Marco Civil da Internet e seus aspectos estruturantes
Economia Política na era da Informação: Propriedade Intelectual x Livre Compartilhamento de Conteúdos na Internet
1. Economia Política na era da
Informação: Propriedade Intelectual
x Livre Compartilhamento de
Conteúdos na Internet
Prof. Dr. Marcos Dantas
Professor Titular da Escola de Comunicação da UFRJ
Membro do Comitê Gestor da Internet - Brasil
21/08/2015 14:00hs
2. Introdução
Como explicar que um sistema de
computadores acumulando e
permitindo acesso a bilhões de retratos
vulgares de pessoas comuns (e de
algumas “celebridades”) possa valer
USD 1 bilhão?
Operações semelhantes com valores
similares são noticiadas a todo instante
no capitalismo contemporâneo.
Como é gerado esse valor? Mera
especulação financeira?
Ou ainda se trata de apropriação do
valor do trabalho nos termos da
Economia Política?
3. http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-
CjjSHbnP5PSGlpovr4wZd7djfPhEZtzpl9-luI7JokbjhWeBTA
A internet surgiu para a sociedade como uma grande rede aberta, livre,
horizontal, equânime, isonômica que aproximaria os homens e mulheres na
construção de um mundo mais justo e democrático. De fato, a internet surgiu
no espaço universitário (mas com apoio financeiro do Pentágono) e parecia,
em seus primeiros tempos, distante dos interesses econômicos e das
disputas reais na sociedade.
Esta época dourada já passou.
Por um lado, grandes corporações financeiras estão “colonizando” a
internet e dela fazendo um grande espaço de mercantilização e geração de
lucros. É a maior praça de comércio jamais criada alguma vez por
qualquer sociedade humana.
Por outro lado, conforme as revelações de Edward Snowden não dão a mais
ninguém o direito de se fazer de ingênuo, a internet é uma grande arma de
poder geopolítico-militar.
Na medida em que revela a sua verdadeira natureza social, a Internet passa a
ser alvo de leis regulatórias que, como quaisquer outras leis, permitam, pelo
menos, aos agentes sociais dirimir os seus conflitos de um modo civilizado. O
Marco Civil, em todo o mundo, é um marco pioneiro neste sentido.
4. Sumário:
Introdução
1. Elementos de Teoria da Informação
2. Informação e teoria do capital
3. “Sociedade do espetáculo”
4. Trabalho em rede, trabalho grátis?
5. Rendas informacionais
6. Considerações finais
6. “Escrevo este livro principalmente para norte-
americanos, em cujo ambiente os problemas da
informação serão avaliados de acordo com um critério
padrão norte-americano: como mercadoria, uma coisa
vale pelo que puder render no mercado livre [...] O
destino da informação, no mundo tipicamente norte-
americano, é tornar-se algo que possa ser comprado
ou vendido.
........................
“Assim como a entropia tende a aumentar espontaneamente num sistema
fechado, de igual maneira a informação tende a decrescer; assim como a
entropia é uma medida de desordem, de igual maneira a informação é uma
medida de ordem. Informação e entropia não se conservam e são
inadequadas, uma e outra, para se constituírem em mercadorias” (N.
WIENER, 1949)
Um dos criadores originais da Teoria da Informação e “pai” da Cibernética,
Norbert Wiener já advertia que informação não seria redutível a mercadoria. Por
que? Entender isto, exige entender o que seja informação, nos termos de uma
teoria rigorosamente científica.
Informação, mercadoria?
7. “O custo de transmissão de um
corpo de informação dado é com
freqüência muito baixo. Se fosse
zero, a alocação ótima iria requerer
obviamente uma distribuição
ilimitada da informação, sem custo
algum. Na realidade, uma peça de informação
dada é, por definição, um bem indivisível, e aqui
surgem os problemas clássicos das
indivisibilidades. O dono da informação não
deverá extrair o valor econômico que nela se
encontra, se se busca a alocação ótima; mas é
um monopolista, até certo ponto, e tratará de
aproveitar-se disso.
Na ausência de uma proteção legal especial, o
dono não pode simplesmente vender a
informação no mercado aberto. Qualquer
comprador pode destruir a informação a custo
pequeno ou nulo [...]
[...] nenhuma proteção legal pode converter
em um bem completamente apropriável, algo
tão intangível quanto a informação [...] As leis
de patentes tenderiam a ser incrivelmente
complexas e sutis para permitir apropriação em
larga escala.
[...] a alocação ótima para a invenção iria
requerer que o governo ou algum outro
organismo não governado por critérios de lucro
ou prejuízo, financiasse a investigação e a
invenção” (K. ARROW, 1962)
“A apropriação é, em
grande medida, uma
questão de acertos legais
e de imposição desses
acertos por meios privados
ou públicos. O grau de
apropriação privada do
conhecimento pode ser aumentado,
elevando-se os castigos por violações
de patentes e incrementando-se outros
recursos destinados à vigilância de tais
violações” (H. DEMSETZ, 1969)
Um recurso público ou um ativo
apropriável por meio de legislação
“adequada”? O debate entre
economistas, nos anos 1960, já
revelava a dificuldade de “criação
de um mercado de informação se,
por alguma razão, se deseje criá-
lo”, como escreveu K. Arrow.
Uma polêmica antiga
8. “Para a maior clareza deste
livro, acho necessário dar
uma definição de conhecimento
e informação, mesmo que essa
atitude intelectualmente
satisfatória introduza algo de arbitrário no
discurso, como sabem os cientistas sociais que
já enfrentaram o problema. Não tenho nenhum
motivo convincente para aperfeiçoar a definição
de conhecimento dada por Daniel Bell (1973:
175): ‘Conhecimento: um conjunto de
declarações organizadas sobre fatos e idéias,
apresentando um julgamento ponderado ou
resultado experimental que é transmitido a
outros por intermédio de algum meio de
comunicação, de alguma forma sistemática.
Assim, diferencio conhecimento de notícias e
entretenimento’. Quanto a informação, alguns
autores conhecidos na área, simplesmente
definem informação como a comunicação de
conhecimentos (ver Machlup 1962: 15). Mas,
como afirma Bell, essa definição de
conhecimento empregada por Machlup parece
muito ampla. Portanto, eu voltaria à definição
operacional de informação proposta por Porat
em seu trabalho clássico (1977: 2): ‘Informação
são dados que foram organizados e
comunicados’ ” (CASTELLS, 1999: 45, nota 27)
“O que atravessa o cabo não é informação,
mas sinais. No entanto, quando pensamos
no que seja informação, acreditamos que
podemos comprimi-la, processá-la, retalhá-
la. Acreditamos que informação possa ser
estocada e, daí, recuperada. Veja-se uma
biblioteca, normalmente encarada como um
sistema de estocagem e recuperação de
informação. Trata-se de um erro. A
biblioteca pode estocar livros, microfichas,
documentos, filmes, fotografias, catálogos,
mas não estoca informação. Podemos
caminhar por dentro da biblioteca e
nenhuma informação nos será fornecida. O
único modo de se obter uma informação
em uma biblioteca é olhando para os seus
livros, microfichas, documentos etc.
Poderíamos também dizer que uma
garagem estoca e recupera um sistema de
transporte. Nos dois casos, os veículos
potenciais (para o transporte ou para a
informação) estariam sendo confundidos
com as coisas que podem fazer somente
quando alguém os faz fazê-las. Alguém tem
de fazê-lo. Eles não fazem nada” (Von
FOERSTER, 1980: 19, grifos no original).
Comparemos esses dois conceitos...
9. Questão de método
Qualquer investigação científica precisa assumir um parti-pris
epistemológico e metodológico.
http://puc-riodigital.com.puc-
rio.br/media/lucien.jpg, acessado em
22/05/2010
“Aqui, a comunicação é a
mensagem que um sujeito
emissor envia a um sujeito
receptor através de um
canal. O conjunto é uma
máquina cartesiana
concebida com base no
modelo da bola de bilhar,
cujo andamento e impacto
sobre o receptor são
sempre calculáveis.
Causalidade linear. Sujeito
e objeto permanecem
separados e bem reais. A
realidade é objetiva e
universal, exterior ao
sujeito que a representa
[...] Posição dualista, cara a
Descartes, [...]” (L. SFEZ,
Crítica à comunicação,
1994, p. 65)
“A comunicação é a inserção
de um sujeito complexo num
ambiente que é ele mesmo
complexo. O sujeito faz parte do
ambiente, e este faz parte do
sujeito. Causalidade circular.
Idéia paradoxal de que a parte
está no todo que é parte da
parte. [...] Par sujeito/mundo, no
qual os dois parceiros não
perderam totalmente a
identidade mas praticam trocas
incessantes. A realidade do
mundo não é mais objetiva mas
faz parte de mim mesmo. Ela
existe... em mim. Eu existo...
nela. Recurso à expressão com
base no modo spinozista. Eu
exprimo o mundo que me
exprime [...] Totalidade mas
totalidade hierarquizada”. (SFEZ,
idem)
Monismo dialéticoDualismo objetivista
Pelos seus compromissos e
suas origens, a Economia
Política da Informação,
Comunicação e Cultura se
orienta pelo monismo dialético.
10. Duas abordagens para a informação
Daí, comunicação é definida como transferência de informação de
um emissor para um receptor. Essa transferência deve se dar sem
ruídos.
Nasce com Claude Shannon, Norbert Wiener e
outros. Informação é definida como a medida de
incerteza de um evento, dado um conjunto de
eventos com possibilidade de ocorrer. Essa
medida é o bit. A definição é quantitativa.
Há duas abordagens possíveis para o conceito de “informação”
2
Essa abordagem permitiu o desenvolvimento dos computadores e
das modernas telecomunicações.
Informação é entendida como objeto, como dado.
Metodologicamente, a teoria matemática é dualista, atomista, lógico-
formal (o “ruído” é o terceiro excluído aristotélico). No entanto, é o
ponto de partida para todo estudo científico da informação.
Abordagem positivista Abordagem dialética
http://www.adeptis.ru/vinci/claude_shannon6.jpg
C. Shannon (1916-2001)
11. 2
Abordagem positivista Abordagem dialética
Nasce com com Heinz von Foerster, sendo desenvolvida por
Gregory Bateson, Henri Atlan, Robert Escarpit, Umberto
Maturama, Anthony Wilden e outros. Nela, a informação é
definida como a relação entre o sujeito e o objeto, como ação
orientada a um fim.
Daí, comunicação é definida como produção de significados
(trabalho semiótico, em Umberto Eco) através do tratamento dos
“ruídos” incorporados ao processo
Essa abordagem é menos conhecida, mas possibilitou
importantes avanços na biologia e será importante ferramenta de
crítica social (o “ruído” como evento de mudança)
Informação não é objeto, nem dado. Informação efetua-se como
trabalho, na dimensão quantitativa (valor de troca) e na dimensão
qualitativa (valor de uso). Metodologicamente é dialética,
sistêmica, monista.
Duas abordagens para a informação
Há duas abordagens possíveis para o conceito de “informação”
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRVPUU0WCUG
BxnKv5mZEY60B9QpRVLkFXvjv_2-oBvwv7CuzMmhcw,
acessoem23/05/2011
G. Bateson (1904-1980)
“Informação é
uma diferença
que produz uma
diferença” (G.
BATESON)
12. Conceito de informação
Entendemos informação como uma modulação de energia que provoca algo diferente
em um ambiente qualquer e produz, nesse ambiente, algum tipo de ação orientada, se
nele existir algum agente capaz e interessado em captar e processar os sentidos ou
significados daquela modulação (Dantas, 2006).
Neguentropia
(capacidade de um
sistema para
fornecer trabalho)
Entropia
(processo progressivo de
perda de capacidade para
fornecer trabalho; desordem
progressiva)
Entropia máxima
(estado de equilíbrio; desordem
máxima; morte térmica do sistema)
Informação
(trabalho orientado)Vibrações sonoras
(ruídos)
Radiações térmicas
(temperaturas)
Sistema-ambiente
(objeto da ação)
Sistema neguentrópico
(sujeito da ação)
O sistema deve decidir, executar e concluir a ação, antes que sua entropia se torne irreversível. O
valor da informação é função do tempo para capturar e organizar os elementos necessários à ação.
Radiações luminosas
(cores)
Moléculas odoríficas
(cheiros) Sinais (físicos) que
fornecem sentidos,
orientações,
significados para
um sistema
neguentrópico.
Dialética da informação
13. http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcR6vf14wyLMWGbBqJySn9GgOZl_hsJ14yxQXw
_kuQXSF7cCEcANog, acesso 31/05/2011
LIVRO (Objeto)
Produto material contendo
formas nele impressas que
refletem luz em freqüências
perceptíveis pela vista
humana. Como qualquer
outro produto material, o
livro é perecível ao longo do
tempo.
LEITURA (Ação)
A leitura associa os sinais
luminosos com as imagens
mentais, rearrumando as
conexões neurais, logo
produzindo novas imagens
mentais. A leitura só é
possível se já existe um
estado mental prévio
indicando as
possibilidades de
associação, estado esse
adquirido pela
aprendizagem
Informação e conhecimento
A informação não está no livro, nem na mente. Ela é produzida se as
formas impressas no livro são postas em relação com as formas
contidas no cérebro. Informação requer conhecimento e produz
conhecimento. Informação motiva e orienta alguma ação e somente é
produzida no curso da ação mesma.
MENTE (Sujeito)
O sistema nervoso e
neurológico humano forma e
retém imagens que, quando
estimuladas, associam-se às
imagens do mundo que lhe
chegam por meios dos
sentidos. A essas
associações, a mente atribui
significados quase sempre
relacionados a algum nome..
4
14. ADITIVIDADE
O conhecimento obtido da
informação pode ser
transferido pra outros
(alienado) sem que o detentor
original desse conhecimento
seja subtraído dele.
O intercâmbio de informação
não é uma troca, mas uma
comunicação (“tornar
comum”).
Por isto, informação é
inapropriável
Propriedades da
informação
http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQQXZK5drbnfsOnpyWdH-
aJj9ra3KKNiFBF_L4Uiz_8YMxYLP_0
A riqueza gerada pela informação pode ser apropriada e
distribuída coletiva e socialmente. A natureza da informação é
contrária à propriedade.
INDIVISIBILIDADE
Um único e mesmo suporte
material pode ser usufruído por
mais de uma pessoa. Não sendo
divisível, a informação pode ser
compartilhada, isto é, mais de uma
pessoa podem participar ou
interagir em uma mesma relação ou
experiência informacional.
A informação também não depende
da perecibilidade do suporte: pode
ser replicada e compartilhada, em
novos suportes, se necessário, a
custos ínfimos.
A informação nega o princípio básico de toda teoria econômica:
a escassez. A escassez impõe a disputa pelos recursos, daí as
diferentes práticas sócio-políticas, violentas ou não, de
apropriação e distribuição.
5
ALEATORIEDADE
A obtenção de um dado ou
conhecimento é sempre resultado de
um processo (atividade, trabalho), cujo
resultado final só pode ser conhecido
depois de concluído o processo
mesmo. É uma atividade de busca, com
graus maiores ou menores de
incerteza.
16. “A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma
coisa, a qual, pelas suas propriedades satisfaz
necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza
dessas necessidades, se elas se originam do estômago
ou da fantasia, não altera nada na coisa" (K. MARX, O
Capital).
A mercadoria
Para que possa ser trocada, a mercadoria precisa, antes de mais nada, ser
útil a alguém. Essa utilidade pode ser instrumental ou estética (ou ambas). O
conceito marxiano de mercadoria não considera apenas as necessidades
fisiológicas humanas (comer, vestir, morar), mas também aquelas outras
necessidades que nos fazem verdadeiramente humanos: arte, diversão,
cultura etc. A utilidade define o valor de uso da mercadoria.
Os valores de uso estão
associados aos hábitos
e costumes de
diferentes culturas e
grupos sociais.
Talheres
(Ocidente)
Hashi
(Oriente)
17. 5
http://temperovirtual.blogspot.com/2009/02/bife-ao-
alho.html,acessadoem27/06/2010
O alimento só realiza o seu
valor de uso se for digerido
e absorvido pelo
organismo.
Um disco musical ou livro não podem
ser destruídos para realizarem o seu
valor de uso. Cada vez que são usados,
o conteúdo é reproduzido. Caso o
suporte seja destruído, o conteúdo pode
ser transposto para outro suporte.
Valor de uso e seu suporte
Para que atenda suas finalidades funcionais, o valor de uso da mercadoria será
consumido, isto é, o suporte será de algum modo necessariamente destruído ou
desgastado pelo próprio consumo ou pelo tempo: alimentos em poucas horas;
tecidos e roupas, em alguns meses; máquinas, em alguns anos. A mercadoria é
entrópica. No entanto, os produtos de função exclusivamente estética devem ser
preservados para realizarem seu valor de uso. Seu consumo implica, cada vez, em
tornar a replicá-los explorando as propriedades neguentrópicas da informação.
18. http://www.tbus.com.br/images/tecnologia-
pesquisa.jpg, acessado em 11/06/2011
http://www.industry.siemens.com/metals-
mining/PT/images/166.jpg, acesso em 4/11/2007
PESQUISA, PROJETO,
ENGENHARIA FABRICAÇÃO E MONTAGEM
7
Para que possa ser trocada, a mercadoria também precisa ser reproduzida ou
replicada em unidades iguais ou muito similares. Toda mercadoria é reprodução de
uma idéia original (projeto, desenho, logo informação) registrada num suporte
material adequado às suas finalidades funcionais e também estéticas.
Qualquer processo industrial moderno envolve duas fases principais:
1. Pesquisa, projeto e engenharia: esta fase resulta na concepção e
construção de um modelo ou protótipo. O trabalho é semiótico.
2. Fabricação e montagem: esta fase visa replicar o modelo em
milhares de unidades idênticas e prontas para uso. O trabalho é, em
grande medida realizado por sistemas de maquinaria (entrópico).
19. Tempo e espaço: determinações essenciais
“O capital, por sua natureza, tende a superar toda a
barreira espacial. Por conseguinte, a criação das
condições físicas do intercâmbio – dos meios de
comunicação e de transporte – torna-se para ele, e
numa medida totalmente distinta, uma realidade: a
anulação do espaço pelo tempo” (K. MARX,
Grundrisse)
“Quanto mais as metamorfoses da circulação forem apenas ideais, isto é, quanto
mais o tempo de circulação for = zero ou se aproximar de zero, tanto mais
funciona o capital, tanto maior se torna a sua produtividade e autovalorização”
(K. MARX, O Capital, L. II: p. 91 )
D M... P... M’D’
TEMPO
Em suma: “time is money!
20. D M... P D’
TEMPO
"Existem, porém, ramos autônomos da indústria, nos
quais o produto do processo de produção não é um
novo produto material, não é uma mercadoria. Entre
eles, economicamente importante é apenas a indústria
da comunicação, seja ela indústria de transporte de
mercadorias e pessoas propriamente dita, seja apenas
de transmissão de informações, envio de cartas,
telegramas etc. [...] O que a indústria de transporte
vende é a própria locomoção. O efeito útil acarretado é
indissoluvelmente ligado ao processo de transporte, isto é, ao
processo de produção de transporte. [...] O efeito útil só é
consumível durante o processo de produção; ele não existe como
coisa útil distinta desse processo, que só funcione como artigo de
comércio depois de sua produção, que circule como mercadoria"
(Marx, 1983: L. II, p. 42-43).
Capital e comunicações
O capital desenvolve as comunicações como
um setor produtivo que responderá à
determinação da redução do tempo. Logo,
um setor essencial.
21. A teoria econômica só se interessa pelo valor de troca, isto
é, pelo estudo da equivalência entre as mercadorias.
Tanto a Economia Política quanto a Marginalista considera
os aspectos culturais ou estéticos como “pressupostos”. O
consumo parece ser apenas função de renda, ignorando-
se os aspectos culturais e até psicológicos profundamente
imbricados no processo.
5
http://images.china.cn/site1006/20070703/00080287d0960
7f4328701.JPG, acesso em 17/11/2007
http://www.escape-
maps.com/images/army_map_service_wwii_history_photos/engineer_reproducti
on_plant_draftsmen.JPG, acesso em 03/08/2014
Toda mercadoria demanda um certo
tempo de trabalho para ser produzida.
Este tempo é função das condições
físicas e mentais médias do conjunto
dos trabalhadores, bem como das
tecnologias disponíveis. Esse tempo
determina o valor de troca da
mercadoria.
Como mede o desgaste físico do trabalhador ao longo da jornada (seja esse
trabalhador, operário ou engenheiro), o valor de troca expressa a entropia do trabalho
durante o tempo em que está acrescentando informação ao seu objeto.
22. A produção (industrial) artística se efetua em dois tempos de
trabalhos muito distintos
http://davidcorreiajunior.files.wordpress.com/2008/08/clarice_l
ispector.jpg,acessoem27/06/2010
Clarice Lispector (1920-1977)
Tempo de trabalho do artista: é um tempo
incerto, geralmente demorado e de difícil
mensuração, cuja jornada pode consumir meses
ou anos. O valor de uso criado é emoção, prazer,
empatia, sentimentos identitários, elementos
psicológicos, subjetivos, “simbólicos”, próprios
da cultura. O seu objeto material são signos
necessários à comunicação. O seu produto é um
original (ou matriz)
8
http://www.jcprint.com.br/imagem
/gto.gif,acessadoem27/06/2010
O trabalho artístico
O trabalho vivo do artista mobiliza
atividades vivas do leitor, do
espectador, do ouvinte. Para que possa
efetuar o seu trabalho, a audiência
(leitor, espectador) usa um suporte
material que resultará da replicação do
trabalho do artista em escala e
condições industriais, mas cujos tempos
não estão relacionados àqueles do
próprio artista.
1) Nas indústrias editoriais (livros,
filmes, discos), o original é transformado
em milhares de cópias unitárias
similares à mercadoria. Mas o valor de
uso, logo de troca, não é função do
trabalho de gráficos e outros operários;
2) Nas indústrias de fluxo ou onda (rádio
e televisão), o original é difundido em
tempo real, sem fases industriais de
replicação. O trabalho do artista
(trabalho concreto) é usufruído
imediatamente pelo seu público.
23. http://imagens.canaltech.com.br/18536.32034-Televisao-Ambilight.jpg, acesso em 12/08/2014
As indústrias de fluxo, mas também o cinema e, até certo ponto, o disco, proporcionam uma
relação quase imediata entre o artista e seu público. O valor de uso é o próprio desempenho, a
competência, a empatia, as habilidades intelectuais ou físicas do trabalhador-ator. Por isto, este
trabalho é muito difícil de ser reduzido a abstrato, logo não geraria de valor de troca. O consumo é
a própria informação; a relação, não o sinal; a atividade, não o suporte veiculante. O suporte é
apenas um meio de interação, de comunicação. Como já avisavam Wiener e Arrow, informação não
é redutível a mercadoria.
Trabalho concreto
Os autores divergem sobre a mercadoria produzida pelo trabalho artístico. Dallas Smythe sugeriu
pioneiramente que seria a audiência produzida pelo trabalho relacionado do artista com seu
público, negociada pelas emissoras com as agências de publicidade. Cesar Bolaño defende que
esse público-audiência é ele mesmo a mercadoria negociada pelas emissoras, mercadoria,
portanto, produzida pela exploração do trabalho artístico. Marcos Dantas sustenta que os artistas e
seu público trabalham para produzir um tempo-espaço de audiência monopolizado pelas
emissoras e por elas “arrendado” aos anunciantes.
24. Rendas informacionais
6
Os modelos de negócios das indústrias culturais se apóiam
nos direitos de propriedade intelectual (DPIs). Uma empresa
(capitalista) adquire os direitos dos autores e artistas e pode
controlá-los na medida em que controle os meios de produção
e canais de distribuição. Exatamente porque o custo marginal
da reprodução é próximo a zero (Economia marginalista) ou o
trabalho abstrato é quase nulo (Economia política), a
apropriação depende da criação de barreiras à entrada que
protejam os DPIs.
http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSVRK75UYsgYooUQhA03vd
OmqXO00VOPihAeO-GLQhwoMxhB7lR-g,acessoem31/05/2011
A indústria editorial se protegia nos
custos de investimento em gráficas,
fábricas de discos, estúdios e
também canais de distribuição. A
indústria de fluxo se protegia na
escassez de freqüências
eletromagnéticas. A associação dos
DPIs com a monopolização dos
meios de produção e distribuição
introduzia escassez necessária à
geração de rendas informacionais
(rendas de monopólio).
25. Tudo, agora, é fluxo (de bits)
3 https://lh5.googleusercontent.com/-zyvN_VnqO-M/TYS2GdGnBBI/AAAAAAAADQ4/C4UFe3XJDfE/s1600/30-ipad_kindle.jpg, acesso em 22/05/2011
As tecnologias digitais afetaram diretamente as indústrias artísticas editoriais,
também trazendo-as (a muito contragosto) para o modelo de fluxo.
... e assim se consuma a
percepção de Marx: o
capital tende a reduzir o
tempo a zero e busca
metamorfoses cada vez
mais “ideais”...
28. Tantas obras renderam a [Peter] Schreyer os
mais importantes títulos e láureas de seu campo
profissional. E também uma agenda dividida
entre os centros de design da Kia em Frankfurt
(onde trabalha a maior parte do tempo), na
Califórnia e em Namyang, Coreia do Sul.
http://oglobo.globo.com/estilo/carros/um-bate-papo-com-
peter-schreyer-maior-designer-de-carros-da-atualidade-
13341666#ixzz38QuTyszR, acesso em 24/07/2014
Reportagem em O Globo, 23/07/2014
Trabalho criativo
Muitos autores denominam o atual sistema econômico
por termos como: “economia criativa”, “capitalismo
cognitivo” etc. Manuel Castells chama de “capitalismo
informacional”. David Harvey sugere “acumulação
flexível”. Marcos Dantas propõe “capital-informação”
AULA1/2
3
29. http://www.industry.siemens.com/metals
-mining/PT/images/166.jpg, acesso em
4/11/2007
https://encrypted-
tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRTNRlXQ
VwouVPMvDdPnzAwfnWSTNGZKCDrP9Xaq2tj_5
AN5URz4Q,acessoem25/07/2014
http://imgs.jornalpp.com.br/b5fe022e7bf4f300a6e0f438da
d1f2b6_L.jpg?t=-62169984000, acesso em 25/07/2014
O autor
Transformação do
projeto em peças
de um produto final
(etapas industriais)
Acabamento ou montagem final. Pode ser em
qualquer lugar do mundo, no Brasil por exemplo.
Divisão internacional
do trabalho
Não há “criação” sem indústria que materializa as
idéias. A indústria pode ser altamente automatizada
(ex: indústria automobilística) ou empregar grandes
contingentes de mão de obra altamente explorada (ex:
indústria de vestuário). A localização das fábricas se
espalha pelo mundo, dependendo de vários fatores:
custo de mão de obra, infra-estrutura, proximidade de
mercados, incentivos fiscais etc.
Já a localização dos “cérebros” depende de recursos
humanos qualificados e qualidade de vida.
Na foto à direita, uma linha de montagem automobilística,
praticamente sem emprego de mão de obra fabril. Na foto à
esquerda, linha de montagem têxtil (confecção) com largo
emprego de mão de obra mal paga e de baixa qualificação
4
http://comps.fotosearch.com/comp/F
SB/FSB278/x11748273.jpg,acesso
em01/08/2014
(apoiado numa equipe altamente
qualificada e muito bem paga,
empregada nos “centros de projeto”)
30. No capitalismo contemporâneo, o desenho tornou-se um aspecto determinante
para a diferenciação e competição no mercado. Por isso, o processo de trabalho,
inclusive o industrial, adquiriu características predominantemente artísticas.
Trabalho vivo é mobilizado para efetuar atividades de pesquisa, investigação, estudo,
análise e tomada de decisões científico-tecnológicas que resultarão em modelos,
protótipos, matrizes, isto é, material sígnico de natureza artística.
http://www.designup.pro.br/files/port/12
26320270.jpg, acessado em 27/06/2010
http://www.qpcpesquisa.com/desenho-industrial.jpg,
acessado em 4/10/2010
http://images.queb
arato.com.br/photo
s/big/6/A/834F6A_
1.jpg,acesadoem
27/06/2010
http://lh3.ggpht.com/_dLu0p4THrE4/SkaSgbw_U
DI/AAAAAAAADHs/JKhBy_qoBk4/Print%20Screen7_thu
mb%5B2%5D.png?imgmax=800, acesso 4/10/2010
http://cadiugf.files.wordpress.com/2009/01/desenho-
industrial1.jpeg, acessado em 27/06/2010
Na sua atual etapa histórica, o capitalismo informacional ou
capital-informação, a valorização do capital se baseia em
atividades (trabalho) de processar, registrar e comunicar
informação, nas suas muitas formas textuais ou audiovisuais
10
Trabalho material sígnico
31. “... não é possível ter um mercado florescente e em
expansão, cujos consumidores sejam todos
calvinistas e tradicionalistas diligentes que sabem
muito bem quanto vale o dinheiro” (F. JAMESON,
2006).
http://f.i.uol.com.br/folha/ilustrissima/images/11140353.jpeg
“O que ocorreu é que a própria produção estética hoje
está integrada à mercadoria” (F. JAMESON, 2006)
“... temos que voltar à teoria da imagem, recolocando a notável derivação teórica de
Guy Débord (a imagem como a forma final da reificação da mercadoria). Nesse ponto,
o processo se reverte, e não são os produtos comerciais do mercado que se tornam
imagens na propaganda, mas sim os próprios processos de diversão e de narrativa
da televisão comercial que são, por sua vez, reificados e transformados em
mercadorias: a narrativa serializada, com seus segmentos rígidos e quebras
temporais reduzidos a fórmulas, a ação das tomadas de câmera sobre o espaço, a
história, as personagens e as modas, incluindo aí o novo processo de produção de
celebridades e de estrelas que parece diferente da experiência histórica mais familiar
que tínhamos dessas questões, e acaba por convergir com os fenômenos até agora
‘seculares’ da antiga esfera pública...” (F. JAMESON, 2006).
Estética, mercadoria e mídia
12
32. 11
Marcas e consumo
Embora a transformação material seja um “detalhe”
indispensável, as corporações-redes e todo o sistema
político-cultural ao seu redor, vendem MARCAS.
A mercadoria (material) é apenas um “pretexto”
para o consumo de imagens que representam ou
expressam gostos, prazeres, estilos de vida,
identidades grupais.
33. http://infinitosestilos.files.wordpress.com/2010/10/century21-
2.jpg,acessoem9/04/2012
Nas modernas sociedades industriais capitalistas, uma grande parte da população já tem as
suas necessidades básicas atendidas e pode viver em condições de conforto inimagináveis a
até 150 anos atrás. Se as pessoas se contentassem com o que já tem, as empresas não
poderiam sobreviver e o sistema já teria entrado em colapso. Para induzir as pessoas a seguir
consumindo, o capitalismo desenvolveu a “sociedade do consumo”, isto é, toda uma cultura
voltada para fazer da produção de novas necessidades, um estilo de vida. Expande-se o “tempo
de lazer”, na medida em que, nos países industrializados, é definitivamente fixada a jornada de
trabalho de 8 horas. Esse tempo de lazer será ocupado pela produção da indústria cultural,
cujos filmes, novelas, canções, esportes com suas imagens e seus glamurosos artistas,
estabelecem os padrões sociais de comportamentos a serem atendidos pelo “consumo
conspícuo”, expressão cunhada pelo sociólogo Thorsten Veblen (1857-1929) no final do século
XIX.
12
A necessidade de produzir necessidades
... e assim, ao longo do século XX,
sobretudo depois da Segunda
Guerra, vai se consolidar em boa
parte do mundo, uma sociedade
que passa a consumir gostos,
prazeres, desejos, pertenças
identitárias, tudo isso que pode ser
representado por alguma marca.
E para isso, os meios de
comunicação social (“mídia”) serão
absolutamente essenciais.
34. http://entornoonline.com.br/blogdagraci/wp-content/uploads/2014/05/o-maior-aliado-da-copa-do-mundo-1000x500.jpg, acesso em 04/08/2014
A “sociedade do consumo” começou a se formar, nos EUA, desde fins do século
XIX, e se expandiu para todo o mundo depois da Segunda Guerra. Ela é movimentada
pela publicidade e pela indústria cultural que criam os hábitos cotidianos voltados
para o consumo enquanto estilo de vida. O cinema, a música popular, os esportes, a
programação do rádio e da televisão, os espetáculos em geral, ganharam crescente
importância na vida cotidiana das pessoas e, daí, nas suas referências culturais e
psicológicas, logo na definição do que sejam “necessidades”.
“Toda a vida das
sociedades nas quais
reinam as modernas
condições de produção
se apresenta como
uma imensa
acumulação de
espetáculos [...] O
espetáculo não é um
conjunto de imagens,
mas uma relação social
entre pessoas,
mediada por imagens”
(G. DÉBORD)
O Comitê Olímpico
Internacional faturou
USD 3,8 bilhões no
“ciclo” das Olimpíadas
de Londres. A FIFA
faturou USD 3,2
bilhões no “ciclo” da
Copa de 2010 e deverá
faturar USD 5 bilhões
no da Copa do Brasil.
Metade dessas
receitas veio dos
direitos vendidos às
TVs e a maior parte do
restante, dos
patrocinadores
publicitários diretos.
36. CRIAÇÃO/PROJETO
FABRICAÇÃO
MATERIAL
ACABAMENTO
Trabalho concentrado
nos países ricos
Trabalho distribuído
na periferia
TRANSPORTE DE VOZ E DADOS CORPORATIVOS
(informações de projeto, de gestão e financeiras)
TRANSPORTE DE SOM E IMAGEM PARA O PÚBLICO
(publicidade e marketing)
CONSUMO
MUNDIALIZADO
Audiências
Pesquisas
Para as corporações-redes, as comunicações cumprem duas funções
na redução dos tempos de circulação: 1) nas interações inter e intra-
firmas; 2) nas interações com o mercado.
As comunicações no capitalismo contemporâneo
DISTRIBUIÇÃO
E VENDAS
6
38. http://davidcorreiajunior.files.wordpress.com/2008/08/clarice_l
ispector.jpg,acessoem27/06/2010
Clarice Lispector (1920-1977)
Para se apropriar do valor
do trabalho “artístico” ou
“criativo”, o capital
desenvolveu as
indústrias editoriais e de
fluxo baseadas nos
direitos à propriedade
intelectual (DPI) e no
controle dos meios de
reprodução e distribuição
8
http://www.jcprint.com.br/imagem
/gto.gif,acessadoem27/06/2010
http://imagens.canaltech.com.br/18536.32034-Televisao-Ambilight.jpg, acesso em 12/08/2014
Indústrias
editoriais: o
“original” é
submetido a um
processo industrial
de reprodução e
distribuição
Indústrias de fluxo: a utilidade do
trabalho é diretamente, em tempo real,
distribuída para consumo.
39. http://saudeinfantil.blog.br/wp-content/uploads/2012/05/tv_pais_filhos-e1336572165680.jpg
… mas, na “velha mídia”, as reações e interesses dos indivíduos e
famílias só podiam ser captados por meios indiretos (pesquisas,
cartas de leitores etc). O trabalho da audiência estava limitado quase
apenas ao tempo de atenção.
O trabalho da audiência (no tempo livre)
Em casa, o tempo de audiência será também tempo de trabalho. É a
audiência que valoriza o tempo vendido pelas empresas aos anunciantes.
40. http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRcUEshPCiKSOlsRukjakcEE7XR0rIYE94dDznlLo9r6wmanqA_, acesso em 11/06/2013
http://exame.abril.com.br/rede-de-blogs/senhor-do-seu-
tempo/files/2013/04/06192009_familytime.jpg, acesso em
11/06/2013
http://www.websegura.net/wp-
content/uploads/2011/09/1269437_93098115
.jpg, acesso em 11/06/2013
http://www.mammedomani.it/images/stories/
articoli/Baby_Tecnologie.gif, acesso em
11/06/2013
Trabalho da audiência: muita atividade em rede
Nas “novas mídias”, os “cliques” permitem um conhecimento quase individualizado
sobre as preferências do “consumidor”. As bases de dados podem analisar gostos,
preferências, tendências, inclusive individualizar demandas.
As redes (“sociais”) permitem ao capital se apropriar de todo tempo disponível das
pessoas, explorando trabalho literalmente não pago. Todo espaço-tempo da sociedade
torna-se espaço-tempo produtivo. O consumo torna-se imediatamente produtivo.
41. http://t0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ-
CjjSHbnP5PSGlpovr4wZd7djfPhEZtzpl9-luI7JokbjhWeBTA
A internet permite:
1) eliminar uma grande quantidade de tempos intermediários
de trabalho vivo pouco ou nada “criativo”, na realização dos
pequenos negócios cotidianos de consumo,
independentemente da distância;
2) alargar a produção do espetáculo a praticamente todo
consumidor enredado em alguma atividade de navegação,
independentemente da distância
Internet, o capitalismo quase ideal
A internet é a realização do
ideal capitalista de anular o
espaço pelo tempo.
As indústrias culturais editoriais,
que se baseavam nos tempos de
replicação e intermediação dos
suportes (discos, livros), estão
acabando ou precisando se
adaptar ao modelo de fluxo
(radiodifusão paga, pelo ar, cabo
ou satélite, linear ou não linear).
42. As redes sociais (como bem sabe o
Facebook), tornaram-se minas de
ouro literais para o capital que se
valoriza com informação e
conhecimento e, por meio delas,
pode encontrar uma fonte de
conhecimento original em qualquer
lugar onde haja um cérebro
pensante e devidamente
qualificado.
A Nokia lançou um concurso para
internautas lhe dizerem que programas
gostariam de ver na telinha de seus
smartphones. Participaram 7.700 e
venceu um indiano que sugeriu um
identificador visual que substituísse as
senhas de acesso. Em seguida, ofereceu
US$ 100 mil a quem desenvolvesse o
programa em 36 horas. Venceu um
brasileiro, Jackson Feijó, mas o
conhecimento é propriedade da Nokia
A Goldcorp colocou na rede seus dados
geológicos. Pagou US$ 500 mil ao geólogo que lhe
indicou com segurança onde estavam as maiores
chances de sucesso: encontrou uma jazida de
US$ 3,4 bilhões em ouro e seu valor de mercado
pulou de US$ 90 milhões para US$ 10 bilhões
A Procter&Gamble paga US$ 300 mil ao
químico, em qualquer lugar do mundo, que lhe
apresentar uma solução para tirar mancha de
vinho das roupas. Evidentemente, a
“propriedade do conhecimento” passa a ser
dela (e para quê continuar mantendo uma
dispendiosa equipe de 7 mil químicos
assalariados?)
Capturando trabalho em qualquer lugar
As redes sociais anulam barreiras espaço-temporais na
captura de trabalho informacional.
43. http://www.pontomidia.com.br/raquel/arquivos/assets_c/2011/06/gtciberfotinhos-thumb-350x280-234.jpg, acesso em 11/06/2013
http://www.editoraevora.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/02/redes_sociais2.jpg, acesso em 11/06/2013
Tempo
de
audiência
capitalizado
Mais-valia 2.0?
A informação gerada por essa produção social geral (“general intellect”) é
apropriada na forma de “direitos intelectuais” defendidos pelos “jardins murados”.
Leiloeiro
(Google,
Facebook etc.)
Espaço
publicitário
Anunciantes
Anunciantes
Anunciantes
Anunciantes
Anunciantes
Anunciantes
Palavra
Internauta
$
$
$
$
$
$
Trabalho contratado
ElaboraçãodaMarcosDantas
Trabalho gratuito
45. A criação terá que ser
comunicada. Para isso, o
capital mobiliza, de modo
articulado e combinado com
o trabalho aleatório, o
trabalho redundante de
supervisão, controle,
observação, direção ou
correções do trabalho morto
de transformação material
final. É uma etapa necessária
à fixação da informação
processada nos seus
suportes materiais
adequados. As condições
industriais de replicação
(tempo tendendo a zero)
determinam as possibilidades
de apropriação das rendas
informacionais.
Rendas diferenciais
http://imgs.jornalpp.com.br/b5fe022e7bf4f300a6e0f438dad1f2b6_L.jpg?t=-
62169984000, acesso em 25/07/2014
1) Tempos diretos e indiretos são altos:
barreiras naturais à entrada, poucas
firmas, lucros de monopólio. Ex: indústria
automobilística
2) Tempos diretos e indiretos são baixos: barreiras jurídicas e
policiais à entrada (papel do Estado) podem ser criadas em
segmentos empresariais intermediários, nestes se extraindo
rendas de monopólio. Ex: empresas e entidades usuárias de
software proprietário, lojas de roupas etc.
3) Tempos diretos e indiretos são baixos: barreiras jurídicas e
policiais à entrada (papel do Estado) não logram impedir
crescimento de microfirmas informais (emprego de trabalho
redundante), erodindo as rendas de monopólio. Ex: “pirataria” de
discos, filmes, peças de vestuário etc.
4) Tempos diretos e indiretos são quase nulos: barreiras jurídicas e policiais à entrada (papel do
Estado) não logram impedir crescimento do intercâmbio doméstico, não comercial, de arquivos,
zerando as rendas de monopólio. Ex: redes P2P.
46. http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTB1P9neL_r1p8RmDl_n4GMF9YjpmMYnxpaIWeccvj-wTxM4Wax, acesso em 22/05/2011
2 http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcS3if3saEwarcto-sLNyubG2HrivZ-oG9jlG2E3zv8-FfO-b1qK, acesso em 22/05/2011
Como “idéias”, “conhecimentos”, “imagens”,
“informação” podem ser comunicados,
compartilhados e replicados a custos no limite de
zero, o capital está desenvolvendo novos modelos de
negócios que o jargão empresarial denomina “jardins
murados”. A legislação dos “direitos intelectuais” e a
caça aos “piratas” nem sempre são eficazes...
3 https://lh5.googleusercontent.com/-zyvN_VnqO-M/TYS2GdGnBBI/AAAAAAAADQ4/C4UFe3XJDfE/s1600/30-ipad_kindle.jpg, acesso em 22/05/2011
O terminal conectado a
uma “loja virtual”
exclusiva substitui os
suportes reprodutíveis
Os “jardins murados”
A acumulação já não se apóia na
troca de equivalentes, princípio da
mercadoria, mas em rendas de
monopólio. O capitalismo tornou-se
essencialmente rentista.
47. http://4.bp.blogspot.com/_S9yMFmI-N6c/SIttV_5TAEI/AAAAAAAAA7k/fbgbQR6svSQ/S1600-R/muro.jpg, acessado em 10/03/2020
“Jardins murados”
A essência do “jardim murado” é tornar compulsório o pagamento pelo
acesso a cada espetáculo reduzido a alguma unidade “monetizável”. A
TV por assinatura tomou o lugar da TV aberta. O acesso à internet
depende da assinatura de algum serviço de “banda larga” sendo
crescente a cobrança pelo acesso aos “conteúdos”, nos portais da
internet ou nas “lojas virtuais” .
46
48. CRIMINALIZAÇÃO SOCIALIZAÇÃO (“COMUNS”)
Lei do Copyright para o Milênio (Millenium Copyright Act – DMCA) –
aprovada em 1998, esta lei estadunidense criminaliza a produção e
disseminação de tecnologias, componentes ou serviços que visem
anular medidas que buscam assegurar a gestão dos “direitos digitais”
(digital right management –DRM).
Diretiva da União Européia sobre Copyright (2001) – incorpora a
essência do DMCA
Hadopi – lei francesa aprovada em 2009 visa “promover a distribuição
e proteção das obras criativas na internet”, para isso introduzindo
mecanismo de controle das atividades dos usuários e penalizando
infrigimento às leis de copyright. Cria a Alta Autoridade para a Difusa
de Obras e Proteção de Direitos na Internet (“Hatopi” na sigla francesa)
Lei Sinde – espanhola, aprovada em 15/02/2011, permite fechar sítios
na internet que sirvam para baixar arquivos “ilegalmente”.
Liberdade em rede vs. estado policial
http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSJAhXjX1tS6QQeBwqf
A0wIsdPiN2mCV46VQ1foXrSb5lilzrzFPQ, acesso 31/05/2011
http://stan.uio.no/blog/flexlearn/images/wikipedia.jp
g
Em abril de 2009, os diretores do Pirate Bay foram condenados à prisão
50. Das ruas comuns para os condomínios fechados
http://4.bp.blogspot.com/_WeoC73kslpI/St7Yh4o8CJI/AAAAAAAAAPM/gAUT-NL3B0M/s320/HermanoVianna1b.jpg, acessado em 8/11/2011
“Na semana passada, a seção Digital & Midia deste jornal
publicou página inteira sobre migração da internet ‘tradicional’
para as redes sociais [...] Muitas pessoas embarcaram na onda
e até já abandonaram seus emails. Por isso, esses migrantes
são apontados como pioneiros das novas tendências bacanas.
Mas podem ser vistos igualmente como garotos-propaganda –
não remunerados – de uma reação poderosa contra a liberdade
na rede, que faz tudo para transformar nossa vida virtual [...]
em propriedade de meia-dúzia de megacorporações.
Uma capa recente do Segundo Caderno também mostrou
pessoas que passaram a usar o Facebook para ‘compartilhar
seu conhecimento’, construindo excelentes guias culturais –
que ‘antigamente’ teriam lugar em blogs e sites pessoais –
dentro do território de Mark Zuckerberg [...] Não posso deixar
de comparar: é como deixar as ruas comuns de uma cidade e
passar a viver num condomínio cercado por muros e
seguranças [...]
Redes sociais como o Facebook são conhecidas justamente
como ‘walled gardens’ ou [...] ‘jardins murados’ [...] Não sei se
todo mundo tem consciência do que está fazendo ao trocar o
‘tradicional’ pelo ‘novo’” (Hermano Vianna, “Jardins Murados”,
O Globo, 29/07/2011)
51. http://www.iti.gov.br/twiki/pub/Noticias/PressRelease2004Jul22A/SrgioAmadeu.jpg,
acesso em 10/12/2008
http://www.lisarein.com/lessig-
sxsw2003-3.gif,
acessoem10/12/2008
“A batalha que está ocorrendo atualmente
centra-se em duas idéias: ‘pirataria’ e
‘propriedade’ ” (L. Lessig, Cultura livre:
como a mídia usa a tecnologia e a lei para
barrar a criação cultural e controlar a
criatividade, 2004)
“As informações podem ter um ou mais autores, mas elas nascem
a partir de um conhecimento comum, uma linguagem comum e, por
mais genial que tenha sido a sua criação específica, ela somente
pôde existir com base no acúmulo sócio-cultural. Por mais que
tenha tentado fazer um novo cercamento, o capitalismo, ao atingir
a sua fase informacional, não consegue, na prática, no cotidiano,
resumir e fundir o autor ao proprietário de uma informação ou bem
simbólico. Não consegue expulsar o conhecimento do terreno do
comum e aprendê-lo no terreno privado. Autoria é diferente de
propriedade. Uma idéia, ao ser criada, logo desprende-se de seu
autor e retorna à sua base comum que é coletiva, social. Para evitar
que isso ocorra é preciso tentar anular as características inerentes
à essência dos bens informacionais [...] Por não sofrerem
escassez, podem ser reproduzidos sem desgaste do original, sem
perda” (S. Amadeu da Silveira, Redes virais e espectro aberto,
2007)
A alternativa dos comuns
52. http://www2.warwick.ac.uk/knowledge/themes/virtualfuture
s/richardbarbrook/richard_barbrook_320x220.jpg
“Felizmente, para [as] elites, a criatividade cooperativa
não era inerentemente subversiva. Longe de ser um
renascimento de alta tecnologia da Comuna de Paris,
comunidades virtuais eram – em sua maior parte –
apolíticas. Nos textos fundadores do mcluhanismo da
Nova Esquerda, os habitantes da ágora eletrônica eram
revolucionários, artistas, dissidentes, visionários. Quatro
décadas depois, as coisas eram bem diferentes. A
maioria absoluta dos contribuidores dos sítios das redes
sociais mais populares levam vidas muito mais simples.
Mais do que debater os assuntos políticos urgentes do
dia, seus tempos de conexão eram gastos com fofocas
sobre suas experiências pessoais, amigos, celebridades,
esportes, sítios bacanas, músicas populares, programas
de TV e viagens de férias. Dentro dessa visão MySpace
da ágora eletrônica, o comunismo cibernético era
comercial, não excepcional. O que uma vez fora um
sonho revolucionário, era agora parte agradável da vida
cotidiana” (R. BARBROOK, Futuros imaginários: p. 381,
grifos meus - MD).
... e assim caminha a humanidade
19
53. Internet.org é claramente um projeto
que busca capilarizar redes a serviço
do poder geopolítico dos Estados
Unidos, em regiões potencialmente
conflitivas, origem de movimentos
migratórios globais e de militantes
anti-sistêmicos.
Não parecendo oferecer condições de
viabilização econômica, permite, por
outro lado, construir grandes big data
sobre o estado do mundo, sobretudo
em suas regiões mais pobres.
O programa conta com a parceria de outras grandes corporações-redes industriais-
financeiras, como a Samsung, Ericsson, Nokia, Qualcomm, todas interessadas em
ampliar o mercado de dispositivos terminais e de infra-estrutura de acesso aos seus
respectivos “jardins murados”. Para ser viabilizado, também precisa de apoio das
grandes empresas que detém as infra-estruturas de telecomunicações, principalmente
das operadores móveis.
Apesar das muitas negativas da parte de Mark
Zuckerberg e de outros porta-vozes do Facebook,
o projeto é muito criticado porque ameaçaria a
neutralidade da rede.
Projetos pilotos de internet.org
já operam em mais de 10
países, a exemplo de Zambia,
Tanzania, Kenya, Colômbia,
Bolívia, etc
Internet.org
Em agosto de 2013, o Facebook anunciou um programa de “inclusão digital”
denominado “internet.org”. O programa visa levar acesso a uma cesta básica de
serviços em rede, por meio do portal do Facebook, a populações muito pobres e
regiões desprovidas de infra-estrutura de acesso.