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INTRODUÇÃO
                                              HEBREUS
        Autoria
        Durante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tra-
      tado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora
      a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro
      século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”.
        A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores
      para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Com
      a Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e
      com as grandiosas descobertas bíblico-arqueológicas, ocorridas especialmente nos séculos XIX e
      XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério,
      que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra.
        Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse
      assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos
      hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar-
      se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores
      propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal
      Áquila e Priscila.
        Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena
      autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi
      um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento.
      Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos
      Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo,
      com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito
      Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para a
      grande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4).
        Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos.
      Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem
      eloqüente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu
      convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e
      intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra
      evangelística em Corinto (1Co 1.12; 3.4-22).

        Propósitos
        Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compre-
      ender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada
      especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24;
      Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico.
      Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a
      mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7).
        O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes
      da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos
      pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a
      suprema revelação de Deus (1.1-3).
        Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultra-
      passando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo
      Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente
      cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por cau-
      sa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior
      aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo
      vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também ser




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designada como “O Livro do Melhor”, na medida em que as expressões que significam “melhor” e
       “superior” aparecem mais de 15 vezes no texto original dessa obra.
         O sacerdócio de Cristo, semelhante a Melquisedeque (Sl 110.4) – o sacerdote eterno e ilustração do
       Messias, é melhor do que o arônico, e superior a toda geração dos levitas, pois a vida do Cristo é indes-
       trutível e perene. Jesus é o único que ao mesmo tempo é o Sacerdote, que é a própria Oferta sacrificial,
       e seu sangue valida todo o Novo Testamento que é o “Pacto” final e eterno (4.14 – 10.18).
         Os crentes são movidos pela comunhão restabelecida com Deus Pai em Cristo Jesus, e pela fé
       presente, conscientes das bênçãos infinitas que os aguardam no futuro (10.19 –12.29). A Cruz do
       Senhor como o grande altar do cristão, e a ressurreição do Sacerdote, perfazem a base jurídica da
       ação salvadora e redentiva de Deus (13.1-25).

         Data da primeira publicação
         Os mais atuais e consistentes estudos históricos e arqueológicos sobre a datação de Hebreus
       apontam para alguma época, no ano 70 de nossa era, imediatamente anterior ao massacre e
       destruição da cidade de Jerusalém, pelos exércitos romanos comandados por Tito. As principais
       justificativas, neste sentido, levam em consideração que, se essa carta tivesse sido escrita após esta
       data, com toda a certeza, o autor teria mencionado ou feito alguma alusão a uma das mais sangui-
       nárias chacinas ocorridas em Jerusalém, em toda a história da humanidade, envolvendo a completa
       destruição do suntuoso templo e do próprio sistema sacrificial judaico. Por outro lado, o autor ao
       escrever os originais em grego, emprega sistematicamente o tempo verbal presente quando fala
       sobre o templo e se refere às atividades sacerdotais praticadas antes da invasão romana e jamais
       retomadas até nossos dias (5.1-3; 7.23,27; 8.3-5; 9.6-25; 10.1-11; 13.10,11).

         Esboço geral de Hebreus
            1. A superioridade universal e infinita de Jesus, o Cristo (1.1 – 4.16)
               A. Jesus é incomparavelmente superior a todos os profetas (1.1-4)
               B. Jesus é superior a todos os seres angelicais (1.5-14)
               C. Jesus é superior ao mediador do AT: Moisés (3.1-6)
               D. Jesus Cristo, o filho de Deus, é o alvo maior da fé (3.7 –4.16)
            2. A superioridade inquestionável do sacerdócio do Senhor (5.1 – 10.39)
               A. A superioridade das qualificações do Senhor Jesus (5.1-10)
               B. Sermão repetitivo para os tardios de entendimento (5.11 – 6.20)
               C. Jesus é superior em sua própria Ordem Sacerdotal (7.1 – 8.13)
                  a) Melquisedeque como ilustração do Messias (7.1-3)
                  b) A superioridade do Sacerdote eterno (7.4 – 8.13)
               D. Jesus é superior por causa de sua obra vicária (9.1 – 10.18)
               E. Outro rápido sermão de chamamento à fé (10.19-39)
            3. A superioridade da pessoa e do poder de Jesus Cristo (11.1 – 13.19)
               A. Todo poder é outorgado aos sinceros crentes no Senhor (11.1-40)
               B. O poder da fé no dia-a-dia dos cristãos e da Igreja (12.1-29)
               C. O infinito e superior poder do amor leal de Cristo (13.1-19)
            4. Saudações e bênção final (13.20-25)




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HEBREUS
      Deus revelou-se em Jesus Cristo                                       hoje te gerei”? E outra vez: “Eu lhe serei
                                                                            Pai, e Ele me será Filho”? 4
      1   Havendo Deus, desde a antigüida-
          de, falado, em várias ocasiões e de
      muitas formas, aos nossos pais, por
                                                                            6 E uma vez mais, quando Deus intro-
                                                                            duz o Primogênito no mundo, declara:
      intermédio dos profetas,1                                             “Todos os anjos de Deus o adorem”.5
      2 nestes últimos tempos, nos falou                                    7 Quanto aos anjos, Ele afi rma: “Ele faz
      mediante seu Filho, a quem constituiu                                 dos seus anjos ventos, e dos seus servos,
      herdeiro de tudo o que existe e por meio                              labaredas de fogo”.6
      de quem criou o Universo.                                             8 Entretanto, a respeito do Filho, revela:
      3 Ele, que é o resplendor da glória e a                               “O teu trono, ó Deus, subsiste por toda
      expressão exata do seu Ser, sustentando                               a eternidade; e o cetro do teu Reino é
      tudo o que há pela Palavra do seu poder.                              bastão da justiça.
      Depois de haver realizado a purificação                                9 Amas o direito e odeias a iniqüidade;
      dos pecados, Ele se assentou à direita da                             por este motivo, Deus, o teu Deus, te esco-
      Majestade nas alturas,2                                               lheu e ungiu com óleo de alegria, como a
      4 tornando-se tão superior aos anjos                                  nenhum dos teus companheiros”.
      quanto o Nome que herdou é ainda                                      10 E acrescenta: “Tu, Senhor, no prin-
      mais excelente do que eles.3                                          cípio estabeleceste os fundamentos da
                                                                            terra, e os céus são obras das tuas mãos.
      O Filho é exaltado acima dos anjos                                    11 Eles perecerão, mas tu permanecerás;
      5 Porquanto, a qual dos anjos Deus algu-                              envelhecerão como vestimentas,
      ma vez afirmou: “Tu és meu Filho; Eu                                   12 e como um manto tu os enrolarás, e




         1 A “antigüidade” é um termo que indica a era anterior à primeira vinda de Jesus Cristo, em contraste com “nestes últimos dias” (v.2),
      que se referem à era messiânica (ou período escatológico) inaugurada com a encarnação do Senhor (At 2.17; 1Tm 4.1; Jo 2.18). A ex-
      pressão “Deus falou” é mais uma confirmação de que seu Espírito Santo é o supremo autor-inspirador dos escritores do AT e do NT.
         2 Jesus Cristo, o Filho primogênito de Deus, é o herdeiro de todo o Universo e da eternidade (Ef 1.20-23; Rm 8.17). Cristo é
      a Palavra, o agente da Criação (Jo 1.1-3; Cl 16.3). Ele é o resplendor da glória de Deus; assim como a luz do sol não pode se
      separar do próprio sol, semelhantemente, o esplendor do Filho é inseparável da deidade, porquanto ele mesmo é Deus, como
      segunda pessoa da Trindade (Jo 1.5-18). Jesus não é uma simples imagem ou anjo de Deus, mas a materialização exata da
      pessoa de Deus (Jo 14.9; Cl 1.15). Cristo não pode ser comparado a qualquer outro deus, como imaginavam os gregos em
      relação a Atlas, que, segundo a mitologia, tinha o poder de carregar o mundo nas costas. O Filho de Deus mantém sob seu
      controle todo o macro e micro universo (Cl 1.17). Somente podia sentar-se ao lado direito do rei alguém por ele determinado e
      investido da sua autoridade, pois esse ato normalmente indicava o seu sucessor ao trono, tradicionalmente seu filho escolhido. Ao
      ser conduzido à direita do Pai, Jesus Cristo completou a obra da redenção, e hoje governa ativamente com Deus, como Senhor
      absoluto do Universo (v.13; 8.1; 10.12; 12.2; Ef 1.20; Cl 3.1; 1Pe 3.22; Mc 16.19).
         3 A maioria dos hebreus (povo semita do AT que deu origem aos judeus) acreditava que os anjos eram seres celestiais e
      exaltados, que deviam ser reverenciados por terem participado da entrega da Lei de Deus ao povo no monte Sinai (2.2); sendo
      essa Lei a suprema revelação de Deus para os judeus. Vários textos antigos, descobertos no monte Qunram e conhecidos
      como os Rolos do Mar Morto, revelam a expectativa de muitos hebreus de que o arcanjo Miguel seria o grande líder do reino
      messiânico e, nesse caso, alguns anjos ocupariam uma posição acima de Cristo. O escritor desse livro contesta veementemente
      essa possibilidade, lembrando aos seus leitores, entre outras coisas, o fato de que o nome, para a cultura judaica, comunica o
      caráter completo da pessoa. Portanto, o trecho que se segue nos revela que esse Nome era “Filho”, nome que deve ser adorado
      por todo o Universo, o qual nenhum anjo pode ostentar (Gn 17.5; vv.5-14).
         4 O Sl 2.7 é citado também em At 13.33, demonstrando o cumprimento perfeito da vontade de Deus na ressurreição do seu
      Filho, Jesus (Lc 1.32,33; Rm 1.4; 2Sm 7.14).
         5 Os próprios anjos declaram que Jesus Cristo é o Senhor e o adoram (Dt 32.43 – de acordo com a Septuaginta e os Rolos do
      Mar Morto – Cl 1.15; Sl 97.7). Essas declarações, que no AT se referem a Yahweh (o nome impronunciável de Deus no AT), aqui
      são aplicadas a Cristo, o que se constitui em mais uma indicação clara da sua absoluta divindade.
         6 O autor de Hebreus cita a Septuaginta (tradução grega do AT), por ser a tradução das Escrituras que a geração dos judeus
      de sua época mais conhecia, pois muitos palestinos já não sabiam ler o hebraico antigo (Sl 104.4).




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5                                              HEBREUS 1, 2

       como roupas serão trocados; mas, Tu és                                de sinais, Deus testemunhou feitos por-
       imutável, e os teus dias não terão fim”.7                              tentosos, diversos milagres e dons do
       13 Ora, a qual dos anjos Deus alguma vez                              Espírito Santo, distribuídos conforme
       declarou: “Senta-te à minha direita, até                              a sua vontade.4
       que Eu faça dos teus inimigos um estra-                               5 Porquanto, não foi aos anjos que Deus
       do para os teus pés”?                                                 sujeitou o mundo vindouro, a respeito
       14 Não são todos os anjos, espíritos                                  do qual estamos falando.5
       ministradores, enviados para servir em
       benefício dos que herdarão a salvação?8                               Cristo é feito à nossa semelhança
                                                                             6 No entanto, alguém em certa passa-
       Jamais negligenciar a salvação                                        gem testemunhou, afi rmando: “Que é

       2   Por isso, é fundamental prestarmos
           atenção, mais ainda, às verdades que
       temos ouvido, para que jamais nos des-
                                                                             o homem, para que com ele te impor-
                                                                             tes? E o fi lho de Adão, para que venhas
                                                                             visitá-lo?
       viemos delas.1                                                        7 Tu o fi zeste um pouco menor do que os
       2 Pois, se a mensagem proferida por                                   anjos e o coroaste de glória e de honra;
       anjos provou sua firmeza, e toda trans-                                8 tudo sujeitaste debaixo dos seus pés”.
       gressão e desobediência recebeu a devi-                               E ao sujeitar-lhe todo o Universo, nada
       da punição,2                                                          deixou que não lhe fosse sujeito; contu-
       3 como nos livraremos se desconsiderar-                               do, hoje, ainda não vemos que todas as
       mos tão grande salvação? Esta salvação,                               coisas estejam submissas a ele;6
       tendo sido proclamada pelo Senhor, foi                                9 observamos, no entanto, aquele que
       depois confirmada a nós pelos que a                                    por um momento foi feito menor do
       ouviram.3                                                             que os anjos, Jesus, coroado de honra e
       4 E, juntamente com eles, por intermédio                              de glória por ter sofrido a morte, para



         7 O autor cita mais algumas passagens do AT que sugerem a divindade do Rei messiânico e davídico, reafirmando a superiori-
       dade de Jesus, o Filho de Deus, sobre todos os anjos (Sl 45.6,7; 102.25-27).
         8 O autor de Hebreus faz questão de aplicar os textos do AT dirigidos a Yahweh (Iavé) à pessoa de Jesus Cristo, o Filho. O
       Salmo 110 é citado várias vezes, sempre aplicado a Jesus (3.13; 5.6,10; 6.20; 7.3-21; 8.1; 10.12,13; 12.2). O autor destaca: Cristo,
       o Filho de Deus, reina; os anjos ministram como missionários celestes, enviados para servir aos escolhidos.
         Capítulo 2
         1 A expressão grega original, aqui traduzida pela palavra “desviemos”, tem o sentido literal de: “sermos levados por uma forte
       correnteza”.
         2 O autor de Hebreus refere-se à participação dos anjos na entrega da Lei a Moisés no Sinai (Dt 33.2 – “miríades de santos”
       – Sl 68.17; At 7.38,53; Gl 3.19).
         3 Os cristãos hebreus, principais destinatários deste livro, estavam negligenciando a comunhão da Igreja (koinonia) e dos
       cultos (10.25), por acreditarem que Jesus estava demorando muito para retornar. O autor de Hebreus afirma que as testemunhas
       oculares, sobretudo os apóstolos, foram os primeiros a confirmar a Mensagem proclamada por Cristo (2Pe 1.16; 1Jo 1.1). Ele,
       entretanto, não reivindica alguma revelação direta do Senhor. Mas defende a nossa Salvação em Jesus Cristo, o Filho Unigênito
       de Deus, com raro entusiasmo e conhecimento cristológico das Escrituras.
         4 Deus fez questão de confirmar a chegada do Evangelho e seu Reino por meio de atos sobrenaturais e prodigiosos, como a
       cura de milhares de enfermos (At 3.7-16) e a distribuição de diversos dons espirituais, em benefício ao seu Corpo (a Igreja), de
       acordo com seus planos e propósitos (1Co 12.4-11).
         5 O autor de Hebreus faz uma exposição cristológica do Salmo 8.4-6, demonstrando a superioridade absoluta de Cristo sobre
       os mais altos anjos. Usa o termo grego oikoumenen, para comunicar a idéia “da sociedade organizada pelos seres humanos”,
       ou seja, “o mundo”. Ao tomar sobre si a natureza humana e cumprir plenamente sua missão na terra, de acordo com o plano do
       Pai, Cristo redimiu o ser humano caído e arrependido, não os anjos caídos (vv.11,14). O novo mundo será governado por Cristo,
       juntamente com todos os cristãos (2Tm 2.12).
         6 O texto sagrado de Sl 8.4-6 era bem conhecido pelos hebreus e contempla a pessoa de Adão, como o precursor da
       humanidade. A ele, Deus confiou o poder sobre tudo o que havia na terra (Gn 1.26). O propósito de Deus era que o ser humano
       fosse soberano no âmbito das criaturas, sujeito somente ao Senhor. Todavia, por causa da Queda (Gn 3), esse objetivo de
       Deus ainda não foi completamente realizado. De fato, o próprio homem está “escravizado” pelo pecado, que é a morte (v.15), e
       somente em Cristo pode ser salvo (liberto).




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HEBREUS 2, 3                                                     6

      que, pela graça de Deus, em benefício de                             15 e livrasse todos os que ao longo da
      todos, experimentasse a morte.7                                      vida inteira estiveram escravizados pelo
      10 Ao conduzir muitos fi lhos à glorifi-                               medo da morte.10
      cação, convinha que Deus, por causa                                  16 Pois, é evidente que Ele não auxilia
      de quem e por intermédio de quem                                     os anjos, mas sim à descendência de
      tudo veio a existir, tornasse perfeito,                              Abraão.11
      por meio do sofrimento, o Autor da                                   17 Por esse motivo, era vital que Ele
      Salvação deles.8                                                     se tornasse semelhante a seus irmãos
      11 Assim, tanto o que santifica quanto os                             em todos os aspectos, a fim de que
      que são santificados advêm de Um só. E,                               pudesse constituir-se sumo sacerdote
      por essa razão, Jesus não se envergonha                              misericordioso e leal em relação a
      de chamá-los irmãos.                                                 Deus, e poder realizar propiciação pelos
      12 Ele declara: “Vou anunciar teu nome                               pecados do povo.12
      aos meus irmãos; cantar-te-ei louvores                               18 Considerando, portanto, tudo o que
      no meio da congregação”.9                                            Ele mesmo sofreu quando tentado, Ele
      13 E mais: “Porei nele a minha con-                                  é capaz de socorrer todos aqueles que
      fiança”. E outra vez Ele afirma: “Aqui                                 semelhantemente estão sendo atacados
      estou Eu com os fi lhos que Deus me                                   pela tentação.
      concedeu”.
      14 Portanto, visto que os fi lhos compar-                             Jesus Cristo é superior a Moisés
      tilham de carne e sangue, Ele também
      participou dessa mesma condição hu-
      mana, para que pela morte destruísse
                                                                           3   Sendo assim, santos irmãos, partici-
                                                                               pantes da convocação celestial, con-
                                                                           siderai com toda a atenção o Apóstolo e
      aquele que tem o poder da morte, a sa-                               Sumo Sacerdote que declaramos pu-bli-
      ber, o Diabo;                                                        camente: Jesus.1


         7 O Sl 8 refere-se aqui à pessoa do Messias, o Senhor Jesus, como o precursor do domínio humano restaurado sobre a terra.
      Por causa da sua vida de amor e obediência ao Pai, seu sacrifício vicário na cruz e sua exaltação (1Co 15.45), tornou possível ao
      homem perdoado e redimido o cumprimento das promessas do Sl 8 no Reino que se estabelecerá plenamente no futuro.
         8 A expressão grega original archegőn, aqui traduzida por “Autor”, tem o sentido literal de: “Iniciador”. Cristo é o condutor dos
      descendentes de Adão à glória que Deus planejou para a humanidade. Foi por intermédio da sua paixão pessoal – a Deus e à
      humanidade – que Jesus pode se tornar nosso perfeito e único Salvador, o Messias (v.18; At 3.15; 5.31; Hb 12.2).
         9 Na “Congregação”, um dos sinônimos da palavra Igreja (em grego ekklesia), só podem participar, como membros, os
      “irmãos” de Cristo. Os filhos de Deus foram outorgados ao Filho do Pai como “irmãos” (v.11), participantes da natureza de Cristo
      mediante o Espírito Santo (v.14). O autor de Hebreus cita o Sl 22, salmo de Davi (escrito há mais de mil anos antes da crucificação
      de Jesus), e que se refere profeticamente aos sofrimentos e ao triunfo de Jesus Cristo, o Servo Justo de Deus, o Messias.
         10 Satanás tem o “poder da morte” somente no sentido de “poder induzir” a humanidade ao pecado; desviar as pessoas do
      Caminho que conduz a Deus: Jesus Cristo, e, conseqüentemente, relegar o ser humano incrédulo a uma condição de punição
      inevitável, que é o eterno afastamento da presença de Deus: a morte (Ez 18.4; Rm 5.12; 6.23). Entretanto, a graça salvadora de
      Deus está – neste momento – à disposição de todos os seres humanos que desejarem sinceramente recebê-la por meio da fé
      em Cristo Jesus (Jo 1.12,13).
         11 Aos anjos caídos (demônios) e ao próprio Satanás, não será concedida qualquer benevolência ou graça salvadora.
      Todos esses espíritos do mal já estão condenados à punição máxima e eterna. Somente aos descendentes de Adão (os seres
      humanos), que ao serem contemplados pela graça de Cristo, reconhecerem que andaram contra a perfeita vontade de Deus,
      serão definitivamente redimidos e salvos da morte pela fé em Jesus (Gl 3.7).
         12 Para que Jesus Cristo pudesse cumprir a Lei, e pagar plenamente a fiança da ira condenatória de Deus sobre a
      humanidade, tinha que se tornar perfeitamente humano, todavia sem pecado (4.15), a fim de reunir todos os poderes legais
      para se oferecer em resgate pelo pecado de Adão (e de toda a humanidade por extensão). O sacrifício do Justo na cruz foi a
      derradeira e definitiva cerimônia de Propiciação (termo hebraico que significa “cobrir”, “apagar”) exigida por Deus para que a
      Lei fosse perfeitamente cumprida, e a era da graça pudesse ser declarada em vigor até o iminente e glorioso retorno do Senhor
      e o Juízo final (Lv 20-24; 17.11).
         Capítulo 3
          1 Jesus Cristo é o perfeito Sumo Sacerdote (representante) e Apóstolo (missionário) de Deus para o resgate (Salvação) da
      humanidade (Mc 6.30; 1Co 1.1). Jesus muitas vezes se referiu a si mesmo como aquele que fora “enviado” ao mundo pelo Pai
      (Mt 10.40; 15.24; Mc 9.37; Lc 9.48; Jo 4.34; 5.24-38; 6.38).




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7                                                 HEBREUS 3

       2 Ele foi fiel àquele que o constituiu, as-                           essa geração e declarei: O coração
       sim como também foi Moisés em toda a                                 destes está sempre se desviando, e não
       casa de Deus.2                                                       reconheceram os meus caminhos.
       3 Jesus foi considerado digno de maior                               11 Sendo assim, jurei na minha ira: Estes
       glória do que Moisés, pelo mesmo prin-                               jamais entrarão no meu descanso”.
       cípio que o construtor de uma casa pos-                              12 Irmãos, tende muito cuidado, para
       sui mais honra do que a própria casa.                                que nenhum de vós mantenha um co-
       4 Porquanto, toda casa é construída por                              ração perverso e incrédulo, que se afaste
       alguém; no entanto, Deus é o supremo                                 do Deus vivo.
       construtor de tudo.3                                                 13 Pelo contrário, exortai-vos mutua-
       5 Moisés foi leal como servo em toda a                               mente todos os dias, durante o tempo
       casa de Deus, dando testemunho do que                                que se chama “hoje”, de maneira que
       haveria de ser revelado no futuro;4                                  nenhum de vós seja embrutecido pelo
       6 Cristo, no entanto, é fiel como Filho                               engano do pecado.6
       sobre a casa de Deus; e essa casa, pre-                              14 Porque passamos a ser participantes
       cisamente, somos nós, isto é, se retiver-                            de Cristo, desde que em realidade, nos
       mos com fé perseverante a coragem e a                                apeguemos até o fim à fé que nele depo-
       esperança da qual nos gloriamos.                                     sitamos desde o início.
                                                                            15 Por essa razão é que se afi rma: “Hoje,
       O grave perigo da incredulidade                                      se ouvirdes a sua voz, não endureçais o
       7 Assim como proclama o Espírito San-                                vosso coração, como ocorreu na rebe-
       to: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,5                                   lião”.
       8 não endureçais o vosso coração, como                               16 Ora, quem foram os que ouviram e
       ocorreu na rebelião, durante o tempo da                              se rebelaram? Não foram todos os que
       provação no deserto,                                                 saíram do Egito guiados por Moisés?
       9 onde vossos pais me tentaram, pondo-                               17 E contra quem Deus se manteve irado
       me à prova, ainda que, durante quarenta                              por quarenta anos? Não foi contra aque-
       anos, tenham contemplado as minhas                                   les que pecaram, cujos corpos tomba-
       obras.                                                               ram mortos no deserto?
       10 Por esse motivo, me indignei contra                               18 E a quem jurou que jamais haveriam




          2 Moisés foi enviado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão egípcia, e para guiá-los à Terra Prometida. Jesus
       foi enviado pelo Pai para libertar os dominados pelo pecado e pelo Diabo, de todas as nações, e conduzi-los ao Shabbãth do
       Senhor (descanso sabático em hebraico) prometido aos que crêem (2.14,15; 4.3,9; Jo 1.12,13; 17.4). O termo original “casa”,
       aqui, significa “família”.
          3 Aqui, o termo “casa” pode ser traduzido como “lar”. Assim, Jesus, como Deus, é o próprio construtor do “lar”, sendo que
       Moisés simplesmente fazia parte dessa “casa”. Jesus, o Filho de Deus, é o agente e herdeiro de toda a Criação, e, portanto, tem
       o direito de mandar; Moisés tinha o direito de servir.
          4 O próprio Moisés profetizou acerca da vinda e da obra de Cristo. A casa consiste no povo de Deus em todo o mundo, sua
       família (Ef 2.19; 1Pe 2.5). Se alguém deixar de perseverar na fé, apenas demonstra que jamais foi, de fato, crente e filho de Deus.
       Aquele que se arrepende de seus erros e pecados e não consegue ficar longe do Senhor e de sua família (a Igreja) é o filho
       amado, e seu coração exibe a marca dos eleitos. A prova da realidade da regeneração está na fidelidade a Jesus Cristo e na
       obediência à sua Palavra.
          5 Aqui, temos mais uma evidência da inspiração do AT e, por conseguinte, de toda a Escritura. Essa citação de Sl 95.7-11 faz
       uma análise sintética da frustrante história de Israel no deserto sob liderança de Moisés. Assim como o autor do salmo usou esse
       fato histórico para advertir os israelitas do seu tempo contra a tentação da incredulidade e da desobediência à Palavra de Deus;
       da mesma maneira, o autor de Hebreus aplicou o mesmo princípio aos seus leitores.
          6 Embora estejamos vivendo na “época da graça” divina, em que todos têm à sua disposição o favor de Deus, mediante o
       sacrifício de Cristo, a fim de se arrependerem de seus pecados e terem acesso à plenitude da Salvação, essa oportunidade única
       é garantida somente “aqui e agora”; amanhã poderá ser tarde demais. Satanás é o mestre da mentira e tenta nos convencer de
       que Deus não condenará ninguém ao inferno, nem julgará com rigor; e que nossos “erros” não são “grandes pecados”. Todos
       esses argumentos só servem para embrutecer (endurecer) os corações daqueles que lhes dão ouvidos (2.8; Jr 17.9). Afastar-se
       de Deus com rebeldia (literalmente no grego: “apostatar”) é desviar-se do Caminho da vida e preferir a morte, da mesma forma
       como agiram muitos dos israelitas que saíram do Egito a caminho de Canaã, mas não depositaram “confiança plena” (em grego
       hupostasis) no Senhor.




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HEBREUS 3, 4                                                   8

      de ingressar no seu repouso? Ora, não                              5 E novamente, no texto citado há pou-
      foram aqueles que se mantiveram deso-                              co, confirma: “Jamais entrarão no meu
      bedientes?                                                         descanso”.
      19 Concluímos, desse modo, que não                                 6 Portanto, considerando que ainda
      lhes foi possível ter acesso à terra pro-                          faltam alguns para entrar, e aqueles
      metida por causa da incredulidade.7                                a quem antes foram pregadas as boas
                                                                         novas não ingressaram por causa da
      O descanso sabático dos crentes                                    desobediência,

      4   Portanto, ainda que nos tenha sido
          outorgada a promessa de ingressar
      no descanso de Deus, tememos que al-
                                                                         7 determina Deus, uma nova oportuni-
                                                                         dade, e a chama de “hoje”, ao declarar
                                                                         muito tempo depois, por intermédio de
      gum de vós pareça ter falhado.                                     Davi e conforme o que já fora proclama-
      2 Pois as boas novas foram pregadas                                do antes: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,
      também a nós, tanto quanto a eles; en-                             não endureçais o vosso coração”.
      tretanto, a mensagem que eles ouviram                              8 Porque, se Josué lhes tivesse oferecido
      de nada lhes valeu, pois não foi acompa-                           descanso, Deus não teria declarado pos-
      nhada de fé por aqueles que a ouviram.1                            teriormente a respeito de outro dia.3
      3 Porquanto, somos nós, os que temos                               9 Sendo assim, ainda resta um descanso
      crido, que entramos no descanso, con-                              sabático para o povo de Deus;
      forme Deus declarou: “Assim jurei na                               10 pois toda pessoa que entra no repou-
      minha ira: Jamais entrarão no meu                                  so de Deus, também descansa de suas
      descanso”, muito embora as suas obras                              obras, como Deus descansou das suas.4
      estivessem concluídas desde a fundação                             11 Diante disso, esforcemo-nos por
      do mundo.2                                                         entrar naquele descanso, para que
      4 Pois em certa passagem, Ele se referiu                           ninguém caia no mesmo exemplo de
      sobre o sétimo dia, nestes termos: “No                             desobediência.5
      sétimo dia, Deus descansou de toda                                 12 Porquanto a Palavra de Deus é viva e
      obra que realizara”.                                               eficaz, mais cortante que qualquer espa-


          7 Após uma série de perguntas retóricas, o autor de Hebreus conclui que as pessoas que saíram livres do Egito, com destino a
      Canaã, não puderam completar a viagem por não terem crido de todo coração nas promessas de Deus, o que lhes permitiu “abrir
      a guarda” e cair em muitos pecados. O Senhor, em sua ira e juízo, fechou as portas de Canaã (a exemplo do que já havia feito
      em Gn 3.23,24) para que toda aquela geração de israelitas incrédulos perecesse sem chegar ao lugar de repouso do Senhor (Nm
      14.21-35). Os leitores de Hebreus são admoestados a ter muita cautela com os mesmos perigos no sentido espiritual.
          Capítulo 4
          1 O autor de Hebreus está sempre comparando a caminhada dos israelitas no deserto, abandonando a escravidão no Egito e
      peregrinando até o “descanso de Deus” (em hebraico Shabbãth) na Terra Prometida, em relação à jornada do cristão rumo ao seu
      pleno repouso espiritual no Reino de Deus. O descanso dos judeus, sob a liderança de Moisés, e depois de Josué, temporário e
      terrestre, prenunciava o descanso eterno das nossas almas em Cristo (v.8; Js 1.13). A expressão grega “acompanhada” significa,
      literalmente, “unida”; enquanto pode dizer também que “as boas novas” foram literalmente “evangelizadas”. A fé compromete o
      ouvinte com a mensagem recebida; não se pode esquivar-se da sua obrigação (Rm 10.16; Is 53.1).
          2 Do mesmo modo que a fé nas promessas de Deus era requerida para se entrar no descanso de Canaã, também só
      ingressaremos no descanso pleno e eterno da salvação mediante a fé sincera na pessoa e na obra expiatória de Jesus Cristo.
      Deus concluiu suas obras no sétimo dia da criação e descansou (v.4; Gn 2.2,3). Portanto, o Senhor nos convida para compartilhar
      do seu descanso, e não para qualquer tipo de repouso que possamos conquistar (vv.10,11).
          3 O ingresso de Israel em Canaã sob a liderança de Josué representou uma forma parcial e temporária de entrar no “Sábado
      de Deus”. Mas, a posse do “Sábado” não foi completada naquela época, como demonstra o convite contínuo expresso no Salmo
      95.7,8.
          4 Podemos tomar a posse completa do “Sábado de Deus” por meio da fé sincera em Jesus Cristo. Assim como Deus des-
      cansou da obra da Criação, o crente pode descansar de empreender esforços na tentativa de alcançar a sua salvação, e deve
      repousar na obra consumada pelo Filho de Deus na cruz do Calvário, o qual nos conduzirá ao “Shabbãth eterno do Senhor”
      (Ap 14.13).
          5 O esforço do cristão não é “para alcançar o mérito da salvação”, mas sim porque “já é salvo”, busca perseverar na fé, pela
      obediência diária ao Espírito Santo e à Palavra de Deus. Não devemos seguir o triste exemplo de Israel no deserto. As palavras
      “repouso” e “descanso” vêm do termo original grego sabbatismos (Jo 5.19; 14.2,24).




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9                                             HEBREUS 4, 5

       da de dois gumes; capaz de penetrar até                              designado para representá-los em ques-
       o ponto de dividir alma e espírito, juntas                           tões relacionadas com Deus, a favor da
       e medulas, e é sensível para perceber os                             humanidade, a fim de oferecer tanto dons
       pensamentos e intenções do coração.6                                 quanto sacrifícios pelos pecados.
       13 E não há criatura alguma incógnita                                2 Ele é capaz de compadecer-se dos que
       aos olhos de Deus. Absolutamente tudo                                não têm conhecimento e se desviam, con-
       está descoberto e às claras diante daque-                            siderando que ele mesmo está rodeado de
       le a quem deveremos prestar contas.                                  fraquezas.1
                                                                            3 E, por esse motivo, deve oferecer sa-
       Jesus é o grande sumo sacerdote                                      crifícios pelos pecados, tanto do povo
       14 Concluindo, tendo em vista que te-                                como em seu próprio favor.
       mos um grande sumo sacerdote que foi                                 4 Ninguém, portanto, toma essa honra
       capaz de adentrar os céus, Jesus, o Filho                            para si mesmo, senão quando convo-
       de Deus, mantenhamos com firmeza                                      cado por Deus, como aconteceu com
       nossa declaração pública de fé.7                                     Arão.
       15 Pois não temos um sumo sacerdote                                  5 Desse mesmo modo, Cristo não bus-
       que não seja capaz de compadecer-se                                  cou para si próprio a glória de se tornar
       das nossas fraquezas, mas o Sacerdote                                sumo sacerdote, mas foi Deus quem lhe
       Supremo que, à nossa semelhança, foi                                 declarou: “Tu és meu Filho; Eu hoje te
       tentado de todas as formas, porém sem                                gerei”.2
       pecado algum.                                                        6 E revela em outra passagem: “Tu és
       16 Portanto, acheguemo-nos com toda                                  sacerdote para todo o sempre, conforme
       a confiança ao trono da graça, para que                               a ordem de Melquisedeque”.
       recebamos misericórdia e encontremos                                 7 Durante os seus dias de vida na terra,
       o poder que nos socorre no momento da                                Jesus ofereceu orações e súplicas, em
       necessidade.8                                                        clamor e com lágrimas, àquele que o
                                                                            podia salvar da morte, havendo sido
       Cristo supera a antiga aliança                                       ouvido por causa da sua reverente sub-

       5  Porquanto, todo sumo sacerdote,
          sendo escolhido dentre os homens, é
                                                                            missão.
                                                                            8 Mesmo considerando o fato dele ser o




          6 A expressão total de Deus foi revelada aos seres humanos por meio da pessoa de Jesus Cristo, a Palavra encarnada (Jo
       1.1,14) e, igualmente, nos foi confiada verbalmente. Essa palavra dinâmica e ativa de Deus, no cumprimento de todos os seus
       planos, aparece claramente tanto no AT quanto no NT (Sl 107.20; 147.18; Is 40.8; 55.11; Gl 3.8; Ef 5.26; Tg 1.18; 1Pe 1.23). Tanto
       a onipotente e onisciente presença do Senhor, quanto o poder de discernimento (em grego kriticos) da Palavra, revelam os senti-
       mentos e intenções mais íntimas e os traz à tona da nossa consciência para que possam ser julgados (1Co 4.5).
          7 O autor de Hebreus começa aqui uma longa exposição teológica (4.14 – 7.28) quanto à superioridade do sacerdócio de
       Jesus Cristo sobre Arão e o ministério da tradição sacerdotal. Para os cristãos de hoje, esse pode ser um tema de entendimento
       tranqüilo. No entanto, para os judeus de todos os tempos, especialmente no século I, essas conclusões são tão chocantes
       quanto reveladoras e salvadoras (Sl 110.4). Assim como o sacerdote arônico, no Dia da Expiação, passava por entre os olhares
       expectativos do povo em direção ao Santo dos Santos, assim também Jesus passou para além da vista dos discípulos que o
       observavam atentamente, elevando-se e atravessando pelos céus até adentrar o Santuário Celestial, ocupando sua suprema
       transcendência e autoridade, e cumprindo plenamente sua obra expiatória (7.26; At 1.9-11; Ef 4.10; Fp 2.9-11).
          8 Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, não se mantém distante nem alienado do ser humano e de suas agruras, como ocorria
       com os sacerdotes judaicos e, ainda hoje, acontece com muitos líderes espirituais. Deus se fez carne em Cristo e sentiu na pele as
       fraquezas e sofrimentos que acometem a todos nós. Entretanto, ele jamais pecou, o que significa que obteve vitória sobre todos
       os desafios da carne e do espírito. Portanto, só Jesus pode sentir o que sentimos e oferecer a sua ajuda compassiva sempre que,
       pela fé, dela nos quisermos valer.
          Capítulo 5
          1 O sumo sacerdote precisa preencher dois pré-requisitos fundamentais: ser chamado por Deus e dedicar sua vida ao Senhor
       e às necessidades do povo, sendo solidário com as fraquezas, lutas e ignorância dos seus irmãos, porém sem pecar. Só Jesus
       Cristo conseguiu cumprir plenamente essas exigências (8.3; 9.9; Lv 1.2; 2.1; Nm 15.30,31; Hb 6.4-6; 10.26-31).
          2 Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote. Jesus, o Filho, foi designado por Deus de acordo com suas
       próprias declarações proféticas (Sl 2.7; 110.4). O sacerdócio de Cristo, porém, não era conforme a ordem de Arão, mas segundo
       Melquisedeque (v.6; 1.5; Sl 2.7-9; Rm 1.4).




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HEBREUS 5, 6                                                   10

      Filho de Deus, aprendeu a obediência por                            Exortação à busca da fé madura
      intermédio das aflições que padeceu;3
      9 e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se
      a fonte de salvação eterna para todos
                                                                          6  Sendo assim, considerando conhe-
                                                                             cidos os ensinos básicos a respeito
                                                                          de Cristo, prossigamos rumo à matu-
      quantos lhe obedecem,                                               ridade, sem lançar novamente o funda-
      10 tendo sido nomeado por Deus sumo                                 mento do arrependimento de atitudes
      sacerdote, segundo a ordem de Melqui-                               inúteis e que conduzem à morte; da fé
      sedeque.4                                                           em Deus,1
                                                                          2 da instrução acerca de batismos, da
      Buscar a maturidade em Cristo                                       imposição de mãos, da ressurreição dos
      11 Quanto a isso, temos muito que ensi-                             mortos e do juízo eterno.
      nar, assunto difícil de explicar, especial-                         3 Sigamos, pois, avante! E, se Deus o
      mente porque vos tornastes indolentes                               permitir, faremos isso.2
      para aprender.
      12 Apesar de que, a essa altura, já devês-                          O grave perigo de rejeitar a fé
      seis ser mestres, ainda estais precisando                           4 Ora, é impossível para aqueles que uma
      de que alguém vos instrua mais uma vez                              vez foram iluminados, experimentaram
      quanto aos princípios elementares da                                o dom celestial e se tornaram parti-
      Palavra de Deus. Voltastes a necessitar                             cipantes do Espírito Santo,
      de leite, quando já devíeis estar receben-                          5 e provaram os benefícios da Palavra de
      do alimento sólido!5                                                Deus e os poderes da era que há de vir, 3
      13 Ora, quem precisa se alimentar de lei-                           6 mas apostataram da fé, sim, é impos-
      te ainda é criança, e não tem experiência                           sível que tais pessoas sejam reconduzi-
      no ensino da justiça.                                               das ao arrependimento; tendo em vista
      14 No entanto, o alimento sólido é para                             que contra si mesmos estão crucificando
      os adultos, os quais, pelo exercício cons-                          outra vez o Filho de Deus, e zombando
      tante da fé, se tornaram capazes de dis-                            publicamente dele.4
      cernir tanto o bem quanto o mal.                                    7 Porquanto, a terra, que absorve a chu-




          3 A existência da preposição ek no manuscrito original grego deixa claro que Cristo pediu ao Pai para que o livrasse da morte
      em seu sentido mais amplo. Jesus não recuou, em momento algum, diante dos sofrimentos e das aflições mais extremas, todavia
      ficou horrorizado com o pecado da humanidade que haveria de arcar (Mt 26.36-46; 27.46). Sua oração foi ouvida pelo Pai que o
      salvou da morte eterna por meio da ressurreição, a mesma que herdamos pelo seu sacrifício vicário. A expressão grega eulabeia
      significa “reverente temor a Deus”, e pode ser traduzida como “piedade” (Jo 5.19; 1Jo 5.14).
          4 Deus se fez humano em Cristo e decidiu passar pelo aprendizado a que todos nós estamos sujeitos. Suas lutas, tentações e vi-
      tórias foram reais e não alegorias como querem explicar certos teólogos. A Bíblia não é uma obra de ficção, mas um depoimento fiel
      das experiências vividas por homens de Deus, narradas pela inspiração do Espírito Santo. Ao contrário de Adão, que relativizando a
      Palavra de Deus fracassou e caiu, Jesus permaneceu fiel (obediente) e prevaleceu; completando (aperfeiçoando) sua humanidade
      filial e podendo, assim (perfeito), ser a fonte da “eterna redenção” (v.9; 2.10; 9.12; 12.2; Rm 4.25; 10.9; Tg 2.14-26).
          5 Os hebreus não eram recém-convertidos, já haviam aprendido muito bem as doutrinas básicas do Evangelho, como as
      apresentadas em 6.1,2. No entanto, haviam permitido que a preguiça mental, a indolência física e, especialmente, o esfriamento
      espiritual, tomassem conta de suas vontades mais nobres (6.12). Deviam caminhar com perseverança na vida cristã autêntica e,
      havendo passado pelos ensinos fundamentais da Palavra, ingressar com fé na plenitude do Espírito e do conhecimento avançado
      do Senhor, como o autor de Hebreus nos exorta no capítulo 7.
          Capítulo 6
          1 Os ensinos básicos da doutrina de Cristo já deveriam ser sabidos e estar em plena prática entre os cristãos hebreus (1Co
      15.3,4). A igreja, depois de algum tempo, estava dando ouvidos a falsos ensinos e realizando “obras mortas”, isto é, tendo uma
      vida de pecado que condena o pecador à morte eterna (9.14).
          2 Expressão que se tornou popular entre os cristãos e que comunica dependência em relação à soberania do Senhor. Somente
      o Espírito de Deus pode iluminar as mentes e os corações, operando maturidade espiritual (1Co 16.7).
          3 É Deus quem abre os olhos dos cegos espirituais (incrédulos) e lhes oferece a percepção da verdade divina. Aqueles que
      “experimentaram”, isto é, “apreciaram pela experiência” a Palavra de Deus (2Co 4.4,6) e se apropriaram, mediante a fé em Cristo,
      do “dom celestial”, oferecido a todo que crê no Senhor (2Pe 2.2), recebendo, portanto, o Espírito de Deus; estes se tornaram
      metochoi (no original grego: participantes) da obra redentora e dos milagres da “era” de Cristo (em grego aiõn).
          4 É preciso fazer uma grande diferença entre divergências teológicas e apostasia. O texto bíblico se refere aqui às pessoas que




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11                                                HEBREUS 6

       va, que cai de tempo em tempo, e dá co-                            vista não haver outro maior por quem
       lheita proveitosa àqueles que a cultivam,                          jurar;6
       recebe a bênção de Deus.                                           14 e declarou: “Esteja certo de que o
       8 Todavia, a terra que produz espinhos e                           abençoarei e farei numerosos os seus
       ervas daninhas é inútil, e logo será amal-                         descendentes”.
       diçoada. Seu fim é ser lançada ao fogo.                             15 Sendo assim, havendo Abraão espe-
                                                                          rado com paciência certeira, alcançou
       Vivendo como herdeiros de Deus                                     a promessa.7
       9 Quanto a vós outros, no entanto, ó                               16 Ora, os homens juram por quem é
       amados, estamos convencidos de que a                               maior do que eles, e para eles o jura-
       vossa situação seja muito melhor, sendo                            mento confirma a palavra empenhada,
       beneficiados com as bênçãos decorren-                               pondo fim a toda discussão.
       tes da salvação.                                                   17 Do mesmo modo, Deus, querendo de-
       10 Porquanto Deus não é injusto para se                            monstrar de forma mais clara aos herdei-
       esquecer do vosso trabalho e do amor                               ros da promessa a imutabilidade de seu
       que revelastes para com o seu Nome, pois                           propósito, interveio com juramento,
       servistes os santos, e ainda os servis.5                           18 para que nós, que nos refugiamos no
       11 Desejamos, contudo, que cada um de                              acesso à esperança proposta, sejamos
       vós demonstre o mesmo esforço dedica-                              grandemente encorajados por meio de
       do até o fim, para que tenhais a plena                              duas afirmações imutáveis, nas quais é
       certeza da esperança,                                              impossível que Deus minta.8
       12 de maneira que não vos torneis ne-                              19 Essa esperança é para nós como ân-
       gligentes, mas imitem aqueles que, por                             cora da alma, firme e segura, a qual tem
       intermédio da fé e da longanimidade,                               pleno acesso ao santuário interior, por
       recebem a herança prometida.                                       trás do véu,
                                                                          20 onde Jesus adentrou por nós, como
       A promessa de Deus é imutável                                      precursor, tornando-se sumo sacerdote
       13Quando Deus fez a sua promessa a                                 para sempre, segundo a ordem de Mel-
       Abraão, jurou por si mesmo, tendo em                               quisedeque.


       deliberadamente renunciam da sua fé na pessoa e obra de Jesus Cristo, conforme está prescrito na Palavra de Deus: a Bíblia (Rm
       10.9; 2Tm 3.16). O Senhor pode transformar a vida de um apóstata por meio da sua infinita graça e misericórdia. Entretanto, a
       igreja não deve realizar um segundo batismo, pois Cristo morreu por nós uma única vez (Gl 2.19; 9.26). A não ser que se conclua
       que o suposto apóstata, na verdade, não era um convertido e que, agora sim, aceitou de coração o dom do arrependimento e
       da salvação em Cristo (1Jo 5.16; 1Co 15.5; At 8.21-24). Portanto, esse lhe será o primeiro e definitivo batismo de testemunho do
       novo nascimento (Jo 3).
          5 O autor deste livro não está julgando que seus leitores sejam apóstatas. Ele apenas os adverte sobre os perigos da apostasia,
       que pode ter seu início fatal com a indolência, inércia, preguiça (o peso dos pecados não confessados e abandonados) e o
       cansaço espiritual ao longo da caminhada cristã (5.11; 12.1,12). Todo trabalho sincero e abnegado em prol do Reino de Deus
       constrói um tesouro que é de valor eterno.
          6 É próprio dos seres humanos fazer juramentos. Isso devido à situação decaída da humanidade na qual a palavra das pessoas
       nem sempre é fiel e suficiente. Deus, ao fazer um juramento, demonstra que não há ninguém além dele mesmo, cujo nome possa
       autenticar sua Palavra; humaniza-se mediante uma característica cultural, moral e ética de grande valor entre os humanos, e nos
       oferece garantia em dobro (v.18; 11.39) quanto ao cumprimento cabal da sua Promessa (Gn 22.16-18). A expressão idiomática
       hebraica literal, usada por Deus a Abraão, registrada nos manuscritos originais é: “abençoando te abençoarei”, que indica um
       juramento ou promessa incondicional e permanente.
          7 A palavra grega original usada para descrever aqui a “paciência” de Abraão é makrothumia, que significa “longanimidade”, em
       contraste com os sentimentos de indignação e revolta. Refere-se, portanto, ao fato de Abraão ter “esperado com fé”, por cerca de
       25 anos, pelo nascimento de Isaque e, mais tarde, pela entrega e restauração do seu filho (Gn 12.3,4; 17.2; 18.10; 21.5; 22.16).
          8 As duas afirmações imutáveis do Senhor são: a promessa de Deus, que por si só é absolutamente fidedigna, e o juramento de
       Deus concedido aos homens, que confirma essa promessa. Hoje, os crentes podem contemplar a promessa que Abraão, no seu
       tempo, podia apenas antever (11.13; Jo 8.56). Assim como uma forte âncora que mantém o navio na posição correta, e a salvo
       da força das marés e das correntes marítimas, nossa fé (esperança convicta) em Cristo é nossa garantia de completa salvação
       e segurança (Jo 10.34-38).




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HEBREUS 7                                                     12

      O sacerdócio de Melquisedeque                                      entretanto, é aquele de quem se testifica
      7  Porquanto, esse Melquisedeque, rei
         de Salém, sacerdote do Deus Altís-
      simo, que saiu ao encontro de Abraão,
                                                                         que vive.
                                                                         9 E, por assim dizer, pode-se entender
                                                                         que Levi, que recebe os dízimos, entre-
      quando este voltava, depois de haver                               gou-os por meio de Abraão,
      derrotado os reis, e o abençoou;1                                  10 pois, quando Melquisedeque se en-
      2 para o qual também Abraão entregou                               controu com Abraão, Levi ainda não
      o dízimo de tudo. Em primeiro lugar,                               havia sido gerado por seu pai.
      seu nome quer dizer “Rei de Justiça”;
      em segundo lugar, “Rei de Salém”, que                              O sacerdócio de Cristo é eterno
      significa, “Rei da Paz”.                                            11 Sendo assim, se houvesse uma maneira
      3 Sem pai, sem mãe, sem origem nem                                 de alcançar a perfeição por intermédio
      antepassados, sem princípio de dias                                do sacerdócio levítico, considerando que
      nem fim de vida, no entanto, por ser à                              durante sua vigência a Lei foi entregue ao
      semelhança do Filho de Deus, Ele per-                              povo, por qual razão haveria ainda ne-
      manece sacerdote perpetuamente.                                    cessidade de se levantar outro sacerdote,
                                                                         conforme a ordem de Melquisedeque e
      Cristo supera o sacerdócio levítico                                não de Arão? 2
      4 Considerai, portanto, como era gran-                             12 Pois, mudando o sacerdócio, obrigatori-
      de esse homem a quem até mesmo o                                   amente, ocorre também mudança de lei.
      patriarca Abraão lhe entregou todo o                               13 Porque aquele sobre quem se fazem
      dízimo dos despojos!                                               estas afirmações pertencia a outra tribo,
      5 Ora, os que dentre os fi lhos de Levi                             da qual ninguém jamais havia servido
      receberam o sacerdócio têm o man-                                  diante do altar;
      damento de recolher, de acordo com a                               14 porquanto, é bem sabido que o nosso
      Lei, os dízimos do povo, isto é, dos seus                          Senhor descende de Judá, tribo da qual
      irmãos, ainda que tenham todos estes                               Moisés nada fala quanto a sacerdócio.
      descendido de Abraão;                                              15 E este fato se torna ainda mais claro
      6 contudo, este homem que não per-                                 com o surgimento de outro sacerdote à
      tencia à genealogia de Levi, recebeu os                            semelhança de Melquisedeque,
      dízimos de Abraão e abençoou aquele                                16 não constituído segundo o decreto
      que tinha as promessas.                                            de um mandamento humano relativo à
      7 Evidentemente, não pode haver qual-                              linhagem, mas de acordo com o poder
      quer dúvida que o inferior é abençoado                             de uma vida inextinguível.
      pelo superior.                                                     17 Porque sobre Ele está escrito: “Tu és
      8 No primeiro caso, são homens mortais                             sacerdote para sempre, conforme a or-
      que recebem o dízimo; no outro caso,                               dem de Melquisedeque”.3


        1 Embora o autor de Hebreus não afirme claramente que Melquisedeque foi uma cristofania, é revelador o fato de ele não ter
      origem (genealogia) e ocupar simultaneamente duas posições de grande poder. Elementos que reforçam o pensamento do autor
      quanto a prefigura (preexistência) do eterno Messias: Jesus Cristo. O nome “Salém”, vem do hebraico antigo, Yerüshalẽm, cujo
      sentido primitivo teria sido “capital da guerra e da paz”. Mais tarde, essa expressão passou para o idioma aramaico como “cidade
      da paz”. (Gn 14.18-20; Is 23.5,6; 33.15,16).
        2 A Lei entregue a Moisés e ao povo, bem como o sacerdócio e os sacrifícios, faziam parte do mesmo sistema que contemplava
      o fato de todas as pessoas nascerem em pecado (sob a maldição da Queda) e, portanto, sujeitas à condenação prescrita. Por
      este motivo, necessitavam de um mediador legal e idôneo para representá-las diante de Deus. O autor de Hebreus esclarece, con-
      tudo, que o sacerdócio levítico (ou da descendência de Arão) era imperfeito e havia se tornado insuficiente, mas que o sacerdócio
      de Melquisedeque era o ideal e perfeito. A história registra que a proclamação daquele que viria a ser Sacerdote para sempre (o
      Messias) foi escrita profeticamente, bem na metade do período em que os sacerdotes levitas exerciam seu serviço ministerial,
      mostrando que o sacerdócio levítico existente deveria dar lugar a um sistema melhor (Sl 110.4).
        3 De acordo com a Lei, a função sacerdotal fora outorgada exclusivamente à tribo de Levi (Dt 18.1), porém Jesus, em sua
      humanidade, pertencia à árvore genealógica de Judá, uma tribo não-sacerdotal. Entretanto, o autor de Hebreus destaca que
      Jesus é “sacerdote eterno”, segundo Melquisedeque e, portanto, indestrutível (v. 21).




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13                                             HEBREUS 7, 8

       18 Assim, o mandamento anterior é                                 de um sacerdote como este: santo, in-
       anulado por causa de sua fragilidade e                            culpável, puro, apartado dos pecadores,
       inutilidade,4                                                     exaltado acima dos céus.
       19 pois a Lei jamais conseguiu aperfei-                           27 Diferentemente dos outros sumos
       çoar nada, sendo, portanto, estabelecida                          sacerdotes, Ele não precisa oferecer
       uma esperança muito superior, por meio                            sacrifícios dia após dia; que oferecem
       da qual temos pleno acesso a Deus.                                primeiro por seus próprios pecados e,
       20 E não foi sem juramento que esse fato                          somente depois, pelos pecados do povo.
       se deu! Outros se fizeram sacerdotes                               Porque no momento em que ofereceu
       sem qualquer juramento,                                           a si mesmo, realizou esse sacrifício de
       21 no entanto, Ele se tornou sacerdote                            uma vez por todas.5
       com juramento, no momento em que                                  28 Porquanto a Lei designa sumos sa-
       Deus declarou: “O Senhor jurou e não                              cerdotes a homens que têm fraquezas;
       se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para                             mas o juramento, que veio depois da Lei
       sempre’”.                                                         estabelece por toda a eternidade o Filho,
       22 Jesus transformou-se, por essa razão,                          que foi aperfeiçoado.6
       na garantia de uma aliança superior.
       23 Por isso, aqueles sacerdotes têm                               A aliança em Cristo é superior
       surgido em maior número, pois são
       impedidos pela morte de continuar o
       ministério;
                                                                         8  Ora, o mais importante de tudo
                                                                            o que temos afirmado é que, sim,
                                                                         temos um Sumo Sacerdote, o qual se
       24 contudo, considerando que vive para                            assentou à direita do trono da Majestade
       sempre, Jesus possui um sacerdócio                                nos céus,1
       perene.                                                           2 como ministro do santuário e do
       25 Concluindo, Ele é poderoso para sal-                           verdadeiro tabernáculo que o Senhor
       var definitivamente aqueles que, por in-                           ergueu, não como ser humano.2
       termédio dele, achegam-se a Deus, pois                            3 Pois todo sumo sacerdote é constituí-
       vive sempre para interceder por eles.                             do para apresentar ofertas e sacrifícios;
       26 Certamente, estávamos necessitados                             por essa razão, era imprescindível que


         4 Como defendeu o apóstolo Paulo, a Lei é santa e justa, todavia não é capaz de transformar em justos aqueles que violaram
       seus mandamentos e, portanto, pecaram. Nem ao menos pode oferecer à humanidade o necessário poder para vencer o mal e
       o pecado (Rm 7.12). A Lei foi apenas um sistema preparativo para a definitiva Lei da Salvação em Cristo (Gl 3.23-25; Mt 5.17). A
       antiga aliança se cumpre plenamente na nova aliança da perfeita redenção e nos capacita a nos achegarmos à presença íntima
       de Deus (Cl 1.5).
         5 A cruz de Cristo marca definitivamente na história do Universo o ponto central do plano redentor de Deus para toda a
       humanidade. O ato do sacrifício do Filho de Deus encerra o longo e árduo período histórico de “preparação”, e inaugura a “era
       escatológica” (1.1,2; Gl 4.4; Rm 3.26). Toda a certeza de salvação e esperança (fé) no estabelecimento completo do Reino de
       Deus, emana do sacrifício vicário de Jesus Cristo oferecido uma única vez para sempre (Is 53.6,10).
         6 Os sumos sacerdotes humanos, por mais dedicados que fossem, não eram capazes de viver sem cometer algum pecado
       (como prova a história até nossos dias); mortais e, portanto, impermanentes; segundo a Lei, somente podiam oferecer sacrifícios
       de animais, que jamais serviriam de substitutos suficientes para o ser humano, criado à imagem de Deus. Cristo, entretanto, foi
       “aperfeiçoado” ao enfrentar e vencer as tentações, jamais tendo sucumbido a pecado algum. Obedecendo em tudo ao Pai e,
       assim, estabeleceu uma perfeição eterna (Gn 1.26-28; 2.10; 5.8).
         Capítulo 8
         1 A expressão “mais importante de tudo”, no original grego, tem o sentido de “resumo essencial”. O argumento que vem sendo
       desenvolvido pelo autor de Hebreus tem como base escriturística o antigo texto hebraico de Jr 31.31-34, e serve para demonstrar
       que Jesus Cristo, o Messias, é o verdadeiro e único mediador da Nova e Excelente Aliança (7.22).
         2 O “verdadeiro santuário” (em grego tőn hagiőn alethines), expressa o contraste que há entre o tabernáculo construído por Moi-
       sés (mais tarde colocado no templo de Jerusalém por Salomão - 1Rs 8.4), cópia imperfeita e transitória do “verdadeiro” (perfeito)
       tabernáculo celestial, erigido pessoalmente por Deus e não por meio do homem. O santuário erguido por Deus corresponde ao
       Santo dos Santos, um espaço absolutamente sagrado, localizado no interior do tabernáculo de Moisés, no qual o sumo sacerdote
       entrava, somente uma vez por ano e por um breve momento, levando consigo o sangue da expiação (Lv 16.13-15,34). Jesus
       Cristo, nosso Sumo Sacerdote, habita eternamente no tabernáculo celestial e intercede por nós diuturnamente (7.25).




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HEBREUS 8, 9                                                 14

      este Sumo Sacerdote fizesse a sua oferta                           10 “Esta é a aliança que farei com a
      pessoal.                                                          casa de Israel, passados aqueles dias”,
      4 Entretanto, se Ele estivesse na terra,                          garante o Senhor. “Gravarei as minhas
      nem seria considerado sumo sacerdote,                             leis na sua mente e as escreverei em seu
      tendo em vista que já foram constituí-                            coração. Eu lhes serei Deus, e eles serão
      dos aqueles que apresentam as ofertas                             o meu povo,
      prescritas pela Lei.3                                             11 ninguém jamais precisará ensinar o
      5 Esses servem num santuário que é                                seu próximo, nem o seu irmão, dizendo:
      representação e sombra daquele que                                ‘Conhece ao Senhor’, porque todos me
      está nos céus, já que Moisés foi avisado                          conhecerão, desde o menor deles até o
      quando estava para construir o taber-                             maior.
      náculo: “Observai tudo com cautela,                               12 Pois Eu lhes perdoarei a malignidade
      para que faças todas as coisas de acordo                          e não me permitirei lembrar mais dos
      com o modelo que vos foi revelado no                              seus pecados”.
      monte”.                                                           13 Ao proclamar “Nova” esta aliança, Ele
      6 Contudo, agora, Jesus recebeu um mi-                            transformou em antiquada a primeira.
      nistério ainda mais excelente ao dos sa-                          E o que se torna superado e envelhecido,
      cerdotes, assim como também a aliança                             está próximo do aniquilamento.
      da qual Ele é o mediador; aliança muito
      superior à antiga, pois que é fundamen-                           Os ritos mosaicos eram imperfeitos
      tada em promessas excelsas.4
      7 Ora, se aquela primeira aliança não ti-
      vesse imperfeições, não seria necessário
                                                                        9   Ora, a primeira aliança possuía or-
                                                                            denanças para adoração e também
                                                                        um tabernáculo terreno.
      buscar lugar para a segunda.                                      2 Pois foi levantada uma tenda, em cuja
      8 Porquanto Ele declara, repreendendo                             parte da frente, conhecida como Lugar
      o povo por suas faltas: “Dias virão, diz o                        Santo, estavam o candelabro, a mesa e
      Senhor, em que estabelecerei com a casa                           os pães da proposição.1
      de Israel e com a casa de Judá uma nova                           3 Mas, atrás do segundo véu, havia a
      aliança.                                                          parte chamada Santo dos Santos,
      9 Não conforme a aliança que fi z com                              4 onde se posicionavam o altar de ouro
      seus antepassados, no dia em que os to-                           puro para o incenso e a arca da aliança,
      mei pela mão, para os conduzir até fora                           também toda revestida de ouro. Nessa
      da terra do Egito; pois eles não continu-                         arca, estavam o vaso de ouro contendo
      aram na minha aliança, e Eu me afastei                            o maná, a vara de Arão que floresceu e
      deles”, assevera o Senhor!                                        as tábuas da aliança.2


        3 Deus escolheu uma família de judeus muito simples e fez com que Jesus nascesse em uma tribo não sacerdotal (Judá). Os
      sumos sacerdotes eram escolhidos entre os filhos da tribo sacerdotal de Levi (7.12-14; Ex 25.40). O verbo “apresentar” aparece
      no texto no tempo presente, o que revela que o templo ainda estava em pleno funcionamento e ostentação. É uma indicação de
      que o livro de Hebreus foi escrito antes da destruição do templo no ano 70 d.C.
        4 O termo “mediador” (no original grego mesites) transmite a idéia de “alguém que fica no meio, unindo duas pessoas com
      mãos fortes”. Portanto, a “Nova Aliança” (um nome ainda melhor para Novo Testamento), da qual Jesus Cristo é o nosso único e
      suficiente mediador, é superior à “Velha Aliança” (ou Antigo Testamento), estabelecida por Deus mediante Moisés no deserto do
      Sinai (9.15; 12.24; Êx 24.7,8; 25.40; 1Tm 2.5).
        Capítulo 9
        1 A “parte da frente” é uma referência ao Santo Lugar do tabernáculo (tenda erguida por Moisés no deserto do Sinai), que fora
      separado do Santo dos Santos por um segundo véu (v.3). O primeiro véu apenas guardava a entrada. O candelabro era feito de
      ouro batido e colocado no lado sul do Lugar Santo (Êx 40.24), tinha sete lâmpadas, as quais eram mantidas acesas todas as
      noites (Êx 25.31-40). A mesa da Proposição (Presença), construída com madeira de acácia e revestida de ouro puro, ficava no
      lado norte do Lugar Santo (Êx 40.22). Sobre ela se depositava doze pães, cuidadosamente dispostos em duas fileiras de seis
      (Lv 24.5,6).
        2 O altar do incenso se localizava no Lugar Santo, contudo, no Dia da Expiação, esse altar passava a fazer parte do Santo dos
      Santos por conta da retirada momentânea do véu. Havia, claro, um estreito relacionamento sacramental com o santuário interior




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15                                                HEBREUS 9

       5 Acima da arca ficavam os querubins da                            O perfeito sacrifício de Cristo
       Glória, que com sua sombra cobriam a                              11 Quando Cristo chegou como Sumo
       tampa da arca, o propiciatório. Contu-                            Sacerdote dos benefícios que estavam
       do, não é nosso propósito detalhar esse                           por vir, Ele mesmo adentrou o maior
       assunto agora.3                                                   e mais perfeito Tabernáculo, não cons-
       6 Ora, logo após tudo isso estar assim                            truído por mãos humanas, isto é, não
       preparado, os sacerdotes entravam re-                             pertencente a esta criação.
       gularmente na parte inicial do taberná-                           12 Não por intermédio de sangue de
       culo, a fim de realizar os atos sagrados                           bodes e novilhos, mas mediante seu
       de culto.                                                         próprio sangue, Ele entrou no Santo dos
       7 No entanto, na segunda parte da                                 Santos, de uma vez por todas, conquis-
       tenda, o Santo dos Santos, somente o                              tando a eterna redenção.4
       sumo sacerdote podia entrar, uma vez                              13 Portanto, se o sangue de bodes e
       por ano, e jamais sem apresentar o san-                           de touros e as cinzas de uma novilha
       gue do sacrifício, que ele oferecia por si                        espalhadas sobre os que estão ceri-
       mesmo e pelos pecados que o povo havia                            monialmente impuros os santifica, de
       cometido por ignorância.                                          forma que se tornam exteriormente
       8 Dessa maneira, o Espírito Santo estava                          puros,
       revelando que, enquanto continuasse                               14 quanto mais o sangue de Cristo, que
       erguido o primeiro tabernáculo, o Ca-                             mediante o Espírito eterno se ofereceu
       minho para o Santo dos Santos ainda                               de forma imaculada a Deus, purificará
       não havia sido manifestado.                                       completamente a nossa consciência de
       9 Esse fato se transforma numa ilustra-                           comportamentos que conduzem à mor-
       ção para os nossos dias, esclarecendo                             te, para que sirvamos ao Deus vivo!5
       que as ofertas e os sacrifícios oferecidos                        15 Exatamente por esse motivo, Cristo é
       não podiam dar ao adorador uma cons-                              o Mediador de uma Nova Aliança para
       ciência perfeitamente limpa.                                      que todos aqueles que são chamados
       10 Eram tão-somente ordenanças que                                recebam a Promessa da herança eterna,
       tratavam de comida e bebida e de várias                           visto que Ele morreu como resgate por
       cerimônias de purificação com água;                                todas as transgressões cometidas duran-
       esses mandamentos exteriores foram                                te o período em que vigorava a primeira
       impostos até a chegada do tempo da                                aliança.6
       nova ordem.                                                       16 No caso de um testamento, é imperio-



       e com a arca da aliança (Êx 40.5; 1Rs 6.22). No Dia da Expiação, o sumo sacerdote levava incenso desse altar, juntamente com
       o sangue da oferta pelo pecado, para dentro do Santo dos Santos (Lv 16.12-14).
           3 Esses querubins eram duas pequenas estátuas de seres alados, que formavam uma só peça com a tampa da arca e, de pé,
       em cada extremidade do propiciatório; feitas em ouro puro, representando dois anjos da “Presença” divina que exaltam e zelam
       pela reverência e santidade diante de Deus. Era entre essas figuras de anjos que aparecia a glória da “Presença” do Senhor (Êx
       25.17-22; Lv 16.12-14). A tampa da arca da aliança era uma placa feita em ouro puro que se encaixava perfeitamente por cima da
       arca. Uma vez por ano, exatamente no décimo dia do sétimo mês, quando a congregação de Israel celebrava o Dia da Expiação
       (guardado pelos judeus até hoje como Yom Kippur), o sumo sacerdote aspergia sobre o povo, no tabernáculo e sobre a arca, o
       sangue como oferta pelo pecado (Lv 16.14,15,29,34).
           4 Apesar de o tabernáculo mosaico estar ultrapassado, continuava a simbolizar (inutilmente), uma volta à velha forma da Lei,
       uma vez que ela não podia livrar em definitivo o ser humano da condenação do pecado. Os sumos sacerdotes levíticos tinham
       que repetir todos os anos as cerimônias de purificação, mas Cristo ofereceu o sacrifício eficaz, pleno, único e eterno. Depois de
       obter a eterna redenção, subiu e adentrou ao perfeito santuário celestial.
           5 Esse é o versículo chave de Hebreus. Jesus Cristo foi ao mesmo tempo Sumo Sacerdote e Sacrifício imaculado; na inteireza
       da sua pessoa e não apenas de forma exterior, superficial e incompleta. O Espírito de Cristo, que habita no coração (tabernáculo)
       dos crentes, removerá totalmente a profunda e mortal marca do pecado gravada no âmago do nosso ser. É impossível servir ao
       Senhor de forma aceitável com a consciência maculada.
           6 Cristo é o único e suficiente mediador da Nova Aliança entre Deus e a humanidade, cuja “Promessa” é a herança eterna como
       filhos do Altíssimo (7.22; 8.6,13; 12.24; 1Tm 2.5 conforme Jr 31.31-34). Por causa da morte expiatória de Cristo, essa herança
       se tornou realidade para todas as pessoas que crêem sinceramente (os chamados) em Deus (Rm 8.28). Ao entregar-se como




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HEBREUS 9, 10                                                   16

      so que se comprove a morte daquele que                               tuário erguido por mãos humanas, uma
      o determinou;7                                                       simples ilustração do que é verdadei-
      17 porquanto, um testamento só tem                                   ro; Ele entrou nos céus, para agora se
      validade legal após a confirmação da                                  apresentar diante de Deus em nosso
      morte do testador, considerando que                                  benefício;
      não poderá entrar em pleno vigor en-                                 25 Ele também não se ofereceu muitas
      quanto estiver vivo quem o fez.                                      vezes, como procede o sumo sacerdote
      18 Por essa razão, nem a primeira aliança                            que entra no Santo dos Santos de ano
      foi sancionada sem sangue,                                           em ano portando sangue alheio.
      19 tendo em vista que, depois de pro-                                26 Ora, se assim fosse, seria necessário
      clamar todos os mandamentos da Lei                                   que Cristo sofresse muitas vezes, desde
      a todo o povo, Moisés levou sangue de                                o início do mundo. Mas agora Ele mani-
      novilhos e de bodes, e também água, lã                               festou-se de uma vez por todas, no final
      vermelha e ramos de hissopo, e aspergiu                              dos tempos, para aniquilar o pecado por
      sobre o livro e toda a população, decla-                             intermédio do sacrifício de si mesmo.8
      rando:                                                               27 E, assim como aos homens está orde-
      20 “Este é o sangue da aliança, a qual                               nado morrer uma só vez, vindo, depois
      Deus ordenou para obedecerdes”.                                      disto o Juízo,
      21 E procedeu da mesma maneira, as-                                  28 assim também Cristo foi oferecido
      pergindo com o sangue o próprio taber-                               em sacrifício uma única vez, para tirar
      náculo e todos os utensílios usados nas                              os pecados de muitas pessoas; e apare-
      cerimônias sagradas.                                                 cerá segunda vez, não mais para eximir
      22 De fato, conforme a Lei, quase todas                              o pecado, mas para brindar salvação a
      as coisas são purificadas com sangue, e                               todos que o aguardam!9
      sem derramamento de sangue não pode
      haver absolvição!                                                    O sacrifício de Cristo é definitivo
      23 Portanto, se fez necessário que as re-
      presentações das construções que estão
      no céu fossem purificadas mediante tais
                                                                           10     Assim, considerando que a Lei
                                                                                  oferece somente um vislumbre
                                                                           dos plenos benefícios que hão de vir, e
      sacrifícios, mas os próprios elementos                               não exatamente a sua realidade; jamais
      celestiais, por meio de sacrifícios muito                            poderá, mediante os mesmos sacrifícios
      superiores a estes.                                                  repetidos ano após ano, aperfeiçoar os
      24 Pois Cristo não adentrou a um san-                                que se achegam para adorar.1



      sacrifício e ao aspergir seu sangue sobre o madeiro da cruz e sobre o povo presente, perante a Lei, pagou totalmente o preço
      necessário para libertar o ser humano pelos pecados cometidos, sob a primeira aliança, e quanto às violações dos mandamentos
      mosaicos (Mc 10.45).
         7 O termo grego “testamento” pode ser traduzido por “aliança” na maioria das vezes, entretanto, aqui e no v.17, o vocábulo é
      usado especificamente no sentido de comunicar as últimas vontades de uma pessoa sobre a partilha da sua herança. O conceito
      de “aliança” volta à tona do v.18 em diante. Os beneficiários do testamento não têm direito legal à herança determinada antes da
      morte do testador. Nesse sentido, como a morte de Jesus Cristo foi devidamente comprovada na história, a promessa da herança
      eterna (v.15) já pode ser usufruída pelos seus beneficiários de acordo com a vontade expressa do Senhor.
         8 A primeira vinda de Jesus Cristo, o Messias, deu início a grande era messiânica, na qual toda a história da humanidade tem
      transcorrido, aguardando o glorioso retorno de Cristo e o estabelecimento completo do Seu Reino, no qual viveremos eternamen-
      te em sua presença (1.2; 1Pe 1.20; Mc 10.45; Rm 8.3; Ap 20.6).
         9 Assim como os antigos israelitas aguardavam com expectação e ansiedade a volta do sumo sacerdote, enquanto estava no
      Santo dos Santos intercedendo pelo povo, no Dia da Expiação; da mesma maneira, os cristãos devem viver e esperar com fé, na
      expectativa da volta iminente do nosso Sumo Sacerdote (2Tm 4.8; Tt 2.13; Rm 8.29,30; Fl 3.20,21; 1Jo 3.2,3).
         Capítulo 10
         1 O sistema mosaico era composto da Lei e de todos os procedimentos sacerdotais levíticos (7.11). Contudo, os sacrifícios
      perpetuados pela Lei, ano após ano, constituíam-se em uma grande ilustração e antevisão (literalmente em grego: uma sombra)
      do poderoso e derradeiro sacrifício vicário de Cristo. O alvo da fé cristã é nos tornar discípulos (cópias fiéis) de Jesus Cristo (Rm
      8.29; 2Co 4.4; Cl 2.17).




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17                                               HEBREUS 10

       2 Se não fosse assim, não teriam cessa-                             12 Jesus, no entanto, havendo oferecido
       do de ser oferecidos? Porquanto, se os                              para sempre, um único sacrifício pelos
       adoradores tivessem sido purificados                                 pecados, assentou-se à direita de Deus,
       de uma vez por todas, não mais se senti-                            13 aguardando, daí em diante, até que
       riam culpados de seus pecados.2                                     os seus inimigos sejam submetidos por
       3 Contudo, essas cerimônias de sacri-                               estrado de seus pés.
       fícios promovem, todos os anos, uma                                 14 Porquanto, com uma única oferta,
       recordação dos pecados,                                             aperfeiçoou por toda a eternidade todos
       4 porque é impossível que o sangue de                               quantos estão sendo santificados.
       touros e bodes remova pecados.                                      15 E disto, igualmente, nos dá testemu-
       5 Por isso, quando Cristo veio ao mun-                              nho o Espírito Santo; porquanto, após
       do, proclamou: “Sacrifício e oferta não                             ter declarado:
       quiseste, mas um corpo me preparaste;                               16 “Esta é a aliança que farei com eles,
       6 de holocausto e ofertas pelo pecado                               depois daqueles dias, diz o Senhor. Co-
       não te agradaste.                                                   locarei as minhas leis no âmago do seu
       7 Então, Eu disse: Aqui estou, no Livro                             coração e as inscreverei profundamente
       está escrito a meu respeito; vim para                               em sua mente”,
       fazer a tua vontade, ó Deus”.3                                      17 e conclui: “Dos seus pecados e ini-
       8 Havendo declarado em primeiro lugar:                              qüidades nunca mais me permitirei
       “Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofer-                          recordar”.
       tas pelo pecado não quiseste, tampouco                              18 Afi nal, onde todas as transgressões
       deles te agradaste”, os quais foram reali-                          foram perdoadas, não existe mais qual-
       zados conforme a Lei.                                               quer necessidade de oferta de sacrifício
       9 Então, completou: “Aqui estou; vim                                pelo pecado.4
       para fazer a tua vontade”. E assim,
       Ele cancela o primeiro padrão, para                                 Devemos perseverar na fé
       estabelecer o segundo.                                              19  Sendo assim, irmãos, temos plena
       10 E por essa determinação, fomos santi-                            confiança para entrar no Santo dos San-
       ficados por meio da oferta do corpo de                               tos mediante o sangue de Jesus,
       Jesus Cristo, feita de uma vez por todas.                           20 por um novo e vivo Caminho que Ele
       11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia                            nos descortinou por intermédio do véu,
       após dia, para exercer os seus deveres                              isto é, do seu próprio corpo.5
       religiosos, que nunca podem remover                                 21 Temos, portanto, um magnífico sa-
       os pecados.                                                         cerdote sobre a Casa de Deus.


          2 A consciência que condena e aflige diuturnamente o coração de uma pessoa em relação aos pecados cometidos, e que não
       pode aceitar humilde e alegremente o perdão de Deus, ainda não conheceu a verdadeira Salvação que está à disposição de
       todos mediante a simples e sincera fé em Cristo Jesus (Jo 1.12). Absolutamente, nada, e nenhum tipo de oferta ou sacrifício, têm
       o poder de perdoar, limpar e renovar a consciência humana (v.4; Sl 51.10,16; 66.18).
          3 O autor de Hebreus cita trechos dos Salmos da Septuaginta (a mais importante e antiga tradução grega do AT), para demons-
       trar o tipo de obediência concorde e voluntária (submissão, sob missão) de Cristo em relação à vontade do seu Pai (Sl 40.6-8;
       Lc 22.42; Jo 4.34). Nota-se que Deus nunca se interessou pelos sacrifícios em si, mas na verdadeira devoção e obediência à sua
       Palavra (1Sm 15.22).
          4 É prova de incredulidade e insulto contra Deus oferecer qualquer tipo de sacrifício por pecados já remidos em Cristo. Portanto,
       o verdadeiro caminho para Deus não é mais pavimentado pelas ofertas ou cerimônias sacrificiais (como a tradicional missa católi-
       ca ou os rituais espiritualistas), mas exclusivamente pela fé no Cristo ressurreto (9.12; Rm 4.25; 5.19). As citações nesta passagem
       também foram extraídas da Septuaginta (o AT em grego) e atestam que na nova aliança todos os nossos pecados podem ser
       perdoados de maneira eficaz, completa e perpétua, dispensando todo e qualquer tipo de sacrifício adicional ao já consumado
       por Cristo (Jr 31.31-34 já mencionado em 8.8-12).
          5 Na antiga aliança, o acesso ao Santo dos Santos era ultra-restrito, porquanto o sangue dos animais era insuficiente para
       realizar a plena expiação dos pecados. Mas hoje, os crentes de todas as etnias e nações, podem se achegar com fé ao trono da
       graça, pois o sacerdote perfeito ofereceu a si mesmo (o sacrifício perfeito) e expiou todo o pecado e condenação, de uma vez
       para sempre. No momento exato da morte de Cristo na cruz do Calvário, o véu que, simbolicamente, fazia separação entre o San-




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018 hebreus

  • 1. INTRODUÇÃO HEBREUS Autoria Durante aproximadamente mil e duzentos anos (entre o ano 400 e 1600 d.C.), esse verdadeiro tra- tado teológico aos hebreus (judeus) foi chamado de “Epístola de Paulo aos Hebreus”, muito embora a igreja primitiva nunca houvesse lhe atribuído tal autoria. Orígenes, um dos pais da igreja do terceiro século costumava dizer: “somente Deus sabe quem escreveu Hebreus”. A primeira edição britânica da Bíblia King James, em 1611, assim como traduções posteriores para outras línguas, incluindo a portuguesa, ainda abriam o livro de Hebreus com esse título. Com a Reforma, entretanto, análises exegéticas mais aprofundadas começaram a ser implementadas; e com as grandiosas descobertas bíblico-arqueológicas, ocorridas especialmente nos séculos XIX e XX, convencionou-se entre os biblistas de todo o mundo que o mais correto seria manter o mistério, que os próprios originais fazem, em relação à autoria dessa obra. Desde a igreja primitiva, e na época dos pais da igreja, já havia uma inquietação em relação a esse assunto. Tertuliano, por volta do ano 200 d.C., chega a se referir a esse livro como “uma epístola aos hebreus com o nome de Barnabé”. Já na Reforma, foi Martinho Lutero quem primeiro, ao dedicar- se à exegese dos manuscritos gregos que dispunha, sugeriu a autoria de Apolo. Esses autores propostos são, de fato, grandes possibilidades, além de Silas, Áquila, Clemente de Roma e o casal Áquila e Priscila. Barnabé não fazia parte do grupo de apóstolos, no sentido restrito da expressão, mas tinha plena autoridade espiritual a ele conferida pelo comitê apostólico e diretamente por Paulo e Pedro. Foi um intelectual respeitado pela Igreja e cristão hebreu profundo conhecedor do Antigo Testamento. Barnabé, portanto, cumpre bem as características necessárias como potencial autor dessa carta aos Hebreus. Era judeu, da tribo sacerdotal de Levi (At 4.36), e tornou-se discipulador e amigo de Paulo, com quem serviu por muito tempo como companheiro de ministério e missões. Foi o próprio Espírito Santo quem indicou para a Igreja, em Antioquia, que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados para a grande obra de evangelização ocorrida durante a primeira viagem missionária (At 13.1-4). Apolo é um candidato considerado ainda mais indicado por grande parte dos estudiosos modernos. Lucas nos revela que “...chegou a Éfeso um judeu, natural de Alexandria, chamado Apolo, homem eloqüente, e que acumulava grande experiência nas Escrituras”(At 18.24). Apolo também era judeu convertido ao Senhor Jesus, pelo batismo de João, e dotado de admirável capacidade oratória e intelectual. Paulo tinha grande respeito e amizade por Apolo, com quem realizou importante obra evangelística em Corinto (1Co 1.12; 3.4-22). Propósitos Muito mais fácil de determinar do que a autoria de Hebreus, mas não menos difícil de compre- ender em toda a sua amplitude, são os propósitos e o conteúdo temático desta carta endereçada especialmente aos judeus (hebreus) convertidos a Cristo, que faziam parte da Igreja na Itália (13.24; Rm 15.26), mas que estavam sendo tentados a voltar aos rudimentos da Lei e do judaísmo místico. Alguns mestres judeus estavam pregando uma doutrina herética que não combatia diretamente a mensagem cristã, mas procurava judaizar o evangelho (Gl 2.14; At 6.7). O prefácio do livro já afirma categoricamente o caráter distintivo do Filho de Deus. Cristo é antes da História, e a própria razão da História. Jesus é o agente que produz a única plena purificação dos pecados derivados do coração humano, da Queda (Gn 3), e cometidos na História. Jesus Cristo é a suprema revelação de Deus (1.1-3). Portanto, o tema central de Hebreus é a supremacia e suficiência de Cristo, completando e ultra- passando em muito a revelação preliminar e limitada concedida aos homens por meio do Antigo Testamento. Por este motivo, todas as revelações, promessas e profecias do AT são perfeitamente cumpridas somente na “Nova Aliança” ou “Novo Testamento”, nos quais a pessoa de Jesus, por cau- sa da sua obra redentora, é o único e suficiente Mediador entre Deus e a humanidade. Muito superior aos anjos, a Moisés (mediador da Antiga Aliança) e a todos os profetas do AT (1.4-14). Segundo vários exegetas e estudiosos dos manuscritos gregos de Hebreus, esta carta poderia também ser HB_B.indd 2 14/8/2007, 15:39:03
  • 2. designada como “O Livro do Melhor”, na medida em que as expressões que significam “melhor” e “superior” aparecem mais de 15 vezes no texto original dessa obra. O sacerdócio de Cristo, semelhante a Melquisedeque (Sl 110.4) – o sacerdote eterno e ilustração do Messias, é melhor do que o arônico, e superior a toda geração dos levitas, pois a vida do Cristo é indes- trutível e perene. Jesus é o único que ao mesmo tempo é o Sacerdote, que é a própria Oferta sacrificial, e seu sangue valida todo o Novo Testamento que é o “Pacto” final e eterno (4.14 – 10.18). Os crentes são movidos pela comunhão restabelecida com Deus Pai em Cristo Jesus, e pela fé presente, conscientes das bênçãos infinitas que os aguardam no futuro (10.19 –12.29). A Cruz do Senhor como o grande altar do cristão, e a ressurreição do Sacerdote, perfazem a base jurídica da ação salvadora e redentiva de Deus (13.1-25). Data da primeira publicação Os mais atuais e consistentes estudos históricos e arqueológicos sobre a datação de Hebreus apontam para alguma época, no ano 70 de nossa era, imediatamente anterior ao massacre e destruição da cidade de Jerusalém, pelos exércitos romanos comandados por Tito. As principais justificativas, neste sentido, levam em consideração que, se essa carta tivesse sido escrita após esta data, com toda a certeza, o autor teria mencionado ou feito alguma alusão a uma das mais sangui- nárias chacinas ocorridas em Jerusalém, em toda a história da humanidade, envolvendo a completa destruição do suntuoso templo e do próprio sistema sacrificial judaico. Por outro lado, o autor ao escrever os originais em grego, emprega sistematicamente o tempo verbal presente quando fala sobre o templo e se refere às atividades sacerdotais praticadas antes da invasão romana e jamais retomadas até nossos dias (5.1-3; 7.23,27; 8.3-5; 9.6-25; 10.1-11; 13.10,11). Esboço geral de Hebreus 1. A superioridade universal e infinita de Jesus, o Cristo (1.1 – 4.16) A. Jesus é incomparavelmente superior a todos os profetas (1.1-4) B. Jesus é superior a todos os seres angelicais (1.5-14) C. Jesus é superior ao mediador do AT: Moisés (3.1-6) D. Jesus Cristo, o filho de Deus, é o alvo maior da fé (3.7 –4.16) 2. A superioridade inquestionável do sacerdócio do Senhor (5.1 – 10.39) A. A superioridade das qualificações do Senhor Jesus (5.1-10) B. Sermão repetitivo para os tardios de entendimento (5.11 – 6.20) C. Jesus é superior em sua própria Ordem Sacerdotal (7.1 – 8.13) a) Melquisedeque como ilustração do Messias (7.1-3) b) A superioridade do Sacerdote eterno (7.4 – 8.13) D. Jesus é superior por causa de sua obra vicária (9.1 – 10.18) E. Outro rápido sermão de chamamento à fé (10.19-39) 3. A superioridade da pessoa e do poder de Jesus Cristo (11.1 – 13.19) A. Todo poder é outorgado aos sinceros crentes no Senhor (11.1-40) B. O poder da fé no dia-a-dia dos cristãos e da Igreja (12.1-29) C. O infinito e superior poder do amor leal de Cristo (13.1-19) 4. Saudações e bênção final (13.20-25) HB_B.indd 3 14/8/2007, 15:39:06
  • 3. HEBREUS Deus revelou-se em Jesus Cristo hoje te gerei”? E outra vez: “Eu lhe serei Pai, e Ele me será Filho”? 4 1 Havendo Deus, desde a antigüida- de, falado, em várias ocasiões e de muitas formas, aos nossos pais, por 6 E uma vez mais, quando Deus intro- duz o Primogênito no mundo, declara: intermédio dos profetas,1 “Todos os anjos de Deus o adorem”.5 2 nestes últimos tempos, nos falou 7 Quanto aos anjos, Ele afi rma: “Ele faz mediante seu Filho, a quem constituiu dos seus anjos ventos, e dos seus servos, herdeiro de tudo o que existe e por meio labaredas de fogo”.6 de quem criou o Universo. 8 Entretanto, a respeito do Filho, revela: 3 Ele, que é o resplendor da glória e a “O teu trono, ó Deus, subsiste por toda expressão exata do seu Ser, sustentando a eternidade; e o cetro do teu Reino é tudo o que há pela Palavra do seu poder. bastão da justiça. Depois de haver realizado a purificação 9 Amas o direito e odeias a iniqüidade; dos pecados, Ele se assentou à direita da por este motivo, Deus, o teu Deus, te esco- Majestade nas alturas,2 lheu e ungiu com óleo de alegria, como a 4 tornando-se tão superior aos anjos nenhum dos teus companheiros”. quanto o Nome que herdou é ainda 10 E acrescenta: “Tu, Senhor, no prin- mais excelente do que eles.3 cípio estabeleceste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos. O Filho é exaltado acima dos anjos 11 Eles perecerão, mas tu permanecerás; 5 Porquanto, a qual dos anjos Deus algu- envelhecerão como vestimentas, ma vez afirmou: “Tu és meu Filho; Eu 12 e como um manto tu os enrolarás, e 1 A “antigüidade” é um termo que indica a era anterior à primeira vinda de Jesus Cristo, em contraste com “nestes últimos dias” (v.2), que se referem à era messiânica (ou período escatológico) inaugurada com a encarnação do Senhor (At 2.17; 1Tm 4.1; Jo 2.18). A ex- pressão “Deus falou” é mais uma confirmação de que seu Espírito Santo é o supremo autor-inspirador dos escritores do AT e do NT. 2 Jesus Cristo, o Filho primogênito de Deus, é o herdeiro de todo o Universo e da eternidade (Ef 1.20-23; Rm 8.17). Cristo é a Palavra, o agente da Criação (Jo 1.1-3; Cl 16.3). Ele é o resplendor da glória de Deus; assim como a luz do sol não pode se separar do próprio sol, semelhantemente, o esplendor do Filho é inseparável da deidade, porquanto ele mesmo é Deus, como segunda pessoa da Trindade (Jo 1.5-18). Jesus não é uma simples imagem ou anjo de Deus, mas a materialização exata da pessoa de Deus (Jo 14.9; Cl 1.15). Cristo não pode ser comparado a qualquer outro deus, como imaginavam os gregos em relação a Atlas, que, segundo a mitologia, tinha o poder de carregar o mundo nas costas. O Filho de Deus mantém sob seu controle todo o macro e micro universo (Cl 1.17). Somente podia sentar-se ao lado direito do rei alguém por ele determinado e investido da sua autoridade, pois esse ato normalmente indicava o seu sucessor ao trono, tradicionalmente seu filho escolhido. Ao ser conduzido à direita do Pai, Jesus Cristo completou a obra da redenção, e hoje governa ativamente com Deus, como Senhor absoluto do Universo (v.13; 8.1; 10.12; 12.2; Ef 1.20; Cl 3.1; 1Pe 3.22; Mc 16.19). 3 A maioria dos hebreus (povo semita do AT que deu origem aos judeus) acreditava que os anjos eram seres celestiais e exaltados, que deviam ser reverenciados por terem participado da entrega da Lei de Deus ao povo no monte Sinai (2.2); sendo essa Lei a suprema revelação de Deus para os judeus. Vários textos antigos, descobertos no monte Qunram e conhecidos como os Rolos do Mar Morto, revelam a expectativa de muitos hebreus de que o arcanjo Miguel seria o grande líder do reino messiânico e, nesse caso, alguns anjos ocupariam uma posição acima de Cristo. O escritor desse livro contesta veementemente essa possibilidade, lembrando aos seus leitores, entre outras coisas, o fato de que o nome, para a cultura judaica, comunica o caráter completo da pessoa. Portanto, o trecho que se segue nos revela que esse Nome era “Filho”, nome que deve ser adorado por todo o Universo, o qual nenhum anjo pode ostentar (Gn 17.5; vv.5-14). 4 O Sl 2.7 é citado também em At 13.33, demonstrando o cumprimento perfeito da vontade de Deus na ressurreição do seu Filho, Jesus (Lc 1.32,33; Rm 1.4; 2Sm 7.14). 5 Os próprios anjos declaram que Jesus Cristo é o Senhor e o adoram (Dt 32.43 – de acordo com a Septuaginta e os Rolos do Mar Morto – Cl 1.15; Sl 97.7). Essas declarações, que no AT se referem a Yahweh (o nome impronunciável de Deus no AT), aqui são aplicadas a Cristo, o que se constitui em mais uma indicação clara da sua absoluta divindade. 6 O autor de Hebreus cita a Septuaginta (tradução grega do AT), por ser a tradução das Escrituras que a geração dos judeus de sua época mais conhecia, pois muitos palestinos já não sabiam ler o hebraico antigo (Sl 104.4). HB_B.indd 4 14/8/2007, 15:39:07
  • 4. 5 HEBREUS 1, 2 como roupas serão trocados; mas, Tu és de sinais, Deus testemunhou feitos por- imutável, e os teus dias não terão fim”.7 tentosos, diversos milagres e dons do 13 Ora, a qual dos anjos Deus alguma vez Espírito Santo, distribuídos conforme declarou: “Senta-te à minha direita, até a sua vontade.4 que Eu faça dos teus inimigos um estra- 5 Porquanto, não foi aos anjos que Deus do para os teus pés”? sujeitou o mundo vindouro, a respeito 14 Não são todos os anjos, espíritos do qual estamos falando.5 ministradores, enviados para servir em benefício dos que herdarão a salvação?8 Cristo é feito à nossa semelhança 6 No entanto, alguém em certa passa- Jamais negligenciar a salvação gem testemunhou, afi rmando: “Que é 2 Por isso, é fundamental prestarmos atenção, mais ainda, às verdades que temos ouvido, para que jamais nos des- o homem, para que com ele te impor- tes? E o fi lho de Adão, para que venhas visitá-lo? viemos delas.1 7 Tu o fi zeste um pouco menor do que os 2 Pois, se a mensagem proferida por anjos e o coroaste de glória e de honra; anjos provou sua firmeza, e toda trans- 8 tudo sujeitaste debaixo dos seus pés”. gressão e desobediência recebeu a devi- E ao sujeitar-lhe todo o Universo, nada da punição,2 deixou que não lhe fosse sujeito; contu- 3 como nos livraremos se desconsiderar- do, hoje, ainda não vemos que todas as mos tão grande salvação? Esta salvação, coisas estejam submissas a ele;6 tendo sido proclamada pelo Senhor, foi 9 observamos, no entanto, aquele que depois confirmada a nós pelos que a por um momento foi feito menor do ouviram.3 que os anjos, Jesus, coroado de honra e 4 E, juntamente com eles, por intermédio de glória por ter sofrido a morte, para 7 O autor cita mais algumas passagens do AT que sugerem a divindade do Rei messiânico e davídico, reafirmando a superiori- dade de Jesus, o Filho de Deus, sobre todos os anjos (Sl 45.6,7; 102.25-27). 8 O autor de Hebreus faz questão de aplicar os textos do AT dirigidos a Yahweh (Iavé) à pessoa de Jesus Cristo, o Filho. O Salmo 110 é citado várias vezes, sempre aplicado a Jesus (3.13; 5.6,10; 6.20; 7.3-21; 8.1; 10.12,13; 12.2). O autor destaca: Cristo, o Filho de Deus, reina; os anjos ministram como missionários celestes, enviados para servir aos escolhidos. Capítulo 2 1 A expressão grega original, aqui traduzida pela palavra “desviemos”, tem o sentido literal de: “sermos levados por uma forte correnteza”. 2 O autor de Hebreus refere-se à participação dos anjos na entrega da Lei a Moisés no Sinai (Dt 33.2 – “miríades de santos” – Sl 68.17; At 7.38,53; Gl 3.19). 3 Os cristãos hebreus, principais destinatários deste livro, estavam negligenciando a comunhão da Igreja (koinonia) e dos cultos (10.25), por acreditarem que Jesus estava demorando muito para retornar. O autor de Hebreus afirma que as testemunhas oculares, sobretudo os apóstolos, foram os primeiros a confirmar a Mensagem proclamada por Cristo (2Pe 1.16; 1Jo 1.1). Ele, entretanto, não reivindica alguma revelação direta do Senhor. Mas defende a nossa Salvação em Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, com raro entusiasmo e conhecimento cristológico das Escrituras. 4 Deus fez questão de confirmar a chegada do Evangelho e seu Reino por meio de atos sobrenaturais e prodigiosos, como a cura de milhares de enfermos (At 3.7-16) e a distribuição de diversos dons espirituais, em benefício ao seu Corpo (a Igreja), de acordo com seus planos e propósitos (1Co 12.4-11). 5 O autor de Hebreus faz uma exposição cristológica do Salmo 8.4-6, demonstrando a superioridade absoluta de Cristo sobre os mais altos anjos. Usa o termo grego oikoumenen, para comunicar a idéia “da sociedade organizada pelos seres humanos”, ou seja, “o mundo”. Ao tomar sobre si a natureza humana e cumprir plenamente sua missão na terra, de acordo com o plano do Pai, Cristo redimiu o ser humano caído e arrependido, não os anjos caídos (vv.11,14). O novo mundo será governado por Cristo, juntamente com todos os cristãos (2Tm 2.12). 6 O texto sagrado de Sl 8.4-6 era bem conhecido pelos hebreus e contempla a pessoa de Adão, como o precursor da humanidade. A ele, Deus confiou o poder sobre tudo o que havia na terra (Gn 1.26). O propósito de Deus era que o ser humano fosse soberano no âmbito das criaturas, sujeito somente ao Senhor. Todavia, por causa da Queda (Gn 3), esse objetivo de Deus ainda não foi completamente realizado. De fato, o próprio homem está “escravizado” pelo pecado, que é a morte (v.15), e somente em Cristo pode ser salvo (liberto). HB_B.indd 5 14/8/2007, 15:39:15
  • 5. HEBREUS 2, 3 6 que, pela graça de Deus, em benefício de 15 e livrasse todos os que ao longo da todos, experimentasse a morte.7 vida inteira estiveram escravizados pelo 10 Ao conduzir muitos fi lhos à glorifi- medo da morte.10 cação, convinha que Deus, por causa 16 Pois, é evidente que Ele não auxilia de quem e por intermédio de quem os anjos, mas sim à descendência de tudo veio a existir, tornasse perfeito, Abraão.11 por meio do sofrimento, o Autor da 17 Por esse motivo, era vital que Ele Salvação deles.8 se tornasse semelhante a seus irmãos 11 Assim, tanto o que santifica quanto os em todos os aspectos, a fim de que que são santificados advêm de Um só. E, pudesse constituir-se sumo sacerdote por essa razão, Jesus não se envergonha misericordioso e leal em relação a de chamá-los irmãos. Deus, e poder realizar propiciação pelos 12 Ele declara: “Vou anunciar teu nome pecados do povo.12 aos meus irmãos; cantar-te-ei louvores 18 Considerando, portanto, tudo o que no meio da congregação”.9 Ele mesmo sofreu quando tentado, Ele 13 E mais: “Porei nele a minha con- é capaz de socorrer todos aqueles que fiança”. E outra vez Ele afirma: “Aqui semelhantemente estão sendo atacados estou Eu com os fi lhos que Deus me pela tentação. concedeu”. 14 Portanto, visto que os fi lhos compar- Jesus Cristo é superior a Moisés tilham de carne e sangue, Ele também participou dessa mesma condição hu- mana, para que pela morte destruísse 3 Sendo assim, santos irmãos, partici- pantes da convocação celestial, con- siderai com toda a atenção o Apóstolo e aquele que tem o poder da morte, a sa- Sumo Sacerdote que declaramos pu-bli- ber, o Diabo; camente: Jesus.1 7 O Sl 8 refere-se aqui à pessoa do Messias, o Senhor Jesus, como o precursor do domínio humano restaurado sobre a terra. Por causa da sua vida de amor e obediência ao Pai, seu sacrifício vicário na cruz e sua exaltação (1Co 15.45), tornou possível ao homem perdoado e redimido o cumprimento das promessas do Sl 8 no Reino que se estabelecerá plenamente no futuro. 8 A expressão grega original archegőn, aqui traduzida por “Autor”, tem o sentido literal de: “Iniciador”. Cristo é o condutor dos descendentes de Adão à glória que Deus planejou para a humanidade. Foi por intermédio da sua paixão pessoal – a Deus e à humanidade – que Jesus pode se tornar nosso perfeito e único Salvador, o Messias (v.18; At 3.15; 5.31; Hb 12.2). 9 Na “Congregação”, um dos sinônimos da palavra Igreja (em grego ekklesia), só podem participar, como membros, os “irmãos” de Cristo. Os filhos de Deus foram outorgados ao Filho do Pai como “irmãos” (v.11), participantes da natureza de Cristo mediante o Espírito Santo (v.14). O autor de Hebreus cita o Sl 22, salmo de Davi (escrito há mais de mil anos antes da crucificação de Jesus), e que se refere profeticamente aos sofrimentos e ao triunfo de Jesus Cristo, o Servo Justo de Deus, o Messias. 10 Satanás tem o “poder da morte” somente no sentido de “poder induzir” a humanidade ao pecado; desviar as pessoas do Caminho que conduz a Deus: Jesus Cristo, e, conseqüentemente, relegar o ser humano incrédulo a uma condição de punição inevitável, que é o eterno afastamento da presença de Deus: a morte (Ez 18.4; Rm 5.12; 6.23). Entretanto, a graça salvadora de Deus está – neste momento – à disposição de todos os seres humanos que desejarem sinceramente recebê-la por meio da fé em Cristo Jesus (Jo 1.12,13). 11 Aos anjos caídos (demônios) e ao próprio Satanás, não será concedida qualquer benevolência ou graça salvadora. Todos esses espíritos do mal já estão condenados à punição máxima e eterna. Somente aos descendentes de Adão (os seres humanos), que ao serem contemplados pela graça de Cristo, reconhecerem que andaram contra a perfeita vontade de Deus, serão definitivamente redimidos e salvos da morte pela fé em Jesus (Gl 3.7). 12 Para que Jesus Cristo pudesse cumprir a Lei, e pagar plenamente a fiança da ira condenatória de Deus sobre a humanidade, tinha que se tornar perfeitamente humano, todavia sem pecado (4.15), a fim de reunir todos os poderes legais para se oferecer em resgate pelo pecado de Adão (e de toda a humanidade por extensão). O sacrifício do Justo na cruz foi a derradeira e definitiva cerimônia de Propiciação (termo hebraico que significa “cobrir”, “apagar”) exigida por Deus para que a Lei fosse perfeitamente cumprida, e a era da graça pudesse ser declarada em vigor até o iminente e glorioso retorno do Senhor e o Juízo final (Lv 20-24; 17.11). Capítulo 3 1 Jesus Cristo é o perfeito Sumo Sacerdote (representante) e Apóstolo (missionário) de Deus para o resgate (Salvação) da humanidade (Mc 6.30; 1Co 1.1). Jesus muitas vezes se referiu a si mesmo como aquele que fora “enviado” ao mundo pelo Pai (Mt 10.40; 15.24; Mc 9.37; Lc 9.48; Jo 4.34; 5.24-38; 6.38). HB_B.indd 6 14/8/2007, 15:39:23
  • 6. 7 HEBREUS 3 2 Ele foi fiel àquele que o constituiu, as- essa geração e declarei: O coração sim como também foi Moisés em toda a destes está sempre se desviando, e não casa de Deus.2 reconheceram os meus caminhos. 3 Jesus foi considerado digno de maior 11 Sendo assim, jurei na minha ira: Estes glória do que Moisés, pelo mesmo prin- jamais entrarão no meu descanso”. cípio que o construtor de uma casa pos- 12 Irmãos, tende muito cuidado, para sui mais honra do que a própria casa. que nenhum de vós mantenha um co- 4 Porquanto, toda casa é construída por ração perverso e incrédulo, que se afaste alguém; no entanto, Deus é o supremo do Deus vivo. construtor de tudo.3 13 Pelo contrário, exortai-vos mutua- 5 Moisés foi leal como servo em toda a mente todos os dias, durante o tempo casa de Deus, dando testemunho do que que se chama “hoje”, de maneira que haveria de ser revelado no futuro;4 nenhum de vós seja embrutecido pelo 6 Cristo, no entanto, é fiel como Filho engano do pecado.6 sobre a casa de Deus; e essa casa, pre- 14 Porque passamos a ser participantes cisamente, somos nós, isto é, se retiver- de Cristo, desde que em realidade, nos mos com fé perseverante a coragem e a apeguemos até o fim à fé que nele depo- esperança da qual nos gloriamos. sitamos desde o início. 15 Por essa razão é que se afi rma: “Hoje, O grave perigo da incredulidade se ouvirdes a sua voz, não endureçais o 7 Assim como proclama o Espírito San- vosso coração, como ocorreu na rebe- to: “Hoje, se ouvirdes a sua voz,5 lião”. 8 não endureçais o vosso coração, como 16 Ora, quem foram os que ouviram e ocorreu na rebelião, durante o tempo da se rebelaram? Não foram todos os que provação no deserto, saíram do Egito guiados por Moisés? 9 onde vossos pais me tentaram, pondo- 17 E contra quem Deus se manteve irado me à prova, ainda que, durante quarenta por quarenta anos? Não foi contra aque- anos, tenham contemplado as minhas les que pecaram, cujos corpos tomba- obras. ram mortos no deserto? 10 Por esse motivo, me indignei contra 18 E a quem jurou que jamais haveriam 2 Moisés foi enviado por Deus para libertar o povo de Israel da escravidão egípcia, e para guiá-los à Terra Prometida. Jesus foi enviado pelo Pai para libertar os dominados pelo pecado e pelo Diabo, de todas as nações, e conduzi-los ao Shabbãth do Senhor (descanso sabático em hebraico) prometido aos que crêem (2.14,15; 4.3,9; Jo 1.12,13; 17.4). O termo original “casa”, aqui, significa “família”. 3 Aqui, o termo “casa” pode ser traduzido como “lar”. Assim, Jesus, como Deus, é o próprio construtor do “lar”, sendo que Moisés simplesmente fazia parte dessa “casa”. Jesus, o Filho de Deus, é o agente e herdeiro de toda a Criação, e, portanto, tem o direito de mandar; Moisés tinha o direito de servir. 4 O próprio Moisés profetizou acerca da vinda e da obra de Cristo. A casa consiste no povo de Deus em todo o mundo, sua família (Ef 2.19; 1Pe 2.5). Se alguém deixar de perseverar na fé, apenas demonstra que jamais foi, de fato, crente e filho de Deus. Aquele que se arrepende de seus erros e pecados e não consegue ficar longe do Senhor e de sua família (a Igreja) é o filho amado, e seu coração exibe a marca dos eleitos. A prova da realidade da regeneração está na fidelidade a Jesus Cristo e na obediência à sua Palavra. 5 Aqui, temos mais uma evidência da inspiração do AT e, por conseguinte, de toda a Escritura. Essa citação de Sl 95.7-11 faz uma análise sintética da frustrante história de Israel no deserto sob liderança de Moisés. Assim como o autor do salmo usou esse fato histórico para advertir os israelitas do seu tempo contra a tentação da incredulidade e da desobediência à Palavra de Deus; da mesma maneira, o autor de Hebreus aplicou o mesmo princípio aos seus leitores. 6 Embora estejamos vivendo na “época da graça” divina, em que todos têm à sua disposição o favor de Deus, mediante o sacrifício de Cristo, a fim de se arrependerem de seus pecados e terem acesso à plenitude da Salvação, essa oportunidade única é garantida somente “aqui e agora”; amanhã poderá ser tarde demais. Satanás é o mestre da mentira e tenta nos convencer de que Deus não condenará ninguém ao inferno, nem julgará com rigor; e que nossos “erros” não são “grandes pecados”. Todos esses argumentos só servem para embrutecer (endurecer) os corações daqueles que lhes dão ouvidos (2.8; Jr 17.9). Afastar-se de Deus com rebeldia (literalmente no grego: “apostatar”) é desviar-se do Caminho da vida e preferir a morte, da mesma forma como agiram muitos dos israelitas que saíram do Egito a caminho de Canaã, mas não depositaram “confiança plena” (em grego hupostasis) no Senhor. HB_B.indd 7 14/8/2007, 15:39:33
  • 7. HEBREUS 3, 4 8 de ingressar no seu repouso? Ora, não 5 E novamente, no texto citado há pou- foram aqueles que se mantiveram deso- co, confirma: “Jamais entrarão no meu bedientes? descanso”. 19 Concluímos, desse modo, que não 6 Portanto, considerando que ainda lhes foi possível ter acesso à terra pro- faltam alguns para entrar, e aqueles metida por causa da incredulidade.7 a quem antes foram pregadas as boas novas não ingressaram por causa da O descanso sabático dos crentes desobediência, 4 Portanto, ainda que nos tenha sido outorgada a promessa de ingressar no descanso de Deus, tememos que al- 7 determina Deus, uma nova oportuni- dade, e a chama de “hoje”, ao declarar muito tempo depois, por intermédio de gum de vós pareça ter falhado. Davi e conforme o que já fora proclama- 2 Pois as boas novas foram pregadas do antes: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, também a nós, tanto quanto a eles; en- não endureçais o vosso coração”. tretanto, a mensagem que eles ouviram 8 Porque, se Josué lhes tivesse oferecido de nada lhes valeu, pois não foi acompa- descanso, Deus não teria declarado pos- nhada de fé por aqueles que a ouviram.1 teriormente a respeito de outro dia.3 3 Porquanto, somos nós, os que temos 9 Sendo assim, ainda resta um descanso crido, que entramos no descanso, con- sabático para o povo de Deus; forme Deus declarou: “Assim jurei na 10 pois toda pessoa que entra no repou- minha ira: Jamais entrarão no meu so de Deus, também descansa de suas descanso”, muito embora as suas obras obras, como Deus descansou das suas.4 estivessem concluídas desde a fundação 11 Diante disso, esforcemo-nos por do mundo.2 entrar naquele descanso, para que 4 Pois em certa passagem, Ele se referiu ninguém caia no mesmo exemplo de sobre o sétimo dia, nestes termos: “No desobediência.5 sétimo dia, Deus descansou de toda 12 Porquanto a Palavra de Deus é viva e obra que realizara”. eficaz, mais cortante que qualquer espa- 7 Após uma série de perguntas retóricas, o autor de Hebreus conclui que as pessoas que saíram livres do Egito, com destino a Canaã, não puderam completar a viagem por não terem crido de todo coração nas promessas de Deus, o que lhes permitiu “abrir a guarda” e cair em muitos pecados. O Senhor, em sua ira e juízo, fechou as portas de Canaã (a exemplo do que já havia feito em Gn 3.23,24) para que toda aquela geração de israelitas incrédulos perecesse sem chegar ao lugar de repouso do Senhor (Nm 14.21-35). Os leitores de Hebreus são admoestados a ter muita cautela com os mesmos perigos no sentido espiritual. Capítulo 4 1 O autor de Hebreus está sempre comparando a caminhada dos israelitas no deserto, abandonando a escravidão no Egito e peregrinando até o “descanso de Deus” (em hebraico Shabbãth) na Terra Prometida, em relação à jornada do cristão rumo ao seu pleno repouso espiritual no Reino de Deus. O descanso dos judeus, sob a liderança de Moisés, e depois de Josué, temporário e terrestre, prenunciava o descanso eterno das nossas almas em Cristo (v.8; Js 1.13). A expressão grega “acompanhada” significa, literalmente, “unida”; enquanto pode dizer também que “as boas novas” foram literalmente “evangelizadas”. A fé compromete o ouvinte com a mensagem recebida; não se pode esquivar-se da sua obrigação (Rm 10.16; Is 53.1). 2 Do mesmo modo que a fé nas promessas de Deus era requerida para se entrar no descanso de Canaã, também só ingressaremos no descanso pleno e eterno da salvação mediante a fé sincera na pessoa e na obra expiatória de Jesus Cristo. Deus concluiu suas obras no sétimo dia da criação e descansou (v.4; Gn 2.2,3). Portanto, o Senhor nos convida para compartilhar do seu descanso, e não para qualquer tipo de repouso que possamos conquistar (vv.10,11). 3 O ingresso de Israel em Canaã sob a liderança de Josué representou uma forma parcial e temporária de entrar no “Sábado de Deus”. Mas, a posse do “Sábado” não foi completada naquela época, como demonstra o convite contínuo expresso no Salmo 95.7,8. 4 Podemos tomar a posse completa do “Sábado de Deus” por meio da fé sincera em Jesus Cristo. Assim como Deus des- cansou da obra da Criação, o crente pode descansar de empreender esforços na tentativa de alcançar a sua salvação, e deve repousar na obra consumada pelo Filho de Deus na cruz do Calvário, o qual nos conduzirá ao “Shabbãth eterno do Senhor” (Ap 14.13). 5 O esforço do cristão não é “para alcançar o mérito da salvação”, mas sim porque “já é salvo”, busca perseverar na fé, pela obediência diária ao Espírito Santo e à Palavra de Deus. Não devemos seguir o triste exemplo de Israel no deserto. As palavras “repouso” e “descanso” vêm do termo original grego sabbatismos (Jo 5.19; 14.2,24). HB_B.indd 8 14/8/2007, 15:39:40
  • 8. 9 HEBREUS 4, 5 da de dois gumes; capaz de penetrar até designado para representá-los em ques- o ponto de dividir alma e espírito, juntas tões relacionadas com Deus, a favor da e medulas, e é sensível para perceber os humanidade, a fim de oferecer tanto dons pensamentos e intenções do coração.6 quanto sacrifícios pelos pecados. 13 E não há criatura alguma incógnita 2 Ele é capaz de compadecer-se dos que aos olhos de Deus. Absolutamente tudo não têm conhecimento e se desviam, con- está descoberto e às claras diante daque- siderando que ele mesmo está rodeado de le a quem deveremos prestar contas. fraquezas.1 3 E, por esse motivo, deve oferecer sa- Jesus é o grande sumo sacerdote crifícios pelos pecados, tanto do povo 14 Concluindo, tendo em vista que te- como em seu próprio favor. mos um grande sumo sacerdote que foi 4 Ninguém, portanto, toma essa honra capaz de adentrar os céus, Jesus, o Filho para si mesmo, senão quando convo- de Deus, mantenhamos com firmeza cado por Deus, como aconteceu com nossa declaração pública de fé.7 Arão. 15 Pois não temos um sumo sacerdote 5 Desse mesmo modo, Cristo não bus- que não seja capaz de compadecer-se cou para si próprio a glória de se tornar das nossas fraquezas, mas o Sacerdote sumo sacerdote, mas foi Deus quem lhe Supremo que, à nossa semelhança, foi declarou: “Tu és meu Filho; Eu hoje te tentado de todas as formas, porém sem gerei”.2 pecado algum. 6 E revela em outra passagem: “Tu és 16 Portanto, acheguemo-nos com toda sacerdote para todo o sempre, conforme a confiança ao trono da graça, para que a ordem de Melquisedeque”. recebamos misericórdia e encontremos 7 Durante os seus dias de vida na terra, o poder que nos socorre no momento da Jesus ofereceu orações e súplicas, em necessidade.8 clamor e com lágrimas, àquele que o podia salvar da morte, havendo sido Cristo supera a antiga aliança ouvido por causa da sua reverente sub- 5 Porquanto, todo sumo sacerdote, sendo escolhido dentre os homens, é missão. 8 Mesmo considerando o fato dele ser o 6 A expressão total de Deus foi revelada aos seres humanos por meio da pessoa de Jesus Cristo, a Palavra encarnada (Jo 1.1,14) e, igualmente, nos foi confiada verbalmente. Essa palavra dinâmica e ativa de Deus, no cumprimento de todos os seus planos, aparece claramente tanto no AT quanto no NT (Sl 107.20; 147.18; Is 40.8; 55.11; Gl 3.8; Ef 5.26; Tg 1.18; 1Pe 1.23). Tanto a onipotente e onisciente presença do Senhor, quanto o poder de discernimento (em grego kriticos) da Palavra, revelam os senti- mentos e intenções mais íntimas e os traz à tona da nossa consciência para que possam ser julgados (1Co 4.5). 7 O autor de Hebreus começa aqui uma longa exposição teológica (4.14 – 7.28) quanto à superioridade do sacerdócio de Jesus Cristo sobre Arão e o ministério da tradição sacerdotal. Para os cristãos de hoje, esse pode ser um tema de entendimento tranqüilo. No entanto, para os judeus de todos os tempos, especialmente no século I, essas conclusões são tão chocantes quanto reveladoras e salvadoras (Sl 110.4). Assim como o sacerdote arônico, no Dia da Expiação, passava por entre os olhares expectativos do povo em direção ao Santo dos Santos, assim também Jesus passou para além da vista dos discípulos que o observavam atentamente, elevando-se e atravessando pelos céus até adentrar o Santuário Celestial, ocupando sua suprema transcendência e autoridade, e cumprindo plenamente sua obra expiatória (7.26; At 1.9-11; Ef 4.10; Fp 2.9-11). 8 Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, não se mantém distante nem alienado do ser humano e de suas agruras, como ocorria com os sacerdotes judaicos e, ainda hoje, acontece com muitos líderes espirituais. Deus se fez carne em Cristo e sentiu na pele as fraquezas e sofrimentos que acometem a todos nós. Entretanto, ele jamais pecou, o que significa que obteve vitória sobre todos os desafios da carne e do espírito. Portanto, só Jesus pode sentir o que sentimos e oferecer a sua ajuda compassiva sempre que, pela fé, dela nos quisermos valer. Capítulo 5 1 O sumo sacerdote precisa preencher dois pré-requisitos fundamentais: ser chamado por Deus e dedicar sua vida ao Senhor e às necessidades do povo, sendo solidário com as fraquezas, lutas e ignorância dos seus irmãos, porém sem pecar. Só Jesus Cristo conseguiu cumprir plenamente essas exigências (8.3; 9.9; Lv 1.2; 2.1; Nm 15.30,31; Hb 6.4-6; 10.26-31). 2 Cristo não tomou para si a glória de se tornar sumo sacerdote. Jesus, o Filho, foi designado por Deus de acordo com suas próprias declarações proféticas (Sl 2.7; 110.4). O sacerdócio de Cristo, porém, não era conforme a ordem de Arão, mas segundo Melquisedeque (v.6; 1.5; Sl 2.7-9; Rm 1.4). HB_B.indd 9 14/8/2007, 15:39:48
  • 9. HEBREUS 5, 6 10 Filho de Deus, aprendeu a obediência por Exortação à busca da fé madura intermédio das aflições que padeceu;3 9 e, uma vez aperfeiçoado, tornou-se a fonte de salvação eterna para todos 6 Sendo assim, considerando conhe- cidos os ensinos básicos a respeito de Cristo, prossigamos rumo à matu- quantos lhe obedecem, ridade, sem lançar novamente o funda- 10 tendo sido nomeado por Deus sumo mento do arrependimento de atitudes sacerdote, segundo a ordem de Melqui- inúteis e que conduzem à morte; da fé sedeque.4 em Deus,1 2 da instrução acerca de batismos, da Buscar a maturidade em Cristo imposição de mãos, da ressurreição dos 11 Quanto a isso, temos muito que ensi- mortos e do juízo eterno. nar, assunto difícil de explicar, especial- 3 Sigamos, pois, avante! E, se Deus o mente porque vos tornastes indolentes permitir, faremos isso.2 para aprender. 12 Apesar de que, a essa altura, já devês- O grave perigo de rejeitar a fé seis ser mestres, ainda estais precisando 4 Ora, é impossível para aqueles que uma de que alguém vos instrua mais uma vez vez foram iluminados, experimentaram quanto aos princípios elementares da o dom celestial e se tornaram parti- Palavra de Deus. Voltastes a necessitar cipantes do Espírito Santo, de leite, quando já devíeis estar receben- 5 e provaram os benefícios da Palavra de do alimento sólido!5 Deus e os poderes da era que há de vir, 3 13 Ora, quem precisa se alimentar de lei- 6 mas apostataram da fé, sim, é impos- te ainda é criança, e não tem experiência sível que tais pessoas sejam reconduzi- no ensino da justiça. das ao arrependimento; tendo em vista 14 No entanto, o alimento sólido é para que contra si mesmos estão crucificando os adultos, os quais, pelo exercício cons- outra vez o Filho de Deus, e zombando tante da fé, se tornaram capazes de dis- publicamente dele.4 cernir tanto o bem quanto o mal. 7 Porquanto, a terra, que absorve a chu- 3 A existência da preposição ek no manuscrito original grego deixa claro que Cristo pediu ao Pai para que o livrasse da morte em seu sentido mais amplo. Jesus não recuou, em momento algum, diante dos sofrimentos e das aflições mais extremas, todavia ficou horrorizado com o pecado da humanidade que haveria de arcar (Mt 26.36-46; 27.46). Sua oração foi ouvida pelo Pai que o salvou da morte eterna por meio da ressurreição, a mesma que herdamos pelo seu sacrifício vicário. A expressão grega eulabeia significa “reverente temor a Deus”, e pode ser traduzida como “piedade” (Jo 5.19; 1Jo 5.14). 4 Deus se fez humano em Cristo e decidiu passar pelo aprendizado a que todos nós estamos sujeitos. Suas lutas, tentações e vi- tórias foram reais e não alegorias como querem explicar certos teólogos. A Bíblia não é uma obra de ficção, mas um depoimento fiel das experiências vividas por homens de Deus, narradas pela inspiração do Espírito Santo. Ao contrário de Adão, que relativizando a Palavra de Deus fracassou e caiu, Jesus permaneceu fiel (obediente) e prevaleceu; completando (aperfeiçoando) sua humanidade filial e podendo, assim (perfeito), ser a fonte da “eterna redenção” (v.9; 2.10; 9.12; 12.2; Rm 4.25; 10.9; Tg 2.14-26). 5 Os hebreus não eram recém-convertidos, já haviam aprendido muito bem as doutrinas básicas do Evangelho, como as apresentadas em 6.1,2. No entanto, haviam permitido que a preguiça mental, a indolência física e, especialmente, o esfriamento espiritual, tomassem conta de suas vontades mais nobres (6.12). Deviam caminhar com perseverança na vida cristã autêntica e, havendo passado pelos ensinos fundamentais da Palavra, ingressar com fé na plenitude do Espírito e do conhecimento avançado do Senhor, como o autor de Hebreus nos exorta no capítulo 7. Capítulo 6 1 Os ensinos básicos da doutrina de Cristo já deveriam ser sabidos e estar em plena prática entre os cristãos hebreus (1Co 15.3,4). A igreja, depois de algum tempo, estava dando ouvidos a falsos ensinos e realizando “obras mortas”, isto é, tendo uma vida de pecado que condena o pecador à morte eterna (9.14). 2 Expressão que se tornou popular entre os cristãos e que comunica dependência em relação à soberania do Senhor. Somente o Espírito de Deus pode iluminar as mentes e os corações, operando maturidade espiritual (1Co 16.7). 3 É Deus quem abre os olhos dos cegos espirituais (incrédulos) e lhes oferece a percepção da verdade divina. Aqueles que “experimentaram”, isto é, “apreciaram pela experiência” a Palavra de Deus (2Co 4.4,6) e se apropriaram, mediante a fé em Cristo, do “dom celestial”, oferecido a todo que crê no Senhor (2Pe 2.2), recebendo, portanto, o Espírito de Deus; estes se tornaram metochoi (no original grego: participantes) da obra redentora e dos milagres da “era” de Cristo (em grego aiõn). 4 É preciso fazer uma grande diferença entre divergências teológicas e apostasia. O texto bíblico se refere aqui às pessoas que HB_B.indd 10 14/8/2007, 15:39:55
  • 10. 11 HEBREUS 6 va, que cai de tempo em tempo, e dá co- vista não haver outro maior por quem lheita proveitosa àqueles que a cultivam, jurar;6 recebe a bênção de Deus. 14 e declarou: “Esteja certo de que o 8 Todavia, a terra que produz espinhos e abençoarei e farei numerosos os seus ervas daninhas é inútil, e logo será amal- descendentes”. diçoada. Seu fim é ser lançada ao fogo. 15 Sendo assim, havendo Abraão espe- rado com paciência certeira, alcançou Vivendo como herdeiros de Deus a promessa.7 9 Quanto a vós outros, no entanto, ó 16 Ora, os homens juram por quem é amados, estamos convencidos de que a maior do que eles, e para eles o jura- vossa situação seja muito melhor, sendo mento confirma a palavra empenhada, beneficiados com as bênçãos decorren- pondo fim a toda discussão. tes da salvação. 17 Do mesmo modo, Deus, querendo de- 10 Porquanto Deus não é injusto para se monstrar de forma mais clara aos herdei- esquecer do vosso trabalho e do amor ros da promessa a imutabilidade de seu que revelastes para com o seu Nome, pois propósito, interveio com juramento, servistes os santos, e ainda os servis.5 18 para que nós, que nos refugiamos no 11 Desejamos, contudo, que cada um de acesso à esperança proposta, sejamos vós demonstre o mesmo esforço dedica- grandemente encorajados por meio de do até o fim, para que tenhais a plena duas afirmações imutáveis, nas quais é certeza da esperança, impossível que Deus minta.8 12 de maneira que não vos torneis ne- 19 Essa esperança é para nós como ân- gligentes, mas imitem aqueles que, por cora da alma, firme e segura, a qual tem intermédio da fé e da longanimidade, pleno acesso ao santuário interior, por recebem a herança prometida. trás do véu, 20 onde Jesus adentrou por nós, como A promessa de Deus é imutável precursor, tornando-se sumo sacerdote 13Quando Deus fez a sua promessa a para sempre, segundo a ordem de Mel- Abraão, jurou por si mesmo, tendo em quisedeque. deliberadamente renunciam da sua fé na pessoa e obra de Jesus Cristo, conforme está prescrito na Palavra de Deus: a Bíblia (Rm 10.9; 2Tm 3.16). O Senhor pode transformar a vida de um apóstata por meio da sua infinita graça e misericórdia. Entretanto, a igreja não deve realizar um segundo batismo, pois Cristo morreu por nós uma única vez (Gl 2.19; 9.26). A não ser que se conclua que o suposto apóstata, na verdade, não era um convertido e que, agora sim, aceitou de coração o dom do arrependimento e da salvação em Cristo (1Jo 5.16; 1Co 15.5; At 8.21-24). Portanto, esse lhe será o primeiro e definitivo batismo de testemunho do novo nascimento (Jo 3). 5 O autor deste livro não está julgando que seus leitores sejam apóstatas. Ele apenas os adverte sobre os perigos da apostasia, que pode ter seu início fatal com a indolência, inércia, preguiça (o peso dos pecados não confessados e abandonados) e o cansaço espiritual ao longo da caminhada cristã (5.11; 12.1,12). Todo trabalho sincero e abnegado em prol do Reino de Deus constrói um tesouro que é de valor eterno. 6 É próprio dos seres humanos fazer juramentos. Isso devido à situação decaída da humanidade na qual a palavra das pessoas nem sempre é fiel e suficiente. Deus, ao fazer um juramento, demonstra que não há ninguém além dele mesmo, cujo nome possa autenticar sua Palavra; humaniza-se mediante uma característica cultural, moral e ética de grande valor entre os humanos, e nos oferece garantia em dobro (v.18; 11.39) quanto ao cumprimento cabal da sua Promessa (Gn 22.16-18). A expressão idiomática hebraica literal, usada por Deus a Abraão, registrada nos manuscritos originais é: “abençoando te abençoarei”, que indica um juramento ou promessa incondicional e permanente. 7 A palavra grega original usada para descrever aqui a “paciência” de Abraão é makrothumia, que significa “longanimidade”, em contraste com os sentimentos de indignação e revolta. Refere-se, portanto, ao fato de Abraão ter “esperado com fé”, por cerca de 25 anos, pelo nascimento de Isaque e, mais tarde, pela entrega e restauração do seu filho (Gn 12.3,4; 17.2; 18.10; 21.5; 22.16). 8 As duas afirmações imutáveis do Senhor são: a promessa de Deus, que por si só é absolutamente fidedigna, e o juramento de Deus concedido aos homens, que confirma essa promessa. Hoje, os crentes podem contemplar a promessa que Abraão, no seu tempo, podia apenas antever (11.13; Jo 8.56). Assim como uma forte âncora que mantém o navio na posição correta, e a salvo da força das marés e das correntes marítimas, nossa fé (esperança convicta) em Cristo é nossa garantia de completa salvação e segurança (Jo 10.34-38). HB_B.indd 11 14/8/2007, 15:40:04
  • 11. HEBREUS 7 12 O sacerdócio de Melquisedeque entretanto, é aquele de quem se testifica 7 Porquanto, esse Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altís- simo, que saiu ao encontro de Abraão, que vive. 9 E, por assim dizer, pode-se entender que Levi, que recebe os dízimos, entre- quando este voltava, depois de haver gou-os por meio de Abraão, derrotado os reis, e o abençoou;1 10 pois, quando Melquisedeque se en- 2 para o qual também Abraão entregou controu com Abraão, Levi ainda não o dízimo de tudo. Em primeiro lugar, havia sido gerado por seu pai. seu nome quer dizer “Rei de Justiça”; em segundo lugar, “Rei de Salém”, que O sacerdócio de Cristo é eterno significa, “Rei da Paz”. 11 Sendo assim, se houvesse uma maneira 3 Sem pai, sem mãe, sem origem nem de alcançar a perfeição por intermédio antepassados, sem princípio de dias do sacerdócio levítico, considerando que nem fim de vida, no entanto, por ser à durante sua vigência a Lei foi entregue ao semelhança do Filho de Deus, Ele per- povo, por qual razão haveria ainda ne- manece sacerdote perpetuamente. cessidade de se levantar outro sacerdote, conforme a ordem de Melquisedeque e Cristo supera o sacerdócio levítico não de Arão? 2 4 Considerai, portanto, como era gran- 12 Pois, mudando o sacerdócio, obrigatori- de esse homem a quem até mesmo o amente, ocorre também mudança de lei. patriarca Abraão lhe entregou todo o 13 Porque aquele sobre quem se fazem dízimo dos despojos! estas afirmações pertencia a outra tribo, 5 Ora, os que dentre os fi lhos de Levi da qual ninguém jamais havia servido receberam o sacerdócio têm o man- diante do altar; damento de recolher, de acordo com a 14 porquanto, é bem sabido que o nosso Lei, os dízimos do povo, isto é, dos seus Senhor descende de Judá, tribo da qual irmãos, ainda que tenham todos estes Moisés nada fala quanto a sacerdócio. descendido de Abraão; 15 E este fato se torna ainda mais claro 6 contudo, este homem que não per- com o surgimento de outro sacerdote à tencia à genealogia de Levi, recebeu os semelhança de Melquisedeque, dízimos de Abraão e abençoou aquele 16 não constituído segundo o decreto que tinha as promessas. de um mandamento humano relativo à 7 Evidentemente, não pode haver qual- linhagem, mas de acordo com o poder quer dúvida que o inferior é abençoado de uma vida inextinguível. pelo superior. 17 Porque sobre Ele está escrito: “Tu és 8 No primeiro caso, são homens mortais sacerdote para sempre, conforme a or- que recebem o dízimo; no outro caso, dem de Melquisedeque”.3 1 Embora o autor de Hebreus não afirme claramente que Melquisedeque foi uma cristofania, é revelador o fato de ele não ter origem (genealogia) e ocupar simultaneamente duas posições de grande poder. Elementos que reforçam o pensamento do autor quanto a prefigura (preexistência) do eterno Messias: Jesus Cristo. O nome “Salém”, vem do hebraico antigo, Yerüshalẽm, cujo sentido primitivo teria sido “capital da guerra e da paz”. Mais tarde, essa expressão passou para o idioma aramaico como “cidade da paz”. (Gn 14.18-20; Is 23.5,6; 33.15,16). 2 A Lei entregue a Moisés e ao povo, bem como o sacerdócio e os sacrifícios, faziam parte do mesmo sistema que contemplava o fato de todas as pessoas nascerem em pecado (sob a maldição da Queda) e, portanto, sujeitas à condenação prescrita. Por este motivo, necessitavam de um mediador legal e idôneo para representá-las diante de Deus. O autor de Hebreus esclarece, con- tudo, que o sacerdócio levítico (ou da descendência de Arão) era imperfeito e havia se tornado insuficiente, mas que o sacerdócio de Melquisedeque era o ideal e perfeito. A história registra que a proclamação daquele que viria a ser Sacerdote para sempre (o Messias) foi escrita profeticamente, bem na metade do período em que os sacerdotes levitas exerciam seu serviço ministerial, mostrando que o sacerdócio levítico existente deveria dar lugar a um sistema melhor (Sl 110.4). 3 De acordo com a Lei, a função sacerdotal fora outorgada exclusivamente à tribo de Levi (Dt 18.1), porém Jesus, em sua humanidade, pertencia à árvore genealógica de Judá, uma tribo não-sacerdotal. Entretanto, o autor de Hebreus destaca que Jesus é “sacerdote eterno”, segundo Melquisedeque e, portanto, indestrutível (v. 21). HB_B.indd 12 14/8/2007, 15:40:11
  • 12. 13 HEBREUS 7, 8 18 Assim, o mandamento anterior é de um sacerdote como este: santo, in- anulado por causa de sua fragilidade e culpável, puro, apartado dos pecadores, inutilidade,4 exaltado acima dos céus. 19 pois a Lei jamais conseguiu aperfei- 27 Diferentemente dos outros sumos çoar nada, sendo, portanto, estabelecida sacerdotes, Ele não precisa oferecer uma esperança muito superior, por meio sacrifícios dia após dia; que oferecem da qual temos pleno acesso a Deus. primeiro por seus próprios pecados e, 20 E não foi sem juramento que esse fato somente depois, pelos pecados do povo. se deu! Outros se fizeram sacerdotes Porque no momento em que ofereceu sem qualquer juramento, a si mesmo, realizou esse sacrifício de 21 no entanto, Ele se tornou sacerdote uma vez por todas.5 com juramento, no momento em que 28 Porquanto a Lei designa sumos sa- Deus declarou: “O Senhor jurou e não cerdotes a homens que têm fraquezas; se arrependerá: ‘Tu és sacerdote para mas o juramento, que veio depois da Lei sempre’”. estabelece por toda a eternidade o Filho, 22 Jesus transformou-se, por essa razão, que foi aperfeiçoado.6 na garantia de uma aliança superior. 23 Por isso, aqueles sacerdotes têm A aliança em Cristo é superior surgido em maior número, pois são impedidos pela morte de continuar o ministério; 8 Ora, o mais importante de tudo o que temos afirmado é que, sim, temos um Sumo Sacerdote, o qual se 24 contudo, considerando que vive para assentou à direita do trono da Majestade sempre, Jesus possui um sacerdócio nos céus,1 perene. 2 como ministro do santuário e do 25 Concluindo, Ele é poderoso para sal- verdadeiro tabernáculo que o Senhor var definitivamente aqueles que, por in- ergueu, não como ser humano.2 termédio dele, achegam-se a Deus, pois 3 Pois todo sumo sacerdote é constituí- vive sempre para interceder por eles. do para apresentar ofertas e sacrifícios; 26 Certamente, estávamos necessitados por essa razão, era imprescindível que 4 Como defendeu o apóstolo Paulo, a Lei é santa e justa, todavia não é capaz de transformar em justos aqueles que violaram seus mandamentos e, portanto, pecaram. Nem ao menos pode oferecer à humanidade o necessário poder para vencer o mal e o pecado (Rm 7.12). A Lei foi apenas um sistema preparativo para a definitiva Lei da Salvação em Cristo (Gl 3.23-25; Mt 5.17). A antiga aliança se cumpre plenamente na nova aliança da perfeita redenção e nos capacita a nos achegarmos à presença íntima de Deus (Cl 1.5). 5 A cruz de Cristo marca definitivamente na história do Universo o ponto central do plano redentor de Deus para toda a humanidade. O ato do sacrifício do Filho de Deus encerra o longo e árduo período histórico de “preparação”, e inaugura a “era escatológica” (1.1,2; Gl 4.4; Rm 3.26). Toda a certeza de salvação e esperança (fé) no estabelecimento completo do Reino de Deus, emana do sacrifício vicário de Jesus Cristo oferecido uma única vez para sempre (Is 53.6,10). 6 Os sumos sacerdotes humanos, por mais dedicados que fossem, não eram capazes de viver sem cometer algum pecado (como prova a história até nossos dias); mortais e, portanto, impermanentes; segundo a Lei, somente podiam oferecer sacrifícios de animais, que jamais serviriam de substitutos suficientes para o ser humano, criado à imagem de Deus. Cristo, entretanto, foi “aperfeiçoado” ao enfrentar e vencer as tentações, jamais tendo sucumbido a pecado algum. Obedecendo em tudo ao Pai e, assim, estabeleceu uma perfeição eterna (Gn 1.26-28; 2.10; 5.8). Capítulo 8 1 A expressão “mais importante de tudo”, no original grego, tem o sentido de “resumo essencial”. O argumento que vem sendo desenvolvido pelo autor de Hebreus tem como base escriturística o antigo texto hebraico de Jr 31.31-34, e serve para demonstrar que Jesus Cristo, o Messias, é o verdadeiro e único mediador da Nova e Excelente Aliança (7.22). 2 O “verdadeiro santuário” (em grego tőn hagiőn alethines), expressa o contraste que há entre o tabernáculo construído por Moi- sés (mais tarde colocado no templo de Jerusalém por Salomão - 1Rs 8.4), cópia imperfeita e transitória do “verdadeiro” (perfeito) tabernáculo celestial, erigido pessoalmente por Deus e não por meio do homem. O santuário erguido por Deus corresponde ao Santo dos Santos, um espaço absolutamente sagrado, localizado no interior do tabernáculo de Moisés, no qual o sumo sacerdote entrava, somente uma vez por ano e por um breve momento, levando consigo o sangue da expiação (Lv 16.13-15,34). Jesus Cristo, nosso Sumo Sacerdote, habita eternamente no tabernáculo celestial e intercede por nós diuturnamente (7.25). HB_B.indd 13 14/8/2007, 15:40:18
  • 13. HEBREUS 8, 9 14 este Sumo Sacerdote fizesse a sua oferta 10 “Esta é a aliança que farei com a pessoal. casa de Israel, passados aqueles dias”, 4 Entretanto, se Ele estivesse na terra, garante o Senhor. “Gravarei as minhas nem seria considerado sumo sacerdote, leis na sua mente e as escreverei em seu tendo em vista que já foram constituí- coração. Eu lhes serei Deus, e eles serão dos aqueles que apresentam as ofertas o meu povo, prescritas pela Lei.3 11 ninguém jamais precisará ensinar o 5 Esses servem num santuário que é seu próximo, nem o seu irmão, dizendo: representação e sombra daquele que ‘Conhece ao Senhor’, porque todos me está nos céus, já que Moisés foi avisado conhecerão, desde o menor deles até o quando estava para construir o taber- maior. náculo: “Observai tudo com cautela, 12 Pois Eu lhes perdoarei a malignidade para que faças todas as coisas de acordo e não me permitirei lembrar mais dos com o modelo que vos foi revelado no seus pecados”. monte”. 13 Ao proclamar “Nova” esta aliança, Ele 6 Contudo, agora, Jesus recebeu um mi- transformou em antiquada a primeira. nistério ainda mais excelente ao dos sa- E o que se torna superado e envelhecido, cerdotes, assim como também a aliança está próximo do aniquilamento. da qual Ele é o mediador; aliança muito superior à antiga, pois que é fundamen- Os ritos mosaicos eram imperfeitos tada em promessas excelsas.4 7 Ora, se aquela primeira aliança não ti- vesse imperfeições, não seria necessário 9 Ora, a primeira aliança possuía or- denanças para adoração e também um tabernáculo terreno. buscar lugar para a segunda. 2 Pois foi levantada uma tenda, em cuja 8 Porquanto Ele declara, repreendendo parte da frente, conhecida como Lugar o povo por suas faltas: “Dias virão, diz o Santo, estavam o candelabro, a mesa e Senhor, em que estabelecerei com a casa os pães da proposição.1 de Israel e com a casa de Judá uma nova 3 Mas, atrás do segundo véu, havia a aliança. parte chamada Santo dos Santos, 9 Não conforme a aliança que fi z com 4 onde se posicionavam o altar de ouro seus antepassados, no dia em que os to- puro para o incenso e a arca da aliança, mei pela mão, para os conduzir até fora também toda revestida de ouro. Nessa da terra do Egito; pois eles não continu- arca, estavam o vaso de ouro contendo aram na minha aliança, e Eu me afastei o maná, a vara de Arão que floresceu e deles”, assevera o Senhor! as tábuas da aliança.2 3 Deus escolheu uma família de judeus muito simples e fez com que Jesus nascesse em uma tribo não sacerdotal (Judá). Os sumos sacerdotes eram escolhidos entre os filhos da tribo sacerdotal de Levi (7.12-14; Ex 25.40). O verbo “apresentar” aparece no texto no tempo presente, o que revela que o templo ainda estava em pleno funcionamento e ostentação. É uma indicação de que o livro de Hebreus foi escrito antes da destruição do templo no ano 70 d.C. 4 O termo “mediador” (no original grego mesites) transmite a idéia de “alguém que fica no meio, unindo duas pessoas com mãos fortes”. Portanto, a “Nova Aliança” (um nome ainda melhor para Novo Testamento), da qual Jesus Cristo é o nosso único e suficiente mediador, é superior à “Velha Aliança” (ou Antigo Testamento), estabelecida por Deus mediante Moisés no deserto do Sinai (9.15; 12.24; Êx 24.7,8; 25.40; 1Tm 2.5). Capítulo 9 1 A “parte da frente” é uma referência ao Santo Lugar do tabernáculo (tenda erguida por Moisés no deserto do Sinai), que fora separado do Santo dos Santos por um segundo véu (v.3). O primeiro véu apenas guardava a entrada. O candelabro era feito de ouro batido e colocado no lado sul do Lugar Santo (Êx 40.24), tinha sete lâmpadas, as quais eram mantidas acesas todas as noites (Êx 25.31-40). A mesa da Proposição (Presença), construída com madeira de acácia e revestida de ouro puro, ficava no lado norte do Lugar Santo (Êx 40.22). Sobre ela se depositava doze pães, cuidadosamente dispostos em duas fileiras de seis (Lv 24.5,6). 2 O altar do incenso se localizava no Lugar Santo, contudo, no Dia da Expiação, esse altar passava a fazer parte do Santo dos Santos por conta da retirada momentânea do véu. Havia, claro, um estreito relacionamento sacramental com o santuário interior HB_B.indd 14 14/8/2007, 15:40:25
  • 14. 15 HEBREUS 9 5 Acima da arca ficavam os querubins da O perfeito sacrifício de Cristo Glória, que com sua sombra cobriam a 11 Quando Cristo chegou como Sumo tampa da arca, o propiciatório. Contu- Sacerdote dos benefícios que estavam do, não é nosso propósito detalhar esse por vir, Ele mesmo adentrou o maior assunto agora.3 e mais perfeito Tabernáculo, não cons- 6 Ora, logo após tudo isso estar assim truído por mãos humanas, isto é, não preparado, os sacerdotes entravam re- pertencente a esta criação. gularmente na parte inicial do taberná- 12 Não por intermédio de sangue de culo, a fim de realizar os atos sagrados bodes e novilhos, mas mediante seu de culto. próprio sangue, Ele entrou no Santo dos 7 No entanto, na segunda parte da Santos, de uma vez por todas, conquis- tenda, o Santo dos Santos, somente o tando a eterna redenção.4 sumo sacerdote podia entrar, uma vez 13 Portanto, se o sangue de bodes e por ano, e jamais sem apresentar o san- de touros e as cinzas de uma novilha gue do sacrifício, que ele oferecia por si espalhadas sobre os que estão ceri- mesmo e pelos pecados que o povo havia monialmente impuros os santifica, de cometido por ignorância. forma que se tornam exteriormente 8 Dessa maneira, o Espírito Santo estava puros, revelando que, enquanto continuasse 14 quanto mais o sangue de Cristo, que erguido o primeiro tabernáculo, o Ca- mediante o Espírito eterno se ofereceu minho para o Santo dos Santos ainda de forma imaculada a Deus, purificará não havia sido manifestado. completamente a nossa consciência de 9 Esse fato se transforma numa ilustra- comportamentos que conduzem à mor- ção para os nossos dias, esclarecendo te, para que sirvamos ao Deus vivo!5 que as ofertas e os sacrifícios oferecidos 15 Exatamente por esse motivo, Cristo é não podiam dar ao adorador uma cons- o Mediador de uma Nova Aliança para ciência perfeitamente limpa. que todos aqueles que são chamados 10 Eram tão-somente ordenanças que recebam a Promessa da herança eterna, tratavam de comida e bebida e de várias visto que Ele morreu como resgate por cerimônias de purificação com água; todas as transgressões cometidas duran- esses mandamentos exteriores foram te o período em que vigorava a primeira impostos até a chegada do tempo da aliança.6 nova ordem. 16 No caso de um testamento, é imperio- e com a arca da aliança (Êx 40.5; 1Rs 6.22). No Dia da Expiação, o sumo sacerdote levava incenso desse altar, juntamente com o sangue da oferta pelo pecado, para dentro do Santo dos Santos (Lv 16.12-14). 3 Esses querubins eram duas pequenas estátuas de seres alados, que formavam uma só peça com a tampa da arca e, de pé, em cada extremidade do propiciatório; feitas em ouro puro, representando dois anjos da “Presença” divina que exaltam e zelam pela reverência e santidade diante de Deus. Era entre essas figuras de anjos que aparecia a glória da “Presença” do Senhor (Êx 25.17-22; Lv 16.12-14). A tampa da arca da aliança era uma placa feita em ouro puro que se encaixava perfeitamente por cima da arca. Uma vez por ano, exatamente no décimo dia do sétimo mês, quando a congregação de Israel celebrava o Dia da Expiação (guardado pelos judeus até hoje como Yom Kippur), o sumo sacerdote aspergia sobre o povo, no tabernáculo e sobre a arca, o sangue como oferta pelo pecado (Lv 16.14,15,29,34). 4 Apesar de o tabernáculo mosaico estar ultrapassado, continuava a simbolizar (inutilmente), uma volta à velha forma da Lei, uma vez que ela não podia livrar em definitivo o ser humano da condenação do pecado. Os sumos sacerdotes levíticos tinham que repetir todos os anos as cerimônias de purificação, mas Cristo ofereceu o sacrifício eficaz, pleno, único e eterno. Depois de obter a eterna redenção, subiu e adentrou ao perfeito santuário celestial. 5 Esse é o versículo chave de Hebreus. Jesus Cristo foi ao mesmo tempo Sumo Sacerdote e Sacrifício imaculado; na inteireza da sua pessoa e não apenas de forma exterior, superficial e incompleta. O Espírito de Cristo, que habita no coração (tabernáculo) dos crentes, removerá totalmente a profunda e mortal marca do pecado gravada no âmago do nosso ser. É impossível servir ao Senhor de forma aceitável com a consciência maculada. 6 Cristo é o único e suficiente mediador da Nova Aliança entre Deus e a humanidade, cuja “Promessa” é a herança eterna como filhos do Altíssimo (7.22; 8.6,13; 12.24; 1Tm 2.5 conforme Jr 31.31-34). Por causa da morte expiatória de Cristo, essa herança se tornou realidade para todas as pessoas que crêem sinceramente (os chamados) em Deus (Rm 8.28). Ao entregar-se como HB_B.indd 15 14/8/2007, 15:40:32
  • 15. HEBREUS 9, 10 16 so que se comprove a morte daquele que tuário erguido por mãos humanas, uma o determinou;7 simples ilustração do que é verdadei- 17 porquanto, um testamento só tem ro; Ele entrou nos céus, para agora se validade legal após a confirmação da apresentar diante de Deus em nosso morte do testador, considerando que benefício; não poderá entrar em pleno vigor en- 25 Ele também não se ofereceu muitas quanto estiver vivo quem o fez. vezes, como procede o sumo sacerdote 18 Por essa razão, nem a primeira aliança que entra no Santo dos Santos de ano foi sancionada sem sangue, em ano portando sangue alheio. 19 tendo em vista que, depois de pro- 26 Ora, se assim fosse, seria necessário clamar todos os mandamentos da Lei que Cristo sofresse muitas vezes, desde a todo o povo, Moisés levou sangue de o início do mundo. Mas agora Ele mani- novilhos e de bodes, e também água, lã festou-se de uma vez por todas, no final vermelha e ramos de hissopo, e aspergiu dos tempos, para aniquilar o pecado por sobre o livro e toda a população, decla- intermédio do sacrifício de si mesmo.8 rando: 27 E, assim como aos homens está orde- 20 “Este é o sangue da aliança, a qual nado morrer uma só vez, vindo, depois Deus ordenou para obedecerdes”. disto o Juízo, 21 E procedeu da mesma maneira, as- 28 assim também Cristo foi oferecido pergindo com o sangue o próprio taber- em sacrifício uma única vez, para tirar náculo e todos os utensílios usados nas os pecados de muitas pessoas; e apare- cerimônias sagradas. cerá segunda vez, não mais para eximir 22 De fato, conforme a Lei, quase todas o pecado, mas para brindar salvação a as coisas são purificadas com sangue, e todos que o aguardam!9 sem derramamento de sangue não pode haver absolvição! O sacrifício de Cristo é definitivo 23 Portanto, se fez necessário que as re- presentações das construções que estão no céu fossem purificadas mediante tais 10 Assim, considerando que a Lei oferece somente um vislumbre dos plenos benefícios que hão de vir, e sacrifícios, mas os próprios elementos não exatamente a sua realidade; jamais celestiais, por meio de sacrifícios muito poderá, mediante os mesmos sacrifícios superiores a estes. repetidos ano após ano, aperfeiçoar os 24 Pois Cristo não adentrou a um san- que se achegam para adorar.1 sacrifício e ao aspergir seu sangue sobre o madeiro da cruz e sobre o povo presente, perante a Lei, pagou totalmente o preço necessário para libertar o ser humano pelos pecados cometidos, sob a primeira aliança, e quanto às violações dos mandamentos mosaicos (Mc 10.45). 7 O termo grego “testamento” pode ser traduzido por “aliança” na maioria das vezes, entretanto, aqui e no v.17, o vocábulo é usado especificamente no sentido de comunicar as últimas vontades de uma pessoa sobre a partilha da sua herança. O conceito de “aliança” volta à tona do v.18 em diante. Os beneficiários do testamento não têm direito legal à herança determinada antes da morte do testador. Nesse sentido, como a morte de Jesus Cristo foi devidamente comprovada na história, a promessa da herança eterna (v.15) já pode ser usufruída pelos seus beneficiários de acordo com a vontade expressa do Senhor. 8 A primeira vinda de Jesus Cristo, o Messias, deu início a grande era messiânica, na qual toda a história da humanidade tem transcorrido, aguardando o glorioso retorno de Cristo e o estabelecimento completo do Seu Reino, no qual viveremos eternamen- te em sua presença (1.2; 1Pe 1.20; Mc 10.45; Rm 8.3; Ap 20.6). 9 Assim como os antigos israelitas aguardavam com expectação e ansiedade a volta do sumo sacerdote, enquanto estava no Santo dos Santos intercedendo pelo povo, no Dia da Expiação; da mesma maneira, os cristãos devem viver e esperar com fé, na expectativa da volta iminente do nosso Sumo Sacerdote (2Tm 4.8; Tt 2.13; Rm 8.29,30; Fl 3.20,21; 1Jo 3.2,3). Capítulo 10 1 O sistema mosaico era composto da Lei e de todos os procedimentos sacerdotais levíticos (7.11). Contudo, os sacrifícios perpetuados pela Lei, ano após ano, constituíam-se em uma grande ilustração e antevisão (literalmente em grego: uma sombra) do poderoso e derradeiro sacrifício vicário de Cristo. O alvo da fé cristã é nos tornar discípulos (cópias fiéis) de Jesus Cristo (Rm 8.29; 2Co 4.4; Cl 2.17). HB_B.indd 16 14/8/2007, 15:40:38
  • 16. 17 HEBREUS 10 2 Se não fosse assim, não teriam cessa- 12 Jesus, no entanto, havendo oferecido do de ser oferecidos? Porquanto, se os para sempre, um único sacrifício pelos adoradores tivessem sido purificados pecados, assentou-se à direita de Deus, de uma vez por todas, não mais se senti- 13 aguardando, daí em diante, até que riam culpados de seus pecados.2 os seus inimigos sejam submetidos por 3 Contudo, essas cerimônias de sacri- estrado de seus pés. fícios promovem, todos os anos, uma 14 Porquanto, com uma única oferta, recordação dos pecados, aperfeiçoou por toda a eternidade todos 4 porque é impossível que o sangue de quantos estão sendo santificados. touros e bodes remova pecados. 15 E disto, igualmente, nos dá testemu- 5 Por isso, quando Cristo veio ao mun- nho o Espírito Santo; porquanto, após do, proclamou: “Sacrifício e oferta não ter declarado: quiseste, mas um corpo me preparaste; 16 “Esta é a aliança que farei com eles, 6 de holocausto e ofertas pelo pecado depois daqueles dias, diz o Senhor. Co- não te agradaste. locarei as minhas leis no âmago do seu 7 Então, Eu disse: Aqui estou, no Livro coração e as inscreverei profundamente está escrito a meu respeito; vim para em sua mente”, fazer a tua vontade, ó Deus”.3 17 e conclui: “Dos seus pecados e ini- 8 Havendo declarado em primeiro lugar: qüidades nunca mais me permitirei “Sacrifícios, ofertas, holocaustos e ofer- recordar”. tas pelo pecado não quiseste, tampouco 18 Afi nal, onde todas as transgressões deles te agradaste”, os quais foram reali- foram perdoadas, não existe mais qual- zados conforme a Lei. quer necessidade de oferta de sacrifício 9 Então, completou: “Aqui estou; vim pelo pecado.4 para fazer a tua vontade”. E assim, Ele cancela o primeiro padrão, para Devemos perseverar na fé estabelecer o segundo. 19 Sendo assim, irmãos, temos plena 10 E por essa determinação, fomos santi- confiança para entrar no Santo dos San- ficados por meio da oferta do corpo de tos mediante o sangue de Jesus, Jesus Cristo, feita de uma vez por todas. 20 por um novo e vivo Caminho que Ele 11 Ora, todo sacerdote se apresenta, dia nos descortinou por intermédio do véu, após dia, para exercer os seus deveres isto é, do seu próprio corpo.5 religiosos, que nunca podem remover 21 Temos, portanto, um magnífico sa- os pecados. cerdote sobre a Casa de Deus. 2 A consciência que condena e aflige diuturnamente o coração de uma pessoa em relação aos pecados cometidos, e que não pode aceitar humilde e alegremente o perdão de Deus, ainda não conheceu a verdadeira Salvação que está à disposição de todos mediante a simples e sincera fé em Cristo Jesus (Jo 1.12). Absolutamente, nada, e nenhum tipo de oferta ou sacrifício, têm o poder de perdoar, limpar e renovar a consciência humana (v.4; Sl 51.10,16; 66.18). 3 O autor de Hebreus cita trechos dos Salmos da Septuaginta (a mais importante e antiga tradução grega do AT), para demons- trar o tipo de obediência concorde e voluntária (submissão, sob missão) de Cristo em relação à vontade do seu Pai (Sl 40.6-8; Lc 22.42; Jo 4.34). Nota-se que Deus nunca se interessou pelos sacrifícios em si, mas na verdadeira devoção e obediência à sua Palavra (1Sm 15.22). 4 É prova de incredulidade e insulto contra Deus oferecer qualquer tipo de sacrifício por pecados já remidos em Cristo. Portanto, o verdadeiro caminho para Deus não é mais pavimentado pelas ofertas ou cerimônias sacrificiais (como a tradicional missa católi- ca ou os rituais espiritualistas), mas exclusivamente pela fé no Cristo ressurreto (9.12; Rm 4.25; 5.19). As citações nesta passagem também foram extraídas da Septuaginta (o AT em grego) e atestam que na nova aliança todos os nossos pecados podem ser perdoados de maneira eficaz, completa e perpétua, dispensando todo e qualquer tipo de sacrifício adicional ao já consumado por Cristo (Jr 31.31-34 já mencionado em 8.8-12). 5 Na antiga aliança, o acesso ao Santo dos Santos era ultra-restrito, porquanto o sangue dos animais era insuficiente para realizar a plena expiação dos pecados. Mas hoje, os crentes de todas as etnias e nações, podem se achegar com fé ao trono da graça, pois o sacerdote perfeito ofereceu a si mesmo (o sacrifício perfeito) e expiou todo o pecado e condenação, de uma vez para sempre. No momento exato da morte de Cristo na cruz do Calvário, o véu que, simbolicamente, fazia separação entre o San- HB_B.indd 17 14/8/2007, 15:40:44