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Congresso da ALEF – 2013
Tema: Evangelho Integral
“O evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens”.
[do Pacto de Lausanne]
Reflexões Sobre o Evangelho Integral.
Organizadores: Marcos Aurélio dos Santos e Leandro Silva
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ÍNDICE
1. Agradecimentos, 04
-----------------------
2. Nossa proposta e Desejo, 05
----------------------------------
3. O Evangelho Integral, 06
------------------------------
4. Missio Dei X Missio Ecclesiae, 09
----------------------------------------
5. O Evangelho Todo Para o Homem Todo em Todas as
Comunidades, 14
--------------------------------------------------------------------
6. Evangelho Que Transforma, 19
--------------------------------------
7. Evangelho sem Sal X Evangelho Integral, 22
----------------------------------------------------
8. Igreja, Cooperação e Missão, 25
--------------------------------------
9. Cosmovisão, 27
------------------
10. Uma Reflexão Sobre a Missão Integral da Igreja, 30
----------------------------------------------------------------
11. Evangelho Integral: Reflexão e ação, 33
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12. Espiritualidade e Espiritualidades, 36
----------------------------------------------
13. Apêndice – Pacto Lausanne, 45
----------------------------------------
14. Colaboradores, 53
-------------------------
15. Convite aos Leitores, 54
-------------------------------
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Agradecimentos
gradecemos a todos que cooperaram para a realização desse
texto de grande relevância para as igrejas aqui em Natal como
em todo o Brasil visto que o mesmo está disponível para
downloads no Blog da ALEF. Aos que enviaram seus artigos como
também os amados que disponibilizaram seus textos em Sites e Blogs,
nosso fraterno carinho e agradecimento em Cristo Jesus, nos qual nos
chamou para essa árdua, mas ao mesmo tempo prazerosa missão.
Esperamos que este conjunto de artigos possa contribuir de
maneira saliente, que possa ser enriquecedor. O mesmo poderá ser
compartilhado com pastores, líderes e toda a comunidade do Cristo.
ALEF. Associação dos Líderes Evangélicos de Felipe Camarão.
A
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Nossa Proposta e Desejo
Pensando no crescimento e ampliação da visão da liderança da
Igreja Brasileira, é com grande alegria e satisfação no Senhor Jesus que
equipe organizadora do primeiro congresso da ALEF juntamente com
seus colaboradores disponibiliza o texto base para reflexão sobre o tema
Evangelho Integral.
Com isto, compreendemos que o congresso não é um evento, mas
um processo onde os participantes são desafiados a uma leitura e
reflexão antes e pós-congresso. Nossa proposta é que pastores e líderes
como os demais participantes possam alargar sua compreensão sobre o
tema Evangelho Integral.
Este material estará disponível em redes sociais, Blogs e sites
para assim facilitar o acesso ao mesmo. Seu conteúdo é profundo e
enriquecedor. Este poderá ser usado em seminários, escolas bíblicas,
pequenos grupos, treinamentos de capacitação ministerial e outros.
Desejamos a todos uma ótima leitura e reflexão para a glória de Deus.
Que o Senhor nos Ajude.
Marcos Aurélio Dos Santos
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O Evangelho Integral
Ed René Kivitz
O paradigma da missão integral
O movimento da missão integral, ou teologia da missão integral,
popularizado após o Congresso Internacional de Evangelização Mundial
realizado em Lausanne, Suíça, em 1974, ganhou as ruas no Brasil somente
depois que o Pacto de Lausanne foi publicado em português, dez anos após
sua elaboração.
Desde então a expressão missão integral ficou restrita ao debate a
respeito da relação entre evangelização e responsabilidade social, e chegou ao
nosso dia tão reduzido que qualquer igreja que tem uma creche acredita estar
“fazendo missão integral”.
Evidentemente isso é uma distorção do conceito em seus termos
originais, até porque o Pacto de Lausanne é uma síntese de muitos outros
documentos e de um riquíssimo debate teológico, pastoral e missional que
correu pela América Latina, inclusive anos antes de Lausanne, como por
exemplo, no primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE
I), em Bogotá, 1969, e no surgimento da Fraternidade de Teólogos Latino-
americanos (FTL), em Cochabamba, 1970.
O fato é que missão integral se tornou um conceito atrelado a ideias
como (1) tarefa, pois é missão, e nesse sentido é menor do que o conceito de
vivência ou experiência pessoal e comunitária da fé; (2) ação proselitista: ação
que visa a conversão; (3) ação em favor dos pobres: diaconia, projetos sociais,
atuação para mudanças das estruturas sociais; e a (4) polarização ou
integração dos temas evangelização e responsabilidade social da igreja.
Em outras palavras, o senso comum associa missão integral com
evangelização somada à ação social, com uma perspectiva reducionista,
apesar de lógica: comprometa-se com as causas da justiça social tanto para
adquirir o direito de anunciar o Evangelho quanto para dar credibilidade às
suas ações evangelísticas, pois o que importa mesmo é a conversão das
pessoas e o crescimento da igreja.
Uma reflexão a respeito do conceito mais fundamental da teologia ou
movimento da missão integral, expresso no tema central do Pacto de
Lausanne, a saber, o evangelho todo para o homem todo, nos levará muito
além das fronteiras definidas pela relação evangelização e responsabilidade
social.
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O paradigma do evangelho integral
Para quebrar o paradigma missão integral = evangelização +
responsabilidade social, proponho a substituição do termo missão integral por
evangelho integral. Por evangelho integral quero dizer:
. O evangelho como lente para leitura da vida em sua totalidade
. O evangelho aplicado a todas as dimensões do humano
. O evangelho aplicado a todas as dimensões da vida
. O evangelho aplicado a todas as dimensões das relações humanas
. O evangelho aplicado a todas as dimensões da vida em sociedade
. O evangelho como realidade que afeta todas as dimensões do universo criado
Observe que alguém facilmente diria que um projeto social está
relacionado com missão integral, mas dificilmente consideraria um encontro de
casais realizado num hotel 5 estrelas como um projeto de missão integral. A
organização de um centro comunitário é imediatamente percebido como ação
de missão integral, mas um sarau com muita música e leituras de Fernando
Pessoa e Adélia Prado exigiria muita explicação para que fosse associado à
missão integral.
O senso comum diria que o médico que dedica um final de semana para
trabalho voluntário numa comunidade da periferia da cidade está fazendo
missão integral, mas diria que o mesmo médico, cobrando R$ 700,00 por uma
consulta em seu consultório, está realizando seu trabalho secular (não
religioso), ou, no máximo, ganhando dinheiro para financiar projetos de missão
integral.
É urgente ampliarmos o horizonte de reflexão. Extrapolar os limites
definidos pelo debate evangelização/responsabilidade social e mergulharmos
nas implicações das relações sagrado/profano e religioso/não religioso para a
vivência da espiritualidade cristã pessoal e comunitária.
O sagrado e o profano
Os termos sagrado e profano são amplamente discutidos pelos teóricos
das ciências da religião, como Mircea Eliade, Émile Durkheim e Rudolf Otto.
Para esses teóricos, sagrado é basicamente aquilo que porta uma
manifestação do divino ou do transcendente, que Otto, por exemplo, chama de
numinoso ou mysterium tremendum, e Eliade considera ser de uma ordem
diferente ou de uma realidade que não pertence ao mundo natural. Nesse
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sentido, profano não está necessariamente associado a sujo, demoníaco,
diabólico ou oposto a Deus. Profano é apenas e tão somente toda a ordem
natural que não comporta uma manifestação ou relação com o divino,
sobrenatural ou transcendente.
Em termos simples, a partir de uma perspectiva religiosa cristã,
considero sagrado tudo aquilo que está de acordo com o caráter e os
propósitos de Deus ou que a Deus esteja relacionado de maneira direta e
intencional. Profano seria, então, aquilo que é neutro ou até mesmo está em
oposição ao que é sagrado, isto é, aquilo que não está de acordo ou não está
relacionado de maneira intencional e direta com o caráter e os propósitos de
Deus.
A relação das expressões religioso/não religioso e sagrado/profano nos
remete imediatamente à compreensão de que, assim como existe uma
dimensão sagrada no espaço não religioso, existe também uma dimensão
profana no espaço religioso.
O chamado cristão é para que todas as dimensões da vida sejam
santificadas tornadas sagradas, isto é, desenvolvidas e experimentadas de
modo a se conformarem ao caráter e aos propósitos de Deus. O evangelho
integral é a expressão que passo a usar para me referir ao desafio de sujeitar a
Deus todas as dimensões da existência humana.
Voltando aos exemplos anteriores, um encontro de casais realizado num
hotel cinco estrelas, um sarau com muita música e leituras de Fernando
Pessoa e Adélia Prado, e a consulta médica ao valor de R$ 700,00 podem
perfeitamente ser atividades sagradas, isto é, desenvolvidas de acordo com o
caráter e os propósitos de Deus, sendo, portanto, vivências do evangelho
integral.
O espírito da coisa
A expressão evangelho integral representa melhor o espírito de
Lausanne e do movimento da missão integral, a saber: o evangelho todo, para
o homem todo, para todos os homens.
QUESTINÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Qual a importância do pacto de Laussane para a igreja Brasileira?
2. Quais os desafios que podemos encontrar para a igreja na perspectiva do
Evangelho integral?
3. Qual deve ser nossa visão do sagrado?
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4. O que deve significar para nós a expressão: O evangelho todo, para o
homem todo, para todos os homens?
Missio Dei X Missio Ecclesiae
Romildo Gurgel
Acho que não é fácil entender o conceito de missão sem que haja um
atrelamento entre a missão de Deus e a missão da Igreja. Não há quem
perceba que o assunto de missão acontece entre duas direções se é que
podemos fazer alguma distinção. Numa direção, missão está muito presa às
ações da Igreja, quanto a sua existência missiológica.
Aqui, serve aos seus ministérios bem ordenados, desenvolvem
programas, criam projetos na intenção não só de manter, mas principalmente
de expandir-se como Igreja. Um dos conceitos que mais contribui para a
expansão nessa argumentação é expandir através do plantio de Igrejas
(plantatio ecclesiae), supostamente quando assim acontece em áreas onde
não exista igreja no local.
Noutra direção, missão caracteriza também aquelas atividades e
projetos que tem em vista um publico bem mais amplo, além dos vínculos da
instituição, cujo foco situa-se nas estruturas sociais desfavorecidas que
apresentem sinais de injustiça e discriminação.
Em 1974, na cidade de Lausanne – Suíça realizou-se o Congresso
Internacional de Evangelização Mundial que contou com a participação e o tom
dos teólogos latino-americanos, e, dentre eles, René Padilla. O documento final
desse congresso foi denominado Pacto de Lausanne. Nele, fica claro que o
Evangelho deve alcançar o ser humano, em sua totalidade:
A mensagem da salvação implica também em uma mensagem de juízo
sobre toda forma de alienação, opressão e discriminação, e não devemos ter
medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que prevaleçam. Quando
alguém recebe a Cristo, nasce de novo no seu reino e, conseqüentemente,
deve buscar não somente manifestar como também divulgar a sua justiça em
meio a um mundo ímpio. A salvação que afirmamos usufruir deve produzir em
nós uma transformação total, em termos de nossas responsabilidades pessoais
e sociais.
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Perceba que dentro deste aspecto de reino o sentido de missão adquire
um caráter mais testemunhal da fé do que de proclamação ou anúncio
unicamente.
Assim, cabe aqui citar um texto escrito por Tiago, o irmão de Jesus:
“De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras?
Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas
e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: Vá em paz, aqueça-se e
alimente-se até satisfazer-se sem porém lhe dar nada, de que adianta isso?
Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”.
(Tiago. 2.14-17 NVI)
Lembramos ainda aquilo que foi dito pelo Senhor Jesus registrado em
Mateus 25:35ss “tive fome (...) tive sede (...) era estrangeiro (...) estava nu, (...)
adoeci, (...) estive na prisão, (...)”. As palavras de Tiago 2:14-17 corroboram
com estas ditas por Jesus, mesmo assim, devemos ter o cuidado para não
super valorizar as obras a ponto de tê-la como meio de salvação, lembrando
sempre as palavras do apóstolo Paulo bastante conhecida em Efésios 2:8-9
“Pela graça sois salvos mediante a fé, isto não vem de vós; é dom de Deus.
Não vem das obras para que ninguém se glorie”.
Sendo assim, parece razoável que a população marginalizada necessita
de cristãos que estejam comprometidos com o que é, de fato, a pregação do
Evangelho, dentro de uma perspectiva bem mais ampla. Ela necessita de
“pessoas que creem que o propósito de Deus é unir todas as coisas sob a
autoridade de Cristo e que definem o significado de sua própria existência à luz
desse propósito” (PADILLA, 2009, p. 53).
Ou seja, ela necessita de cristãos que vivam uma vida pessoal e
comunitária voltadas para o reino e a justiça de Deus. A missão da igreja não é
separar-se do mundo, mas ser enviada ao mundo. “Portanto, ide por todo o
mundo e pregai o evangelho” (Marcos 16:15), e “Ser-me-eis testemunhas, tanto
em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos
1:8).
MISSIO DEI
No ano de 1932, Karl Barth foi o primeiro teólogo a declamar sobre
missão como atividade articulada por Deus em uma conferência missiológica
em Brandemburgo na Alemanha. Se existe uma missão, essa missão é a de
Deus (missio Dei). No entanto o pensamento de Barth atingiu auge em 1952 na
conferência de Willingen onde foi revivenciado o termo “missio Dei”. Foi de lá
que a ideia de missio Dei emergiu pela primeira vez de uma forma mais
esclarecida. Compreendeu-se a missão como derivada da própria natureza de
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Deus. Ela foi colocada no contexto da doutrina da Trindade, e não da
eclesiologia ou da soteriologia.
George Vicedom nesta mesma conferência destacou-se pela famosa
obra Missio Dei: Introduction to the Science of Mission. Cuja ênfase foi:
a) Deus é o sujeito ativo da missão.
b) Deus o Pai enviou o Seu Filho (João 1:1-5 e 1:14)
c) E ambos enviaram o Espírito Santo (João 14:16)
d) A trindade envia a Igreja e os crentes em particular, para cumprir a tarefa da
Grande comissão (Atos 1:8 e 2:4). Ou seja, Pai, Filho e o Espírito Santo
enviando a igreja para dentro do mundo.
Foi nesta conferência que houve o reconhecimento que a igreja não
poderia ser nem o ponto de partida e o alvo da missão. A obra salvífica de
Deus precede tanto a igreja quanto a missão. Não se deveria subordinar a
missão à igreja e, tampouco, a igreja à missão; pelo contrário, ambas deveria
ser inseridas na missio Dei que se tornou então o conceito abrangente.
A missão de Deus institui a missão da Igreja. A Igreja deixa de ser a
remetente para ser a remetida. A missão não é a atividade primordial da Igreja,
mas um atributo de Deus. Deus é um Deus missionário. Compreende-se a
missão, desse modo, como um movimento de Deus em direção ao mundo; a
igreja é vista como um instrumento para essa missão. Deus teve um único
Filho e fez dele um missionário.
Como igreja, nossa missão não tem vida própria: só Deus que envia
pode denominar verdadeiramente a missão. Nossas atividades missionárias só
são autênticas na medida em que refletirem a participação na missão de Deus.
A missio Dei é a atividade de Deus, a qual abarca tanto a igreja quanto o
mundo e na qual a igreja tem o privilégio de poder participar. “Não é a igreja
que tem uma missão na terra, é o Deus da Missão que tem uma igreja na
terra.” A Igreja não anuncia ela mesma, o kerigma consiste em saber que:
“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos
homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação”
(2Coríntios 5:19). Quem reconcilia é Deus e não a igreja.
A estreita relação do ser da igreja é ser enviada por Deus e é nisso que
consiste o cerne da forma de se fazer a missão. O texto de (João 17:18), deve
ser visto como inquebrável, já que não há outra igreja, mas a Igreja enviada ao
mundo e nenhuma outra agência missionária, mas a Igreja de Cristo. Aqui
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merece um sério questionamento aos modelos vigentes de Igreja na
atualidade.
Em O Que É Missão Integral? René Padilla mostra que a igreja que se
compromete com a missão integral entende que seu propósito não é chegar a
ser grande, rica ou politicamente influente, mas sim encarnar os valores do
reino de Deus e manifestar o amor e a justiça, tanto em âmbito pessoal como
em âmbito comunitário.
As igrejas precisam rever as suas ações e cumprir a missão que lhe foi
confiada para que não esteja alheia ao clamor do povo. Assim como os
profetas denunciavam as autoridades quanto à exploração dos pobres, a igreja
precisa denunciar a injustiça social, ter voz profética somada com ações que
transformam não somente o estado deprimente espiritual, mas também o
contexto que elas vivem. Se a igreja falhar na sua voz profética, quem irá
clamar serão as pedras contra a missão da igreja.
A igreja é a corporificação da missão de Deus na comunidade onde ela
está inserida. O maior pecado da Igreja é fechar-se por causa da sua saúde e
ignorar a comunidade em volta dela, que sofre toda espécie de alienação. A
igreja não pode isolar-se frente ao clamor e a indagação de um povo que sofre
e vive a margem da sociedade.
Entendo que se a igreja incorporar a missão que lhe foi atribuída, as
metáforas bíblicas ficarão bem mais fácil de serem entendidas, como p. ex., “o
sal da terra”, “a luz do mundo”, “uma cidade sobre um monte” e outras
semelhantes.
Que o Senhor nos ajude
QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Em que consiste a missio Dei?
2. Quais os principais aspectos da missio Dei?
3. Como se deve compreender a missão da Igreja?
4. Como é a prática da missão da sua Igreja?
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BIBLIOGRAFIA
1 - PADILLA, C. René. O que é Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009.
2 - CABRIAL, Silvano Silas R. Missio Dei. Londrina – PR: Descoberta, 1ª
Edição: Janeiro/2005.
3 – BOSCH, David J. Missão Transformadora, Mudanças de Paradigma na
Teologia da Missão. Editora Sinodal, 1998.
4 - http://estudos.gospelmais.com.br/missio-dei.html - Acessado em
01/10/2013.
5 - http://www.postost.net/2011/01/missio-dei-historical-perspectives-part-1 -
Acessado em 01/10/2013.
6 -
http://conversation.lausanne.org/en/conversations/detail/10505#.UkpPXIY04wI
– Acessado em 01/10/2013.
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O Evangelho Todo Para o Homem Todo em
Todas as Comunidades
Leandro Silva
Não é de hoje a constatação da forte presença da igreja nos bairros
mais empobrecidos. Nas comunidades urbanas do Nordeste, extrema pobreza,
violência e injustiça convivem lado a lado com a profusão de templos
evangélicos.
Oficializado no dia 22 de agosto de 1968, o bairro de Felipe Camarão na
região oeste da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, é um exemplo
dessa realidade. Segundo o censo de 2000, a população do bairro está
calculada em 45.907 habitantes, mas as estimativas são de que já existam
cerca de 72 mil pessoas, vivendo em uma área de 663,4 ha .
São 10.782 domicílios, sendo que 1.227 são moradias construídas em
área de risco (Censo 2000); 31,39% dos moradores sobrevivem com um
salário mínimo, 41,08% recebem até três salários, 12,82% não têm renda
alguma. A média dos rendimentos mensal é de 1/3 da média da cidade o que
significa R$ 327,00 por família. 29,82% da população é formada por jovens;
35,4% está faixa etária de 0 a 14 anos; Apenas 11,81% da população terminou
o Ensino Médio.
Felipe Camarão não está ao alcance dos olhos dos visitantes e
tampouco dos nativos mais segregados. Este fato contribui, sobremaneira, para
consolidar a fama obtida pela cidade de Natal de bela e esconder a real
diversidade de sua geografia humana, bem como as mazelas sofridas por
grande parte da população residente em bairros com menor estrutura.
Em pesquisa realizada pela CONSULEST e o Grupo de Sociologia
Clinica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o bairro foi apontado
por 43,9% dos entrevistados, como o mais violento de Natal. O índice de
qualidade de vida, no que tange ao saneamento ambiental é de 0,27.
O número de pessoas analfabetas chega a 22,9% da população com
mais de 25 anos. Um dos principais líderes em número de casos de violência
contra a mulher, maus tratos e abuso e exploração sexual de crianças e
adolescentes, Felipe Camarão é também o bairro que detêm o maior volume
de sub-moradias, com pelo menos oito favelas em seu espaço geográfico. Este
ano mais de 40 jovens já foram vitimas da violência armada. Entre os mais de
36 bairros que compõe a cidade de Natal, é o 4° mais populoso; É formado por
18 comunidades, dentre estas, 08 são irregulares. Está localizado na zona
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Oeste de Natal, região que em conjunto com a zona norte abriga mais de 50%
da população pobre e 60% do total das favelas do município. Mas há uma boa
noticia: Felipe Camarão é também o bairro mais evangélico de Natal.
Em 2001 o Serviço para Evangelização da América Latina (SEPAL) fez
um levantamento das igrejas evangélicas em Natal e encontrou 41 igrejas em
Felipe Camarão. Em 2005, com financiamento da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, foi realizada uma cuidadosa pesquisa e encontramos 59
igrejas no bairro. Hoje, já existem diversas outras que surgiram depois de 2005,
de modo que podemos dizer com bastante certeza de no atual momento
existem pelo menos 70 igrejas atuantes na comunidade!
Os evangélicos de Natal começaram a ser despertados para o desafio
de Felipe Camarão em setembro de 2003, no Seminário Teológico-Estratégico:
Modos de enfrentamento da Pobreza em Natal, onde ficou clara a urgência de
voltar nossos olhos para a região. Naquele mesmo ano, a pesquisa divulgada
pela SEPAL chamou a atenção de vários líderes cristãos atuantes na
comunidade, que se reuniram para refletir sobre a contribuição que poderiam
dar na reversão dos cruéis indicadores sociais de Felipe Camarão.
A pergunta a dar a tônica do evento era o porquê essas duas realidades
(a combinação dos piores índices de desenvolvimento humano e maior
concentração de igrejas) não se cruzarem durante anos, permanecendo
isoladas e intactas, como se não coexistissem. Porque a forte presença da
igreja não se traduz em transformações do contexto injusto em que está
inserida? As perturbadoras constatações sobre a apatia das igrejas em relação
aos alarmantes desafios sociais levaram os líderes a refletir sobre a
necessidade de dar continuidade a este trabalho.
Em 2005, enquanto eram realizadas reuniões mensais nas mais
diversas igrejas do bairro, uma pesquisa patrocinada pela UFRN ia
descobrindo cada igreja Felipe Camarão. Ao longo destas reuniões, uma rede
de igrejas e líderes foi sendo construída coletivamente. Em dezembro de 2005
a ALEF (Associação de Líderes Evangélicos de Felipe Camarão) foi
oficialmente criada, com o objetivo de reunir as igrejas que atuam localmente
para o desenvolvimento de programas focados na transformação comunitária e
missão integral.
As igrejas possuem uma capilaridade que não pode ser encontrada em
nenhuma outra forma de organização social das comunidades, estando
presentes em todos os recantos dos bairros e favelas, mesmo os mais
inóspitos, onde os problemas sociais ensejam sua face mais cruel e os serviços
públicos são ainda mais ausentes.
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Camarão).
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O resultado é revolucionário: não apenas uma organização, mas uma
rede de igrejas, líderes (não apenas pastores, mas líderes comunitários, de
jovens, de mulheres, de missões...), com os seguintes objetivos: 1) A interação
entre as igrejas para que por meio dela se processe de modo mais integrado o
cumprimento da missão integral deixada por Jesus Cristo; 2) A maior
expressão da face pública das igrejas associadas; 3) Pesquisa e analise da
realidade; 4) ações que de enfrentamento dos desafios sociais e de
desenvolvimento sustentável; 5) a formação de liderança nas mais diversas
áreas. Vem sendo desenvolvido diversas ações e projetos conjuntos, e com o
alvo de mobilizar suas comunidades para o desenvolvimento e transformação
integral, com ações em oito principais eixos de atuação: educação, formação
de liderança (em áreas relacionadas a missão integral e desenvolvimento
comunitário), criança e adolescente, saúde, meio ambiente, construção da paz,
economia solidária, cultura e juventude.
Com o tempo, um grande número de igrejas e organizações de varias
outras regiões de Natal e do Nordeste tem se deslocado a Felipe Camarão
para participar dos vários encontros, seminários, capacitações e oportunidades
de treinamento, motivação e mobilização de Pastores e Líderes de igrejas do
Nordeste para a missão integral promovidos pela ALEF. Isso tem provocado a
multiplicação de muitas iniciativas de engajamento de igrejas e instituições
cristãs na transformação integral das regiões em que estão atuando.
Diante disto, uma das ações que a ALEF espera fortalecer nos próximos
anos é fomentar um movimento de mobilização de igrejas para a missão
integral em outras comunidades e bairros nordestinos, a partir do contexto e da
experiência das igrejas de Felipe Camarão, ao mesmo tempo em que trabalha
pelo fortalecimento, expansão das ações e mobilização de igrejas e líderes em
seu próprio contexto: o bairro e suas adjacências.
Nossa visão: a transformação integral das comunidades
Felipe Camarão ilustra um cenário comum às comunidades
empobrecidas de todos os rincões do Norte-Nordeste. Nenhuma outra
organização está tão presente nos bairros. Porém, quando comparamos a
presença da igreja com seu impacto ficamos frustrados! Embora muitas
pessoas estejam sendo alcançadas pelo evangelho, coletivamente a igreja não
está influenciando na estrutura social das comunidades do país.
Falta voz profética contra a violência e corrupção, falta luta pela causa
dos pobres, como nos exorta a Palavra de Deus: “O justo se interessa pela
causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber” (Provérbios
29:7). O resultado está aí: quanto mais empobrecida a comunidade, maior o
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Camarão).
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número de igrejas. O evangelho cresce, mas não há mudança, transformação.
É razoável afirmar que podemos fazer mais!
Dois são os motivos principais de dezenas de igrejas em um único bairro
não conseguirem causar impacto social: a falta de unidade, e a uma
missiologia reducionista.
Cada igreja têm se voltado para suas próprias atividades, não reservando
espaço em sua agenda para o trabalho conjunto com outras igrejas. Se
desejarmos influenciar as comunidades em que atuamos com o evangelho
integral, devemos inserir em nossas agendas esta palavra bem especifica:
unidade. Mas que tipo de unidade devemos buscar? Certamente que a
concepção ufanista das marchas e movimentos pontuais não é suficiente.
É necessário construir um amplo esforço conjunto, baseado em
projetos, ações e programas direcionados a provocar transformações sociais
que possam fazer da comunidade um lugar mais parecido com o Reino de
Deus e construir uma face pública relevante, que expresse contundentemente
os valores do evangelho para regiões que clamam por uma intervenção efetiva
do corpo de Cristo. Por maior que seja, nenhuma igreja pode mudar sozinha
toda uma região. Este trabalho é coletivo.
É necessário repensar a eficácia de nossos modelos missiologicos. As
comunidades estão cheias de igrejas irrelevantes, centradas apenas no esforço
evangelístico, entendido como "salvar almas para o céu", mas que não se
lembram do quão radical foi à encarnação de Jesus, que em seu ministério ia
por toda a parte “pregando, ensinando e fazendo o bem” (Mt 10.38).
Urge que empreendamos esforços a fim de ampliar nossa compreensão
da missão, entendendo que esta se baseia não apenas em “ganhar almas”,
mas em discípular e servir as comunidades nas quais atuamos, sinalizando
com a maior densidade possível, em palavras e ações, o Reino de Deus, que é
justiça, paz e alegria no espírito santo! Felipe Camarão está ai para mostrar
que isto é possível!
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Camarão).
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QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. No texto, o autor falou sobre a realidade de uma região especifica (Felipe
Camarão) e como apenas a presença de muitas igrejas não provocou
mudanças na realidade social. Em que pontos esse cenário se parece com o
contexto da região onde sua igreja está localizada? Como é a realidade da
comunidade onde sua igreja é chamada a fazer missão?
2. O que impede as igrejas locais de causar impacto na sua comunidade local?
3. De que formas sua igreja e outras igrejas poderiam ser mobilizadas para
levar o evangelho todo ao homem todo em sua comunidade?
4. Para você, o que significa a expressão: “O Evangelho Todo Para o Homem
Todo Em Todas as Comunidades”?
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Evangelho Que Transforma
Marcos Aurélio dos Santos
A criação está em crise. A maldição que causou dano ao casal adâmico
se alastrou de maneira tal, que toda criação foi afetada. Basta folhearmos
algumas páginas do livro do Gênesis, como também de outros, que claramente
encontramos os sinais da degradação. Violência, doenças, sofrimento,
decomposição material, inimizade entre os homens, Aumento do sofrimento na
geração da humanidade, maldição sobre a terra, morte física e espiritual.
O grande Jardim chamado terra e o homem estão em apuros, gemendo,
a espera da redenção. Isto porque a sugestão da serpente foi bem vinda e
atrativa aos olhos do casal, contrariando a vontade do Criador e pai do
universo. Então, a humanidade como toda a criação está sobre condição de
deterioração aguardando a consumação de todas as coisas (Gn. 3).
O episódio catastrófico do Éden atravessa toda a história e chaga até
nossos dias. Os efeitos da queda refletem o quanto precisamos ser
transformados integralmente. A corrupção humana e o mal encontrado nas
estruturas que estão sobre o controle do diabo nos faz refletir de maneira
relevante a urgência de uma restauração de forma integral. Não apenas o
homem, mas o todo deverá passar pelo processo de transformação causado
pelo poder do evangelho.
O pecado corrompeu o homem em sua integralidade. Numa linguagem
dicotômica, a decomposição afetou corpo, alma e espírito. O mal surtiu efeito
completo. A consequência causada pela ruína humana foi o bloqueio de
acesso ao Eterno, privando o homem de ter comunhão com ele. O pecado do
Éden gerou inimizade entre a criatura e o criador.
A queda gerou no homem um espírito egoísta onde seus pensamentos e
ações ficaram centradas em si mesmo. O Adão que gerenciava a criação agora
se transforma em um indivíduo egocêntrico. Os cuidados com as coisas que
foram criadas e com o próximo não são mais a prioridade daquele que foi
criado à imagem de Deus.
Deus em sua infinita misericórdia decidiu restaurar a criação. Ele
resolveu enviar o Filho Encarnado, nascido de mulher, gerado pelo poder do
Espírito Santo, que em sua missão toma forma de servo para anunciar o
evangelho integral, as boas novas do Reino, o evangelho que traz em sua
essência, a transformação de tudo, de forma completa para a glória do Pai.
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Na proposta de Jesus, é pregado o evangelho transformador e poderoso
para restaurar o homem na sua totalidade. O evangelho integral busca
transformar o interior humano no qual resulta em novo nascimento e vida
eterna com Cristo (Jo.3). Logo, este evangelho toma de forma inevitável,
dimensões maiores restaurando de maneira extraordinária e poderosa toda a
criação.
Este poder transformador supera de maneira abundante o que foi
corrompido pela queda. A maravilhosa graça concedida à humanidade por
meio do sacrifício vicário de Cristo. Esta é manifesta revelada no amor de
Jesus que por meio deste evangelho, somo confrontados e viver na prática
seus ensinos.
No Evangelho, não há uma separação do homem em duas partes, e,
portanto, não pode haver exclusividade neste projeto de restauração. Deus não
salva apenas almas, mas o homem e mulher de forma integral. Seres criados a
sua imagem e semelhança.
Nessa perspectiva, a incumbência de fazer discípulos, requer de nós mais do
que meros esforços em encaminhar as “almas” para o céu. É uma tarefa que
nos desafia a cuidar de gente. É preciso ver o discípulo como Jesus o viu,
enxergando sua carência de comunhão com o eterno, mas também o
assistindo em suas necessidades.
Nos ensinos de Jesus de Nazaré, o discípulo é comissionado também
para fazer o bem. Como disse Tiago, fé sem vida não é fé, é defunto. Segundo
o apostolo, irmão de Jesus, somente uma fé viva está disposta a fazer o bem
ao próximo, somente uma fé vibrante se compadece do necessitado. Toda fé
que se preza, deve estar acompanhada de obras. (Tg.2.14).
A parábola do bom samaritano nos dá luz para compreendermos melhor
o evangelho integral ensinado por Jesus. As boas novas nos desafiam a viver
na prática os valores do Reino. Acolher o próximo está muito acima das
práticas ritualísticas do templo, fazer o bem não está condicionada a nenhuma
regra, rito ou dogma religioso, esta está profundamente atrelada aos valores do
Reino ensinados por Cristo em seu Evangelho.
Então, o discípulo é confrontado a encarnar valores nos quais transcendem a
justiça humana. Segundo a parábola contada por Jesus, a motivação que levou
o bom samaritano a fazer o que os religiosos não fizeram, foi sua atitude de
piedade (Lc.10.33).
No Reino é assim, não são as regras que determinam nossas práticas
como cristão, mas uma vida piedosa e submissa à vontade do pai Eterno, uma
vida de renuncia que sempre prioriza o outro em detrimento de nós mesmos,
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uma vida de serviço ao próximo, olhando para suas necessidades, uma vida
que coloca o discurso em ultimo plano, mas prioriza o fazer. Fazendo o bem
sem olhar a quem.
No evangelho do reino propagado por Jesus, todos caminham em pé de
igualdade, não há espaço para a figura do “super discípulo”. Parafraseando o
mestre dos mestres: Aquele que desejar ser o maior seja servo de todos, o que
quiser ser o primeiro que seja o ultimo, o que almejar lugar de destaque, antes
se torne o menos conhecido. Todo serviço como todas as nossas demandas
devem ser para beneficio outro, pois assim Cristo o fez.
Caminhar ao lado do outro é a regra de ouro. Amparar o pobre, cuidar
dos desvalidos, acudir o enfermo é coisa para bom samaritano, esta prática
não está na agenda dos religiosos, por esta razão Deus está à procura de bons
samaritanos para serem cooperadores em sua missão. Gente que gosta de
gente, homens e mulheres que estão dispostos a colocar os valores do reino
acima dos terrenos, pessoas que depositaram seu coração no que é eterno,
como no exemplo do homem de Samaria que não era avarento, pois não se
preocupou com a conta da hospedaria, mas com a recuperação da saúde da
vítima que foi assaltada e espancada gravemente e deixado à beira no
caminho.
No reino, devem-se valorizar as pessoas e não as coisas. O bem feitor
de Samaria poderia ter a priori procurado os salteadores para recuperar o que
foi levado, mas sua atitude de piedade colocou o próximo em primeiro plano.
Cuidar dos ferimentos e providenciar abrigo para o homem ferido foi sua
prioridade.
Esta é a proposta desafiadora do evangelho do Reino. Transformar
vidas de forma integral, anunciar as boas novas de salvação, caminhar ao lado
do próximo para que haja transformação nas comunidades e a igreja possa
realizar o cumprimento da grande comissão.
QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Na missão Integral, de que maneira homens e mulheres devem ser
alcançados? De forma total ou em parte?
2. O que é a Missão Integral?
3. Quem é o agente da missão?
4. Qual o ponto de partida para que haja transformação nas vidas e
comunidades?
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Evangelho sem Sal X Evangelho Integral
Hudson Taylor Rodrigues Maia
Disse Jesus: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me
enviou e realizar a sua obra" Jo 4.34.
Talvez esse seja o grande problema das igrejas em nossos tempos, de
que elas se alimentam e a vontade de quem elas fazem! Ou seja, qual o
objetivo e o fim.
Dentro desse arcabouço, enfileiram-se Igrejas e pastores com objetivos
e fins totalmente diversos do propósito de Deus e distantes de Sua vontade.
Igrejas capazes de encher todas as cadeiras, mas incapazes de encher-se do
Espírito do Senhor.
Igrejas coma eficiência de mudar a vida econômica de toda a sua
liderança, mas sem habilidades para mudar o contexto social das
comunidades. Igrejas capazes de construir mega-templos, mas sem o desejo
de produzir mega transformações na vida das pessoas. Igrejas cuja comida
não é fazer a vontade do Pai, mas fazer sua própria história.
Fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Que
vontade, que obra?
“E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela
renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável, e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2
Nunca faremos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, sem uma
mente Renovada, sem uma mente voltada para a pureza da palavra, sem o
contexto de uma missão integral, sem manchas, sem misturas. Isso é relevante
para o que chamamos de Cosmovisão. Ou seja, a forma como enxergamos a
obra de Deus.
Maurício Cunha e Beth Wood em seu livro “O Reino entre nós”
enfatizam: “Todos os propósitos de Deus na Criação serão cumpridos graças a
o Sacrifício de Jesus”.
Como igreja, devemos proclamar o evangelho da redenção para o homem em
todas as áreas da vida e da criação.
A Igreja precisa então acordar e deixar de ser um agente construtor de
“cultos” (culto de oração, culto de jovens, culto de senhoras, culto do amigo,
culto dos solteiros, cultos dos casados, culto “disso”, culto “daquilo”) e passar a
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ser um agente da Redenção de todas as áreas das coisas criadas por Deus,
por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. “E Ele é antes de todas as coisas, e
todas as coisas subsistem por Ele”.
E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito
dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. “Porque foi do
agrado do Pai que toda a plenitude Nele habitasse, E que, havendo por Ele
feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio Dele reconciliasse consigo
mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos
céus”. Colossenses 1:17-20.
A igreja precisa crescer rumo às intenções de Deus. Se a igreja cresce,
mas, em outro rumo, esta igreja nunca será uma igreja relevante no Reino de
Deus.
Veja essa declaração de Edmund Burke sobre a luta de William
Wilberforce para a liberação dos escravos e reforma dos valores sociais na
Inglaterra:
“Para que o mal triunfe tudo o que é necessário é que boas pessoas não
façam nada. Deus não está apenas na igreja, mas ele preenche toda a criação.
Escrevendo aos cristãos Colossenses, Paulo disse que o mundo foi criado por
Cristo, para Cristo, foi reconciliado em Cristo e para Cristo”.
Emil Brunner declara: “A Igreja Existe para a Missão assim como o fogo
existe para queimar”.
Compreendemos a necessidade e urgência de concentramos as nossas
ações em direção ao fortalecimento e resgate da visão da integralidade
missionária. Um olhar mergulhado nas comunidades e nas possibilidades de
transformação. Deus tem urgência nisso, e tem levantado pessoas fora do
contexto de igrejas, que não levantam bandeiras “religiosas” para fazer ações
sociais de transformação que têm tirado crianças das chamadas “bocas de
fumo” e garotas dos “eixos mortais” da prostituição, demonstrando um amor
que deveria ser a marca da Igreja de Cristo.
Porque Deus amou o mundo de tal maneira... Pessoas preocupadas
com as injustiças sociais e pela falta de ação dos órgãos governamentais.
Pessoas preocupadas com doentes, com pessoas especiais, enquanto a igreja
está “morta” dentro de seus cultos que dificilmente chegarão a atingir o coração
do Deus supremo, amoroso e fiel. ‘
É urgente que igreja do Senhor acorde sob pena de viver um evangelho frágil,
sem vida, sem luz e sem sal.
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QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Qual é a vontade de Deus para a Missão da Igreja?
2. Como uma igreja pode ser relevante dentro da vontade de Deus?
3. Qual deve ser o foco da Missão da Igreja?
4. O que quer dizer a frase de Emil Brunner: A Igreja existe para a Missão
assim como o fogo existe para queimar?
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Igreja, Cooperação e Missão
Renildo Diniz Lopes Junior
Uma das experiências mais marcantes na minha vida foi o de poder
pastorear um rebanho. Ser pastor. É bem verdade que o tempo passa rápido e
quando menos esperamos já aconteceram várias coisas. Lembro-me que
quando mais novo e na ânsia de iniciar o ministério vinham como torrentes na
mente tantas ideias que nem podia contê-las, era uma vibração extraordinária,
mas como disse, o tempo passa e então nos percebemos menos ansiosos. No
entanto mais firmes quanto às ideias.
Tenho pastoreado a Igreja Batista Esperança há cinco anos e me
impressiono com o que Deus vem fazendo nessa comunidade, a forma como
ela tem abraçado novos desafios e se colocado na brecha. No início herdamos
uma igreja que já tinha vivido muitas experiências, mas Deus tinha reservado
para nós algo bastante desafiador ao ponto de nos fazer repensar certos
valores e paradigmas que na verdade, só perpetuava um comportamento
letárgico e infrutífero quanto à integralidade do evangelho.
Foram neste ponto que começaram os nossos desafios; sabe quando
Deus resolve lhe fazer uma visita, bem foi exatamente isso que aconteceu,
Deus nos visitou e apontou o dedo bem no nosso nariz e disse que estava na
ora de promovermos seu Reino de verdade. Isto foi tão impactante na vida da
nossa igreja que não sabíamos exatamente o que fazer e por onde começar –
digo que foi importante a parceria com amados mais experientes que nós.
Fomos desafiados a fazer uma releitura dos evangelhos, da vida de Jesus e de
nossa própria vida enquanto igreja, agência do Reino.
Pastor de uma igreja com mais de quarenta anos, incomodava o fato
dessa igreja não ser reconhecida pela própria redondeza e não contar com a
simpatia dos seus circunvizinhos, para mudar este quadro firmamos o
compromisso de sermos uma igreja relevante para nossos vizinhos,
abrangemos a visão e nesta releitura descobrimos que o ministério de Cristo
sempre foi itinerante, fora das paredes institucionalizada das nossas
organizações, foi uma revolução na mentalidade e prática da igreja.
Abraçamos uma comunidade vizinha do bairro, não com a intenção de
fazermos assistencialismo, mas de nos envolvermos com as dores e lutas
dessa gente tão sofrida. Vale lembrar que não é possível fazermos qualquer
coisa que seja se não liberarmos nossos membros para um visionamento,
posso afirmar que o Senhor nos deu soldados valorosos que não medem
esforços e mais que isso são engajados até o pescoço com a obra do Reino.
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Todos estes esforços mudaram a dinâmica da igreja, somos um povo antenado
com a realidade, saímos da caixa para enfrentar o mundo.
Talvez a essa altura você pense que somos hoje uma comunidade
madura e experiente, não se iluda ainda estamos muito longe. O que de fato
mudou foram os nossos olhos, a maneira como enxergamos o nosso papel
nesse cenário, repensamos a nossa maneira de ler e aplicar as escrituras,
começamos a perceber que o Reino de Deus e seu evangelho é para o homem
todo não apenas para alma. No momento em que escrevo este testemunho
estamos em uma série de mensagens que chamamos de “Missão Urbana, o
desafio da cidade”, isso para lembramos que estamos em um contexto urbano
que nos desafia a um olhar de compaixão pelas nossas cidades.
O texto que nos inspirou foi Mateus 9.35-38, observe apenas três partes
do texto: primeiro, Jesus percorria as cidades e povoados, esse era seu
ministério itinerante, segundo, usava uma metodologia muito simples,
ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando as
doenças e enfermidades. e em terceiro, Jesus pede aos discípulos que roguem
a Deus por mais trabalhadores, bom quando eu estava pregando neste texto
na primeira mensagem da série e vi todas aquelas pessoas olhado para mim, vi
nelas a resposta de Deus a oração dos discípulos, se os apóstolos oraram por
mais ceifeiros então eles estão sentados nos bancos das nossas igrejas, foi
isso que entendi o que precisamos é nos por de pé tomar posição e fazermos o
que fomos chamados para fazer, sermos cooperadores na missão de Deus.
QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Quais os paradigmas que você ou sua igreja tem enfrentado nos desafios de
implantar uma nova visão?
2. Sua igreja ou seu grupo tem tido uma relação de aproximação com a
comunidade onde estão inseridos?
3. A maneira como olhamos os desafios podem determinar o futuro de nossa
comunidade. Quais seriam suas decisões ante uma releitura dos ensinos de
Cristo e seu ministério itinerante?
4. Qual o seu olhar para a cidade, quanto aos desafios que ela impõe a igreja?
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Cosmovisão
Mauricio Cunha
Texto Base: MT 6 : 22,23
Jesus fala nesses versículos a respeito de como observamos o mundo
ao nosso redor. Fatos e eventos acontecem constantemente no mundo todo,
temos vários exemplos de reportagens sobre catástrofes, crimes, corrupção
etc… E questionamos o porquê de tudo isso acontecer e isso nos leva a ter
diferentes opiniões a respeito desses acontecimentos.
O que para algumas pessoas é natural para outras é espiritual,
acontecimentos num modo geral em um todo se deve quase sempre pela
percepção espiritual e cultural das coisas. O preletor cita uma manchete no
jornal que diz sobre um raio que caiu em um campo de futebol e que atingiu e
matou apenas jogadores de um dos times. Para algumas pessoas isso pode ter
sido uma obra do acaso, mas para outras foi uma obra de macumbaria, ou
seja, algo no mundo espiritual, isso demonstra que temos diferentes visões a
respeito de determinados assuntos e acontecimentos.
Todos nós temos formas diferentes de observar os fatos ao nosso redor
isso se chama cosmovisão. A cosmovisão explica e define o universo não só
explica o que deve ser.
A nossa cosmovisão determina o que é certo e o que é errado, nós
cristãos acreditamos na palavra de Deus estabelecendo assim um padrão. Já a
sociedade em si acredita em seus próprios caminhos estabelecendo assim
regras para si mesmos.
Podemos dar um exemplo fazendo uma ilustração sobre os óculos, uma
pessoa que não tem uma visão perfeita precisa do auxilio de óculos para que
ela possa enxergar com perfeição. Do mesmo modo somos nós para que
possamos enxergar as coisas espirituais o espírito santo nos mostra como
estão as coisas ao nosso redor fazendo assim termos uma visão e uma
percepção espiritual dos eventos ao nosso redor.
Existem três tipos de visão.
1. A visão Teísta “A visão Cristã”
Deus existe e criou todas as coisas e esta acima da sua criação. Deus
esta presente em sua criação, observamos isso na perfeição da sua obra,
somente um ser com conhecimento inimaginável é capaz de criar coisas com
tanta perfeição.
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2. Secularismo “Natureza “
Não creem em um criador, em seu ponto de vista Deus não existe ou
não pode ser acessível. Suas respostas as suas perguntas são materiais.
3. Visão “Visão Animista “
Tem um ponto de vista totalmente espiritual crendo que existem Deuses
que estão por trás de tudo o que existe.
Palavra Rhema
O Senhor me disse com esse estudo que eu tenho que ter um filtro que é o
Espirito Santo.
1. Principio
Tudo que vemos, temos que olhar com olhos de amor. MT 6 : 22-23
2. Principio
O Senhor controla todas as coisas
3. Principio
O Senhor sempre esta em primeiro lugar a sua palavra.
Tiago 4
“Donde vem as guerras e lutas entre vocês! Por acaso não seria dos
seus próprios deleites! Cobiçam são invejosos e nada tem porque não pedem.
Quando pedem não recebem porque pedem para desfrutar em suas próprias
luxurias. Traidores e traidoras por acaso não sabem que quem ama o mundo
não pode ser amigo de Deus!
Por isso qualquer um que ama o mundo é inimigo de Deus. O acha que a
palavra diz em vão que o Espirito Santo tem ciúmes de nós!
Agradeça a Deus ele resiste ao soberbo mas não resiste ao humilde. Sujeite a
Deus e resista ao diabo para que ele fuja de vocês.
Aproxime se do Senhor e ele se aproximara de vocês limpe as suas mãos do
pecado e vocês com dois caminhos limpem seus corações. Percebam as suas
dificuldades e lamentam se e chorem perante o Senhor e ele irá te exaltar.
Não falem mal uns dos outros porque quem fala mal do próximo julga ser juiz e
entendedor de toda a lei. Há um só juiz e um só legislador.
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Não planeje o seu futuro porque você não sabe o dia de amanhã. Porque a sua
vida é um vapor que aparece e logo se vai.
No lugar você deveria dizer: Se o Senhor quiser que vivamos para fazer aquilo
vamos fazer.
Mas agora vocês se gloriam nas coisas que vocês mesmos presumem se você
sabe fazer o bem e não faz comete pecado.
QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Sobre esta reflexão, o que você entende por Cosmovisão?
2. O que nos ensina Mt. 6. 22-23?
3. Das três visões explicadas no texto, em qual você se identifica?
4. Em sua opinião, qual a visão de mundo por parte da igreja evangélica?
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Uma Reflexão Sobre a Missão Integral da
Igreja
José Marcos
Publicado no Jornal Batista de Pernambuco, do mês de abril de 2011
Fala-se muito sobre este tema e isto me deixa feliz, pois anuncia uma
tendência da igreja moderna. No momento em que o mundo registra mais de
um bilhão de pessoas que vivem sob condições de extrema pobreza; que o
aquecimento global acarreta um número cada vez mais acentuado de
catástrofes naturais, trazendo a miséria repentina a pobres e ricos; que o
planeta agoniza diante das ações inconsequentes do Homem , em fim, um
infindável número e tipos de mazelas pontuadas com facilidades, vejo com
muito bons olhos a necessidade de discussão sobre a missão integral da igreja,
pois ela, a igreja, além de ser a portadora da Verdade que liberta, carrega em
sua estrutura, tanto física quanto humana, um arsenal poderoso que pode ser
usado na promoção do indivíduo.
Olhando para algumas igrejas batistas do nosso estado percebo alguns
avanços obtidos nesta área, mas acredito que o assunto é bem mais complexo
do que se imagina. Quando penso em como as igrejas estão operando o
paradigma da missão integral sinto uma mescla de alegria e medo. Alegria por
ver igrejas abrindo as portas dos seus prédios para projetos sociais; medo
porque vejo que esta ação pode não ser o reflexo de uma mudança de
paradigmas, de fato, sobre a missão integral da igreja, mas apenas mais um
modismo, quem sabe. Sou um amante das mudanças, até por que não há vida
sem elas, mas, só creio nas mudanças que são construídas a partir de um
processo pedagógico sério, comprometido com o tempo, que passa por
reflexão, conta com o envolvimento do povo e é produzido na caminhada de fé.
Não acredito em mudança de fato, sem que antes tenha havido mudança de
paradigmas. Costumo dizer que a mudança só ocorre com relevância quando
respeita um processo que começa na insatisfação, passa pela reflexão,
ocasiona a mudança de paradigmas e, aliada à coragem, chega à mudança
propriamente dita. Sem este caminho não há mudança.
Desconfio que haja líderes e igrejas confundindo missão integral com
ação social e asseguro que, se no mundo dos paradigmas isso não foi mudado,
ação social e missão integral serão duas coisas completamente diferentes.
Definindo rapidamente os termos, a palavra integral quer dizer inteiro, todo,
sem faltas, já a missão da igreja encerra-se no discipulado, isto é, na
pedagogia que resulta em transformação do indivíduo. Aqui, lembro das
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palavras de Paulo Freire, quando diz que a pedagogia é redentora, bem como
das do Senhor Jesus, quando diz que a verdadeira libertação vem do
conhecimento da verdade. Portanto, pensar missão integral da igreja é pensar
na libertação total do indivíduo em sua integralidade (pneuma-bio-psico-social).
Pensar missão integral é mudar fundamentalmente a forma de ver o
Homem e se relacionar com ele. É entender que o “Homem é maior que o
Sábado”. É repensar o valor que damos às estruturas montadas no decorrer
dos anos e que possam estar sufocando a pessoa, que é o alvo final da igreja.
Envolve muito mais do que programas sociais, pois passa por uma reflexão
sobre paradigmas que se transformaram em doutrinas, como o conceito de
templo feito de tijolos transformado em Casa de Deus, ou por uma liturgia que
não atinge o alvo, pois deixou de falar a língua do Homem para falar a língua
do esquema religioso. Você conhece quantas pessoas fora da igreja que
sabem o que significa recessional, pós-lúdio, intróito, vagas procelosas...? Ora,
se nem a nossa linguagem acerta mais o alvo, como vamos ter a pretensão de
relevância? No outro extremo, cresce assustadoramente uma forma de “igreja”
que estilizou a macumba, criou templos imponentes e se autodenominou igreja,
quando, na verdade, ao invés de propor o serviço a Deus, propõe o servir-se
de Deus. Libertar o Homem disso também é tarefa contida na missão integral
da igreja.
Atingir o Homem todo é deixar-se atingir-se pelo Homem todo. Uma
igreja que propõe executar a sua missão integralmente não pode se calar
diante de uma realidade como a nossa, onde meninos de doze anos já traficam
o crack, garotinhas de treze já são mães e as famílias caminham para o
desmantelo total. Não pode se calar, ou se vender, diante de uma classe de
políticos que não têm o mínimo escrúpulo em transformar o Evangelho de
Cristo em máquinas de fazer votos. Não pode não gritar diante de um sistema
de saúde deprimente e de um sistema político corrupto e corruptor. Não pode
não se posicionar diante do que estamos fazendo com o nosso planeta, com as
nossas crianças, com os nossos velhos. Uma igreja que pensa o evangelismo
integral não pode permanecer parada dentro das paredes dos seus suntuosos
templos como se não houvesse vida lá fora.
Termino por trazer um alerta: a missão integral vai muito mais longe do
que o simples fato de se ter projetos sociais na igreja. Ela contempla uma
verdadeira reforma nos nossos paradigmas religiosos que, uma vez
repensados, têm como foco final o Homem redimido, em todas as suas
dimensões.
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QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. Pode uma igreja ser excelente em fazer obras sociais e, mesmo assim, não
ser comprometida com a integralidade da sua missão?
2. Ação social e missão integral podem ser duas coisas completamente
diferentes? Por quê?
3. O que você entende pela frase: “atingir o Homem todo é deixar-se atingir
pelo Homem todo”?
4. Existe alguma diferença entre missão integral, evangelho integral e
evangelho do Reino?
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Evangelho Integral: Reflexão e ação
Arturo Meneses
1
“Evangelho Integral” aparece como uma expressão “chique”. Tem
conquistado espaço em congressos e seminários na América Latina nos anos
mais recentes. O interesse dos líderes cristãos brasileiros neste tema, é um
sinal de esperança para a igreja e para a nossa nação. Contudo, é essencial
que este paradigma missionário transformador da missão, possa converter-se
em boas práticas concretas contextualizadas. Ou seja, “práxis” além de
linguagem bonita e sofisticada na liturgia das igrejas evangélicas. Que tipo de
reflexão poderia nos ajudar a esse respeito? Bom, em primeiro lugar,
começamos com um “mapa conceptual”, onde podemos destacar o seguinte:
1. Concordamos que Evangelho na Bíblia significa: “Boa Nova” e isso, é
esperançoso para um mundo que geme pela sua transformação (Rom.
8:21-22). A etimologia da palavra “integral”, tem a ver literalmente com:
inteiro, correto, completo. (Dicionário Priberam da língua Portuguesa)
2. Evangelho integral é então a boa notícia completa, inteira de Deus em
Jesus, para o ser humano todo. A sua fonte de revelação é a Palavra
inspirada de Deus. (Marcos 1:15). Nossa pretensão não é inventar algo que
já na Bíblia é explícito. Porém, falamos desta concepção completa, pois
sabemos que existe o risco de: “Um evangelho reducionista” que
historicamente, já tem “paquerado” com alguns líderes das igrejas
evangélicas. Essa ideia, tenta reduzir o evangelho aos “rudimentos” de
Cristo. A Bíblia, felizmente, nos exorta a deixar os ensinos básicos e
avançar até a maturidade. (Hebreus 6:1). No Novo Testamento, Paulo
alertou que algumas pessoas estavam querendo perverter o Evangelho
“holístico” de Cristo. Também afirmou determinadamente que “se alguém
anuncia um evangelho diferente, seja anátema” (Gálatas 1:7-8)
3. O paradigma do Evangelho Integral, foi bem articulado no Pacto de
Lausanne, Suíça 1974, Congresso Internacional de Evangelização Mundial.
Reflexões mais recentes desse movimento, foram publicadas no “Manifesto
de Manila”, Filipinas 1989 e “Compromisso da Cidade do Cabo”, África do
Sul 2010.
4. Os pensadores brasileiros, tem contribuído muito na sistematização deste
enfoque. Só no Google Brasil, encontram-se 621,000 referências ao tema.
Embora, nosso interesse é só colocar alguns pontos principais da proposta:
1 Mora em Natal, RN e trabalha como representante para América Latina da Universidade de “Eastern”, com sede em
Pensilvânia, E.U. É uma entidade cristã centrada em valores de Fé, Razão e Justiça para a formação de liderança
integral para um impacto do Reino de Deus no mundo todo.
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 Os impactos do Evangelho Integral, incluem a obediência a Cristo, o
ingresso em sua igreja para um discipulado sério e um serviço
responsável no mundo. Ou seja: Anúncio, Defesa e Confirmação do
Evangelho ---> Filipenses 1:7,15,17.
 A igreja inteira, precisa levar o Evangelho todo ao mundo todo. Essa é
sua Missão Integral. Como falou Roberto Suderman, “missão é a
identificação da tarefa humana com a tarefa de Deus” Então uma igreja
que prega a missão deve, ela própria, ser marcada por Cristo. Por isto,
Suderman também fala que “espiritualidade é a identificação do espírito
humano com o Espírito de Deus”. Missão e espiritualidade, são então
inseparáveis. O seja, uma igreja deve também ser modelo de
Espiritualidade Integral.
 Completando esta triada, adotemos a recomendação do Pacto de
Lausanne de formar líderes nacionais com estilo criativo de liderança.
Não de domínio, mas de serviço, que facilita e não atrapalha a
proclamação plena do Evangelho no poder do Espirito Santo. (Romanos
15:18-19) Isto é Liderança Integral.
Em segundo lugar, lembrando a John Stott: “Compromisso sem reflexão
é fanatismo em ação. Reflexão sem compromisso, é a paralisia de toda
ação”, não fiquemos na teoria e falemos dos possíveis desafios e
compromisso que são necessários para integrar este conceito bíblico, na vida
missionária de nossas igrejas. O convite desta proposta, é assumir em oração
e ação uma transição concreta que faça realidade nosso compromisso com o
Evangelho Integral. Para facilitar o planejamento concreto, usaremos de
referência, a triada antes mencionada: Missão Integral, Espiritualidade Integral
e Liderança Integral.
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Missão Integral Espiritualidade Integral
i
Liderança Integral
 Anuncio, defesa e confirmação do
Evangelho.
 Atinge a pessoa completa e não só “a
alma”.
 Inspirada no modelo e chamado de
Jesus (João 20:21)
 É responsabilidade da igreja toda e
não só dos chamados “missionários”
(Efésios 3:10)
 Focada no impacto qualitativo na
vida, conforme modelo de
crescimento de Jesus. Físico, mental,
social e espiritual (Lucas 2:52)
 Em resumo: Todo o Evangelho para o
ser humano completo, em todos os
lugares e com a presença plena de
Deus (Mateus 28:19)
 É integrada inseparavelmente com a
ação de missão integral. (Missão de
Deus vivificada pelo Espirito de Deus)
 Focada em processos de disciplinas
espirituais e não só em “eventos
isolados”
 Os alvos são abrangentes: Morar
“Em Cristo”; Viver “como Cristo” e
crescer “Até Cristo” e sua plenitude.
 É espiritualidade para a vida (João
10:10) e tem ações para cima
(intimidade com Deus), para fora
(Serviço ao próximo) e para dentro
(inteligência espiritual para crescer
como discípulo)
 Inspira dentro da igreja uma visão
compartilhada e não isolada.
 Alicerçada na intimidade com Deus.
Com tempo e lugar para Deus (Selah)
e não só para o “ativismo estéril”.
 Não se amolda, é comprometida com
a aprendizagem continua. (1 Coríntios
15:58, Rom.12:2)
 Busca sabedoria, afirmação e vitória
na “multidão de conselheiros”
(Prov.11:14; 15:22; 24:6)
 Perfil de liderança servidora como
Jesus (Marcos 10:44-45)
 Segurança que vem de andar em
integridade (Prov.10:9)
Encerramos esta reflexão com uma frase de Frank Outlaw:
“Cultiva um pensamento, se converterá em palavras; cultiva suas palavras, se converterão em ações;
cultiva suas ações, se converterão em hábitos; cultiva seus hábitos, se converterão em caráter;
cultiva seu carácter, obterá um destino”
QUESTIONÁRO PARA REFLEXÃO:
1. Porque é importante a integração de missão integral, espiritualidade
integral e liderança integral na vida missionária da sua igreja?
2. Quais são as fortalezas e áreas de oportunidade da sua igreja em cada
uma dessas três categorias?
3. O que acontece quando a igreja pretende operacionalizar um paradigma
de Evangelho Integral e não tem o estilo de liderança apropriado?
4. Quais seriam as ações concretas de um plano para operacionalizar o
Evangelho Integral na sua igreja?
i Recomendo os livros de Richard Foster: Celebração da Disciplina e Clássicos Devocionais que contém um estudo
profundo de 13 disciplinas espirituais, acompanhadas de 52 devocionais clássicos dos teólogos mais conhecidos na
história da fé.
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Espiritualidade e Espiritualidades
Ricardo Barbosa de Souza
BUSCANDO UMA DEFINIÇÃO
Espiritualidade é o tema da agenda religiosa nesta virada de milênio. Em
todos os encontros, debates e discussões ela está presente. Não apenas no
universo teológico, mas cultural, empresarial, econômico, etc. Todos
conversam sobre o assunto, falam de suas experiências, descrevem seu
momento espiritual. Empresas preocupam-se com o estado espiritual dos seus
executivos, cursos e palestras são oferecidos, livros e revistas especializados
no assunto surgem a cada dia. Mas, como diz o Rev. Eugene Peterson,
quando encontramos um grupo de homens conversando sobre colesterol é
porque estão preocupados com sua saúde, alguma coisa não vai bem, doutra
forma, não conversariam sobre o assunto. Quando vemos e ouvimos muita
gente conversando e lendo sobre espiritualidade é um mau sinal, a luz
vermelha está acesa, é um tema que preocupa, que não está de todo resolvido,
há inquietações.
Antes de qualquer coisa é bom lembrar que quando falamos de
espiritualidade não estamos nos referindo apenas à obra do Espírito Santo,
mas também aos movimentos do espírito humano na busca por identidade e
significado. Neste sentido podemos falar de espiritualidades. Não se trata de
uma realidade, mas de várias, com expressões e formas diferentes.
Talvez, nunca vivemos na história um período tão marcado pela busca
do sagrado e por uma abertura espiritual como vivemos hoje. Isto se vê mais
acentuadamente na cultura ocidental que durante quatro séculos se viu
reprimida pela ditadura racional. O racionalismo determinou o sentido e o
significado da realidade humana e, qualquer expressão que não pudesse ser
definida pela lógica da ciência, era considerada falsa. O que vemos hoje não é
outra coisa senão uma revolução do espírito humano protestando contra a
repressão que viveu sob a bota do iluminismo.
A segunda metade deste século foi marcada por várias rebeliões e
protestos. O movimento “hippie” dos anos 60 e 70 que protestou contra a
repressão moral, a guerra do Vietnã, consumismo, levantando a bandeira do
amor livre, do uso das drogas, da quebra dos preconceitos e tabus. O
movimento feminista que lutou pelos direitos das mulheres, contra uma
sociedade machista que não apenas oprimia as mulheres, mas impunha um
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modelo social masculino. No campo político tivemos a “perestroika” e a
“glasnost”, a queda do muro de Berlim, o colapso das estruturas políticas
totalitárias e o surgimento do neoliberalismo com a promessa de uma
economia globalizada.
O surgimento dos livros de auto ajuda e a descoberta da inteligência
emocional abriu um novo espaço nos centros que até pouco tempo atrás eram
dominados pelos tecnocratas. No mundo evangélico tivemos a renovação
carismática dos anos 60, o movimento da música “gospel” no final dos anos 80
e 90, e o surgimento das igrejas neo pentecostais ou pós pentecostais com as
promessas de saúde, riqueza e felicidade instantâneas.
Tudo isto são manifestações de protesto do espírito humano, e o
protesto tinha um endereço: a opressão do totalitarismo racional. A cultura
moderna gerou um espírito moderno que considerava como verdadeiro
somente aquilo que podia ser comprovado cientificamente e compreendido
racionalmente. O protesto veio nos dizer que existe uma verdade mais
profunda do que a leitura superficial do racionalismo impessoal. Era isto que
Pascal protestou quando disse que “o coração tem razões que a própria razão
desconhece”; foi também o que a revolução psicoterapeuta iniciada por Freud
no final do século passado quis mostrar.
O DESAFIO DA CULTURA MODERNA PARA A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ
A Reforma Protestante ancorada no renascimento e posteriormente no
iluminismo, trouxe, sem dúvida, uma grande contribuição e um avanço
teológico para o cristianismo. Libertou a igreja da opressão da ignorância e da
superstição do final da idade média. O desenvolvimento de uma teologia
sistemática deu substância para uma fé e uma compreensão mais adequada
da experiência espiritual. No entanto, a exigência de uma fé articulada
racionalmente acabou reprimindo os anseios do espírito e deu a teologia
sistemática o honroso título de “rainha das teologias”. Conhecer a Deus
implicava em dominar os dogmas da fé. Conhecimento passou a ser um
atributo exclusivo da razão. Enquanto que nos primeiros séculos da era cristã,
tanto para os pais da igreja como para os pais do deserto, o conhecimento e o
relacionamento eram inseparáveis, para a era moderna tornaram-se coisas
distintas.
Para os pais da igreja, conhecer a Deus implicava em amá-lo. A teologia
e a oração não eram tarefas distintas. No período pré-moderno, não vemos
uma separação acentuada entre o conhecimento e relacionamento. Gregório, o
Grande do século VI já afirmava que “amor é conhecimento”. Se olharmos para
as obras de Irineu e Orígenes do segundo e terceiro século, Agostinho e os
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irmãos da Capadócia do quarto século; Benedito e Gregório do sexto; Simeão,
o Novo Teólogo do décimo; Bernardo da Clareval e Ricardo de São Victor do
décimo-segundo; Boaventura do décimo-terceiro e Walter Hilton do décimo-
quarto vemos que para todos eles, conhecimento e amor, teologia e
relacionamento eram a mesma coisa. Sua teologia não era outra coisa senão
sua própria experiência com Deus. “As Confissões” de Agostinho, as “Regras
Monásticas” de Benedito de Núrcia, o “Cuidado Pastoral” de Gregório, o
Grande, as “Orações” de Simeão, os comentários de Cantares e outros escritos
der Bernardo, todos eram expressões de sua fé pessoal, de seu amor por
Deus, de sua vida de oração. Não havia o divórcio entre teologia e
espiritualidade. Pacômio, do século onze afirmou que: “orar é fazer teologia”. A
teologia emergia da oração. Não eram diferentes.
O divórcio entre a teologia e a espiritualidade surge no fim da idade
média com o escolasticismo. Se de um lado Gregório afirmava no século sexto
que amor é conhecimento, agora Tomás de Aquino no século décimo terceiro
distinguia o conhecimento de Deus que surgia do amor e relação com ele,
daquele que era propriamente científico e dogmático. A partir do século
dezesseis e dezessete vemos que a separação da teologia da vida espiritual
ganha corpo na medida em que ela torna-se cada vez mais subdividida. O
iluminismo gerou um novo tipo de teólogo: aquele que nunca orou.
Chegamos no final do século vinte, depois de duas guerras mundiais e muitos
outros conflitos de natureza política, econômica e étnica, com um sentimento
de fracasso, vazio e descrença para com os modelos políticos e teorias
racionais. Surgem neste contexto vários movimentos espirituais, muitos de
natureza esotérica, buscando aquilo que as grandes ideologias racionalistas
falharam em proporcionar ao ser humano. É neste contexto que o cristianismo
enfrenta seu grande desafio. De um lado, há o desafio teológico, de preservar
fundamentos, estabelecer alicerces, construir as bases. De outro, o desafio
espiritual, de considerar as demandas e anseios do espírito, o lugar e
significado da oração e do relacionamento pessoal com Deus. Segundo o Prof.
James Houston, o desafio que temos é o de buscar uma teologia mais
espiritual e uma espiritualidade mais teológica.
TEOLOGIA MAIS ESPIRITUAL
Precisamos de uma teologia que nos desperte para um relacionamento
pessoal e verdadeiro com Deus. Noutras palavras, uma teologia que nos
aponte o caminho da oração, que seja mais pessoal e afetiva, e não apenas
acadêmica. É lamentável constatar que muitos estudantes que entram para um
seminário motivado por um profundo amor por Deus e desejo de servi-lo,
depois de quatro ou cinco anos de estudo, saem orando menos, afetivamente
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mais atrofiados e mais limitados relacionalmente. Uma teologia que não nos
motive para a oração, certamente não cumpre com seu papel.
Deus nos chama para participarmos da eterna comunhão que o Pai, o
Filho e o Espírito Santo gozam. Este relacionamento é a razão primeira e
última da teologia. Quando perguntaram para Jesus qual era o maior de todos
os mandamentos, sua resposta apontou para uma dimensão relacional e
afetiva: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós
mesmos.” Este era o fim da teologia, a razão de ser dos mandamentos e dos
profetas. O apóstolo João nos dá a resposta mais simples e ao mesmo tempo
profunda sobre o conhecimento de Deus. Ao afirmar que “Deus é amor” ele
define a natureza pessoal do Deus Bíblico.
Uma teologia mais espiritual deve ocupar-se com a conversão das
emoções e não somente com a conversão das convicções. Julia Gatta,
escrevendo sobre o pensamento de Walter Hilton, místico cristão que viveu na
Inglaterra no século XIV e trabalhou este tema da conversão das emoções,
afirma: “... A totalidade do ser está envolvida no processo de união com Cristo.
Tanto nossa mente como nossos sentimentos precisam caminhar em direção à
conversão, à progressiva purificação e, finalmente, à transformação. A
renovação intelectual, se não é mais fácil, no mínimo é um assunto
relativamente mais simples, comparado com a redenção da afetividade. A
emoção, especialmente emoção religiosa, é um fenômeno complexo. O fruto
do Espírito não pode ser igualado a um simples “sentir-se bem”...Como em
todos os outros aspectos da natureza humana, a afetividade precisa ser
interpretada, disciplinada e, finalmente, redimida.” O racionalismo preocupou-
se com as convicções. Hoje vemos que a fé tem uma complexidade emocional
maior que imaginamos.
Uma teologia mais espiritual deve também resgatar a figura do “santo” e
do “sábio” ao invés de valorizar apenas o “teólogo” ou o “PhD”. O “santo” ou o
“sábio” que pode ser também chamado de “pai” ou “mentor” é alguém que,
além de possuir o domínio da ciência, possui também a sabedoria que penetra
os segredos da alma. Santo Agostinho fala do “duplo conhecimento”, de Deus
e de nós mesmos. Ele escreve: “Permita-me conhecer a ti ó Deus, permita-me
conhecer a mim mesmo, isto é tudo”. Para Agostinho, conhecer a Deus implica
em conhecer a nós mesmos. Jesus foi um Mestre que não apenas expunha as
Escrituras e revelava a natureza do Pai, como também expunha o espírito
humano e revelava os segredos mais íntimos do coração. Jesus era um santo,
um sábio, um mestre, um mentor. A partir de Cristo podemos perguntar: Quem
é o verdadeiro teólogo? Aquele defendeu uma brilhante tese de doutorado,
escreveu o melhor livro, estudou nas melhores escolas ou aquele que, em
Cristo, dá sentido à vida confusa e desestruturada das pessoas?
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Uma teologia mais espiritual deve nos conduzir a dar mais valor aos
acontecimentos simples e rotineiros e não apenas aos grandes e glamorosos.
Eugene Peterson diz que temos uma tendência a olhar para a vida com a ótica
jornalística. Buscamos o grande, valorizamos o extraordinário, exaltamos o
glamoroso. Mas as páginas dos evangelhos e as melhores tradições cristãs
nos ensinam que a graça de Deus atua nos acontecimentos simples e
rotineiros do dia-a-dia. Precisamos de uma teologia que nos ajude a perceber e
valorizar aquilo que Deus está realizando em nós. O salmista percebe o valor
das coisas pequenas e simples ao dizer: “Senhor, não é soberbo o meu
coração, nem altivo meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de
coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a
minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe,
como essa criança é a minha alma para comigo.”
Uma teologia mais espiritual requer também uma linguagem mais
espiritual e menos técnica. Não me refiro a uma linguagem espiritualizada, mas
uma linguagem que desperte os desejos do coração, que convide à intimidade.
Grande parte da Bíblia trabalha com uma linguagem poética ou narrativa. O
apóstolo Paulo procura sempre uma forma pessoal de comunicar a verdade do
evangelho. Não se trata de reduzir ou simplificar. Sempre lutamos contra a
preguiça intelectual, mas precisamos reconhecer que há uma outra linguagem
menos técnica, mais íntima; menos professoral e mais pessoal para comunicar
o evangelho.
UMA ESPIRITUALIDADE MAIS TEOLÓGICA
Se de um lado necessitamos de uma teologia mais espiritual, que se ocupe
com todo o homem, integral, por outro, precisamos também de uma
espiritualidade mais teológica, que estabeleça limites, que defina os contornos
e que dê a base. Reconhecemos que há um protesto do espírito humano, uma
busca pelo íntimo, pelo sagrado, por um significado que transcenda nossas
narrativas racionais, que penetre e toque na alma humana. No entanto,
reconhecemos também que uma espiritualidade esotérica, narcisista, centrada
no ser e no bem estar, mais fundamentada na psicologia e antropologia
moderna e não na teologia, também não irá preencher as lacunas do homem
criado a imagem e semelhança de Deus. Por uma espiritualidade mais
teológica, reconhecemos que necessitamos de:
1. Uma espiritualidade trinitária. A doutrina da Trindade é o fundamento
para uma espiritualidade cristã e teologicamente bíblica. Ela nos revela um
Deus que nos convida para participar da comunhão que o Pai, Filho e Espirito
Santo gozam desde toda a eternidade. Ao ser criado à imagem e semelhança
de Deus, fomos criados para a comunhão trinitária. Em sua “oração
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sacerdotal”, Jesus diz: “Para que sejam um, como és tu ó Pai em mim e eu em
ti, sejam eles também em nós…”. O convite de Jesus é para que a comunhão
que o Filho e o Pai gozam seja também compartilhada por aqueles que foram,
em Cristo, reconciliados com Deus. É por meio da doutrina da Trindade que
entendemos a natureza da pessoa e da espiritualidade cristá. Os pais da antiga
Capadócia diziam: “o ser de Deus só pode ser conhecido através de
relacionamentos pessoais e do amor pessoal. Ser significa vida e vida significa
comunhão”. Não há conhecimento possível do Filho sem a participação do Pai,
e nem há possibilidade de conhecimento do Pai sem a revelação do Filho. Se
não entendemos a comunhão no ser trinitário de Deus, não podemos conhecer
a Deus. “Foi desta maneira que o mundo antigo ouviu pela primeira vez que é a
comunhão que forma o ser, que nada existe sem ela, nem mesmo Deus” (John
Zizioulas).
2. Uma espiritualidade cristocêntrica. O propósito da espiritualidade
cristã é o nosso crescimento em direção a Cristo, ser conformados à imagem
de Jesus Cristo. Não se trata de um ajustamento sociológico ou psicológico, de
sentir-se bem emocionalmente ou socialmente, mas de um processo de
crescimento e transformação. Para Paulo isto significa caminhar em direção à
perfeita varonilidade, à medida de estatura de Cristo. Ele mesmo afirma que a
vida encontra-se oculta em Cristo e, por esta razão, devemos buscar as coisas
do alto onde Cristo vive. O fim da espiritualidade cristã esta numa humanidade
madura e completa em Cristo.
3. Uma espiritualidade comunitária. Uma vez que a natureza de Deus é
relacional, a natureza da pessoa regenerada em Cristo é igualmente relacional.
A conversão é a transformação do individuo em pessoa. O individuo é o ser
encapsulado em si mesmo, que se realiza na auto promoção, é narcisista,
concebe a liberdade apenas em termos de autonomia e independência. A
pessoa é o ser em comunhão, que se realiza nas relações de afeto e amizade,
é altruísta, concebe a liberdade em termos de entrega , obediência e amor auto
doado.
4. Uma espiritualidade centrada na Palavra de Deus. Como já vimos, o
propósito da espiritualidade cristã é o nosso crescimento em Cristo. É o
processo no qual somos transformados pela Palavra de Deus participando
cada vez mais da vida em Cristo. O apóstolo Paulo diz que uma vez que fomos
ressuscitados com Cristo, nossa vida está oculta em Cristo. Portanto, a vida
espiritual não é um processo de ajuste aos valores sociais dominantes, mas um
caminho que envolve crise e transformação, onde a tensão entre a Palavra de
Deus e o mundo estarão sempre presentes.
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Esta tensão se dá através de dois movimentos: O primeiro é o confronto
entre a Palavra de Deus e a ordem social, moral e religiosa dominantes.
Sabemos que a leitura e meditação nas Sagradas Escrituras nos consola,
edifica e conforta, mas também nos desafia, provoca e confronta. Este
confronto exige um diálogo constante entre a Palavra de Deus e o mundo que
vivemos. Paulo escreve aos romanos e roga para que não sejam conformados
com o mundo, mas transformados pela renovação da mente. Noutra ocasião,
ele fala da necessidade de termos a “mente de Cristo”, ou seja, pensarmos
com os mesmos critérios, valores e princípios que Cristo pensava.
Um segundo movimento é o confronto entre a Palavra de Deus e o
nosso mundo interior. Todos nós trazemos do nosso passado lembranças,
memórias e imagens que turvam nossa compreensão de Deus e de nós
mesmos. São sentimentos negativos de abandono, medo, solidão que formam
em nós uma auto-imagem também negativa de inadequação e rejeição, que
por sua vez compromete nossa imagem de Deus. Carregamos conosco
mágoas, ressentimentos, invejas e ciúmes que nos induzem a usar a Deus ao
invés de sermos usados por ele, que provocam uma relação confusa e
manipuladora ao invés de uma entrega serena e confiante. É preciso deixar a
Palavra de Deus iluminar nosso mundo interior, transformá-lo em Cristo,
restaurar nossa vida à imagem de Deus e resgatar a imagem do Deus revelado
em Cristo Jesus.
A Bíblia como instrumento de transformação e crucificação exige de nós
uma aproximação devocional. Reverência e silêncio são posturas básicas de
quem deseja ser consolado, confrontado e transformado. É ela quem
estabelece o diálogo entre nós e o mundo, seja o mundo exterior ou interior, e
nos transforma em Cristo.
5. Uma espiritualidade missionária. A igreja não tem uma missão que seja sua
própria, ela participa na “Missio Dei”, da mesma forma com Cristo afirma que
não tem uma palavra, juízo ou missão que seja sua, mas que sua comida e
bebida consiste em fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra. Oração e
missão precisam caminhar juntas. Oramos para que nossos caminhos sejam
convertidos nos caminhos de Deus, para que nossos pensamentos sejam
transformados, para que nossos conceitos de justiça, direito, verdade sejam
conformados com os de Deus. Frequentemente confundimos os nossos
conceitos com os de Deus, achamos que temos uma missão, que conhecemos
a natureza da justiça e do direito divino.
A tentação no deserto foi uma experiência definidora da vocação e
missão de Jesus. Sua rejeição aos caminhos propostos por Satanás que,
segundo Nouwen, apontam para o imediatismo, o mágico, o popular, o
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espetacular, para o ser poderoso, próspero, apresenta uma nova forma de ver
a missão e realizar a obra de Deus. Jesus rejeita as alternativas que derivam
do poder, para abraçar um projeto que nasce da graça e se encarna no amor
de Deus para com os homens.
Não há como separar a espiritualidade de Jesus de sua missão. Num
dos momentos mais críticos de sua vocação, Jesus diz a Filipe e André: “Agora
está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas
precisamente com este propósito vim para esta hora”. A agenda da oração de
Jesus foi determinada pela sua vocação e não pelas necessidade pessoais.
Qualquer um, diante das angustias da alma, oraria para que fossem aliviadas,
curadas, redimidas. Jesus, no entanto, sabe para que veio, reconhece que não
é ele que determina a pauta de suas orações. Então ora e diz: “Pai, glorifica o
teu nome”. Era a glória do Pai, o cumprimento do seu propósito, a missão que
recebera dele, que determinou sua oração. O objeto da oração de Jesus era o
Pai, não ele próprio. Era a missão do Pai, não a sua.
CONCLUSÃO
O mundo, na virada do milênio, tornou-se mais espiritual, mais aberto ao
mistério, mais psicológico, íntimo, emocional. Antes, o tribunal que julgava as
questões humanas, era o tribunal da razão. Era preciso estabelecer a verdade
pelo argumento da lógica. Cria-se naquilo que era racionalmente demonstrado.
Hoje, o tribunal que julga as questões humanas é o tribunal das emoções. A
verdade é determinada mais pelo sentimento do que pela lógica da razão. Hoje
se crê naquilo que é emocionalmente compensador.
O culto que herdamos dos reformadores tem como centro as Escrituras e sua
exposição cuidadosamente elaborada com a ajuda das ferramentas exegéticas
e hermenêuticas. O culto moderno transferiu seu eixo central, deixou de lado
as escrituras e a exposição e colocou no lugar o louvor, geralmente com
músicas de letra pouco consistentes e melodias que apelam para as emoções.
Além da música, temos também a ministração de curas interiores, testemunhos
de prosperidade e exorcismos.
Os livros que mais vendem são os que tratam de temas relacionados com
guerra espiritual, cura interior, conflitos relacionais. O interesse pela teologia,
pela reflexão séria e multidisciplinar, pelo estudo cuidadoso das escrituras vem
rapidamente perdendo seu espaço e apelo para as novas gerações.
Certamente, o saudosismo não nos ajudará a responder as questões
que se colocam diante de nós. A resposta não está em voltar atrás, em redimir
o passado. Temos novas perguntas diante de nós, novas demandas pastorais
e novos desafios teológicos. É preciso reconhecer que por muito tempo
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reduzimos o homem todo a um ser racional, que o divórcio da teologia
sistemática com a teologia espiritual nos conduziu a uma espiritualidade mais
cognitiva e menos afetiva e pessoal. Precisamos reconhecer que o propósito
da teologia não é o de dar-nos mais um título de Phd e tornar nossa linguagem
mais técnica e confusa, nem tampouco elevar nosso ego e tornar-nos mais
narcisistas. O propósito da teologia é o de nos tornar sábios para a salvação,
de dar sentido (emocional, psicológico, moral e intelectual) a vida.
O verdadeiro teólogo não é aquele que escreveu livro mais volumoso, a
tese mais complexa, o discurso mais erudito, mas aquele que encontrou o
caminho da comunhão com Deus, que aprendeu a amar o Senhor de todo
coração alma e força, que ama ao próximo como a si mesmo, que ora, que
conhece a Deus e conhece a si próprio e que ajuda os outros a encontrarem o
sentido de suas vidas e tornarem-se sábios para a salvação em Cristo.
Fonte: monergismo.com
QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO:
1. É Possível separar espiritualidade e missão?
2. Porque é importante desenvolvermos uma espiritualidade mais teológica?
3. Quais os perigos de não praticarmos uma teologia mais espiritual?
4. Para você, que é Espiritualide?
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Apêndice - Pacto de Lausanne
Introdução
Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150
nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial,
em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos
com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com
os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em
nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e desafiados
pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as
boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-nos a
obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e
fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé
e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto.
1. O Propósito de Deus
Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do
mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o
propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si,
enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para
estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu
nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso
chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado
ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos
com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho
continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro
conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.
2. A Autoridade e o Poder da Bíblia
Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras
tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única
Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra
infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para
cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda
a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável.
Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de
Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira
sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção
cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.
Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe
Camarão).
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3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo
Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista
uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização.
Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus
através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal
conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a
verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho,
todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de
que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus
Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo
como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os
homens. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos.
Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos
os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam.
Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se
à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como “o Salvador do mundo”
não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo,
serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em
Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de
pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e
Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo
foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo
joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.
4. A Natureza da Evangelização
Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por
nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e
Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a
todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é
indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo
cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a
evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico
como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele
pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do
evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus
ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos,
tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados
da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um
serviço responsável no mundo.
Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe
Camarão).
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5. A Responsabilidade Social Cristã
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,
devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a
sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção
de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma
dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não
explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos
algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente
exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com
Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação,
afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos
parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de
nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso
próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação
implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de
opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a
injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem
de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também
divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que
alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas
responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.
6. A Igreja e a Evangelização
Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como
o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e
sacrifical. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na
sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrifical da igreja a evangelização
é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o
evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito
divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o
evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada
pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai
o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas
pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em
promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que
uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular,
nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.
Texto Base do Congresso Alef 2013
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  • 2. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 2 2 ÍNDICE 1. Agradecimentos, 04 ----------------------- 2. Nossa proposta e Desejo, 05 ---------------------------------- 3. O Evangelho Integral, 06 ------------------------------ 4. Missio Dei X Missio Ecclesiae, 09 ---------------------------------------- 5. O Evangelho Todo Para o Homem Todo em Todas as Comunidades, 14 -------------------------------------------------------------------- 6. Evangelho Que Transforma, 19 -------------------------------------- 7. Evangelho sem Sal X Evangelho Integral, 22 ---------------------------------------------------- 8. Igreja, Cooperação e Missão, 25 -------------------------------------- 9. Cosmovisão, 27 ------------------ 10. Uma Reflexão Sobre a Missão Integral da Igreja, 30 ---------------------------------------------------------------- 11. Evangelho Integral: Reflexão e ação, 33
  • 3. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 3 3 ------------------------------------------------- 12. Espiritualidade e Espiritualidades, 36 ---------------------------------------------- 13. Apêndice – Pacto Lausanne, 45 ---------------------------------------- 14. Colaboradores, 53 ------------------------- 15. Convite aos Leitores, 54 -------------------------------
  • 4. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 4 4 Agradecimentos gradecemos a todos que cooperaram para a realização desse texto de grande relevância para as igrejas aqui em Natal como em todo o Brasil visto que o mesmo está disponível para downloads no Blog da ALEF. Aos que enviaram seus artigos como também os amados que disponibilizaram seus textos em Sites e Blogs, nosso fraterno carinho e agradecimento em Cristo Jesus, nos qual nos chamou para essa árdua, mas ao mesmo tempo prazerosa missão. Esperamos que este conjunto de artigos possa contribuir de maneira saliente, que possa ser enriquecedor. O mesmo poderá ser compartilhado com pastores, líderes e toda a comunidade do Cristo. ALEF. Associação dos Líderes Evangélicos de Felipe Camarão. A
  • 5. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 5 5 Nossa Proposta e Desejo Pensando no crescimento e ampliação da visão da liderança da Igreja Brasileira, é com grande alegria e satisfação no Senhor Jesus que equipe organizadora do primeiro congresso da ALEF juntamente com seus colaboradores disponibiliza o texto base para reflexão sobre o tema Evangelho Integral. Com isto, compreendemos que o congresso não é um evento, mas um processo onde os participantes são desafiados a uma leitura e reflexão antes e pós-congresso. Nossa proposta é que pastores e líderes como os demais participantes possam alargar sua compreensão sobre o tema Evangelho Integral. Este material estará disponível em redes sociais, Blogs e sites para assim facilitar o acesso ao mesmo. Seu conteúdo é profundo e enriquecedor. Este poderá ser usado em seminários, escolas bíblicas, pequenos grupos, treinamentos de capacitação ministerial e outros. Desejamos a todos uma ótima leitura e reflexão para a glória de Deus. Que o Senhor nos Ajude. Marcos Aurélio Dos Santos
  • 6. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 6 6 O Evangelho Integral Ed René Kivitz O paradigma da missão integral O movimento da missão integral, ou teologia da missão integral, popularizado após o Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado em Lausanne, Suíça, em 1974, ganhou as ruas no Brasil somente depois que o Pacto de Lausanne foi publicado em português, dez anos após sua elaboração. Desde então a expressão missão integral ficou restrita ao debate a respeito da relação entre evangelização e responsabilidade social, e chegou ao nosso dia tão reduzido que qualquer igreja que tem uma creche acredita estar “fazendo missão integral”. Evidentemente isso é uma distorção do conceito em seus termos originais, até porque o Pacto de Lausanne é uma síntese de muitos outros documentos e de um riquíssimo debate teológico, pastoral e missional que correu pela América Latina, inclusive anos antes de Lausanne, como por exemplo, no primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização (CLADE I), em Bogotá, 1969, e no surgimento da Fraternidade de Teólogos Latino- americanos (FTL), em Cochabamba, 1970. O fato é que missão integral se tornou um conceito atrelado a ideias como (1) tarefa, pois é missão, e nesse sentido é menor do que o conceito de vivência ou experiência pessoal e comunitária da fé; (2) ação proselitista: ação que visa a conversão; (3) ação em favor dos pobres: diaconia, projetos sociais, atuação para mudanças das estruturas sociais; e a (4) polarização ou integração dos temas evangelização e responsabilidade social da igreja. Em outras palavras, o senso comum associa missão integral com evangelização somada à ação social, com uma perspectiva reducionista, apesar de lógica: comprometa-se com as causas da justiça social tanto para adquirir o direito de anunciar o Evangelho quanto para dar credibilidade às suas ações evangelísticas, pois o que importa mesmo é a conversão das pessoas e o crescimento da igreja. Uma reflexão a respeito do conceito mais fundamental da teologia ou movimento da missão integral, expresso no tema central do Pacto de Lausanne, a saber, o evangelho todo para o homem todo, nos levará muito além das fronteiras definidas pela relação evangelização e responsabilidade social.
  • 7. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 7 7 O paradigma do evangelho integral Para quebrar o paradigma missão integral = evangelização + responsabilidade social, proponho a substituição do termo missão integral por evangelho integral. Por evangelho integral quero dizer: . O evangelho como lente para leitura da vida em sua totalidade . O evangelho aplicado a todas as dimensões do humano . O evangelho aplicado a todas as dimensões da vida . O evangelho aplicado a todas as dimensões das relações humanas . O evangelho aplicado a todas as dimensões da vida em sociedade . O evangelho como realidade que afeta todas as dimensões do universo criado Observe que alguém facilmente diria que um projeto social está relacionado com missão integral, mas dificilmente consideraria um encontro de casais realizado num hotel 5 estrelas como um projeto de missão integral. A organização de um centro comunitário é imediatamente percebido como ação de missão integral, mas um sarau com muita música e leituras de Fernando Pessoa e Adélia Prado exigiria muita explicação para que fosse associado à missão integral. O senso comum diria que o médico que dedica um final de semana para trabalho voluntário numa comunidade da periferia da cidade está fazendo missão integral, mas diria que o mesmo médico, cobrando R$ 700,00 por uma consulta em seu consultório, está realizando seu trabalho secular (não religioso), ou, no máximo, ganhando dinheiro para financiar projetos de missão integral. É urgente ampliarmos o horizonte de reflexão. Extrapolar os limites definidos pelo debate evangelização/responsabilidade social e mergulharmos nas implicações das relações sagrado/profano e religioso/não religioso para a vivência da espiritualidade cristã pessoal e comunitária. O sagrado e o profano Os termos sagrado e profano são amplamente discutidos pelos teóricos das ciências da religião, como Mircea Eliade, Émile Durkheim e Rudolf Otto. Para esses teóricos, sagrado é basicamente aquilo que porta uma manifestação do divino ou do transcendente, que Otto, por exemplo, chama de numinoso ou mysterium tremendum, e Eliade considera ser de uma ordem diferente ou de uma realidade que não pertence ao mundo natural. Nesse
  • 8. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 8 8 sentido, profano não está necessariamente associado a sujo, demoníaco, diabólico ou oposto a Deus. Profano é apenas e tão somente toda a ordem natural que não comporta uma manifestação ou relação com o divino, sobrenatural ou transcendente. Em termos simples, a partir de uma perspectiva religiosa cristã, considero sagrado tudo aquilo que está de acordo com o caráter e os propósitos de Deus ou que a Deus esteja relacionado de maneira direta e intencional. Profano seria, então, aquilo que é neutro ou até mesmo está em oposição ao que é sagrado, isto é, aquilo que não está de acordo ou não está relacionado de maneira intencional e direta com o caráter e os propósitos de Deus. A relação das expressões religioso/não religioso e sagrado/profano nos remete imediatamente à compreensão de que, assim como existe uma dimensão sagrada no espaço não religioso, existe também uma dimensão profana no espaço religioso. O chamado cristão é para que todas as dimensões da vida sejam santificadas tornadas sagradas, isto é, desenvolvidas e experimentadas de modo a se conformarem ao caráter e aos propósitos de Deus. O evangelho integral é a expressão que passo a usar para me referir ao desafio de sujeitar a Deus todas as dimensões da existência humana. Voltando aos exemplos anteriores, um encontro de casais realizado num hotel cinco estrelas, um sarau com muita música e leituras de Fernando Pessoa e Adélia Prado, e a consulta médica ao valor de R$ 700,00 podem perfeitamente ser atividades sagradas, isto é, desenvolvidas de acordo com o caráter e os propósitos de Deus, sendo, portanto, vivências do evangelho integral. O espírito da coisa A expressão evangelho integral representa melhor o espírito de Lausanne e do movimento da missão integral, a saber: o evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens. QUESTINÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Qual a importância do pacto de Laussane para a igreja Brasileira? 2. Quais os desafios que podemos encontrar para a igreja na perspectiva do Evangelho integral? 3. Qual deve ser nossa visão do sagrado?
  • 9. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 9 9 4. O que deve significar para nós a expressão: O evangelho todo, para o homem todo, para todos os homens? Missio Dei X Missio Ecclesiae Romildo Gurgel Acho que não é fácil entender o conceito de missão sem que haja um atrelamento entre a missão de Deus e a missão da Igreja. Não há quem perceba que o assunto de missão acontece entre duas direções se é que podemos fazer alguma distinção. Numa direção, missão está muito presa às ações da Igreja, quanto a sua existência missiológica. Aqui, serve aos seus ministérios bem ordenados, desenvolvem programas, criam projetos na intenção não só de manter, mas principalmente de expandir-se como Igreja. Um dos conceitos que mais contribui para a expansão nessa argumentação é expandir através do plantio de Igrejas (plantatio ecclesiae), supostamente quando assim acontece em áreas onde não exista igreja no local. Noutra direção, missão caracteriza também aquelas atividades e projetos que tem em vista um publico bem mais amplo, além dos vínculos da instituição, cujo foco situa-se nas estruturas sociais desfavorecidas que apresentem sinais de injustiça e discriminação. Em 1974, na cidade de Lausanne – Suíça realizou-se o Congresso Internacional de Evangelização Mundial que contou com a participação e o tom dos teólogos latino-americanos, e, dentre eles, René Padilla. O documento final desse congresso foi denominado Pacto de Lausanne. Nele, fica claro que o Evangelho deve alcançar o ser humano, em sua totalidade: A mensagem da salvação implica também em uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, opressão e discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que prevaleçam. Quando alguém recebe a Cristo, nasce de novo no seu reino e, conseqüentemente, deve buscar não somente manifestar como também divulgar a sua justiça em meio a um mundo ímpio. A salvação que afirmamos usufruir deve produzir em nós uma transformação total, em termos de nossas responsabilidades pessoais e sociais.
  • 10. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 10 10 Perceba que dentro deste aspecto de reino o sentido de missão adquire um caráter mais testemunhal da fé do que de proclamação ou anúncio unicamente. Assim, cabe aqui citar um texto escrito por Tiago, o irmão de Jesus: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se sem porém lhe dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta”. (Tiago. 2.14-17 NVI) Lembramos ainda aquilo que foi dito pelo Senhor Jesus registrado em Mateus 25:35ss “tive fome (...) tive sede (...) era estrangeiro (...) estava nu, (...) adoeci, (...) estive na prisão, (...)”. As palavras de Tiago 2:14-17 corroboram com estas ditas por Jesus, mesmo assim, devemos ter o cuidado para não super valorizar as obras a ponto de tê-la como meio de salvação, lembrando sempre as palavras do apóstolo Paulo bastante conhecida em Efésios 2:8-9 “Pela graça sois salvos mediante a fé, isto não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras para que ninguém se glorie”. Sendo assim, parece razoável que a população marginalizada necessita de cristãos que estejam comprometidos com o que é, de fato, a pregação do Evangelho, dentro de uma perspectiva bem mais ampla. Ela necessita de “pessoas que creem que o propósito de Deus é unir todas as coisas sob a autoridade de Cristo e que definem o significado de sua própria existência à luz desse propósito” (PADILLA, 2009, p. 53). Ou seja, ela necessita de cristãos que vivam uma vida pessoal e comunitária voltadas para o reino e a justiça de Deus. A missão da igreja não é separar-se do mundo, mas ser enviada ao mundo. “Portanto, ide por todo o mundo e pregai o evangelho” (Marcos 16:15), e “Ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria, e até os confins da terra” (Atos 1:8). MISSIO DEI No ano de 1932, Karl Barth foi o primeiro teólogo a declamar sobre missão como atividade articulada por Deus em uma conferência missiológica em Brandemburgo na Alemanha. Se existe uma missão, essa missão é a de Deus (missio Dei). No entanto o pensamento de Barth atingiu auge em 1952 na conferência de Willingen onde foi revivenciado o termo “missio Dei”. Foi de lá que a ideia de missio Dei emergiu pela primeira vez de uma forma mais esclarecida. Compreendeu-se a missão como derivada da própria natureza de
  • 11. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 11 11 Deus. Ela foi colocada no contexto da doutrina da Trindade, e não da eclesiologia ou da soteriologia. George Vicedom nesta mesma conferência destacou-se pela famosa obra Missio Dei: Introduction to the Science of Mission. Cuja ênfase foi: a) Deus é o sujeito ativo da missão. b) Deus o Pai enviou o Seu Filho (João 1:1-5 e 1:14) c) E ambos enviaram o Espírito Santo (João 14:16) d) A trindade envia a Igreja e os crentes em particular, para cumprir a tarefa da Grande comissão (Atos 1:8 e 2:4). Ou seja, Pai, Filho e o Espírito Santo enviando a igreja para dentro do mundo. Foi nesta conferência que houve o reconhecimento que a igreja não poderia ser nem o ponto de partida e o alvo da missão. A obra salvífica de Deus precede tanto a igreja quanto a missão. Não se deveria subordinar a missão à igreja e, tampouco, a igreja à missão; pelo contrário, ambas deveria ser inseridas na missio Dei que se tornou então o conceito abrangente. A missão de Deus institui a missão da Igreja. A Igreja deixa de ser a remetente para ser a remetida. A missão não é a atividade primordial da Igreja, mas um atributo de Deus. Deus é um Deus missionário. Compreende-se a missão, desse modo, como um movimento de Deus em direção ao mundo; a igreja é vista como um instrumento para essa missão. Deus teve um único Filho e fez dele um missionário. Como igreja, nossa missão não tem vida própria: só Deus que envia pode denominar verdadeiramente a missão. Nossas atividades missionárias só são autênticas na medida em que refletirem a participação na missão de Deus. A missio Dei é a atividade de Deus, a qual abarca tanto a igreja quanto o mundo e na qual a igreja tem o privilégio de poder participar. “Não é a igreja que tem uma missão na terra, é o Deus da Missão que tem uma igreja na terra.” A Igreja não anuncia ela mesma, o kerigma consiste em saber que: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (2Coríntios 5:19). Quem reconcilia é Deus e não a igreja. A estreita relação do ser da igreja é ser enviada por Deus e é nisso que consiste o cerne da forma de se fazer a missão. O texto de (João 17:18), deve ser visto como inquebrável, já que não há outra igreja, mas a Igreja enviada ao mundo e nenhuma outra agência missionária, mas a Igreja de Cristo. Aqui
  • 12. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 12 12 merece um sério questionamento aos modelos vigentes de Igreja na atualidade. Em O Que É Missão Integral? René Padilla mostra que a igreja que se compromete com a missão integral entende que seu propósito não é chegar a ser grande, rica ou politicamente influente, mas sim encarnar os valores do reino de Deus e manifestar o amor e a justiça, tanto em âmbito pessoal como em âmbito comunitário. As igrejas precisam rever as suas ações e cumprir a missão que lhe foi confiada para que não esteja alheia ao clamor do povo. Assim como os profetas denunciavam as autoridades quanto à exploração dos pobres, a igreja precisa denunciar a injustiça social, ter voz profética somada com ações que transformam não somente o estado deprimente espiritual, mas também o contexto que elas vivem. Se a igreja falhar na sua voz profética, quem irá clamar serão as pedras contra a missão da igreja. A igreja é a corporificação da missão de Deus na comunidade onde ela está inserida. O maior pecado da Igreja é fechar-se por causa da sua saúde e ignorar a comunidade em volta dela, que sofre toda espécie de alienação. A igreja não pode isolar-se frente ao clamor e a indagação de um povo que sofre e vive a margem da sociedade. Entendo que se a igreja incorporar a missão que lhe foi atribuída, as metáforas bíblicas ficarão bem mais fácil de serem entendidas, como p. ex., “o sal da terra”, “a luz do mundo”, “uma cidade sobre um monte” e outras semelhantes. Que o Senhor nos ajude QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Em que consiste a missio Dei? 2. Quais os principais aspectos da missio Dei? 3. Como se deve compreender a missão da Igreja? 4. Como é a prática da missão da sua Igreja?
  • 13. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 13 13 BIBLIOGRAFIA 1 - PADILLA, C. René. O que é Missão Integral? Viçosa: Ultimato, 2009. 2 - CABRIAL, Silvano Silas R. Missio Dei. Londrina – PR: Descoberta, 1ª Edição: Janeiro/2005. 3 – BOSCH, David J. Missão Transformadora, Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão. Editora Sinodal, 1998. 4 - http://estudos.gospelmais.com.br/missio-dei.html - Acessado em 01/10/2013. 5 - http://www.postost.net/2011/01/missio-dei-historical-perspectives-part-1 - Acessado em 01/10/2013. 6 - http://conversation.lausanne.org/en/conversations/detail/10505#.UkpPXIY04wI – Acessado em 01/10/2013.
  • 14. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 14 14 O Evangelho Todo Para o Homem Todo em Todas as Comunidades Leandro Silva Não é de hoje a constatação da forte presença da igreja nos bairros mais empobrecidos. Nas comunidades urbanas do Nordeste, extrema pobreza, violência e injustiça convivem lado a lado com a profusão de templos evangélicos. Oficializado no dia 22 de agosto de 1968, o bairro de Felipe Camarão na região oeste da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, é um exemplo dessa realidade. Segundo o censo de 2000, a população do bairro está calculada em 45.907 habitantes, mas as estimativas são de que já existam cerca de 72 mil pessoas, vivendo em uma área de 663,4 ha . São 10.782 domicílios, sendo que 1.227 são moradias construídas em área de risco (Censo 2000); 31,39% dos moradores sobrevivem com um salário mínimo, 41,08% recebem até três salários, 12,82% não têm renda alguma. A média dos rendimentos mensal é de 1/3 da média da cidade o que significa R$ 327,00 por família. 29,82% da população é formada por jovens; 35,4% está faixa etária de 0 a 14 anos; Apenas 11,81% da população terminou o Ensino Médio. Felipe Camarão não está ao alcance dos olhos dos visitantes e tampouco dos nativos mais segregados. Este fato contribui, sobremaneira, para consolidar a fama obtida pela cidade de Natal de bela e esconder a real diversidade de sua geografia humana, bem como as mazelas sofridas por grande parte da população residente em bairros com menor estrutura. Em pesquisa realizada pela CONSULEST e o Grupo de Sociologia Clinica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o bairro foi apontado por 43,9% dos entrevistados, como o mais violento de Natal. O índice de qualidade de vida, no que tange ao saneamento ambiental é de 0,27. O número de pessoas analfabetas chega a 22,9% da população com mais de 25 anos. Um dos principais líderes em número de casos de violência contra a mulher, maus tratos e abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, Felipe Camarão é também o bairro que detêm o maior volume de sub-moradias, com pelo menos oito favelas em seu espaço geográfico. Este ano mais de 40 jovens já foram vitimas da violência armada. Entre os mais de 36 bairros que compõe a cidade de Natal, é o 4° mais populoso; É formado por 18 comunidades, dentre estas, 08 são irregulares. Está localizado na zona
  • 15. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 15 15 Oeste de Natal, região que em conjunto com a zona norte abriga mais de 50% da população pobre e 60% do total das favelas do município. Mas há uma boa noticia: Felipe Camarão é também o bairro mais evangélico de Natal. Em 2001 o Serviço para Evangelização da América Latina (SEPAL) fez um levantamento das igrejas evangélicas em Natal e encontrou 41 igrejas em Felipe Camarão. Em 2005, com financiamento da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, foi realizada uma cuidadosa pesquisa e encontramos 59 igrejas no bairro. Hoje, já existem diversas outras que surgiram depois de 2005, de modo que podemos dizer com bastante certeza de no atual momento existem pelo menos 70 igrejas atuantes na comunidade! Os evangélicos de Natal começaram a ser despertados para o desafio de Felipe Camarão em setembro de 2003, no Seminário Teológico-Estratégico: Modos de enfrentamento da Pobreza em Natal, onde ficou clara a urgência de voltar nossos olhos para a região. Naquele mesmo ano, a pesquisa divulgada pela SEPAL chamou a atenção de vários líderes cristãos atuantes na comunidade, que se reuniram para refletir sobre a contribuição que poderiam dar na reversão dos cruéis indicadores sociais de Felipe Camarão. A pergunta a dar a tônica do evento era o porquê essas duas realidades (a combinação dos piores índices de desenvolvimento humano e maior concentração de igrejas) não se cruzarem durante anos, permanecendo isoladas e intactas, como se não coexistissem. Porque a forte presença da igreja não se traduz em transformações do contexto injusto em que está inserida? As perturbadoras constatações sobre a apatia das igrejas em relação aos alarmantes desafios sociais levaram os líderes a refletir sobre a necessidade de dar continuidade a este trabalho. Em 2005, enquanto eram realizadas reuniões mensais nas mais diversas igrejas do bairro, uma pesquisa patrocinada pela UFRN ia descobrindo cada igreja Felipe Camarão. Ao longo destas reuniões, uma rede de igrejas e líderes foi sendo construída coletivamente. Em dezembro de 2005 a ALEF (Associação de Líderes Evangélicos de Felipe Camarão) foi oficialmente criada, com o objetivo de reunir as igrejas que atuam localmente para o desenvolvimento de programas focados na transformação comunitária e missão integral. As igrejas possuem uma capilaridade que não pode ser encontrada em nenhuma outra forma de organização social das comunidades, estando presentes em todos os recantos dos bairros e favelas, mesmo os mais inóspitos, onde os problemas sociais ensejam sua face mais cruel e os serviços públicos são ainda mais ausentes.
  • 16. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 16 16 O resultado é revolucionário: não apenas uma organização, mas uma rede de igrejas, líderes (não apenas pastores, mas líderes comunitários, de jovens, de mulheres, de missões...), com os seguintes objetivos: 1) A interação entre as igrejas para que por meio dela se processe de modo mais integrado o cumprimento da missão integral deixada por Jesus Cristo; 2) A maior expressão da face pública das igrejas associadas; 3) Pesquisa e analise da realidade; 4) ações que de enfrentamento dos desafios sociais e de desenvolvimento sustentável; 5) a formação de liderança nas mais diversas áreas. Vem sendo desenvolvido diversas ações e projetos conjuntos, e com o alvo de mobilizar suas comunidades para o desenvolvimento e transformação integral, com ações em oito principais eixos de atuação: educação, formação de liderança (em áreas relacionadas a missão integral e desenvolvimento comunitário), criança e adolescente, saúde, meio ambiente, construção da paz, economia solidária, cultura e juventude. Com o tempo, um grande número de igrejas e organizações de varias outras regiões de Natal e do Nordeste tem se deslocado a Felipe Camarão para participar dos vários encontros, seminários, capacitações e oportunidades de treinamento, motivação e mobilização de Pastores e Líderes de igrejas do Nordeste para a missão integral promovidos pela ALEF. Isso tem provocado a multiplicação de muitas iniciativas de engajamento de igrejas e instituições cristãs na transformação integral das regiões em que estão atuando. Diante disto, uma das ações que a ALEF espera fortalecer nos próximos anos é fomentar um movimento de mobilização de igrejas para a missão integral em outras comunidades e bairros nordestinos, a partir do contexto e da experiência das igrejas de Felipe Camarão, ao mesmo tempo em que trabalha pelo fortalecimento, expansão das ações e mobilização de igrejas e líderes em seu próprio contexto: o bairro e suas adjacências. Nossa visão: a transformação integral das comunidades Felipe Camarão ilustra um cenário comum às comunidades empobrecidas de todos os rincões do Norte-Nordeste. Nenhuma outra organização está tão presente nos bairros. Porém, quando comparamos a presença da igreja com seu impacto ficamos frustrados! Embora muitas pessoas estejam sendo alcançadas pelo evangelho, coletivamente a igreja não está influenciando na estrutura social das comunidades do país. Falta voz profética contra a violência e corrupção, falta luta pela causa dos pobres, como nos exorta a Palavra de Deus: “O justo se interessa pela causa dos pobres, mas o perverso de nada disso quer saber” (Provérbios 29:7). O resultado está aí: quanto mais empobrecida a comunidade, maior o
  • 17. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 17 17 número de igrejas. O evangelho cresce, mas não há mudança, transformação. É razoável afirmar que podemos fazer mais! Dois são os motivos principais de dezenas de igrejas em um único bairro não conseguirem causar impacto social: a falta de unidade, e a uma missiologia reducionista. Cada igreja têm se voltado para suas próprias atividades, não reservando espaço em sua agenda para o trabalho conjunto com outras igrejas. Se desejarmos influenciar as comunidades em que atuamos com o evangelho integral, devemos inserir em nossas agendas esta palavra bem especifica: unidade. Mas que tipo de unidade devemos buscar? Certamente que a concepção ufanista das marchas e movimentos pontuais não é suficiente. É necessário construir um amplo esforço conjunto, baseado em projetos, ações e programas direcionados a provocar transformações sociais que possam fazer da comunidade um lugar mais parecido com o Reino de Deus e construir uma face pública relevante, que expresse contundentemente os valores do evangelho para regiões que clamam por uma intervenção efetiva do corpo de Cristo. Por maior que seja, nenhuma igreja pode mudar sozinha toda uma região. Este trabalho é coletivo. É necessário repensar a eficácia de nossos modelos missiologicos. As comunidades estão cheias de igrejas irrelevantes, centradas apenas no esforço evangelístico, entendido como "salvar almas para o céu", mas que não se lembram do quão radical foi à encarnação de Jesus, que em seu ministério ia por toda a parte “pregando, ensinando e fazendo o bem” (Mt 10.38). Urge que empreendamos esforços a fim de ampliar nossa compreensão da missão, entendendo que esta se baseia não apenas em “ganhar almas”, mas em discípular e servir as comunidades nas quais atuamos, sinalizando com a maior densidade possível, em palavras e ações, o Reino de Deus, que é justiça, paz e alegria no espírito santo! Felipe Camarão está ai para mostrar que isto é possível!
  • 18. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 18 18 QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. No texto, o autor falou sobre a realidade de uma região especifica (Felipe Camarão) e como apenas a presença de muitas igrejas não provocou mudanças na realidade social. Em que pontos esse cenário se parece com o contexto da região onde sua igreja está localizada? Como é a realidade da comunidade onde sua igreja é chamada a fazer missão? 2. O que impede as igrejas locais de causar impacto na sua comunidade local? 3. De que formas sua igreja e outras igrejas poderiam ser mobilizadas para levar o evangelho todo ao homem todo em sua comunidade? 4. Para você, o que significa a expressão: “O Evangelho Todo Para o Homem Todo Em Todas as Comunidades”?
  • 19. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 19 19 Evangelho Que Transforma Marcos Aurélio dos Santos A criação está em crise. A maldição que causou dano ao casal adâmico se alastrou de maneira tal, que toda criação foi afetada. Basta folhearmos algumas páginas do livro do Gênesis, como também de outros, que claramente encontramos os sinais da degradação. Violência, doenças, sofrimento, decomposição material, inimizade entre os homens, Aumento do sofrimento na geração da humanidade, maldição sobre a terra, morte física e espiritual. O grande Jardim chamado terra e o homem estão em apuros, gemendo, a espera da redenção. Isto porque a sugestão da serpente foi bem vinda e atrativa aos olhos do casal, contrariando a vontade do Criador e pai do universo. Então, a humanidade como toda a criação está sobre condição de deterioração aguardando a consumação de todas as coisas (Gn. 3). O episódio catastrófico do Éden atravessa toda a história e chaga até nossos dias. Os efeitos da queda refletem o quanto precisamos ser transformados integralmente. A corrupção humana e o mal encontrado nas estruturas que estão sobre o controle do diabo nos faz refletir de maneira relevante a urgência de uma restauração de forma integral. Não apenas o homem, mas o todo deverá passar pelo processo de transformação causado pelo poder do evangelho. O pecado corrompeu o homem em sua integralidade. Numa linguagem dicotômica, a decomposição afetou corpo, alma e espírito. O mal surtiu efeito completo. A consequência causada pela ruína humana foi o bloqueio de acesso ao Eterno, privando o homem de ter comunhão com ele. O pecado do Éden gerou inimizade entre a criatura e o criador. A queda gerou no homem um espírito egoísta onde seus pensamentos e ações ficaram centradas em si mesmo. O Adão que gerenciava a criação agora se transforma em um indivíduo egocêntrico. Os cuidados com as coisas que foram criadas e com o próximo não são mais a prioridade daquele que foi criado à imagem de Deus. Deus em sua infinita misericórdia decidiu restaurar a criação. Ele resolveu enviar o Filho Encarnado, nascido de mulher, gerado pelo poder do Espírito Santo, que em sua missão toma forma de servo para anunciar o evangelho integral, as boas novas do Reino, o evangelho que traz em sua essência, a transformação de tudo, de forma completa para a glória do Pai.
  • 20. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 20 20 Na proposta de Jesus, é pregado o evangelho transformador e poderoso para restaurar o homem na sua totalidade. O evangelho integral busca transformar o interior humano no qual resulta em novo nascimento e vida eterna com Cristo (Jo.3). Logo, este evangelho toma de forma inevitável, dimensões maiores restaurando de maneira extraordinária e poderosa toda a criação. Este poder transformador supera de maneira abundante o que foi corrompido pela queda. A maravilhosa graça concedida à humanidade por meio do sacrifício vicário de Cristo. Esta é manifesta revelada no amor de Jesus que por meio deste evangelho, somo confrontados e viver na prática seus ensinos. No Evangelho, não há uma separação do homem em duas partes, e, portanto, não pode haver exclusividade neste projeto de restauração. Deus não salva apenas almas, mas o homem e mulher de forma integral. Seres criados a sua imagem e semelhança. Nessa perspectiva, a incumbência de fazer discípulos, requer de nós mais do que meros esforços em encaminhar as “almas” para o céu. É uma tarefa que nos desafia a cuidar de gente. É preciso ver o discípulo como Jesus o viu, enxergando sua carência de comunhão com o eterno, mas também o assistindo em suas necessidades. Nos ensinos de Jesus de Nazaré, o discípulo é comissionado também para fazer o bem. Como disse Tiago, fé sem vida não é fé, é defunto. Segundo o apostolo, irmão de Jesus, somente uma fé viva está disposta a fazer o bem ao próximo, somente uma fé vibrante se compadece do necessitado. Toda fé que se preza, deve estar acompanhada de obras. (Tg.2.14). A parábola do bom samaritano nos dá luz para compreendermos melhor o evangelho integral ensinado por Jesus. As boas novas nos desafiam a viver na prática os valores do Reino. Acolher o próximo está muito acima das práticas ritualísticas do templo, fazer o bem não está condicionada a nenhuma regra, rito ou dogma religioso, esta está profundamente atrelada aos valores do Reino ensinados por Cristo em seu Evangelho. Então, o discípulo é confrontado a encarnar valores nos quais transcendem a justiça humana. Segundo a parábola contada por Jesus, a motivação que levou o bom samaritano a fazer o que os religiosos não fizeram, foi sua atitude de piedade (Lc.10.33). No Reino é assim, não são as regras que determinam nossas práticas como cristão, mas uma vida piedosa e submissa à vontade do pai Eterno, uma vida de renuncia que sempre prioriza o outro em detrimento de nós mesmos,
  • 21. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 21 21 uma vida de serviço ao próximo, olhando para suas necessidades, uma vida que coloca o discurso em ultimo plano, mas prioriza o fazer. Fazendo o bem sem olhar a quem. No evangelho do reino propagado por Jesus, todos caminham em pé de igualdade, não há espaço para a figura do “super discípulo”. Parafraseando o mestre dos mestres: Aquele que desejar ser o maior seja servo de todos, o que quiser ser o primeiro que seja o ultimo, o que almejar lugar de destaque, antes se torne o menos conhecido. Todo serviço como todas as nossas demandas devem ser para beneficio outro, pois assim Cristo o fez. Caminhar ao lado do outro é a regra de ouro. Amparar o pobre, cuidar dos desvalidos, acudir o enfermo é coisa para bom samaritano, esta prática não está na agenda dos religiosos, por esta razão Deus está à procura de bons samaritanos para serem cooperadores em sua missão. Gente que gosta de gente, homens e mulheres que estão dispostos a colocar os valores do reino acima dos terrenos, pessoas que depositaram seu coração no que é eterno, como no exemplo do homem de Samaria que não era avarento, pois não se preocupou com a conta da hospedaria, mas com a recuperação da saúde da vítima que foi assaltada e espancada gravemente e deixado à beira no caminho. No reino, devem-se valorizar as pessoas e não as coisas. O bem feitor de Samaria poderia ter a priori procurado os salteadores para recuperar o que foi levado, mas sua atitude de piedade colocou o próximo em primeiro plano. Cuidar dos ferimentos e providenciar abrigo para o homem ferido foi sua prioridade. Esta é a proposta desafiadora do evangelho do Reino. Transformar vidas de forma integral, anunciar as boas novas de salvação, caminhar ao lado do próximo para que haja transformação nas comunidades e a igreja possa realizar o cumprimento da grande comissão. QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Na missão Integral, de que maneira homens e mulheres devem ser alcançados? De forma total ou em parte? 2. O que é a Missão Integral? 3. Quem é o agente da missão? 4. Qual o ponto de partida para que haja transformação nas vidas e comunidades?
  • 22. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 22 22 Evangelho sem Sal X Evangelho Integral Hudson Taylor Rodrigues Maia Disse Jesus: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra" Jo 4.34. Talvez esse seja o grande problema das igrejas em nossos tempos, de que elas se alimentam e a vontade de quem elas fazem! Ou seja, qual o objetivo e o fim. Dentro desse arcabouço, enfileiram-se Igrejas e pastores com objetivos e fins totalmente diversos do propósito de Deus e distantes de Sua vontade. Igrejas capazes de encher todas as cadeiras, mas incapazes de encher-se do Espírito do Senhor. Igrejas coma eficiência de mudar a vida econômica de toda a sua liderança, mas sem habilidades para mudar o contexto social das comunidades. Igrejas capazes de construir mega-templos, mas sem o desejo de produzir mega transformações na vida das pessoas. Igrejas cuja comida não é fazer a vontade do Pai, mas fazer sua própria história. Fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra. Que vontade, que obra? “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.” Romanos 12:2 Nunca faremos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus, sem uma mente Renovada, sem uma mente voltada para a pureza da palavra, sem o contexto de uma missão integral, sem manchas, sem misturas. Isso é relevante para o que chamamos de Cosmovisão. Ou seja, a forma como enxergamos a obra de Deus. Maurício Cunha e Beth Wood em seu livro “O Reino entre nós” enfatizam: “Todos os propósitos de Deus na Criação serão cumpridos graças a o Sacrifício de Jesus”. Como igreja, devemos proclamar o evangelho da redenção para o homem em todas as áreas da vida e da criação. A Igreja precisa então acordar e deixar de ser um agente construtor de “cultos” (culto de oração, culto de jovens, culto de senhoras, culto do amigo, culto dos solteiros, cultos dos casados, culto “disso”, culto “daquilo”) e passar a
  • 23. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 23 23 ser um agente da Redenção de todas as áreas das coisas criadas por Deus, por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. “E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele”. E Ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência. “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude Nele habitasse, E que, havendo por Ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio Dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus”. Colossenses 1:17-20. A igreja precisa crescer rumo às intenções de Deus. Se a igreja cresce, mas, em outro rumo, esta igreja nunca será uma igreja relevante no Reino de Deus. Veja essa declaração de Edmund Burke sobre a luta de William Wilberforce para a liberação dos escravos e reforma dos valores sociais na Inglaterra: “Para que o mal triunfe tudo o que é necessário é que boas pessoas não façam nada. Deus não está apenas na igreja, mas ele preenche toda a criação. Escrevendo aos cristãos Colossenses, Paulo disse que o mundo foi criado por Cristo, para Cristo, foi reconciliado em Cristo e para Cristo”. Emil Brunner declara: “A Igreja Existe para a Missão assim como o fogo existe para queimar”. Compreendemos a necessidade e urgência de concentramos as nossas ações em direção ao fortalecimento e resgate da visão da integralidade missionária. Um olhar mergulhado nas comunidades e nas possibilidades de transformação. Deus tem urgência nisso, e tem levantado pessoas fora do contexto de igrejas, que não levantam bandeiras “religiosas” para fazer ações sociais de transformação que têm tirado crianças das chamadas “bocas de fumo” e garotas dos “eixos mortais” da prostituição, demonstrando um amor que deveria ser a marca da Igreja de Cristo. Porque Deus amou o mundo de tal maneira... Pessoas preocupadas com as injustiças sociais e pela falta de ação dos órgãos governamentais. Pessoas preocupadas com doentes, com pessoas especiais, enquanto a igreja está “morta” dentro de seus cultos que dificilmente chegarão a atingir o coração do Deus supremo, amoroso e fiel. ‘ É urgente que igreja do Senhor acorde sob pena de viver um evangelho frágil, sem vida, sem luz e sem sal.
  • 24. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 24 24 QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Qual é a vontade de Deus para a Missão da Igreja? 2. Como uma igreja pode ser relevante dentro da vontade de Deus? 3. Qual deve ser o foco da Missão da Igreja? 4. O que quer dizer a frase de Emil Brunner: A Igreja existe para a Missão assim como o fogo existe para queimar?
  • 25. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 25 25 Igreja, Cooperação e Missão Renildo Diniz Lopes Junior Uma das experiências mais marcantes na minha vida foi o de poder pastorear um rebanho. Ser pastor. É bem verdade que o tempo passa rápido e quando menos esperamos já aconteceram várias coisas. Lembro-me que quando mais novo e na ânsia de iniciar o ministério vinham como torrentes na mente tantas ideias que nem podia contê-las, era uma vibração extraordinária, mas como disse, o tempo passa e então nos percebemos menos ansiosos. No entanto mais firmes quanto às ideias. Tenho pastoreado a Igreja Batista Esperança há cinco anos e me impressiono com o que Deus vem fazendo nessa comunidade, a forma como ela tem abraçado novos desafios e se colocado na brecha. No início herdamos uma igreja que já tinha vivido muitas experiências, mas Deus tinha reservado para nós algo bastante desafiador ao ponto de nos fazer repensar certos valores e paradigmas que na verdade, só perpetuava um comportamento letárgico e infrutífero quanto à integralidade do evangelho. Foram neste ponto que começaram os nossos desafios; sabe quando Deus resolve lhe fazer uma visita, bem foi exatamente isso que aconteceu, Deus nos visitou e apontou o dedo bem no nosso nariz e disse que estava na ora de promovermos seu Reino de verdade. Isto foi tão impactante na vida da nossa igreja que não sabíamos exatamente o que fazer e por onde começar – digo que foi importante a parceria com amados mais experientes que nós. Fomos desafiados a fazer uma releitura dos evangelhos, da vida de Jesus e de nossa própria vida enquanto igreja, agência do Reino. Pastor de uma igreja com mais de quarenta anos, incomodava o fato dessa igreja não ser reconhecida pela própria redondeza e não contar com a simpatia dos seus circunvizinhos, para mudar este quadro firmamos o compromisso de sermos uma igreja relevante para nossos vizinhos, abrangemos a visão e nesta releitura descobrimos que o ministério de Cristo sempre foi itinerante, fora das paredes institucionalizada das nossas organizações, foi uma revolução na mentalidade e prática da igreja. Abraçamos uma comunidade vizinha do bairro, não com a intenção de fazermos assistencialismo, mas de nos envolvermos com as dores e lutas dessa gente tão sofrida. Vale lembrar que não é possível fazermos qualquer coisa que seja se não liberarmos nossos membros para um visionamento, posso afirmar que o Senhor nos deu soldados valorosos que não medem esforços e mais que isso são engajados até o pescoço com a obra do Reino.
  • 26. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 26 26 Todos estes esforços mudaram a dinâmica da igreja, somos um povo antenado com a realidade, saímos da caixa para enfrentar o mundo. Talvez a essa altura você pense que somos hoje uma comunidade madura e experiente, não se iluda ainda estamos muito longe. O que de fato mudou foram os nossos olhos, a maneira como enxergamos o nosso papel nesse cenário, repensamos a nossa maneira de ler e aplicar as escrituras, começamos a perceber que o Reino de Deus e seu evangelho é para o homem todo não apenas para alma. No momento em que escrevo este testemunho estamos em uma série de mensagens que chamamos de “Missão Urbana, o desafio da cidade”, isso para lembramos que estamos em um contexto urbano que nos desafia a um olhar de compaixão pelas nossas cidades. O texto que nos inspirou foi Mateus 9.35-38, observe apenas três partes do texto: primeiro, Jesus percorria as cidades e povoados, esse era seu ministério itinerante, segundo, usava uma metodologia muito simples, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando as doenças e enfermidades. e em terceiro, Jesus pede aos discípulos que roguem a Deus por mais trabalhadores, bom quando eu estava pregando neste texto na primeira mensagem da série e vi todas aquelas pessoas olhado para mim, vi nelas a resposta de Deus a oração dos discípulos, se os apóstolos oraram por mais ceifeiros então eles estão sentados nos bancos das nossas igrejas, foi isso que entendi o que precisamos é nos por de pé tomar posição e fazermos o que fomos chamados para fazer, sermos cooperadores na missão de Deus. QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Quais os paradigmas que você ou sua igreja tem enfrentado nos desafios de implantar uma nova visão? 2. Sua igreja ou seu grupo tem tido uma relação de aproximação com a comunidade onde estão inseridos? 3. A maneira como olhamos os desafios podem determinar o futuro de nossa comunidade. Quais seriam suas decisões ante uma releitura dos ensinos de Cristo e seu ministério itinerante? 4. Qual o seu olhar para a cidade, quanto aos desafios que ela impõe a igreja?
  • 27. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 27 27 Cosmovisão Mauricio Cunha Texto Base: MT 6 : 22,23 Jesus fala nesses versículos a respeito de como observamos o mundo ao nosso redor. Fatos e eventos acontecem constantemente no mundo todo, temos vários exemplos de reportagens sobre catástrofes, crimes, corrupção etc… E questionamos o porquê de tudo isso acontecer e isso nos leva a ter diferentes opiniões a respeito desses acontecimentos. O que para algumas pessoas é natural para outras é espiritual, acontecimentos num modo geral em um todo se deve quase sempre pela percepção espiritual e cultural das coisas. O preletor cita uma manchete no jornal que diz sobre um raio que caiu em um campo de futebol e que atingiu e matou apenas jogadores de um dos times. Para algumas pessoas isso pode ter sido uma obra do acaso, mas para outras foi uma obra de macumbaria, ou seja, algo no mundo espiritual, isso demonstra que temos diferentes visões a respeito de determinados assuntos e acontecimentos. Todos nós temos formas diferentes de observar os fatos ao nosso redor isso se chama cosmovisão. A cosmovisão explica e define o universo não só explica o que deve ser. A nossa cosmovisão determina o que é certo e o que é errado, nós cristãos acreditamos na palavra de Deus estabelecendo assim um padrão. Já a sociedade em si acredita em seus próprios caminhos estabelecendo assim regras para si mesmos. Podemos dar um exemplo fazendo uma ilustração sobre os óculos, uma pessoa que não tem uma visão perfeita precisa do auxilio de óculos para que ela possa enxergar com perfeição. Do mesmo modo somos nós para que possamos enxergar as coisas espirituais o espírito santo nos mostra como estão as coisas ao nosso redor fazendo assim termos uma visão e uma percepção espiritual dos eventos ao nosso redor. Existem três tipos de visão. 1. A visão Teísta “A visão Cristã” Deus existe e criou todas as coisas e esta acima da sua criação. Deus esta presente em sua criação, observamos isso na perfeição da sua obra, somente um ser com conhecimento inimaginável é capaz de criar coisas com tanta perfeição.
  • 28. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 28 28 2. Secularismo “Natureza “ Não creem em um criador, em seu ponto de vista Deus não existe ou não pode ser acessível. Suas respostas as suas perguntas são materiais. 3. Visão “Visão Animista “ Tem um ponto de vista totalmente espiritual crendo que existem Deuses que estão por trás de tudo o que existe. Palavra Rhema O Senhor me disse com esse estudo que eu tenho que ter um filtro que é o Espirito Santo. 1. Principio Tudo que vemos, temos que olhar com olhos de amor. MT 6 : 22-23 2. Principio O Senhor controla todas as coisas 3. Principio O Senhor sempre esta em primeiro lugar a sua palavra. Tiago 4 “Donde vem as guerras e lutas entre vocês! Por acaso não seria dos seus próprios deleites! Cobiçam são invejosos e nada tem porque não pedem. Quando pedem não recebem porque pedem para desfrutar em suas próprias luxurias. Traidores e traidoras por acaso não sabem que quem ama o mundo não pode ser amigo de Deus! Por isso qualquer um que ama o mundo é inimigo de Deus. O acha que a palavra diz em vão que o Espirito Santo tem ciúmes de nós! Agradeça a Deus ele resiste ao soberbo mas não resiste ao humilde. Sujeite a Deus e resista ao diabo para que ele fuja de vocês. Aproxime se do Senhor e ele se aproximara de vocês limpe as suas mãos do pecado e vocês com dois caminhos limpem seus corações. Percebam as suas dificuldades e lamentam se e chorem perante o Senhor e ele irá te exaltar. Não falem mal uns dos outros porque quem fala mal do próximo julga ser juiz e entendedor de toda a lei. Há um só juiz e um só legislador.
  • 29. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 29 29 Não planeje o seu futuro porque você não sabe o dia de amanhã. Porque a sua vida é um vapor que aparece e logo se vai. No lugar você deveria dizer: Se o Senhor quiser que vivamos para fazer aquilo vamos fazer. Mas agora vocês se gloriam nas coisas que vocês mesmos presumem se você sabe fazer o bem e não faz comete pecado. QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Sobre esta reflexão, o que você entende por Cosmovisão? 2. O que nos ensina Mt. 6. 22-23? 3. Das três visões explicadas no texto, em qual você se identifica? 4. Em sua opinião, qual a visão de mundo por parte da igreja evangélica?
  • 30. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 30 30 Uma Reflexão Sobre a Missão Integral da Igreja José Marcos Publicado no Jornal Batista de Pernambuco, do mês de abril de 2011 Fala-se muito sobre este tema e isto me deixa feliz, pois anuncia uma tendência da igreja moderna. No momento em que o mundo registra mais de um bilhão de pessoas que vivem sob condições de extrema pobreza; que o aquecimento global acarreta um número cada vez mais acentuado de catástrofes naturais, trazendo a miséria repentina a pobres e ricos; que o planeta agoniza diante das ações inconsequentes do Homem , em fim, um infindável número e tipos de mazelas pontuadas com facilidades, vejo com muito bons olhos a necessidade de discussão sobre a missão integral da igreja, pois ela, a igreja, além de ser a portadora da Verdade que liberta, carrega em sua estrutura, tanto física quanto humana, um arsenal poderoso que pode ser usado na promoção do indivíduo. Olhando para algumas igrejas batistas do nosso estado percebo alguns avanços obtidos nesta área, mas acredito que o assunto é bem mais complexo do que se imagina. Quando penso em como as igrejas estão operando o paradigma da missão integral sinto uma mescla de alegria e medo. Alegria por ver igrejas abrindo as portas dos seus prédios para projetos sociais; medo porque vejo que esta ação pode não ser o reflexo de uma mudança de paradigmas, de fato, sobre a missão integral da igreja, mas apenas mais um modismo, quem sabe. Sou um amante das mudanças, até por que não há vida sem elas, mas, só creio nas mudanças que são construídas a partir de um processo pedagógico sério, comprometido com o tempo, que passa por reflexão, conta com o envolvimento do povo e é produzido na caminhada de fé. Não acredito em mudança de fato, sem que antes tenha havido mudança de paradigmas. Costumo dizer que a mudança só ocorre com relevância quando respeita um processo que começa na insatisfação, passa pela reflexão, ocasiona a mudança de paradigmas e, aliada à coragem, chega à mudança propriamente dita. Sem este caminho não há mudança. Desconfio que haja líderes e igrejas confundindo missão integral com ação social e asseguro que, se no mundo dos paradigmas isso não foi mudado, ação social e missão integral serão duas coisas completamente diferentes. Definindo rapidamente os termos, a palavra integral quer dizer inteiro, todo, sem faltas, já a missão da igreja encerra-se no discipulado, isto é, na pedagogia que resulta em transformação do indivíduo. Aqui, lembro das
  • 31. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 31 31 palavras de Paulo Freire, quando diz que a pedagogia é redentora, bem como das do Senhor Jesus, quando diz que a verdadeira libertação vem do conhecimento da verdade. Portanto, pensar missão integral da igreja é pensar na libertação total do indivíduo em sua integralidade (pneuma-bio-psico-social). Pensar missão integral é mudar fundamentalmente a forma de ver o Homem e se relacionar com ele. É entender que o “Homem é maior que o Sábado”. É repensar o valor que damos às estruturas montadas no decorrer dos anos e que possam estar sufocando a pessoa, que é o alvo final da igreja. Envolve muito mais do que programas sociais, pois passa por uma reflexão sobre paradigmas que se transformaram em doutrinas, como o conceito de templo feito de tijolos transformado em Casa de Deus, ou por uma liturgia que não atinge o alvo, pois deixou de falar a língua do Homem para falar a língua do esquema religioso. Você conhece quantas pessoas fora da igreja que sabem o que significa recessional, pós-lúdio, intróito, vagas procelosas...? Ora, se nem a nossa linguagem acerta mais o alvo, como vamos ter a pretensão de relevância? No outro extremo, cresce assustadoramente uma forma de “igreja” que estilizou a macumba, criou templos imponentes e se autodenominou igreja, quando, na verdade, ao invés de propor o serviço a Deus, propõe o servir-se de Deus. Libertar o Homem disso também é tarefa contida na missão integral da igreja. Atingir o Homem todo é deixar-se atingir-se pelo Homem todo. Uma igreja que propõe executar a sua missão integralmente não pode se calar diante de uma realidade como a nossa, onde meninos de doze anos já traficam o crack, garotinhas de treze já são mães e as famílias caminham para o desmantelo total. Não pode se calar, ou se vender, diante de uma classe de políticos que não têm o mínimo escrúpulo em transformar o Evangelho de Cristo em máquinas de fazer votos. Não pode não gritar diante de um sistema de saúde deprimente e de um sistema político corrupto e corruptor. Não pode não se posicionar diante do que estamos fazendo com o nosso planeta, com as nossas crianças, com os nossos velhos. Uma igreja que pensa o evangelismo integral não pode permanecer parada dentro das paredes dos seus suntuosos templos como se não houvesse vida lá fora. Termino por trazer um alerta: a missão integral vai muito mais longe do que o simples fato de se ter projetos sociais na igreja. Ela contempla uma verdadeira reforma nos nossos paradigmas religiosos que, uma vez repensados, têm como foco final o Homem redimido, em todas as suas dimensões.
  • 32. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 32 32 QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. Pode uma igreja ser excelente em fazer obras sociais e, mesmo assim, não ser comprometida com a integralidade da sua missão? 2. Ação social e missão integral podem ser duas coisas completamente diferentes? Por quê? 3. O que você entende pela frase: “atingir o Homem todo é deixar-se atingir pelo Homem todo”? 4. Existe alguma diferença entre missão integral, evangelho integral e evangelho do Reino?
  • 33. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 33 33 Evangelho Integral: Reflexão e ação Arturo Meneses 1 “Evangelho Integral” aparece como uma expressão “chique”. Tem conquistado espaço em congressos e seminários na América Latina nos anos mais recentes. O interesse dos líderes cristãos brasileiros neste tema, é um sinal de esperança para a igreja e para a nossa nação. Contudo, é essencial que este paradigma missionário transformador da missão, possa converter-se em boas práticas concretas contextualizadas. Ou seja, “práxis” além de linguagem bonita e sofisticada na liturgia das igrejas evangélicas. Que tipo de reflexão poderia nos ajudar a esse respeito? Bom, em primeiro lugar, começamos com um “mapa conceptual”, onde podemos destacar o seguinte: 1. Concordamos que Evangelho na Bíblia significa: “Boa Nova” e isso, é esperançoso para um mundo que geme pela sua transformação (Rom. 8:21-22). A etimologia da palavra “integral”, tem a ver literalmente com: inteiro, correto, completo. (Dicionário Priberam da língua Portuguesa) 2. Evangelho integral é então a boa notícia completa, inteira de Deus em Jesus, para o ser humano todo. A sua fonte de revelação é a Palavra inspirada de Deus. (Marcos 1:15). Nossa pretensão não é inventar algo que já na Bíblia é explícito. Porém, falamos desta concepção completa, pois sabemos que existe o risco de: “Um evangelho reducionista” que historicamente, já tem “paquerado” com alguns líderes das igrejas evangélicas. Essa ideia, tenta reduzir o evangelho aos “rudimentos” de Cristo. A Bíblia, felizmente, nos exorta a deixar os ensinos básicos e avançar até a maturidade. (Hebreus 6:1). No Novo Testamento, Paulo alertou que algumas pessoas estavam querendo perverter o Evangelho “holístico” de Cristo. Também afirmou determinadamente que “se alguém anuncia um evangelho diferente, seja anátema” (Gálatas 1:7-8) 3. O paradigma do Evangelho Integral, foi bem articulado no Pacto de Lausanne, Suíça 1974, Congresso Internacional de Evangelização Mundial. Reflexões mais recentes desse movimento, foram publicadas no “Manifesto de Manila”, Filipinas 1989 e “Compromisso da Cidade do Cabo”, África do Sul 2010. 4. Os pensadores brasileiros, tem contribuído muito na sistematização deste enfoque. Só no Google Brasil, encontram-se 621,000 referências ao tema. Embora, nosso interesse é só colocar alguns pontos principais da proposta: 1 Mora em Natal, RN e trabalha como representante para América Latina da Universidade de “Eastern”, com sede em Pensilvânia, E.U. É uma entidade cristã centrada em valores de Fé, Razão e Justiça para a formação de liderança integral para um impacto do Reino de Deus no mundo todo.
  • 34. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 34 34  Os impactos do Evangelho Integral, incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja para um discipulado sério e um serviço responsável no mundo. Ou seja: Anúncio, Defesa e Confirmação do Evangelho ---> Filipenses 1:7,15,17.  A igreja inteira, precisa levar o Evangelho todo ao mundo todo. Essa é sua Missão Integral. Como falou Roberto Suderman, “missão é a identificação da tarefa humana com a tarefa de Deus” Então uma igreja que prega a missão deve, ela própria, ser marcada por Cristo. Por isto, Suderman também fala que “espiritualidade é a identificação do espírito humano com o Espírito de Deus”. Missão e espiritualidade, são então inseparáveis. O seja, uma igreja deve também ser modelo de Espiritualidade Integral.  Completando esta triada, adotemos a recomendação do Pacto de Lausanne de formar líderes nacionais com estilo criativo de liderança. Não de domínio, mas de serviço, que facilita e não atrapalha a proclamação plena do Evangelho no poder do Espirito Santo. (Romanos 15:18-19) Isto é Liderança Integral. Em segundo lugar, lembrando a John Stott: “Compromisso sem reflexão é fanatismo em ação. Reflexão sem compromisso, é a paralisia de toda ação”, não fiquemos na teoria e falemos dos possíveis desafios e compromisso que são necessários para integrar este conceito bíblico, na vida missionária de nossas igrejas. O convite desta proposta, é assumir em oração e ação uma transição concreta que faça realidade nosso compromisso com o Evangelho Integral. Para facilitar o planejamento concreto, usaremos de referência, a triada antes mencionada: Missão Integral, Espiritualidade Integral e Liderança Integral.
  • 35. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 35 35 Missão Integral Espiritualidade Integral i Liderança Integral  Anuncio, defesa e confirmação do Evangelho.  Atinge a pessoa completa e não só “a alma”.  Inspirada no modelo e chamado de Jesus (João 20:21)  É responsabilidade da igreja toda e não só dos chamados “missionários” (Efésios 3:10)  Focada no impacto qualitativo na vida, conforme modelo de crescimento de Jesus. Físico, mental, social e espiritual (Lucas 2:52)  Em resumo: Todo o Evangelho para o ser humano completo, em todos os lugares e com a presença plena de Deus (Mateus 28:19)  É integrada inseparavelmente com a ação de missão integral. (Missão de Deus vivificada pelo Espirito de Deus)  Focada em processos de disciplinas espirituais e não só em “eventos isolados”  Os alvos são abrangentes: Morar “Em Cristo”; Viver “como Cristo” e crescer “Até Cristo” e sua plenitude.  É espiritualidade para a vida (João 10:10) e tem ações para cima (intimidade com Deus), para fora (Serviço ao próximo) e para dentro (inteligência espiritual para crescer como discípulo)  Inspira dentro da igreja uma visão compartilhada e não isolada.  Alicerçada na intimidade com Deus. Com tempo e lugar para Deus (Selah) e não só para o “ativismo estéril”.  Não se amolda, é comprometida com a aprendizagem continua. (1 Coríntios 15:58, Rom.12:2)  Busca sabedoria, afirmação e vitória na “multidão de conselheiros” (Prov.11:14; 15:22; 24:6)  Perfil de liderança servidora como Jesus (Marcos 10:44-45)  Segurança que vem de andar em integridade (Prov.10:9) Encerramos esta reflexão com uma frase de Frank Outlaw: “Cultiva um pensamento, se converterá em palavras; cultiva suas palavras, se converterão em ações; cultiva suas ações, se converterão em hábitos; cultiva seus hábitos, se converterão em caráter; cultiva seu carácter, obterá um destino” QUESTIONÁRO PARA REFLEXÃO: 1. Porque é importante a integração de missão integral, espiritualidade integral e liderança integral na vida missionária da sua igreja? 2. Quais são as fortalezas e áreas de oportunidade da sua igreja em cada uma dessas três categorias? 3. O que acontece quando a igreja pretende operacionalizar um paradigma de Evangelho Integral e não tem o estilo de liderança apropriado? 4. Quais seriam as ações concretas de um plano para operacionalizar o Evangelho Integral na sua igreja? i Recomendo os livros de Richard Foster: Celebração da Disciplina e Clássicos Devocionais que contém um estudo profundo de 13 disciplinas espirituais, acompanhadas de 52 devocionais clássicos dos teólogos mais conhecidos na história da fé.
  • 36. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 36 36 Espiritualidade e Espiritualidades Ricardo Barbosa de Souza BUSCANDO UMA DEFINIÇÃO Espiritualidade é o tema da agenda religiosa nesta virada de milênio. Em todos os encontros, debates e discussões ela está presente. Não apenas no universo teológico, mas cultural, empresarial, econômico, etc. Todos conversam sobre o assunto, falam de suas experiências, descrevem seu momento espiritual. Empresas preocupam-se com o estado espiritual dos seus executivos, cursos e palestras são oferecidos, livros e revistas especializados no assunto surgem a cada dia. Mas, como diz o Rev. Eugene Peterson, quando encontramos um grupo de homens conversando sobre colesterol é porque estão preocupados com sua saúde, alguma coisa não vai bem, doutra forma, não conversariam sobre o assunto. Quando vemos e ouvimos muita gente conversando e lendo sobre espiritualidade é um mau sinal, a luz vermelha está acesa, é um tema que preocupa, que não está de todo resolvido, há inquietações. Antes de qualquer coisa é bom lembrar que quando falamos de espiritualidade não estamos nos referindo apenas à obra do Espírito Santo, mas também aos movimentos do espírito humano na busca por identidade e significado. Neste sentido podemos falar de espiritualidades. Não se trata de uma realidade, mas de várias, com expressões e formas diferentes. Talvez, nunca vivemos na história um período tão marcado pela busca do sagrado e por uma abertura espiritual como vivemos hoje. Isto se vê mais acentuadamente na cultura ocidental que durante quatro séculos se viu reprimida pela ditadura racional. O racionalismo determinou o sentido e o significado da realidade humana e, qualquer expressão que não pudesse ser definida pela lógica da ciência, era considerada falsa. O que vemos hoje não é outra coisa senão uma revolução do espírito humano protestando contra a repressão que viveu sob a bota do iluminismo. A segunda metade deste século foi marcada por várias rebeliões e protestos. O movimento “hippie” dos anos 60 e 70 que protestou contra a repressão moral, a guerra do Vietnã, consumismo, levantando a bandeira do amor livre, do uso das drogas, da quebra dos preconceitos e tabus. O movimento feminista que lutou pelos direitos das mulheres, contra uma sociedade machista que não apenas oprimia as mulheres, mas impunha um
  • 37. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 37 37 modelo social masculino. No campo político tivemos a “perestroika” e a “glasnost”, a queda do muro de Berlim, o colapso das estruturas políticas totalitárias e o surgimento do neoliberalismo com a promessa de uma economia globalizada. O surgimento dos livros de auto ajuda e a descoberta da inteligência emocional abriu um novo espaço nos centros que até pouco tempo atrás eram dominados pelos tecnocratas. No mundo evangélico tivemos a renovação carismática dos anos 60, o movimento da música “gospel” no final dos anos 80 e 90, e o surgimento das igrejas neo pentecostais ou pós pentecostais com as promessas de saúde, riqueza e felicidade instantâneas. Tudo isto são manifestações de protesto do espírito humano, e o protesto tinha um endereço: a opressão do totalitarismo racional. A cultura moderna gerou um espírito moderno que considerava como verdadeiro somente aquilo que podia ser comprovado cientificamente e compreendido racionalmente. O protesto veio nos dizer que existe uma verdade mais profunda do que a leitura superficial do racionalismo impessoal. Era isto que Pascal protestou quando disse que “o coração tem razões que a própria razão desconhece”; foi também o que a revolução psicoterapeuta iniciada por Freud no final do século passado quis mostrar. O DESAFIO DA CULTURA MODERNA PARA A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ A Reforma Protestante ancorada no renascimento e posteriormente no iluminismo, trouxe, sem dúvida, uma grande contribuição e um avanço teológico para o cristianismo. Libertou a igreja da opressão da ignorância e da superstição do final da idade média. O desenvolvimento de uma teologia sistemática deu substância para uma fé e uma compreensão mais adequada da experiência espiritual. No entanto, a exigência de uma fé articulada racionalmente acabou reprimindo os anseios do espírito e deu a teologia sistemática o honroso título de “rainha das teologias”. Conhecer a Deus implicava em dominar os dogmas da fé. Conhecimento passou a ser um atributo exclusivo da razão. Enquanto que nos primeiros séculos da era cristã, tanto para os pais da igreja como para os pais do deserto, o conhecimento e o relacionamento eram inseparáveis, para a era moderna tornaram-se coisas distintas. Para os pais da igreja, conhecer a Deus implicava em amá-lo. A teologia e a oração não eram tarefas distintas. No período pré-moderno, não vemos uma separação acentuada entre o conhecimento e relacionamento. Gregório, o Grande do século VI já afirmava que “amor é conhecimento”. Se olharmos para as obras de Irineu e Orígenes do segundo e terceiro século, Agostinho e os
  • 38. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 38 38 irmãos da Capadócia do quarto século; Benedito e Gregório do sexto; Simeão, o Novo Teólogo do décimo; Bernardo da Clareval e Ricardo de São Victor do décimo-segundo; Boaventura do décimo-terceiro e Walter Hilton do décimo- quarto vemos que para todos eles, conhecimento e amor, teologia e relacionamento eram a mesma coisa. Sua teologia não era outra coisa senão sua própria experiência com Deus. “As Confissões” de Agostinho, as “Regras Monásticas” de Benedito de Núrcia, o “Cuidado Pastoral” de Gregório, o Grande, as “Orações” de Simeão, os comentários de Cantares e outros escritos der Bernardo, todos eram expressões de sua fé pessoal, de seu amor por Deus, de sua vida de oração. Não havia o divórcio entre teologia e espiritualidade. Pacômio, do século onze afirmou que: “orar é fazer teologia”. A teologia emergia da oração. Não eram diferentes. O divórcio entre a teologia e a espiritualidade surge no fim da idade média com o escolasticismo. Se de um lado Gregório afirmava no século sexto que amor é conhecimento, agora Tomás de Aquino no século décimo terceiro distinguia o conhecimento de Deus que surgia do amor e relação com ele, daquele que era propriamente científico e dogmático. A partir do século dezesseis e dezessete vemos que a separação da teologia da vida espiritual ganha corpo na medida em que ela torna-se cada vez mais subdividida. O iluminismo gerou um novo tipo de teólogo: aquele que nunca orou. Chegamos no final do século vinte, depois de duas guerras mundiais e muitos outros conflitos de natureza política, econômica e étnica, com um sentimento de fracasso, vazio e descrença para com os modelos políticos e teorias racionais. Surgem neste contexto vários movimentos espirituais, muitos de natureza esotérica, buscando aquilo que as grandes ideologias racionalistas falharam em proporcionar ao ser humano. É neste contexto que o cristianismo enfrenta seu grande desafio. De um lado, há o desafio teológico, de preservar fundamentos, estabelecer alicerces, construir as bases. De outro, o desafio espiritual, de considerar as demandas e anseios do espírito, o lugar e significado da oração e do relacionamento pessoal com Deus. Segundo o Prof. James Houston, o desafio que temos é o de buscar uma teologia mais espiritual e uma espiritualidade mais teológica. TEOLOGIA MAIS ESPIRITUAL Precisamos de uma teologia que nos desperte para um relacionamento pessoal e verdadeiro com Deus. Noutras palavras, uma teologia que nos aponte o caminho da oração, que seja mais pessoal e afetiva, e não apenas acadêmica. É lamentável constatar que muitos estudantes que entram para um seminário motivado por um profundo amor por Deus e desejo de servi-lo, depois de quatro ou cinco anos de estudo, saem orando menos, afetivamente
  • 39. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 39 39 mais atrofiados e mais limitados relacionalmente. Uma teologia que não nos motive para a oração, certamente não cumpre com seu papel. Deus nos chama para participarmos da eterna comunhão que o Pai, o Filho e o Espírito Santo gozam. Este relacionamento é a razão primeira e última da teologia. Quando perguntaram para Jesus qual era o maior de todos os mandamentos, sua resposta apontou para uma dimensão relacional e afetiva: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.” Este era o fim da teologia, a razão de ser dos mandamentos e dos profetas. O apóstolo João nos dá a resposta mais simples e ao mesmo tempo profunda sobre o conhecimento de Deus. Ao afirmar que “Deus é amor” ele define a natureza pessoal do Deus Bíblico. Uma teologia mais espiritual deve ocupar-se com a conversão das emoções e não somente com a conversão das convicções. Julia Gatta, escrevendo sobre o pensamento de Walter Hilton, místico cristão que viveu na Inglaterra no século XIV e trabalhou este tema da conversão das emoções, afirma: “... A totalidade do ser está envolvida no processo de união com Cristo. Tanto nossa mente como nossos sentimentos precisam caminhar em direção à conversão, à progressiva purificação e, finalmente, à transformação. A renovação intelectual, se não é mais fácil, no mínimo é um assunto relativamente mais simples, comparado com a redenção da afetividade. A emoção, especialmente emoção religiosa, é um fenômeno complexo. O fruto do Espírito não pode ser igualado a um simples “sentir-se bem”...Como em todos os outros aspectos da natureza humana, a afetividade precisa ser interpretada, disciplinada e, finalmente, redimida.” O racionalismo preocupou- se com as convicções. Hoje vemos que a fé tem uma complexidade emocional maior que imaginamos. Uma teologia mais espiritual deve também resgatar a figura do “santo” e do “sábio” ao invés de valorizar apenas o “teólogo” ou o “PhD”. O “santo” ou o “sábio” que pode ser também chamado de “pai” ou “mentor” é alguém que, além de possuir o domínio da ciência, possui também a sabedoria que penetra os segredos da alma. Santo Agostinho fala do “duplo conhecimento”, de Deus e de nós mesmos. Ele escreve: “Permita-me conhecer a ti ó Deus, permita-me conhecer a mim mesmo, isto é tudo”. Para Agostinho, conhecer a Deus implica em conhecer a nós mesmos. Jesus foi um Mestre que não apenas expunha as Escrituras e revelava a natureza do Pai, como também expunha o espírito humano e revelava os segredos mais íntimos do coração. Jesus era um santo, um sábio, um mestre, um mentor. A partir de Cristo podemos perguntar: Quem é o verdadeiro teólogo? Aquele defendeu uma brilhante tese de doutorado, escreveu o melhor livro, estudou nas melhores escolas ou aquele que, em Cristo, dá sentido à vida confusa e desestruturada das pessoas?
  • 40. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 40 40 Uma teologia mais espiritual deve nos conduzir a dar mais valor aos acontecimentos simples e rotineiros e não apenas aos grandes e glamorosos. Eugene Peterson diz que temos uma tendência a olhar para a vida com a ótica jornalística. Buscamos o grande, valorizamos o extraordinário, exaltamos o glamoroso. Mas as páginas dos evangelhos e as melhores tradições cristãs nos ensinam que a graça de Deus atua nos acontecimentos simples e rotineiros do dia-a-dia. Precisamos de uma teologia que nos ajude a perceber e valorizar aquilo que Deus está realizando em nós. O salmista percebe o valor das coisas pequenas e simples ao dizer: “Senhor, não é soberbo o meu coração, nem altivo meu olhar; não ando à procura de grandes coisas, nem de coisas maravilhosas demais para mim. Pelo contrário, fiz calar e sossegar a minha alma; como a criança desmamada se aquieta nos braços de sua mãe, como essa criança é a minha alma para comigo.” Uma teologia mais espiritual requer também uma linguagem mais espiritual e menos técnica. Não me refiro a uma linguagem espiritualizada, mas uma linguagem que desperte os desejos do coração, que convide à intimidade. Grande parte da Bíblia trabalha com uma linguagem poética ou narrativa. O apóstolo Paulo procura sempre uma forma pessoal de comunicar a verdade do evangelho. Não se trata de reduzir ou simplificar. Sempre lutamos contra a preguiça intelectual, mas precisamos reconhecer que há uma outra linguagem menos técnica, mais íntima; menos professoral e mais pessoal para comunicar o evangelho. UMA ESPIRITUALIDADE MAIS TEOLÓGICA Se de um lado necessitamos de uma teologia mais espiritual, que se ocupe com todo o homem, integral, por outro, precisamos também de uma espiritualidade mais teológica, que estabeleça limites, que defina os contornos e que dê a base. Reconhecemos que há um protesto do espírito humano, uma busca pelo íntimo, pelo sagrado, por um significado que transcenda nossas narrativas racionais, que penetre e toque na alma humana. No entanto, reconhecemos também que uma espiritualidade esotérica, narcisista, centrada no ser e no bem estar, mais fundamentada na psicologia e antropologia moderna e não na teologia, também não irá preencher as lacunas do homem criado a imagem e semelhança de Deus. Por uma espiritualidade mais teológica, reconhecemos que necessitamos de: 1. Uma espiritualidade trinitária. A doutrina da Trindade é o fundamento para uma espiritualidade cristã e teologicamente bíblica. Ela nos revela um Deus que nos convida para participar da comunhão que o Pai, Filho e Espirito Santo gozam desde toda a eternidade. Ao ser criado à imagem e semelhança de Deus, fomos criados para a comunhão trinitária. Em sua “oração
  • 41. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 41 41 sacerdotal”, Jesus diz: “Para que sejam um, como és tu ó Pai em mim e eu em ti, sejam eles também em nós…”. O convite de Jesus é para que a comunhão que o Filho e o Pai gozam seja também compartilhada por aqueles que foram, em Cristo, reconciliados com Deus. É por meio da doutrina da Trindade que entendemos a natureza da pessoa e da espiritualidade cristá. Os pais da antiga Capadócia diziam: “o ser de Deus só pode ser conhecido através de relacionamentos pessoais e do amor pessoal. Ser significa vida e vida significa comunhão”. Não há conhecimento possível do Filho sem a participação do Pai, e nem há possibilidade de conhecimento do Pai sem a revelação do Filho. Se não entendemos a comunhão no ser trinitário de Deus, não podemos conhecer a Deus. “Foi desta maneira que o mundo antigo ouviu pela primeira vez que é a comunhão que forma o ser, que nada existe sem ela, nem mesmo Deus” (John Zizioulas). 2. Uma espiritualidade cristocêntrica. O propósito da espiritualidade cristã é o nosso crescimento em direção a Cristo, ser conformados à imagem de Jesus Cristo. Não se trata de um ajustamento sociológico ou psicológico, de sentir-se bem emocionalmente ou socialmente, mas de um processo de crescimento e transformação. Para Paulo isto significa caminhar em direção à perfeita varonilidade, à medida de estatura de Cristo. Ele mesmo afirma que a vida encontra-se oculta em Cristo e, por esta razão, devemos buscar as coisas do alto onde Cristo vive. O fim da espiritualidade cristã esta numa humanidade madura e completa em Cristo. 3. Uma espiritualidade comunitária. Uma vez que a natureza de Deus é relacional, a natureza da pessoa regenerada em Cristo é igualmente relacional. A conversão é a transformação do individuo em pessoa. O individuo é o ser encapsulado em si mesmo, que se realiza na auto promoção, é narcisista, concebe a liberdade apenas em termos de autonomia e independência. A pessoa é o ser em comunhão, que se realiza nas relações de afeto e amizade, é altruísta, concebe a liberdade em termos de entrega , obediência e amor auto doado. 4. Uma espiritualidade centrada na Palavra de Deus. Como já vimos, o propósito da espiritualidade cristã é o nosso crescimento em Cristo. É o processo no qual somos transformados pela Palavra de Deus participando cada vez mais da vida em Cristo. O apóstolo Paulo diz que uma vez que fomos ressuscitados com Cristo, nossa vida está oculta em Cristo. Portanto, a vida espiritual não é um processo de ajuste aos valores sociais dominantes, mas um caminho que envolve crise e transformação, onde a tensão entre a Palavra de Deus e o mundo estarão sempre presentes.
  • 42. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 42 42 Esta tensão se dá através de dois movimentos: O primeiro é o confronto entre a Palavra de Deus e a ordem social, moral e religiosa dominantes. Sabemos que a leitura e meditação nas Sagradas Escrituras nos consola, edifica e conforta, mas também nos desafia, provoca e confronta. Este confronto exige um diálogo constante entre a Palavra de Deus e o mundo que vivemos. Paulo escreve aos romanos e roga para que não sejam conformados com o mundo, mas transformados pela renovação da mente. Noutra ocasião, ele fala da necessidade de termos a “mente de Cristo”, ou seja, pensarmos com os mesmos critérios, valores e princípios que Cristo pensava. Um segundo movimento é o confronto entre a Palavra de Deus e o nosso mundo interior. Todos nós trazemos do nosso passado lembranças, memórias e imagens que turvam nossa compreensão de Deus e de nós mesmos. São sentimentos negativos de abandono, medo, solidão que formam em nós uma auto-imagem também negativa de inadequação e rejeição, que por sua vez compromete nossa imagem de Deus. Carregamos conosco mágoas, ressentimentos, invejas e ciúmes que nos induzem a usar a Deus ao invés de sermos usados por ele, que provocam uma relação confusa e manipuladora ao invés de uma entrega serena e confiante. É preciso deixar a Palavra de Deus iluminar nosso mundo interior, transformá-lo em Cristo, restaurar nossa vida à imagem de Deus e resgatar a imagem do Deus revelado em Cristo Jesus. A Bíblia como instrumento de transformação e crucificação exige de nós uma aproximação devocional. Reverência e silêncio são posturas básicas de quem deseja ser consolado, confrontado e transformado. É ela quem estabelece o diálogo entre nós e o mundo, seja o mundo exterior ou interior, e nos transforma em Cristo. 5. Uma espiritualidade missionária. A igreja não tem uma missão que seja sua própria, ela participa na “Missio Dei”, da mesma forma com Cristo afirma que não tem uma palavra, juízo ou missão que seja sua, mas que sua comida e bebida consiste em fazer a vontade do Pai e realizar a sua obra. Oração e missão precisam caminhar juntas. Oramos para que nossos caminhos sejam convertidos nos caminhos de Deus, para que nossos pensamentos sejam transformados, para que nossos conceitos de justiça, direito, verdade sejam conformados com os de Deus. Frequentemente confundimos os nossos conceitos com os de Deus, achamos que temos uma missão, que conhecemos a natureza da justiça e do direito divino. A tentação no deserto foi uma experiência definidora da vocação e missão de Jesus. Sua rejeição aos caminhos propostos por Satanás que, segundo Nouwen, apontam para o imediatismo, o mágico, o popular, o
  • 43. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 43 43 espetacular, para o ser poderoso, próspero, apresenta uma nova forma de ver a missão e realizar a obra de Deus. Jesus rejeita as alternativas que derivam do poder, para abraçar um projeto que nasce da graça e se encarna no amor de Deus para com os homens. Não há como separar a espiritualidade de Jesus de sua missão. Num dos momentos mais críticos de sua vocação, Jesus diz a Filipe e André: “Agora está angustiada a minha alma, e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas precisamente com este propósito vim para esta hora”. A agenda da oração de Jesus foi determinada pela sua vocação e não pelas necessidade pessoais. Qualquer um, diante das angustias da alma, oraria para que fossem aliviadas, curadas, redimidas. Jesus, no entanto, sabe para que veio, reconhece que não é ele que determina a pauta de suas orações. Então ora e diz: “Pai, glorifica o teu nome”. Era a glória do Pai, o cumprimento do seu propósito, a missão que recebera dele, que determinou sua oração. O objeto da oração de Jesus era o Pai, não ele próprio. Era a missão do Pai, não a sua. CONCLUSÃO O mundo, na virada do milênio, tornou-se mais espiritual, mais aberto ao mistério, mais psicológico, íntimo, emocional. Antes, o tribunal que julgava as questões humanas, era o tribunal da razão. Era preciso estabelecer a verdade pelo argumento da lógica. Cria-se naquilo que era racionalmente demonstrado. Hoje, o tribunal que julga as questões humanas é o tribunal das emoções. A verdade é determinada mais pelo sentimento do que pela lógica da razão. Hoje se crê naquilo que é emocionalmente compensador. O culto que herdamos dos reformadores tem como centro as Escrituras e sua exposição cuidadosamente elaborada com a ajuda das ferramentas exegéticas e hermenêuticas. O culto moderno transferiu seu eixo central, deixou de lado as escrituras e a exposição e colocou no lugar o louvor, geralmente com músicas de letra pouco consistentes e melodias que apelam para as emoções. Além da música, temos também a ministração de curas interiores, testemunhos de prosperidade e exorcismos. Os livros que mais vendem são os que tratam de temas relacionados com guerra espiritual, cura interior, conflitos relacionais. O interesse pela teologia, pela reflexão séria e multidisciplinar, pelo estudo cuidadoso das escrituras vem rapidamente perdendo seu espaço e apelo para as novas gerações. Certamente, o saudosismo não nos ajudará a responder as questões que se colocam diante de nós. A resposta não está em voltar atrás, em redimir o passado. Temos novas perguntas diante de nós, novas demandas pastorais e novos desafios teológicos. É preciso reconhecer que por muito tempo
  • 44. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 44 44 reduzimos o homem todo a um ser racional, que o divórcio da teologia sistemática com a teologia espiritual nos conduziu a uma espiritualidade mais cognitiva e menos afetiva e pessoal. Precisamos reconhecer que o propósito da teologia não é o de dar-nos mais um título de Phd e tornar nossa linguagem mais técnica e confusa, nem tampouco elevar nosso ego e tornar-nos mais narcisistas. O propósito da teologia é o de nos tornar sábios para a salvação, de dar sentido (emocional, psicológico, moral e intelectual) a vida. O verdadeiro teólogo não é aquele que escreveu livro mais volumoso, a tese mais complexa, o discurso mais erudito, mas aquele que encontrou o caminho da comunhão com Deus, que aprendeu a amar o Senhor de todo coração alma e força, que ama ao próximo como a si mesmo, que ora, que conhece a Deus e conhece a si próprio e que ajuda os outros a encontrarem o sentido de suas vidas e tornarem-se sábios para a salvação em Cristo. Fonte: monergismo.com QUESTIONÁRIO PARA REFLEXÃO: 1. É Possível separar espiritualidade e missão? 2. Porque é importante desenvolvermos uma espiritualidade mais teológica? 3. Quais os perigos de não praticarmos uma teologia mais espiritual? 4. Para você, que é Espiritualide?
  • 45. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 45 45 Apêndice - Pacto de Lausanne Introdução Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto. 1. O Propósito de Deus Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente. 2. A Autoridade e o Poder da Bíblia Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.
  • 46. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 46 46 3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os homens. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como “o Salvador do mundo” não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor. 4. A Natureza da Evangelização Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e creem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.
  • 47. Todos os Direitos Reservados a ALEF. (Associação dos líderes Evangélicos de Felipe Camarão). Página 47 47 5. A Responsabilidade Social Cristã Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar, mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta. 6. A Igreja e a Evangelização Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrifical. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrifical da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.