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Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos
altamente conectados do terceiro milênio




                             37
              (Corresponde ao primeiro tópico do Capítulo 7,
             intitulado Alterando a estrutura das sociosferas)




                  Aprendizagem, não ensino

As escolas foram urdidas para nos proteger da experiência da livre
aprendizagem

- Psiu! Cale a boca. Comporte-se! Pare de conversar. Para de perguntar. Em
vez de conversação, silêncio. A quem é inferior (ignorante) cabe apenas
ouvir o superior (aquele que sabe). Isto foi, é e sempre será escola: um
artifício para proteger os alunos da experiência de fluzz.

Sim, escolas não são comunidades de aprendizagem. São burocracias do
ensinamento. Não são redes distribuídas de pessoas voltadas à busca e ao
compartilhamento do conhecimento. São hierarquias sacerdotais cujo
principal objetivo é ordenar indivíduos capazes de reproduzir atitudes de
disciplina e obediência. Não são ambientes favoráveis à emergência de
dinâmicas interativas, mas à imposição de relações intransitivas. Estruturas
centralizadas, baseadas na separação de corpos: docente (hierarquia-
ensinante) x discente (massa-ensinada).

A arquitetura traduz o conceito. Na chamada educação formal, escolas são
construções que aprisionam crianças e jovens em salas fechadas, obrigados
a sentar enfileirados, como gado confinado ou frangos de granja; pior: nas
“salas de aula” ficam alguns – a maioria – olhando para a nuca dos outros.
São campos de concentração e adestramento, onde o aluno tem de saltar
obstáculos, vencer as provas. São prisões temporárias em que se tem de
cumprir a pena, pagar a dívida. Não é por acaso que a maior recompensa
na escola é passar de ano. Ano após ano. Até sair. - Ufa! Livre afinal.

Por que construímos tal aberração?

Fomos levados a acreditar que o ensino era o antecedente da
aprendizagem. Em termos lógicos formais: ensino => aprendizagem;
donde, formalmente: não-aprendizagem => não-ensino.

Mas ao que tudo indica o ensino surgiu – como instituição – de certo modo,
contra a aprendizagem. E não-ensino, dependendo das circunstâncias, pode
até aumentar as possibilidades de aprendizagem. O que é sempre um
perigo para alguma estrutura de poder.

Onde começou o ensino? Qual é a origem do professor? Ora, ensino é
ensinamento. Mas ensinamento é, originalmente, (reprodução de)
estamento (ou da configuração recorrente de um cluster enquistado na rede
social). Alguém tem alguma coisa que precisa transmitir a outros. Precisa
mesmo? Por quê? Alguém conduz (um conteúdo determinado, funcional
para a reprodução de uma estrutura e suas funcionalidades). E alguém
recebe tal conteúdo (tornando-se apto a reproduzir tal estrutura e tais
funcionalidades). Eis a tradição!

Os primeiros professores – parece evidente – foram os sacerdotes. A
primeira escola já era uma burocracia sacerdotal do conhecimento (uma
estrutura hierárquica voltada ao ensinamento). Isso significa que só há
ensinamento se houver hierarquia (uma burocracia do conhecimento).

Sim, todo corpus sacerdotal é docente. A tradição é tão forte que há até
bem pouco a doutrina oficial católica romana (e ela não é a única) ainda
dividia a igreja em docente (ensinante: os hierarcas) e discente (ensinada:



                                     2
os leigos). E as escolas, que também se estruturaram, em certo sentido,
como igrejas (mesmo as laicas), consolidaram sua estrutura com base na
separação de corpos entre docentes e discentes.

O que se ensina é um ensinamento. Quando você ensina, há sempre um
ensinamento. Mas quando você aprende há apenas um aprendizado, não há
um “aprendizamento”, quer dizer, um conteúdo pré-determinado do
aprendizado. O que se aprende é o quê? Ah! Não se sabe. Pode ser
qualquer coisa. Não está predeterminado. Eis a diferença! Eis o ponto! A
aprendizagem é sempre uma invenção. A ensinagem é uma reprodução.
Mas como escreveu o poeta Manoel de Barros (1986) no Livro sobre Nada:
“Tudo que não invento é falso” (1).

O professor como transmissor de ensinamento e a escola como aparato
separado (sagrado na linguagem sumeriana) surgiram, inegavelmente,
como instrumentos de reprodução de programas centralizadores
(verticalizadores) que foram instalados para verticalizar (centralizar) a
rede-mãe.

As escolas foram urdidas para nos proteger da experiência da livre
aprendizagem. Aprender sem ser ensinado é subversivo. É um perigo para a
reprodução das formas institucionalizadas de gestão das hierarquias de todo
tipo. Por isso o reconhecimento do conhecimento é, até hoje, um
reconhecimento não do conhecimento-aprendido, mas do conhecimento-
ensinado, dos graus alcançados por alguém no processo de ordenação a
que foi submetido. Mas como twittou Pierre Lévy (2010), as universidades
não têm mais o monopólio da distribuição do conhecimento; restou-lhes
tentar reter em suas mãos o monopólio da distribuição do diploma.




                                    3
Nota

(1) BARROS, Manoel (1986). Livro sobre Nada in Poesia Completa. São Paulo:
Leya, 2010.




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Fluzz pilulas 37

  • 1. Em pílulas Edição em 92 tópicos da versão preliminar integral do livro de Augusto de Franco (2011), FLUZZ: Vida humana e convivência social nos novos mundos altamente conectados do terceiro milênio 37 (Corresponde ao primeiro tópico do Capítulo 7, intitulado Alterando a estrutura das sociosferas) Aprendizagem, não ensino As escolas foram urdidas para nos proteger da experiência da livre aprendizagem - Psiu! Cale a boca. Comporte-se! Pare de conversar. Para de perguntar. Em vez de conversação, silêncio. A quem é inferior (ignorante) cabe apenas ouvir o superior (aquele que sabe). Isto foi, é e sempre será escola: um artifício para proteger os alunos da experiência de fluzz. Sim, escolas não são comunidades de aprendizagem. São burocracias do ensinamento. Não são redes distribuídas de pessoas voltadas à busca e ao compartilhamento do conhecimento. São hierarquias sacerdotais cujo
  • 2. principal objetivo é ordenar indivíduos capazes de reproduzir atitudes de disciplina e obediência. Não são ambientes favoráveis à emergência de dinâmicas interativas, mas à imposição de relações intransitivas. Estruturas centralizadas, baseadas na separação de corpos: docente (hierarquia- ensinante) x discente (massa-ensinada). A arquitetura traduz o conceito. Na chamada educação formal, escolas são construções que aprisionam crianças e jovens em salas fechadas, obrigados a sentar enfileirados, como gado confinado ou frangos de granja; pior: nas “salas de aula” ficam alguns – a maioria – olhando para a nuca dos outros. São campos de concentração e adestramento, onde o aluno tem de saltar obstáculos, vencer as provas. São prisões temporárias em que se tem de cumprir a pena, pagar a dívida. Não é por acaso que a maior recompensa na escola é passar de ano. Ano após ano. Até sair. - Ufa! Livre afinal. Por que construímos tal aberração? Fomos levados a acreditar que o ensino era o antecedente da aprendizagem. Em termos lógicos formais: ensino => aprendizagem; donde, formalmente: não-aprendizagem => não-ensino. Mas ao que tudo indica o ensino surgiu – como instituição – de certo modo, contra a aprendizagem. E não-ensino, dependendo das circunstâncias, pode até aumentar as possibilidades de aprendizagem. O que é sempre um perigo para alguma estrutura de poder. Onde começou o ensino? Qual é a origem do professor? Ora, ensino é ensinamento. Mas ensinamento é, originalmente, (reprodução de) estamento (ou da configuração recorrente de um cluster enquistado na rede social). Alguém tem alguma coisa que precisa transmitir a outros. Precisa mesmo? Por quê? Alguém conduz (um conteúdo determinado, funcional para a reprodução de uma estrutura e suas funcionalidades). E alguém recebe tal conteúdo (tornando-se apto a reproduzir tal estrutura e tais funcionalidades). Eis a tradição! Os primeiros professores – parece evidente – foram os sacerdotes. A primeira escola já era uma burocracia sacerdotal do conhecimento (uma estrutura hierárquica voltada ao ensinamento). Isso significa que só há ensinamento se houver hierarquia (uma burocracia do conhecimento). Sim, todo corpus sacerdotal é docente. A tradição é tão forte que há até bem pouco a doutrina oficial católica romana (e ela não é a única) ainda dividia a igreja em docente (ensinante: os hierarcas) e discente (ensinada: 2
  • 3. os leigos). E as escolas, que também se estruturaram, em certo sentido, como igrejas (mesmo as laicas), consolidaram sua estrutura com base na separação de corpos entre docentes e discentes. O que se ensina é um ensinamento. Quando você ensina, há sempre um ensinamento. Mas quando você aprende há apenas um aprendizado, não há um “aprendizamento”, quer dizer, um conteúdo pré-determinado do aprendizado. O que se aprende é o quê? Ah! Não se sabe. Pode ser qualquer coisa. Não está predeterminado. Eis a diferença! Eis o ponto! A aprendizagem é sempre uma invenção. A ensinagem é uma reprodução. Mas como escreveu o poeta Manoel de Barros (1986) no Livro sobre Nada: “Tudo que não invento é falso” (1). O professor como transmissor de ensinamento e a escola como aparato separado (sagrado na linguagem sumeriana) surgiram, inegavelmente, como instrumentos de reprodução de programas centralizadores (verticalizadores) que foram instalados para verticalizar (centralizar) a rede-mãe. As escolas foram urdidas para nos proteger da experiência da livre aprendizagem. Aprender sem ser ensinado é subversivo. É um perigo para a reprodução das formas institucionalizadas de gestão das hierarquias de todo tipo. Por isso o reconhecimento do conhecimento é, até hoje, um reconhecimento não do conhecimento-aprendido, mas do conhecimento- ensinado, dos graus alcançados por alguém no processo de ordenação a que foi submetido. Mas como twittou Pierre Lévy (2010), as universidades não têm mais o monopólio da distribuição do conhecimento; restou-lhes tentar reter em suas mãos o monopólio da distribuição do diploma. 3
  • 4. Nota (1) BARROS, Manoel (1986). Livro sobre Nada in Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010. 4