Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Ensaio sobre arte, educação e magia no CEU Tiquatira
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Artista-educadora: Débora Kikuti
Equipamento: CEU Tiquatira
ENSAIO PESQUISA-AÇÃO
Vim beber água fresca na fonte e encontrei rio
Tiquatira: termo indígena, que nomeia o córrego presente no bairro do Cangaíba, cujas dimensões e enchentes
marcam a região. O termo para designar “cobra grande” indica parte do impacto desse córrego que serpenteia entre
Penha, Guarulhos e São Miguel e desagua na margem esquerda do Tietê.
“_ Tenho 392 anos e as pontas dos meus cabelos são cor de violeta.
Os cabelos são assim, porque eu durmo e sonho com um lugar onde tudo é violeta: o céu, as árvores e os
passarinhos, a terra, a água, as pessoas; tudo é violeta. Daí, quando eu acordo e olho para o espelho, meu cabelo
está violeta!
Tenho 392 anos, sim! Vocês nunca ouviram dizer que existem pessoas que resistem ao tempo?
Pois então... Já fizeram até filme sobre isso.
O tempo passa e eu fico, para conhecer mais pessoas, mais histórias. Afinal, eu sou narradora de histórias!!!”
Durante as conversas em que essas falas acontecem, vejo a expressão das crianças. Primeiro, duvidam:
“_ É mentira...”
Então, eu me mantenho firme, postura de quem vive o que fala, e a expressão traz a dúvida:
“_ Mas pode acontecer isso?
E logo em seguida, a curiosidade:
“_ Se eu sonhar azul, meu cabelo acorda azul?”
E eu respondo:
“_Só quando você crescer, virar adulto e sonhar.”
Depois de um tempo, que eu não sei precisar quanto, vem a pergunta:
“_ Mas você fez plástica, né tia? Nem parece que você é velha!”
Essa experimentação simbólica é minha linguagem/literatura PIÁ. É como eu mais gosto de me comunicar, quando
em contato com as crianças.
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Criar essa atmosfera encantada, sem matéria específica, sem lógica, é uma grande e linda brincadeira que eu escolho
vivenciar.
Em um encontro o tema “medo do escuro”, veio à tona. Conversamos sobre ele e eu disse que um dia, alguém me
contou sobre um tal de 3º olho, que mora dentro da gente e pode enxergar no escuro.
“_ Daí não precisamos ficar com medo, porque o 3º olho vê o que os outros dois não veem e assim, podemos ficar
mais tranquilos” – eu disse.
Enquanto todos procuravam seus 3ºs olhos, eu falava:
“_ Dá para ler o mundo, de um jeito diferente, sabiam?”
“_ Escutar o silêncio ajuda a calar o medo...”.
Encontramos os nossos olhos invisíveis e resolvemos nos massagear, com bolinhas de várias texturas diferentes,
para comemorar. Todos em silêncio, com o 3º olho bem aberto!
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Depois, que tal uma experiência para percebermos o som?
Vendamos todos e propusemos que descobrissem qual instrumento era tocado, um de cada vez.
Daí, escutamos:
“_ Tia, você vai tapar meu 3º olho e eu não vou enxergar nada!!! “
Para a poesia, não tem explicação... Ufa! Ainda bem!!!
As histórias acontecem sempre, estão vivas. Curiosidade de livro é mão.
As mãos tecem olho de deus (objeto mágico de proteção, cuja lenda é originária da cultura índígena Huichol, do
México), mexem brigadeiro e oferecem muitos presentes.
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Pipocam sorrisos e vontades.
E o corpo? Ah... O corpo... O corpo é tão ligeiro, que não cabe em si.
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Mas vai daí, encontrei parceira cheia de riqueza e memória. Mulher que escutou seu tambor no peito e o ressoa,
entre sorrisos, espontaneidade e fogo! É daquelas mulheres que sabem bem de onde vem, então pode ficar menina
a hora que quiser, sem problemas!!!
E o som nos movimenta o tempo todo, balança história ninando, faz dançar. Põem som em palavras rimadas,
desenhadas em círculos de pano.
É magia!!!
Se estivéssemos na Idade das Trevas, certeza que seríamos queimadas!
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Pois se não é magia o que acontece em cada encontro, em cada busca dentro e fora, em cada experiência!
Vim beber água fresca na fonte e encontrei rio.
Encontrei rio que corre solto, livre, bonito de se ver.
É bom banhar-se nele, mas também é bom observá-lo, escutar o que suas águas têm para falar. E, para isso, é
preciso abaixar-se...
E se abaixando, a gente lembra o tamanho real que a gente tem e o tamanho do mundo.
E se pergunta, como pode ter gente no mundo que não presta atenção na história de alguém com 5 anos de idade?!
E escuta de menina-princesa, tão viçosa:
_Odeio feriado! Porque o feriado acaba com meu PIÁ!!
Inda bem que eu vim beber água fresca, porque a caminhada é longa e eu preciso molhar o dentro, refrescar o
coração, banhar a mente e a alma, que é bem velha...
Primavera de dois mil e quinze anos.