1. O documento apresenta uma introdução à análise de redes sociais, discutindo seus conceitos, pressupostos, modelos teóricos e métodos.
2. É explicado como a análise de redes sociais pode ser aplicada em ciências da comunicação, desde o design de projetos de pesquisa até a coleta e análise de dados.
3. Exemplos de cenários pragmáticos incluem redes sociais online, redes de hiperlinks e comunicação política.
1. Análise de Redes Sociais
Inês Albuquerque Amaral
CECS / ISMT
Escola de Verão SOPCOM 2012
ISCSP - Julho 2012
2. Agenda
1. Introdução à Análise de Redes Sociais
1.1. Modelos e Teorias de Redes
1.2. Propriedades, Elementos e Dinâmicas
1.3. Métricas de Análise
2. Análise de Redes Sociais em Ciências da Comunicação
2.1. Design de projectos de investigação
2.2. Dados: recolha e tratamento
2.3. Cruzamento com outras metodologias: cenários pragmáticos
3. Análise de Redes Sociais: o que é?
Ciências Sociais = o indivíduo é visto como um conjunto de atributos
que causa comportamentos. Logo, avaliam-se os atributos
individuais e correlacionam-se entre si.
Análise de Redes Sociais [ARS] = estuda as relações entre um
conjunto de actores com vista a detectar modelos de interacção
social.
A VIDA SOCIAL É RELACIONAL
4. ARS: notas
• Campo Multidisciplinar
• Conjunto de métodos relacionais para a compreensão e identificação
sistemática das conexões entre actores de uma estrutura social.
• Metodologia que estuda as relações entre entidades e objectos de
qualquer natureza.
• Procura detectar padrões de interacção e explicar porque ocorrem e
quais as suas consequências.
• Analisa o comportamento dos actores através das redes em que estes
se inserem.
5. ARS: argumentos
• As relações sobrepõem-se às características individuais.
• Todos os fenómenos sociais têm a relação como unidade base.
• Os dados, sendo relacionais, expressam ligações (laços ou conexões)
entre actores (Wasserman e Faust, 1994).
• O mundo é relacional.
• Os atributos, por si, não têm significado que possa explicar estruturas
sociais (Portugal, 2007).
6. ARS: pressupostos I
• O padrão de interacções sociais dos actores tem consequências
directas sobre os indivíduos.
• O modelo de relações de um colectivo tem efeitos directos sobre a
dinâmica desse grupo.
• Um actor é uma entidade social e permite diversas formas de
agregação.
• O comportamento dos agentes depende da forma como estão
interligados.
7. ARS: pressupostos II
• Existem diferentes forças que condicionam a estruturação de uma
rede: proximidade geográfica, homofilia (os “parecidos”),
contágio/influência, reciprocidade e transitividade (“os amigos dos
meus amigos, meus amigos são”).
• Laços entre indivíduos são canais através dos quais circulam
determinados recursos.
• Os actores e as acções são interpretados como independentes.
• Dados em análise são de ordem relacional (ligações entre os agentes)
mas podem ser combinados com elementos de ordem atributiva –
propriedades.
9. ARS – contexto histórico I
(i) Simmel sustentava que o mundo social resultava das interacções e
não da agregação de indivíduos.
(ii) Euler resolveu o problema das pontes de Konigsberg através da
modelação de um grafo que transformava os caminhos em rectas e
as suas intersecções em pontos.
(iii) Moreno introduziu ideias e ferramentas de sociometria para
analisar a interacção social em pequenos grupos.
(iv) Barnes estudou redes sociais para perceber a importância das
interacções individuais numa estrutura social.
10. ARS – contexto histórico II
(i) Simmel: defendeu que a sociedade não é mais do que uma rede de relações e a
intersecção destas é o suporte que permite definir as características das estruturas
sociais e das unidades individuais.
(ii) Euler: resolveu o problema das pontes de Königsberg através da modelação de um
grafo que transformava os caminhos em rectas e as suas intersecções em pontos.
Considera-se que este terá sido o primeiro grafo desenvolvido.
(iii) Moreno: introduziu ideias e ferramentas de sociometria que visavam registar a
observação e analisar a interacção social em pequenos grupos.
(iv) Barnes: procurava estudar a importância das interacções individuais na definição da
estrutura social de uma comunidade piscatória norueguesa. Referiu, pela primeira
vez, o termo «rede social».
11. ARS – suporte teórico
(i) Fundação matemática = permite medir propriedades estruturais
para realizar operações matemáticas e fazer deduções sociológicas
passíveis de seresm testadas
(ii) Grafo = representação gráfica de um padrão de relações. Permitem
revelar redes e quantificar propriedades estruturais.
(iii) Matrizes = alternativa para representar e resumir os dados das
redes numa tabela matemática.
12. ARS: contexto teórico multidisciplinar I
Baseada na teoria formal, organizada em termos matemáticos, a ARS
divide-se em duas tradições:
(i) A dos antropólogos britânicos = Escola de Manchester, que decorre da
Sociometria de Moreno e dos Estudos de Barnes e acaba por se fundir na
Sociologia Americana
(ii) Tradição americana: 1). Formalistas = morfologia das redes e o seu
impacto nos comportamentos dos indivíduos e grupos; Estruturalistas
= definem a relação como a unidade básica da estrutura dos sistemas
sociais.
13. ARS: contexto teórico multidisciplinar II
Multidisciplinariedade e Evolução da Metodologia de Análise de Redes Sociais
(Molina, 2009)
14. ARS: contexto teórico multidisciplinar III
A NOVA CIÊNCIA DAS REDES
- Ciências da Complexidade – visão relacional do mundo
- Small Worlds; Scale-Free Networks
- “How everything is connected to everything and what it means for
business, science and everyday life” – Barabási (2003)
15. Conceitos Elementares
(i) REDE = conjunto de actores que têm relações entre si, dos quais
resultam fluxos de informação que podem ser unilaterais ou bilaterais.
(ii) REDE = composta por nós (vértices) e arcos/arestas (ligações)
(iii) RELAÇÕES = tipo específico = orientadas/assimétricas (arco) ou não
orientadas/simétricas (aresta)
(iv) DÍADE = par de actores e possíveis relações; TRÍADE = três nós e possíveis
ligações entre eles.
(v) SUBGRUPO (subconjunto de actores e todas as ligações entre eles); GRUPO
(colecção de todos os nós cujos laços se podem medir); REDE (conjunto de
actores e as relações que os definem).
16. NOTA: Comunidades não são Redes
(i) REDE = As redes são sistemas de relações centrados nos indivíduos
e não nos grupos (“individualismo em rede”, Castells). O conceito de
rede remete para a definição de grupos com laços menos fortes e sem
localização geográfica, permitindo a associação de indivíduos dispersos
no espaço.
(ii) COMUNIDADE = sustenta-se em laços fortes de interacção social,
identificação e interesse comum.
Nas comunidades, a agregação de indivíduos em grupos evidencia sempre
graus de densidade superiores aos das redes sociais, sendo que as
comunidades se assumem como propriedades destas.
17. Propriedades, elementos e dinâmicas
(i) GRAU = número total de relações de um nó
(ii) DISTÂNCIA = comprimento do menor caminho entre dois actores
(iii) DIÂMETRO = maior distância ente dois nós
(iv) CICLO = caminho que começa e termina no mesmo nó
(v) SUBGRAFO (COMPONENTE) = grafo que é parte de outro
(vi) CLIQUE = subgrafo completo
(vii) GRAFO CONEXO (DESCONECTADOS) = existe um caminho entre qualquer um
dos actores / Grafo não conexo = quando há nós desconectados
(viii) GRAFO COMPLETO (CONECTADO) = existem ligações entre todos os nós
(ix) GRAFO BIPARTITE = os nodos podem ser divididos em 2 conjuntos e não há
ligações entre os vértices do mesmo conjunto
(x) HUBS ou CONECTORES = nó com grande quantidade de ligações e capacidade de
atrair outros
(xi) COEFICIENTE DE CLUSTER = indicador de conectividade de um nó
18. Métricas
Níveis de estudo: rede, actores e relações entre estes
(i) ANÁLISE DA REDE = coesão (conectividade – propriedades: densidade,
distância dos caminhos e fragmentação - componentes) e forma (distribuição
das relações [grau], periferia do núcleo e aglomeração (“clumpiness”).
(ii) ANÁLISE DOS NÓS = posições na rede e propriedades da centralidade dos
actores.
(iii) ANÁLISE DAS RELAÇÕES = coesão (distância geodésica e multiplexidade),
orientação (simétricas – não orientadas ou assimétricas – orientadas, que
podem ser recíprocas ou não), direcção e densidade.
(iv) ANÁLISE DOS LAÇOS = os laços são compostos por relações sociais e
podem ser relacionais ou associativos, unívocos ou recíprocos. Laços
fortes e fracos.
19. Tipos de redes
As redes sociais podem ser classificadas quanto ao objectivo do
estudo, actores e relacionamentos.
(i) TIPOS DE REDES = Sócio-Cêntricas (totais) e Ego-Cêntricas
(ii) PERSPECTIVA DOS ACTORES = rede one-mode e two-mode (ligações
entre entidades sociais diferentes)
(iii) PERSPECTIVA DOS RELACIONAMENTOS = díades, tríades e grupos
20. Modelos de Redes I
TEORIA FORMALISTA
Modelo de Redes Aleatórias - Erdös e Rényi, 1959 (democracia das
redes e transição)
Modelo dos Mundos Pequenos - Watts e Strogatz, 1998 (5,2 graus
Watts e Strogatz – 4,74 graus FB)
Modelo de Redes Sem Escala - Barabási e Albert, 1999 (ingrediente
preferencial, “rich get richer”)
21. Modelos de Redes II
ABORDAGEM ESTRUTURALISTA
Teoria dos Laços Fracos e Laços Fortes - Granovetter
Teoria dos Buracos Estruturais («tertius gaudens») - Burt
(
Teoria da Grupabilidade (conjunto de relações internas [positivas ou
neutras] e relações externas [negativas ou neutras] – vários autores
Teoria da Coordenação das Relações – várias autores
Explicação das redes: transmissão (passagem directa de um nó para outro, o
que remete para os conceitos de influência e/ou coerção), adaptação (um nó torna-se
homogéneo como resultado da experiência e adaptação a ambientes sociais similares),
ligação (os laços sociais podem ligar nós de forma a construir uma nova entidade cujas
propriedades podem ser diferentes dos seus elementos constituintes) e exclusão
(explicação que se refere a situações competitivas em que um mesmo nó, ao formar uma
relação com outro, exclui um terceiro actor).
24. ARS em Ciências da Comunicação
Design de projectos de investigação
- O que estudar?
- Porquê estudar?
- O que se pretende compreender?
- Objectivos?
- Que redes?
- Quais os actores?
- Que relações?
- Quais as métricas a avaliar?
- Cruzamento de metodologias?
25. Trabalhar com ARS I
(i) Identificar problema, enquadramento teórico e possibilidades de
triangular metodologias
(ii) Identificar perspectiva (tipo de rede)
(iii) Definir relação (ou relações e tipo – assimétrica/orientada ou
simétrica/não-orientada) em estudo
(iv) Recolher dados
(iv) Tratamento de dados (nós e arcos/arestas)
(iv) Análise de dados (software)
26. Trabalhar com ARS II
1. PROBLEMA
2. ABORDAGEM
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
(i) Capital Social
(ii) Trocas sociais
(iii) Relações de trocas
(iv) Influência social
(v) Selecção social (características/propriedades)
(vi) Difusão
27. Recolha de Dados
Abordagem realista (baseada nos actores), abordagem nominalista
(baseada em justificações teóricas), “snowball sampling”
(i) Documentais
(ii) Observação
(iii) Experimentação
(iv) Questionários
(iv) Entrevistas
28. Tratamento de Dados: Softwares
(i) GEPHI (redes inteiras)
(ii) PAJEK
(iii) UNICET (ego-redes)
(iv) NETWORK WORKBENCH (software mais formalista; complementar)
(iv) SIENA
(iv) NODE XL (extracção de dados online)
29. Tratamento de Dados
(i) Transformar os dados em grafos e/ou matrizes (nós e relações)
(ii) Visualização das redes
(iii) Visualização das redes por propriedades
32. Cruzamento com outras metodologias
EXEMPLOS
(ii) Articulação das teorias estruturalistas com elementos descritivos
da ciência de redes
(ii) Análise documental quantitativa, qualitativa
(iii) Análise estatística
(iv) Análise de conteúdo (qualitativa, quantitativa)
(v) Análise de conteúdo
(vi) Análise do discurso
(vii) Etnografia e Netgrafia
(vi) Análise da imagem
33. Cenários pragmáticos I
EXEMPLOS: Análise da Dinâmica Relacional
(i) Redes sociais online
(ii) Redes de hiperlinks
(iii) Redes sociais de conteúdos
(iv) Redes de citações
(v) Análise de comunidades
(vi) Dinâmicas sociais políticas
(vii) Redes de fontes de informação
(viii) Redes de weblogs
(ix) Dinâmicas sociais políticas (redes de influência, informações...)
(x) Comunicação científica
34. Cenários pragmáticos II
EXEMPLOS: Análise da Dinâmica Relacional
(xi) Comunicação política (diversos actores e relações)
(xii) Estudos comportamentais (consumo, relacionamento, influência)
(xiii) Comunicação organizacional
(xiv) Interacção entre Estado e Sociedade
(xv) Estudos de Etnografia
(xvi) Estudos de inovação: fluxos de informações e conhecimentos
(xvii) Redes móveis
(xviii) Social capital
(xix) Espaços sociais transnacionais (redes de imigrantes)
(xx) Documentação histórica
38. Exemplo: Objectivos Específicos
(i) Estudar a interacção enquanto processo de comunicação, à luz do
fenómeno da Web 2.0 e das noções que o preenchem: media sociais,
redes sociais, consumidores 2.0 e prosumers;
(ii) Reflectir sobre as redes sociais na Internet e o seu contexto – a
mudança de paradigma comunicacional; a reinvenção do conceito de
comunidade; a desterritorialização da sociedade; a ideia de cultura
participativa e a redefinição de espaço público; o aparecimento do
netcitizen e as questões de identidade no âmbito do online;
(iii) Analisar redes sociais assimétricas que se desenvolvem em torno
de conteúdo com base na premissa da «análise do social pelo
social» (Durkheim, 1964), para averiguar se o novo modelo de
comunicação que caracteriza a Internet se materializa num paradigma
social.
39. Exemplo: Hipóteses de trabalho
(i) No ciberespaço existe uma sociabilidade própria, com relações e
práticas sociais distintas das tradicionais, e que tem por base a exclusão
do determinismo territorial.
(ii) Os media sociais constituem um termómetro social
desterritorializado, criado pela participação em rede.
(iii) As redes sociais assimétricas constroem uma realidade social própria
através da indexação do conteúdo.
40. Exemplo: Argumento: Das Redes na
Rede
O conteúdo é o elemento determinante para a formação
de redes sociais assimétricas e sustenta a ideia de
cultura de participação maximizada, permitindo
interpretar a informação publicada pelo utilizador numa lógica
viral e identificar a emergência de modalidades de
sociabilidade decorrentes de novas práticas que se
concretizam em relações sociais distintas das tradicionais.
41. Exemplo: Das Redes na Rede: Estudo
de Caso
A apropriação da rede pelas redes: estudo de caso
#cablegate
Objectivo central: Analisar redes sociais assimétricas conectadas
por conteúdo e as relações entre os actores que as compõem, com
vista a compreender padrões de interacção e regularidades sociais
que permitam aferir se, com a utilização de técnicas de indexação
semântica em ferramentas de interacção mediada por computador,
emergem novas modalidades de sociabilidade.
43. Exemplo: Das Redes na Rede:
Metodologia
Abordagem: Estudo de Caso
Etapa 1: Técnicas de observação directa com recolha
sistematizada de dados e análise documental
Etapa 2: Análise documental, combinação de índole extensiva/
quantitativa e intensiva/qualitativa
Etapa 3: Análise de Redes Sociais
44. Exemplo: Das Redes na Rede:
Conclusões Parciais
Etapa 3 > Análise de Redes Sociais
«Scale Free Networks»: estruturas sociais auto-organizadas e com efeito de
«small world».
Redes centradas no conteúdo e na sua apropriação: relações sociais fracas >
redes de hashtags: realidade social própria > assimetria
Redes que obedecem a leis de potência: mecanismo de ligação preferencial.
Redes descentralizadas, pouco densas e muito fragmentadas: «individualismo em
rede» (Castells, 2003).
Padrão de interacção de reduzida conectividade, reciprocidade e transitividade.
Padrões de conectividade: permanente mutação, velocidade de transmissão da
informação, potencial de viralidade e capacidade para acção colectiva > o
conteúdo como laço relacional.
45. Literatura Essencial
Barabási, A.-L. (2003) Linked, Cambridge, Massachusetts: Perseus Publishing.
Borgatti, S. et al. (2009) ‘Network analysis in the social sciences’, Science, 323 (5916): 892–895.
Granovetter, M. (1973) ‘The Strength of Weak Ties’, American Journal of Sociology, 78 (6): 1360–1380.
Hanneman, R. & Riddle, M. (2005) Introduction to Social Network Methods, Riverside, CA: University of
California, Riverside.
Kozinets, R. (2010) Netnography. Doing Ethnographic Research Online, Thousand Oaks, CA: Sage
Publications.
Lemieux, V. & Ouimet, M. (2004) Análise Estrutural das Redes Sociais, Lisboa: Instituto Piaget.
Marin, A. & Wellman, B. (2011) ‘Social Network Analysis: An Introduction’ in Carrington, P. & Scott, J.
(Eds.) (2011) The Sage Handbook of Social Network Analysis, London: Sage, pp. 11-25.
Prell, C. (2012) Social Network Analysis: history, theory and methodology, Thousand Oaks, CA: Sage
Publications.
Scott, J. (2000) Social network analysis: a handbook, London: Sage.
Wasserman, S. & Faust, K. (1994) Social Network Analysis: Methods and Applications, Cambridge:
Cambridge University Press.
46. Associações/Conferências/Journals
Associações e Conferências
- INSNA: SUNBELT
- CCS: ECCS
- Encontro de Analistas de Redes Sociais: ICS (Lisboa)
Peer-reviewed Journals
- Social Networks
- Connections
- The Journal of Social Structure
- REDES
Mailing lists: SOCNET, REDES, ARS
47. Debate
- Perguntas?
- Dúvidas?
- Propostas de trabalhos?