 
Na fé e na esperança 
o mundo discordará, 
mas todo o interesse da 
humanidade está no amor. 
Alexandre, O Grande. 
Século IV a.C. 
Queridos avós, 
Aproveito o início de mais este ano para mandar notícias. Este vai ser, com 
certeza, o melhor ano nas nossas vidas. É a mãe quem continua a dizer isso. 
Como dizia, aliás, em relação ao ano passado. Eu estou certa, no entanto, de 
que será mesmo este o melhor. 
Sabem, hoje na estação dos comboios passei por uma rapariga, uma mulher 
jovem, que tentava a muito custo carregar um carrinho de bebé. Eu fiz o mesmo 
que fizeram todas as pessoas que corriam para cá e para lá e passei simplesmente 
ao lado. Reparei que algumas tinham a ousadia de olhar pelo canto do olho, 
outras nem reparavam. Todas, como eu, passavam e iam às suas vidas. 
Mas eu não era assim. Eu não era aquela rapariga que passou apenas. Por isso, 
voltei para trás e informei a mulher e o carrinho de que os ajudaria a subir as 
escadas. Impressionou-me, nos meus, às vezes cobardolas, 12 anos, a coragem 
de não ter, sequer, perguntado se precisavam de ajuda. Não, fui logo dizendo 
“Venha, eu ajudo-a!” 
A ajuda terá sido preciosa, embora atrapalhada, por causa da mala que eu 
transportava a tiracolo e dos cadernos novos que trazia nas mãos, o que tornou 
a viagem pelas escadas acima até um pouco mais divertida. 
No final da viagem, encontrámos um outro senhor, esse já mesmo idoso. Pelo 
menos, na dificuldade que aparentava ter em deslocar-se e pelas duas bengalas 
com que se fazia acompanhar. 
Senti-me confusa, porque não me dava mesmo jeito nenhum passar esse dia a 
ajudar pessoas a subir e a descer escadas. Isso foi, no entanto, desnecessário, 
porque, quando eu me baixei para apanhar o caderno de Inglês que tinha caído 
no chão, ouvi uma voz que dizia “Venha, eu ajudo-o!”. 
Aquela, sim, era eu. E nem me importei muito por não ter entregado o trabalho de 
férias de Inglês, que, entretanto, insistiu em ter fugido pelas escadas abaixo. 
Esta sou eu, aqui. E senti-me tão cheia de felicidade por ter sido eu nas escadas, 
que tive esta vontade de partilhar convosco que este ano, tenho a certeza, será 
o melhor da minha vida. Que, acima de tudo, as escadas dos meus dias me 
ajudem na descoberta de mim própria. 
Os maiores beijinhos de saudades, queridos avós; adorei as férias aí na terra. 
Ana Catarina 
P. S.: Beijinhos também no focinho do Lucas. 
Texto original de c 
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  • 1. Unidade Lectiva 1 EMRC - AMOSTRA
  • 2. A Pessoa Humana EMRC - AMOSTRA
  • 3. 4 unidade 1 De regresso à Escola… AMOSTRA - Estamos de regresso à escola. Como passaram rapidamente as férias! Pensamos nas experiências e vivências que estes meses nos EMRC proporcionaram, algumas das quais lembraremos ao longo das nossas vidas. Estamos cheios de curiosidade e queremos saber o que os nossos colegas têm para nos contar sobre os dias em que não estivemos juntos. Durante estes meses, conhecemos coisas novas e talvez tenhamos mais antes de decidirmos. Esta capacidade de questionar e pensar sobre as coisas que nos rodeiam parece aperfeiçoar-se. Somos cada vez mais curiosos e este espírito leva-nos a novas descobertas. Subitamente, a vida já não parece tão simples. Começamos a tomar cada vez mais feito novos amigos; é por isso que temos muitas novidades para partilhar. Alguns falam sobre as pessoas e os sítios novos que conheceram, outros contam como aprenderam coisas diferentes nos livros que leram, nos programas de televisão que viram… em todas as experiências por que passaram. Cada vez mais, os nossos amigos parecem ocupar um lugar especial na nossa vida. Crescemos! Pensamos de forma diferente sobre a realidade e reflectimos
  • 4. 5 unidade 1 consciência da influência que os nossos comportamentos têm sobre os outros e da maneira como nos afectam a nós. Sentimo-nos cada vez mais responsáveis e disponíveis para aprender novas coisas. Esta abertura, esta capacidade para aprender com todas as experiências que vivemos torna-nos intervenientes na construção da sociedade em que estamos inseridos. Ser seja ruído seja beijo seja voo seja andorinha seja lago seja pacatez da árvore seja aterragem de borboleta seja mármore de elefante seja alma de gaivota seja luz num olhar seja um cardume de tardes e grite: JÁ SOU. Ondjaki. 101 poetas: Iniciação à poesia em língua portuguesa. EMRC - AMOSTRA
  • 5. 6 unidade 1 Sou Pessoa Cada ser humano nasce inserido numa determinada comunidade. Desenvolve-se na família, no grupo de amigos, na escola e nos vários contextos com os quais contacta. Da comunidade recebemos saberes e valores, através das experiências que fazemos e da abertura à realidade que nos rodeia. Temos consciência da nossa existência, das nossas experiências e aprendemos com elas. Afirmamo-nos através dos nossos pensamentos, sentimentos e afectos, os quais comunicamos aos outros através da linguagem, verbal ou corporal. Com a linguagem, conseguimos partilhar as nossas experiências, manifestando aos outros o que somos e aquilo em que acreditamos. De igual modo, revelamos a nossa intimidade, os nossos pensamentos e afectos através de palavras e comportamentos. Desenvolvemos a nossa experiência espiritual, exteriorizamos os sentimentos e manifestamos a nossa inteligência, abrindo-nos aos outros e a Deus. EMRC - AMOSTRA
  • 6. 7 unidade 1 Santo e Senha Deixem passar quem vai na sua estrada. Deixem passar Quem vai cheio de noite e de luar. Deixem passar e não lhe digam nada. Deixem, que vai apenas Beber água de Sonho a qualquer fonte; Ou colher açucenas A um jardim que ele lá sabe, ali defronte. Vem da terra de todos, onde mora E onde volta depois de amanhecer. Deixem-no pois passar, agora Que vai cheio de noite e solidão. Que vai ser Uma estrela no chão Miguel Torga. Diário I (Coimbra, 3 de Janeiro de 1932) EXEMPLO Toda a tarde a pensar no meu destino, E o rio, com mais água ou menos água, Sossegado a correr Num areal que o nega! Que lhe importa que o chão do seu caminho Seja seco e maninho, Se ele é uma eterna fonte que se entrega?! Miguel Torga. Diário VI (Coimbra, 21 de Março de 1953) Vocabulário Açucena: Planta bolbosa da família das Liliáceas, de flores brancas e perfumadas, também conhecida por lírio branco; a flor desta planta. EMRC - AMOSTRA Maninho: Estéril, não cultivado. Para saberes mais Miguel Torga, escritor português, nascido em S. Martinho de Anta (Trás-os- Montes), a 12 de Agosto de 1907, exerceu medicina em Coimbra, onde veio a falecer a 17 de Janeiro de 1995.
  • 7. 8 unidade 1 Acreditava-se, desde a Grécia antiga, que o ser humano era composto por duas dimensões: o corpo e a alma ou o espírito. Este pensamento integrou a filosofia de várias culturas, tendo chegado ao cristianismo. Para o pensamento cristão actual, estas duas realidades — a corporal e a espiritual — são inseparáveis. O ser humano é compreendido como uma unidade corpo-espírito. Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza. Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est. Deste modo, nem o espírito nem o corpo, isoladamente, dão conta daquilo que é o ser humano. Nenhum de nós é simplesmente corpo, nem simplesmente espírito. Quando amamos, pensamos ou tomamos decisões fazemo-lo simultaneamente de forma espiritual e física. EMRC - AMOSTRA Para saberes mais As encíclicas são cartas pastorais enviadas pelo bispo de Roma, o papa, à Igreja. O nome das encíclicas corresponde às primeiras palavras do texto, redigido em latim.
  • 8. 9 unidade 1 Para saberes mais A palavra ‘pessoa’, de origem latina, deriva de persona, “máscara de teatro”; por extensão, significa o papel atribuído a essa máscara, a ‘personagem’. Relacionado com o ser humano, o pensamento cristão e, sobretudo, Santo Agostinho, usou a palavra para se referir às três pessoas (divinas) da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A palavra ‘pessoa’ designava a capacidade de estabelecer relação com os outros. Se não fôssemos corpo, não seríamos capazes de nos revelarmos aos outros, de com eles comunicarmos e, em geral, de estabelecermos relações de comunhão. É através do corpo que nós exprimimos o que pensamos, o que sentimos ou as nossas decisões. Sem corpo seríamos seres virados para dentro de nós, como conchas fechadas que não comunicam com o exterior.O nosso corpo exprime as mensagens do nosso espírito. Observa, as imagens que se seguem e procura captar, através das expressões corporais ou da maneira de se vestirem e arranjarem, os sentimentos, as emoções, os pensamentos ou a vontade que as personagens transmitem. EMRC - AMOSTRA Azulejos representando Crianças a Brincar na Rua, Francisque Poulbot Homem e mulher Masai, Tanzânia Mulher com filho morto, Kathe Schmidt O Mártir, Auguste Rodin Rua de Paris, Andre Fougeron Mãe e criança em Holland Park, Dora Holzhamdler A mulher grávida, Pablo Picasso Mikado, Anónimo
  • 9. 10 unidade 1 Auto-retrato com chapéu de palha, Vincent van Gogh Através dos meios de comunicação social, chega até nós um forte apelo ao consumo de determinados produtos e marcas, cujo valor está baseado no poder das imagens. Associada ao consumismo está uma determinada imagem aparente de nós mesmos que procuramos transmitir aos outros, a qual se constrói a partir de modelos que a sociedade cria, de que é exemplo a moda. Por vezes, procuramos mostrar aos outros que somos aquilo que de facto não somos, vivendo uma vida de aparência, ou seja, uma vida não autêntica. Ser genuíno e autêntico, relacionando-nos com os outros a partir do que somos, daquilo em que acreditamos, nem sempre é fácil. Mas a verdadeira riqueza pessoal não se encontra nos bens que cada um possui, mas nos valores em que se acredita. Cada pessoa vale pelo que é e não pelo que tem. É importante estabelecer o equilíbrio entre o nosso interior (o nosso mundo espiritual) e o aspecto exterior (o nosso mundo corporal). Por isso, zelamos pela saúde do nosso corpo, mantendo cuidados de higiene diários, bem como uma dieta alimentar equilibrada. O cuidado que temos com a forma como aparecemos perante os outros não significa falta de autenticidade. Desde que corresponda à beleza interior (sentimentos positivos em relação aos outros), o facto de nos arranjarmos exteriormente faz com que nos sintamos bem connosco próprios e faz “Conhece-te a ti mesmo.” Sócrates, filósofo grego (séc. V) A Autenticidade EMRC - AMOSTRA
  • 10. 11 unidade 1 com que os outros tenham uma ideia mais agradável a nosso respeito. Isto não pode ser confundido com vaidade, porque ser vaidoso é ser fútil, superficial e viver quase exclusivamente para a sua imagem exterior, sem atender aos aspectos mais importantes. Num mundo que vive para o culto da aparência, onde a mentira é um meio para se passar uma imagem de si que não corresponde à realidade, é cada vez mais premente que cada ser humano seja autêntico, seja ele mesmo, sem procurar enganar os outros. A maior riqueza encontra-se na solidariedade e na entrega às outras pessoas, de forma desinteressada. Madre Teresa de Caucutá, (1910- 1997) O espaço que nos rodeia influencia a maneira como nos sentimos. Raoul Follereau, (1903 - 1977) Por isso, procuramos harmonizar aquilo que somos com o espaço onde habitamos ou trabalhamos. Uma das mais antigas artes que o ser humano desenvolveu para construir espaços onde se sinta bem foi a arquitectura. Utilizada desde a pré-história, as suas primeiras funções foram a protecção e a habitação. Actualmente, a arquitectura preocupa-se também com o conforto, a estética e a eficiência energética. Seria bom que nos identificássemos com os locais que frequentamos e com a casa onde vivemos, dado serem relevantes para o nosso equilíbrio. Infelizmente, isso nem sempre é possível, uma vez que muitas pessoas não têm possibilidade financeira para escolherem o sítio onde gostariam de trabalhar ou onde gostariam de viver. Acabam por se ter de contentar com as condições possíveis! Para saberes mais Existem investigações sobre os ambientes e os locais onde habitamos. Uma delas é chamada Feng Shui. É uma ancestral técnica oriental que permite compreender a influência das cores, materiais, formas e elementos naturais à nossa volta — tanto em casa como no trabalho. O quarto de Van Gogh, Vincent van Gogh EMRC - AMOSTRA
  • 11. 12 unidade 1 As dimensões da pessoa A pessoa caracteriza-se por três dimensões fundamentais, a biológica, a social e a espiritual. A dimensão biológica caracteriza todos os seres vivos, tornando-os, neste aspecto, semelhantes. A dimensão social encontra-se associada às espécies animais, à sua capacidade de comunicação, de organização em grupo; no entanto, no ser humano, esta dimensão é muito mais complexa, como podemos verificar pela organização das sociedades humanas. A dimensão espiritual é a vida interior do ser humano: a sua capacidade racional (o pensamento), a vontade e a consciência moral, a afectividade (sentimentos, emoções) e a relação com o transcendente. Todas estas capacidades espirituais estão na base da comunicação com os outros, que acontece a um nível muito superior ao dos animais, especialmente através da complexa linguagem verbal. Um dos aspectos que distingue o ser humano de todas as outras espécies é a sua capacidade de distinguir entre o bem e o mal, de tomar decisões livres e responsáveis, agindo assim sobre a realidade que o rodeia, orientado por valores éticos e pela capacidade de análise da realidade. Somos, portanto, livres e capazes de tomar opções individuais. Mas as pessoas, embora partilhem muitos aspectos em comum, não são iguais. Cada pessoa tem as suas particularidades e é naturalmente irrepetível. EMRC - AMOSTRA Vocabulário Transcendente: Deus; o sagrado.
  • 12. 13 unidade 1 Dimensão Biológica Cada ser humano apresenta características biológicas únicas. Dos nossos pais recebemos a herança genética através da qual partilhamos traços fisionómicos com a nossa linhagem materna e paterna. Contudo, as nossas características físicas não são apenas o somatório da herança das características da mãe e do pai, apresentamos traços distintos que fazem de cada pessoa um ser único. A identidade sexual é um aspecto importante da dimensão biológica da pessoa. Do pai recebemos a informação genética, que define a nossa identidade sexual. Esta caracteriza-se pela diferenciação dos órgãos genitais masculino e feminino, e, portanto, pela diferenciação do homem e da mulher. Os homens e as mulheres não têm apenas diferenças do ponto de vista biológico, também se diferenciam nas suas características psicológicas e comportamentais. EMRC - AMOSTRA
  • 13. 14 unidade 1 AMOSTRA Para saberes mais Vocabulário - EMRC Para saberes mais A identidade sexual do bebé é definida pelos cromossomas da célula sexual masculina, o espermatozóide. Estes cromossomas apresentam a denominação científica de cromossomas X e Y. É o cromossoma Y que define o sexo masculino do bebé. Os cromossomas sexuais dos óvulos são sempre X. Se, no momento da fecundação, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais X, o bebé fica com um par de cromossomas XX (do pai e da mãe) e é uma menina. Se, pelo contrário, o espermatozóide tiver cromossomas sexuais Y, o bebé fica com um par de cromossomas XY (da mãe e do pai) e é um menino. espécies animais. Este desenvolvimento faz com que os seres humanos sejam dotados de inteligência superior, que se manifesta na capacidade de resolver problemas complexos e elaborar raciocínios profundos. Esta inteligência permite-lhes ao ser humano pensar e agir sobre o mundo que os rodeia e confere-lhes grande autonomia, liberdade e capacidade de decisão pessoal. Informação genética: Conjunto de informação, presente na cadeia de ADN (ácido desoxirribonucleico), transmitida de pais para filhos através das células sexuais. Fisiológica: Que diz respeito às funções dos diferentes órgãos dos seres vivos. Fisionómica: Que diz respeito aos traços do rosto, às feições. As células dos seres humanos contêm, cada uma, dois pares de 23 cromossomas, num total de 46 cromossomas. Cada cromossoma contém uma cadeia, em forma de hélice, de ADN com toda a informação genética. Mas as células sexuais (o espermatozóide e o óvulo), ao contrário das outras células, só têm 23 cromossomas. No momento da fecundação, o óvulo e o espermatozóide unem-se e juntam, em pares, os 23 cromossomas provenientes da mãe e os 23 cromossomas provenientes do pai, dando origem a um ser geneticamente diferente. Todavia, a diferença do novo ser em relação aos pais não se fica por aqui, uma vez que os cromossomas provenientes da mãe e do pai trocam pequenos fragmentos de informação genética (ADN). As diferentes combinações possíveis de cromossomas e ADN são tantas que cada ser humano é uma espécie de “milagre”: um ser único e irrepetível. O cérebro humano é muito mais desenvolvido do que o das restantes
  • 14. 15 unidade 1 Dimensão Social O ser humano afirma-se em sociedade, através da família e dos diversos grupos sociais e culturais aos quais pertence. Nela, cada ser humano estrutura os seus conhecimentos e valores que influenciam atitudes e comportamentos, bem como as suas decisões. A família tem uma importância fundamental no desenvolvimento da pessoa, nela fazemos a primeira experiência de sermos únicos. De igual modo, tomamos consciência de que cada uma das pessoas com que nos relacionamos é única. Quando os pais dão o nome a um filho, estão, simbolicamente, a atribuir-lhe uma identidade própria que o distingue como pessoa e o diferencia dos outros. Por isso, o profeta Isaías refere que Deus chama cada um pelo seu nome, pois o nome (a identidade) de cada pessoa é sagrado. Assim se entende a origem cristã do direito ao bom nome que cada pessoa tem, ou seja a ser respeitado na dignidade e na sua identidade. Artigo 26º (Outros direitos pessoais) 1. A todos são reconhecidos os direitos à identidade pessoal, à capacidade civil, à cidadania, ao bom nome e reputação, à imagem, à palavra e à reserva da intimidade da vida privada e familiar. Constituição da República Portuguesa EMRC - AMOSTRA
  • 15. 16 unidade 1 As associações culturais e recreativas, os clubes desportivos, assim como outras instituições favorecem a participação das pessoas na vida social. São formas de socialização que manifestam a tendência natural das pessoas para cooperarem, procurando atingir objectivos que vão muito para além das suas capacidades individuais. As associações estimulam as aptidões de cada pessoa, o seu espírito de iniciativa e de responsabilidade, contribuindo para o exercício da cidadania. A vivência em sociedade permite a realização da vocação humana, uma Marie Curie no seu laboratório, Escola Inglesa (séc. XX) EMRC - AMOSTRA vez que, em princípio, as sociedades estão orientadas para a realização de cada indivíduo e para o cumprimento do bem comum. Através delas, cada pessoa é herdeira de um passado e a ele devedora. Dessa herança, cada um recebe tradições, crenças, formas de vida, leis, regulamentos, etc. Estes últimos enquadram os direitos e os deveres das pessoas. Assim, cada membro da sociedade sabe quais são os direitos que pode reivindicar e os deveres que deve respeitar. A curiosidade natural e a procura de respostas para problemas levam o ser humano, individual e colectivamente, a progredir através de novas aprendizagens e descobertas, por forma a encontrar soluções inovadoras. Alguns dos resultados concretizam-se no chamado avanço tecnológico, na inovação científica e no desenvolvimento material das sociedades. Tudo isto resulta da acção do ser humano, enquanto sujeito influente e corresponsável pelas transformações que ocorrem à sua volta. Contudo, verificamos que, muitas vezes, as mudanças não respondem aos verdadeiros interesses da pessoa. Por exemplo, algumas aplicações tecnológicas, sendo aparentemente boas, podem revelar-se prejudiciais para o ser humano. De facto, podemos usar a nossa inteligência e liberdade tanto para o bem como para o mal. Associação de Solidariedade Social. A pessoa humana é, e deve ser, o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais. Gaudium et Spes 25,1 Nave espacial Soyuz a descolar Explosão Núclear sobre Bikini Atoll Rússia
  • 16. 17 unidade 1 A Comunicação O ser humano tem a capacidade extraordinária de comunicar as suas experiências individuais aos outros, através da linguagem. Na comunicação, utilizamos a linguagem verbal — recorrendo a palavras e sons — e a não verbal — gestos, posturas do corpo. A linguagem não verbal pode reforçar ou prejudicar a mensagem que pretendemos transmitir. Para saberes mais Árvore genealógica de algumas línguas Indo-Europeias Italiano Indo-Europeu Grego Germânico Céltico Itálico Balto-eslávico Indo-Irânico Persa Sânscrito Ucraniano Russo Polaco Checo Servo-croata Romeno Castelhano Francês Português Sueco Norueguês Dinamarquês Inglês Holandês Alemão Irlandês Latim EMRC - AMOSTRA
  • 17. 18 unidade 1 Kanimanbo Calunga! Certo dia, ouvi contar, em língua ronga, uma história, junto às águas do grande mar Índico, e de imediato percebi que era desconhecida de todos os que a escutavam. Um velho e respeitado sábio contava que há muito, muito tempo, antes da chegada do mulungo, o Criador, viajando numa nuvem, lançou as sementes das línguas que haveriam de crescer com a humanidade. O Pai proferia a palavra, pronunciava o nome e a língua surgia. Recordo ainda as suas palavras finais: «E Ele disse: “Faça-se a língua swahili”. E fez-se a swahili. E depois Ele disse: “Faça-se a língua maconde”. E fez-se a maconde. E depois Ele disse: “Faça-se a língua macua”. E fez-se a macua. E por último Ele disse: “Faça-se a língua ronga”. E fez-se a ronga.» Depois de percorrer o mundo e terminada a distribuição das línguas, dizem que se retirou algures para os lados do Alto Molócue e por lá se deixou ficar, de onde observa a Criação. Outros, porém, afirmam que descansa, mais a Norte, na região de Niassa. Não houve uma só semente que não tivesse germinado, o que parecia ser maningue bom para que os povos comunicassem. Mas as pessoas deixaram de se compreender. Deixaram de escutar o que os outros diziam. A obra de Calunga não foi compreendida pelos homens. Então, os chefes das tribos reuniram-se próximo da baía das acácias, para tentar resolver o problema. Todos reconheciam o problema, mas parecia difícil a solução. Eis que um mwalimu do norte disse ter a solução. O problema do conflito não era do céu, mas da terra! As línguas jamais desapareceriam e o problema continuaria, enquanto um só homem não reconhecesse a grandeza da Criação. Então, todos teriam de pronunciar «Eh Oena Calunga! kanimanbo, kanimanbo, kanimanbo!» três vezes kanimanbo. As tribos tinham-se reunido pela primeira vez e, trabalhando todos com o mesmo objectivo, atingiram o coração de Calunga. Dizia o sábio madala que cada um tinha alcançado não o coração de Calunga, mas o seu próprio coração. Desde então, os povos não deixaram de comunicar, mesmo sem uma língua comum, mas unidos pelo coração. Como forma de agradecimento, todos os anos, no mesmo dia, as tribos juntam-se e partem em peregrinação, em direcção ao Norte. Há quem procure todo o ano o lugar onde Calunga descansa, lugar onde, dizem, a luz brilha com mais intensidade. O velho madala, porém, recusa-se a fazer a peregrinação. Diz ter encontrado o Criador em casa, no seu próprio coração. Era a primeira vez que o madala contava a história, tal como já a ouvira contar, uma só vez, ainda em criança. Certo é que, ainda hoje, as pessoas agradecem do coração, em ronga, pronunciando a palavra mágica kanimanbo. Texto inédito de Carlos Guardado da Silva Vocabulário Vocabulário Ronga: Calunga: Deus Eh oena: Oh tu! Kanimanbo: Obrigado Madala: Pessoa idosa e respeitada Maningue: Muito Mwalimu: Sacerdote, professor (língua maconde) Mulungo: Homem branco Niassa: Província moçambicana Ronga: Dialecto mais meridional do grupo linguístico banto tsonga. EMRC - AMOSTRA
  • 18. 19 unidade 1 A comunicação entre os seres humanos não se faz apenas através da linguagem verbal e corporal. Faz-se também através das produções artísticas, fruto da criatividade humana e da capacidade de o ser humano construir mundos que não existem. As artes são múltiplas: a música, a dança, a pintura, a escultura, a literatura, o teatro, o cinema… Aprender a captar as mensagens transmitidas pelas obras de arte faz parte do enriquecimento cultural de todas as pessoas. EMRC - AMOSTRA
  • 19. 20 unidade 1 Dimensão Espiritual A pessoa realiza-se nas dimensões biológica e social. Contudo, só se completa na dimensão espiritual. É esta característica que distingue o ser humano dos outros animais e consiste na capacidade de pensar, de amar, de tomar decisões livres e de agir sobre o mundo, participando na obra do Criador. Embora outras espécies animais tenham comportamentos que se aproximam dos comportamentos humanos, a maneira como o ser humano usa a sua dimensão espiritual é qualitativamente diferente da maneira como as outras espécies se comportam. A inteligência, impelida pela sabedoria, conduz a pessoa a uma permanente procura do bem, no relacionamento com os outros e consigo próprio. A consciência moral é um dos aspectos que tornam o ser humano qualitativamente diferente de todos os outros seres. A capacidade de amar, aspecto central da vida espiritual, é a marca, em cada um, da presença de Deus. Quem ama procura a verdade e o bem, em cada situação da vida quotidiana. Está, assim, aberto aos outros, seus irmãos, e eventualmente a Deus. A dimensão espiritual é também a capacidade de cada indivíduo se relacionar com Deus, aspecto que só ocorre entre os humanos. São manifestações da vida espiritual do ser humano, para além das que já se apontaram, as descobertas científicas, as realizações tecnológicas, Rm 13, 8 EMRC - AMOSTRA Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim. Gl 2,20 Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns para com os outros. Quem ama o próximo cumpre a Lei.
  • 20. 21 unidade 1 as produções artísticas… Enquanto imagem e semelhança de Deus, cada pessoa é capaz de contribuir para a construção de um mundo mais rico, onde a beleza, a verdade, a justiça e o amor possam orientar o comportamento humano e a vida das sociedades. A natureza espiritual da pessoa humana encontra a sua perfeição na sabedoria, que suavemente atrai o espírito do homem à busca do amor da verdade e do bem. Mais do que nos séculos passados, o nosso tempo precisa de uma tal sabedoria, para que se humanizem as novas descobertas dos homens. Está ameaçado, com efeito, o destino do mundo, se não surgirem homens cheios de sabedoria. E é de notar que muitas nações, pobres em bens económicos, mas ricas em sabedoria, podem trazer às outras incalculáveis benefícios. Gaudium et Spes 15 Oração em Taizé Procura AMOSTRA na Biblia Ef 4,16 - EMRC
  • 21. 22 unidade 1 Sexualidade Humana A sexualidade afecta todos os aspectos da pessoa, tanto ao nível da dimensão física, como da dimensão social e espiritual. Traduz-se na afectividade, que consiste na capacidade para amar e criar laços de comunhão com o outro. A realização plena da sexualidade humana concretiza-se na vocação da pessoa para amar o próximo. Esta vocação pode realizar-se em qualquer circunstância da vida pessoal, quer a pessoa tenha optado por partilhar a sua vida com alguém, quer tenha optado por permanecer celibatária, dedicando-se, por exemplo, a uma profissão ou a uma actividade que interpreta como um serviço ao próximo. As três árvores Um dia, numa bela manhã de sol, um sábio foi procurado pelo seu aprendiz, que lhe perguntou: — Mestre, que significado tem a amizade? O mestre apontou para três árvores e respondeu: — Repara nestas três árvores. São diferentes: numa há flores bonitas e perfumadas; noutra, notamos frutos que chegam a dobrar os seus galhos; e, na última, há somente folhas de muitas cores misturadas. Subiram então a um penhasco de onde podiam ter uma visão panorâmica e o mestre perguntou ao seu aprendiz: — O que vês aqui de cima? — Vejo apenas que essas árvores cresceram próximas e independentes; porém, as suas copas fundem-se, produzindo uma única sombra — respondeu o aprendiz. O mestre concluiu, então: — Esse é o verdadeiro significado da amizade: diferenças que crescem juntas, mas que, quanto maiores, mais próximas ficam, produzindo na força da união uma única sombra, um único abrigo, onde é possível recuperar forças, e um conforto para os olhos, para a alma e para o coração. Os amigos são como árvores diferentes que crescem próximas; quanto mais crescem, mais se unem, formando uma única força e descobrindo coisas novas em cada encontro. Adaptado de http://tiojuliao.diabetes.org.br/Divino/Mensagem/msg04.php (12/02/2009) EMRC - AMOSTRA Vocabulário Vocação: A palavra ‘vocação’ deriva do verbo latino ‘uocare’ que significa chamar. Assim, a vocação consiste no facto de alguém se sentir chamado a abraçar um certo estilo de vida ou a dedicar-se a uma tarefa específica. Celibatário: que não contraiu matrimónio; que vive solteiro.
  • 22. 23 unidade 1 Conto do Amor Certa vez, um homem, cansado de ver tanta maldade na região onde vivia, decidiu fazer uma peregrinação ao santuário de Deus, para lhe pedir que mudasse aquela situação. Ao entardecer, já cansado de tanto caminhar, parou debaixo de uma árvore e ali preparou o local para passar a noite. Quando já estava pronto para dormir, ouviu uma voz, vinda do nada, que lhe dizia: — Homem, como te chamas? Ele, muito assustado, respondeu: — Chamo-me Amor. — De onde vens? Muito triste, Amor respondeu-lhe: — Venho de uma terra desolada, onde só existe maldade. A paz e a esperança há muito findaram. — Para onde te estás dirigindo com toda essa tristeza? — Vou para o santuário de Deus, pedir-lhe que intervenha na minha região, fazendo com que o bem volte a reinar. A voz cessou por um instante e, depois, voltou a dizer: — Não precisas de ir tão longe. Eu sou aquele que tu procuras. Mas só posso conceder-te o teu desejo se pedires com muita fé. E Amor pensou, entrou em oração e decidiu fazer o pedido: — Quero que me transformes numa pedra e me coloques na boca daquele vulcão. E Deus, confuso, disse: — Pensei que fosses pedir-me para restabelecer o bem na tua região. Por que me pedes isso? — Eu fiz como me disseste. Pedi com fé. Por isso, cumpre a sua promessa. E assim foi feito. Deus transformou-o numa pedra e colocou-o na boca do vulcão. Logo o vulcão entrou em erupção e, na primeira explosão, estilhaçou Amor em milhões de pedaços que se espalharam por toda a terra. Assim, em todos os lugares, passou a existir um pedaço de Amor e aquela terra voltou a ter esperança. Emerson Danda (adaptado de http://recantodasletras.uol.com.br/contos/35064 - 12/02/2009) EMRC - AMOSTRA
  • 23. 24 unidade 1 Na Bíblia, Deus não é uma força impessoal, uma espécie de energia que se propaga pelo universo. A mensagem bíblica afirma a convicção de que Deus é pessoa. Como já vimos, ser pessoa significa ser capaz de estabelecer relação com os outros. Nos vários relatos bíblicos, Deus manifesta-se ao ser humano, fala com ele, propõe-lhe um estilo de vida, declara que o ama e que deseja a sua felicidade. Deus é o amigo da humanidade. Indigna-se, quando o ser humano é vítima da injustiça e do ódio alheio, e reafirma a promessa da sua presença constante, no meio das adversidades. Deus é, portanto, um ser pessoal, inteligente e livre, que ama e quer estabelecer com cada ser humano uma relação especial, única. O Salmo 139 é uma confissão de fé no Deus infinito, criador, omnisciente e pessoal: um verdadeiro louvor à relação pessoal, íntima e única, entre cada crente e Deus. Trata-se de uma oração poética que foi redigida para ser cantada e acompanhada por um instrumento musical de cordas: o saltério, a cítara, a lira ou a harpa. Os Salmos são utilizados no culto religioso, tanto por judeus como por cristãos. Jesus, durante a sua vida pública, também citou vários trechos de salmos e, durante a oração nas sinagogas e no Templo de Jerusalém, cantou Salmos em louvor a Deus. Vocabulário Infinito: Que não tem princípio nem fim. Omnisciente: Que tudo sabe. Deus é pessoa EMRC - AMOSTRA
  • 24. 25 unidade 1 Tu conheces, ó Deus, a minha intimidade! 1Senhor, tu examinaste-me e conheces-me. 2Conheces todos os meus movimentos; à distância, sabes os meus pensamentos. 3Vês-me quando trabalho e quando descanso; conheces todas as minhas acções. 4Mesmo antes de eu falar, já tu sabes o que vou dizer. 5Tu estás em meu redor, por todo o lado; proteges-me com o teu poder. 6O teu conhecimento a meu respeito é muito profundo; está para além da minha compreensão. 7Onde poderia eu ir para me esconder de ti? Para onde poderia eu fugir da tua presença? 8Se subisse aos céus, lá estarias; se descesse ao mundo dos mortos, lá estarias também. 9Se eu voasse para além do oriente ou fosse habitar nos lugares mais distantes do ocidente, 10também lá a tua mão desceria sobre mim, lá estarias para me segurar! 11Se eu pedisse à escuridão para me esconder ou à luz para se transformar em noite à minha volta, 12a escuridão não me havia de esconder de ti e a noite seria para ti tão brilhante como o dia. Para ti a escuridão e a luz são a mesma coisa! 13Foste tu que moldaste todo o meu ser; formaste-me no ventre de minha mãe. 14Louvo-te, ó Altíssimo, por tão espantosas maravilhas; fico admirado com as tuas obras. Conheces intimamente o meu ser. 15Quando o meu corpo estava a ser formado, sem que ninguém o pudesse ver; quando eu me desenvolvia em segredo, nada disso te escapava. EMRC - AMOSTRA Vocabulário Examinar: Analisar; investigar; observar. Moldar: Dar forma a; formar; criar. Perscrutar: Tratar de conhecer; investigar; explorar. Sondar: Tratar de conhecer; avaliar; investigar; explorar. Vereda: Caminho estreito e de terra batida.
  • 25. 26 unidade 1 16Antes de eu estar formado, já tu me havias visto. Tudo isso estava escrito no teu livro; tinhas assinalado todos os dias da minha vida, antes de qualquer deles existir. 17Mas para mim, que profundos são os teus pensamentos, ó Deus! Que misterioso é o seu conteúdo. 23Examina-me, ó Deus, e sonda o meu coração; põe-me à prova e perscruta os meus pensamentos. 24Vê se eu sigo pelo caminho do mal e guia-me pela tua vereda, ó Deus eterno. AMOSTRA Salmo 139(138),1-17.23-24 - EMRC Neste Salmo, o autor dirige-se a Deus, interpelando-o. O crente vive na certeza de que Deus o conhece ainda melhor do que ele próprio se conhece. O autor refere-se a Deus atribuindo-lhe acções que são próprias da atitude relacional da pessoa: Deus examina, conhece, sabe, vê, está presente, protege, faz descer a mão, molda, forma, assinala, pensa, sonda, perscruta, guia. Qualquer destes verbos exprime a ideia de que Deus está de tal forma presente na vida humana que nenhuma pessoa pode alguma vez estar inteiramente sozinha.
  • 26. 27 unidade 1 A dignidade Humana Direitos e Deveres Pelo facto de se ser pessoa, todos somos portadores de direitos e de deveres. Tanto uns como outros são necessários à vida das sociedades humanas. O que seria uma comunidade em que aos membros não fossem reconhecidos direitos, nem eles assumissem deveres para com os outros? Na verdade, a defesa dos direitos individuais exige o respeito pelos direitos dos outros (deveres). As leis e os regulamentos servem para garantir esses direitos e clarificar os deveres. O estabelecimento e reconhecimento dos direitos humanos, tal como os conhecemos hoje, levou muito tempo a ser alcançado e ainda é um processo longe de estar concluído. Na verdade, os direitos humanos não são cumpridos em todo o lado. Exige-se, pois, uma cultura de cidadania, de liberdade e de respeito pela dignidade de cada pessoa, para que cada uma possa realizar-se plenamente. A história da humanidade é também uma história de libertação. Nela, o ser humano fez um longo percurso na procura da liberdade. EMRC - AMOSTRA A opressão nunca conseguiu suprimir nas pessoas o desejo de viver em liberdade. Dalai Lama
  • 27. 28 unidade 1 Libertação do povo hebreu do Egipto Século X a.c. Século X d.c. Ano 0 Século XII a.c. A democracia ateniense Século VI a.c. Jesus Cristo EMRC - AMOSTRA Moisés fechando o Mar Vermelho (Edward Gover, 1870’s (litho), Bendixen, Siegfried Detler (1786-1864)) Virgem com criança, Ìcon Ortodoxo Nesta conquista pela liberdade, a Revolução Francesa, com o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, foi um acontecimento marcante da história recente da luta pela liberdade e igualdade entre as pessoas. Os valores da liberdade, igualdade e fraternidade têm a sua raiz na cultura grega e no cristianismo. Mas foi a partir da Revolução Francesa que começaram a ganhar contornos políticos e sociais mais vastos. A mais famosa representação da liberdade encontra-se na célebre Estátua da Liberdade, em Nova Iorque: uma mulher — a liberdade — vestida com uma toga, ergue, numa mão, uma tocha de luz (símbolo do fogo eterno da liberdade), na outra segura uma placa com a data da independência dos EUA (4 de Julho de 1776, em algarismos romanos). Sob os seus pés, estão cadeias quebradas, símbolo da libertação da tirania. Na cabeça tem um diadema de sete espigões, que representam os setes oceanos (Atlântico Norte, Atlântico Sul, Pacífico Norte, Pacífico Tirania: Governo opressor e cruel; opressão; violência. Diadema: Coroa. Proclamação da Emancipação, A.A. Lamb Vocabulário
  • 28. 29 unidade 1 Século XX d.c. A magna carta Século XIII d.c. Revolução Francesa – 1848 Final da escravatura em Portugal – 1869 Libertação dos campos de concentração nazi - Junho 1945 25 Abril 1974 Libertação de Nelson Mandela – 12 Fevereiro 1990 Revolução Francesa, (Escola Inglesa, (século XX)) Rei João a assinar a Magna carta, Ilustração sem data após uma pintura de Chappel Escravatura, (McBride, Angus (1931-2007)) Criança subrevivente do Holocausto Soldados Portugueses nas ruas após o 25 de Abril Nelson Mandela a sair da prisão Sul, Árctico, Antárctico, Índico) e os sete continentes (América do Norte, América do Sul, Europa, África, Ásia, Oceânia, e Antárctica), sugerindo que a liberdade é para todos os povos da Terra. No século XIX começou a batalha para a abolição da escravatura. Ao mesmo tempo, lutava-se pela defesa do sufrágio universal, ou seja, o direito de todo o povo votar e eleger os seus representantes. Estes direitos políticos foram essenciais para a afirmação da dignidade de todas as pessoas, independentemente da sua classe social, povo, etnia, género, religião, etc. Uma cavalgada pela liberdade - Os escravos fugitivos, Eastman Johnson EMRC - AMOSTRA Para saberes mais Portugal foi o primeiro país do mundo a abolir a escravatura. Os primeiros escravos, a serem libertados em 1854, pertenciam ao Estado português.
  • 29. 30 unidade 1 A Estátua da Liberdade encontra-se na Ilha da Liberdade, em Nova Iorque, desde 28 de Outubro de 1886. Comemora o centenário da assinatura da Declaração da Independência dos Estados Unidos da América e foi oferecida pelo povo francês ao povo americano, em sinal de amizade. É um dos mais universais símbolos da liberdade política e da democracia. O seu nome oficial é Liberty Enlightening the World (‘A Liberdade Iluminando o Mundo’). Foi projectada e construída pelo escultor alsaciano Frédéric Auguste Bartholdi (1834-1904). Para a construção da estrutura metálica interna, Bartholdi contou com a assistência do engenheiro francês Gustave Eiffel. A estátua mede 46,50 metros (92,99 metros contando o pedestal). Só o nariz mede 1,37 metros. Pesa 158 toneladas repartidas pelo esqueleto de aço (127 toneladas) e pela estátua de cobre (31 toneladas). É a escultura mais pesada do mundo. No seu pedestal, há uma placa de bronze, onde está gravado o final do poema da americana Emma Lazarus, intitulado “The new Colossus”: AMOSTRA Give me your tired, your poor, Your huddled masses yearning to breathe free, The wretched refuse of your teeming shore. Send these, the homeless, tempest-tost, to me, I lift my lamp beside the golden door! Dêem-me as vossas multidões exaustas, pobres - E confusas, ansiando por respirar liberdade, EMRC Os indigentes que recusam a vossa costa abundante. Conduzam a mim os sem-abrigo, os fustigados pela tempestade, Porque, junto à porta dourada, ergo a minha tocha! Esta grandiosa obra de arte foi classificada como monumento nacional e, mais tarde, como património mundial da humanidade, pela Unesco. quer, sem atender às consequências das suas acções sobre os outros. Por este motivo, é necessário que o comportamento humano seja, em certa medida, objecto de legislação. As leis, se forem justas, limitam os actos que podem prejudicar os outros e salvaguardam o direito de intervenção na sociedade. Cumprir a lei é, em princípio, respeitar os direitos e os deveres individuais e colectivos. A vivência da nossa liberdade exige o respeito pelo bem comum. Estátua da Liberdade Para saberes mais Ser pessoa é ser livre. Mas liberdade não significa cada um fazer o que
  • 30. 31 unidade 1 Pedacinhos de Deus Se sentes dentro de ti a vontade de amar em gestos que criem fontes, a audácia de sonhar mais longínquos horizontes e o apelo a escalar cada vez mais altos montes, cada vez mais altos montes, então… Tens em ti um pedacinho de Deus, tens rumos certos no coração. Desperta o sonho: tens em ti os céus, liberta a vida da palma da mão. Faz desses rumos os caminhos teus: de B.P. recebeste esta missão. Se sentes dentro de ti sempre a sede de gritar o nome da liberdade, a coragem de falar a palavra da verdade e a servir participar na construção da cidade, na construção da cidade, então… Se sentes dentro de ti o silêncio inspirar a paz ao teu coração chamando-te a enfrentar a vida com decisão e teimas acreditar na esperança de um mundo bom, na esperança de um mundo bom, então… Música e letra: Alexandre Reis, Pe. José Nuno Intérprete: Junta Regional do Porto Álbum: Rumos EMRC - AMOSTRA
  • 31. 32 unidade 1 publicação, a 20 de Junho de 1948, da Declaração Universal dos Direitos Edifício das Nações Unidas EMRC - AMOSTRA Quando os direitos não estão garantidos... A humanidade já viveu períodos sombrios, mesmo na história recente, nos quais morreram milhões de homens, mulheres e crianças. A primeira guerra mundial (1914-1918), por exemplo, provocou milhares de mortos e, feriu de tal modo o coração das pessoas que o ódio, o medo e a desconfiança tomaram conta das relações entre alguns povos e pessoas. Quando a guerra terminou, ficaram muitas discórdias por resolver. Não demorou muito até à eclosão da segunda guerra mundial (1939-1945). Neste conflito bélico, como em todos, foi notório o desrespeito pelo ser humano, enquanto pessoa dotada de dignidade. No final da segunda guerra mundial, com o objectivo de evitar novos conflitos, algumas nações uniram-se e criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), que é ainda hoje uma organização muito prestigiada. Os seus objectivos são: promover a paz no mundo, proteger os direitos humanos; fomentar o desenvolvimento económico e social das nações; estimular a autonomia dos povos; reforçar laços entre todas as nações. Actualmente, a ONU reúne mais de 190 países. Um dos marcos mais importantes da vida desta instituição foi a
  • 32. 33 unidade 1 Humanos (DUDH). Todos os membros têm a obrigação de respeitar e fazer respeitar os direitos que essa declaração proclama. Muitos países membros da ONU continuam a desrespeitar os preceitos inscritos nesta declaração. A muitos povos, bem como a grupos específicos, ainda hoje é vedado o exercício dos seus direitos fundamentais. As crianças constituem, indiscutivelmente, um dos grupos mais vulnerável. Direitos da Criança Os direitos das crianças são o resultado de uma conquista recente da história da humanidade. Outrora, não se reconheciam direitos específicos às crianças, por isso não havia qualquer legislação sobre o assunto. A criança dependia totalmente da vontade dos adultos com quem vivia. Se observarmos factos da vida privada das pessoas, ao longo dos diferentes períodos da história, podemos verificar que as crianças estavam inteiramente submetidas à deliberação dos adultos, não lhes sendo garantidos quaisquer direitos pessoais. Entretanto, a consciência dos povos foi evoluindo e hoje reconhece-se à criança direitos próprios que não dependem da vontade dos adultos. Assim, os adultos que cuidam das crianças não têm sobre elas direitos de propriedade, como se se tratasse de objectos e não de pessoas. Bem pelo contrário, estão obrigados a zelar pelo interesse das crianças, pelo seu bem-estar, pela sua felicidade, pelo seu crescimento harmonioso, bem como a ouvi-las e a permitir que tomem algumas decisões. Quando os direitos básicos delas não são respeitados pelos adultos, outras entidades podem e devem intervir para garantir a sua saúde e bem-estar. Esta evolução positiva tem a sua origem nos valores cristãos. De facto, ao observarmos a maneira como Jesus se relacionava com as crianças, verificamos que era muito diferente da maneira como era esperado que o fizesse. Alguns traziam as suas crianças até Jesus para ele as abençoar, EMRC - AMOSTRA Procura na Biblia Mt 18, 1-5
  • 33. 34 unidade 1 mas os discípulos zangavam-se com eles, provavelmente por acharem que Jesus devia dedicar-se a gente mais importante do que crianças. No entanto, Jesus ficava indignado com os discípulos (Mc 10,14) e repreendia-os, dizendo-lhes que deixassem passar as crianças porque elas eram o modelo de todo aquele que quisesse aceitar a sua mensagem de salvação. Esta maneira realmente inovadora de se relacionar com as crianças abriu as portas para o reconhecimento da sua dignidade pessoal e, portanto, dos seus direitos. Na Idade Média, o nascimento era olhado com algum desprendimento social, dada a incerteza da sobrevivência de cada bebé, nos primeiros tempos de vida. De facto, até muito recentemente, eram elevadíssimas as taxas de mortalidade infantil. Ainda hoje, apesar de se reconhecerem direitos às crianças, nem todas os vêem respeitados. Muitas crianças sofrem a indiferença ou até a violência dos adultos. EMRC - AMOSTRA
  • 34. 35 unidade 1 Balada da Neve Batem leve, levemente, Como quem chama por mim… Será chuva? Será gente? Gente não é certamente E a chuva não bate assim… É talvez a ventania; Mas há pouco, há poucochinho, Nem uma agulha bulia Na quieta melancolia Dos pinheiros do caminho… Quem bate assim levemente, Com tão estranha leveza Que mal se ouve, mal se sente? Não é chuva, nem é gente, Nem é vento, com certeza. Fui ver. A neve caía Do azul cinzento do céu, Branca e leve, branca e fria… — Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu! Olho-a através da vidraça. Pôs tudo da cor do linho. Passa gente e, quando passa, Os passos imprime e traça Na brancura do caminho… Fico olhando esses sinais Da pobre gente que avança E noto, por entre os mais, Os traços miniaturais Duns pezitos de criança… E descalcinhos, doridos… A neve deixa inda vê-los, Primeiro bem definidos, — Depois em sulcos compridos, Porque não podia erguê-los!… Que quem já é pecador Sofra tormentos, enfim! Mas as crianças, Senhor, Porque lhes dais tanta dor?!… Porque padecem assim?!… E uma infinita tristeza, Uma funda turbação Entra em mim, fica em mim presa. Cai neve na natureza… — E cai no meu coração. Augusto Gil. Luar de Janeiro EMRC - AMOSTRA
  • 35. 36 unidade 1 Garantir direitos às Crianças Dada a vulnerabilidade das crianças e o facto de tantas sofrerem atentados contra a sua dignidade, a sociedade foi desenvolvendo mecanismos — legais e outros — para a sua protecção e para o cumprimento efectivo dos seus direitos. Com este fim, a ONU criou, em 11 de Dezembro de 1946, um organismo dedicado exclusivamente a atender as necessidades básicas das crianças no mundo e garantir o seu pleno desenvolvimento — a UNICEF. A UNICEF — United Nations International Children’s Emergency Fund — dedica-se à defesa e salvaguarda dos direitos das crianças em todo o mundo. O seu lema é “Para todas as crianças saúde, educação, igualdade e protecção”. EMRC - AMOSTRA Como indicado na Declaração dos Direitos da Criança, a criança, por motivo de falta de maturidade física e intelectual, tem necessidade de protecção e cuidados especiais, nomeadamente de protecção jurídica adequada, tanto antes como depois do nascimento. Preâmbulo da Convenção sobre os Direitos da Criança. Jogos de Crianças, Pieter Bruegel the Elder
  • 36. 37 unidade 1 Mas não bastava ter um organismo que se dedicasse às crianças, era preciso que todos os Estados e todas as pessoas do mundo soubessem quais são efectivamente os direitos das crianças. Por isso, a ONU promulgou, por unanimidade, a Convenção sobre os Direitos da Criança, em 20 de Novembro de 1989. Este documento procura clarificar quais são os direitos fundamentais das crianças e obriga os Estados que o adoptam a garantir a sua aplicação. Quase todos os países do mundo aceitaram esta Convenção, que assenta em quatro grandes pilares. 1.º: A não discriminação que determina que todas as crianças dos mundo e em qualquer momento têm o direito de desenvolver todo o seu potencial. 2.º: O interesse superior da criança deve ser prioritário em todas as acções e decisões que envolvam a própria criança. 3.º: A sobrevivência e desenvolvimento que sublinha a importância vital da garantia de acesso a serviços básicos e à igualdade de oportunidades para que as crianças possam desenvolver-se plenamente. 4.º: A opinião da criança que significa que a voz das crianças deve ser ouvida e tida em conta em todos os assuntos que se relacionem com os seus direitos. Adaptado de UNICEF. A Convenção sobre os Direitos da Criança. Datas importantes para a defesa dos direitos da criança: • 1924: Declaração de Genebra sobre os direitos da criança (Sociedade das Nações). • 1946: Fundação da UNICEF (ONU). • 1848: Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU). • 1959: Declaração dos Direitos da Criança (ONU). • 1976: A ONU proclama o ano de 1979 como Ano Internacional da Criança. • 1989: Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU). Portugal ratificou esta convenção em 21 de Setembro de 1990. Para saberes mais EMRC - AMOSTRA
  • 37. 38 unidade 1 Os seus 54 artigos podem ser divididos em quatro subcategorias de direitos: direito à sobrevivência (ex.: cuidados médicos adequados); direito ao desenvolvimento (ex.: educação); direitos à protecção (ex.: protecção de formas de exploração e trabalho infantil); direito de participação (ex.: participação da criança na sociedade e expressão das suas opiniões). Atentados aos direitos da Criança Infelizmente, há ainda muito por fazer para que todas as crianças vejam respeitados os seus direitos. Os atentados aos direitos das crianças assumem as mais variadas formas. O abandono é uma delas. O seu abandono, sob a forma de venda, já acontecia na antiga Babilónia (século XVIII-XVII a.C.), como o atesta o Código de Hamurabi. Na Idade Moderna, a criança indesejada e rejeitada era deixada na Roda. Seguidamente, lavrava-se um registo individual em que constavam normalmente a data, hora e local do enjeite, a idade aparente, o relato do vestuário, a cópia na íntegra dos bilhetes que, por vezes, acompanhavam o exposto, a referência ao baptismo (se foi administrado por alguém antes do abandono) e o nome, já indicado ou escolhido no momento. Mais EMRC - AMOSTRA 117.º: Se alguém tem uma dívida e, para a pagar, vende a mulher, o filho e a filha, estes deverão trabalhar três anos na casa do comprador ou do senhor; no quarto ano este deverá libertá-los.
  • 38. 39 unidade 1 tarde, acrescentava-se a ama a que o enjeitado fora entregue, apontando o respectivo nome, estado civil, nome do cônjuge e residência. Em caso de óbito, mencionava-se igualmente a data no mesmo registo. O enjeitamento acontecia sobretudo à noite, depois do pôr-do-sol, aumentando progressivamente até à uma hora da manhã, porque a noite encobria o segredo. Raramente se abandonavam crianças que já se exprimissem correctamente, uma vez que poderiam denunciar os familiares que as haviam desamparado. EMRC - AMOSTRA
  • 39. 40 unidade 1 Para saberes mais D. Beatriz, mulher de D. Afonso III, foi uma das fundadoras do primeiro hospital para recolher crianças no reino de Portugal, com o nome de Ecclesiae Innocentum Hospitalis Puerorum (Hospital das Crianças Inocentes da Igreja), situado no Bairro da Mouraria, em Lisboa, nas imediações da capela da Senhora da Saúde. Apesar de, actualmente, existir legislação que protege as crianças, Notícia do Semanário “SOL” em 28 de Outubro de 2008 EMRC - AMOSTRA existem locais no mundo onde elas continuam a não ser respeitadas e a ser exploradas das mais diferentes formas. Tal ocorre quer nos países desenvolvidos quer nos países em desenvolvimento. A muitas crianças é negado o acesso aos cuidados básicos de saúde e higiene, apesar de haver tratamento adequado para algumas das doenças de que padecem. Por vezes, não existe solidariedade dos países economicamente mais poderosos em relação a outros países onde há carência de medicamentos. Nunca existiu tão elevada produção de alimentos, no entanto continuam a morrer de fome milhares de crianças em todo o mundo, vítimas da escassez de alimentos ou da má nutrição. Este facto é uma mancha no coração da humanidade! A palavra progresso não terá qualquer sentido enquanto houver crianças infelizes. Albert Einstein Para saberes mais A subnutrição é uma das causas que contribui para mais de um terço dos 9,2 milhões de mortes de crianças com menos de cinco anos no mundo. Embora se tenham registado desde 1990 algumas melhorias relativamente à percentagem de crianças desta faixa etária com baixo peso, estima-se que 148 milhões de crianças continuem a sofrer de subnutrição nos países em desenvolvimento. Para que estas crianças tenham hipóteses de sobreviver, é preciso intensificar esforços a fim de satisfazer as necessidades nutricionais das mulheres dos bebés e das crianças. Nova Iorque / Genebra, 12 de Setembro de 2008 In http://www.unicef.pt (16/02/2009) Mais de 600 detidos em operação contra prostituição infantil O FBI deteve 642 pessoas em vários estados dos EUA numa operação que resultou no desmantelamento de uma rede que explorava pelo menos 47 menores, obrigados a prostituir-se.
  • 40. 41 unidade 1 Há crianças que estão ainda sujeitas a gravíssimos abusos psicológicos e físicos, que passam por maus-tratos ou mesmo pela prostituição. São situações de sofrimento extremo às quais, na maioria dos casos, as crianças não têm hipótese de fugir. Os maus-tratos podem ser de vária ordem: a simples ausência de afecto, a violência constante através de palavras, o espancamento, os abusos sexuais. Algumas crianças são vendidas pela própria família ou por aqueles que as têm a seu cargo, normalmente para prostituição. Há redes de delinquência que raptam crianças para, depois, serem vendidas para adopção noutros países ou para prostituição. 12 de Junho de 2008, Nova Iorque A UNICEF estima que existem 158 milhões de crianças menores de 15 anos que estão presas nas malhas do trabalho infantil em todo o mundo. A vasta maioria dessas crianças tem pouca ou nenhuma esperança de conseguir acesso à instrução que quebraria o ciclo de pobreza e analfabetismo que lhes mina o futuro. Mais de 100 milhões de crianças, quase 70% da população laboral infantil, trabalham na agricultura em áreas rurais onde o acesso à escola, a disponibilidade de professores preparados e o material educativo é muito limitado. Mesmo nas áreas urbanas, as crianças pobres e marginalizadas não podem beneficiar de um acesso mais alargado às instalações escolares devido ao custo, à classe social e a questões culturais. Contudo, dados recentes vieram trazer esperança à batalha contra o trabalho infantil. A Educação é a melhor arma neste combate à escala global, e o número de crianças fora da escola desceu de 115 milhões em 2002 para 93 milhões em 2005-2006. Mas com mais de 150 milhões de crianças a trabalhar em vez de aprender, os governos e a comunidade internacional podem fazer mais para ajudar essas crianças a regressarem à escola. Nomeadamente, assegurando a Educação gratuita para todas as crianças pelo menos até à idade mínima para trabalhar; proporcionar programas educativos flexíveis e com recursos adequados para crianças trabalhadoras e outros grupos marginalizados a fim de que as crianças possam aprender bem apesar de trabalharem; e proporcionar educação de qualidade e acções de formação que sejam amigas-das-crianças facultadas por professores com formação e recursos adequados. In http://www.unicef.pt (16/02/2009) Ninguém deve deixar de denunciar casos semelhantes a estes, se os conhecer. A criança não é propriedade das famílias ou das pessoas que as têm a seu cargo. Todos somos responsáveis pelo seu bem-estar e pela sua integração na sociedade em que vivemos, quer sejam da nossa família, quer não. EMRC - AMOSTRA
  • 41. 42 unidade 1 Garantir o direito a ser pessoa O ser humano é naturalmente aberto, acolhedor e receptivo. A sua dimensão espiritual, de abertura ao outro e eventualmente a Deus, faz com que sinta uma natural inclinação para o acolhimento do próximo. Este acolhimento torna-se efectivo quando a pessoa, individual ou colectivamente, cria condições para que todos se realizem enquanto pessoas. O direito de realização da vocação humana depende da protecção do direito à liberdade de consciência, à livre manifestação de opinião e à liberdade religiosa. Impõe-se também a aceitação das diferenças, nomeadamente culturais, religiosas, sociais e físicas. Por diferentes razões, em qualquer momento da nossa vida, podemos tornar-nos portadores de deficiência. A Constituição da República Portuguesa prevê que os cidadãos portadores de deficiência gozem dos mesmos direitos dos demais cidadãos. EMRC - AMOSTRA Para saberes mais Ludwig van Beethoven nasceu em 1770 e faleceu em 1827. Foi um dos maiores compositores de música clássica de todos os tempos e compôs a sua única ópera já parcialmente surdo.
  • 42. 43 unidade 1 Existem diversas organizações que se dedicam à promoção, integração e desenvolvimento da pessoa portadora de deficiência. Estas organizações são muito importantes, permitindo a valorização, o desenvolvimento e a realização pessoal de todos. Artigo 71.º·(Cidadãos portadores de deficiência) 1. Os cidadãos portadores de deficiência física ou mental gozam plenamente dos direitos e estão sujeitos aos deveres consignados na Constituição, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontrem incapacitados. 2. O Estado obriga-se a realizar uma política nacional de prevenção e de tratamento, reabilitação e integração dos cidadãos portadores de deficiência e de apoio às suas famílias, a desenvolver uma pedagogia que sensibilize a sociedade quanto aos deveres de respeito e solidariedade para com eles e a assumir o encargo da efectiva realização dos seus direitos, sem prejuízo dos direitos e deveres dos pais ou tutores. Constituição da República Portuguesa EMRC - AMOSTRA Para saberes mais A Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental — APPACDM, congrega diferentes associações com esta missão. Jesus, o amigo dos pobres, dos desamparados, dos discriminados, orientou a sua acção para a promoção dos mais desfavorecidos, porque via neles a presença de Deus. Assim, vemo-lo a curar os leprosos, os cegos, os paralíticos e outras pessoas que, de alguma maneira, eram mais vulneráveis do que os outros. Para Jesus, as pessoas com deficiência e os doentes são amados por Deus e dignos de toda a atenção. Tiago, o discípulo e parente de Jesus, escreveu uma carta a todos os cristãos. Nela deixou claro que o amor deve ser a motivação para a acção dos crentes e que ter fé não significa apenas dizer que se acredita em Deus, mas também agir em favor dos outros. Procura na Biblia Mc 12,29-31.
  • 43. 44 unidade 1 Nas coisas necessárias, a unidade; nas duvidosas, a liberdade; e em todas, o amor. Santo Agostinho de Hipona Para saberes mais Santo Agostinho de Hipona nasceu em 354, em Hipona (África do Norte), e faleceu em 430. Filho de pai pagão e de mãe cristã, converteu-se ao Cristianismo, já em idade adulta, por influência de Santo Ambrósio, bispo de Milão. Teólogo e filósofo, escreveu várias obras, destacando-se A Cidade de Deus e Confissões. Texto bíblico A fé e as obras Procedem bem se cumprirem o mandamento Cristo curando os doentes, Laura James fundamental: “Amarás o teu semelhante como a ti mesmo.” Mas se fizerem acepção de pessoas, isso está mal. Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se a não põe em prática? Imaginem que algum irmão ou irmã não tem nada que vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia. Vocês podem dizer-lhes: “Vão em paz! Hão-de encontrar com que se aquecer e matar a fome!” Mas se não lhes dão aquilo de que eles precisam, de que valem essas boas palavras? Do mesmo modo a fé, se não é posta em prática, está morta! Tg 2,8-9.14-17 EMRC - AMOSTRA
  • 44. 45 unidade 1 Para além do aspecto exterior do outro, dou-me conta da sua expectativa interior de um gesto de amor, de atenção, que eu não lhe faço chegar somente através das organizações que disso se ocupam, aceitando-o talvez por necessidade política. Eu vejo com os olhos de Cristo e posso dar ao outro muito mais do que as coisas externamente necessárias: posso dar-lhe o olhar de amor de que ele precisa. Bento XVI. Encíclica Deus Caritas Est. Na fé e na esperança o mundo discordará, mas todo o interesse da humanidade está no amor. Alexandre, O Grande. Século IV a.C. Queridos avós, Aproveito o início de mais este ano para mandar notícias. Este vai ser, com certeza, o melhor ano nas nossas vidas. É a mãe quem continua a dizer isso. Como dizia, aliás, em relação ao ano passado. Eu estou certa, no entanto, de que será mesmo este o melhor. Sabem, hoje na estação dos comboios passei por uma rapariga, uma mulher jovem, que tentava a muito custo carregar um carrinho de bebé. Eu fiz o mesmo que fizeram todas as pessoas que corriam para cá e para lá e passei simplesmente ao lado. Reparei que algumas tinham a ousadia de olhar pelo canto do olho, outras nem reparavam. Todas, como eu, passavam e iam às suas vidas. Mas eu não era assim. Eu não era aquela rapariga que passou apenas. Por isso, voltei para trás e informei a mulher e o carrinho de que os ajudaria a subir as escadas. Impressionou-me, nos meus, às vezes cobardolas, 12 anos, a coragem de não ter, sequer, perguntado se precisavam de ajuda. Não, fui logo dizendo “Venha, eu ajudo-a!” A ajuda terá sido preciosa, embora atrapalhada, por causa da mala que eu transportava a tiracolo e dos cadernos novos que trazia nas mãos, o que tornou a viagem pelas escadas acima até um pouco mais divertida. No final da viagem, encontrámos um outro senhor, esse já mesmo idoso. Pelo menos, na dificuldade que aparentava ter em deslocar-se e pelas duas bengalas com que se fazia acompanhar. Senti-me confusa, porque não me dava mesmo jeito nenhum passar esse dia a ajudar pessoas a subir e a descer escadas. Isso foi, no entanto, desnecessário, porque, quando eu me baixei para apanhar o caderno de Inglês que tinha caído no chão, ouvi uma voz que dizia “Venha, eu ajudo-o!”. Aquela, sim, era eu. E nem me importei muito por não ter entregado o trabalho de férias de Inglês, que, entretanto, insistiu em ter fugido pelas escadas abaixo. Esta sou eu, aqui. E senti-me tão cheia de felicidade por ter sido eu nas escadas, que tive esta vontade de partilhar convosco que este ano, tenho a certeza, será o melhor da minha vida. Que, acima de tudo, as escadas dos meus dias me ajudem na descoberta de mim própria. Os maiores beijinhos de saudades, queridos avós; adorei as férias aí na terra. Ana Catarina P. S.: Beijinhos também no focinho do Lucas. Texto original de c EMRC - AMOSTRA