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Últimas Águas




     Poemas e Retratos
        emocionados
 Das terras altas do Tijuco




Por Antonio Guillermo Martin

        Diamantina.
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin




Para K L da Xica
Musa inspiradora do tijuco.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin




Introdução do autor.


As terras do tijuco possuem segredos e mistérios guardados nas
suas serras, não é fácil compreender, num primeiro momento, o que
tudo isto significa. Requer tempo, subir e descer ladeira,
Conversar com as pedras e as igrejas centenárias, olhar para a
serra, prumar para o Itambé. conversar com o povo, extremamente
hospitaleiro e de prosa fácil.

E o mais importante, requer abrir a mente e sobre tudo o coração.

As ultimas águas expressam sentimentos do que já sabemos: a
destruição e descaso do Cerrado em especial suas águas, é
realidade e não fantasia. Eles pedem atenção imediata e sobre tudo
tempo para se recompor. Da mesma maneira não da para esquecer do
seu povo, seus belos personagens, suas tradições e a enérgica
cultura presente que luta para sobreviver bravamente.

Devo dizer que nada disto faz sentido senão admitir que os versos
dos poemas e retratos tem sua inspiração profunda no amor vivido
em Diamantina, possuído de todas as qualidades que merece.
Sentimentos e percepções se combinam para despertar a vontade de
escrever, fotografar o entorno sedutor e sua alma.

O tempo do festival de inverno e sua luz cortante do mês de julho
de 2008, certamente marcaram estes versos, conspirando para
eclodir as linhas e imagens a seguir.

Finalmente as últimas águas são resultado de suporte amoroso dos
meus   pais  e   de   meus   amigos:  Francisco   Bravim,  Rodrigo
Bruzzi,Gracinha Leão,Lucinha Leão,família Leão, Keka, Maria Salim,
Jean François e Vera Casa Nova.

A todos agradeço profundamente estes momentos..


                                          Antonio Guillermo Martin




                                                                     3
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin




índice de poemas



          Ofertório

          As últimas Águas

          Xicanidade

          Almas Feridas

          Keka

          Preta

          XP4

          Águas Secas

          Ambrosina e o rio Ferido

          Lagriterio

          Igreja do Carmo

          Bonecas de Barro

          Leoa

          Sentinela

          KL da Xica

          Verperata

          Nascimento

          Retratos




                                                              4
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin




Ofertório

                               Diamantina 30 de julho de 2008.



Estes versos são para ti
Bela Xica,

Não se engane
Quem os ler e se apaixonar,
Já tem dono e destino.

Este versos são para ti
Amada Xica,

Os retratos cantam tua beleza
Refletem o que mais admiro no mundo
Os traços femininos marcados na terra
Que nascem nas serras do tijuco,
E voam distante ao redor do mundo.

Este versos são para ti
Altiva Xica,

Guarda sempre contigo,
Pois sublime é nosso amor,
Que teima em brotar
Todo dia, toda hora,
Na sentinela,
Ainda virgem águas da vida.

Estes versos são para ti
Xica.

Para ti.




                                                                 5
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


As últimas águas


                                      Diamantina, 22 de julho de 2008



     As últimas águas
     Não podem calar seu lamento sereno,
     a dor vaga no seio da terra e dissipa no céu,
     Porque foges de mim...
     Sempre te amei mesmo a distancia.

     As últimas águas
     Tocam na alma dos que sentem sua dor
     Soam latentes os humores melancólicos
     Das terras queimadas, das arvores que
     Transformam seu ramos em carvão.
     Seus restos se espalham nas terras calcinadas
     Onde bicho nenhum respira vida
     E os pássaros disparam da sangrenta chacina.


     As últimas águas
     não descem mais para o vale
     que chora lágrima seca, sem água, sem pão
     nada consola a terra mãe a perda de uma filha,
     suas águas tem corpo e alma, tem sentimentos e rancores
     sua vingança é fugir e deixar a terra fria arrastar areias
     para os rios já castigados pela sede do garimpo.


     As últimas águas
     São mágicas, vibram na alma dos que sentem
     Ecoam lembranças de fartura e beleza
     Moldam o terreno de curvas fêmeas,
     Sinuosas delicias que despertam meu ser.


     Ah, estas últimas águas
     Mesmo moribundas visitam meus sonhos
     Talvez haja esperança, talvez despertes das trevas
     O preferes velar as águas e logo a tua morte,
     São tempos de angustia e revelação
     Domina teu medo nobre ser homem mulher,homem criança
     Domina o desejo de autoflagelação.


     As últimas águas
     Virão da mesma forma como esperas o trem na estação:



                                                                        6
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


A hora esta chegando implacável
Seca e calcinada os ventos cantam sua chegada
Se cochilas perdes o bonde
Se morres ninguém te acorda,
Ah!
O trem passou e tu imóvel contemplas o infinito vazio, não
respiras, não reages.

Alguns segundos, minutos, horas, dias correm,
A estação se fecha, agora somente na próxima alvorada da
eternidade,
Quem sabe terás uma nova chance.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Xicanidade

                                Diamantina 21 de Julho de 2008.


No antigo arraial do tijuco
Pergunte ao passante
Todos são filhos da Xica
13 filhos, 13 amores multiplicaram
Diamantina na soleira diamante da serra do espinhaço
Só vendo para crer
Só sentindo o amor da prosa
E o abraço do povo que
Floresce ao pé do morro, da ponta Itambé.

La pela ladeira do tijuco,
Tem Casa de passagem,
Tem Ponte de passagem,
Tem Tomé que toma conta
Entre Diamantina e Curralinho
Todos passam pela guarda do velho negro
que tudo sabe sobre o mundo e do riacho que
um dia foi mar da Xica
da Mulata das 12 negras, centro da colônia
que Navega no alto mar pelas terras secas do Senhor.

Da Xica ninguém nega a sua força de guerreira
De atrevida que ela é,
Oito gerações se foram, oito Xicas no sangue do povo
que ousaram vida plena, e semeiam idéias e desejos
transbordando a estrada real que une a serra ao mar.

O passado é presente em mil rostos de mulher
Surge a cada instante o coração da negra guerreira
E move céus e mares com seus sonhos libertinos
Eis que despontas entre as pedras da cidade
Novas xicas de muitas cores

É insensatez duvidar que mundo negro cria força,
Que escravo se rebela e branco se ajoelha e beija
seus pés, ninguém lembra de idalgos senhores
Escravistas do ódio, mulheres devotas sem vida,
Mas sim da bela do mar que tanto navega, onde ninguém
Acha possível viajar.

Quantas terras visitastes bela negra
Quantos amores te seguiram distante
No horizonte do mar, tudo dentro do arraial
Pertinho do Tome, do riacho que hoje fede lixo,
Fede descaso, porque ali mora negro pobre,que não tem

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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Direito a ter um teto e sonhar sossego.
Só resta a bananeira do quintal para soltar tripas no chão.

Descendo o morro percebo que a lenda é não é lenda,
Que Ambrosina das pastorinhas não canta pela idade,
Mas semeia saudade da velha Xica que foi subindo ladeira
verso o pico da eternidade,

Se mundo negro não se livrou da cruel sina do ódio e
preconceito,
A negra despertou os sinos da liberdade
da mistura de raças, cruzando cores e amores, mutações das
terras altas, do conceito Brasil.

é a ti que peço benção,
que sejas guia dos que ainda virão,
Que sejas comida dos que aqui seguem para o pico da
eternidade.

Diz a lenda, primeiro terás que passar pela
Terra de passagem, que guarda 7 filhos da Valdirene,
7 almas que dormem no seio da chacra da Xica
7 é numero mágico mas não basta,
escuto o lamento das águas mortas,
que descem pelo riacho,
ah,o que fizeram com o mar da Xica
que vela os mistérios da velha negra.

E la pertinho, Soberba a casa de passagem é
herança do sofrimento negro
Sobrevivente do grande naufrágio da humanidade,
Choro nenhum muda o mundo e devolve o grande mar do cerrado
Mas esta historia aquece o peito,
Desperta esperança por dias melhores.

E que venham novas Xicas que tanto procuro
Para beijar seus pés
E viver um grande amor
Abençoado no riacho das águas limpas de passagem,
de justiça e igualdade.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin




Keka

                              Diamantina 18 de Julho de   2008.


Keka minha grande amiga
mil estrelas não
Contemplam o astro que
Carregas no peito,

Eis que hoje sinto
Você brilhar, eclodir
Paixão, implodir meu coração
Em mil gotas brilhantes
Navegando pelas águas da Xica,

Pedra sobre pedra
Carregas meu peito
Pedra sobre pedra
Arrastas minha alma
Para dentro de ti
Para perto do beco,
Beco da Keka
Beco da alegria.

Das montanhas de Minas
Teu abraço encanta o viajante
Despertas a diamantina brilhante
Se falta keka falta vida,
Falta o pão e a luz
Repleto do olhar maroto de menina.

Keka não é nome, keka e conceito amor,
Mil Kekas quero ter, vezes mil dentro do meu coração
Bom saber que basta uma, única, nobre rainha
Viva nas terras Diamantina, terreno do arraial do tijuco
Para transformar o mundo perverso da tristeza em campos
do senhor.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Almas feridas

                              Diamantina 19 de Julho de 2008.


Amor, Descobri que as águas são fêmeas
E parem a cada segundo sua existência,
Sua paixão infinita cria vida,
Tão fácil como respirar a sua essência.

E de longe me olhas desejando minha boca,
Nada posso dizer, nada posso conter,
Este é o tempo cego que dribla a razão
e une nossas carnes,
Eis o nosso mistério que se revela a cada
Segundo,
e se esconde nos becos das almas feridas.

Continuo louco ao amanhecer Diamantina,
tuas ruas passado carregam nostalgia,
não te vejo a minha frente, amada,
mas sinto teus olhos fugir assustada
das redes que a grande lua preparou.

Sobre a ponte que cruza o rio ferido,
suspiros plenos afastam de mim o sono profundo,
Volta minha amada Xica que tanto me faz bem
a navegar solene por este mar de águas secas.

O que dizer quando me abraças e cantas,
Teu vestido negro veludo vibram meus desejos,
Teu olhar profundo e intenso repousa
dentro dos campos da alma,
Seduzido não detenho o medo de ousar
ser o teu amado,e subir no trono do teu coração,
Nem que seja por um segundo, por um segundo, um segundo.

E a lua é cheia, cheia de malícia,
nasce laranja lima imponente,
E se senta no céu a ver o amor tomar
conta de almas insensatas
Nos trilhos do Biribiri onde me jogas na areia,
me envolves fêmea,
Possuída de desejo e paixão.
E a lua toma conta dos corpos e os leva para longe do mundo
Longe da razão, longe de tudo que foi construído.

Na madrugada te vejo fugir do encanto caminhando pela ruela,
logo viras a esquerda, vestida vermelho sangue te afastas de
mim

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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Com a mente doendo, com o coração cantando, sei
Que nada borra esta lua que cresceu dentro de nós,

E as noites galopam seu destino,
Verso o mais distante futuro,
Mas ainda será pouco para deter os
Ventos que carregam nossas almas,
Que sopram da serra os caminhos
Do eterno amor.

Fecha os olhos, descansa Amor,
A viagem é longa, respira meu beijo,
inté Bela Flor.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Águas Secas do Cerrado


                              Brasília, 5 de Julho de 2008.


Oh, Água amada que tiras e das a vida,
Cantas sofrida e tímida a chegada da Deusa flor,
Aquela de olhos profundos e ávidos
que numa noite sem luz encontrei nas
terras altas do planalto infinito.

Oh, Águas das serras que tanto proteges tuas fontes
por medo de sucumbir a mais uma Decepção
no mistério do amor, hoje tudo pode mudar,
os segundos dilatam espaços e como mágica
me permites cair nu
no teu âmago impenetrável.

Oh Deusa jasmim disfarçada de guerreira,
secam as águas quando estas triste e abandonada,
Quantas vezes não voltaste para pedir aconchego
neste leito materno, sangue da terra e seiva da vida?

No entanto, gritas muda no espaço com gesto libra,
Ecoam as sombras de Águas perdidas,
5 letras que fazem sentido ao universo,
5 letras que movem o mundo à destruição.

Águas Secas,
5 letras mais cinco que não expressam o universo vivo,
5 letras mais cinco que retiram qualquer esperança
Enquanto isto, Mar, toma conta das Águas limpas,
Órfã da doçura das crianças e dos loucos,

Oh, água-homem que brincas de guerreiro,
Não esta na hora de sair do casulo,
Vibrando tuas asas e celebrando o mundo
em vez de matar a frescura dos rios?

Lembra-te, se Ele se foi nas águas turvas
não cabe a ti negar sua força
mas reverenciar com dor do coração
a magia da vida-morte que o universo construiu.

Oh, Água te abraço e sinto teu amor severo
Ao retirar o que mais quero e
marcar para sempre a minha carne.

Sei que estas sofrida, mulher solitária,

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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



de almas e águas, de luzes e trevas
numa vitrine alegórica com vaga-lumes
que cantam ao encontro eterno
dos seres que jamais se separam.
Seres que se despedem depois
do banquete, dispostos a passar a noite
distante a espera da alvorada
cândida imaculada para logo
se abraçar e voltar a se amar.

Fecho os olhos e te envio um beijo de boa noite
repletos de sonhos vividos num paraíso terrestre,
Onde águas e mentes se misturam na pele
Cálida da negra Xica, úmida de amor e suavidade,
De um universo em permanente celebração que
Canta a tua presença divina.
Cruel são as lembranças de recordações,
De um tempo que não passa e machuca a alma
Dor que desperta a consciência de agir e respirar futuro

As águas correm com as brumas da noite,
Correm verso o mar celestial,
as águas cantam sua alegria virginal mas não sabem que elas
se multiplicam
em vapores e gelos, em plantas e animais,
no homem todo poderoso que um dia
decide ser dono do mundo, dono de si,
dono da sua própria tragédia e destruição.

Oh, Água, não pára diante de tal tragédia humana,
Segue teu curso trazendo e levando almas,
Segue cantando solitária, única pelas pedras das montanhas,
E pelas mentes dos que ainda lembram tua melodia.

E se tudo vier a se apagar da minha incurável memória,
o que farei?
Me resta apenas, sonâmbulo, escutar o bombear do sangue
eterno
Que é parte água e a outra mistério divino.

Vejo o trapiche da transformação,
Envolto pelas Águas vivas do Cerrado,
No centro a fêmea e macho perturbam
suas mentes pela ponte verso o infinito incerto,
Aquela que todos aceitam e respeitam seu destino,
Não há como fugir do ciclo celeste.

Vi o eterno retorno do ser impuro amarrado ao companheiro
purificado,
um estranho encontro do sacro e o profano

                                                              14
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



dos que aparentam e dos que realmente são.
Nada disto vale uma lágrima versada pela dor materna,
Mais vale uma gota da boca daquele que grita e clama amor
pela harmonia assassina da vida,
simplesmente da vida repleta de Água, Água, Água.


E a ti bela Deusa que inspiras minha alma,
te ofereço uma sinfonia feita risos de infância,
entre bolhinhas coloridas,
que descem as corredeiras,
repletas de sonhos e esperança.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


Lagritério


                             Diamantina, 30 de julho de 2008


Amada, não pude conter..
Ontem segui oce
choravas rios inteiros atrás da tua mascara de alegria,
dançavas bela e suave,
a dor exalava perfume e dissipava pelas paredes,
subindo e subindo no altar do mundo.

Mas detive meu olhar,
Em apenas uma gota final, numa única lagrima virginal.
A bela lagrima que reflete o mundo dentro de si,
E sei que choras por alguém que não podes mais ter,
Nada faz mais sentido do que gotejar este
Amargo destilado de dor.

Me inspira o medo de estar perto de ti
De apartar corpo da lagrima,
do ser vivo emocionado do defunto calcinado,
Lagrima nada mais é que água sentimento,
água de desespero, água de alegrias,
Que natureza sabia é está que destaca águas do corpo das águas da
alma?

Sentada na mesa estas tu,
Silenciosa, determinada a me acompanhar
Nesta maratona de vida e percalços,
Nada parece ser mais importante que este momento
O tempo se detém diante de mim, nada avança ou recua
Apenas permanece imóvel, mas eu consigo pensar e
Sentados ao redor muitos pessoas,
No centro um homem mago
cálido e sorridente estende suas mãos para passar
O vinho, a água e logo depois o pão.

E ao seu lado estas tu bela amada,
De olhar profundo, distante já com saudade
Da distancia e sublimação
O que fazemos nesta ceia?
O vento da serra brincou e complicou nossas vidas,
Como folhas secas trazidas de terras distantes
se tocaram no leito do rio.

De retorno a ceia,
Me parece familiar, uma cena já antes vivida
não lembro quando aconteceu
Sei que meu olhar vagava incansável sobre a jarra de água

                                                                    16
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Suas ondinhas refletiam todo o ambiente claro e impecável.

As águas estão prestes a sair dos vasos,
Preâmbulo do brinde inevitável,
elas buscam sedentas as bocas dos convidados.

Me afasto para entender a cena
E tu me olhas fixo e me segues verso
O grande portal fronteira do celeste e do terreno.
Choras pequeno, soluças contido, tuas palavras
Abrem caminhos entre as serras que tanto amas,
O portal brilhante ofusca a visão,
nada vemos apenas seguimos passo a passo,
respiro a respiro o nosso destino,

Atrás a mesa composta continua animada,
O homem se levanta com a taça de vinho e água.
Todos seguem com devoção seu ato mágico
Sinto vontade de ver o acontecimento
Mas já estamos pisando as areias brancas do rio ferido
O portal se fecha num golpe de vento.

Retorno o meu olhar e logo cresce no horizonte crianças
Que correm pelas águas ralas e tranqüilas,
As Serras de dentes afiados protegem seu leito
E tu amada, me olhas serena,
Pedes meu abraço já dentro do rio.




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Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



KL da Xica


                                Diamantina 24 de Julho de 2008.


Esta cidade respira você
E sei que quando retornarás
Sentiras minha falta
Não procures entender
Apenas respira o que é vivo e bonito

Estas dentro de mim e não por pouco tempo
Agora a missão nos aguarda
Dar atenção para esta terra sangrada e machucada
Feito de barro, serras e águas.

Eres minha mulher para a eternidade
e eu teu homem...

Estou tratando de escrever uma carta
mas contigo nasce poesia
Adorei teu recado,
estas hoje poeta amada mia.

Te escreverei sempre,
assim não sentiras o frio do norte
E logo me veras ao teu lado
despertando corações
de gente distante.

Xica, 4 letras que soam vida e amor,
mesmo se tudo parece loucura
Nada tem de irreal mas presente
como aquela lua laranja
que guardamos na alma.

Espero que estejas bem,
feliz e linda como te conheci,
mulher guerreira, cheia de vida e amor,
vive meu anjo e se houver espaço
lembre de quem te sopra na alma
e desperta poesia.

Sabes onde me encontrar,
beijos mil,
Amada mia.




                                                                  18
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


Ambrosina e o rio ferido


                                    Diamantina 25 de Julho de 2008


     Ah! Virgem que caminhas sobre as águas
     Tocando tua sanfona,
     Galopas feliz por terras altas
     pastoreando o rebanho com teu canto solene.

     Ambrosina sinhá moça, virgem do tijuco,
     Não te destes conta que o século passou
     E tu continuas presente, semeando amor,
     Recolhes tuas pastorinhas, alegres que voam ao teu lado
     Com a caixinha da alegria que transforma
     Moedas em balas, moedas em pão, moedas em sonhos.

     Ambrosina doce negra
     Xica nascida na serra do Itambé,
     Por que ainda carregas tua sanfona,
     Qual mágica te da força e não paras
     De cantar paixão e curar tantas almas feridas?

     Sei que não há paz no teu coração enquanto não
     despertas o povo na rua da Quitanda
     ontem ti vi, sinhá, distante lembrando do
     negro Sabá, errante viajante, que tua caixinha
     mágica construiu tua nova morada.

     Ambrosina da vida, da sanfona e da cantiga,
     Vem visita meus sonhos sou mais um carneiro do teu rebanho
     Me abençoa e batiza com esta água ferida, minguante,
     Que teima em viver, em traçar sua linha entre os morros
     E vilas.

     Virgem do tijuco, será que alguém já te amou como
     Eu te amo?
     tudo aconteceu num golpe fulminante
     No trovejar da tua sanfona,no acorde maior carregado de Re
     menor
     Tudo não passou de segundos repletos de paz e plenitude

     Nestes campos do senhor, teu rebanho não para,
     firme,decidida,
     Cercado da pobreza que reverencia a santidade,
     Na riqueza do espírito possuído pelo dom da devota caridade,
     Na vida em vez da morte, na simplicidade serena em vez
     Da assassina e perversa ganância

     Eis aqui que Ambrosina das pastorinhas não tem igual


                                                                     19
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Rainha da casinha claustro, lá existe fé e um altar que se
ergue no pé do leito, as flores do campo ornam a sua mesa e
as águas
Limpas descansam seu pranto.
A janela pruma para o céu, apenas, teu jardim tem vista ao
Itambé, que teima em te despertar todas as manhas,
Bem pertinho do quintal sem fim.

O ato da transformação ainda irá chegar, velha amiga,
a tua sanfona transformará corações frios
devolvendo às águas perdidas sua vida passional
sua força e sensualidade.

Finalmente oras pelas meninas pastorinhas que te dão 91
primaveras,
91 chuvas de verão que lavam as pedras da cidade,
Mas lembra que Deus impaciente espera a tua chegada,
Pede atenção, tua sanfona e teu canto.
E la quando chegares quantos anjos deterão
seus compromissos para sentir o teu canto florido...

Enquanto a mim chego pertinho da igreja a escutar conversa
Entre a lua cheia e a atrevida Xica,
animadas falam de ti e tua lindeza
da roupinha passada e sapatos que depois
das 4 te vestem rainha, linda e radiante.

Que o azul profundo do mês de julho te proteja sempre,sempre
Sanfoneira das terras do Tijuco e do Céu.

Ambrosina:
Toca nas festas religiosas
Final de ano, natal,
Apresenta de casa em casa
Nas novenas, as roupas das chita estampadas
Pastorinhas é tradição de diamantina.

O que dirás nesta noite marota
Quando for chegar na cidade
atrevida




                                                              20
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



PX4 do Beco do Mota


                             Diamantina 27 de Julho de 2008.


     Px4 novenas são comuns no mundo
     Nos instantes segundos nada sinto,
     Sinto o pesar da tua distancia, do teu cheiro
     Do teu orvalho selvagem que eclodem flor e
     cantam a tua beleza solidão.

     Px4 manhas somam as cantigas que me levam a ocê
     bela morena, que
     Machucas nos abismos do meu ser.

     Px4 minutos são o que separam nossas vidas
     Nossos corações em cachoeiras de lagrimas silenciosas
     Nas águas puras do teu peito
     E voam os pássaros que te viram nascer.

     Na noite poesia são poucos os que conhecem
     E despertam desejos mar, rios dentro de mim
     Como pudestes entrar sem tocar a minha razão?

     Px4 vezes 7 missões são as que detenho
     Agora, busco teu coração, sei que compreendes
     Que nada posso achar neste vazio mar, mas,
     Inconsolado luto Dragões e exércitos pra libertar
     a tua sombra perdida das trevas pedras
     de escravidão.

     Px4 te encontro mais uma vez e não entendo
     A bebida sóbria que flue nas tuas veias
     Sedentas de amor e desejo, o meu amor desta vez
     Não chora medo, me beijas e toma conta de tudo
     Do que sou, ser perverso que nada controlo.

     Px4 somas minha alma perdida no contrato, nossa
     Rua marcada pela despedida tempo, contrato do nosso
     Amor marcado na pele, ferro ardente e infinito da
     Esquina torta que separa de ti meu cheiro,
     Bela xica do mar




                                                               21
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Preta


                              Diamantina 28 de Julho de 2008.


Quantas pedras
Encontraste na garganta profunda desta terra?

No alto do morro,distante do conforto
Vives Preta o sonho, mistura medo, mistura paixão
do garimpo vicio, do dinheiro maldito,
Que constrói casas e destrói corações.

Pedras brilham nos teus olhos,mais do que
Qualquer desejo, cavas e cavas a alma
A procura do tesouro escondido, cadê o veio
Cadê a linha da pedra que desejas, e
La embaixo no seio da terra, tudo para
mudo, silencio catedral, silencio que faz
Sentir o que realmente sou, pequeno e pretensioso
Ser abissal.

Tantos outros garimpeiros, vivem a paixão da pedra
Tantos seres golpeados, maltratados pelas estrelas
Do leito do rio ferido, da serra furada,
semeados por historias,
De nomes que mudaram suas vidas,
para a riqueza ou para a morte.

Sim, sou também garimpeiro, cato imagens, cato almas
desprevenidas, que não entendem quem sou e o que desejo.

Hoje conheço Preta e seu neto, garimpeira, marcada de sol,
solteira, 4 filhos, amante, Criada nas serras,
magra e esbelta de sorriso menina,
dentes estupendos, tem banheiro e água da bica
no seu barraco na vila do Bargaço.

Garimpeiro Claudio, Garimpo baiano, ontem eram genéricos e
nada mais, hoje conhecidos, quem sabe amanha amigos,
do peito do buraco profundo.

Mas e tu bela que cavas minha alma,
Te quero ver longe da chacina dos homens e perto
Do aperto criança que tanto desejas, vem conhecer esta gente
Sofrida devotos da virgem, que explode tiros, a afunda na
pedra.




                                                                22
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Peco uma oração pelo bendito cerrado,
estás ferido, moribundo, terra do descaso, o que dizer?
Sinto muito,não posso chegar os olhos
e apagar sorrisos da gente que busca sua sorte nas suas
entranhas, muito tarde, amor, entrei na cava.
Pensei que tudo vi, eis meu ser fundo no buraco escuro
Prestes a sucumbir no aconchego do teu umbigo materno.
sou como eles garimpeiro de almas.

De volta a Cava, o tempo para, vejo a vela teimar dançar,
oxigênio escasso No limite da vida,
no capricho de estar presente,
mas ainda assim penso em você,
que distante me sentes,
Onde estas agora, que tanto me chamas?

Se garimpo cheira temor e destruição, la também tem sorriso
Um mundo a parte, que só a cava ensina sua lição
Nada muda La fora, muda minha alma e meu sorriso
Bela Preta segue teu curso, as águas te protejam neste
Mar seco repleto de brilhantes escondidos, maldição da cobiça
Que trouxe preto escravo nas terras do tijuco,
A viver sua sina nos campos do senhor.




                                                            23
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


Bonecas de barro


                                      Diamantina 29 de Julho de 2008,


     No vale as bonecas de barro
     Costumam cantar todas as manhas:

     Chora bananeira, bananeira chora
     Chora bananeira que o meu amor
     Já foi embora...

     E a labuta continua, dia após dia
     A lembrança e saudade não da pão
     Tem que suar, mulheres da vida
     Carregam destemida seus filhos
     Seja noite seja dia.

     Cadê seu pai? Perguntam os desavisados.
     Foi pra longe, no garimpo, na cana,
     Na cidade grande, respondem as bonecas gigantes

     E assim a vida das viúvas vivas
     Aquelas que sonham amor e muito alegria
     Fartura na mesa e crianças, muitas crianças.


     No final do dia as águas brilhantes
     do rio ferido contemplam silenciosas seu lamento:
     onde estas amado, por que me abandonaste?
     Rio mensageiro onde esta o meu amor?

     Sim, descendo o Vale existe um rio ferido,
     Todas as manhas avisa que esta vivo,
     Todas as manhas leva lembranças dos maridos distantes
     Lavando as lagrimas das viúvas
     Carregando pedidos para o infinito.

     Eis a importância do rio neste vale de fome
     Acalma a sede do corpo e da alma
     Eis por que não pode morrer,
     Carrega tantas almas rio abaixo,
     Tantas mensagens de amor.


     Na estação do trem todos esperam
     Sua chegada, na hora marcada, para
     Dar o abraço emocionado a quem merece seu
     Amor.



                                                                        24
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin

La, o relógio estragou
Nada de trem, impaciente caminhas
Sem rumo com o coração apertado, mil imagens
De desolação correm tua alma,
Por que não fui com ele, será que voltara
O que aconteceu?

Mas no vale não tem trem, nem estrada de asfalto
Só poeira e o rio mensageiro que hoje teima
Em atrasar

Noticia vazou na cidade, ele morreu, trucidado,
Vitima Do descaso e da ganância, ignorância dos incautos,
O fiel carteiro parou de correr, as águas cansaram
Retiraram seus brilhos e enterram suas cartas.


As viúvas irão deitar sem esperança esta noite
Nem um beijo de boa noite, nem um abraço molhado
Resta saber o que fazer com as crianças
Resta saber o que dizer ao bom Deus
Que ora pelas mulheres que viram
Bonecas de barro, calcinadas nos fornos
Da desolação e solidão.




                                                            25
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Igreja do Carmo


                              Diamantina, 29 de julho de 2008


Sonhei que saias radiante ao meu lado
Da igrejinha do Carmo,
Sorriso maroto meio envergonhada
Nada anormal nestes momentos
Insensatos.

Sonhei que carregavas uma bola de cristal
E com ela as águas do rio ferido que
Descem pelas entranhas silenciosas da alma

A diante,
as portas do templo se abrem ao mundo
me senti seguro,
como um sobrevivente em dias de
tempestades de vale seco.

E a igreja atrás de nos
Descobre uma bela escadaria,
Da antiga guarda da cidade
e tu iluminada por pequenas velas voadoras
te viras e me das o abraço mais
doce que senti na vida.

Nada como o silencio dos olhos, vi
Mares cantar sua alegria ao bater das
Ondas nas pedras da serra,
O tempo vira presente,
Tua boca treme, suspira palavras desnudas:
Te amo, murmuras,
Furações explodem no peito
Despreparado o inverno sedento de
Desejos se abate sobre nossas cabeças.

Não importa o futuro, eis o mistério
Que incomoda aqueles que não amam
E se expressa pelas combinações mutagênicas
Que um dia viram passar o português e a negra
unidos pela cidade do tijuco.
A gerar 13 frutos ao mundo.

Um retrato dispara,
As escadarias gritam e cada vez mais próximas e
desafiadoras, desabo nelas,
como águas nas pedras das cachoeiras

                                                                26
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Sem ordem, maneira, rodopiando uma a uma
Pelos degraus verso o vale da rua.

Talvez foram segundos ou séculos, neste instante
De descida te vi me olhando pálida, indefesa,
Corres atrás de mim por estas pedras da vida
Seguras no entanto a bola do rio assustada
Transbordando raios celestes de
instante infinito.

Na beira da morte, me prendes a mão,
Novamente a câmera pisca seu olho prevenido,
Silencio! flutuo no espaço na beira
Do abismo profundo do ultimo degrau da vida
E La, moribundo, te vi radiante
saltar no abismo.

Nada mais percebi,
apenas o beijo molhado    profundo
Tocar minha alma.

Dois corpos entendidos na beira da igreja
Duas almas que ousaram o limite do permitido,
corre a historia entre mendigos, padres,
comadres, Padeiros, juízes,
todos reunidos no pé da igrejinha que
teima em olhar o amanhecer
das serras do tijuco.


As águas do cristal lavam este momento
Fugindo nas pedras da cidade,
Mais um conto para as noites frias
Os lampiões se apagam,
hora de despertar
Meu amor.




                                                      27
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Sentinela


                               Diamantina 29 de julho de 2008


Hoje levei a virgem de barro
Flutuar na Sentinela,
Caminho de terra verso o biribiri
Driblando as serras descendo ao
Encontro fatal das águas limpas e daquelas
Marcas pelo homem.

Sei que La estas sempre amada mia
Mesmo distante em terras aléias,
Deitas na pedra a consolar tua magoa
Sei que lá te encontro solitária
prestes a ceder ao meu encanto.

A virgem de barro corre seu leito
Sentindo teu cheiro, buscando tua alma
Nada encontra no universo distante das águas
Mas num golpe mergulha fundo no leito
Nada parece detê-la nas profundezas do mar das
Serras.

Mais tarde pergunto a respeito da viagem
Ela me conta do encontro contigo amada
Das alegrias e tristezas que guardas
Dos sonhos submergidos que tanto guardas
Nesta vida plena de surpresas.

Boneca de barro tens algum recado para mim?
Calada me olha pensativa e distante
Nada disse, nada, mas apenas chorou respondeu
Apenas te sente no peito, pertinho da esquina
Da sua vida

Nas águas da pequena cachoeira continuas virgem
A rezar por todos aqueles que não encontraram
O verdadeiro amor e sentimento solitude
Próprio para vestir na hora do encontro com a
alma.

Amada, estou feliz por te ver junto a tua gente
Junto a estas pedras que tanto amas,
e que um dia te machucaram profundamente.
Mas sei que retornaras pronto,
é momento de descanso, de trégua da guerra,
Firme e valorosa estarás de volta a tomar teu trono

                                                                28
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin

Destruído.

Não te preocupes já estou em terras do tijuco, marcado
eternamente com o aroma das madrugadas,
seguindo teus passos pela rua torta do Bonfim
verso a rua do contrato.


Se tiveres sede de sentir-me, pensa no pico do
Itambé, La me encontras sempre,sempre, olha fixo
À vila do tijuco e
subindo a ladeira do teu coração.




                                                         29
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Leoa

                                    Diamantina, 29 de julho 2008

Distante na serra
Descansa a fêmea eterna
Que tanto amo e desejo,
Atenta protege o infinito
reino das terras do tijuco.

Minha historia começa com o
Acordar da felina,
Num descuido do meu coração
Palpitou seu amor fulminante como
A fecha de um Caçador.

Perguntam: onde se esconde a fera?
Não a vejo, seja dia seja noite,
Respondo: levanta os olhos cego amigo
Veja serra, nas linhas e formas do Itambé,
Eis a silueta dela, passa devagar
Senão se desperta,

Hoje amo um leão
Deito no seu leito
De tantos contos e historias
Eis a musa que despertou

versos eternidade

Que sangre carregas animal da Serra?
Teus olhos respondem:
Mistura de Raças
Mistura Brasil,
Nasci no tijuco
Da Xica e o Fernando
De 13 crias esquecidas

Mistura de Raças não importa a praça:
negro, branco, mulato,
mameluco, índio, parto, bugre,
no Tijuco aprendes
que tudo é gente e somente gente.
Dane-se a cor!

Gritas soberba a tua herança negra,
Coisa boa que carregas mistura nas veias,
Que palpita coragem de ousar a liberdade
Em tempos de escravos, almas maltratadas.



                                                              30
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



8 gerações criaram leões
Famintos de amor e desejo,
Livres correm pelas serras
Despertando incautos
Passantes que viagem sem fé
Por estes campos do Senhor.

Conta a lenda que eres mulher bonita
Carregas na vida a fera ferida
Que teima em viver dentro de mim
Pois sente calor e aconchego.

Toda noite a fera visita mãe Xica
No pé da igreja do Carmo.
canta sua sina bendita de
Guerreira e amante das águas.


Hoje provei teu alimento
Presente nas serras e águas
Que dia e noite
celebram a vida de todo ser
tuas garras guardastes, deitei no teu peito
sem medo da morte e dormir silencioso.


Mas sei que amo leões
Suas garras e dentes
Machucam quem despreza
o amor da terra abençoada
da alto da serra
ápice da estrada real.




                                                      31
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Vesperata

                               Diamantina 1 de Agosto de 2008.

Tudo começou na Vesperata Diamantina
eis que de longe te vi amor
esplêndida,radiantes aparecer
no horizonte da vida.

Tudo começou numa noite fria
No compasso dos balcões
Recebi o sopro de amor
Invisível e silencioso.

Nada sabia incauto ser
Que guardava dentro de mi
Uma enorme represa de águas contidas
E que naquela noite se romperia
Libertando tantos rios de amor.

E tu estavas ali bela Xica
A poucas léguas do encontro
a pedra fria se abriu por encanto
no ritmo da melodia.

meu olhos tocaram tua veste vermelha
e desceram pelas curvas da Xica
mil vezes em poucos segundos
tocaram os sinos
da igrejinha do Carmo.

Tudo começou na Vesperata Diamantina
As gaiolas abriram seus portões
e rios poderosos desceram a Serra
nas cachoeiras das almas esquecidas.

Lado a lado no   bar do Antonio
Senti tua pele   penetrar na mia
Ondas de calor   e ventos de tensão
Se abateram no   cantinho apertado da vila.

Tudo começou na noite fria Diamantina
E não sabia que as águas contidas
Nasceriam possantes do Itambé ao rio ferido
Onde tanto choras tua sina
Bela Xica das águas finas.

Repito os mesmos versos
Em turbilhões de emoções
Que nada tem de terrestre

                                                                 32
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin


sem regras postuladas
nas dimensões ocultas da
Aritmética do amor.

E na próxima Vesperada
Estarei dentro de ti cantando diamantina
A musica que dedico
É aquela que fala da saudade do nosso amor
Saudade que destrói as barreiras das águas
das distancias sem fim
Que separam os homens de Deus
E a razão das emoções:

Como pode um peixe vivo
Viver fora da água fria
Como poderei viver
Sem a sua, sem a sua companhia...

Fecha os olhos nestes cantos,
Tocarei cada espaço do teu corpo
Cada esquina da tua alma
Do contrato ao Bonfim
Da Quitanda a Sentinela
Estarei em ti Amada mia

E no baile do Acaiaca
Dançarei ao teu lado
Solitária alma ferida
Que nada tem de pequeno
E contem a semente
No teu ventre eterno.

E se ainda sentires saudades
No domingo, na igreja dos escravos,
Escute Diamantina em Serenata
Das vozes dos anjos que la cantam
Como os olhos cerrados e coração disparado
Estarei presente ao seu lado.

Eis o roteiro de amor que dediquei a ti.

Tudo começou na Vesperata diamantina
Suave e leve
como o vento que
Canta às águas do teu reino,
Suave e leve
como o teu olhar sereno
que vaga nas ondas das serras.

E Tudo começou na Vesperata Diamantina.
Tudo.

                                                      33
Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin



Nascimento

                                Diamantina 1 de Agosto de 2008


Nasceu em mim
A magia das palavras
Nasceu ao golpe do teu amor
A vontade de cantar versos
Livres da opressão e da razão

Nasceu o filho que faltava
Da escrita esquecida
Que, tu, bela amada
Ajudaste a despertar

Nasceu em mim a vontade de
Cantar para as águas celebrar tua beleza.
Como esquecer o ser
Que tomou conta da minha alma?

Nasceu o irmão dos meus retratos
Não entendo como vivi tanto tempo
Sem ti, palavras escondidas,
Bela Xica criastes versos mágicos
Que tem vida e brincam
Nas águas limpas das serras enfeitiçadas.

Nasceu em mim
O que faltava
E feliz me sinto
A esperar da tua chegada.




                                                                 34

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Últimas Águas

  • 1. Últimas Águas Poemas e Retratos emocionados Das terras altas do Tijuco Por Antonio Guillermo Martin Diamantina.
  • 2. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Para K L da Xica Musa inspiradora do tijuco. 2
  • 3. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Introdução do autor. As terras do tijuco possuem segredos e mistérios guardados nas suas serras, não é fácil compreender, num primeiro momento, o que tudo isto significa. Requer tempo, subir e descer ladeira, Conversar com as pedras e as igrejas centenárias, olhar para a serra, prumar para o Itambé. conversar com o povo, extremamente hospitaleiro e de prosa fácil. E o mais importante, requer abrir a mente e sobre tudo o coração. As ultimas águas expressam sentimentos do que já sabemos: a destruição e descaso do Cerrado em especial suas águas, é realidade e não fantasia. Eles pedem atenção imediata e sobre tudo tempo para se recompor. Da mesma maneira não da para esquecer do seu povo, seus belos personagens, suas tradições e a enérgica cultura presente que luta para sobreviver bravamente. Devo dizer que nada disto faz sentido senão admitir que os versos dos poemas e retratos tem sua inspiração profunda no amor vivido em Diamantina, possuído de todas as qualidades que merece. Sentimentos e percepções se combinam para despertar a vontade de escrever, fotografar o entorno sedutor e sua alma. O tempo do festival de inverno e sua luz cortante do mês de julho de 2008, certamente marcaram estes versos, conspirando para eclodir as linhas e imagens a seguir. Finalmente as últimas águas são resultado de suporte amoroso dos meus pais e de meus amigos: Francisco Bravim, Rodrigo Bruzzi,Gracinha Leão,Lucinha Leão,família Leão, Keka, Maria Salim, Jean François e Vera Casa Nova. A todos agradeço profundamente estes momentos.. Antonio Guillermo Martin 3
  • 4. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin índice de poemas Ofertório As últimas Águas Xicanidade Almas Feridas Keka Preta XP4 Águas Secas Ambrosina e o rio Ferido Lagriterio Igreja do Carmo Bonecas de Barro Leoa Sentinela KL da Xica Verperata Nascimento Retratos 4
  • 5. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Ofertório Diamantina 30 de julho de 2008. Estes versos são para ti Bela Xica, Não se engane Quem os ler e se apaixonar, Já tem dono e destino. Este versos são para ti Amada Xica, Os retratos cantam tua beleza Refletem o que mais admiro no mundo Os traços femininos marcados na terra Que nascem nas serras do tijuco, E voam distante ao redor do mundo. Este versos são para ti Altiva Xica, Guarda sempre contigo, Pois sublime é nosso amor, Que teima em brotar Todo dia, toda hora, Na sentinela, Ainda virgem águas da vida. Estes versos são para ti Xica. Para ti. 5
  • 6. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin As últimas águas Diamantina, 22 de julho de 2008 As últimas águas Não podem calar seu lamento sereno, a dor vaga no seio da terra e dissipa no céu, Porque foges de mim... Sempre te amei mesmo a distancia. As últimas águas Tocam na alma dos que sentem sua dor Soam latentes os humores melancólicos Das terras queimadas, das arvores que Transformam seu ramos em carvão. Seus restos se espalham nas terras calcinadas Onde bicho nenhum respira vida E os pássaros disparam da sangrenta chacina. As últimas águas não descem mais para o vale que chora lágrima seca, sem água, sem pão nada consola a terra mãe a perda de uma filha, suas águas tem corpo e alma, tem sentimentos e rancores sua vingança é fugir e deixar a terra fria arrastar areias para os rios já castigados pela sede do garimpo. As últimas águas São mágicas, vibram na alma dos que sentem Ecoam lembranças de fartura e beleza Moldam o terreno de curvas fêmeas, Sinuosas delicias que despertam meu ser. Ah, estas últimas águas Mesmo moribundas visitam meus sonhos Talvez haja esperança, talvez despertes das trevas O preferes velar as águas e logo a tua morte, São tempos de angustia e revelação Domina teu medo nobre ser homem mulher,homem criança Domina o desejo de autoflagelação. As últimas águas Virão da mesma forma como esperas o trem na estação: 6
  • 7. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin A hora esta chegando implacável Seca e calcinada os ventos cantam sua chegada Se cochilas perdes o bonde Se morres ninguém te acorda, Ah! O trem passou e tu imóvel contemplas o infinito vazio, não respiras, não reages. Alguns segundos, minutos, horas, dias correm, A estação se fecha, agora somente na próxima alvorada da eternidade, Quem sabe terás uma nova chance. 7
  • 8. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Xicanidade Diamantina 21 de Julho de 2008. No antigo arraial do tijuco Pergunte ao passante Todos são filhos da Xica 13 filhos, 13 amores multiplicaram Diamantina na soleira diamante da serra do espinhaço Só vendo para crer Só sentindo o amor da prosa E o abraço do povo que Floresce ao pé do morro, da ponta Itambé. La pela ladeira do tijuco, Tem Casa de passagem, Tem Ponte de passagem, Tem Tomé que toma conta Entre Diamantina e Curralinho Todos passam pela guarda do velho negro que tudo sabe sobre o mundo e do riacho que um dia foi mar da Xica da Mulata das 12 negras, centro da colônia que Navega no alto mar pelas terras secas do Senhor. Da Xica ninguém nega a sua força de guerreira De atrevida que ela é, Oito gerações se foram, oito Xicas no sangue do povo que ousaram vida plena, e semeiam idéias e desejos transbordando a estrada real que une a serra ao mar. O passado é presente em mil rostos de mulher Surge a cada instante o coração da negra guerreira E move céus e mares com seus sonhos libertinos Eis que despontas entre as pedras da cidade Novas xicas de muitas cores É insensatez duvidar que mundo negro cria força, Que escravo se rebela e branco se ajoelha e beija seus pés, ninguém lembra de idalgos senhores Escravistas do ódio, mulheres devotas sem vida, Mas sim da bela do mar que tanto navega, onde ninguém Acha possível viajar. Quantas terras visitastes bela negra Quantos amores te seguiram distante No horizonte do mar, tudo dentro do arraial Pertinho do Tome, do riacho que hoje fede lixo, Fede descaso, porque ali mora negro pobre,que não tem 8
  • 9. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Direito a ter um teto e sonhar sossego. Só resta a bananeira do quintal para soltar tripas no chão. Descendo o morro percebo que a lenda é não é lenda, Que Ambrosina das pastorinhas não canta pela idade, Mas semeia saudade da velha Xica que foi subindo ladeira verso o pico da eternidade, Se mundo negro não se livrou da cruel sina do ódio e preconceito, A negra despertou os sinos da liberdade da mistura de raças, cruzando cores e amores, mutações das terras altas, do conceito Brasil. é a ti que peço benção, que sejas guia dos que ainda virão, Que sejas comida dos que aqui seguem para o pico da eternidade. Diz a lenda, primeiro terás que passar pela Terra de passagem, que guarda 7 filhos da Valdirene, 7 almas que dormem no seio da chacra da Xica 7 é numero mágico mas não basta, escuto o lamento das águas mortas, que descem pelo riacho, ah,o que fizeram com o mar da Xica que vela os mistérios da velha negra. E la pertinho, Soberba a casa de passagem é herança do sofrimento negro Sobrevivente do grande naufrágio da humanidade, Choro nenhum muda o mundo e devolve o grande mar do cerrado Mas esta historia aquece o peito, Desperta esperança por dias melhores. E que venham novas Xicas que tanto procuro Para beijar seus pés E viver um grande amor Abençoado no riacho das águas limpas de passagem, de justiça e igualdade. 9
  • 10. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Keka Diamantina 18 de Julho de 2008. Keka minha grande amiga mil estrelas não Contemplam o astro que Carregas no peito, Eis que hoje sinto Você brilhar, eclodir Paixão, implodir meu coração Em mil gotas brilhantes Navegando pelas águas da Xica, Pedra sobre pedra Carregas meu peito Pedra sobre pedra Arrastas minha alma Para dentro de ti Para perto do beco, Beco da Keka Beco da alegria. Das montanhas de Minas Teu abraço encanta o viajante Despertas a diamantina brilhante Se falta keka falta vida, Falta o pão e a luz Repleto do olhar maroto de menina. Keka não é nome, keka e conceito amor, Mil Kekas quero ter, vezes mil dentro do meu coração Bom saber que basta uma, única, nobre rainha Viva nas terras Diamantina, terreno do arraial do tijuco Para transformar o mundo perverso da tristeza em campos do senhor. 10
  • 11. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Almas feridas Diamantina 19 de Julho de 2008. Amor, Descobri que as águas são fêmeas E parem a cada segundo sua existência, Sua paixão infinita cria vida, Tão fácil como respirar a sua essência. E de longe me olhas desejando minha boca, Nada posso dizer, nada posso conter, Este é o tempo cego que dribla a razão e une nossas carnes, Eis o nosso mistério que se revela a cada Segundo, e se esconde nos becos das almas feridas. Continuo louco ao amanhecer Diamantina, tuas ruas passado carregam nostalgia, não te vejo a minha frente, amada, mas sinto teus olhos fugir assustada das redes que a grande lua preparou. Sobre a ponte que cruza o rio ferido, suspiros plenos afastam de mim o sono profundo, Volta minha amada Xica que tanto me faz bem a navegar solene por este mar de águas secas. O que dizer quando me abraças e cantas, Teu vestido negro veludo vibram meus desejos, Teu olhar profundo e intenso repousa dentro dos campos da alma, Seduzido não detenho o medo de ousar ser o teu amado,e subir no trono do teu coração, Nem que seja por um segundo, por um segundo, um segundo. E a lua é cheia, cheia de malícia, nasce laranja lima imponente, E se senta no céu a ver o amor tomar conta de almas insensatas Nos trilhos do Biribiri onde me jogas na areia, me envolves fêmea, Possuída de desejo e paixão. E a lua toma conta dos corpos e os leva para longe do mundo Longe da razão, longe de tudo que foi construído. Na madrugada te vejo fugir do encanto caminhando pela ruela, logo viras a esquerda, vestida vermelho sangue te afastas de mim 11
  • 12. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Com a mente doendo, com o coração cantando, sei Que nada borra esta lua que cresceu dentro de nós, E as noites galopam seu destino, Verso o mais distante futuro, Mas ainda será pouco para deter os Ventos que carregam nossas almas, Que sopram da serra os caminhos Do eterno amor. Fecha os olhos, descansa Amor, A viagem é longa, respira meu beijo, inté Bela Flor. 12
  • 13. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Águas Secas do Cerrado Brasília, 5 de Julho de 2008. Oh, Água amada que tiras e das a vida, Cantas sofrida e tímida a chegada da Deusa flor, Aquela de olhos profundos e ávidos que numa noite sem luz encontrei nas terras altas do planalto infinito. Oh, Águas das serras que tanto proteges tuas fontes por medo de sucumbir a mais uma Decepção no mistério do amor, hoje tudo pode mudar, os segundos dilatam espaços e como mágica me permites cair nu no teu âmago impenetrável. Oh Deusa jasmim disfarçada de guerreira, secam as águas quando estas triste e abandonada, Quantas vezes não voltaste para pedir aconchego neste leito materno, sangue da terra e seiva da vida? No entanto, gritas muda no espaço com gesto libra, Ecoam as sombras de Águas perdidas, 5 letras que fazem sentido ao universo, 5 letras que movem o mundo à destruição. Águas Secas, 5 letras mais cinco que não expressam o universo vivo, 5 letras mais cinco que retiram qualquer esperança Enquanto isto, Mar, toma conta das Águas limpas, Órfã da doçura das crianças e dos loucos, Oh, água-homem que brincas de guerreiro, Não esta na hora de sair do casulo, Vibrando tuas asas e celebrando o mundo em vez de matar a frescura dos rios? Lembra-te, se Ele se foi nas águas turvas não cabe a ti negar sua força mas reverenciar com dor do coração a magia da vida-morte que o universo construiu. Oh, Água te abraço e sinto teu amor severo Ao retirar o que mais quero e marcar para sempre a minha carne. Sei que estas sofrida, mulher solitária, 13
  • 14. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin de almas e águas, de luzes e trevas numa vitrine alegórica com vaga-lumes que cantam ao encontro eterno dos seres que jamais se separam. Seres que se despedem depois do banquete, dispostos a passar a noite distante a espera da alvorada cândida imaculada para logo se abraçar e voltar a se amar. Fecho os olhos e te envio um beijo de boa noite repletos de sonhos vividos num paraíso terrestre, Onde águas e mentes se misturam na pele Cálida da negra Xica, úmida de amor e suavidade, De um universo em permanente celebração que Canta a tua presença divina. Cruel são as lembranças de recordações, De um tempo que não passa e machuca a alma Dor que desperta a consciência de agir e respirar futuro As águas correm com as brumas da noite, Correm verso o mar celestial, as águas cantam sua alegria virginal mas não sabem que elas se multiplicam em vapores e gelos, em plantas e animais, no homem todo poderoso que um dia decide ser dono do mundo, dono de si, dono da sua própria tragédia e destruição. Oh, Água, não pára diante de tal tragédia humana, Segue teu curso trazendo e levando almas, Segue cantando solitária, única pelas pedras das montanhas, E pelas mentes dos que ainda lembram tua melodia. E se tudo vier a se apagar da minha incurável memória, o que farei? Me resta apenas, sonâmbulo, escutar o bombear do sangue eterno Que é parte água e a outra mistério divino. Vejo o trapiche da transformação, Envolto pelas Águas vivas do Cerrado, No centro a fêmea e macho perturbam suas mentes pela ponte verso o infinito incerto, Aquela que todos aceitam e respeitam seu destino, Não há como fugir do ciclo celeste. Vi o eterno retorno do ser impuro amarrado ao companheiro purificado, um estranho encontro do sacro e o profano 14
  • 15. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin dos que aparentam e dos que realmente são. Nada disto vale uma lágrima versada pela dor materna, Mais vale uma gota da boca daquele que grita e clama amor pela harmonia assassina da vida, simplesmente da vida repleta de Água, Água, Água. E a ti bela Deusa que inspiras minha alma, te ofereço uma sinfonia feita risos de infância, entre bolhinhas coloridas, que descem as corredeiras, repletas de sonhos e esperança. 15
  • 16. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Lagritério Diamantina, 30 de julho de 2008 Amada, não pude conter.. Ontem segui oce choravas rios inteiros atrás da tua mascara de alegria, dançavas bela e suave, a dor exalava perfume e dissipava pelas paredes, subindo e subindo no altar do mundo. Mas detive meu olhar, Em apenas uma gota final, numa única lagrima virginal. A bela lagrima que reflete o mundo dentro de si, E sei que choras por alguém que não podes mais ter, Nada faz mais sentido do que gotejar este Amargo destilado de dor. Me inspira o medo de estar perto de ti De apartar corpo da lagrima, do ser vivo emocionado do defunto calcinado, Lagrima nada mais é que água sentimento, água de desespero, água de alegrias, Que natureza sabia é está que destaca águas do corpo das águas da alma? Sentada na mesa estas tu, Silenciosa, determinada a me acompanhar Nesta maratona de vida e percalços, Nada parece ser mais importante que este momento O tempo se detém diante de mim, nada avança ou recua Apenas permanece imóvel, mas eu consigo pensar e Sentados ao redor muitos pessoas, No centro um homem mago cálido e sorridente estende suas mãos para passar O vinho, a água e logo depois o pão. E ao seu lado estas tu bela amada, De olhar profundo, distante já com saudade Da distancia e sublimação O que fazemos nesta ceia? O vento da serra brincou e complicou nossas vidas, Como folhas secas trazidas de terras distantes se tocaram no leito do rio. De retorno a ceia, Me parece familiar, uma cena já antes vivida não lembro quando aconteceu Sei que meu olhar vagava incansável sobre a jarra de água 16
  • 17. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Suas ondinhas refletiam todo o ambiente claro e impecável. As águas estão prestes a sair dos vasos, Preâmbulo do brinde inevitável, elas buscam sedentas as bocas dos convidados. Me afasto para entender a cena E tu me olhas fixo e me segues verso O grande portal fronteira do celeste e do terreno. Choras pequeno, soluças contido, tuas palavras Abrem caminhos entre as serras que tanto amas, O portal brilhante ofusca a visão, nada vemos apenas seguimos passo a passo, respiro a respiro o nosso destino, Atrás a mesa composta continua animada, O homem se levanta com a taça de vinho e água. Todos seguem com devoção seu ato mágico Sinto vontade de ver o acontecimento Mas já estamos pisando as areias brancas do rio ferido O portal se fecha num golpe de vento. Retorno o meu olhar e logo cresce no horizonte crianças Que correm pelas águas ralas e tranqüilas, As Serras de dentes afiados protegem seu leito E tu amada, me olhas serena, Pedes meu abraço já dentro do rio. 17
  • 18. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin KL da Xica Diamantina 24 de Julho de 2008. Esta cidade respira você E sei que quando retornarás Sentiras minha falta Não procures entender Apenas respira o que é vivo e bonito Estas dentro de mim e não por pouco tempo Agora a missão nos aguarda Dar atenção para esta terra sangrada e machucada Feito de barro, serras e águas. Eres minha mulher para a eternidade e eu teu homem... Estou tratando de escrever uma carta mas contigo nasce poesia Adorei teu recado, estas hoje poeta amada mia. Te escreverei sempre, assim não sentiras o frio do norte E logo me veras ao teu lado despertando corações de gente distante. Xica, 4 letras que soam vida e amor, mesmo se tudo parece loucura Nada tem de irreal mas presente como aquela lua laranja que guardamos na alma. Espero que estejas bem, feliz e linda como te conheci, mulher guerreira, cheia de vida e amor, vive meu anjo e se houver espaço lembre de quem te sopra na alma e desperta poesia. Sabes onde me encontrar, beijos mil, Amada mia. 18
  • 19. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Ambrosina e o rio ferido Diamantina 25 de Julho de 2008 Ah! Virgem que caminhas sobre as águas Tocando tua sanfona, Galopas feliz por terras altas pastoreando o rebanho com teu canto solene. Ambrosina sinhá moça, virgem do tijuco, Não te destes conta que o século passou E tu continuas presente, semeando amor, Recolhes tuas pastorinhas, alegres que voam ao teu lado Com a caixinha da alegria que transforma Moedas em balas, moedas em pão, moedas em sonhos. Ambrosina doce negra Xica nascida na serra do Itambé, Por que ainda carregas tua sanfona, Qual mágica te da força e não paras De cantar paixão e curar tantas almas feridas? Sei que não há paz no teu coração enquanto não despertas o povo na rua da Quitanda ontem ti vi, sinhá, distante lembrando do negro Sabá, errante viajante, que tua caixinha mágica construiu tua nova morada. Ambrosina da vida, da sanfona e da cantiga, Vem visita meus sonhos sou mais um carneiro do teu rebanho Me abençoa e batiza com esta água ferida, minguante, Que teima em viver, em traçar sua linha entre os morros E vilas. Virgem do tijuco, será que alguém já te amou como Eu te amo? tudo aconteceu num golpe fulminante No trovejar da tua sanfona,no acorde maior carregado de Re menor Tudo não passou de segundos repletos de paz e plenitude Nestes campos do senhor, teu rebanho não para, firme,decidida, Cercado da pobreza que reverencia a santidade, Na riqueza do espírito possuído pelo dom da devota caridade, Na vida em vez da morte, na simplicidade serena em vez Da assassina e perversa ganância Eis aqui que Ambrosina das pastorinhas não tem igual 19
  • 20. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Rainha da casinha claustro, lá existe fé e um altar que se ergue no pé do leito, as flores do campo ornam a sua mesa e as águas Limpas descansam seu pranto. A janela pruma para o céu, apenas, teu jardim tem vista ao Itambé, que teima em te despertar todas as manhas, Bem pertinho do quintal sem fim. O ato da transformação ainda irá chegar, velha amiga, a tua sanfona transformará corações frios devolvendo às águas perdidas sua vida passional sua força e sensualidade. Finalmente oras pelas meninas pastorinhas que te dão 91 primaveras, 91 chuvas de verão que lavam as pedras da cidade, Mas lembra que Deus impaciente espera a tua chegada, Pede atenção, tua sanfona e teu canto. E la quando chegares quantos anjos deterão seus compromissos para sentir o teu canto florido... Enquanto a mim chego pertinho da igreja a escutar conversa Entre a lua cheia e a atrevida Xica, animadas falam de ti e tua lindeza da roupinha passada e sapatos que depois das 4 te vestem rainha, linda e radiante. Que o azul profundo do mês de julho te proteja sempre,sempre Sanfoneira das terras do Tijuco e do Céu. Ambrosina: Toca nas festas religiosas Final de ano, natal, Apresenta de casa em casa Nas novenas, as roupas das chita estampadas Pastorinhas é tradição de diamantina. O que dirás nesta noite marota Quando for chegar na cidade atrevida 20
  • 21. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin PX4 do Beco do Mota Diamantina 27 de Julho de 2008. Px4 novenas são comuns no mundo Nos instantes segundos nada sinto, Sinto o pesar da tua distancia, do teu cheiro Do teu orvalho selvagem que eclodem flor e cantam a tua beleza solidão. Px4 manhas somam as cantigas que me levam a ocê bela morena, que Machucas nos abismos do meu ser. Px4 minutos são o que separam nossas vidas Nossos corações em cachoeiras de lagrimas silenciosas Nas águas puras do teu peito E voam os pássaros que te viram nascer. Na noite poesia são poucos os que conhecem E despertam desejos mar, rios dentro de mim Como pudestes entrar sem tocar a minha razão? Px4 vezes 7 missões são as que detenho Agora, busco teu coração, sei que compreendes Que nada posso achar neste vazio mar, mas, Inconsolado luto Dragões e exércitos pra libertar a tua sombra perdida das trevas pedras de escravidão. Px4 te encontro mais uma vez e não entendo A bebida sóbria que flue nas tuas veias Sedentas de amor e desejo, o meu amor desta vez Não chora medo, me beijas e toma conta de tudo Do que sou, ser perverso que nada controlo. Px4 somas minha alma perdida no contrato, nossa Rua marcada pela despedida tempo, contrato do nosso Amor marcado na pele, ferro ardente e infinito da Esquina torta que separa de ti meu cheiro, Bela xica do mar 21
  • 22. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Preta Diamantina 28 de Julho de 2008. Quantas pedras Encontraste na garganta profunda desta terra? No alto do morro,distante do conforto Vives Preta o sonho, mistura medo, mistura paixão do garimpo vicio, do dinheiro maldito, Que constrói casas e destrói corações. Pedras brilham nos teus olhos,mais do que Qualquer desejo, cavas e cavas a alma A procura do tesouro escondido, cadê o veio Cadê a linha da pedra que desejas, e La embaixo no seio da terra, tudo para mudo, silencio catedral, silencio que faz Sentir o que realmente sou, pequeno e pretensioso Ser abissal. Tantos outros garimpeiros, vivem a paixão da pedra Tantos seres golpeados, maltratados pelas estrelas Do leito do rio ferido, da serra furada, semeados por historias, De nomes que mudaram suas vidas, para a riqueza ou para a morte. Sim, sou também garimpeiro, cato imagens, cato almas desprevenidas, que não entendem quem sou e o que desejo. Hoje conheço Preta e seu neto, garimpeira, marcada de sol, solteira, 4 filhos, amante, Criada nas serras, magra e esbelta de sorriso menina, dentes estupendos, tem banheiro e água da bica no seu barraco na vila do Bargaço. Garimpeiro Claudio, Garimpo baiano, ontem eram genéricos e nada mais, hoje conhecidos, quem sabe amanha amigos, do peito do buraco profundo. Mas e tu bela que cavas minha alma, Te quero ver longe da chacina dos homens e perto Do aperto criança que tanto desejas, vem conhecer esta gente Sofrida devotos da virgem, que explode tiros, a afunda na pedra. 22
  • 23. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Peco uma oração pelo bendito cerrado, estás ferido, moribundo, terra do descaso, o que dizer? Sinto muito,não posso chegar os olhos e apagar sorrisos da gente que busca sua sorte nas suas entranhas, muito tarde, amor, entrei na cava. Pensei que tudo vi, eis meu ser fundo no buraco escuro Prestes a sucumbir no aconchego do teu umbigo materno. sou como eles garimpeiro de almas. De volta a Cava, o tempo para, vejo a vela teimar dançar, oxigênio escasso No limite da vida, no capricho de estar presente, mas ainda assim penso em você, que distante me sentes, Onde estas agora, que tanto me chamas? Se garimpo cheira temor e destruição, la também tem sorriso Um mundo a parte, que só a cava ensina sua lição Nada muda La fora, muda minha alma e meu sorriso Bela Preta segue teu curso, as águas te protejam neste Mar seco repleto de brilhantes escondidos, maldição da cobiça Que trouxe preto escravo nas terras do tijuco, A viver sua sina nos campos do senhor. 23
  • 24. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Bonecas de barro Diamantina 29 de Julho de 2008, No vale as bonecas de barro Costumam cantar todas as manhas: Chora bananeira, bananeira chora Chora bananeira que o meu amor Já foi embora... E a labuta continua, dia após dia A lembrança e saudade não da pão Tem que suar, mulheres da vida Carregam destemida seus filhos Seja noite seja dia. Cadê seu pai? Perguntam os desavisados. Foi pra longe, no garimpo, na cana, Na cidade grande, respondem as bonecas gigantes E assim a vida das viúvas vivas Aquelas que sonham amor e muito alegria Fartura na mesa e crianças, muitas crianças. No final do dia as águas brilhantes do rio ferido contemplam silenciosas seu lamento: onde estas amado, por que me abandonaste? Rio mensageiro onde esta o meu amor? Sim, descendo o Vale existe um rio ferido, Todas as manhas avisa que esta vivo, Todas as manhas leva lembranças dos maridos distantes Lavando as lagrimas das viúvas Carregando pedidos para o infinito. Eis a importância do rio neste vale de fome Acalma a sede do corpo e da alma Eis por que não pode morrer, Carrega tantas almas rio abaixo, Tantas mensagens de amor. Na estação do trem todos esperam Sua chegada, na hora marcada, para Dar o abraço emocionado a quem merece seu Amor. 24
  • 25. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin La, o relógio estragou Nada de trem, impaciente caminhas Sem rumo com o coração apertado, mil imagens De desolação correm tua alma, Por que não fui com ele, será que voltara O que aconteceu? Mas no vale não tem trem, nem estrada de asfalto Só poeira e o rio mensageiro que hoje teima Em atrasar Noticia vazou na cidade, ele morreu, trucidado, Vitima Do descaso e da ganância, ignorância dos incautos, O fiel carteiro parou de correr, as águas cansaram Retiraram seus brilhos e enterram suas cartas. As viúvas irão deitar sem esperança esta noite Nem um beijo de boa noite, nem um abraço molhado Resta saber o que fazer com as crianças Resta saber o que dizer ao bom Deus Que ora pelas mulheres que viram Bonecas de barro, calcinadas nos fornos Da desolação e solidão. 25
  • 26. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Igreja do Carmo Diamantina, 29 de julho de 2008 Sonhei que saias radiante ao meu lado Da igrejinha do Carmo, Sorriso maroto meio envergonhada Nada anormal nestes momentos Insensatos. Sonhei que carregavas uma bola de cristal E com ela as águas do rio ferido que Descem pelas entranhas silenciosas da alma A diante, as portas do templo se abrem ao mundo me senti seguro, como um sobrevivente em dias de tempestades de vale seco. E a igreja atrás de nos Descobre uma bela escadaria, Da antiga guarda da cidade e tu iluminada por pequenas velas voadoras te viras e me das o abraço mais doce que senti na vida. Nada como o silencio dos olhos, vi Mares cantar sua alegria ao bater das Ondas nas pedras da serra, O tempo vira presente, Tua boca treme, suspira palavras desnudas: Te amo, murmuras, Furações explodem no peito Despreparado o inverno sedento de Desejos se abate sobre nossas cabeças. Não importa o futuro, eis o mistério Que incomoda aqueles que não amam E se expressa pelas combinações mutagênicas Que um dia viram passar o português e a negra unidos pela cidade do tijuco. A gerar 13 frutos ao mundo. Um retrato dispara, As escadarias gritam e cada vez mais próximas e desafiadoras, desabo nelas, como águas nas pedras das cachoeiras 26
  • 27. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Sem ordem, maneira, rodopiando uma a uma Pelos degraus verso o vale da rua. Talvez foram segundos ou séculos, neste instante De descida te vi me olhando pálida, indefesa, Corres atrás de mim por estas pedras da vida Seguras no entanto a bola do rio assustada Transbordando raios celestes de instante infinito. Na beira da morte, me prendes a mão, Novamente a câmera pisca seu olho prevenido, Silencio! flutuo no espaço na beira Do abismo profundo do ultimo degrau da vida E La, moribundo, te vi radiante saltar no abismo. Nada mais percebi, apenas o beijo molhado profundo Tocar minha alma. Dois corpos entendidos na beira da igreja Duas almas que ousaram o limite do permitido, corre a historia entre mendigos, padres, comadres, Padeiros, juízes, todos reunidos no pé da igrejinha que teima em olhar o amanhecer das serras do tijuco. As águas do cristal lavam este momento Fugindo nas pedras da cidade, Mais um conto para as noites frias Os lampiões se apagam, hora de despertar Meu amor. 27
  • 28. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Sentinela Diamantina 29 de julho de 2008 Hoje levei a virgem de barro Flutuar na Sentinela, Caminho de terra verso o biribiri Driblando as serras descendo ao Encontro fatal das águas limpas e daquelas Marcas pelo homem. Sei que La estas sempre amada mia Mesmo distante em terras aléias, Deitas na pedra a consolar tua magoa Sei que lá te encontro solitária prestes a ceder ao meu encanto. A virgem de barro corre seu leito Sentindo teu cheiro, buscando tua alma Nada encontra no universo distante das águas Mas num golpe mergulha fundo no leito Nada parece detê-la nas profundezas do mar das Serras. Mais tarde pergunto a respeito da viagem Ela me conta do encontro contigo amada Das alegrias e tristezas que guardas Dos sonhos submergidos que tanto guardas Nesta vida plena de surpresas. Boneca de barro tens algum recado para mim? Calada me olha pensativa e distante Nada disse, nada, mas apenas chorou respondeu Apenas te sente no peito, pertinho da esquina Da sua vida Nas águas da pequena cachoeira continuas virgem A rezar por todos aqueles que não encontraram O verdadeiro amor e sentimento solitude Próprio para vestir na hora do encontro com a alma. Amada, estou feliz por te ver junto a tua gente Junto a estas pedras que tanto amas, e que um dia te machucaram profundamente. Mas sei que retornaras pronto, é momento de descanso, de trégua da guerra, Firme e valorosa estarás de volta a tomar teu trono 28
  • 29. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Destruído. Não te preocupes já estou em terras do tijuco, marcado eternamente com o aroma das madrugadas, seguindo teus passos pela rua torta do Bonfim verso a rua do contrato. Se tiveres sede de sentir-me, pensa no pico do Itambé, La me encontras sempre,sempre, olha fixo À vila do tijuco e subindo a ladeira do teu coração. 29
  • 30. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Leoa Diamantina, 29 de julho 2008 Distante na serra Descansa a fêmea eterna Que tanto amo e desejo, Atenta protege o infinito reino das terras do tijuco. Minha historia começa com o Acordar da felina, Num descuido do meu coração Palpitou seu amor fulminante como A fecha de um Caçador. Perguntam: onde se esconde a fera? Não a vejo, seja dia seja noite, Respondo: levanta os olhos cego amigo Veja serra, nas linhas e formas do Itambé, Eis a silueta dela, passa devagar Senão se desperta, Hoje amo um leão Deito no seu leito De tantos contos e historias Eis a musa que despertou versos eternidade Que sangre carregas animal da Serra? Teus olhos respondem: Mistura de Raças Mistura Brasil, Nasci no tijuco Da Xica e o Fernando De 13 crias esquecidas Mistura de Raças não importa a praça: negro, branco, mulato, mameluco, índio, parto, bugre, no Tijuco aprendes que tudo é gente e somente gente. Dane-se a cor! Gritas soberba a tua herança negra, Coisa boa que carregas mistura nas veias, Que palpita coragem de ousar a liberdade Em tempos de escravos, almas maltratadas. 30
  • 31. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin 8 gerações criaram leões Famintos de amor e desejo, Livres correm pelas serras Despertando incautos Passantes que viagem sem fé Por estes campos do Senhor. Conta a lenda que eres mulher bonita Carregas na vida a fera ferida Que teima em viver dentro de mim Pois sente calor e aconchego. Toda noite a fera visita mãe Xica No pé da igreja do Carmo. canta sua sina bendita de Guerreira e amante das águas. Hoje provei teu alimento Presente nas serras e águas Que dia e noite celebram a vida de todo ser tuas garras guardastes, deitei no teu peito sem medo da morte e dormir silencioso. Mas sei que amo leões Suas garras e dentes Machucam quem despreza o amor da terra abençoada da alto da serra ápice da estrada real. 31
  • 32. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Vesperata Diamantina 1 de Agosto de 2008. Tudo começou na Vesperata Diamantina eis que de longe te vi amor esplêndida,radiantes aparecer no horizonte da vida. Tudo começou numa noite fria No compasso dos balcões Recebi o sopro de amor Invisível e silencioso. Nada sabia incauto ser Que guardava dentro de mi Uma enorme represa de águas contidas E que naquela noite se romperia Libertando tantos rios de amor. E tu estavas ali bela Xica A poucas léguas do encontro a pedra fria se abriu por encanto no ritmo da melodia. meu olhos tocaram tua veste vermelha e desceram pelas curvas da Xica mil vezes em poucos segundos tocaram os sinos da igrejinha do Carmo. Tudo começou na Vesperata Diamantina As gaiolas abriram seus portões e rios poderosos desceram a Serra nas cachoeiras das almas esquecidas. Lado a lado no bar do Antonio Senti tua pele penetrar na mia Ondas de calor e ventos de tensão Se abateram no cantinho apertado da vila. Tudo começou na noite fria Diamantina E não sabia que as águas contidas Nasceriam possantes do Itambé ao rio ferido Onde tanto choras tua sina Bela Xica das águas finas. Repito os mesmos versos Em turbilhões de emoções Que nada tem de terrestre 32
  • 33. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin sem regras postuladas nas dimensões ocultas da Aritmética do amor. E na próxima Vesperada Estarei dentro de ti cantando diamantina A musica que dedico É aquela que fala da saudade do nosso amor Saudade que destrói as barreiras das águas das distancias sem fim Que separam os homens de Deus E a razão das emoções: Como pode um peixe vivo Viver fora da água fria Como poderei viver Sem a sua, sem a sua companhia... Fecha os olhos nestes cantos, Tocarei cada espaço do teu corpo Cada esquina da tua alma Do contrato ao Bonfim Da Quitanda a Sentinela Estarei em ti Amada mia E no baile do Acaiaca Dançarei ao teu lado Solitária alma ferida Que nada tem de pequeno E contem a semente No teu ventre eterno. E se ainda sentires saudades No domingo, na igreja dos escravos, Escute Diamantina em Serenata Das vozes dos anjos que la cantam Como os olhos cerrados e coração disparado Estarei presente ao seu lado. Eis o roteiro de amor que dediquei a ti. Tudo começou na Vesperata diamantina Suave e leve como o vento que Canta às águas do teu reino, Suave e leve como o teu olhar sereno que vaga nas ondas das serras. E Tudo começou na Vesperata Diamantina. Tudo. 33
  • 34. Últimas Águas ~ Antonio Guillermo Martin Nascimento Diamantina 1 de Agosto de 2008 Nasceu em mim A magia das palavras Nasceu ao golpe do teu amor A vontade de cantar versos Livres da opressão e da razão Nasceu o filho que faltava Da escrita esquecida Que, tu, bela amada Ajudaste a despertar Nasceu em mim a vontade de Cantar para as águas celebrar tua beleza. Como esquecer o ser Que tomou conta da minha alma? Nasceu o irmão dos meus retratos Não entendo como vivi tanto tempo Sem ti, palavras escondidas, Bela Xica criastes versos mágicos Que tem vida e brincam Nas águas limpas das serras enfeitiçadas. Nasceu em mim O que faltava E feliz me sinto A esperar da tua chegada. 34