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O surgimento do homem, os primeiros agrupamentos sociais e o
aparecimento das famílias.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume ago., Série 29/08, 2011, p.01-15.




As teorias sobre a origem do homem são relativamente recentes, só apareceram no final
do século XIX e até hoje estão em constante alteração, sobretudo, devido a descobertas
que costumam alterar a opinião dos estudiosos do tema.




Pensar a evolução das espécies só tornou-se possível depois da revolucionaria teoria do
inglês Charles Darwin, publicada na obra A origem das espécies em 1859.
Polêmica até os dias atuais, ainda combatida pelo chamado criacionismo, Darwin
sustentou, com base em observações empíricas na ilha de Galápagos (Equador), que a
vida está em permanente adaptação com relação ao meio e a luta pela sobrevivência.
Para ele, a lei do mais forte comanda o processo de evolução, aglomerando-se com o
processo de seleção natural, dentro do contexto da teoria da evolução das espécies.
Segundo a qual, somente os mais fortes, os mais adaptados, sobrevivem, enquanto
mutações genéticas garantem vantagens que alteram características físicas das espécies.
Neste sentido, o estudo de fósseis e vestígios arqueológicos permitiu traçar uma linha
evolutiva da espécie humana.
Os profissionais responsáveis por estes estudos são paleontólogos, arqueólogos e
antropólogos, embora historiadores também contribuam com analises sobre os indícios
encontrados.
Mais recentemente, geneticistas se juntaram a equipe de estudiosos do tema,
colaborando com o rastreamento das origens do homem, chegando até a Eva Genética, a
mulher da qual todos descenderíamos, pertencente já aos Homo Sapiens.
No entanto, antes dela a espécie humana teve outros ancestrais.




O Ramapithecus e a polêmica da ramificação da espécie.
Até recentemente, acreditava-se que o ancestral mais antigo do homem era o
Australopitecus, cujo nome significa macaco do sul, um fóssil descoberto no sul da
África em 1924.
Segundo livros didáticos ainda em uso, este primata teria aparecido há
aproximadamente 1 milhão de anos, caracterizando-se por possuir cérebro um pouco
maior que seus parentes, postura ereta, melhor visão e maior habilidade com as mãos.
O que teria permitido manipular instrumentos como varas para derrubar frutas, além do
desenvolvimento de habilidades sociais que possibilitaram a vida em grupo.




                    No entanto, um fóssil encontrado em 1974, na África, começou a
alterar este panorama.
Trata-se de Lucy, um Australopitecus com 3 milhões de anos.
Mudanças mais radicais ocorreram com descobertas no inicio do século XXI,
originando outra teoria.
A qual defende a idéia que o Australopitecus é um primo distante do homem moderno,
uma ramificação a partir de um ancestral comum.
Segundo esta hipótese, o Australopitecus não seria um ancestral do homem, até porque
encontraram ramificações que dividiram o dito Australopitecus em subespécies tal como
Africanus e Boisei, as quais terminaram também extintas.
Na realidade, o Australopitecus e o Homo Habilis, este último nosso ancestral direto
mais antigo, conviveram na mesma época, há cerca de 3 milhões de anos até
aproximadamente 1 milhão de anos.
Ambos descendem do Ramapithecus, um primata que surgiu há 12 milhões de anos, em
diferentes regiões da África, Europa e Ásia.
Trata-se de um primata de pouco mais de um metro de altura, que viveu em florestas e
savanas e que foi se tornando bípede.
Era dotado da habilidade de atirar objetos para espantar predadores e carregar as crias.
Porém, conforme se adaptou para caminhar, perdeu a habilidade de agarrar com os pés,
o que impediu os bebês de grudar na mãe com as quatro patas, fazendo desenvolver a
postura ereta para liberar as mãos para o transporte das crias.
Ocorreram mutações que, pelo processo de seleção natural, originaram o
Australopitecus e o Homo Habilis, muitas vezes confundidos nos livros didáticos como
a mesma espécie, utilizados erroneamente como sinônimos.
Porém, existe mais de uma ramificação a partir do Ramapithecus que torna o quebra
cabeças mais complexo e desorganizado, pois, em 1891, foi descoberto na ilha de Java o
Pitecantropus.
Um homínida que apareceu há cerca de 750 mil anos, cujo nome significa macaco em
pé, o qual antes acreditava-se descender do Australopitecus, mas que na realidade está
em uma linha evolutiva paralela.
Atualmente, a opinião mais aceita diz que o Pitecantropus é apenas mais um primo do
Homo Habilis, tendo como ancestral comum o Ramapithecus.
Um fóssil, descoberto na China em 1921, permitiu observar que o Pitecantropus
evoluiu, originando o Sinantropo, um primata de postura ereta, cérebro maior que seu
antecessor e que conhecia o uso do fogo.
É provável que o Australopitecus, Pitecantropus, Sinantropo e Homo Habilis
representem mutações do Ramapithecus que conviveram em grupos rivais, disputando
espaço.
A espécie mais apta sobreviveu e sobrepujou as demais, no caso o Homo Habilis, as
demais se extinguiram.
Entretanto, por volta de 1 milhão de anos surgiu o Homo Erectus, descendente direto do
Homo Habilis, um hominídea fisicamente não muito diferente de nós, de aspecto
robusto e forte, com cabeça achatada e maxilar saliente.
Este ser conhecia o fogo e vivia em grupos, possuindo noções de convivência social
mais elaboradas.
Provavelmente foi empurrado por mudanças climáticas, iniciando uma migração em
massa para a África, onde os sobreviventes da jornada originaram o Homo Sapiens há
500 mil anos.
Nascia o homem moderno, com todas as características que temos hoje, mas sem os
mesmos hábitos ou modos de se relacionar entre si e com a natureza.
O Homo Sapiens sofreu uma mutação mal sucedida entre 100 e 65 mil anos, fazendo
surgir na Europa o Neandertal.




                                               Um hominídeo com cérebro menor
que o Homo Sapiens, mas maior que o Homo Erectus; porém com grande força física e
conhecedor do uso de lanças e machados de pedra lascada.
Este realizava ainda um tipo de culto aos mortos, colocando enfeites e alimentos nos
túmulos, para que o morto pudesse utilizar em outra vida.
O Neandertal simplesmente desapareceu há 50 mil anos, possivelmente se misturou
com o Homo Sapiens, visto que alguns de nós possuem traços genéticos que remetem a
eles.
Seja como for, o homem moderno se tornou uma praga, transformando a natureza com
fins a sua sobrevivência, espalhando-se pelo planeta e se multiplicando.




O povoamento do planeta pelo Homo Sapiens.
Depois que o Homo Erectus migrou para a África, originando o Homo Sapiens há 500
mil anos, segundo a teoria mitocondrial, permaneceu no continente por 300 mil anos.
Só iniciou uma nova aventura migratória há 200 mil anos, quando o nível das águas
começou a baixar, permitindo, inicialmente, ir para o sul do continente africano.




Depois, por volta de 100 mil anos, atravessou o mar Vermelho, quando então era
possível cruzá-lo a pé, indo para o Oriente Médio e para a região da Índia.



Há 55 mil anos navegou até a Oceania, chegando até a Austrália, ao mesmo tempo,
espalhando-se pela Ásia Central.
Até então, é provável que a última era glacial tenha impedido a migração para a Europa.
Isto, a despeito da teoria eurocêntrica que afirma que a África é o berço da humanidade
e que a primeira migração do continente teria sido para a Europa, ao invés da Ásia.
Entretanto, vestígios arqueológicos e o estudo genético provaram que a migração para a
Europa é bem mais recente, remonta há 55 mil anos, em algumas regiões ocorreu
somente há 30 mil anos.
Já a migração para a América teria ocorrido entre 40 e 100 mil anos, coexistindo duas
teorias que explicam como aconteceu.
Segundo a teoria do povoamento pela ponte do Estreito de Bering, entre 40 e 30 mil
anos, a passagem entre o norte da América e da Ásia era mais estreita.
O nível do mar era pelo menos 120 metros mais baixo, além de existir uma provável
faixa formada por água congelada.
O que teria permitido cruzar a distância a pé ou navegando curtas distâncias.




Outra teoria, defendida por cientistas do Museu do Homem em Paris e já recriada por
arqueólogos, afirma que o homem teria migrado a partir da Oceania, navegando em
embarcações primitivas, indo de ilha em ilha até chegar a América, um processo que
teria demorado 6 mil anos.
Atualmente, as duas teorias são aceitas, sendo provável que os dois processos ocorreram
simultaneamente, ao passo que o povoamento da América teria se dado tanto pelo norte
como sul do continente.
Posteriormente, migrações para o sul e norte terminaram de povoar toda a América.
Neste sentido, o fóssil humano mais antigo do continente teria no máximo 20 mil anos,
chamado pelos paleontólogos como Luzia, o qual foi encontrado na América do Norte.
Por sua vez, segundo Pedro Paulo Funari, na América do Sul, o esqueleto mais antigo
teria por volta de 12 mil anos.
Entretanto, a arqueóloga brasileira NèdeGuidon encontrou vestígios que não se
enquadram neste grande quebra-cabeças na Serra Capivara, no Piauí.
Trata-se de restos de uma fogueira (carvões e artefatos de rocha lascada) que datam de
50 mil anos, além de pinturas rupestres com pelo menos 40 mil anos.
Diante destas descobertas, todas as teorias, ou pelo menos sua datação, sobre o
povoamento da América, poderiam ser contestadas.
Alguns estudiosos passaram, inclusive, a defender o inicio da América há 100 mil anos,
quando a última era glacial teria facilitado a passagem a pé.




                                                  O que faz com que seja plausível a
chegada do homem à América por várias passagens, incluindo sua migração direto da
África, passando pelo Atlântico, quando o nível do oceano estava mais baixo, com
grandes extensões de água solidificada pelo frio.
Destarte, esta teoria é controversa, não podemos esquecer que existem questões
políticas, ideológicas, sociais e culturais envolvidas.
O predomínio de uma visão eurocêntrica, dificilmente permite aos pesquisadores
admitir um povoamento da América quase ou mais antigo que o asiático ou europeu.
É o mesmo tipo de questão que, por exemplo, faz as civilizações nativas da América
serem tratadas como primitivas, embora, em vários aspectos, sejam superiores aos
europeus do século XV e XVI.
Em todo caso, seja qual for a datação ou percurso da migração do homem pelo planeta,
cabe perguntar: o que teria motivado o deslocamento destes grupos humanos?
Uma explicação convencional diz que mudanças climáticas, a migração da caça, teriam
feito os homens buscarem novos territórios.
Outra explicação afirma que a explosão demográfica tornou alimento escasso e forçou a
migração humana.
No entanto, Jaime Pinsky forneceu uma hipótese mais original que não anula as
anteriores, para ele a migração humana aconteceu devido ao espírito de aventura.
A natureza humana, a curiosidade de explorar e saber o que está além, foi o que moveu
o homem a migrar cada vez para mais longe.




Os primeiros agrupamentos sociais.
Desde 1 milhão até 10 mil anos atrás, os grupos hominídeas foram basicamente
compostos por caçadores, pescadores e coletores.
O que exigiu uma organização social para coordenar os esforços de caça, com uma
divisão de tarefas pelo sexo e idade.




As mulheres coletavam frutas e raízes, cuidando dos filhos, amamentando a criança até
que desse a luz ao próximo rebento, em um espaço estimado em quatro anos, tratando
também do preparo dos alimentos.



Os homens caçavam e pescavam, perseguindo animais em grupo, preparando artefatos
para facilitar a caça, como lanças e machados de pedra.
Aos caçadores cabia a distribuição da carne, feita através de longos rituais, influenciada
pelo grau de parentesco, alianças e devolução de favores.
O caçador mais forte liderava o grupo, enquanto os mais velhos formavam um conselho
também destinado a ensinar os mais jovens, ou eram deixados para morrer quando
representava um fardo para o grupo, isto porque os homens eram nômades, migrando
atrás da caça e pesca.
Estes primeiros grupos sociais, segundo vestígios arqueológicos, não eram superiores a
trinta indivíduos, fixando-se provisoriamente em cavernas ou habitações construídas
com material local.
Sempre próximos a fontes de água doce, tal como rios, ou então em locais elevados para
facilitar a visualização de predadores e grupos rivais.
Viveram na época que chamamos de pré-história, o período anterior a invenção da
escrita, entre 4 e 3 mil anos antes de Cristo.
Isto porque é um período considerado anterior a história propriamente dita, já que não
existem relatos escritos sobre a vida destes grupos, somente vestígios arqueológicos que
permitem a penas suposições.
Dentro da pré-história, o espaço de tempo que vai da origem do homem até 12 mil anos
é chamado de Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.
O inicio da sedentarização da humanidade e a invenção da agricultura é chamado de
Mesolítico ou Nova Idade da Pedra, a Idade Média da pré-história.
Um período de transição com novas técnicas e instrumentos surgindo, convivendo com
e velhos hábitos e práticas, delimitado entre 12 até 10 mil anos, embora alguns autores
delimitem seu fim nos 6 mil anos.




Entre 10 e 4 ou 3 mil anos, acorreu a Revolução Neolítica (Período Neolítico), quando o
homem se tornou sedentário, fixando-se em aldeias próximas a fontes de água e terras
férteis.

Iniciou-se então a domesticação de plantas e animais, com a agricultura e o pastoreio.

As primeiras espécies vegetais domesticadas foram grãos, cereais e raízes; tal como
milho, trigo, cevada, arroz e batata-doce.
Ao passo que os primeiros animais domesticados foram cães, cabras, bois, camelos e
dromedários.
Em pouco tempo, o homem aprimorou técnicas de construção de moradias, criando
peças de cerâmicas para armazenar alimentos e servir como decoração.
Simultaneamente, começou a aperfeiçoar instrumentos agrícolas, o que gerou excedente
e possibilitou o inicio do comércio, forçando o aparecimento de novas tecnologias para
o transporte das mercadorias.
Foi dentro deste contexto que a roda foi inventada há cerca de 5 mil anos, apesar de no
inicio sua utilização se restringir para fazer cerâmica, portanto usada na horizontal.
De qualquer forma, durante o Neolítico, também chamado Idade da Pedra Polida, a
sedentarização trouxe mudanças significativas na organização social, cultura e religião.
Os agrupamentos humanos se tornaram mais numerosos, comportando uma explosão
demográfica que originou as primeiras cidades e, posteriormente, as primeiras
civilizações.
Este aumento das populações humanas criou rivalidade entre grupos humanos, fazendo
nascer a figura do guerreiro e organizações militares para proteger ou tomar recursos e
terras.
Neste sentido, a divisão de tarefas continuou obedecendo uma dinâmica conforme sexo
e idade.
Onde aos homens cabia preparar a terra para o cultivo e ará-la, cuidando também da
caça e pesca, servindo como guerreiros.
As mulheres, além das tarefas domésticas e do cuidar dos filhos, passou a caber a rotina
da lavoura e a colheita.
Aos mais jovens, principalmente do gênero masculino, era atribuída a tarefa de
pastoreio de animais de pequeno porte.
Os mais velhos deixaram de ser abandonados para morrer, passaram a gozar de maior
prestigio, compondo conselhos que decidiam os destinos do grupo e guardando e
preservando a memória oral.




No aspecto cultural e religioso, mitologias nasceram para tentar explicar os fenômenos
da natureza e padronizar comportamentos, quando apareceram, primeiro, o culto dos
antepassados e, depois, a figura dos deuses.
As mulheres passaram a ser vistas como seres sagrados, detentoras do dom da vida.
Para cultuar e simbolizar a religião e a política, começaram a ser esculpidas estatuas,
inicialmente, ligadas ao culto da fertilidade.
Igualmente, foi aperfeiçoado o culto funerário e a preservação da memória dos
antepassados, algo vinculado com o surgimento do sentimento de família.




O conceito de família.
Embora, em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e
reprodução da espécie, o conceito envolve questões vinculadas a aspectos sociais que
interferiram diretamente na evolução humana.
A família sofreu consideráveis modificações ao longo da história, regulando as
interações sociais e cunhando preceitos morais e éticos, fomentando leis e normas.
No entanto, o conceito de família, independente de suas variações, é basicamente o
mesmo desde os primórdios da humanidade.
Segundo Murdack, família é “um grupo social caracterizado pela residência em comum,
com cooperação econômica e reprodução”, um conceito bastante elástico.
Para Mair, família é “um grupo doméstico no qual os pais e filhos vivem juntos”, uma
concepção mais restrita e hoje colocada de lado pela maioria dos antropólogos.
Para Beals e Hoijer, família é “um grupo social cujos membros estão unidos por laços
de parentescos”.
Outro conceito aparentemente estreito, mas que, diante da elasticidade do
estabelecimento de graus de parentescos artificiais, admitidos como possíveis pela
antropologia, esta concepção torna-se ampla.
Em outras palavras, qualquer que seja a linha teórica, a verdade é que todos os conceitos
se encaixam na seguinte definição de família:


Família é todo conjunto de pessoas unidas por interações sociais com certo grau de
coesão entre seus membros, com graus de parentesco artificiais ou concretos,
declarados ou ocultos, com ou sem ligação genética.


Hoje, apesar de no passado já terem sido registrados casos semelhantes ao longo da
história da humanidade, a família pode tanto ser constituída por pais e filhos, como por
um conjunto de amigos, onde cada membro assume uma função social perante os
demais.




Tipos de família.
Dentro do âmbito da amplitude do conceito de família, para a antropologia existem
algumas classificações tipológicas que visam ajudar o estudo.
Assim, pensando nas diferentes maneiras como se organizam ou estruturam os grupos,
variáveis no tempo e espaço, a família pode ser classificada em cinco tipos:


1. Elementar.
Também chamada de nuclear, natal-conjugal, simples, imediata ou primaria; é aquela
formada por pai e mãe, homem e mulher ou aqueles que assumem a vida conjugal
monogâmica, podendo ser um casal de dois homens ou duas mulheres.
Fazem parte deste tipo de família, além do casal, também os filhos, quer sejam gerados
biologicamente ou agregados ao grupo.
A despeito de, até pouco tempo atrás, só ser considerado como pertencente a este tipo
de modelo a família patriarcal tradicional com laços sanguíneos.
Não obstante, a família elementar, do ponto de vista antropológico, é considerada
efêmera, pois à medida que os filhos crescem, constituindo novas famílias, o grupo
diminui e, eventualmente, tende a desaparecer com a morte dos pais.
Sobrevive, com raras exceções, não mais que duas ou três gerações.


2. Extensa.
Também chamada grande, é uma unidade formada por duas ou mais famílias de tipo
elementar, com grau de parentescos mais complexos, envolvendo avós, tios, sobrinhos,
primos, afilhados e até agregados.
No entanto, a unidade nuclear, com pai e mãe, ou aqueles que exercem a função, é bem
definida e nítida, admitindo apenas relações monogâmicas entre cônjuges.


3. Composta.
Também chamada complexa ou conjunta, é uma unidade formada por três ou mais
cônjuges e seus filhos, com estrutura poligâmica.
É um modelo oriental de família, existente desde os primórdios da humanidade e muito
comum em sociedades matriarcais


4. Conjugada Fraterna.
 Refere-se a uma unidade composta por membros que compartilham funções, não
existindo a presença rígida de pai e mãe.
Ora um membro do grupo exerce o papel de pai, ora de irmão ou filho, tudo depende do
contexto e do momento.
Um bom exemplo são as sociedade indígenas, onde a criança é de responsabilidade de
toda a tribo, embora existam funções delimitadas por sexo e idade.
Nas sociedades modernas, diante da ausência do real ocupante da função exercendo a
mesma, existe uma tendência a sempre alguém ocupar o lugar vago, mesmo que
temporariamente.
5. Fantasma.
Consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o
chamado fantasma, além dos filhos.
Isto, mesmo no caso de pai ou mãe vivos, mas ausentes, pois quando a função não é
desempenhada, pelo menos em um aspecto, o elemento torna-se um fantasma.




Funções da família.
Dentre as diversas funções da família, as quais tem variado através dos séculos, os
estudiosos apontam quatro básicas e quatro subsidiárias.
As funções básicas, também chamadas de fundamentais, são encontradas em todos os
grupos humanos, sendo elas:


1. Sexual.
Atende as necessidades sexuais permitidas por meio da institucionalização da união ou
casamento.


2. Reprodução.
Visa perpetuar a espécie, mesmo em sociedades onde há liberdade sexual, a procriação
é regulada com normas e sanções que legitimam a família.


3. Econômica.
Assegura o sustento e proteção do grupo, conduzindo a divisão de tarefas e a
estratificação, com status diferenciados entre os membros.


4. Educacional.
O grupo, através da coesão, arca com a responsabilidade de transferir os conhecimentos
acumulados pela humanidade de geração em geração, criando condições para que exista
uma cooperação entre os membros.
O que torna, teoricamente, a vida em sociedade possível.


Portanto, as funções básicas da família podem ser desempenhada de várias maneiras,
dentro dos mais diversos sistemas culturais, moldando as personalidades individuais.
Como agente educador, a família pode combinar duas funções especificas:


1. Socializadora.
Na medida em que transmite a herança cultural e social durante os primeiros anos de
vida (linguagem, usos, costumes, valores e crenças), a família é peça essencial no
processo de endoculturação, preparando a criança para o ingresso na sociedade.


2. Social.
Proporciona a conquista de diferentes status dentro da estratificação social, tal como o
posicionamento étnico, nacional, religiosa, político, educacional e até de classe.


Além destas divisões, alguns autores classificam quatro funções subsidiárias, apesar de
outros afirmarem que perderam sentido na sociedade moderna.
No entanto, cabe ressaltar que, diferente das funções básicas, as subsidiarias não
existem em algumas sociedades.
Estas funções subsidiarias podem ser assim divididas:


1. Religiosa.
Une seus membros através de uma rede de direitos e proibições morais, estabelecendo
laços afetivos e sentimentais.


2. Jurídica.
Impõem obrigações definidas entre os membros, mas também direitos.
O que garante a reprodução do sistema econômico e político vigente, assim como a
manutenção do status individual.


3. Política.
Propicia proteção potencializando apoio emocional para a resolução de problemas e
conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas.
Neste sentido, reforça a saúde física e mental do individuo, constituindo um recurso
para lidar com situações associadas à vida em comunidade.


4. Recreativa.
Constitui uma válvula de escape para as tensões fora do grupo, um elemento de fuga do
stress.
Embora esta válvula de escape, desvinculada da função religiosa e associada a outros
fatores, possa conduzir a violência domestica.




Casamento e família.
Freqüentemente associada ao casamento, para entender a família integralmente, é
necessário discutir o união entre cônjuges.
Na sociedade, em geral, existem duas formas de relação, do ponto de vista
antropológico, entre seres humanos: união e casamento.




Tradicionalmente, a união consiste no ajuntamento de indivíduos do sexo oposto sob
influencia do impulso sexual.



Modernamente, a união também pode ser caracterizada pelo ajuntamento também entre
indivíduos do mesmo sexo, contanto que exista influencia de impulso sexual.
De qualquer forma, a união não estabelece necessariamente direitos e obrigações e, do
ponto de vista antropológico, não constitui obrigatoriamente uma família.
Para que isto aconteça é necessário o reconhecimento dos envolvidos e da sociedade.
Entretanto, a união pode conduzir ao matrimonio ou casamento, quer seja reconhecido
ou não religiosamente ou pelo Estado.
O que caracteriza o casamento é, justamente, a união orientada para a constituição da
família, implicando em costumes complexos e o estabelecimento de laços afetivos mais
estreitos, quer dentro da monogamia ou da poligamia.
Assim, o casamento ou a união é a base para a construção da família e seu principal
elemento agregador, podendo comportar múltiplas soluções e/ou problemas que afetam
todos os seus membros.




Família e escola.
Existe, em quase todas as sociedades, uma tendência para que certos aspectos do
adestramento das crianças sejam assumidos por agentes externos à família, tal como a
escola.
O grande problema é que o saber escolar, muitas vezes, distancia-se da realidade,
impedindo a assimilação democrática do conhecimento, excluindo e limitando o acesso
ao saber.
A escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos por aqueles que
controlam o sistema educacional, dentro do âmbito do fordismo, acarretando em
problemas como a questão da “violência simbólica”, discutida por Bourdieu e Passeron.
Portanto, embora a sociedade transfira, cada vez mais, responsabilidades da família para
a escola, cabe lembrar que somente a primeira constitui um grupo primário.
A escola é um grupo secundário e nunca poderá substituir a família na educação das
crianças.




Concluindo.
A história da humanidade remonta aos seus antepassados mais remotos há 12 mil anos
atrás, desde então um longo caminho foi percorrido até os nossos dias.
Entretanto, a aceleração material e cultural humana só começou com a invenção da
escrita, cerca de 4 ou 3 mil anos antes de Cristo, embora a evolução tecnológica só
tenha assumido um ritmo mais rápido a partir do século XVIII e ainda mais desenfreado
na segunda metade século XX.
Entretanto, a despeito deste fato, o sentimento de família sempre foi o mesmo desde os
primórdios da origem da instituição, mas no século XXI passou a sofrer constante
modificação.
O que remeteu o que antes era considerado papel da família para dentro da escola,
gerando inúmeros problemas, já que instituições educacionais não estão preparadas para
cumprir o que a sociedade erroneamente espera dos profissionais da educação.
Seja qual for o problema, a resolução não está apenas no tratamento do educando, mas
sim na orientação familiar, principalmente para que assuma suas responsabilidades.
O vinculo dos sujeitos com a família é essencial para um desenvolvimento coerente.
O problema do individuo pode ser, na realidade, um problema de sua família, podendo,
inclusive, agravar situações em um efeito em cascata transposto para a sociedade.
Por outro lado, trabalhar com a família, permite ao profissional da educação realizar
verdadeiramente uma profilaxia, uma prevenção do agravamento de problemas já
existentes.
Para solucionar as questões que diariamente se colocam aos educadores, dentro da
escola, talvez devamos pensar em retomar alguns aspectos do ensino tradicional, só
assim será possível auxiliar o educando na passagem da heteronomia para a autonomia.
Conceitos básicos da Sociologia: algumas considerações.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 12/03, 2011, p.05-08.




Existem três conceitos básicos em sociologia: formas de organização social; cultura;
estrutura e papéis sociais.

Para entender várias discussões sociológicas é necessário dominar estes conceitos, por
isto abordaremos aqui brevemente cada um deles.




Formas de organização social.
A unidade fundamental para a sociologia é o grupo social, um conjunto de pessoas que
interagem formando padrões, unidas em torno de interesses em comum ou aglutinadas
segundo a identidade que tentam reproduzir.



Os grupos sociais se dividem em primários e secundários.

Grupos primários são aqueles em que os indivíduos possuem laços mais estreitos, mais
próximos, propiciando maior intimidade e coesão, dentro dos quais os interesses
comuns se estendem por longos prazos e, por vezes, são substituídos pela afetividade.

Um bom exemplo de grupo primário é a família, onde se um membro modificar seus
interesses, nem por isto deixa de pertencer ao grupo.

O interesse em comum que existe dentro da família pode ser simplesmente o bem estar
do outro, quer seja consciente ou não.

Grupos secundários são formados por indivíduos com interesses em comum que, depois
de satisfeitos, dentro de certo prazo, terminam com a dissolução do grupo.

Colegas de faculdade exemplificam perfeitamente um grupo secundário, pois existe o
interesse em comum de concluir o curso, o que, uma vez realizado, dissolve o grupo,
embora ele possa se tornar um ou vários grupos primários.

Conforme os grupos crescem podem se tornar formais e informais, ou seja, com regras e
normas explicitas ou implícitas.

Um grupo pode se tornar uma organização, um aglomerado de pessoas unidas em torno
de objetivos, formando uma combinação de esforços individuais em prol de propósitos
coletivos.
Neste sentido, assim como os grupos, as organizações podem ser voluntárias ou
coercitivas.

Grupos ou organizações voluntários são aqueles onde os membros se reúnem
espontaneamente.

Coercitivas são aqueles em que os membros são forçados a se reunirem, a estarem
juntos.

Diferente de uma organização, uma instituição pode ser definida como um conjunto de
pessoas que, não tendo necessariamente objetivos coletivos, é unificado pelo conjunto
de tradições que segue.




A cultura e sua formação.
A cultura pode ser definida como um conjunto de valores que une e confere identidade a
um grupo, ditando parâmetros de conduta que unificam comportamentos e ações,
fornecendo modelos que podem compor estereótipos.




Estereótipos são modelos nos quais os indivíduos são encaixados conforme as
aparências, nem sempre correspondendo a realidade.

A dinâmica de formação e modificação da cultura leva em consideração influencias
internas e externas, sendo integrado pela cultura ideal, a cultura real e a contracultura,
além de subculturas.

A cultura ideal ode ser definida como o conjunto de valores fixados pela elite,
vinculado, portanto, com a cultura erudita, o saber cientifico e escolar.

A cultura real corresponde aos valores fixados pelo senso comum ou cultura popular e
de massa, respondendo pelos valores em voga na prática.

Aqui cabe uma distinção, pois a cultura popular é aquela que nasce espontaneamente,
enquanto a cultura de massa é fabricada pela mídia de grande circulação e, em geral,
possui objetivos mercadológicos.

As subculturas pertencem à cultura real, constituindo variações da cultura
regionalizadas, que não contrariam, necessariamente, a cultura ideal, como por exemplo
a cultura nordestina ou gaucha, ambas pertencentes a cultura brasileira.
Em meio ao processo de constante modificação da cultura, alguns indivíduos que não
concordam com aquilo que é imposto pela cultura ideal e real, não conseguindo adequar
os parâmetros oficiais, terminam optando por defender novas idéias.

Estes indivíduos acabam criando movimentos de contracultura que, com o tempo,
podem modificar a cultura.




Estrutura e papeis sociais.
Ao contrário do que poderíamos imaginar, nem sempre os indivíduos controlam
totalmente se comportamento.



Para facilitar o convívio, a sociedade está organizada segundo uma hierarquia,
compondo uma estrutura social.

Cada individuo, conforme suas inclinações pessoais e sua formação social, tende a
ocupar um lugar na estrutura, exercendo um papel social especifico que fará com que se
comporte conforme as expectativas do grupo, independente de sua vontade.

O comportamento das pessoas envolve o que se espera delas ou aquilo que ela mesma
imagina que é esperado, determinando papéis sociais que conferem status.

Por exemplo, um diretor de uma empresa jamais irá usar gírias em uma reunião de
diretoria, pois considera que não atenderá as expectativas do grupo e diminuirá seu
status.

Entretanto, quando alguém ocupa mais de uma posição ou está presente em mais de
uma estrutura, desempenhando múltiplos papéis, podem surgir conflitos de papéis.

A esposa, por exemplo, sendo ao mesmo tempo mãe, devendo desempenhar funções
distintas, pode confundir papéis.

Tratando o marido como filho e criando uma tensão sexual com o filho, a esposa pode
deixar os outros membros da família desorientados.

Quando a mãe parece ter mais status para o marido que a esposa, a dita esposa pode
tentar compor a expectativa que pensa que o marido tem para com ela.

Resultado, a esposa passa a tratar o marido como mãe, buscando o status que julga não
ter como esposa.

Assim, o fator que faz com que as pessoas confundam papeis é o status, a busca pelo
reconhecimento dentro da estrutura social.

Quando um papel é considerado pelo individuo como estando abaixo do respeito e
admiração almejado, o individuo tende a transferir seus desejos de reconhecimento para
outra parte da estrutura ou outra estrutura onde pensa que terá maior probabilidade de
sucesso.
De qualquer forma, os conflitos de papeis desarticulam as relações e desest5ruturam os
grupos sociais, causando inúmeros problemas para o individuo e o conjunto da
coletividade.




Concluindo.
Esperamos que as breves descrições apresentadas neste artigo modesto possam
contribuir para o entendimento das relações sociais.

Entretanto, sugerimos que os leitores aprofundem seus estudos pesquisando mais sobre
o assunto e consultando a bibliografia indicada.

Comte e a construção do método sociológico: o positivismo.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 12/03, 2011, p.01-05.




Considerado o pai da sociologia, a motivação do pensamento do francês August Comte
(1798-1857) repousa no estado de anarquia de desordem de sua época, caracterizado
pela crescente urbanização, o imperialismo dos países industrializados e a luta de
classes que estava desestruturando a pirâmide social.




Em sua visão, as idéias religiosas haviam perdido sua força, desorganizando a
sociedade, culpa da revolução francesa e dos “doutores da guilhotina” com seu ideal de
liberdade, igualdade e fraternidade.
Comte chamava os iluministas de “doutores da guilhotina” pejorativamente para
demonstrar que tudo que a Revolução Francesa havia feito era cortar cabeças,
desmerecendo suas idéias.



Em sua opinião os iluministas tinham desestruturado as instituições sociais, base do
funcionamento ordenado da sociedade.

Porém, suas opiniões não eram originais, bebiam em uma fonte: Saint-Simon.




O verdadeiro pai da sociologia.
As concepções de Comte que originaram a sociologia e o positivismo não eram novas,
tinham sido herdadas de Henri de Saint-Simon (1760-1825), de quem ele havia sido
secretário particular até um desentendimento intelectual.

Durkheim, por exemplo, como um dos fundadores do positivismo e o propagador e
perpetuador da nova área no meio acadêmico e cientifico, considerava Saint-Simon
como o verdadeiro pai do positivismo e da sociologia.




                             Foi Saint-Simon que cunhou o termo filosofia negativa
para designar o iluminismo, pois achava que os pensadores ilustrados tinham uma visão
negativa da sociedade, enxergando as instituições como uma ameaça a liberdade
humana.



O termo positivismo foi, posteriormente, cunhado justamente para se opor a filosofia
negativa, como afirmação das instituições como base da sociedade, tendo, portanto, uma
visão positiva sobre a organização social.
Para Saint-Simon era justamente o contrário do que defendiam os iluministas, as
instituições, calcadas na tradição, que regulariam as relações e tornando possível a vida
em sociedade.

Além disto, ele achava que a industrialização era a única forma de satisfazer as
crescentes necessidades humanas e constituía a única maneira de obter riqueza e
prosperidade.

O progresso industrial acabaria com os conflitos sociais e traria segurança para os
homens, ou seja, ordem.

Neste sentido, o progresso do mundo acabaria com as diferenças e guerras.

É claro que na época, inicio do século XIX, ele não levou em consideração a escassez
de recursos naturais, o que torna impossível uma completa igualdade em termos de
consumo destes.

Embora tenha admitido a possível existência de conflitos entre possuidores e
despossuídos, mas achava que a ciência estabeleceria verdades que seriam aceitas por
todos, o que iria diluir os conflitos.

Para que a nova sociedade pudesse funcionar, Saint-Simon afirmava que seria
necessário existir uma elite dirigente, formada por industriais, comerciantes, banqueiros
e cientistas; os novos senhores feudais, sendo os cientistas comparados com o clero
feudal.




Comte e a sociologia.
Na concepção de Comte, havia a necessidade de uma ciência que possibilitasse
conhecer e estabelecer as leis imutáveis da vida social, “sem considerações críticas ou
discussões, permitindo prever e regular as ações”.




Ele chamou a nova ciência de “física social”, separando a filosofia e a economia política
do conhecimento da realidade social.
A idéia era criar uma ciência semelhante à física que fosse aplicada ao estudo da
sociedade.



Assim, Comte criou a sociologia com a intenção prática de interferir no rumo da
civilização, alterando o funcionamento da sociedade.

Inserindo-se na tradição conservadora dos chamados “profetas do passado”, grupo
contrário as idéias iluministas, para fundamentar a sociologia como ciência; Comte
elaborou uma metodologia.

Esta pretendia fornecer uma visão otimista da sociedade, criando o positivismo.




O positivismo de Comte.
Embora exista controvérsia, Comte é considerado oficialmente o pai da sociologia e do
positivismo.

Para se opor a “filosofia negativa” que negava a importância das instituições sociais
como reguladoras das inter-relações, em nome da liberdade; nasceu o positivismo.




O pressuposto básico era a positividade, a crença na importância das instituições sociais
como reguladoras da ordem, à medida que criadoras de um conjunto de crenças comuns
a todos os homens.

Sem instituições como a religião, por exemplo, a sociedade entraria em um estado de
anômia, ausência de normas, um estado de confusão em que as pessoas perderiam seus
referenciais e ficariam sem saber como e comportar.
A orientação básica do positivismo é a investigação da “física social”, através dos
mesmos procedimentos das ciências naturais (física, química e biologia).

A observação, a experimentação e a comparação deveriam ser utilizadas em conjunto
com ciências auxiliares como filosofia, história e estatística.

 Para o positivismo, a sociologia deveria se ocupar do estudo dos acontecimentos
constantes e repetitivos, a exemplo da física.

Desvendando estes mecanismos, o cientista social poderia manipular o funcionamento
da sociedade para trazer ordem e progresso.

Palavras que não por acaso estão na bandeira do Brasil, já que a República foi
proclamada por militares no século XIX, os quais eram de orientação positivista.

Em todo caso, colocando ordem na sociedade, segundo os positivistas, o progresso seria
alcançado, beneficiando a coletividade.




Concluindo.
Apesar de herdeiro das tendências conservadoras lideradas por Saint-Simon, Comte foi
também um critico desta concepção, pois achava um erro valorizar e tentar imitar o
antigo sistema feudal.

Dentro da sua visão, a ordem não poderia se sobrepor ao progresso, devendo
caminharem juntos.

Este o ponto de discórdia intelectual de Comte com Saint-Simon

Simultaneamente, Comte achava que o principal erro dos iluministas não era se opor as
instituições, mas sim valorizar o progresso em detrimento da ordem.

No entanto, para ele, a sociologia e o positivismo deveriam construir uma nova
sociedade, controlada por uma elite dirigente, cuja conseqüência natural, gradual e
suave, seria a ordem e progresso.

Spencer e o Darwinismo Social.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 28/03, 2011, p.01-09.




Herbert Spencer (1820-1903) foi um filosofo e sociólogo inglês, responsável pela teoria
do darwinismo social, considerado um seguidor de Comte e representante do
positivismo na Grã-Bretanha.
Acreditava que a evolução seria um principio universal, sempre operante.

Muito conhecido na sua época, Spencer fez parte do circulo de amigos de Charles
Darwin, autor de A origem das espécies, obra publicada em 1859.

Este último foi responsável pelo conceito de seleção natural e pela teoria da evolução a
partir da lei do mais forte.

Spencer seguiu esta linha de pensamento e tentou aplicar as idéias de Darwin ao
contexto da vida do homem em sociedade, originando o dito darwinismo social.

O qual influenciou o pensamento sociológico, o planejamento organizacional e o
sistema educacional.




Influencias teóricas.
Além do contato direto com Darwin, Spencer sofreu influência das idéias de
economistas como John Stuart Mill, Adam Smith e Thomas Malthus.




                      Para Mil, o sistema capitalista gera poder, este gera mais poder e
dinheiro, ao passo que as energias da humanidade são canalizadas para a luta por
riquezas.

Assim, dentro da ótica capitalista, as pessoas pensam prioritariamente em obter recursos
monetários, o qual confere poder e se multiplica com ele, fazendo do dinheiro e do
poder objetivos de vida.
Não significa que os indivíduos não tenham outras prioridades, mas sim que, para obter
outras metas, necessitam primeiro buscar dinheiro e poder.

Para Smith, o governo deveria interferir o menos possível no desenvolvimento do
capitalismo, pois a lei da oferta e da procura regula a economia.




                         Conforme existe uma grande oferta de determinado produto, seu
preço tende a cair; inversamente, caso a oferta seja pequena, seu preço sobe.

Igualmente, sendo a demanda por um produto com pequena, seu valor cai; enquanto o
aumento da procura faz os preços subirem.

Portanto, a dinâmica do mercado auto-regula preços e salários, não sendo necessário à
interferência do Estado.

Um conceito que não considera o bem estar social das pessoas, somente as necessidades
do sistema capitalista de se perpetuar.

Já para Malthus, as causas de todos os problemas da humanidade está na própria espécie
humana.

O grande problema do mundo é o excesso de gente, o que faz os recursos naturais serem
escassos e insuficientes para suprir a humanidade, forçando o sistema econômico a
estratificar a sociedade.




Não existindo recursos que possibilitem um alto consumo por parte de toda
humanidade, pois eles se esgotariam rapidamente, o capitalismo divide as pessoas em
classes sociais.

Uma elite dirigente, com numero de pessoas limitado, tem acesso a um alto padrão de
consumo, enquanto a maioria da população vive em condições precárias.
Neste sentido, guerras e epidemias seriam um mecanismo regulador da economia,
fazendo diminuir a população, elevando os salários dos sobreviventes e o poder de
consumo em geral, girando a economia, sem o risco de inflação e incapacidade
industrial e agrícola de suprir as necessidades da sociedade.




As idéias de Spencer.
Spencer aplicou o darwinismo ao contexto social, partindo do pressuposto que o
universo evolui e que a evolução é progresso, considerando, a exemplo de Comte, a
ordem necessária para o progresso.




Para ele, todas as transformações possuem um caráter comum, compondo uma lei que,
uma vez desvendada, permite prever as futuras transformações, embora esta previsão
seja apenas parcial.

Acontece que toda causa produziria mais de um efeito, portanto, mais de uma
modificação, constituindo novas causas e novos efeitos, multiplicados indefinidamente.

Dentro deste contexto, Spencer aplicou a lei do mais forte às estruturas sociais.

Chegou à conclusão que a seleção natural se aplicaria a sociedade quando pensada em
termos de cooperação entre indivíduos em prol da supremacia de um grupo.

Assim, não se trata somente do individuo mais forte prosperar, mas do grupo mais
coeso e forte tornar-se hegemônico, formando a elite dirigente de uma civilização.

Spencer explicitou estas concepções em várias obras, dentre as quais:



Princípios de sociologia (1879).
Lei e causa do progresso (1889).

Estatística social.

Sistemas de filosofia sintética.



Além destes livros, uma obra publicada em 1861, mas que ganhou destaque somente em
1927, após a morte do autor, influenciou decisivamente a educação britânica e mundial.

Trata-se de Educação intelectual, moral e física, onde Spencer defendeu a idéia de que
era necessário preparar os indivíduos para serem uteis a sociedade, ao mesmo tempo,
possibilitando uma formação adequada a sua sobrevivência no âmbito do sistema
capitalista.

O que implicaria em desenvolver conhecimentos técnicos e científicos junto com uma
formação moral doutrinadora do patriotismo, além de condições físicas saudáveis para
os futuros operários e soldados da nação.

A partir de onde surgiram duas disciplinas ainda não integradas aos currículos escolares:
Educação Moral e Cívica; e Educação Física.




A influência do darwinismo social no Brasil.
O darwinismo social influenciou fortemente os intelectuais brasileiros no século XIX e
inicio do XX.

As idéias de Spencer foram incorporadas na obra Os sertões de Euclides da Cunha e nos
estudos do médico legista Nina Rodrigues, a reboque, influenciando a historiografia
brasileira que analisou a Guerra da Canudos.




O jornalista Euclides da Cunha, representando o jornal O Estado de São Paulo,
participou como correspondente de guerra da campanha do exército brasileiro, em 1897,
contra Canudos.

Observou tudo e registrou suas impressões em um livro que depois se tornou um
clássico da literatura.
Canudos era o nome de uma comunidade que foi originada a partir de um movimento
popular, liderado por um beato chamado Antônio Conselheiro, que durou de 1893 a
1897.

Conselheiro andou pelo sertão da Bahia, pregando contra a recém proclamada
República.

Para ele o anticristo, defendendo que os sertanejos deixassem de pagar os exorbitantes
impostos e não aceitassem a autoridade do governo federal, inclusive considerando um
pecado o casamento civil.

A verdadeira autoridade residiria somente na igreja e na monarquia.




O beato obteve um sucesso tão grande em sua pregação que chegou a ter 25.000
seguidores, foi quando fundou o arraial do Bom Jesus de Belo Monte, nos arredores da
fazenda Canudos.



O povoado cresceu rapidamente, praticando os preceitos do cristianismo primitivo,
dividindo tudo igualmente entre seus moradores e formando uma guarda católica para
proteger seus moradores.

Muitos jagunços das fazendas vizinhas; os quais faziam parte da chamada guarda
nacional, braço armado dos latifundiários e, teoricamente, representantes do exército
brasileiro na região; abandonaram seus coronéis para se juntar a Antônio Conselheiro.

Obviamente, o movimento irritou os fazendeiros da Bahia e repercutiu no Rio de
Janeiro, então capital do Brasil.

Os sertanejos de Canudos foram considerados rebeldes monarquistas que lutavam
contra a República, embora tão somente estivessem se colocando contra as mazelas do
coronelismo e buscando apenas uma vida mais digna.
O governo federal enviou quatro expedições militares contra Canudos.



A primeira composta por efetivos da policia locais, foi facilmente derrotada pela guarda
católica de Conselheiro.



A segunda, comandada pelo major Febrônio de Brito, agregando soldados das milícias
locais, também foi derrotada, tendo seus equipamentos, armas e munições tomadas
pelos sertanejos.




Melhor armados, a comunidade de Canudos conseguiu resistir à terceira expedição,
liderada pelo coronel Antônio Moreira Cesar, considerado um herói na repressão ao
movimento separatista Farroupilha no Rio Grande do Sul, apelidado “o corta cabeças”,
pois tinha fama de mandar degolar os inimigos capturados.

A tropa federal, vinda diretamente do Rio de Janeiro, contando com 1.300 soldados,
abusou do excesso de confiança e avançou, após longa marcha, sem analisar a
topografia do terreno.

Foi derrotada pelos habitantes da Canudos, ajudando a deixá-los fortemente armados.

A quarta expedição foi formada quando as derrotas repercutiram fortemente na Capital,
sendo composta por 4.000 soldados de infantaria e artilharia pesada, comandados pelo
general Artur Oscar Guimarães.
Ocasião em que Euclides da Cunha se juntou as tropas como correspondente de guerra.

Após denuncias de corrupção, desvio de verbas e uma crise de abastecimento das tropas
federais, os habitantes de Canudos foram derrotados depois de sete meses de combates.

Antônio Conselheiro já estava morto e enterrado, em decorrência de uma crise de
disenteria, quando, em 5 de outubro de 1897, o arraial se rendeu sob promessa de que a
sua população não sofreria represarias.

O cadáver de Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada com uma facada, a qual
foi enviada para analise de Nina Rodrigues no Rio de Janeiro.

Os sobreviventes do sexo masculino foram sumariamente executados, mulheres e
criança, feitos prisioneiros, tiveram que marchar a pé até o Rio de Janeiro, onde foram
liderados e entregues a própria sorte.




O episódio impressionou fortemente Euclides da Cunha, que sob influencia das idéias
de Spencer, passou a conceber a história como uma área do conhecimento linear, sem
rupturas, voltada para um futuro industrial que iria acabar com as características rurais
do Brasil.

Baseado em suas observações sobre Canudos, Euclides da Cunha assimilou os
ensinamentos de Spencer, remetendo a análise da realidade brasileira em Os sertões.

Para ele, o episódio de Canudos representava o evolucionismo darwiniano, o sertanejo
seria um aprimoramento da raça brasileira, em oposição ao negro e ao índio do litoral.
As três primeiras expedições a Canudos teriam fracassado porque eram compostas,
primordialmente, por descendentes de negros e indígenas, enquanto os mais fortes, os
sertanejos teriam triunfado.

O sertanejo seria forte porque é miscigenado, a miscigenação seria para Euclides da
Cunha a força da nação.

A mistura de raças deveria constituir uma prioridade e um projeto nacional que levaria o
Brasil a alcançar a sonhada ordem e progresso positivista e republicana.




                         Uma opinião totalmente oposta a de Nina Rodrigues, outro
representante do darwinismo social no Brasil.

O médico legista que analisou o crânio de Antônio Conselheiro, publicou a
obra Mestiçagem, desgenescência e crime, inclusive citando o caso de Canudos como
exemplo.

Professor de Antropologia e psiquiatra, ele afirmava que a presença de negros e
mestiços era a causa do atraso brasileiro, sendo a elite constituída naturalmente pelos
brancos de origem ariana.

Em termos civilizacionais, os brasileiros seriam fracos, não tendo coesão interna
enquanto grupo, compondo uma sociedade patológica, doente, daí o predomínio
hegemônico de outros países guiando o Brasil.

Com base nesta concepção, nasceu no final do século XIX uma tendência que defendia
o branqueamento da população brasileira e a marginalização de negros e mestiços.

Um tipo de pensamento que causou um grande estrago na mentalidade brasileira, que
encontra absurdamente ainda hoje seguidores, sobrepondo-se a proposta de Euclides da
Cunha, depois retomada por Gilberto Freire na década de 1930, com a publicação
deCasa Grande e Senzala.

Nina Rodrigues revestiu teorias racistas de uma pseudo cientificidade, vinculando o
darwinismo social com o conceito de raça, um erro teórico grosseiro, já que a coesão
dos grupos não está relacionada nem sequer com etnia.

A coesão grupal, na acepção pensada por Spencer envolve aspectos culturais e não
raciais.
Aliás, diga-se de passagem, o conceito de raça é atualmente considerado ultrapassado,
pois estudos recentes indicaram que todos descendemos de uma Eva genética que viveu
no leste da África há 150.000 anos.

Trata-se uma mulher negra da qual todos os seres humanos descendem, não que
houvesse apenas esta única mulher sobre a terra, mas em virtude de seus descendentes
terem sido aqueles que prosperaram e sobreviveram.




Educação e darwinismo social.
Aplicadas a educação, as idéias de Spencer estão vinculadas como uma critica ao ensino
clássico.

Pelo prisma do darwinismo social, seria necessário introduzir nos currículos escolares
conhecimentos uteis, entendidos como voltados à formação dos homens de negócios e a
organização de uma vida dita civilizada.




Para Spencer não seria possível estudar tudo que a humanidade já desenvolveu, em
termos de conhecimento, tornando-se necessário estabelecer os conteúdos mais valiosos
e uteis.



Dentre estes estariam incluídas as verdades sobre a saúde humana, a biologia, os
costumes que possibilitassem uma vida regrada, a psicologia e as ciências exatas.



A idéia era formar o cidadão, o que fazia com que a sociologia fosse incluída como
conhecimento útil.

As artes e humanidades, tal como a literatura, deveriam ser dispensadas em favor do que
Spencer considerava a verdadeira ciência.

Entretanto, em concordância com a tendência dominante entre os ingleses desde o
século XVII, o empirismo, junto com o ensino voltado a construção de conclusões
individuais via observação e experiência, seria necessário disciplinar e moralizar.

Como positivista, Spencer acreditava que os indivíduos deveriam ser doutrinados pela
educação.
A escola deveria preparar as pessoas para enfrentar a difícil concorrência com o outro,
ao mesmo tempo, ensinando que só a cooperação garante a sobrevivência do grupo e,
assim, dos indivíduos inseridos em grupos.

O que ele chamou de organicismo, um conceito bem próximo ao desenvolvido por
Durkheim, segundo o qual o funcionamento da sociedade se assemelha a um organismo
vivo.

Um conceito que insere Spencer entre os funcionalistas.




Concluindo.
A semelhança de Comte e Durkheim, Spencer queria preservar a sociedade burguesa da
qual fazia parte, conservando a reprodução do sistema capitalista através da educação, o
que no seu extremo acabou originando os regimes totalitariosfacistas, dentre os quais o
nazismo.




Porém, diferente de Comte, era contra o oferecimento de uma educação publica e
gratuita custeada pelo Estado.



O darwinismo social ditava que o papel do Estado deveria ser limitado, tal como
defendia Adam Smith, cabendo a lei da oferta e da procura regular a sociedade, cabendo
aos socialmente mais aptos procurarem oportunidades de ensino.



Aos mais fracos caberia perecer, uma idéia malthusiana.
Esta concepção reafirmava a crença nas instituições sociais como reguladoras da ordem,
mas revela uma descrença no potencial humano.

Para Spencer, o problema da humanidade estava na natureza defeituosa dos indivíduos,
que não conseguindo se adaptar, corrompe as tradições.

Para resolver esta natureza defeituosa, inerente a todo ser humano independente da etnia
ou de fatores culturais, seria necessário moralizar através das instituições sociais.

No entanto, embora a educação fosse uma instituição com papel importante na
moralização humana, devido aos custos, não era a única escolha.

Outras instituições como o poder judiciário, a policia e legislação, em concordância com
a teoria funcional, deveriam auxiliar na moralização.




Uma idéia que chegou ao Brasil pelas mãos de Rui Barbosa, para quem, não obstante, a
educação deveria ser o principal mecanismo de disciplinar.

O mesmo jurista que, quando por ocasião da abolição da escravatura, mandou queimar
todos os certificados de propriedade de escravos, evitando que, futuramente, processos
fossem movidos pedindo reparação dos danos aos escravizados e seus descendentes.

Ele pensou o sistema educacional brasileiro enquanto formador de indivíduos aptos para
o trabalho, com hábitos de consumo e poupança.

Por isto introduziu nos currículos a educação moral e cívica, destinada a formar um
espírito patriótico e, a reboque, maior coesão interna.

Os estudos de Durkheim.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 21/03, 2011, p.01-07.




Apesar de Comte ser considerado o pai da sociologia, a participação de Émile Durkheim
(1858-1917) não foi menor.
Ele foi responsável pela introdução da área nos currículos das universidades, quando se
tornou de fato uma disciplina reconhecida como cientifica.

Escreveu várias obras e pesquisou temas diversos, incluindo o estudo sobre o suicídio,
dentre as quais podemos destacar:

Da divisão social do trabalho.

As regras do método sociológico.

O suicídio.

Formas elementares da vida religiosa.

Educação e Sociologia.




Os fatos sociais.
Na obra As regras do método sociológico, Durkheim definiu o objeto de estudo da
sociologia como os fatos sociais.

Um fato social, que não deve ser confundido com um padrão social, seria um
acontecimento ou ação relevante para o funcionamento da sociedade.

O fato social seria determinado pela coerção social, fazendo os indivíduos se
conformarem com as regras impostas pela sociedade, independente de sua vontade.
O grau de coerção dos fatos sociais
seria determinado pelas sanções, os impedimentos que o individuo está sujeito quando
tenta se rebelar contra a coerção.



Neste sentido, as sanções seriam legais ou espontâneas.



Sanções legais são aquelas impostas pela sociedade através das leis, colocando
penalidades institucionalizadas aos infratores.

Quando um indivíduo comete um ato considerado criminoso, ele nada mais faz que
infringir uma regra imposta pela sociedade e transformada em lei.

Sanções espontâneas são impostas pela estrutura do grupo ao qual o individuo pertence
ou pela sociedade como um todo, isolando o individuo e conduzindo ao suicídio no seu
extremo.

Neste caso, não precisam existir nem ao menos regras explicitas de convivência, basta
que fique subentendido, por exemplo, que para pertencer a determinado grupo, o
individuo deve se vestir de determinada maneira.

O simples fato de se vestir diferente ou não falar as mesmas gírias gera o isolamento do
infrator.

Portanto, o fato social é o registro do comportamento que é imposto pela coletividade,
podendo ou não constituir um padrão.

Embora, com o tempo, um fato social repetido constantemente conduza a formação de
um padrão social.

Dentro deste contexto, a educação age como elemento de coerção, tanto na variante
formal como informal, internalizando e transformando regras e hábitos, interferindo na
formação de padrões sociais.
A crítica ao positivismo.
Apesar de Durkheim, nos seus estudos iniciais, seja identificado como positivista; após
identificar os fatos sociais, procurou definir o método de conhecimento da sociologia.

Ao fazê-lo estabeleceu uma critica ao positivismo, mantendo, contudo, características
muito próximas a metodologia desenvolvida por Comte.

Para Durkheim, a explicação cientifica exige que o pesquisador mantenha distância e
neutralidade em relação aos fatos, deixando de lado a afetividade e os valores
particulares.




O sociólogo deveria abraçar a objetividade em sua análise.

Características que, na concepção de Durkheim, o positivismo não tinha, já que a
tendência defendia um envolvimento do pesquisador com seu objeto de estudo para
manipular os padrões sociais.

Entretanto, semelhante ao positivismo, Durkheim reafirmou a idéia de que a
metodologia sociológica deveria englobar a medição, observação e comparação.

A sociologia deveria identificar os acontecimentos gerais e repetitivos relevantes para o
entendimento da sociedade, ou seja, os fatos sociais.




A sociedade como organismo vivo.
Semelhante a Comte, Durkheim achava que a finalidade da sociologia seria encontrar
soluções para os problemas verificados na vida social.

Para ele, a sociedade funcionaria como um organismo vivo, apresentando estados
normais (saudáveis) e patológicos (doentios).
Diferente do positivismo, Durkheim não pensava em impor
ordem à sociedade, já que a organização estrutural da sociedade seria natural,
funcionando ordenadamente por si só.

É neste sentido que a sociedade funciona como um organismo vivo, onde, semelhante
aos órgãos, cada função social depende das outras para existir.

O que faz a “consciência individual” dar lugar a “consciência coletiva” que, por sua vez,
gera os padrões sociais.

Esta concepção originou a Teoria Funcional, segundo a qual, funcionando a sociedade
como uma máquina, as engrenagens defeituosas devem ser excluídas da sociedade,
sendo substituídas por novas peças.

Em outras palavras, em concordância com o sistema capitalista, o funcionalismo afirma
que os indivíduos que não se encaixam devem ser excluídos da sociedade, para isto
existe o sistema judiciário e penitenciário.

Dentro deste contexto, Durkheim pensou em estágios de evolução social, definindo as
sociedades como inferiores ou superiores.




Tendo evoluído a partir da horda, a forma mais simples e igualitária de organização, a
sociedade pré-capitalista teria sido organizada através da solidariedade mecânica.

A dita solidariedade mecânica é constituída pela coerção exercida pela família, religião
e tradição dos costumes, formando a consciência coletiva.

O individuo seria compelido a se comportar em concordância com que o grupo espera
dele simplesmente pela pressão exercida por aqueles próximos, evidenciando um
comportamento involuntário e automático.
A partir do desenvolvimento do capitalismo, a solidariedade mecânica teria evoluído
para a solidariedade orgânica.

Portanto, uma divisão do trabalho que possibilita o funcionamento da sociedade a
semelhança de um organismo vivo.




Através da solidariedade orgânica, interesses individuais seriam suprimidos em favor
das necessidades coletivas, pois, para realizar seus interesses, ele teria que ceder às
necessidades de outros.

Haveria na solidariedade orgânica maior autonomia do que na mecânica, mas a própria
estrutura social reduziria a consciência individual, fazendo o sujeito adotar valores de
determinado grupo, anulando sua individualidade.

Para Durkheim, os conflitos sociais seriam transitórios e poderiam ser resolvidos a
partir do momento em que os indivíduos aceitassem ocupar sua função e seu lugar na
sociedade, o que seria imposto pela solidariedade orgânica.




O estudo do suicídio.
Durkheim se interessou pelo tema por enxergar nas altas taxas de suicídio, registradas
na Europa no final do século XIX, um amplo campo que poderia fornecer material para
consolidar a sociologia como ciência.

O culto a morte chegou a ser tão difundido no século XIX, glorificado na literatura pelo
romantismo gótico, que o suicídio ficou conhecido como mal do século.
Estudando a elevação da taxa de suicídio em determinados anos, Durkheim observou
que o principal fator que conduzia ao ato era a solidariedade social.

A solidariedade pode ser caracterizada como um sentimento de simpatia e identificação.

Enquanto, por um lado, o fracasso individual conduz o sujeito a sentir que falhou com o
grupo, quando sua vida perde a razão de ser; por outro, níveis de interação social muito
elevados também conduzem ao suicídio.

Neste ultimo caso, estes níveis de interação originam o chamado suicídio altruísta,
como é o caso dos pilotos japoneses kamikazes na segunda guerra mundial, fazendo a
vida do individuo, igualmente, perder sentido frente aos interesses da sociedade.

O altruísmo se refere ao sentimento que um individuo dá ou outro, importando-se mais
com a coletividade ou com os outros do que com ele próprio, gerando atos
desinteressados de beneficio a sociedade.

No entanto, segundo Durkheim, o caso mais comum de suicídio é aquele em que o
sujeito não sente corresponder aquilo que o grupo espera dele, refletindo em uma
sensação de exclusão social.
Ao mesmo tempo, o suicídio poderia ser motivado pelo fato do sujeito sentir que o
grupo espera seu sacrifício, neste caso a exclusão aconteceria se o suicídio não fosse
efetivado, a morte é que matéria o vinculo.

É o caso dos homens bomba.

Assim, tanto uma ausência de integração quanto uma integração intensa poderiam gerar
o suicídio.

Os estudos de Durkheim inspiraram outros a continuarem o seu trabalho em torno do
suicídio.

Viktor Frankl, por exemplo, aprofundou a pesquisa, dando origem a logoterapia,
segundo a qual somente o sentimento de que outros dependem de dado individuo pode
impedir tendências suicidas.

A palavra logoterapia, a partir do grego, significa terapia do mundo.

Um termo em concordância com o método de Frankl para testar se seu paciente estava
curado.

Ele perguntava ao paciente o porquê ele se considerava curado, caso a resposta fosse de
encontro a qualquer outra que não a relação de dependência e vinculo com o mundo,
com outros indivíduos, o argüido não era liberado do tratamento.




Concluindo.
Em seus estudos, Durkheim termina admitindo que, embora a ordem seja natural, as
rápidas mudanças provocadas pelo sistema capitalista, acabam gerando um estado de
anomia, a ausência de norma.
Os indivíduos ficam desorientados frente esta característica da vida moderna.

Pensando na questão, afirmou que seria necessário estabelecer um sistema educacional
que incentivasse a noção de disciplina, dever, respeito as leis e hierarquia.

Somente assim seria possível ajudar os indivíduos a se inserirem na sociedade,
estruturando a coletividade a partir da exclusão dos elementos considerados doentes
socialmente.

Porém, valorizando o funcionalismo, Durkheim esqueceu de avaliar o papel dos
conflitos no interior da sociedade, também necessários para sua evolução, uma analise
que seria iniciada por Karl

A teoria técnico-funcional da educação e os estudos de
Althusser.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 14/05, 2011, p.01-05.




Quando pensamos a educação pelo prisma da sociologia, duas tendências de analise
fornecem importante contribuição: a teoria técnico-funcional e os estudos de Althusser.




São visões distintas que se complementam, pois enquanto uma se encaixa no paradigma
do consenso, a outra está vinculada ao paradigma do conflito e a tendência marxista.
A teoria técnico-funcional da educação é um desdobramento da teoria funcional de
Durkheim, estando dentro, portanto, do paradigma do consenso.
Já os estudos de Althusser pertencem a um conjunto teórico conhecido como
neomarxismo, ambientado pelo paradigma do conflito.
Ambos estabelecem criticas ao sistema educacional formalizado, explicando muitos dos
problemas registrados nas escolas.




A teoria técnico-funcional.
O conjunto teórico técnico-funcional poderia ser definido como uma tendência que
enxerga no desenvolvimento técnico um fator que altera a organização social,
remetendo ao conceito funcionalista de sociedade funcionando como organismo vivo.
Portanto, a sociedade seria semelhante a um organismo vivo, com papéis sociais bem
definidos e necessários para o bom funcionamento da coletividade, porém, as estruturas
sociais seriam definidas pelos avanças técnicos subordinados a educação.
A título de exemplo, grosso modo, uma função social relacionada a uma profissão,
como operador de maquinas, poderia ser eliminada por uma maquina automática que
não necessitasse de ninguém para operá-la.




Porém, neste caso, poderia criar outra função associada àquele que faria a manutenção
da dita maquina ou que detém o conhecimento para produzi-la.


No âmbito da teoria técnico-funcional da educação, do funcionalismo e do paradigma
do consenso, Clark (1962) e Kerr (1960) chegaram à conclusão que a importância da
educação cresce na mesma medida que o conhecimento se expande e fica mais
complexo.
A evolução tecnológica modifica o mercado de trabalho, exigindo da mão de obra maior
qualificação educacional.
Para eles, a industrialização constrói sociedades democráticas e abertas, reguladas pela
educação, meio efetivo de seleção e mobilidade social, baseado no mérito e status.
Segundo Collins (1971), as mudanças tecnológicas exigem mais habilidades para o
trabalho, gerando maior demanda por educação, construindo sociedades baseadas no
mérito.
Entretanto, ele salientou que a educação não aumenta necessariamente a produtividade
no mundo do trabalho, nem garante a competência.
Outros fatores interferem no sucesso profissional, tal como o grupo étnico, o status
socioeconômico, a influência da família ou a atitude.
Neste sentido, segundo Collins, a educação termina funcionando como critério de
seleção, mas não fornece apoio real ao sucesso individual baseado no mérito.
Em outras palavras, o individuo precisa atingir determinado nível educacional para
ingressar no mercado de trabalho, mas o fato de possuir o diploma ou mesmo o
conhecimento não garante seu sucesso profissional.




                  Contrariando de certa forma a opinião de Collins, Blau e Duncan
(1967), consideram o sucesso como sendo fortemente influenciado pelas origens
familiares.
No entanto, este fator não seria inteiramente responsável pelo sucesso profissional, pois
dependeria, além da educação ligada ao âmbito escolar e familiar, também da
experiência.
Um indivíduo sem acesso a educação escolarizada, oriundo de uma família humilde,
buscando se aprimorar empiricamente, poderia atingir um alto grau de sucesso no
mundo do trabalho.
É o caso de autodidatas como o empresário Silvio Santos ou o ex-vice-presidente da
República José de Alencar.
Porém, estudando as origens familiares de profissionais bem sucedidos, Karabel e
Halsey (1978) não encontraram correlação entre sucesso e influencia da família,
estabelecendo uma critica as afirmações de Collins, Blau e Duncan.




Para Karabel e Halsey, a partir de um estudo tendo como objeto soldados enviados a
guerra do Vietnã, a escola seria essencial para conferir mérito profissional, tornando os
indivíduos com maior grau de escolarização, melhor vistos pela sociedade e
predispostos a serem reconhecidos como bem sucedidos na vida.
Hurn (1978) reexaminou a questão e chegou a uma conclusão diferente.
Para ele, apesar da origem familiar não garantir o sucesso, a escola também não garante
mobilidade social, já que reproduz o nível de status do qual o individuo é originário.
Quando um indivíduo tem acesso a determinados níveis educacionais, ele só o tem
graças a sua origem social.
Por outro lado, Folger e Nam (1964), comprovaram que, embora a escolaridade não
garanta o sucesso profissional, garante maiores salários, comparativamente quando
existe ausência de escolarização.




Os estudos de Althusser.
Louis Althusser (1918-1990), filosofo francês, uniu o marxismo com o estruturalismo,
chegando a ser considerado um dos maiores representantes desta ultima tendência ao
lado de Foucault e Lacan.




O autor pertence ao conjunto teórico conhecido como neomarximo, fazendo uso da
dialética e do materialismo histórico, juntamente com outras bases teóricas.


Acabando por constituir um ecletismo que, muitas vezes, ao invés de rejeitar o
capitalismo, parece querer aprimorá-lo.


Em todo caso, Althusser foi membro do Partido Comunista francês, filiado em 1948,
além de professor da ÉcoleNormaleSupérieure.
Em 1980, ele teve um surto psicótico e estrangulou a esposa, não sendo condenado pelo
assassinato.
A justiça o considerou inimputável, não responsável pelo ato em virtude do surto.
Apesar de passar a não ser bem visto pelos colegas acadêmicos, cinco anos depois
escreveu a obra“L´avenir dure longtemps”, onde refletiu sobre o fato e procurou
justificar o ato.
Como Althusser faz largo uso do estruturalismo, antes de prosseguir é interessante
explicar a tendência.
O termo estruturalismo surgiu no curso de lingüística geral, ministrado pelo francês
Ferdinand Saussure, em 1916.
Conceitualmente pode ser definido como um método de estudos que propõem analisar
sistemas, portanto, estruturas, como base da língua e da cultura.
A cultura e a língua seriam definidas segundo um conjunto de significados
contextualizados em um espaço e tempo, influenciando a estrutura sócio-cultural e
padronizando comportamentos.
Dentro deste contexto, a preocupação central de Althusser é tentar entender a estrutura
do sistema capitalista.
Mais especificamente, tenta entender como as condições de produção, no âmbito
capitalista, conseguem se reproduzir, já que o sistema seria injusto e prejudicial à
maioria.
Pensando na questão, o autor chegou à conclusão que a dinâmica de trabalho,
assegurada pelo salário, seria o principal fator a reproduzir o sistema, comprando a
lealdade do individuo para com a ideologia capitalista.
Para sobreviver, o individuo precisa de capital, sendo necessário abrir mão de suas
convicções pessoais para conseguir seu salário, essencial a sobrevivência no mundo
capitalista.




Superestrutura, Infraestrutura e Aparelhos de Estado.
Para garantir a subordinação do individuo ao sistema capitalista, segundo Althusser,
existiria uma relação recíproca entre superestrutura e infraestrutura.
A superestrutura constitui o conjunto de estruturas ou instituições e sua inter-relação e
dependência.
Onde, por exemplo, o judiciário depende da polícia e ambos do sistema carcerário para
efetivar suas funções.
A infraestrutura compõe as condições materiais, as instituições em si, que garantem o
funcionamento da sociedade.

O Estado, como parte da superestrutura faria uso de infraestruturas especificas para
exercer controle sobre a massa, usando os seguintes elementos:

1. Aparelhos de Estado, composto pelo gerenciamento dos demais parelhos, tal como
governo, administração publica, etc.
2. Aparelhos Ideológicos de Estado, os meios que são usados para exercer controle
ideológico, vender ou impor idéias, através de instituições como igreja, escolas,
sindicatos, meios de comunicação e até livros didáticos; mascarando a realidade e
impondo a vontade das elites.
3. Aparelhos Repressivos de Estado, instituições que exercem domínio por meio da
violência, tal como policia, tribunais, prisões, forças armadas; segregando aqueles que
não aceitam as idéias impostas pelas elites.

Pensando nestes três elementos, Althusser defendeu a tese de que o mais eficiente e
utilizado pelas elites dominantes é o conjunto de Aparelhos Ideológicos, do qual a
escola faz parte.
Embora no período pré-capitalista a igreja tenha sido de fundamental importância para
exercer controle sobre a massa, a evolução do capitalismo tornou a escola um
instrumento de reprodução do sistema.
A função da escola seria assegurar à existência e sobrevivência do capitalismo,
condicionando os indivíduos a submissão, beneficiando uma minoria.
Daí o sistema ter criado mecanismo que exigem a escolarização e que torna a educação
formalizada obrigatória.




                        O controle dos Aparelhos de Estado pela elite termina
garantindo que o grupo controle também os Aparelhos Ideológicos e Repressivos,
criando uma harmonia entre ambos.
Diante deste cenário, Althusser não conseguiu enxergar na escola uma via de
modificação das infraestruturas e da superestrutura.
Chegou até mesmo a negar a possibilidade de mudança, sem, entretanto, apontar uma
saída para o problema.
Um ponto de seu trabalho visto pelos críticos como uma grande debilidade.
Além disto, apesar de sua postura anticapitalista, sendo Althusser considerado por
alguns como um marxista e não um neomarxista, devido a sua vinculação com o
estruturalismo, ele foi acusado de idealista.
Outro marxista, Caio Prado Jr., por exemplo, afirmou que Althusser ficava apenas
teorizando de forma subjetiva, que suas teorias só eram aplicáveis no mundo das idéias
e não serviam para nada.
Destarte, hoje, as idéias de Althusser são essenciais para entender a escola, servindo de
suporte a inúmeras outras teorias.




Concluindo.
Enquanto a teoria técnico-funcional da educação discutiu o mérito da escola no sucesso
dos indivíduos dentro do sistema capitalista.
Althusser tentou desmontar a estrutura do sistema capitalista, demonstrando como a
educação está a serviço da reprodução social, mantendo a ordem estabelecida.




Contrapondo as duas tendências, podemos observar que nem sempre a escola garante
possibilidades de mobilidade social, já que toda sua estrutura é pensada para ordenar a
sociedade.
Porém, a questão é mais complexa, o que fez outros autores a retomarem a discussão, tal
como Bourdieu, Passeron, Bowles e Gintis.
Uma coisa é certa, o acesso a educação formalizada de fato não garante o sucesso
individual em uma sociedade consumista, sendo a própria escola um produto a ser
consumido.
No entanto, sem acesso a educação de qualidade, as pessoas têm sua potencialidade de
desenvolvimento diminuída.
Ruim com a escola, pior ainda sem ela.
A questão do poder disciplinar em Foucault.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 17/05, 2011, p.01-06.


O presente trabalho pretende fazer uma breve análise sobre a teoria do poder disciplinar
presente no livro “Vigiar e Punir” de Michel Foucault.




O filósofo francês nos trás de forma polêmica e inovadora o nascimento de uma nova
forma de poder coercitivo que fora o poder disciplinar que surgiu no Ocidente no século
XVIII.
De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder nasce a partir de uma nova
concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano predominante nos
regimes absolutistas da Europa.
A nova sociedade, filha das revoluções liberais, governada pela ideologia burguesa, vê o
poder disciplinar como a forma mais cabível e eficaz de garantir a ordem, substituindo
os suplícios e espetáculos de execução pública.



A teoria de Foucault sobre o poder.
A proposta filosófica de Michel Foucault é com certeza revolucionária e original, tendo
como objeto de estudo o poder e suas formas de manifestação.
Este filósofo de nosso tempo concebe o poder não de maneira vertical ou mesmo
maniqueísta em uma dialética entre “opressores” ou aqueles que exercem o poder e
“oprimidos” aqueles que sofrem com a coerção do mesmo.




A polêmica teoria sobre o poder proposta por Foucault torna-se original, pois para o
filósofo, não existe uma teoria geral ou mesmo axiomática do poder, suas análises não o
consideram a realidade com característica universal.
De acordo com Roberto Machado, para Foucault não existe algo unitário ou global que
chamamos de poder, mas sim, formas díspares, heterogêneas em constante
transformação, o poder é uma prática social e, como tal, constituída historicamente,
logo, as práticas ou manifestações de poder variam em cada época ou sociedade.
Para Foucalt toda teoria é provisória, acidental e dependente do estado de
desenvolvimento da pesquisa, aceitando seus limites.
Poderíamos entender que as teorias propostas anteriormente sobre o exercício do poder
não são falsas ou errôneas, mas deram conta de explicar a sociedade de seu tempo.
O próprio filósofo aceita que suas teorias também são provisórias e possíveis de serem
refutadas ou mesmo derrubadas.
Segundo Foucault, o poder não emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de
relações de poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a
arquitetura ou mesmo a própria arte.
O poder é concebido como uma rede, não nasce por si só, mas de relações sociais.
Outro aspecto inovador da teoria de Foucault é observar este mesmo poder como algo
muitas vezes positivo, inerente a natureza humana, manifestado em pequenas coisas,
através de pequenos dispositivos.
Em seu livro “Vigiar e Punir”, que trata sobre o nascimento da prisão e outras
instituições disciplinares, o filósofo discorre de forma minuciosa e instigante sobre a
questão do poder disciplinar.
Na terceira parte de sua obra, Foucault explica que a partir dos séculos XVII e XVIII o
poder foi exercido através de dispositivos disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade
se utilizou do corpo, da vigilância e do adestramento para garantir a obediência e
disciplinar os indivíduos.
O desaparecimento dos suplícios e a disciplina sobre o corpo.
Foucault analisa e discute uma profunda metamorfose quanto à forma de punição e
condenação dos presos e criminosos na Europa.
Anteriormente, o espetáculo de execução publica de condenados a morte era utilizado
como instrumentos disciplinar.




A execução em praça pública, desde a Idade Média, com os Atos de Fé da Inquisição,
gerava nos expectadores não somente o terror, mas também o medo de cometer algum
tipo de crime contra a fé.
Tais formas de punição estão estreitamente ligadas ao chamado poder de soberania que
consiste no exercício do poder de um governante sobre um território.
Modelo comum aos déspotas e monarcas da Europa entre os séculos XV a XVIII.
O poder era, portanto, exercido e representado através dos suplícios, da força e da
violência.
Aos poucos, esta forma de condenação desapareceu cedendo espaço a uma nova forma
de punição.
Uma nova concepção filosófica, a partir do iluminismo e das revoluções liberais, bem
como as novas teorias sobre o direito, fizeram a morte em público começar despertar
terror e repúdio na população.
O que levou a novas formas de condenação, o espetáculo da execução passou a ser
condenado pela grande parte da sociedade.
O novo modelo disciplinar de punição do criminoso consistia em não tocar ou
aproximar-se do corpo do individuo.
Obviamente, algumas práticas ainda persistiram como o uso do chicote ou do cassetete.
A condenação dos indivíduos passou a se dar de forma mais velada e sutil.
A violência não foi assumida como carro chefe da justiça, porém utilizada em último
caso de forma decorosa e indesejável.
O poder de soberania cedeu espaço ao chamado poder disciplinar.
Discorrendo sobre a questão do poder disciplinar, Foucault identificou o corpo como
objeto e alvo de poder.
Citou o exemplo do soldado que reflete sua disciplina através de sua postura e do
próprio corpo, como percebemos no fragmento abaixo:

O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente ate
meados do século XIX. Sem dúvida, a pena não mais se centralizava no suplicio como
técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito. Porem
castigos como trabalhos forçados ou prisão - privação pura e simples da liberdade –
nunca funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução
alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra. Conseqüências não
tencionadasmas inevitáveis da própria prisão? Na realidade, a prisão, nos seus
dispositivos mais explícitos, sempre aplicou certas medidas de sofrimento físico.
A critica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão não e
bastante punitiva: em suma, os detentos tem menos fome, menos frio e privações que
muitos pobres ou operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente
levantado: e justo que o condenado sofra mais que os outros homens? A pena se
dissocia totalmente de um complemento de dor física. Que seria então um castigo
incorporai? Permanece, por conseguinte, um fundo "suplicante" nos modernos
mecanismos da justiça criminal - fundo que não esta inteiramente sob controle, mas
envolvido,    cada     vez     mais    amplamente,     por    uma     penalidade  do
incorporal.(FOUCAULT, 2004, p.18)

Nos perguntemos qual seria o objetivo de se disciplinar o corpo?
Foucault responde ao tratar dos chamados corpos dóceis.
A disciplina sobre o corpo tem por finalidade produzir indivíduos dóceis e submissos a
determinados sistemas, ao mesmo tempo, estes devem oferecer uma mão-de-obra de
qualidade que ajude o desenvolvimento econômico da sociedade.
A disciplina tem seu aspecto político ao produzir indivíduos submissos ao poder do
Estado, garantindo o “equilíbrio” e a “ordem”.
O poder e a disciplina sobre o corpo possibilitam o funcionamento de instituições e
grupos sociais.
Desta forma, Foucault nos mostra que o corpo passa a ser considerado um objeto
possível do controle disciplinar.
A nova organização política e social, exige também novas formas de disciplina.
A experiência decorrente dos movimentos de revolução ocorridos na Europa,
demonstrou que o exercício do poder através da violência se tornou ineficaz.
O controle sobre o corpo e sobre o modo de vida dos indivíduos, de forma sutil, evitava
possíveis levantes e protestos, mostrando-se mais eficiente.



A organização do espaço
Outro aspecto do poder disciplinar se relaciona também com o espaço através das
disposições e organizações do mesmo.
Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar é
exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a
presença do poder maior coercitivo.
A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço
iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos.
Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a disciplina e a
submissão dos indivíduos.
O novo modelo de construção utilizado nas prisões acabou servindo para outras
instituições que pretendiam obter a disciplina e obediência como foi o caso das
fábricas, a começar pela Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no
século XIX.
De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de forma
circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a
confecção de produtos.
Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento da
produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos ou
indisciplina.
A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi
estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros.
Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a
vigilância dos diversos indivíduos ali presentes.
O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais iluministas e das
revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa a
sociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva,
substituindo os suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam
a ser centrais na organização social.
A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando -
o a margem da sociedade.
A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o corpo.



O controle do tempo
Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade
disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de tempo
bem como a sua organização.




                          A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se
do tempo como um de seus mecanismos de controle.
A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase
monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas
atividades como refeições e trabalho.
Oração com horários bem delimitados e previamente determinados.
Tais horários são anunciadas por algum tipo de sinal sonoro, desta forma os
indivíduos voltam suas mentes para as atividades impostas pela instituição da qual
estão ligados.
O controle de todas as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar,
evitava qualquer tipo de organização ou mesmo de um pensamento rebelde.
Uma vez que o foco eram as tarefas a serem realizadas.
A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma,
os indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o
que inibia levantes.
A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o
medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando -
se de outras formas de castigo, como a chamada solitária.
Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da
atividade sexual, o indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão
psicológica.
A prisão nada mais é do que um local de privações, a perda da liberdade e do
direito de ir e vir tornam-se agora os maiores receios da sociedade.



Concluindo.
A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o
exercício deste poder se deu através de diversos dispositivos e elementos que
elencamos.




Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre o indivíduos e
suas necessidades biológicas.
Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe,
contribuindo para o equilíbrio e a ordem.
O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da
privação dos direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um
determinado grupo social.
Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta
forma de poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas
de punição que castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica.
Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu
adestramento, evitando atitudes de rebeldia.
Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão
presentes em nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas
que ainda garantem a ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da
sociedade ocidental contemporânea.




Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar é
exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a
presença do poder maior coercitivo.
A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço
iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos.
Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a disciplina e a
submissão dos indivíduos.
O novo modelo de construção utilizado nas prisões acabou servindo para outras
instituições que pretendiam obter a disciplina e obediência como foi o caso das
fábricas, a começar pela Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no
século XIX.
De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de forma
circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a
confecção de produtos.
Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento da
produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos o u
indisciplina.
A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi
estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros.
Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a
vigilância dos diversos indivíduos ali presentes.
O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais iluministas e das
revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa
asociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva,
substituindo os suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam
a ser centrais na organização social.
A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando -
o a margem da sociedade.
A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o corpo.



O controle do tempo
Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade
disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de tempo
bem como a sua organização.




                            A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se
do tempo como um de seus mecanismos de controle.
A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase
monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas
atividades como refeições e trabalho.
Oração com horários bem delimitados e previamente determinados.
Tais horários são anunciadas por algum tipo de sinal sonoro, desta forma os
indivíduos voltam suas mentes para as atividades impostas pela instituição da qual
estão ligados.
O controle de todas as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar,
evitava qualquer tipo de organização ou mesmo de um pensamento rebelde.
Uma vez que o foco eram as tarefas a serem realizadas.
A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma,
os indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o
que inibia levantes.
A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o
medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando-
se de outras formas de castigo, como a chamada solitária.
Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da
atividade sexual, o indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão
psicológica.
A prisão nada mais é do que um local de privações, a perda da liberdade e do
direito de ir e vir tornam-se agora os maiores receios da sociedade.



Concluindo.
A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o
exercício deste poder se deu através de diversos dispositivos e elementos que
elencamos.




Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre o indivíduos e
suas necessidades biológicas.
Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe,
contribuindo para o equilíbrio e a ordem.
O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da
privação dos direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um
determinado grupo social.
Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta
forma de poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas
de punição que castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica.
Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu
adestramento, evitando atitudes de rebeldia.
Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão
presentes em nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas
que ainda garantem a ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da
sociedade ocidental contemporânea.


História e identidades: uma filosofia sobre a representação das
diversidades.
Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 12/09, 2010, p.01-07.



A questão das identidades, o modo como os indivíduos e grupos enxergam a si mesmos,
constroem referenciais culturais e defendem seus valores, criando espaços de negociação com
outros grupos ou sustentando conflitos, é hoje uma discussão essencial.
Em um cenário em que a globalização
massificou o acesso à informação, padronizando comportamentos e referenciais, a
conscientização acerca do convívio com as diferenças, paradoxalmente, adquiriu uma
importância impar.

A razão é obvia, diante dos antagonismos, a diversidade saltou aos olhos, os mais diferentes
grupos voltaram seu olhar para si mesmos tentando manter viva, entre outras, a identidade
étnica ou regional.

Por outro lado, a integração econômica, no âmbito do capitalismo neoliberal, fomentou a
necessidade de conhecer o outro, entender seus anseios e desejos, o que passa pelo estudo
das identidades.

Esta preocupação não é nova, desde o século XVII, a filosofia discuti o tema, enquanto o
século XIX trouxe a temática para o campo de estudo de ciências nascentes como a psicologia,
a sociologia e a antropologia.

Posteriormente, a interdisciplinaridade dos estudos culturais, nas ciências humanas e sociais,
questionou a formação das identidades.

Foi quando lingüistas e teóricos da comunicação somaram esforços, abordando o tema através
de uma infinidade de métodos de análise, cunhando uma enorme gama de significados,
fragmentando as pesquisas em volta da identidade nacional, étnica e social.

Entretanto, a preocupação com as identidades é relativamente recente para os historiadores.

A temática veio à tona somente no final do século XX, com o surgimento dos debates sobre a
pós-modernidade e o multiculturalismo.

Para a história existe uma vinculação estreita entre as identidades e a memória que os grupos
mantêm de si mesmos.

Segundo André Lalande, a memória seria uma reminiscência do passado, uma leitura feita a
partir daquilo que é almejado como tendo sido e não como realmente foi, espelhando uma
O surgimento do homem
O surgimento do homem
O surgimento do homem
O surgimento do homem
O surgimento do homem
O surgimento do homem
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O surgimento do homem

  • 1. O surgimento do homem, os primeiros agrupamentos sociais e o aparecimento das famílias. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume ago., Série 29/08, 2011, p.01-15. As teorias sobre a origem do homem são relativamente recentes, só apareceram no final do século XIX e até hoje estão em constante alteração, sobretudo, devido a descobertas que costumam alterar a opinião dos estudiosos do tema. Pensar a evolução das espécies só tornou-se possível depois da revolucionaria teoria do inglês Charles Darwin, publicada na obra A origem das espécies em 1859. Polêmica até os dias atuais, ainda combatida pelo chamado criacionismo, Darwin sustentou, com base em observações empíricas na ilha de Galápagos (Equador), que a vida está em permanente adaptação com relação ao meio e a luta pela sobrevivência. Para ele, a lei do mais forte comanda o processo de evolução, aglomerando-se com o processo de seleção natural, dentro do contexto da teoria da evolução das espécies. Segundo a qual, somente os mais fortes, os mais adaptados, sobrevivem, enquanto mutações genéticas garantem vantagens que alteram características físicas das espécies. Neste sentido, o estudo de fósseis e vestígios arqueológicos permitiu traçar uma linha evolutiva da espécie humana. Os profissionais responsáveis por estes estudos são paleontólogos, arqueólogos e antropólogos, embora historiadores também contribuam com analises sobre os indícios encontrados. Mais recentemente, geneticistas se juntaram a equipe de estudiosos do tema, colaborando com o rastreamento das origens do homem, chegando até a Eva Genética, a mulher da qual todos descenderíamos, pertencente já aos Homo Sapiens. No entanto, antes dela a espécie humana teve outros ancestrais. O Ramapithecus e a polêmica da ramificação da espécie.
  • 2. Até recentemente, acreditava-se que o ancestral mais antigo do homem era o Australopitecus, cujo nome significa macaco do sul, um fóssil descoberto no sul da África em 1924. Segundo livros didáticos ainda em uso, este primata teria aparecido há aproximadamente 1 milhão de anos, caracterizando-se por possuir cérebro um pouco maior que seus parentes, postura ereta, melhor visão e maior habilidade com as mãos. O que teria permitido manipular instrumentos como varas para derrubar frutas, além do desenvolvimento de habilidades sociais que possibilitaram a vida em grupo. No entanto, um fóssil encontrado em 1974, na África, começou a alterar este panorama. Trata-se de Lucy, um Australopitecus com 3 milhões de anos. Mudanças mais radicais ocorreram com descobertas no inicio do século XXI, originando outra teoria. A qual defende a idéia que o Australopitecus é um primo distante do homem moderno, uma ramificação a partir de um ancestral comum. Segundo esta hipótese, o Australopitecus não seria um ancestral do homem, até porque encontraram ramificações que dividiram o dito Australopitecus em subespécies tal como Africanus e Boisei, as quais terminaram também extintas. Na realidade, o Australopitecus e o Homo Habilis, este último nosso ancestral direto mais antigo, conviveram na mesma época, há cerca de 3 milhões de anos até aproximadamente 1 milhão de anos. Ambos descendem do Ramapithecus, um primata que surgiu há 12 milhões de anos, em diferentes regiões da África, Europa e Ásia.
  • 3. Trata-se de um primata de pouco mais de um metro de altura, que viveu em florestas e savanas e que foi se tornando bípede. Era dotado da habilidade de atirar objetos para espantar predadores e carregar as crias. Porém, conforme se adaptou para caminhar, perdeu a habilidade de agarrar com os pés, o que impediu os bebês de grudar na mãe com as quatro patas, fazendo desenvolver a postura ereta para liberar as mãos para o transporte das crias. Ocorreram mutações que, pelo processo de seleção natural, originaram o Australopitecus e o Homo Habilis, muitas vezes confundidos nos livros didáticos como a mesma espécie, utilizados erroneamente como sinônimos. Porém, existe mais de uma ramificação a partir do Ramapithecus que torna o quebra cabeças mais complexo e desorganizado, pois, em 1891, foi descoberto na ilha de Java o Pitecantropus. Um homínida que apareceu há cerca de 750 mil anos, cujo nome significa macaco em pé, o qual antes acreditava-se descender do Australopitecus, mas que na realidade está em uma linha evolutiva paralela.
  • 4. Atualmente, a opinião mais aceita diz que o Pitecantropus é apenas mais um primo do Homo Habilis, tendo como ancestral comum o Ramapithecus. Um fóssil, descoberto na China em 1921, permitiu observar que o Pitecantropus evoluiu, originando o Sinantropo, um primata de postura ereta, cérebro maior que seu antecessor e que conhecia o uso do fogo. É provável que o Australopitecus, Pitecantropus, Sinantropo e Homo Habilis representem mutações do Ramapithecus que conviveram em grupos rivais, disputando espaço. A espécie mais apta sobreviveu e sobrepujou as demais, no caso o Homo Habilis, as demais se extinguiram. Entretanto, por volta de 1 milhão de anos surgiu o Homo Erectus, descendente direto do Homo Habilis, um hominídea fisicamente não muito diferente de nós, de aspecto robusto e forte, com cabeça achatada e maxilar saliente. Este ser conhecia o fogo e vivia em grupos, possuindo noções de convivência social mais elaboradas. Provavelmente foi empurrado por mudanças climáticas, iniciando uma migração em massa para a África, onde os sobreviventes da jornada originaram o Homo Sapiens há 500 mil anos. Nascia o homem moderno, com todas as características que temos hoje, mas sem os mesmos hábitos ou modos de se relacionar entre si e com a natureza. O Homo Sapiens sofreu uma mutação mal sucedida entre 100 e 65 mil anos, fazendo surgir na Europa o Neandertal. Um hominídeo com cérebro menor que o Homo Sapiens, mas maior que o Homo Erectus; porém com grande força física e conhecedor do uso de lanças e machados de pedra lascada. Este realizava ainda um tipo de culto aos mortos, colocando enfeites e alimentos nos túmulos, para que o morto pudesse utilizar em outra vida. O Neandertal simplesmente desapareceu há 50 mil anos, possivelmente se misturou com o Homo Sapiens, visto que alguns de nós possuem traços genéticos que remetem a eles.
  • 5. Seja como for, o homem moderno se tornou uma praga, transformando a natureza com fins a sua sobrevivência, espalhando-se pelo planeta e se multiplicando. O povoamento do planeta pelo Homo Sapiens. Depois que o Homo Erectus migrou para a África, originando o Homo Sapiens há 500 mil anos, segundo a teoria mitocondrial, permaneceu no continente por 300 mil anos. Só iniciou uma nova aventura migratória há 200 mil anos, quando o nível das águas começou a baixar, permitindo, inicialmente, ir para o sul do continente africano. Depois, por volta de 100 mil anos, atravessou o mar Vermelho, quando então era possível cruzá-lo a pé, indo para o Oriente Médio e para a região da Índia. Há 55 mil anos navegou até a Oceania, chegando até a Austrália, ao mesmo tempo, espalhando-se pela Ásia Central. Até então, é provável que a última era glacial tenha impedido a migração para a Europa. Isto, a despeito da teoria eurocêntrica que afirma que a África é o berço da humanidade e que a primeira migração do continente teria sido para a Europa, ao invés da Ásia. Entretanto, vestígios arqueológicos e o estudo genético provaram que a migração para a Europa é bem mais recente, remonta há 55 mil anos, em algumas regiões ocorreu somente há 30 mil anos. Já a migração para a América teria ocorrido entre 40 e 100 mil anos, coexistindo duas teorias que explicam como aconteceu.
  • 6. Segundo a teoria do povoamento pela ponte do Estreito de Bering, entre 40 e 30 mil anos, a passagem entre o norte da América e da Ásia era mais estreita. O nível do mar era pelo menos 120 metros mais baixo, além de existir uma provável faixa formada por água congelada. O que teria permitido cruzar a distância a pé ou navegando curtas distâncias. Outra teoria, defendida por cientistas do Museu do Homem em Paris e já recriada por arqueólogos, afirma que o homem teria migrado a partir da Oceania, navegando em embarcações primitivas, indo de ilha em ilha até chegar a América, um processo que teria demorado 6 mil anos. Atualmente, as duas teorias são aceitas, sendo provável que os dois processos ocorreram simultaneamente, ao passo que o povoamento da América teria se dado tanto pelo norte como sul do continente. Posteriormente, migrações para o sul e norte terminaram de povoar toda a América. Neste sentido, o fóssil humano mais antigo do continente teria no máximo 20 mil anos, chamado pelos paleontólogos como Luzia, o qual foi encontrado na América do Norte. Por sua vez, segundo Pedro Paulo Funari, na América do Sul, o esqueleto mais antigo teria por volta de 12 mil anos.
  • 7. Entretanto, a arqueóloga brasileira NèdeGuidon encontrou vestígios que não se enquadram neste grande quebra-cabeças na Serra Capivara, no Piauí. Trata-se de restos de uma fogueira (carvões e artefatos de rocha lascada) que datam de 50 mil anos, além de pinturas rupestres com pelo menos 40 mil anos. Diante destas descobertas, todas as teorias, ou pelo menos sua datação, sobre o povoamento da América, poderiam ser contestadas. Alguns estudiosos passaram, inclusive, a defender o inicio da América há 100 mil anos, quando a última era glacial teria facilitado a passagem a pé. O que faz com que seja plausível a chegada do homem à América por várias passagens, incluindo sua migração direto da África, passando pelo Atlântico, quando o nível do oceano estava mais baixo, com grandes extensões de água solidificada pelo frio. Destarte, esta teoria é controversa, não podemos esquecer que existem questões políticas, ideológicas, sociais e culturais envolvidas. O predomínio de uma visão eurocêntrica, dificilmente permite aos pesquisadores admitir um povoamento da América quase ou mais antigo que o asiático ou europeu. É o mesmo tipo de questão que, por exemplo, faz as civilizações nativas da América serem tratadas como primitivas, embora, em vários aspectos, sejam superiores aos europeus do século XV e XVI. Em todo caso, seja qual for a datação ou percurso da migração do homem pelo planeta, cabe perguntar: o que teria motivado o deslocamento destes grupos humanos? Uma explicação convencional diz que mudanças climáticas, a migração da caça, teriam feito os homens buscarem novos territórios. Outra explicação afirma que a explosão demográfica tornou alimento escasso e forçou a migração humana. No entanto, Jaime Pinsky forneceu uma hipótese mais original que não anula as anteriores, para ele a migração humana aconteceu devido ao espírito de aventura. A natureza humana, a curiosidade de explorar e saber o que está além, foi o que moveu o homem a migrar cada vez para mais longe. Os primeiros agrupamentos sociais.
  • 8. Desde 1 milhão até 10 mil anos atrás, os grupos hominídeas foram basicamente compostos por caçadores, pescadores e coletores. O que exigiu uma organização social para coordenar os esforços de caça, com uma divisão de tarefas pelo sexo e idade. As mulheres coletavam frutas e raízes, cuidando dos filhos, amamentando a criança até que desse a luz ao próximo rebento, em um espaço estimado em quatro anos, tratando também do preparo dos alimentos. Os homens caçavam e pescavam, perseguindo animais em grupo, preparando artefatos para facilitar a caça, como lanças e machados de pedra. Aos caçadores cabia a distribuição da carne, feita através de longos rituais, influenciada pelo grau de parentesco, alianças e devolução de favores. O caçador mais forte liderava o grupo, enquanto os mais velhos formavam um conselho também destinado a ensinar os mais jovens, ou eram deixados para morrer quando representava um fardo para o grupo, isto porque os homens eram nômades, migrando atrás da caça e pesca. Estes primeiros grupos sociais, segundo vestígios arqueológicos, não eram superiores a trinta indivíduos, fixando-se provisoriamente em cavernas ou habitações construídas com material local. Sempre próximos a fontes de água doce, tal como rios, ou então em locais elevados para facilitar a visualização de predadores e grupos rivais. Viveram na época que chamamos de pré-história, o período anterior a invenção da escrita, entre 4 e 3 mil anos antes de Cristo. Isto porque é um período considerado anterior a história propriamente dita, já que não existem relatos escritos sobre a vida destes grupos, somente vestígios arqueológicos que permitem a penas suposições. Dentro da pré-história, o espaço de tempo que vai da origem do homem até 12 mil anos é chamado de Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada.
  • 9. O inicio da sedentarização da humanidade e a invenção da agricultura é chamado de Mesolítico ou Nova Idade da Pedra, a Idade Média da pré-história. Um período de transição com novas técnicas e instrumentos surgindo, convivendo com e velhos hábitos e práticas, delimitado entre 12 até 10 mil anos, embora alguns autores delimitem seu fim nos 6 mil anos. Entre 10 e 4 ou 3 mil anos, acorreu a Revolução Neolítica (Período Neolítico), quando o homem se tornou sedentário, fixando-se em aldeias próximas a fontes de água e terras férteis. Iniciou-se então a domesticação de plantas e animais, com a agricultura e o pastoreio. As primeiras espécies vegetais domesticadas foram grãos, cereais e raízes; tal como milho, trigo, cevada, arroz e batata-doce. Ao passo que os primeiros animais domesticados foram cães, cabras, bois, camelos e dromedários. Em pouco tempo, o homem aprimorou técnicas de construção de moradias, criando peças de cerâmicas para armazenar alimentos e servir como decoração. Simultaneamente, começou a aperfeiçoar instrumentos agrícolas, o que gerou excedente e possibilitou o inicio do comércio, forçando o aparecimento de novas tecnologias para o transporte das mercadorias. Foi dentro deste contexto que a roda foi inventada há cerca de 5 mil anos, apesar de no inicio sua utilização se restringir para fazer cerâmica, portanto usada na horizontal. De qualquer forma, durante o Neolítico, também chamado Idade da Pedra Polida, a sedentarização trouxe mudanças significativas na organização social, cultura e religião. Os agrupamentos humanos se tornaram mais numerosos, comportando uma explosão demográfica que originou as primeiras cidades e, posteriormente, as primeiras civilizações. Este aumento das populações humanas criou rivalidade entre grupos humanos, fazendo nascer a figura do guerreiro e organizações militares para proteger ou tomar recursos e terras.
  • 10. Neste sentido, a divisão de tarefas continuou obedecendo uma dinâmica conforme sexo e idade. Onde aos homens cabia preparar a terra para o cultivo e ará-la, cuidando também da caça e pesca, servindo como guerreiros. As mulheres, além das tarefas domésticas e do cuidar dos filhos, passou a caber a rotina da lavoura e a colheita. Aos mais jovens, principalmente do gênero masculino, era atribuída a tarefa de pastoreio de animais de pequeno porte. Os mais velhos deixaram de ser abandonados para morrer, passaram a gozar de maior prestigio, compondo conselhos que decidiam os destinos do grupo e guardando e preservando a memória oral. No aspecto cultural e religioso, mitologias nasceram para tentar explicar os fenômenos da natureza e padronizar comportamentos, quando apareceram, primeiro, o culto dos antepassados e, depois, a figura dos deuses. As mulheres passaram a ser vistas como seres sagrados, detentoras do dom da vida. Para cultuar e simbolizar a religião e a política, começaram a ser esculpidas estatuas, inicialmente, ligadas ao culto da fertilidade. Igualmente, foi aperfeiçoado o culto funerário e a preservação da memória dos antepassados, algo vinculado com o surgimento do sentimento de família. O conceito de família. Embora, em geral, a família tenha origem em um fenômeno biológico de conservação e reprodução da espécie, o conceito envolve questões vinculadas a aspectos sociais que interferiram diretamente na evolução humana.
  • 11. A família sofreu consideráveis modificações ao longo da história, regulando as interações sociais e cunhando preceitos morais e éticos, fomentando leis e normas. No entanto, o conceito de família, independente de suas variações, é basicamente o mesmo desde os primórdios da humanidade. Segundo Murdack, família é “um grupo social caracterizado pela residência em comum, com cooperação econômica e reprodução”, um conceito bastante elástico. Para Mair, família é “um grupo doméstico no qual os pais e filhos vivem juntos”, uma concepção mais restrita e hoje colocada de lado pela maioria dos antropólogos. Para Beals e Hoijer, família é “um grupo social cujos membros estão unidos por laços de parentescos”. Outro conceito aparentemente estreito, mas que, diante da elasticidade do estabelecimento de graus de parentescos artificiais, admitidos como possíveis pela antropologia, esta concepção torna-se ampla. Em outras palavras, qualquer que seja a linha teórica, a verdade é que todos os conceitos se encaixam na seguinte definição de família: Família é todo conjunto de pessoas unidas por interações sociais com certo grau de coesão entre seus membros, com graus de parentesco artificiais ou concretos, declarados ou ocultos, com ou sem ligação genética. Hoje, apesar de no passado já terem sido registrados casos semelhantes ao longo da história da humanidade, a família pode tanto ser constituída por pais e filhos, como por um conjunto de amigos, onde cada membro assume uma função social perante os demais. Tipos de família. Dentro do âmbito da amplitude do conceito de família, para a antropologia existem algumas classificações tipológicas que visam ajudar o estudo.
  • 12. Assim, pensando nas diferentes maneiras como se organizam ou estruturam os grupos, variáveis no tempo e espaço, a família pode ser classificada em cinco tipos: 1. Elementar. Também chamada de nuclear, natal-conjugal, simples, imediata ou primaria; é aquela formada por pai e mãe, homem e mulher ou aqueles que assumem a vida conjugal monogâmica, podendo ser um casal de dois homens ou duas mulheres. Fazem parte deste tipo de família, além do casal, também os filhos, quer sejam gerados biologicamente ou agregados ao grupo. A despeito de, até pouco tempo atrás, só ser considerado como pertencente a este tipo de modelo a família patriarcal tradicional com laços sanguíneos. Não obstante, a família elementar, do ponto de vista antropológico, é considerada efêmera, pois à medida que os filhos crescem, constituindo novas famílias, o grupo diminui e, eventualmente, tende a desaparecer com a morte dos pais. Sobrevive, com raras exceções, não mais que duas ou três gerações. 2. Extensa. Também chamada grande, é uma unidade formada por duas ou mais famílias de tipo elementar, com grau de parentescos mais complexos, envolvendo avós, tios, sobrinhos, primos, afilhados e até agregados. No entanto, a unidade nuclear, com pai e mãe, ou aqueles que exercem a função, é bem definida e nítida, admitindo apenas relações monogâmicas entre cônjuges. 3. Composta. Também chamada complexa ou conjunta, é uma unidade formada por três ou mais cônjuges e seus filhos, com estrutura poligâmica. É um modelo oriental de família, existente desde os primórdios da humanidade e muito comum em sociedades matriarcais 4. Conjugada Fraterna. Refere-se a uma unidade composta por membros que compartilham funções, não existindo a presença rígida de pai e mãe. Ora um membro do grupo exerce o papel de pai, ora de irmão ou filho, tudo depende do contexto e do momento. Um bom exemplo são as sociedade indígenas, onde a criança é de responsabilidade de toda a tribo, embora existam funções delimitadas por sexo e idade. Nas sociedades modernas, diante da ausência do real ocupante da função exercendo a mesma, existe uma tendência a sempre alguém ocupar o lugar vago, mesmo que temporariamente.
  • 13. 5. Fantasma. Consiste em uma unidade formada por apenas um elemento nuclear, pai ou mãe, e o chamado fantasma, além dos filhos. Isto, mesmo no caso de pai ou mãe vivos, mas ausentes, pois quando a função não é desempenhada, pelo menos em um aspecto, o elemento torna-se um fantasma. Funções da família. Dentre as diversas funções da família, as quais tem variado através dos séculos, os estudiosos apontam quatro básicas e quatro subsidiárias. As funções básicas, também chamadas de fundamentais, são encontradas em todos os grupos humanos, sendo elas: 1. Sexual. Atende as necessidades sexuais permitidas por meio da institucionalização da união ou casamento. 2. Reprodução. Visa perpetuar a espécie, mesmo em sociedades onde há liberdade sexual, a procriação é regulada com normas e sanções que legitimam a família. 3. Econômica. Assegura o sustento e proteção do grupo, conduzindo a divisão de tarefas e a estratificação, com status diferenciados entre os membros. 4. Educacional. O grupo, através da coesão, arca com a responsabilidade de transferir os conhecimentos acumulados pela humanidade de geração em geração, criando condições para que exista uma cooperação entre os membros. O que torna, teoricamente, a vida em sociedade possível. Portanto, as funções básicas da família podem ser desempenhada de várias maneiras, dentro dos mais diversos sistemas culturais, moldando as personalidades individuais. Como agente educador, a família pode combinar duas funções especificas: 1. Socializadora.
  • 14. Na medida em que transmite a herança cultural e social durante os primeiros anos de vida (linguagem, usos, costumes, valores e crenças), a família é peça essencial no processo de endoculturação, preparando a criança para o ingresso na sociedade. 2. Social. Proporciona a conquista de diferentes status dentro da estratificação social, tal como o posicionamento étnico, nacional, religiosa, político, educacional e até de classe. Além destas divisões, alguns autores classificam quatro funções subsidiárias, apesar de outros afirmarem que perderam sentido na sociedade moderna. No entanto, cabe ressaltar que, diferente das funções básicas, as subsidiarias não existem em algumas sociedades. Estas funções subsidiarias podem ser assim divididas: 1. Religiosa. Une seus membros através de uma rede de direitos e proibições morais, estabelecendo laços afetivos e sentimentais. 2. Jurídica. Impõem obrigações definidas entre os membros, mas também direitos. O que garante a reprodução do sistema econômico e político vigente, assim como a manutenção do status individual. 3. Política. Propicia proteção potencializando apoio emocional para a resolução de problemas e conflitos, podendo formar uma barreira defensiva contra agressões externas. Neste sentido, reforça a saúde física e mental do individuo, constituindo um recurso para lidar com situações associadas à vida em comunidade. 4. Recreativa. Constitui uma válvula de escape para as tensões fora do grupo, um elemento de fuga do stress. Embora esta válvula de escape, desvinculada da função religiosa e associada a outros fatores, possa conduzir a violência domestica. Casamento e família.
  • 15. Freqüentemente associada ao casamento, para entender a família integralmente, é necessário discutir o união entre cônjuges. Na sociedade, em geral, existem duas formas de relação, do ponto de vista antropológico, entre seres humanos: união e casamento. Tradicionalmente, a união consiste no ajuntamento de indivíduos do sexo oposto sob influencia do impulso sexual. Modernamente, a união também pode ser caracterizada pelo ajuntamento também entre indivíduos do mesmo sexo, contanto que exista influencia de impulso sexual. De qualquer forma, a união não estabelece necessariamente direitos e obrigações e, do ponto de vista antropológico, não constitui obrigatoriamente uma família. Para que isto aconteça é necessário o reconhecimento dos envolvidos e da sociedade. Entretanto, a união pode conduzir ao matrimonio ou casamento, quer seja reconhecido ou não religiosamente ou pelo Estado. O que caracteriza o casamento é, justamente, a união orientada para a constituição da família, implicando em costumes complexos e o estabelecimento de laços afetivos mais estreitos, quer dentro da monogamia ou da poligamia. Assim, o casamento ou a união é a base para a construção da família e seu principal elemento agregador, podendo comportar múltiplas soluções e/ou problemas que afetam todos os seus membros. Família e escola. Existe, em quase todas as sociedades, uma tendência para que certos aspectos do adestramento das crianças sejam assumidos por agentes externos à família, tal como a escola. O grande problema é que o saber escolar, muitas vezes, distancia-se da realidade, impedindo a assimilação democrática do conhecimento, excluindo e limitando o acesso ao saber.
  • 16. A escola é uma instituição, como tal possui normas e padrões, impostos por aqueles que controlam o sistema educacional, dentro do âmbito do fordismo, acarretando em problemas como a questão da “violência simbólica”, discutida por Bourdieu e Passeron. Portanto, embora a sociedade transfira, cada vez mais, responsabilidades da família para a escola, cabe lembrar que somente a primeira constitui um grupo primário. A escola é um grupo secundário e nunca poderá substituir a família na educação das crianças. Concluindo. A história da humanidade remonta aos seus antepassados mais remotos há 12 mil anos atrás, desde então um longo caminho foi percorrido até os nossos dias. Entretanto, a aceleração material e cultural humana só começou com a invenção da escrita, cerca de 4 ou 3 mil anos antes de Cristo, embora a evolução tecnológica só tenha assumido um ritmo mais rápido a partir do século XVIII e ainda mais desenfreado na segunda metade século XX. Entretanto, a despeito deste fato, o sentimento de família sempre foi o mesmo desde os primórdios da origem da instituição, mas no século XXI passou a sofrer constante modificação. O que remeteu o que antes era considerado papel da família para dentro da escola, gerando inúmeros problemas, já que instituições educacionais não estão preparadas para cumprir o que a sociedade erroneamente espera dos profissionais da educação. Seja qual for o problema, a resolução não está apenas no tratamento do educando, mas sim na orientação familiar, principalmente para que assuma suas responsabilidades. O vinculo dos sujeitos com a família é essencial para um desenvolvimento coerente. O problema do individuo pode ser, na realidade, um problema de sua família, podendo, inclusive, agravar situações em um efeito em cascata transposto para a sociedade. Por outro lado, trabalhar com a família, permite ao profissional da educação realizar verdadeiramente uma profilaxia, uma prevenção do agravamento de problemas já existentes.
  • 17. Para solucionar as questões que diariamente se colocam aos educadores, dentro da escola, talvez devamos pensar em retomar alguns aspectos do ensino tradicional, só assim será possível auxiliar o educando na passagem da heteronomia para a autonomia. Conceitos básicos da Sociologia: algumas considerações. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 12/03, 2011, p.05-08. Existem três conceitos básicos em sociologia: formas de organização social; cultura; estrutura e papéis sociais. Para entender várias discussões sociológicas é necessário dominar estes conceitos, por isto abordaremos aqui brevemente cada um deles. Formas de organização social. A unidade fundamental para a sociologia é o grupo social, um conjunto de pessoas que interagem formando padrões, unidas em torno de interesses em comum ou aglutinadas segundo a identidade que tentam reproduzir. Os grupos sociais se dividem em primários e secundários. Grupos primários são aqueles em que os indivíduos possuem laços mais estreitos, mais próximos, propiciando maior intimidade e coesão, dentro dos quais os interesses comuns se estendem por longos prazos e, por vezes, são substituídos pela afetividade. Um bom exemplo de grupo primário é a família, onde se um membro modificar seus interesses, nem por isto deixa de pertencer ao grupo. O interesse em comum que existe dentro da família pode ser simplesmente o bem estar do outro, quer seja consciente ou não. Grupos secundários são formados por indivíduos com interesses em comum que, depois de satisfeitos, dentro de certo prazo, terminam com a dissolução do grupo. Colegas de faculdade exemplificam perfeitamente um grupo secundário, pois existe o interesse em comum de concluir o curso, o que, uma vez realizado, dissolve o grupo, embora ele possa se tornar um ou vários grupos primários. Conforme os grupos crescem podem se tornar formais e informais, ou seja, com regras e normas explicitas ou implícitas. Um grupo pode se tornar uma organização, um aglomerado de pessoas unidas em torno de objetivos, formando uma combinação de esforços individuais em prol de propósitos coletivos.
  • 18. Neste sentido, assim como os grupos, as organizações podem ser voluntárias ou coercitivas. Grupos ou organizações voluntários são aqueles onde os membros se reúnem espontaneamente. Coercitivas são aqueles em que os membros são forçados a se reunirem, a estarem juntos. Diferente de uma organização, uma instituição pode ser definida como um conjunto de pessoas que, não tendo necessariamente objetivos coletivos, é unificado pelo conjunto de tradições que segue. A cultura e sua formação. A cultura pode ser definida como um conjunto de valores que une e confere identidade a um grupo, ditando parâmetros de conduta que unificam comportamentos e ações, fornecendo modelos que podem compor estereótipos. Estereótipos são modelos nos quais os indivíduos são encaixados conforme as aparências, nem sempre correspondendo a realidade. A dinâmica de formação e modificação da cultura leva em consideração influencias internas e externas, sendo integrado pela cultura ideal, a cultura real e a contracultura, além de subculturas. A cultura ideal ode ser definida como o conjunto de valores fixados pela elite, vinculado, portanto, com a cultura erudita, o saber cientifico e escolar. A cultura real corresponde aos valores fixados pelo senso comum ou cultura popular e de massa, respondendo pelos valores em voga na prática. Aqui cabe uma distinção, pois a cultura popular é aquela que nasce espontaneamente, enquanto a cultura de massa é fabricada pela mídia de grande circulação e, em geral, possui objetivos mercadológicos. As subculturas pertencem à cultura real, constituindo variações da cultura regionalizadas, que não contrariam, necessariamente, a cultura ideal, como por exemplo a cultura nordestina ou gaucha, ambas pertencentes a cultura brasileira.
  • 19. Em meio ao processo de constante modificação da cultura, alguns indivíduos que não concordam com aquilo que é imposto pela cultura ideal e real, não conseguindo adequar os parâmetros oficiais, terminam optando por defender novas idéias. Estes indivíduos acabam criando movimentos de contracultura que, com o tempo, podem modificar a cultura. Estrutura e papeis sociais. Ao contrário do que poderíamos imaginar, nem sempre os indivíduos controlam totalmente se comportamento. Para facilitar o convívio, a sociedade está organizada segundo uma hierarquia, compondo uma estrutura social. Cada individuo, conforme suas inclinações pessoais e sua formação social, tende a ocupar um lugar na estrutura, exercendo um papel social especifico que fará com que se comporte conforme as expectativas do grupo, independente de sua vontade. O comportamento das pessoas envolve o que se espera delas ou aquilo que ela mesma imagina que é esperado, determinando papéis sociais que conferem status. Por exemplo, um diretor de uma empresa jamais irá usar gírias em uma reunião de diretoria, pois considera que não atenderá as expectativas do grupo e diminuirá seu status. Entretanto, quando alguém ocupa mais de uma posição ou está presente em mais de uma estrutura, desempenhando múltiplos papéis, podem surgir conflitos de papéis. A esposa, por exemplo, sendo ao mesmo tempo mãe, devendo desempenhar funções distintas, pode confundir papéis. Tratando o marido como filho e criando uma tensão sexual com o filho, a esposa pode deixar os outros membros da família desorientados. Quando a mãe parece ter mais status para o marido que a esposa, a dita esposa pode tentar compor a expectativa que pensa que o marido tem para com ela. Resultado, a esposa passa a tratar o marido como mãe, buscando o status que julga não ter como esposa. Assim, o fator que faz com que as pessoas confundam papeis é o status, a busca pelo reconhecimento dentro da estrutura social. Quando um papel é considerado pelo individuo como estando abaixo do respeito e admiração almejado, o individuo tende a transferir seus desejos de reconhecimento para outra parte da estrutura ou outra estrutura onde pensa que terá maior probabilidade de sucesso.
  • 20. De qualquer forma, os conflitos de papeis desarticulam as relações e desest5ruturam os grupos sociais, causando inúmeros problemas para o individuo e o conjunto da coletividade. Concluindo. Esperamos que as breves descrições apresentadas neste artigo modesto possam contribuir para o entendimento das relações sociais. Entretanto, sugerimos que os leitores aprofundem seus estudos pesquisando mais sobre o assunto e consultando a bibliografia indicada. Comte e a construção do método sociológico: o positivismo. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 12/03, 2011, p.01-05. Considerado o pai da sociologia, a motivação do pensamento do francês August Comte (1798-1857) repousa no estado de anarquia de desordem de sua época, caracterizado pela crescente urbanização, o imperialismo dos países industrializados e a luta de classes que estava desestruturando a pirâmide social. Em sua visão, as idéias religiosas haviam perdido sua força, desorganizando a sociedade, culpa da revolução francesa e dos “doutores da guilhotina” com seu ideal de liberdade, igualdade e fraternidade.
  • 21. Comte chamava os iluministas de “doutores da guilhotina” pejorativamente para demonstrar que tudo que a Revolução Francesa havia feito era cortar cabeças, desmerecendo suas idéias. Em sua opinião os iluministas tinham desestruturado as instituições sociais, base do funcionamento ordenado da sociedade. Porém, suas opiniões não eram originais, bebiam em uma fonte: Saint-Simon. O verdadeiro pai da sociologia. As concepções de Comte que originaram a sociologia e o positivismo não eram novas, tinham sido herdadas de Henri de Saint-Simon (1760-1825), de quem ele havia sido secretário particular até um desentendimento intelectual. Durkheim, por exemplo, como um dos fundadores do positivismo e o propagador e perpetuador da nova área no meio acadêmico e cientifico, considerava Saint-Simon como o verdadeiro pai do positivismo e da sociologia. Foi Saint-Simon que cunhou o termo filosofia negativa para designar o iluminismo, pois achava que os pensadores ilustrados tinham uma visão negativa da sociedade, enxergando as instituições como uma ameaça a liberdade humana. O termo positivismo foi, posteriormente, cunhado justamente para se opor a filosofia negativa, como afirmação das instituições como base da sociedade, tendo, portanto, uma visão positiva sobre a organização social.
  • 22. Para Saint-Simon era justamente o contrário do que defendiam os iluministas, as instituições, calcadas na tradição, que regulariam as relações e tornando possível a vida em sociedade. Além disto, ele achava que a industrialização era a única forma de satisfazer as crescentes necessidades humanas e constituía a única maneira de obter riqueza e prosperidade. O progresso industrial acabaria com os conflitos sociais e traria segurança para os homens, ou seja, ordem. Neste sentido, o progresso do mundo acabaria com as diferenças e guerras. É claro que na época, inicio do século XIX, ele não levou em consideração a escassez de recursos naturais, o que torna impossível uma completa igualdade em termos de consumo destes. Embora tenha admitido a possível existência de conflitos entre possuidores e despossuídos, mas achava que a ciência estabeleceria verdades que seriam aceitas por todos, o que iria diluir os conflitos. Para que a nova sociedade pudesse funcionar, Saint-Simon afirmava que seria necessário existir uma elite dirigente, formada por industriais, comerciantes, banqueiros e cientistas; os novos senhores feudais, sendo os cientistas comparados com o clero feudal. Comte e a sociologia. Na concepção de Comte, havia a necessidade de uma ciência que possibilitasse conhecer e estabelecer as leis imutáveis da vida social, “sem considerações críticas ou discussões, permitindo prever e regular as ações”. Ele chamou a nova ciência de “física social”, separando a filosofia e a economia política do conhecimento da realidade social.
  • 23. A idéia era criar uma ciência semelhante à física que fosse aplicada ao estudo da sociedade. Assim, Comte criou a sociologia com a intenção prática de interferir no rumo da civilização, alterando o funcionamento da sociedade. Inserindo-se na tradição conservadora dos chamados “profetas do passado”, grupo contrário as idéias iluministas, para fundamentar a sociologia como ciência; Comte elaborou uma metodologia. Esta pretendia fornecer uma visão otimista da sociedade, criando o positivismo. O positivismo de Comte. Embora exista controvérsia, Comte é considerado oficialmente o pai da sociologia e do positivismo. Para se opor a “filosofia negativa” que negava a importância das instituições sociais como reguladoras das inter-relações, em nome da liberdade; nasceu o positivismo. O pressuposto básico era a positividade, a crença na importância das instituições sociais como reguladoras da ordem, à medida que criadoras de um conjunto de crenças comuns a todos os homens. Sem instituições como a religião, por exemplo, a sociedade entraria em um estado de anômia, ausência de normas, um estado de confusão em que as pessoas perderiam seus referenciais e ficariam sem saber como e comportar.
  • 24. A orientação básica do positivismo é a investigação da “física social”, através dos mesmos procedimentos das ciências naturais (física, química e biologia). A observação, a experimentação e a comparação deveriam ser utilizadas em conjunto com ciências auxiliares como filosofia, história e estatística. Para o positivismo, a sociologia deveria se ocupar do estudo dos acontecimentos constantes e repetitivos, a exemplo da física. Desvendando estes mecanismos, o cientista social poderia manipular o funcionamento da sociedade para trazer ordem e progresso. Palavras que não por acaso estão na bandeira do Brasil, já que a República foi proclamada por militares no século XIX, os quais eram de orientação positivista. Em todo caso, colocando ordem na sociedade, segundo os positivistas, o progresso seria alcançado, beneficiando a coletividade. Concluindo. Apesar de herdeiro das tendências conservadoras lideradas por Saint-Simon, Comte foi também um critico desta concepção, pois achava um erro valorizar e tentar imitar o antigo sistema feudal. Dentro da sua visão, a ordem não poderia se sobrepor ao progresso, devendo caminharem juntos. Este o ponto de discórdia intelectual de Comte com Saint-Simon Simultaneamente, Comte achava que o principal erro dos iluministas não era se opor as instituições, mas sim valorizar o progresso em detrimento da ordem. No entanto, para ele, a sociologia e o positivismo deveriam construir uma nova sociedade, controlada por uma elite dirigente, cuja conseqüência natural, gradual e suave, seria a ordem e progresso. Spencer e o Darwinismo Social. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 28/03, 2011, p.01-09. Herbert Spencer (1820-1903) foi um filosofo e sociólogo inglês, responsável pela teoria do darwinismo social, considerado um seguidor de Comte e representante do positivismo na Grã-Bretanha.
  • 25. Acreditava que a evolução seria um principio universal, sempre operante. Muito conhecido na sua época, Spencer fez parte do circulo de amigos de Charles Darwin, autor de A origem das espécies, obra publicada em 1859. Este último foi responsável pelo conceito de seleção natural e pela teoria da evolução a partir da lei do mais forte. Spencer seguiu esta linha de pensamento e tentou aplicar as idéias de Darwin ao contexto da vida do homem em sociedade, originando o dito darwinismo social. O qual influenciou o pensamento sociológico, o planejamento organizacional e o sistema educacional. Influencias teóricas. Além do contato direto com Darwin, Spencer sofreu influência das idéias de economistas como John Stuart Mill, Adam Smith e Thomas Malthus. Para Mil, o sistema capitalista gera poder, este gera mais poder e dinheiro, ao passo que as energias da humanidade são canalizadas para a luta por riquezas. Assim, dentro da ótica capitalista, as pessoas pensam prioritariamente em obter recursos monetários, o qual confere poder e se multiplica com ele, fazendo do dinheiro e do poder objetivos de vida.
  • 26. Não significa que os indivíduos não tenham outras prioridades, mas sim que, para obter outras metas, necessitam primeiro buscar dinheiro e poder. Para Smith, o governo deveria interferir o menos possível no desenvolvimento do capitalismo, pois a lei da oferta e da procura regula a economia. Conforme existe uma grande oferta de determinado produto, seu preço tende a cair; inversamente, caso a oferta seja pequena, seu preço sobe. Igualmente, sendo a demanda por um produto com pequena, seu valor cai; enquanto o aumento da procura faz os preços subirem. Portanto, a dinâmica do mercado auto-regula preços e salários, não sendo necessário à interferência do Estado. Um conceito que não considera o bem estar social das pessoas, somente as necessidades do sistema capitalista de se perpetuar. Já para Malthus, as causas de todos os problemas da humanidade está na própria espécie humana. O grande problema do mundo é o excesso de gente, o que faz os recursos naturais serem escassos e insuficientes para suprir a humanidade, forçando o sistema econômico a estratificar a sociedade. Não existindo recursos que possibilitem um alto consumo por parte de toda humanidade, pois eles se esgotariam rapidamente, o capitalismo divide as pessoas em classes sociais. Uma elite dirigente, com numero de pessoas limitado, tem acesso a um alto padrão de consumo, enquanto a maioria da população vive em condições precárias.
  • 27. Neste sentido, guerras e epidemias seriam um mecanismo regulador da economia, fazendo diminuir a população, elevando os salários dos sobreviventes e o poder de consumo em geral, girando a economia, sem o risco de inflação e incapacidade industrial e agrícola de suprir as necessidades da sociedade. As idéias de Spencer. Spencer aplicou o darwinismo ao contexto social, partindo do pressuposto que o universo evolui e que a evolução é progresso, considerando, a exemplo de Comte, a ordem necessária para o progresso. Para ele, todas as transformações possuem um caráter comum, compondo uma lei que, uma vez desvendada, permite prever as futuras transformações, embora esta previsão seja apenas parcial. Acontece que toda causa produziria mais de um efeito, portanto, mais de uma modificação, constituindo novas causas e novos efeitos, multiplicados indefinidamente. Dentro deste contexto, Spencer aplicou a lei do mais forte às estruturas sociais. Chegou à conclusão que a seleção natural se aplicaria a sociedade quando pensada em termos de cooperação entre indivíduos em prol da supremacia de um grupo. Assim, não se trata somente do individuo mais forte prosperar, mas do grupo mais coeso e forte tornar-se hegemônico, formando a elite dirigente de uma civilização. Spencer explicitou estas concepções em várias obras, dentre as quais: Princípios de sociologia (1879).
  • 28. Lei e causa do progresso (1889). Estatística social. Sistemas de filosofia sintética. Além destes livros, uma obra publicada em 1861, mas que ganhou destaque somente em 1927, após a morte do autor, influenciou decisivamente a educação britânica e mundial. Trata-se de Educação intelectual, moral e física, onde Spencer defendeu a idéia de que era necessário preparar os indivíduos para serem uteis a sociedade, ao mesmo tempo, possibilitando uma formação adequada a sua sobrevivência no âmbito do sistema capitalista. O que implicaria em desenvolver conhecimentos técnicos e científicos junto com uma formação moral doutrinadora do patriotismo, além de condições físicas saudáveis para os futuros operários e soldados da nação. A partir de onde surgiram duas disciplinas ainda não integradas aos currículos escolares: Educação Moral e Cívica; e Educação Física. A influência do darwinismo social no Brasil. O darwinismo social influenciou fortemente os intelectuais brasileiros no século XIX e inicio do XX. As idéias de Spencer foram incorporadas na obra Os sertões de Euclides da Cunha e nos estudos do médico legista Nina Rodrigues, a reboque, influenciando a historiografia brasileira que analisou a Guerra da Canudos. O jornalista Euclides da Cunha, representando o jornal O Estado de São Paulo, participou como correspondente de guerra da campanha do exército brasileiro, em 1897, contra Canudos. Observou tudo e registrou suas impressões em um livro que depois se tornou um clássico da literatura.
  • 29. Canudos era o nome de uma comunidade que foi originada a partir de um movimento popular, liderado por um beato chamado Antônio Conselheiro, que durou de 1893 a 1897. Conselheiro andou pelo sertão da Bahia, pregando contra a recém proclamada República. Para ele o anticristo, defendendo que os sertanejos deixassem de pagar os exorbitantes impostos e não aceitassem a autoridade do governo federal, inclusive considerando um pecado o casamento civil. A verdadeira autoridade residiria somente na igreja e na monarquia. O beato obteve um sucesso tão grande em sua pregação que chegou a ter 25.000 seguidores, foi quando fundou o arraial do Bom Jesus de Belo Monte, nos arredores da fazenda Canudos. O povoado cresceu rapidamente, praticando os preceitos do cristianismo primitivo, dividindo tudo igualmente entre seus moradores e formando uma guarda católica para proteger seus moradores. Muitos jagunços das fazendas vizinhas; os quais faziam parte da chamada guarda nacional, braço armado dos latifundiários e, teoricamente, representantes do exército brasileiro na região; abandonaram seus coronéis para se juntar a Antônio Conselheiro. Obviamente, o movimento irritou os fazendeiros da Bahia e repercutiu no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. Os sertanejos de Canudos foram considerados rebeldes monarquistas que lutavam contra a República, embora tão somente estivessem se colocando contra as mazelas do coronelismo e buscando apenas uma vida mais digna.
  • 30. O governo federal enviou quatro expedições militares contra Canudos. A primeira composta por efetivos da policia locais, foi facilmente derrotada pela guarda católica de Conselheiro. A segunda, comandada pelo major Febrônio de Brito, agregando soldados das milícias locais, também foi derrotada, tendo seus equipamentos, armas e munições tomadas pelos sertanejos. Melhor armados, a comunidade de Canudos conseguiu resistir à terceira expedição, liderada pelo coronel Antônio Moreira Cesar, considerado um herói na repressão ao movimento separatista Farroupilha no Rio Grande do Sul, apelidado “o corta cabeças”, pois tinha fama de mandar degolar os inimigos capturados. A tropa federal, vinda diretamente do Rio de Janeiro, contando com 1.300 soldados, abusou do excesso de confiança e avançou, após longa marcha, sem analisar a topografia do terreno. Foi derrotada pelos habitantes da Canudos, ajudando a deixá-los fortemente armados. A quarta expedição foi formada quando as derrotas repercutiram fortemente na Capital, sendo composta por 4.000 soldados de infantaria e artilharia pesada, comandados pelo general Artur Oscar Guimarães.
  • 31. Ocasião em que Euclides da Cunha se juntou as tropas como correspondente de guerra. Após denuncias de corrupção, desvio de verbas e uma crise de abastecimento das tropas federais, os habitantes de Canudos foram derrotados depois de sete meses de combates. Antônio Conselheiro já estava morto e enterrado, em decorrência de uma crise de disenteria, quando, em 5 de outubro de 1897, o arraial se rendeu sob promessa de que a sua população não sofreria represarias. O cadáver de Conselheiro foi exumado e sua cabeça decepada com uma facada, a qual foi enviada para analise de Nina Rodrigues no Rio de Janeiro. Os sobreviventes do sexo masculino foram sumariamente executados, mulheres e criança, feitos prisioneiros, tiveram que marchar a pé até o Rio de Janeiro, onde foram liderados e entregues a própria sorte. O episódio impressionou fortemente Euclides da Cunha, que sob influencia das idéias de Spencer, passou a conceber a história como uma área do conhecimento linear, sem rupturas, voltada para um futuro industrial que iria acabar com as características rurais do Brasil. Baseado em suas observações sobre Canudos, Euclides da Cunha assimilou os ensinamentos de Spencer, remetendo a análise da realidade brasileira em Os sertões. Para ele, o episódio de Canudos representava o evolucionismo darwiniano, o sertanejo seria um aprimoramento da raça brasileira, em oposição ao negro e ao índio do litoral.
  • 32. As três primeiras expedições a Canudos teriam fracassado porque eram compostas, primordialmente, por descendentes de negros e indígenas, enquanto os mais fortes, os sertanejos teriam triunfado. O sertanejo seria forte porque é miscigenado, a miscigenação seria para Euclides da Cunha a força da nação. A mistura de raças deveria constituir uma prioridade e um projeto nacional que levaria o Brasil a alcançar a sonhada ordem e progresso positivista e republicana. Uma opinião totalmente oposta a de Nina Rodrigues, outro representante do darwinismo social no Brasil. O médico legista que analisou o crânio de Antônio Conselheiro, publicou a obra Mestiçagem, desgenescência e crime, inclusive citando o caso de Canudos como exemplo. Professor de Antropologia e psiquiatra, ele afirmava que a presença de negros e mestiços era a causa do atraso brasileiro, sendo a elite constituída naturalmente pelos brancos de origem ariana. Em termos civilizacionais, os brasileiros seriam fracos, não tendo coesão interna enquanto grupo, compondo uma sociedade patológica, doente, daí o predomínio hegemônico de outros países guiando o Brasil. Com base nesta concepção, nasceu no final do século XIX uma tendência que defendia o branqueamento da população brasileira e a marginalização de negros e mestiços. Um tipo de pensamento que causou um grande estrago na mentalidade brasileira, que encontra absurdamente ainda hoje seguidores, sobrepondo-se a proposta de Euclides da Cunha, depois retomada por Gilberto Freire na década de 1930, com a publicação deCasa Grande e Senzala. Nina Rodrigues revestiu teorias racistas de uma pseudo cientificidade, vinculando o darwinismo social com o conceito de raça, um erro teórico grosseiro, já que a coesão dos grupos não está relacionada nem sequer com etnia. A coesão grupal, na acepção pensada por Spencer envolve aspectos culturais e não raciais.
  • 33. Aliás, diga-se de passagem, o conceito de raça é atualmente considerado ultrapassado, pois estudos recentes indicaram que todos descendemos de uma Eva genética que viveu no leste da África há 150.000 anos. Trata-se uma mulher negra da qual todos os seres humanos descendem, não que houvesse apenas esta única mulher sobre a terra, mas em virtude de seus descendentes terem sido aqueles que prosperaram e sobreviveram. Educação e darwinismo social. Aplicadas a educação, as idéias de Spencer estão vinculadas como uma critica ao ensino clássico. Pelo prisma do darwinismo social, seria necessário introduzir nos currículos escolares conhecimentos uteis, entendidos como voltados à formação dos homens de negócios e a organização de uma vida dita civilizada. Para Spencer não seria possível estudar tudo que a humanidade já desenvolveu, em termos de conhecimento, tornando-se necessário estabelecer os conteúdos mais valiosos e uteis. Dentre estes estariam incluídas as verdades sobre a saúde humana, a biologia, os costumes que possibilitassem uma vida regrada, a psicologia e as ciências exatas. A idéia era formar o cidadão, o que fazia com que a sociologia fosse incluída como conhecimento útil. As artes e humanidades, tal como a literatura, deveriam ser dispensadas em favor do que Spencer considerava a verdadeira ciência. Entretanto, em concordância com a tendência dominante entre os ingleses desde o século XVII, o empirismo, junto com o ensino voltado a construção de conclusões individuais via observação e experiência, seria necessário disciplinar e moralizar. Como positivista, Spencer acreditava que os indivíduos deveriam ser doutrinados pela educação.
  • 34. A escola deveria preparar as pessoas para enfrentar a difícil concorrência com o outro, ao mesmo tempo, ensinando que só a cooperação garante a sobrevivência do grupo e, assim, dos indivíduos inseridos em grupos. O que ele chamou de organicismo, um conceito bem próximo ao desenvolvido por Durkheim, segundo o qual o funcionamento da sociedade se assemelha a um organismo vivo. Um conceito que insere Spencer entre os funcionalistas. Concluindo. A semelhança de Comte e Durkheim, Spencer queria preservar a sociedade burguesa da qual fazia parte, conservando a reprodução do sistema capitalista através da educação, o que no seu extremo acabou originando os regimes totalitariosfacistas, dentre os quais o nazismo. Porém, diferente de Comte, era contra o oferecimento de uma educação publica e gratuita custeada pelo Estado. O darwinismo social ditava que o papel do Estado deveria ser limitado, tal como defendia Adam Smith, cabendo a lei da oferta e da procura regular a sociedade, cabendo aos socialmente mais aptos procurarem oportunidades de ensino. Aos mais fracos caberia perecer, uma idéia malthusiana.
  • 35. Esta concepção reafirmava a crença nas instituições sociais como reguladoras da ordem, mas revela uma descrença no potencial humano. Para Spencer, o problema da humanidade estava na natureza defeituosa dos indivíduos, que não conseguindo se adaptar, corrompe as tradições. Para resolver esta natureza defeituosa, inerente a todo ser humano independente da etnia ou de fatores culturais, seria necessário moralizar através das instituições sociais. No entanto, embora a educação fosse uma instituição com papel importante na moralização humana, devido aos custos, não era a única escolha. Outras instituições como o poder judiciário, a policia e legislação, em concordância com a teoria funcional, deveriam auxiliar na moralização. Uma idéia que chegou ao Brasil pelas mãos de Rui Barbosa, para quem, não obstante, a educação deveria ser o principal mecanismo de disciplinar. O mesmo jurista que, quando por ocasião da abolição da escravatura, mandou queimar todos os certificados de propriedade de escravos, evitando que, futuramente, processos fossem movidos pedindo reparação dos danos aos escravizados e seus descendentes. Ele pensou o sistema educacional brasileiro enquanto formador de indivíduos aptos para o trabalho, com hábitos de consumo e poupança. Por isto introduziu nos currículos a educação moral e cívica, destinada a formar um espírito patriótico e, a reboque, maior coesão interna. Os estudos de Durkheim. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mar., Série 21/03, 2011, p.01-07. Apesar de Comte ser considerado o pai da sociologia, a participação de Émile Durkheim (1858-1917) não foi menor.
  • 36. Ele foi responsável pela introdução da área nos currículos das universidades, quando se tornou de fato uma disciplina reconhecida como cientifica. Escreveu várias obras e pesquisou temas diversos, incluindo o estudo sobre o suicídio, dentre as quais podemos destacar: Da divisão social do trabalho. As regras do método sociológico. O suicídio. Formas elementares da vida religiosa. Educação e Sociologia. Os fatos sociais. Na obra As regras do método sociológico, Durkheim definiu o objeto de estudo da sociologia como os fatos sociais. Um fato social, que não deve ser confundido com um padrão social, seria um acontecimento ou ação relevante para o funcionamento da sociedade. O fato social seria determinado pela coerção social, fazendo os indivíduos se conformarem com as regras impostas pela sociedade, independente de sua vontade.
  • 37. O grau de coerção dos fatos sociais seria determinado pelas sanções, os impedimentos que o individuo está sujeito quando tenta se rebelar contra a coerção. Neste sentido, as sanções seriam legais ou espontâneas. Sanções legais são aquelas impostas pela sociedade através das leis, colocando penalidades institucionalizadas aos infratores. Quando um indivíduo comete um ato considerado criminoso, ele nada mais faz que infringir uma regra imposta pela sociedade e transformada em lei. Sanções espontâneas são impostas pela estrutura do grupo ao qual o individuo pertence ou pela sociedade como um todo, isolando o individuo e conduzindo ao suicídio no seu extremo. Neste caso, não precisam existir nem ao menos regras explicitas de convivência, basta que fique subentendido, por exemplo, que para pertencer a determinado grupo, o individuo deve se vestir de determinada maneira. O simples fato de se vestir diferente ou não falar as mesmas gírias gera o isolamento do infrator. Portanto, o fato social é o registro do comportamento que é imposto pela coletividade, podendo ou não constituir um padrão. Embora, com o tempo, um fato social repetido constantemente conduza a formação de um padrão social. Dentro deste contexto, a educação age como elemento de coerção, tanto na variante formal como informal, internalizando e transformando regras e hábitos, interferindo na formação de padrões sociais.
  • 38. A crítica ao positivismo. Apesar de Durkheim, nos seus estudos iniciais, seja identificado como positivista; após identificar os fatos sociais, procurou definir o método de conhecimento da sociologia. Ao fazê-lo estabeleceu uma critica ao positivismo, mantendo, contudo, características muito próximas a metodologia desenvolvida por Comte. Para Durkheim, a explicação cientifica exige que o pesquisador mantenha distância e neutralidade em relação aos fatos, deixando de lado a afetividade e os valores particulares. O sociólogo deveria abraçar a objetividade em sua análise. Características que, na concepção de Durkheim, o positivismo não tinha, já que a tendência defendia um envolvimento do pesquisador com seu objeto de estudo para manipular os padrões sociais. Entretanto, semelhante ao positivismo, Durkheim reafirmou a idéia de que a metodologia sociológica deveria englobar a medição, observação e comparação. A sociologia deveria identificar os acontecimentos gerais e repetitivos relevantes para o entendimento da sociedade, ou seja, os fatos sociais. A sociedade como organismo vivo. Semelhante a Comte, Durkheim achava que a finalidade da sociologia seria encontrar soluções para os problemas verificados na vida social. Para ele, a sociedade funcionaria como um organismo vivo, apresentando estados normais (saudáveis) e patológicos (doentios).
  • 39. Diferente do positivismo, Durkheim não pensava em impor ordem à sociedade, já que a organização estrutural da sociedade seria natural, funcionando ordenadamente por si só. É neste sentido que a sociedade funciona como um organismo vivo, onde, semelhante aos órgãos, cada função social depende das outras para existir. O que faz a “consciência individual” dar lugar a “consciência coletiva” que, por sua vez, gera os padrões sociais. Esta concepção originou a Teoria Funcional, segundo a qual, funcionando a sociedade como uma máquina, as engrenagens defeituosas devem ser excluídas da sociedade, sendo substituídas por novas peças. Em outras palavras, em concordância com o sistema capitalista, o funcionalismo afirma que os indivíduos que não se encaixam devem ser excluídos da sociedade, para isto existe o sistema judiciário e penitenciário. Dentro deste contexto, Durkheim pensou em estágios de evolução social, definindo as sociedades como inferiores ou superiores. Tendo evoluído a partir da horda, a forma mais simples e igualitária de organização, a sociedade pré-capitalista teria sido organizada através da solidariedade mecânica. A dita solidariedade mecânica é constituída pela coerção exercida pela família, religião e tradição dos costumes, formando a consciência coletiva. O individuo seria compelido a se comportar em concordância com que o grupo espera dele simplesmente pela pressão exercida por aqueles próximos, evidenciando um comportamento involuntário e automático.
  • 40. A partir do desenvolvimento do capitalismo, a solidariedade mecânica teria evoluído para a solidariedade orgânica. Portanto, uma divisão do trabalho que possibilita o funcionamento da sociedade a semelhança de um organismo vivo. Através da solidariedade orgânica, interesses individuais seriam suprimidos em favor das necessidades coletivas, pois, para realizar seus interesses, ele teria que ceder às necessidades de outros. Haveria na solidariedade orgânica maior autonomia do que na mecânica, mas a própria estrutura social reduziria a consciência individual, fazendo o sujeito adotar valores de determinado grupo, anulando sua individualidade. Para Durkheim, os conflitos sociais seriam transitórios e poderiam ser resolvidos a partir do momento em que os indivíduos aceitassem ocupar sua função e seu lugar na sociedade, o que seria imposto pela solidariedade orgânica. O estudo do suicídio. Durkheim se interessou pelo tema por enxergar nas altas taxas de suicídio, registradas na Europa no final do século XIX, um amplo campo que poderia fornecer material para consolidar a sociologia como ciência. O culto a morte chegou a ser tão difundido no século XIX, glorificado na literatura pelo romantismo gótico, que o suicídio ficou conhecido como mal do século.
  • 41. Estudando a elevação da taxa de suicídio em determinados anos, Durkheim observou que o principal fator que conduzia ao ato era a solidariedade social. A solidariedade pode ser caracterizada como um sentimento de simpatia e identificação. Enquanto, por um lado, o fracasso individual conduz o sujeito a sentir que falhou com o grupo, quando sua vida perde a razão de ser; por outro, níveis de interação social muito elevados também conduzem ao suicídio. Neste ultimo caso, estes níveis de interação originam o chamado suicídio altruísta, como é o caso dos pilotos japoneses kamikazes na segunda guerra mundial, fazendo a vida do individuo, igualmente, perder sentido frente aos interesses da sociedade. O altruísmo se refere ao sentimento que um individuo dá ou outro, importando-se mais com a coletividade ou com os outros do que com ele próprio, gerando atos desinteressados de beneficio a sociedade. No entanto, segundo Durkheim, o caso mais comum de suicídio é aquele em que o sujeito não sente corresponder aquilo que o grupo espera dele, refletindo em uma sensação de exclusão social.
  • 42. Ao mesmo tempo, o suicídio poderia ser motivado pelo fato do sujeito sentir que o grupo espera seu sacrifício, neste caso a exclusão aconteceria se o suicídio não fosse efetivado, a morte é que matéria o vinculo. É o caso dos homens bomba. Assim, tanto uma ausência de integração quanto uma integração intensa poderiam gerar o suicídio. Os estudos de Durkheim inspiraram outros a continuarem o seu trabalho em torno do suicídio. Viktor Frankl, por exemplo, aprofundou a pesquisa, dando origem a logoterapia, segundo a qual somente o sentimento de que outros dependem de dado individuo pode impedir tendências suicidas. A palavra logoterapia, a partir do grego, significa terapia do mundo. Um termo em concordância com o método de Frankl para testar se seu paciente estava curado. Ele perguntava ao paciente o porquê ele se considerava curado, caso a resposta fosse de encontro a qualquer outra que não a relação de dependência e vinculo com o mundo, com outros indivíduos, o argüido não era liberado do tratamento. Concluindo. Em seus estudos, Durkheim termina admitindo que, embora a ordem seja natural, as rápidas mudanças provocadas pelo sistema capitalista, acabam gerando um estado de anomia, a ausência de norma.
  • 43. Os indivíduos ficam desorientados frente esta característica da vida moderna. Pensando na questão, afirmou que seria necessário estabelecer um sistema educacional que incentivasse a noção de disciplina, dever, respeito as leis e hierarquia. Somente assim seria possível ajudar os indivíduos a se inserirem na sociedade, estruturando a coletividade a partir da exclusão dos elementos considerados doentes socialmente. Porém, valorizando o funcionalismo, Durkheim esqueceu de avaliar o papel dos conflitos no interior da sociedade, também necessários para sua evolução, uma analise que seria iniciada por Karl A teoria técnico-funcional da educação e os estudos de Althusser. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 14/05, 2011, p.01-05. Quando pensamos a educação pelo prisma da sociologia, duas tendências de analise fornecem importante contribuição: a teoria técnico-funcional e os estudos de Althusser. São visões distintas que se complementam, pois enquanto uma se encaixa no paradigma do consenso, a outra está vinculada ao paradigma do conflito e a tendência marxista.
  • 44. A teoria técnico-funcional da educação é um desdobramento da teoria funcional de Durkheim, estando dentro, portanto, do paradigma do consenso. Já os estudos de Althusser pertencem a um conjunto teórico conhecido como neomarxismo, ambientado pelo paradigma do conflito. Ambos estabelecem criticas ao sistema educacional formalizado, explicando muitos dos problemas registrados nas escolas. A teoria técnico-funcional. O conjunto teórico técnico-funcional poderia ser definido como uma tendência que enxerga no desenvolvimento técnico um fator que altera a organização social, remetendo ao conceito funcionalista de sociedade funcionando como organismo vivo. Portanto, a sociedade seria semelhante a um organismo vivo, com papéis sociais bem definidos e necessários para o bom funcionamento da coletividade, porém, as estruturas sociais seriam definidas pelos avanças técnicos subordinados a educação. A título de exemplo, grosso modo, uma função social relacionada a uma profissão, como operador de maquinas, poderia ser eliminada por uma maquina automática que não necessitasse de ninguém para operá-la. Porém, neste caso, poderia criar outra função associada àquele que faria a manutenção da dita maquina ou que detém o conhecimento para produzi-la. No âmbito da teoria técnico-funcional da educação, do funcionalismo e do paradigma do consenso, Clark (1962) e Kerr (1960) chegaram à conclusão que a importância da educação cresce na mesma medida que o conhecimento se expande e fica mais complexo. A evolução tecnológica modifica o mercado de trabalho, exigindo da mão de obra maior qualificação educacional. Para eles, a industrialização constrói sociedades democráticas e abertas, reguladas pela educação, meio efetivo de seleção e mobilidade social, baseado no mérito e status. Segundo Collins (1971), as mudanças tecnológicas exigem mais habilidades para o trabalho, gerando maior demanda por educação, construindo sociedades baseadas no mérito. Entretanto, ele salientou que a educação não aumenta necessariamente a produtividade no mundo do trabalho, nem garante a competência.
  • 45. Outros fatores interferem no sucesso profissional, tal como o grupo étnico, o status socioeconômico, a influência da família ou a atitude. Neste sentido, segundo Collins, a educação termina funcionando como critério de seleção, mas não fornece apoio real ao sucesso individual baseado no mérito. Em outras palavras, o individuo precisa atingir determinado nível educacional para ingressar no mercado de trabalho, mas o fato de possuir o diploma ou mesmo o conhecimento não garante seu sucesso profissional. Contrariando de certa forma a opinião de Collins, Blau e Duncan (1967), consideram o sucesso como sendo fortemente influenciado pelas origens familiares. No entanto, este fator não seria inteiramente responsável pelo sucesso profissional, pois dependeria, além da educação ligada ao âmbito escolar e familiar, também da experiência. Um indivíduo sem acesso a educação escolarizada, oriundo de uma família humilde, buscando se aprimorar empiricamente, poderia atingir um alto grau de sucesso no mundo do trabalho. É o caso de autodidatas como o empresário Silvio Santos ou o ex-vice-presidente da República José de Alencar. Porém, estudando as origens familiares de profissionais bem sucedidos, Karabel e Halsey (1978) não encontraram correlação entre sucesso e influencia da família, estabelecendo uma critica as afirmações de Collins, Blau e Duncan. Para Karabel e Halsey, a partir de um estudo tendo como objeto soldados enviados a guerra do Vietnã, a escola seria essencial para conferir mérito profissional, tornando os indivíduos com maior grau de escolarização, melhor vistos pela sociedade e predispostos a serem reconhecidos como bem sucedidos na vida.
  • 46. Hurn (1978) reexaminou a questão e chegou a uma conclusão diferente. Para ele, apesar da origem familiar não garantir o sucesso, a escola também não garante mobilidade social, já que reproduz o nível de status do qual o individuo é originário. Quando um indivíduo tem acesso a determinados níveis educacionais, ele só o tem graças a sua origem social. Por outro lado, Folger e Nam (1964), comprovaram que, embora a escolaridade não garanta o sucesso profissional, garante maiores salários, comparativamente quando existe ausência de escolarização. Os estudos de Althusser. Louis Althusser (1918-1990), filosofo francês, uniu o marxismo com o estruturalismo, chegando a ser considerado um dos maiores representantes desta ultima tendência ao lado de Foucault e Lacan. O autor pertence ao conjunto teórico conhecido como neomarximo, fazendo uso da dialética e do materialismo histórico, juntamente com outras bases teóricas. Acabando por constituir um ecletismo que, muitas vezes, ao invés de rejeitar o capitalismo, parece querer aprimorá-lo. Em todo caso, Althusser foi membro do Partido Comunista francês, filiado em 1948, além de professor da ÉcoleNormaleSupérieure. Em 1980, ele teve um surto psicótico e estrangulou a esposa, não sendo condenado pelo assassinato. A justiça o considerou inimputável, não responsável pelo ato em virtude do surto. Apesar de passar a não ser bem visto pelos colegas acadêmicos, cinco anos depois escreveu a obra“L´avenir dure longtemps”, onde refletiu sobre o fato e procurou justificar o ato. Como Althusser faz largo uso do estruturalismo, antes de prosseguir é interessante explicar a tendência.
  • 47. O termo estruturalismo surgiu no curso de lingüística geral, ministrado pelo francês Ferdinand Saussure, em 1916. Conceitualmente pode ser definido como um método de estudos que propõem analisar sistemas, portanto, estruturas, como base da língua e da cultura. A cultura e a língua seriam definidas segundo um conjunto de significados contextualizados em um espaço e tempo, influenciando a estrutura sócio-cultural e padronizando comportamentos. Dentro deste contexto, a preocupação central de Althusser é tentar entender a estrutura do sistema capitalista. Mais especificamente, tenta entender como as condições de produção, no âmbito capitalista, conseguem se reproduzir, já que o sistema seria injusto e prejudicial à maioria. Pensando na questão, o autor chegou à conclusão que a dinâmica de trabalho, assegurada pelo salário, seria o principal fator a reproduzir o sistema, comprando a lealdade do individuo para com a ideologia capitalista. Para sobreviver, o individuo precisa de capital, sendo necessário abrir mão de suas convicções pessoais para conseguir seu salário, essencial a sobrevivência no mundo capitalista. Superestrutura, Infraestrutura e Aparelhos de Estado. Para garantir a subordinação do individuo ao sistema capitalista, segundo Althusser, existiria uma relação recíproca entre superestrutura e infraestrutura. A superestrutura constitui o conjunto de estruturas ou instituições e sua inter-relação e dependência. Onde, por exemplo, o judiciário depende da polícia e ambos do sistema carcerário para efetivar suas funções. A infraestrutura compõe as condições materiais, as instituições em si, que garantem o funcionamento da sociedade. O Estado, como parte da superestrutura faria uso de infraestruturas especificas para exercer controle sobre a massa, usando os seguintes elementos: 1. Aparelhos de Estado, composto pelo gerenciamento dos demais parelhos, tal como governo, administração publica, etc. 2. Aparelhos Ideológicos de Estado, os meios que são usados para exercer controle ideológico, vender ou impor idéias, através de instituições como igreja, escolas, sindicatos, meios de comunicação e até livros didáticos; mascarando a realidade e impondo a vontade das elites.
  • 48. 3. Aparelhos Repressivos de Estado, instituições que exercem domínio por meio da violência, tal como policia, tribunais, prisões, forças armadas; segregando aqueles que não aceitam as idéias impostas pelas elites. Pensando nestes três elementos, Althusser defendeu a tese de que o mais eficiente e utilizado pelas elites dominantes é o conjunto de Aparelhos Ideológicos, do qual a escola faz parte. Embora no período pré-capitalista a igreja tenha sido de fundamental importância para exercer controle sobre a massa, a evolução do capitalismo tornou a escola um instrumento de reprodução do sistema. A função da escola seria assegurar à existência e sobrevivência do capitalismo, condicionando os indivíduos a submissão, beneficiando uma minoria. Daí o sistema ter criado mecanismo que exigem a escolarização e que torna a educação formalizada obrigatória. O controle dos Aparelhos de Estado pela elite termina garantindo que o grupo controle também os Aparelhos Ideológicos e Repressivos, criando uma harmonia entre ambos. Diante deste cenário, Althusser não conseguiu enxergar na escola uma via de modificação das infraestruturas e da superestrutura. Chegou até mesmo a negar a possibilidade de mudança, sem, entretanto, apontar uma saída para o problema. Um ponto de seu trabalho visto pelos críticos como uma grande debilidade. Além disto, apesar de sua postura anticapitalista, sendo Althusser considerado por alguns como um marxista e não um neomarxista, devido a sua vinculação com o estruturalismo, ele foi acusado de idealista. Outro marxista, Caio Prado Jr., por exemplo, afirmou que Althusser ficava apenas teorizando de forma subjetiva, que suas teorias só eram aplicáveis no mundo das idéias e não serviam para nada. Destarte, hoje, as idéias de Althusser são essenciais para entender a escola, servindo de suporte a inúmeras outras teorias. Concluindo.
  • 49. Enquanto a teoria técnico-funcional da educação discutiu o mérito da escola no sucesso dos indivíduos dentro do sistema capitalista. Althusser tentou desmontar a estrutura do sistema capitalista, demonstrando como a educação está a serviço da reprodução social, mantendo a ordem estabelecida. Contrapondo as duas tendências, podemos observar que nem sempre a escola garante possibilidades de mobilidade social, já que toda sua estrutura é pensada para ordenar a sociedade. Porém, a questão é mais complexa, o que fez outros autores a retomarem a discussão, tal como Bourdieu, Passeron, Bowles e Gintis. Uma coisa é certa, o acesso a educação formalizada de fato não garante o sucesso individual em uma sociedade consumista, sendo a própria escola um produto a ser consumido. No entanto, sem acesso a educação de qualidade, as pessoas têm sua potencialidade de desenvolvimento diminuída. Ruim com a escola, pior ainda sem ela. A questão do poder disciplinar em Foucault. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume mai., Série 17/05, 2011, p.01-06. O presente trabalho pretende fazer uma breve análise sobre a teoria do poder disciplinar presente no livro “Vigiar e Punir” de Michel Foucault. O filósofo francês nos trás de forma polêmica e inovadora o nascimento de uma nova forma de poder coercitivo que fora o poder disciplinar que surgiu no Ocidente no século XVIII. De acordo com a teoria de Foucault, esta forma de poder nasce a partir de uma nova concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano predominante nos regimes absolutistas da Europa.
  • 50. A nova sociedade, filha das revoluções liberais, governada pela ideologia burguesa, vê o poder disciplinar como a forma mais cabível e eficaz de garantir a ordem, substituindo os suplícios e espetáculos de execução pública. A teoria de Foucault sobre o poder. A proposta filosófica de Michel Foucault é com certeza revolucionária e original, tendo como objeto de estudo o poder e suas formas de manifestação. Este filósofo de nosso tempo concebe o poder não de maneira vertical ou mesmo maniqueísta em uma dialética entre “opressores” ou aqueles que exercem o poder e “oprimidos” aqueles que sofrem com a coerção do mesmo. A polêmica teoria sobre o poder proposta por Foucault torna-se original, pois para o filósofo, não existe uma teoria geral ou mesmo axiomática do poder, suas análises não o consideram a realidade com característica universal. De acordo com Roberto Machado, para Foucault não existe algo unitário ou global que chamamos de poder, mas sim, formas díspares, heterogêneas em constante transformação, o poder é uma prática social e, como tal, constituída historicamente, logo, as práticas ou manifestações de poder variam em cada época ou sociedade. Para Foucalt toda teoria é provisória, acidental e dependente do estado de desenvolvimento da pesquisa, aceitando seus limites. Poderíamos entender que as teorias propostas anteriormente sobre o exercício do poder não são falsas ou errôneas, mas deram conta de explicar a sociedade de seu tempo. O próprio filósofo aceita que suas teorias também são provisórias e possíveis de serem refutadas ou mesmo derrubadas. Segundo Foucault, o poder não emana unicamente do sujeito, mas de uma rede de relações de poder que formam o sujeito, dentre outros elementos, tal como o discurso, a arquitetura ou mesmo a própria arte. O poder é concebido como uma rede, não nasce por si só, mas de relações sociais. Outro aspecto inovador da teoria de Foucault é observar este mesmo poder como algo muitas vezes positivo, inerente a natureza humana, manifestado em pequenas coisas, através de pequenos dispositivos. Em seu livro “Vigiar e Punir”, que trata sobre o nascimento da prisão e outras instituições disciplinares, o filósofo discorre de forma minuciosa e instigante sobre a questão do poder disciplinar. Na terceira parte de sua obra, Foucault explica que a partir dos séculos XVII e XVIII o poder foi exercido através de dispositivos disciplinares, o Estado ou mesmo a sociedade se utilizou do corpo, da vigilância e do adestramento para garantir a obediência e disciplinar os indivíduos.
  • 51. O desaparecimento dos suplícios e a disciplina sobre o corpo. Foucault analisa e discute uma profunda metamorfose quanto à forma de punição e condenação dos presos e criminosos na Europa. Anteriormente, o espetáculo de execução publica de condenados a morte era utilizado como instrumentos disciplinar. A execução em praça pública, desde a Idade Média, com os Atos de Fé da Inquisição, gerava nos expectadores não somente o terror, mas também o medo de cometer algum tipo de crime contra a fé. Tais formas de punição estão estreitamente ligadas ao chamado poder de soberania que consiste no exercício do poder de um governante sobre um território. Modelo comum aos déspotas e monarcas da Europa entre os séculos XV a XVIII. O poder era, portanto, exercido e representado através dos suplícios, da força e da violência. Aos poucos, esta forma de condenação desapareceu cedendo espaço a uma nova forma de punição. Uma nova concepção filosófica, a partir do iluminismo e das revoluções liberais, bem como as novas teorias sobre o direito, fizeram a morte em público começar despertar terror e repúdio na população. O que levou a novas formas de condenação, o espetáculo da execução passou a ser condenado pela grande parte da sociedade. O novo modelo disciplinar de punição do criminoso consistia em não tocar ou aproximar-se do corpo do individuo. Obviamente, algumas práticas ainda persistiram como o uso do chicote ou do cassetete. A condenação dos indivíduos passou a se dar de forma mais velada e sutil. A violência não foi assumida como carro chefe da justiça, porém utilizada em último caso de forma decorosa e indesejável. O poder de soberania cedeu espaço ao chamado poder disciplinar. Discorrendo sobre a questão do poder disciplinar, Foucault identificou o corpo como objeto e alvo de poder. Citou o exemplo do soldado que reflete sua disciplina através de sua postura e do próprio corpo, como percebemos no fragmento abaixo: O poder sobre o corpo, por outro lado, tampouco deixou de existir totalmente ate meados do século XIX. Sem dúvida, a pena não mais se centralizava no suplicio como técnica de sofrimento; tomou como objeto a perda de um bem ou de um direito. Porem castigos como trabalhos forçados ou prisão - privação pura e simples da liberdade – nunca funcionaram sem certos complementos punitivos referentes ao corpo: redução alimentar, privação sexual, expiação física, masmorra. Conseqüências não
  • 52. tencionadasmas inevitáveis da própria prisão? Na realidade, a prisão, nos seus dispositivos mais explícitos, sempre aplicou certas medidas de sofrimento físico. A critica ao sistema penitenciário, na primeira metade do século XIX (a prisão não e bastante punitiva: em suma, os detentos tem menos fome, menos frio e privações que muitos pobres ou operários), indica um postulado que jamais foi efetivamente levantado: e justo que o condenado sofra mais que os outros homens? A pena se dissocia totalmente de um complemento de dor física. Que seria então um castigo incorporai? Permanece, por conseguinte, um fundo "suplicante" nos modernos mecanismos da justiça criminal - fundo que não esta inteiramente sob controle, mas envolvido, cada vez mais amplamente, por uma penalidade do incorporal.(FOUCAULT, 2004, p.18) Nos perguntemos qual seria o objetivo de se disciplinar o corpo? Foucault responde ao tratar dos chamados corpos dóceis. A disciplina sobre o corpo tem por finalidade produzir indivíduos dóceis e submissos a determinados sistemas, ao mesmo tempo, estes devem oferecer uma mão-de-obra de qualidade que ajude o desenvolvimento econômico da sociedade. A disciplina tem seu aspecto político ao produzir indivíduos submissos ao poder do Estado, garantindo o “equilíbrio” e a “ordem”. O poder e a disciplina sobre o corpo possibilitam o funcionamento de instituições e grupos sociais. Desta forma, Foucault nos mostra que o corpo passa a ser considerado um objeto possível do controle disciplinar. A nova organização política e social, exige também novas formas de disciplina. A experiência decorrente dos movimentos de revolução ocorridos na Europa, demonstrou que o exercício do poder através da violência se tornou ineficaz. O controle sobre o corpo e sobre o modo de vida dos indivíduos, de forma sutil, evitava possíveis levantes e protestos, mostrando-se mais eficiente. A organização do espaço Outro aspecto do poder disciplinar se relaciona também com o espaço através das disposições e organizações do mesmo.
  • 53. Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar é exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a presença do poder maior coercitivo. A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos. Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a disciplina e a submissão dos indivíduos. O novo modelo de construção utilizado nas prisões acabou servindo para outras instituições que pretendiam obter a disciplina e obediência como foi o caso das fábricas, a começar pela Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no século XIX. De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de forma circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a confecção de produtos. Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento da produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos ou indisciplina. A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros. Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a vigilância dos diversos indivíduos ali presentes. O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais iluministas e das revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa a sociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva, substituindo os suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam a ser centrais na organização social. A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando - o a margem da sociedade. A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o corpo. O controle do tempo Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de tempo bem como a sua organização. A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se do tempo como um de seus mecanismos de controle. A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas atividades como refeições e trabalho. Oração com horários bem delimitados e previamente determinados.
  • 54. Tais horários são anunciadas por algum tipo de sinal sonoro, desta forma os indivíduos voltam suas mentes para as atividades impostas pela instituição da qual estão ligados. O controle de todas as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar, evitava qualquer tipo de organização ou mesmo de um pensamento rebelde. Uma vez que o foco eram as tarefas a serem realizadas. A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma, os indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o que inibia levantes. A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando - se de outras formas de castigo, como a chamada solitária. Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da atividade sexual, o indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão psicológica. A prisão nada mais é do que um local de privações, a perda da liberdade e do direito de ir e vir tornam-se agora os maiores receios da sociedade. Concluindo. A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o exercício deste poder se deu através de diversos dispositivos e elementos que elencamos. Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre o indivíduos e suas necessidades biológicas. Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe, contribuindo para o equilíbrio e a ordem. O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da privação dos direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um determinado grupo social.
  • 55. Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta forma de poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas de punição que castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica. Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu adestramento, evitando atitudes de rebeldia. Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão presentes em nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas que ainda garantem a ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da sociedade ocidental contemporânea. Através da disposição dos objetos e estrutura dos prédios, o poder disciplinar é exercido através da observação vigilante e a sensação de estar sempre sob a presença do poder maior coercitivo. A prisão não mais será um ambiente escuro e sombrio, mas sim um espaço iluminado que possibilite a vigilância da vida e das atitudes dos detentos. Um simples olhar ou mesmo a vigilância sobre os presos garantem a disciplina e a submissão dos indivíduos. O novo modelo de construção utilizado nas prisões acabou servindo para outras instituições que pretendiam obter a disciplina e obediência como foi o caso das fábricas, a começar pela Inglaterra no século XVIII estendendo-se pela Europa no século XIX. De acordo com Michele Perrot, o espaço de produção era organizado de forma circular, no centro situava-se, geralmente, as peças ou a matéria prima para a confecção de produtos. Desta forma, o indivíduo que tivesse a responsabilidade de cuidar do andamento da produção poderia ver todos os operários a sua volta, evitando possíveis furtos o u indisciplina. A dinâmica do novo modelo de organização espacial, como já fora dito, foi estendida outras instituições e espaços, como escolas, hospitais, dentre outros. Os espaços fechados eram, ao mesmo tempo, arejados e amplos, permitindo a vigilância dos diversos indivíduos ali presentes. O nascimento de uma nova sociedade, a partir dos ideais iluministas e das revoluções burguesas, a privação da liberdade que se tornara tão preciosa
  • 56. asociedade contemporânea, tornou-se uma forma de punição mais incisiva, substituindo os suplícios, uma vez que os direitos do homem e do cidadão passam a ser centrais na organização social. A detenção em prisões priva o indivíduo da liberdade e de seus direitos colocando - o a margem da sociedade. A punição, novamente, se daria sem o recurso da violência contra o corpo. O controle do tempo Assim como o espaço será determinante para a formação de uma sociedade disciplinar, outro aspecto analisado por Foucault será a nova concepção de tempo bem como a sua organização. A nova sociedade regida pelo poder disciplinar utiliza-se do tempo como um de seus mecanismos de controle. A começar novamente pelo exemplo dos presídios, em um modo de vida quase monástico, todas as horas do dia dos detentos são preenchidas com diversas atividades como refeições e trabalho. Oração com horários bem delimitados e previamente determinados. Tais horários são anunciadas por algum tipo de sinal sonoro, desta forma os indivíduos voltam suas mentes para as atividades impostas pela instituição da qual estão ligados. O controle de todas as horas do dia, enquanto dispositivo do poder disciplinar, evitava qualquer tipo de organização ou mesmo de um pensamento rebelde. Uma vez que o foco eram as tarefas a serem realizadas. A possibilidade de uma ação de resistência deste modo é coibida, da mesma forma, os indivíduos que estiverem em tal situação estavam sob constante vigilância, o que inibia levantes. A vigilância por seu turno é acompanhada de rigorosas punições, o que exerce o medo sobre o indivíduo, na maioria das vezes sem o apelo da violência, utilizando- se de outras formas de castigo, como a chamada solitária. Isolando o indivíduo dos outros, além da diminuição da alimentação ou da atividade sexual, o indivíduo é conduzido a momentos de forte pressão psicológica. A prisão nada mais é do que um local de privações, a perda da liberdade e do direito de ir e vir tornam-se agora os maiores receios da sociedade. Concluindo.
  • 57. A partir das teorias sobre o poder disciplinar de Foucault, percebemos como o exercício deste poder se deu através de diversos dispositivos e elementos que elencamos. Primeiramente, o poder sobre o corpo representou o controle sobre o indivíduos e suas necessidades biológicas. Uma vez adestrado, este será útil e submisso ao sistema que se impõe, contribuindo para o equilíbrio e a ordem. O aspecto da construção se mostrou como forma de punição eficaz através da privação dos direitos de liberdade, bem como o ir e vir, excluindo o sujeito de um determinado grupo social. Estendendo-se para outros espaços que não necessariamente pretendem punir, esta forma de poder também se manifesta através da vigilância e eminência de formas de punição que castigam o corpo não de forma física, mas psicológica e biológica. Por fim, o controle do tempo garante a disciplina dos indivíduos e seu adestramento, evitando atitudes de rebeldia. Tais dispositivos essenciais para o funcionamento do poder disciplinar estão presentes em nossa sociedade até os nossos dias, muitas vezes de forma sutil, mas que ainda garantem a ordem e a manutenção do meticuloso funcionamento da sociedade ocidental contemporânea. História e identidades: uma filosofia sobre a representação das diversidades. Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 1, Volume set., Série 12/09, 2010, p.01-07. A questão das identidades, o modo como os indivíduos e grupos enxergam a si mesmos, constroem referenciais culturais e defendem seus valores, criando espaços de negociação com outros grupos ou sustentando conflitos, é hoje uma discussão essencial.
  • 58. Em um cenário em que a globalização massificou o acesso à informação, padronizando comportamentos e referenciais, a conscientização acerca do convívio com as diferenças, paradoxalmente, adquiriu uma importância impar. A razão é obvia, diante dos antagonismos, a diversidade saltou aos olhos, os mais diferentes grupos voltaram seu olhar para si mesmos tentando manter viva, entre outras, a identidade étnica ou regional. Por outro lado, a integração econômica, no âmbito do capitalismo neoliberal, fomentou a necessidade de conhecer o outro, entender seus anseios e desejos, o que passa pelo estudo das identidades. Esta preocupação não é nova, desde o século XVII, a filosofia discuti o tema, enquanto o século XIX trouxe a temática para o campo de estudo de ciências nascentes como a psicologia, a sociologia e a antropologia. Posteriormente, a interdisciplinaridade dos estudos culturais, nas ciências humanas e sociais, questionou a formação das identidades. Foi quando lingüistas e teóricos da comunicação somaram esforços, abordando o tema através de uma infinidade de métodos de análise, cunhando uma enorme gama de significados, fragmentando as pesquisas em volta da identidade nacional, étnica e social. Entretanto, a preocupação com as identidades é relativamente recente para os historiadores. A temática veio à tona somente no final do século XX, com o surgimento dos debates sobre a pós-modernidade e o multiculturalismo. Para a história existe uma vinculação estreita entre as identidades e a memória que os grupos mantêm de si mesmos. Segundo André Lalande, a memória seria uma reminiscência do passado, uma leitura feita a partir daquilo que é almejado como tendo sido e não como realmente foi, espelhando uma