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Medicina, Ribeirão Preto,
35: 192-197, abr. /jun. 2002                                                                           TEMAS DE ENSINO MÉDICO




          QUANDO SUSPEITAR DE CARDIOPATIA CONGÊNITA
                      NO RECÉM-NASCIDO

                  WHEN CONGENITAL HEART DISEASE SHOULD BE SUSPECTED IN THE NEWBORN




          Fernando Amaral1; João Antonio Granzotti2; Paulo Henrique Manso3 & Luisa Sajovic de Conti4


1
 Faculdade de Medicina da UNAERP. Médico Assistente do HCFMRP-USP. 2Setor de Cardiologia Pediátrica do Departamento de
Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. 3Médico Assistente do HCFMRP-USP. 4Graduanda da
Faculdade de Medicina - UNAERP.
CORRESPONDENCIA: Dr. Fernando Amaral. Setor de Cardiologia Pediátrica. Departamento de Puericultura e Pediatria.Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto—USP. Campus Universitário 14048-900. Ribeirão Preto - SP. e-mail: ftvamaral@bol.com.br




           Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS. Quando suspeitar de cardiopatia congênita no recém-nascido.
             Medicina, Ribeirão Preto, 35: 192-197, abr./jun. 2002.

               RESUMO: Artigo de revisão sobre as principais manifestações clínicas das cardiopatias
           congênitas, que se manifestam no período neonatal. A partir da presença de dados clínicos,
           como sopro cardíaco, cianose, taquipnéia e arritmia, são discutidos os principais elementos
           clínicos associados, assim como as entidades mais provavelmente a eles relacionadas. Infor-
           mações sobre diagnóstico e terapêutica são também sumariamente apresentadas.

               UNITERMOS: Cardiopatias Congênitas. Recém-nascido. Sopros Cardíacos.




1. INTRODUÇÃO                                                       2. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
       O período neonatal para o paciente portador de               2.1 Sopro cardíaco
cardiopatia congênita pode ser crítico, fundamental-
mente, devido a dois fatores: a gravidade de alguns                        É um achado freqüente no recém-nascido (RN)
defeitos comumente presentes e as modificações fisi-                e a questão inicial que se apresenta é: o sopro é ino-
ológicas que normalmente ocorrem nessa fase. Sen-                   cente ou patológico? Sabemos que o sopro inocente
do assim, acreditamos que a atenção primária para                   é achado extremamente comum em crianças normais
com esse grupo de crianças deva ser feita de maneira                e seu diagnóstico é exclusivamente clínico, sem ne-
muito cuidadosa, objetivando reconhecer a cardiopatia               cessidade de exames complementares, exceto naque-
precocemente. Tentaremos abordar esse tema, pro-                    les casos duvidosos1,2,3. Entretanto, deve ser enfati-
curando valorizar, sobretudo, o exame clínico da cri-               zado que o sopro inocente no neonato não é tão fre-
ança, técnica essa que acreditamos possa ser bem                    qüente quanto em outras faixas etárias, sendo acon-
desenvolvida pelo pediatra e pelo cardiologista.                    selhável uma investigação clínica cuidadosa ou
       A suspeita clínica de cardiopatia congênita no               reavaliação freqüente dentro das primeiras semanas
período neonatal pode ser levantada pela presença de                de vida. Um tipo de sopro inocente, comumente en-
quatro achados principais: Sopro cardíaco, cianose,                 contrado nesse período, é aquele originado pela des-
taquipnéia e arritmia cardíaca.                                     proporção que normalmente existe entre a artéria


192
Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido.




pulmonar central e seus ramos, sendo audível bilate-
ralmente, inclusive no dorso e com tendência ao desa-
parecimento precoce4. De forma semelhante ao en-
contrado em outras faixas etárias, o sopro de Still, au-
dível no 3° e no 4° espaço intercostal esquerdo, o so-
pro no foco pulmonar e o sopro supraclavicular são
modalidades de sopro inocente que também podem
ser detectados no RN, porém com menor freqüência.
Por outro lado, a caracterização do sopro patológico
deve ser baseada em três dados: na maioria dos ca-
sos, esses sopros são rudes, quase sempre sistólicos e
usualmente localizados. São muitas as causas desse
ruído patológico, sendo as mais freqüentes a comuni-
cação interventricular (CIV), a persistência do
canal arterial (PCA), a estenose da valva pulmo-
nar (EP) e a estenose da valva aórtica (EAo). A
insuficiência da valva tricúspide, comumente associa-
da com o período de hipertensão pulmonar transitória
do RN, pode apresentar-se com sopro sistólico no foco
tricúspide, e tende a desaparecer progressivamente.
É importante enfatizar que, mesmo no recém-nasci-
do, existe um grau relativamente alto de especificida-
de entre o achado semiológico à ausculta e o tipo de
defeito cardíaco, encontrado naquelas cardiopatias
consideradas “simples”, geralmente manifestando-se
como lesão única. Entre as cardiopatias complexas,
entretanto, é comum, porém não obrigatória, a pre-         sentar sopro bem audível e com pouca ou nenhuma
sença de um sopro sistólico com menor grau de espe-        repercussão clínica. Freqüentemente , a avaliação clí-
cificidade diagnóstica (Tabela I). Na abordagem des-       nica cardiológica oferece a possibilidade de, somente
ses pacientes com sopro, acreditamos que três con-         com recursos semiológicos, estabelecer o diagnóstico
ceitos fundamentais devam ser discutidos.                  da anomalia. Rotineiramente empregados, o eletrocar-
• Sopro rude significa cardiopatia grave?                  diograma e a radiografia simples do tórax proporcio-
• Neonato com sopro e assintomático: bom prog-             nam ajuda considerável na elaboração do diagnóstico,
  nóstico?                                                 que, na grande maioria dos casos, será confirmado
• Neonato sem sopro: existe cardiopatia?                   pelo ecocardiograma.

      O desdobramento desses três conceitos, certa-        2°) Neonato com sopro e assintomático: bom
mente, permite ampla discussão, em virtude da gran-            prognostico?
de variedade de cardiopatias passíveis de serem de-               Nem sempre. Essa é uma situação bastante
tectadas no período neonatal. Procuraremos mostrar         peculiar, que requer avaliação clínica detalhada e com-
aqui as causas mais freqüentes de cardiopatias, en-        preensão precisa da fisiologia cardiovascular neona-
volvidas nesses tópicos, procurando oferecer um as-        tal. Pacientes portadores de cardiopatias congênitas
pecto prático ao tema (Tabela II).                         com hiperfluxo pulmonar (CIV, CIA, PCA e defeito
                                                           do septo atrioventricular, entre outras) constituem
1°) Sopro rude significa cardiopatia grave?                um grupo importante. No período neonatal, quando os
       Não necessariamente. Um exemplo muito co-           defeitos são grandes e a resistência vascular pulmo-
mum é a criança nascida com CIV, que classicamen-          nar é alta, as crianças costumam ser totalmente as-
te apresenta sopro sistólico rude e é assintomática,       sintomáticas. Entretanto, quando a resistência pulmo-
quando o diâmetro do orifício é pequeno5. Outras si-       nar diminui, é comum o aparecimento de sintomas pro-
tuações são as estenoses das valvas pulmonar6 e            gressivos, do tipo dispnéia e sudorese, podendo evo-
aórtica de grau moderado, que também podem apre-           luir para insuficiência cardíaca. Outro exemplo são

                                                                                                                            193
Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS




crianças nascidas com coarctação da aorta8 com              pista importante para o diagnóstico diferencial é que
canal arterial patente. Quando o canal se fecha es-         os pacientes com hipertensão pulmonar transitória
pontaneamente, geralmente no final da 1ª semana ou          costumam ter (porém nem sempre) uma 2ª bulha car-
na 2ª semana de vida, os sintomas aparecem, poden-          díaca, nitidamente desdobrada nos focos pulmonar e
do ocorrer insuficiência cardíaca grave. Pacientes por-     tricúspide, diferente das cardiopatias congênitas,
tadores de estenose aórtica valvar grave podem,             cianóticas, complexas, que costumam apresentar 2ª
também, se apresentar totalmente assintomáticos ao          bulha única e hiperfonética, como no caso da trans-
nascer e evoluir rapidamente para quadro de insufici-       posição dos grandes vasos, a cardiopatia cianótica
ência cardíaca grave, necessitando intervenção tera-        mais comum no período neonatal. O diagnóstico clíni-
pêutica invasiva.                                           co, nesses casos, costuma ser difícil, mesmo com a
       Nas situações acima citadas, é fundamental o         ajuda do ECG e radiografia de tórax, que, entretanto,
estabelecimento de um diagnóstico definitivo, geral-        devem ser realizados de rotina. Um aspecto impor-
mente não invasivo, de maneira precoce, que permita         tante que deve ser salientado é a necessidade de con-
prever a possível evolução clínica da criança.              firmação diagnóstica rápida nos pacientes cianóticos,
                                                            independentemente do quadro clínico. Crianças por-
3°) Neonato sem sopro: existe cardiopatia?                  tadoras de cardiopatia cianótica canal-dependente,
       É possível. Infelizmente, esse ainda é um moti-      (circulação pulmonar depende da persistência do ca-
vo freqüente para se excluir cardiopatia grave num          nal arterial para sua perfusão), podem estar aparente-
RN. Dependendo do mecanismo fisiopatológico en-             mente bem pela presença de uma PCA, que tende a
volvido, sobretudo nas cardiopatias complexas, o so-        se fechar espontaneamente e de maneira rápida. Como
pro pode estar ausente e a suspeita de cardiopatia          exemplos, temos a atresia da valva pulmonar, a
deverá ser baseada na presença de outros dados clí-         tetralogia de Fallot de má anatomia e a atresia
nicos. Algumas entidades podem se apresentar sem            da valva tricúspide como as mais freqüentes. Nes-
sopro ou, às vezes, com sopro discreto, não devida-         ses casos, é importante a disponibilidade de prosta-
mente valorizado pelo clínico. Citamos, como exem-          glandina E a ser administrada endovenosamente para
plos, a coarctação da aorta (palpe os pulsos femorais       a manutenção da patência do canal arterial, procuran-
e avalie a pressão arterial para o diagnóstico), a trans-   do estabilizar hemodinamicamente a criança10,11. (Ta-
posição dos grandes vasos (a 2ª bulha está quase sem-       bela III).
pre bastante hiperfonética e pode ajudar no diagnósti-
co), a tetralogia de Fallot grave (observe a cianose,
analise a 2ª bulha e lembre-se que na T. Fallot grave,
o sopro pode ser discreto ou mesmo ausente) além do
ventrículo único e das atresias pulmonar e
tricúspide. Os dados semiológicos, associados ao
ECG e radiografia simples do tórax permitem que, na
maioria dos casos, chegue-se a um diagnóstico, pelo
menos, aproximado da doença, que usualmente será
confirmada pelo ecocardiograma.
2.2 Cianose
       Procurando ser prudentes, acreditamos que a          2.3 Taquipnéia
presença de cardiopatia deva sempre ser suspeitada                 O RN com quadro de taquipnéia/dispnéia apre-
no RN cianótico, independente do quadro clínico e,          senta urna situação que deve ser avaliada de maneira
principalmente, se essa cianose não melhorar rapi-          bastante cuidadosa, em virtude da possibilidade de
damente com a inalação de 02. Obviamente, é impor-          cardiopatia. Inicialmente, é importante afastar a pre-
tante afastar a possibilidade de obstrução das vias         sença de um quadro de taquipnéia transitória, entida-
aéreas, feita com segurança pelo neonatologista, as-        de freqüente na prática diária. Uma informação parti-
sim como a presença de hipertensão pulmonar transi-         cularmente útil, nesses casos, é que a maioria dos pa-
tória do RN , esta última bastante freqüente e facil-       cientes com taquipnéia secundária a uma cardiopatia
mente confundível com cardiopatia cianótica. Uma            costuma apresentar alterações semiológicas específi-

194
Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido.




cas, como sopro, alterações nas bulhas cardíacas, anor-
malidades nos pulsos arteriais e presença de ruídos
acessórios corno o click, ruído esse freqüentemente
confundido com desdobramento de bulha. É fundamen-
tal a investigação imediata desses pacientes com aju-
da do ECG e radiografia de tórax. O diagnóstico é
confirmado pelo ecocardiograma na grande maioria
dos casos, sendo raramente necessário o estudo he-
modinâmico. Um aspecto fundamental a ser conside-
rado é que a manifestação de taquipnéia pode ser par-
te de um quadro de insuficiência cardíaca, de gravida-
de variável, em função da severidade do defeito con-
gênito presente. Algumas situações devem ser lem-
bradas: a coarctação da aorta 8 é a causa mais co-
mum de insuficiência cardíaca no neonato, com diag-
nóstico freqüentemente suspeitado pela ausência de
pulsos femorais. O quadro pode ser bastante grave,          sença de um defeito estrutural congênito associado,
necessitando tratamento medicamentoso e interven-           que pode ser ou não responsável pela arritmia. Os dis-
ção cirúrgica imediata ou, mais raramente emprega-          túrbios do ritmo cardíaco podem ser detectados
da, angioplastia com cateter-balão. A estenose aórtica      incidentalmente, quando da avaliação neonatal rotinei-
grave do RN7 é relativamente freqüente, pode ser            ra ou, mais raramente, em situação de urgência, com
suspeitada pelo sopro rude e pulsos com amplitude di-       ou sem repercussão clínica. Citaremos as mais fre-
minuída, e costuma apresentar-se com quadro de fa-          qüentes.
lência cardíaca grave, nos primeiros dias de vida. O                EXTRÁ-SISTOLIA: nesses casos, nota-se,
tratamento clínico instituído (diuréticos, aminas) cos-     na ausculta, uma irregularidade do ritmo cardíaco, em
tuma ser ineficaz, sendo necessário procedimento in-        paciente usualmente sem evidência de cardiopatia. É
vasivo, geralmente, cateterismo intervencionista (dila-     importante lembrar a possibilidade da ocorrência de
tação da valva aórtica) como medida vital. A síndro-        arritmia sinusal (respiratória), entidade comum em
me da hipoplasia do coração esquerdo é doença               crianças normais e que pode ser confundida com ex-
extremamente grave e complexa, que costuma mani-            tra-sistolia. O diagnóstico, nessa situação, é estabele-
festar-se nas primeiras horas de vida com quadro de         cido pelo eletrocardiograma convencional. As formas
falência cardíaca grave, progressiva, evoluindo para        mais comumente encontradas no neonato são as ex-
choque cardiogênico geralmente de caráter irreversí-        tra-sístoles supraventriculares, consideradas benignas
vel 12. A terapêutica clínica deve ser instituída, porém,   e que podem ocorrer em até 20% dos prematuros,
geralmente é ineficaz. Apesar de recursos cirúrgicos        nos primeiros dias de vida, sem necessitar terapêutica
estarem disponíveis, alguns centros, em virtude da alta     Extra-sístoles ventriculares tendem a ocorrer raramen-
complexidade da doença, preferem não intervir nes-          te e, excepcionalmente, podem necessitar terapêutica
ses casos. Algumas cardiopatias cianóticas comple-          medicamentosa 14.
xas podem se manifestar precocemente, com quadro                    BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR
de insuficiência cardíaca e cianose, como o tronco          TOTAL CONGÊNITO: pode estar ou não associ-
arterial comum (truncus), a drenagem venosa                 ado a um defeito estrutural15 . A suspeita diagnóstica é
anômala total das veias pulmonares, a atresia da            baseada na presença de freqüência cardíaca anormal-
valva tricúspide e o ventrículo único, as duas últi-        mente baixa para a idade do paciente, geralmente na
mas, quando ocorrem com ausência de estenose pul-           faixa de 50 a 70 BPM, devendo ser lembrada sua pos-
monar. Esses defeitos podem ser diagnosticados pelo         sível detecção ainda no período fetal. Na maioria dos
ecocardiograma e requerem sempre intervenção ci-            casos, os pacientes encontram-se clinicamente está-
rúrgica paliativa ou corretiva a curto prazo (Tabela IV).   veis do ponto de vista cardiovascular, porém, em algu-
                                                            mas situações, quando a freqüência é muito baixa, usu-
2.4 Arritmia
                                                            almente menor que 50 BPM, pode ocorrer quadro de
      Na abordagem inicial do RN com arritmia, é            descompensação cardíaca grave, necessitando inter-
importante lembrar a necessidade de se excluir a pre-       venção imediata com marca-passo. O diagnóstico é

                                                                                                                             195
Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS




confirmado pelo eletrocardiograma convencional e a        tre as drogas habitualmente usadas encontram-se o
intervenção terapêutica é dependente do quadro clíni-     sulfato de adenosina e a amiodarona entre as mais
co da criança. Pacientes assintomáticos não reque-        eficazes e que devem ser administradas endovenosa-
rem tratamento, optando-se por uma conduta expec-         mente. A digoxina deve ser usada com cautela, princi-
tante através de seguimento ambulatorial. Freqüente-      palmente nos casos de síndrome de WPW e o
mente, a evolução é favorável e esses pacientes cos-      verapamil é contra-indicado em neonatos, em virtude
tumam ter atividade física normal durante toda a vida.    da possibilidade, já demonstrada, de induzir ao apare-
Entretanto, algumas crianças, sobretudo quando atin-      cimento de arritmias graves. O prognóstico dos casos
gem idade na qual se inicia a prática de exercícios,      de TPSV, secundários à imaturidade do sistema de
podem manifestar sintomas do tipo tonturas ou mes-        condução, é bom, havendo desaparecimento gradual
mo síncope, que indicam uma dificuldade de manu-          dos surtos de taquicardia. As formas associadas à sín-
tenção do débito sistêmico durante esforço. Nesses        drome de WPW necessitam de terapêutica invasiva,
casos, deve ser considerada a possibilidade da implan-    sendo usualmente empregada a ablação do feixe anô-
tação de marca-passo cardíaco16, assim como nas           malo com radiofreqüência durante estudo eletrofisio-
formas neonatais graves, associadas à miocardiopatia      lógico. Outra possibilidade é a cirurgia cardíaca, essa
e relacionadas à presença de anticorpos maternos anti-    atualmente de uso menos freqüente. Os resultados em
SSA/Ro e anti-SSB/LA.                                     longo prazo, após a terapêutica invasiva, costumam
                                                          ser bons, sendo rara a ocorrência de recidiva da
       TAQUICARDIA PAROXÍSTICA SUPRA-                     arritmia18 (Tabela V).
VENTRICULAR (TPSV): habitualmente relaciona-
da a uma imaturidade do sistema de condução intra-
cardíaco ou, mais raramente, secundária à síndrome
de Wolff-Parkinson-White (WPW), a TPSV é enti-
dade relativamente freqüente no período neonatal17.
Eventualmente, pode se manifestar associada a ou-
tras situações, como miocardite aguda e tumores
intracardíacos. Os pacientes com esse tipo de arritmia
costumam ser assintomáticos ou apresentam sintomas
discretos e inespecíficos, como irritabilidade e gemên-
cia. Entretanto, alguns casos podem se manifestar com            Concluindo, acreditamos que a avaliação do RN
quadro de insuficiência cardíaca, particularmente aque-   com suspeita de cardiopatia deva ser realizada de
les com duração prolongada. Um dado importante, no        maneira bastante elaborada e cuidadosa. O exame
exame físico, é que, freqüentemente, é o primeiro si-     clínico cardiológico apurado é ainda elemento valioso,
nal da doença, é o nível de freqüência cardíaca, usual-   como bem enfatizado em publicação recente19, po-
mente acima de 200 bpm, podendo, entretanto, atingir      dendo fornecer informações cruciais para o diagnós-
valores de 300 e até 400 bpm em ritmo regular. A          tico. Usados rotineiramente nestes casos, o ECG e a
confirmação diagnóstica é habitualmente feita pelo ele-   radiografia de tórax costumam ser bastante úteis na
trocardiograma convencional, devendo ser lembrada         investigação desses pacientes, que terão seu diagnós-
a necessidade de se estabelecer diagnóstico diferen-      tico confirmado, na grande maioria dos casos, pelo
cial com o flutter atrial congênito, arritmia de ocor-    ecocardiograma. As duas últimas décadas propicia-
rência bastante rara. Esses pacientes necessitam in-      ram um avanço considerável no tratamento das car-
ternação em UTI pediátrica, com monitorização             diopatias congênitas, estando disponíveis, hoje em dia,
eletrocardiográfica contínua, em virtude da possibili-    recursos farmacológicos e invasivos especificamente
dade (remota) de complicações e, também, para fa-         criados para tratamento dessas cardiopatias. Particu-
zer a reversão da arritmia para ritmo sinusal após a      larmente no período neonatal, os benefícios do catete-
terapêutica. Manobras vagais, como a compressão do        rismo intervencionista e da cirurgia cardíaca pediátrica
seio carotídeo e imersão facial em água gelada, po-       são notáveis, estando bem documentados. Entretanto,
dem ser efetivas e devem ser tentadas com muito           o uso racional desses recursos só será plenamente
cuidado. Entretanto, a maioria dos pacientes requer       valorizado se a cardiopatia for precocemente suspei-
terapia farmacológica para reversão da arritmia. En-      tada pelo clínico.

196
Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido.




           Amaral F Granzotti JA, Manso PH & Conti LS. When congenital heart disease should be suspected in the
             newborn. Medicina, Ribeirão Preto, 35:192-197, apr./june 2002.

               ABSTRACT: Review article about the main clinical features of congenital heart disease pre-
           senting in the newborn period. Based on clinical data such as heart murmur, cyanosis, breath-
           lessness and arrhythmia, the most frequently associated clinical findings are discussed as well
           as the entities most likely to be related to them. Informations on diagnosis and therapy are also
           briefly provided.

               UNITERMS: Heart Defects, Congenital. Newborn. Heart Murmurs




REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS                                            11 - KRAMER HH; SOMMER M, RAMMOS S & KROGMANN O.
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                                                                      12 - FLYER DC, ROTHMAN KJ; BULKLEY LP; COHN HE;
 2- AMARAL FTV; GRANZOTTI JA & NUNES MA. Avaliação                        HELLENBRAND WE & CASTANEDAA. The determinants of
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                                                                      15 - MICHAELS M & ENGLE MA. Congenital complete heart block:
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                                                                           NASPIBPEG generic pacemaker code for antibrady arrhyth-
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                                                                                                                                          197

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Quando suspeitar cardiopatia congenita rn

  • 1. Medicina, Ribeirão Preto, 35: 192-197, abr. /jun. 2002 TEMAS DE ENSINO MÉDICO QUANDO SUSPEITAR DE CARDIOPATIA CONGÊNITA NO RECÉM-NASCIDO WHEN CONGENITAL HEART DISEASE SHOULD BE SUSPECTED IN THE NEWBORN Fernando Amaral1; João Antonio Granzotti2; Paulo Henrique Manso3 & Luisa Sajovic de Conti4 1 Faculdade de Medicina da UNAERP. Médico Assistente do HCFMRP-USP. 2Setor de Cardiologia Pediátrica do Departamento de Puericultura e Pediatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP. 3Médico Assistente do HCFMRP-USP. 4Graduanda da Faculdade de Medicina - UNAERP. CORRESPONDENCIA: Dr. Fernando Amaral. Setor de Cardiologia Pediátrica. Departamento de Puericultura e Pediatria.Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto—USP. Campus Universitário 14048-900. Ribeirão Preto - SP. e-mail: ftvamaral@bol.com.br Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS. Quando suspeitar de cardiopatia congênita no recém-nascido. Medicina, Ribeirão Preto, 35: 192-197, abr./jun. 2002. RESUMO: Artigo de revisão sobre as principais manifestações clínicas das cardiopatias congênitas, que se manifestam no período neonatal. A partir da presença de dados clínicos, como sopro cardíaco, cianose, taquipnéia e arritmia, são discutidos os principais elementos clínicos associados, assim como as entidades mais provavelmente a eles relacionadas. Infor- mações sobre diagnóstico e terapêutica são também sumariamente apresentadas. UNITERMOS: Cardiopatias Congênitas. Recém-nascido. Sopros Cardíacos. 1. INTRODUÇÃO 2. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O período neonatal para o paciente portador de 2.1 Sopro cardíaco cardiopatia congênita pode ser crítico, fundamental- mente, devido a dois fatores: a gravidade de alguns É um achado freqüente no recém-nascido (RN) defeitos comumente presentes e as modificações fisi- e a questão inicial que se apresenta é: o sopro é ino- ológicas que normalmente ocorrem nessa fase. Sen- cente ou patológico? Sabemos que o sopro inocente do assim, acreditamos que a atenção primária para é achado extremamente comum em crianças normais com esse grupo de crianças deva ser feita de maneira e seu diagnóstico é exclusivamente clínico, sem ne- muito cuidadosa, objetivando reconhecer a cardiopatia cessidade de exames complementares, exceto naque- precocemente. Tentaremos abordar esse tema, pro- les casos duvidosos1,2,3. Entretanto, deve ser enfati- curando valorizar, sobretudo, o exame clínico da cri- zado que o sopro inocente no neonato não é tão fre- ança, técnica essa que acreditamos possa ser bem qüente quanto em outras faixas etárias, sendo acon- desenvolvida pelo pediatra e pelo cardiologista. selhável uma investigação clínica cuidadosa ou A suspeita clínica de cardiopatia congênita no reavaliação freqüente dentro das primeiras semanas período neonatal pode ser levantada pela presença de de vida. Um tipo de sopro inocente, comumente en- quatro achados principais: Sopro cardíaco, cianose, contrado nesse período, é aquele originado pela des- taquipnéia e arritmia cardíaca. proporção que normalmente existe entre a artéria 192
  • 2. Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido. pulmonar central e seus ramos, sendo audível bilate- ralmente, inclusive no dorso e com tendência ao desa- parecimento precoce4. De forma semelhante ao en- contrado em outras faixas etárias, o sopro de Still, au- dível no 3° e no 4° espaço intercostal esquerdo, o so- pro no foco pulmonar e o sopro supraclavicular são modalidades de sopro inocente que também podem ser detectados no RN, porém com menor freqüência. Por outro lado, a caracterização do sopro patológico deve ser baseada em três dados: na maioria dos ca- sos, esses sopros são rudes, quase sempre sistólicos e usualmente localizados. São muitas as causas desse ruído patológico, sendo as mais freqüentes a comuni- cação interventricular (CIV), a persistência do canal arterial (PCA), a estenose da valva pulmo- nar (EP) e a estenose da valva aórtica (EAo). A insuficiência da valva tricúspide, comumente associa- da com o período de hipertensão pulmonar transitória do RN, pode apresentar-se com sopro sistólico no foco tricúspide, e tende a desaparecer progressivamente. É importante enfatizar que, mesmo no recém-nasci- do, existe um grau relativamente alto de especificida- de entre o achado semiológico à ausculta e o tipo de defeito cardíaco, encontrado naquelas cardiopatias consideradas “simples”, geralmente manifestando-se como lesão única. Entre as cardiopatias complexas, entretanto, é comum, porém não obrigatória, a pre- sentar sopro bem audível e com pouca ou nenhuma sença de um sopro sistólico com menor grau de espe- repercussão clínica. Freqüentemente , a avaliação clí- cificidade diagnóstica (Tabela I). Na abordagem des- nica cardiológica oferece a possibilidade de, somente ses pacientes com sopro, acreditamos que três con- com recursos semiológicos, estabelecer o diagnóstico ceitos fundamentais devam ser discutidos. da anomalia. Rotineiramente empregados, o eletrocar- • Sopro rude significa cardiopatia grave? diograma e a radiografia simples do tórax proporcio- • Neonato com sopro e assintomático: bom prog- nam ajuda considerável na elaboração do diagnóstico, nóstico? que, na grande maioria dos casos, será confirmado • Neonato sem sopro: existe cardiopatia? pelo ecocardiograma. O desdobramento desses três conceitos, certa- 2°) Neonato com sopro e assintomático: bom mente, permite ampla discussão, em virtude da gran- prognostico? de variedade de cardiopatias passíveis de serem de- Nem sempre. Essa é uma situação bastante tectadas no período neonatal. Procuraremos mostrar peculiar, que requer avaliação clínica detalhada e com- aqui as causas mais freqüentes de cardiopatias, en- preensão precisa da fisiologia cardiovascular neona- volvidas nesses tópicos, procurando oferecer um as- tal. Pacientes portadores de cardiopatias congênitas pecto prático ao tema (Tabela II). com hiperfluxo pulmonar (CIV, CIA, PCA e defeito do septo atrioventricular, entre outras) constituem 1°) Sopro rude significa cardiopatia grave? um grupo importante. No período neonatal, quando os Não necessariamente. Um exemplo muito co- defeitos são grandes e a resistência vascular pulmo- mum é a criança nascida com CIV, que classicamen- nar é alta, as crianças costumam ser totalmente as- te apresenta sopro sistólico rude e é assintomática, sintomáticas. Entretanto, quando a resistência pulmo- quando o diâmetro do orifício é pequeno5. Outras si- nar diminui, é comum o aparecimento de sintomas pro- tuações são as estenoses das valvas pulmonar6 e gressivos, do tipo dispnéia e sudorese, podendo evo- aórtica de grau moderado, que também podem apre- luir para insuficiência cardíaca. Outro exemplo são 193
  • 3. Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS crianças nascidas com coarctação da aorta8 com pista importante para o diagnóstico diferencial é que canal arterial patente. Quando o canal se fecha es- os pacientes com hipertensão pulmonar transitória pontaneamente, geralmente no final da 1ª semana ou costumam ter (porém nem sempre) uma 2ª bulha car- na 2ª semana de vida, os sintomas aparecem, poden- díaca, nitidamente desdobrada nos focos pulmonar e do ocorrer insuficiência cardíaca grave. Pacientes por- tricúspide, diferente das cardiopatias congênitas, tadores de estenose aórtica valvar grave podem, cianóticas, complexas, que costumam apresentar 2ª também, se apresentar totalmente assintomáticos ao bulha única e hiperfonética, como no caso da trans- nascer e evoluir rapidamente para quadro de insufici- posição dos grandes vasos, a cardiopatia cianótica ência cardíaca grave, necessitando intervenção tera- mais comum no período neonatal. O diagnóstico clíni- pêutica invasiva. co, nesses casos, costuma ser difícil, mesmo com a Nas situações acima citadas, é fundamental o ajuda do ECG e radiografia de tórax, que, entretanto, estabelecimento de um diagnóstico definitivo, geral- devem ser realizados de rotina. Um aspecto impor- mente não invasivo, de maneira precoce, que permita tante que deve ser salientado é a necessidade de con- prever a possível evolução clínica da criança. firmação diagnóstica rápida nos pacientes cianóticos, independentemente do quadro clínico. Crianças por- 3°) Neonato sem sopro: existe cardiopatia? tadoras de cardiopatia cianótica canal-dependente, É possível. Infelizmente, esse ainda é um moti- (circulação pulmonar depende da persistência do ca- vo freqüente para se excluir cardiopatia grave num nal arterial para sua perfusão), podem estar aparente- RN. Dependendo do mecanismo fisiopatológico en- mente bem pela presença de uma PCA, que tende a volvido, sobretudo nas cardiopatias complexas, o so- se fechar espontaneamente e de maneira rápida. Como pro pode estar ausente e a suspeita de cardiopatia exemplos, temos a atresia da valva pulmonar, a deverá ser baseada na presença de outros dados clí- tetralogia de Fallot de má anatomia e a atresia nicos. Algumas entidades podem se apresentar sem da valva tricúspide como as mais freqüentes. Nes- sopro ou, às vezes, com sopro discreto, não devida- ses casos, é importante a disponibilidade de prosta- mente valorizado pelo clínico. Citamos, como exem- glandina E a ser administrada endovenosamente para plos, a coarctação da aorta (palpe os pulsos femorais a manutenção da patência do canal arterial, procuran- e avalie a pressão arterial para o diagnóstico), a trans- do estabilizar hemodinamicamente a criança10,11. (Ta- posição dos grandes vasos (a 2ª bulha está quase sem- bela III). pre bastante hiperfonética e pode ajudar no diagnósti- co), a tetralogia de Fallot grave (observe a cianose, analise a 2ª bulha e lembre-se que na T. Fallot grave, o sopro pode ser discreto ou mesmo ausente) além do ventrículo único e das atresias pulmonar e tricúspide. Os dados semiológicos, associados ao ECG e radiografia simples do tórax permitem que, na maioria dos casos, chegue-se a um diagnóstico, pelo menos, aproximado da doença, que usualmente será confirmada pelo ecocardiograma. 2.2 Cianose Procurando ser prudentes, acreditamos que a 2.3 Taquipnéia presença de cardiopatia deva sempre ser suspeitada O RN com quadro de taquipnéia/dispnéia apre- no RN cianótico, independente do quadro clínico e, senta urna situação que deve ser avaliada de maneira principalmente, se essa cianose não melhorar rapi- bastante cuidadosa, em virtude da possibilidade de damente com a inalação de 02. Obviamente, é impor- cardiopatia. Inicialmente, é importante afastar a pre- tante afastar a possibilidade de obstrução das vias sença de um quadro de taquipnéia transitória, entida- aéreas, feita com segurança pelo neonatologista, as- de freqüente na prática diária. Uma informação parti- sim como a presença de hipertensão pulmonar transi- cularmente útil, nesses casos, é que a maioria dos pa- tória do RN , esta última bastante freqüente e facil- cientes com taquipnéia secundária a uma cardiopatia mente confundível com cardiopatia cianótica. Uma costuma apresentar alterações semiológicas específi- 194
  • 4. Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido. cas, como sopro, alterações nas bulhas cardíacas, anor- malidades nos pulsos arteriais e presença de ruídos acessórios corno o click, ruído esse freqüentemente confundido com desdobramento de bulha. É fundamen- tal a investigação imediata desses pacientes com aju- da do ECG e radiografia de tórax. O diagnóstico é confirmado pelo ecocardiograma na grande maioria dos casos, sendo raramente necessário o estudo he- modinâmico. Um aspecto fundamental a ser conside- rado é que a manifestação de taquipnéia pode ser par- te de um quadro de insuficiência cardíaca, de gravida- de variável, em função da severidade do defeito con- gênito presente. Algumas situações devem ser lem- bradas: a coarctação da aorta 8 é a causa mais co- mum de insuficiência cardíaca no neonato, com diag- nóstico freqüentemente suspeitado pela ausência de pulsos femorais. O quadro pode ser bastante grave, sença de um defeito estrutural congênito associado, necessitando tratamento medicamentoso e interven- que pode ser ou não responsável pela arritmia. Os dis- ção cirúrgica imediata ou, mais raramente emprega- túrbios do ritmo cardíaco podem ser detectados da, angioplastia com cateter-balão. A estenose aórtica incidentalmente, quando da avaliação neonatal rotinei- grave do RN7 é relativamente freqüente, pode ser ra ou, mais raramente, em situação de urgência, com suspeitada pelo sopro rude e pulsos com amplitude di- ou sem repercussão clínica. Citaremos as mais fre- minuída, e costuma apresentar-se com quadro de fa- qüentes. lência cardíaca grave, nos primeiros dias de vida. O EXTRÁ-SISTOLIA: nesses casos, nota-se, tratamento clínico instituído (diuréticos, aminas) cos- na ausculta, uma irregularidade do ritmo cardíaco, em tuma ser ineficaz, sendo necessário procedimento in- paciente usualmente sem evidência de cardiopatia. É vasivo, geralmente, cateterismo intervencionista (dila- importante lembrar a possibilidade da ocorrência de tação da valva aórtica) como medida vital. A síndro- arritmia sinusal (respiratória), entidade comum em me da hipoplasia do coração esquerdo é doença crianças normais e que pode ser confundida com ex- extremamente grave e complexa, que costuma mani- tra-sistolia. O diagnóstico, nessa situação, é estabele- festar-se nas primeiras horas de vida com quadro de cido pelo eletrocardiograma convencional. As formas falência cardíaca grave, progressiva, evoluindo para mais comumente encontradas no neonato são as ex- choque cardiogênico geralmente de caráter irreversí- tra-sístoles supraventriculares, consideradas benignas vel 12. A terapêutica clínica deve ser instituída, porém, e que podem ocorrer em até 20% dos prematuros, geralmente é ineficaz. Apesar de recursos cirúrgicos nos primeiros dias de vida, sem necessitar terapêutica estarem disponíveis, alguns centros, em virtude da alta Extra-sístoles ventriculares tendem a ocorrer raramen- complexidade da doença, preferem não intervir nes- te e, excepcionalmente, podem necessitar terapêutica ses casos. Algumas cardiopatias cianóticas comple- medicamentosa 14. xas podem se manifestar precocemente, com quadro BLOQUEIO ATRIOVENTRICULAR de insuficiência cardíaca e cianose, como o tronco TOTAL CONGÊNITO: pode estar ou não associ- arterial comum (truncus), a drenagem venosa ado a um defeito estrutural15 . A suspeita diagnóstica é anômala total das veias pulmonares, a atresia da baseada na presença de freqüência cardíaca anormal- valva tricúspide e o ventrículo único, as duas últi- mente baixa para a idade do paciente, geralmente na mas, quando ocorrem com ausência de estenose pul- faixa de 50 a 70 BPM, devendo ser lembrada sua pos- monar. Esses defeitos podem ser diagnosticados pelo sível detecção ainda no período fetal. Na maioria dos ecocardiograma e requerem sempre intervenção ci- casos, os pacientes encontram-se clinicamente está- rúrgica paliativa ou corretiva a curto prazo (Tabela IV). veis do ponto de vista cardiovascular, porém, em algu- mas situações, quando a freqüência é muito baixa, usu- 2.4 Arritmia almente menor que 50 BPM, pode ocorrer quadro de Na abordagem inicial do RN com arritmia, é descompensação cardíaca grave, necessitando inter- importante lembrar a necessidade de se excluir a pre- venção imediata com marca-passo. O diagnóstico é 195
  • 5. Amaral F; Granzotti JA; Manso PH & Conti LS confirmado pelo eletrocardiograma convencional e a tre as drogas habitualmente usadas encontram-se o intervenção terapêutica é dependente do quadro clíni- sulfato de adenosina e a amiodarona entre as mais co da criança. Pacientes assintomáticos não reque- eficazes e que devem ser administradas endovenosa- rem tratamento, optando-se por uma conduta expec- mente. A digoxina deve ser usada com cautela, princi- tante através de seguimento ambulatorial. Freqüente- palmente nos casos de síndrome de WPW e o mente, a evolução é favorável e esses pacientes cos- verapamil é contra-indicado em neonatos, em virtude tumam ter atividade física normal durante toda a vida. da possibilidade, já demonstrada, de induzir ao apare- Entretanto, algumas crianças, sobretudo quando atin- cimento de arritmias graves. O prognóstico dos casos gem idade na qual se inicia a prática de exercícios, de TPSV, secundários à imaturidade do sistema de podem manifestar sintomas do tipo tonturas ou mes- condução, é bom, havendo desaparecimento gradual mo síncope, que indicam uma dificuldade de manu- dos surtos de taquicardia. As formas associadas à sín- tenção do débito sistêmico durante esforço. Nesses drome de WPW necessitam de terapêutica invasiva, casos, deve ser considerada a possibilidade da implan- sendo usualmente empregada a ablação do feixe anô- tação de marca-passo cardíaco16, assim como nas malo com radiofreqüência durante estudo eletrofisio- formas neonatais graves, associadas à miocardiopatia lógico. Outra possibilidade é a cirurgia cardíaca, essa e relacionadas à presença de anticorpos maternos anti- atualmente de uso menos freqüente. Os resultados em SSA/Ro e anti-SSB/LA. longo prazo, após a terapêutica invasiva, costumam ser bons, sendo rara a ocorrência de recidiva da TAQUICARDIA PAROXÍSTICA SUPRA- arritmia18 (Tabela V). VENTRICULAR (TPSV): habitualmente relaciona- da a uma imaturidade do sistema de condução intra- cardíaco ou, mais raramente, secundária à síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW), a TPSV é enti- dade relativamente freqüente no período neonatal17. Eventualmente, pode se manifestar associada a ou- tras situações, como miocardite aguda e tumores intracardíacos. Os pacientes com esse tipo de arritmia costumam ser assintomáticos ou apresentam sintomas discretos e inespecíficos, como irritabilidade e gemên- cia. Entretanto, alguns casos podem se manifestar com Concluindo, acreditamos que a avaliação do RN quadro de insuficiência cardíaca, particularmente aque- com suspeita de cardiopatia deva ser realizada de les com duração prolongada. Um dado importante, no maneira bastante elaborada e cuidadosa. O exame exame físico, é que, freqüentemente, é o primeiro si- clínico cardiológico apurado é ainda elemento valioso, nal da doença, é o nível de freqüência cardíaca, usual- como bem enfatizado em publicação recente19, po- mente acima de 200 bpm, podendo, entretanto, atingir dendo fornecer informações cruciais para o diagnós- valores de 300 e até 400 bpm em ritmo regular. A tico. Usados rotineiramente nestes casos, o ECG e a confirmação diagnóstica é habitualmente feita pelo ele- radiografia de tórax costumam ser bastante úteis na trocardiograma convencional, devendo ser lembrada investigação desses pacientes, que terão seu diagnós- a necessidade de se estabelecer diagnóstico diferen- tico confirmado, na grande maioria dos casos, pelo cial com o flutter atrial congênito, arritmia de ocor- ecocardiograma. As duas últimas décadas propicia- rência bastante rara. Esses pacientes necessitam in- ram um avanço considerável no tratamento das car- ternação em UTI pediátrica, com monitorização diopatias congênitas, estando disponíveis, hoje em dia, eletrocardiográfica contínua, em virtude da possibili- recursos farmacológicos e invasivos especificamente dade (remota) de complicações e, também, para fa- criados para tratamento dessas cardiopatias. Particu- zer a reversão da arritmia para ritmo sinusal após a larmente no período neonatal, os benefícios do catete- terapêutica. Manobras vagais, como a compressão do rismo intervencionista e da cirurgia cardíaca pediátrica seio carotídeo e imersão facial em água gelada, po- são notáveis, estando bem documentados. Entretanto, dem ser efetivas e devem ser tentadas com muito o uso racional desses recursos só será plenamente cuidado. Entretanto, a maioria dos pacientes requer valorizado se a cardiopatia for precocemente suspei- terapia farmacológica para reversão da arritmia. En- tada pelo clínico. 196
  • 6. Quando suspeitar de cardiopatia congénita no recém-nascido. Amaral F Granzotti JA, Manso PH & Conti LS. When congenital heart disease should be suspected in the newborn. Medicina, Ribeirão Preto, 35:192-197, apr./june 2002. ABSTRACT: Review article about the main clinical features of congenital heart disease pre- senting in the newborn period. Based on clinical data such as heart murmur, cyanosis, breath- lessness and arrhythmia, the most frequently associated clinical findings are discussed as well as the entities most likely to be related to them. Informations on diagnosis and therapy are also briefly provided. UNITERMS: Heart Defects, Congenital. Newborn. Heart Murmurs REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 11 - KRAMER HH; SOMMER M, RAMMOS S & KROGMANN O. Evaluation of 10w dose prostaglandin El treatment for duc- 1 - SMYTHE JF; TEIXEIRA OHP VLAD P; DEMERS PP & FELDMAN tus dependent congenital heart disease. Eur J Pediatr 154: W. Initial evaluation of heart murmurs: are laboratory tests 700-707, 1995 necessary? Pediatrics 86: 497-500, 1990. 12 - FLYER DC, ROTHMAN KJ; BULKLEY LP; COHN HE; 2- AMARAL FTV; GRANZOTTI JA & NUNES MA. Avaliação HELLENBRAND WE & CASTANEDAA. The determinants of cardiológica em crianças com suspeita de cardiopatia. Re- five year survival of infants with critical congenital heart sultados preliminares em 2000 pacientes. J Pediatr 71: 209- disease. In: ENGLE MA, ed, Cardiovascular cunhes, FA Davis, 213, 1995. Philadelphia, p. 393-405, 1981. 3- AMARAL FTV GRANZOTTI JA & NUNES MA. Sopro cardíaco 13- SALICE P; SEGANTINI A& LOCATI E. The prognosis of prema- na criança. Experiência de um ambulatório especializado ture atrial beats in infancy: a prospective study of 6900 Rev Paul Pediatr 13 39-41, 1995. infants (abstract). Circulation 68: 395, 1983. Suppl 3 4 - CHATELAIN P; OBERHANSLI l & FRIEDLI B. Physiological 14- JONES RWA; SHARP C; RABB LR; LAMBERT BR & CHAM pulmonary branch stenos is in newborns: 2D- BERLAIN DA. 1028 neonatal electrocardiograms. Arch Dis echocardiographic and Doppler characteristics and follow Child 54: 427-431, 1979. up. Eur J Pediatr 152: 559-563, 1993. 15 - MICHAELS M & ENGLE MA. Congenital complete heart block: 5- GRAHAM Jr TP & GUTGESSEL HP. Ventricular septal de- an international study of the natural history. Cardiovasc Clin fects. In: MOSS AJ & ADAMS EH, eds. Heart disease in 4: 85-101, 1972. infants, children and adolescents, including the fetus and young adult, 5 ed, Williams & Wilkins, Baltimore, v. 1, p. 724- 16- BERSTEIN AD; CAMN AJ; FLETCHER R; GOLD RD; RICKARDS 746, 1995. AF, SMYTH NPD; SPIELMAN SR & SUTTON R. The NASPIBPEG generic pacemaker code for antibrady arrhyth- 6- ROCCHINI AP & EMMANOUILIDES GC. Pulmonary stenosis. mia and adaptative-rate pacing and antitachycardia devices. In: MOSS AJ & ADAMS EH, eds. Heart disease in infants, Pacing Clin Electrophysiol 10: 794-799, 1987. children and adolescents, including the fetus and young adult, 5 ed, Williams & Wilkins, Baltimore, v. II, p. 930-962, 17- FISH F & BENSON Jr DW. Disorder of cardiac rhythm and 1995. conduction. In: MOSS AJ & ADAMS FH, eds. Heart dis ease in infants, children and adolescents, including the fetus and 7 - FRIEDMAN WF. Aortic stenosis. In: MOSS AJ & ADAMS EH, young adult, 5 ed, Williams & Wilkins, Baltimore, v. II, p. 1555- eds. Heart disease in infants, children and adolescents, 1603, 1995. including the fetus and young adult, 5 ed, Williams & Wilkins, Baltimore, v. II, p. 1087-1111, 1995. 18- TILL JA & SI-IINEBOURNE EA. Supraventricular tachycardia diagnosis and management. Arch Dis Child 66: 647-652, 8 - BEEKMAN RH. Coarctation of the aorta. In: MOSS AJ & 1991. ADAMS EH, eds. Heart disease in infants, children and ado- lescents, including the fetus and young adult, 5 ed, Williams 19- SILVA MAP. Reconhecimento das malformações cardíacas & Wilkins, Baltimore, v. II, p. 1111-1133, 1995. (cianose, insuficiência cardíaca, sopros e arritmias). In: 9- GRAVES ED; REDMOND CR & ARENSMAN RM. Persistent SANTANA MVT, ed. Cardiopatias congênitas no recém- nascido. pulmonary hypertension in the neonate. Chest 93: 638-641, Diagnóstico e tratamento, Atheneu, São Paulo, p. 89-101, 1988. 2000. 10- STEVENSON DK & BENITZ WE. A practical approach to diag- Recebido para publicação em 13/03/2002 nosis and immediate care of the cyanotic neonate. Clin Aprovado para publicação em 28/06/2002 Pediatr 26: 325-331, 1987. 197