O que são os focos ecogênicos ou golf balls no coração fetal
1. O que são e qual a importância dos chamados “focos ecogênicos”, ou “golf balls”, ou “bolas de golfe” no coração fetal às
vezes descritos na ultrassonografia?
Frequentemente a gestante vai fazer sua ultrassonografia obstétrica de rotina e é surpreendida com a descrição de um achado que a
deixa em pânico, assim como o pai e o resto da família: foi detectado um “golf ball” no coração do bebê! A busca de um
esclarecimento urgente é iniciada, muitas vezes até através da Internet, e habitualmente a tranquilidade desejada não é obtida da
forma como ela gostaria, já que uma enorme massa de informações já foi veiculada ao longo dos últimos anos na literatura
internacional, com relatos conflitantes e heterogêneos.
O ponto de partida fundamental, e que deve permanecer na mente da família, é que este é um achado benigno, sem significado
clínico ou funcional, e que não acarreta risco nenhum para o bebê!
Mas, afinal, o que são estes “golf balls”? O que ocorre é que o tecido de sustentação do coração fetal (tecido conjuntivo), que
funciona como um “esqueleto fibroso” que suporta o músculo cardíaco, ao se desenvolver, durante o período intrauterino, muitas
vezes se torna mais brilhante, pela maior deposição de cálcio. Este é um fenômeno inteiramente normal e que não compromete a
função do coração. Quando estes depósitos de cálcio são localizados nas cordoalhas, que são as pequenas “cordinhas” que
sustentam as válvulas mitral e tricúspide, e que são muito finas, eles se tornam particularmente visíveis à ultrassonografia. Muito
frequentemente, existem cordoalhas acessórias, não ligadas às válvulas, e que não têm nem função nem importância alguma, mas
onde essa mineralização (depósito de cálcio) é comum, e quando a imagem ecográfica é obtida transversalmente, dá a impressão
de uma ou mais bolinhas de golfe dentro do ventrículo esquerdo (mais frequente) ou do ventrículo direito. Ao ecocardiograma
fetal, quando este é um achado isolado, muitas vezes esses focos ecogênicos nem são descritos pelo cardiologista, para não trazer
preocupação desnecessária.
Algumas doenças cardíacas fetais, especialmente aquelas que mostram obstrução à saída do fluxo da aorta, podem se acompanhar
de depósitos de cálcio aumentado ao longo das paredes internas do coração, o mesmo ocorrendo quando há algum processo
inflamatório que atinja o coração do bebê, mas o aspecto desses depósitos é inteiramente diverso dos “golf balls”, porque são
difusos e não focais. Esta diferença é muito facilmente verificada no ecocardiograma fetal.
Mas por que houve tanta preocupação com este achado, e que gerou tanta ansiedade injustificada no mundo todo? O que
aconteceu foi que alguns trabalhos iniciais, realizados na Inglaterra e outros locais, tentaram associar o achado de “golf balls” no
coração fetal com risco aumentado de doenças cromossômicas, como o mongolismo (síndrome de Down). Isto porque foi
verificado que os bebês com síndrome de Down frequentemente tinham esses focos ecogênicos nos seus exames ecográficos.
Entretanto, um enorme número de estudos posteriores demonstrou claramente que a frequência de “golf balls”, na população
geral, era igual à demonstrada nos fetos com síndrome de Down, e que não havia nenhuma razão para associar focos ecogênicos
com doenças cromossômicas.
Assim, é vital que a gestante cuja ultrassonografia obstétrica mostre “golf balls” e que tenha realizado um ecocardiograma fetal
normal pode ficar inteiramente tranquila no que se refere à certeza de que seu bebê não tem chance maior de síndrome de Down
do que qualquer outro e de que este achado não vai acarretar qualquer risco adicional.
Fonte: http://www.ecofetal.com.br/perguntasrespostas/perguntas_detalhes.asp?IDpergunta=17
Maiores informações: <http://giselepacleite.blogspot.com.br/>
Dra. Gisele Leite
Cardiologia Pediátrica – CRM: RN 6433