Coordenador do Programa Água para a Vida, Conservação e Gestão de Água Doce do WWF-Brasil – Biólogo formado pela Unesp – Botucatu, Barrêto atua em políticas públicas desde 2001. Participou da elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos, o primeiro da América Latina aprovado em 2006. Já foi membro do Conselho Diretor do Instituto Brasil de Educação Ambiental e coordenador do Núcleo Pró-Tietê e de Recursos Hídricos da Fundação SOS Mata Atlântica. Sua experiência inclui: concepção e coordenação de projetos em conservação e gestão dos recursos hídricos; monitoramento, educação e comunicação ambiental envolvendo comunidades e instituições de governos e da iniciativa privada. O WWF-Brasil é uma organização não governamental
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Samuel Barrêto
1. WWF-BRASIL
Programa Água para a Vida
Conservação e Gestão de Água Doce
Sumário
2. NASCENTES DO BRASIL – Proteção e recuperação de nascentes e
áreas de recarga em aqüíferos
O que é exatamente uma nascente? Uma definição razoável diz que se trata do afloramento,
na superfície do solo, da água de um lençol freático (que, grosso modo, pode ser comparado
a uma camada granulada pela qual escorre água, situada entre ou sobre outras camadas, de
rocha sólida) ou mesmo de um rio subterrâneo. Quando isso ocorre pode formar-se uma
fonte, onde a água é represada e se acumula formando, por exemplo, um lago. Ou então,
pode nascer um curso d’água (o líquido não fica represado e passa a correr num regato, num
ribeirão ou num rio).
As melhores nascentes fornecem água de boa qualidade, de forma abundante e
ininterruptamente. Quando estão num ponto elevado sua água pode ser distribuída pela ação
da simples gravidade, sem gastos de energia. Além da qualidade e da quantidade de água da
nascente é muito importante a variação de sua vazão. Ou seja, que durante o ano a nascente
mantenha um volume médio de produção, principalmente em períodos mais secos.
Mas apesar de sua evidente importância na ciclagem e no fornecimento de água para os
humanos, a fauna e a flora, as nascentes, os olhos d’água, as veredas e os mananciais não
têm recebido a atenção e os cuidados que merecem, ainda mais diante dos indícios, cada vez
mais evidentes, de que as situações de estresse hídrico se tornaram mais comuns e graves
em diversas regiões do mundo.
Foco na transformação- Bases para uma outra relação com as nascentes e corpos
hídricos
O sentido do Projeto Nascentes do Brasil é ambiental, social e cultural. O objetivo é fornecer
dados e razões para sustentar uma firme defesa das águas doces, e de suas imprescindíveis
fontes. Tem também por objetivo colaborar para que a consciência ambiental e ecológica que
está na base da preservação dos olhos d’água e fontes brasileiras cresça se amplie e ecoe em
todo canto. Por fim, visa estimular a sociedade para um novo tipo de relação com o meio
ambiente e a mobilização em prol dos cuidados com a água em nascentes e áreas de
cabeceiras. As nascentes e as áreas de recarga de aqüíferos também são áreas estratégicas
para garantir a resistência de bacias hidrográficas perante o cenário inexorável das mudanças
climáticas. São elas que irão garantir o provimento de água para a agricultura, cidades, geração
de energia e indústrias no futuro. Algumas regiões sofrerão com a escassez e as estiagens
prolongadas, segundo previsões dos cientistas. A preservação das nascentes e áreas de
recarga desde já é um investimento necessário e estratégico perante às incertezas do futuro.
Trata-se de uma estratégica fundamental de adaptação às mudanças climáticas.
Por que nascentes e áreas de recarga de aqüíferos ?
• Simbolismo;
• Cenário de degradação destas áreas;
• Há um consenso em torno da conservação de nascentes;
• Compreender que somente o trabalho em nascentes não é suficiente para conservação
de uma bacia hidrográfica;
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3. • Ponto de partida para uma gestão integrada e participativa da bacia hidrográfica;
• Adaptação e mitigação das mudanças climáticas;
• Preservação da qualidade e da capacidade hídrica dos aqüíferos.
• Adequação legal, uma vez que as nascentes e mananciais são áreas de preservação
permanente segundo o Código Florestal Brasileiro de 1965.
• Nascentes e áreas de recarga provêem serviços ambientais essenciais às atividades
econômicas como a produção de alimentos, bebidas, geração de energia, transportes,
entre outras atividades.
Entendendo o papel das nascentes e áreas de recarga de aqüíferos:
As melhores nascentes fornecem água de boa qualidade, de forma abundante e
ininterruptamente. Quando estão num ponto elevado sua água pode ser distribuída pela ação
da simples gravidade, sem gastos de energia. Além da qualidade e da quantidade de água da
nascente é muito importante a variação de sua vazão. Ou seja, que durante o ano a nascente
mantenha um volume médio de produção, principalmente em períodos mais secos.
Para que isso aconteça é preciso que a bacia que a nascente alimenta não seja um recipiente
impermeável do qual escoa, em curto período de tempo, toda a água vinda, por exemplo, de
uma chuva. O ideal é que o solo da bacia seja bem permeável, absorvendo boa parte da
água, que assim se acumula no lençol subterrâneo e é cedida, aos poucos, para os rios e
riachos. Este é o processo de reposição, ou recarga, muito importante para o uso econômico
e social de uma nascente – isto é, bebedouros, irrigação e abastecimento – e para manter o
regime hídrico do rio principal, garantindo volume de água nos períodos do ano em que ela é
mais necessária.
Para preservar a qualidade, a quantidade e a vazão desta preciosa água é preciso
compreender os fatores que intervém e regulam estas três ofertas, de modo a adotar as
melhores práticas em relação a cada uma delas. Para isso é preciso considerar a ação do
ciclo hidrológico, que detalhamos acima, e a hidrogeologia das nascentes.
A parcela de água que cada bacia hidrográfica vai receber do ciclo hidrológico terá três
destinos:
• uma parte, inicialmente absorvida pelas plantas, evapotranspira e volta para a atmosfera;
• outra parte escoa superficialmente nas enxurradas, águas que por meio de um córrego
ou rio deixam rapidamente a bacia;
• e uma terceira parte se infiltra no solo.
Esta água que penetra o chão, e que no caso é a que mais nos interessa, também se reparte
em três destinos:
• um tanto fica parcialmente retido nos espaços porosos do solo e depois evapora;
• outras quantidades são absorvidas pelas raízes das plantas; e
• uma última parcela, por fim, vai alimentar os aqüíferos subterrâneos e os lençóis
freáticos.
Esses lençóis freáticos, muito resumidamente, são formados pelas águas de chuvas que
penetram no solo até encontrarem camadas impermeáveis, geralmente formadas por rochas.
Aí a água preenche os espaços vagos (num processo comparável ao encharcamento de uma
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4. esponja) e começa a se deslocar, de acordo com o tipo de solo e o formato das camadas
geológicas subterrâneas. As nascentes, que trazem finalmente esta água até nós, ficam em
encostas ou depressões do terreno que fazem com que esse lençol freático aflore à
superfície.
Numa primeira classificação das nascentes, elas podem ser divididas em perenes (de fluxo
contínuo), temporárias (só existem durante a estação chuvosa) ou efêmeras (surgem nas
chuvas e duram poucos dias ou horas).
Quanto à formação, se a descarga do lençol se concentra numa pequena área localizada,
temos a nascente propriamente dita, ou olho d´água. Esse caso, onde não há acúmulo inicial de
água (a água escorre), é típico da chamada nascente de encosta ou de contato (a camada
rochosa sobre a qual corre o lençol freático é menos inclinada que o terreno e acaba
encontrando a superfície).
Outro tipo de formação acontece quando a superfície do lençol freático ou de um aqüífero
intercepta a superfície do terreno, dando origem a um escoamento espraiado numa área maior.
Nesse caso a tendência é de um afloramento difuso, com grande número de pequenas
nascentes, criando áreas úmidas chamadas veredas.
Se a vazão for pequena, essas nascentes apenas molham e amolecem o terreno mas, se for
grande, criam o tipo de nascente com acúmulo inicial de água, comum quando a camada
rochosa por baixo do lençol freático fica paralela à parte mais rasa do terreno e acaba
formando um lago. Essas são as chamadas nascentes de fundo de vale e as que têm origens
em rios subterrâneos.
ÁREAS DO PROJETO: CERRADO E BACIA HIDROGRÁFICA NO
DISTRITO FEDERAL
No Distrito Federal, situa-se o complexo hidrográfico formado pelas três maiores bacias do país
(Tocantins/Amazônica; Paranaíba/Paraná; São Francisco), com muitas espécies novas e
endêmicas de peixes ainda desconhecidas pela ciência. Por estarem localizados em uma área
de cabeceiras, os cursos d água tem baixas vazões, associado ao clima seco, com períodos
longos de estiagem e grande fragilidade ambiental. O aumento populacional, somado à
ocupação desordenada do território tem comprometido a disponibilidade hídrica das bacias
hidrográficas, já existindo conflitos de usos e sérios problemas de degradação de matas ciliares
e poluição. Por isso, a proteção das suas áreas de cabeceiras e nascentes é uma ação
estratégica para a manutenção da integridade das bacias hidrográficas.
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5. Área de nascente no entorno do Distrito Federal. Foto: Samuel Barrêto
O Distrito Federal foi concebido para uma população de 400 mil pessoas, e atualmente possui
mais de 2.500.000 habitantes, sem contar a área do entorno imediato. Esse aumento
populacional está diretamente ligado à ampliação da demanda hídrica, já existindo déficit hídrico
para algumas localidades.
As bacias hidrográficas do Distrito Federal
O Distrito Federal é formado pelas seguintes sub-bacias hidrográficas:
• Sub-bacia do Alagado-Ponte Alta;
• Sub-bacia do lago Descoberto;
• Sub-bacia do rio Descoberto;
• Sub-bacia do lago Paranoá;
• Sub-bacia do rio Maranhão;
• Sub-bacia do rio Preto;
• Sub-bacia do rio São Bartolomeu;
• Sub-bacia do rio Samambaia.
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6. BASES PARA ATUAÇÃO -
Experiências da Bacia do Urubu (DF) e Bacia do Cabaçal (MT)
Bacia do Urubu (DF)
As atividades de recuperação de nascentes no Cerrado pelo WWF-Brasil começaram em 2003
com o apoio ao projeto Adote uma Nascente do IBRAM (órgão ambiental do DF). Os bons
resultados de conservação como a multiplicação do número de nascentes adotadas de 27 para
mais de 140 em dois anos e a boa mobilização social gerada estimularam uma nova abordagem
de trabalho focado em bacias hidrográficas.
Em 2007 o WWF-Brasil começou a apoiar a recuperação das áreas de cabeceiras, nascentes e
promoção de uma conduta mais sustentável na bacia do córrego Urubu, no Distrito Federal. O
Movimento Salve o Urubu, apoiado desde seu início pelo Movimento Nascentes do Brasil,
desenvolveu o conceito de ECOBACIA e neste momento trabalha na consolidação deste
modelo.
ECOBACIA é, por definição, uma área de ocupação humana delimitada por uma bacia
hidrográfica onde as pessoas buscam uma convivência harmoniosa com a natureza por meio da
gestão participativa dos recursos naturais e da adoção de tecnologias que viabilizem a
ocupação sustentável do solo, a correta relação com a água e a manutenção dos serviços
ambientais.
As principais atividades realizadas pelo Movimento Salve o Urubu nestes últimos dois anos
foram: capacitação de lideranças locais, plantio de mudas em regiões de nascentes e áreas de
recarga, educação ambiental com a comunidade local, Ecomapeamento, implementação da
coleta seletiva em parte da bacia, monitoramento do córrego utilizando o kit colorimétrico, três
expedições pelos principais braços do córrego, diversos mutirões comunitários de limpeza,
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7. cerca de 10 eventos de mobilização e de comemoração de datas ambientais, desassoreamento
do córrego e implantação do viveiro de mudas.
Um destaque do projeto na bacia foi a grande visibilidade regional que o projeto alcançou tendo
sido alvo de mais de 30 matérias jornalísticas seja na TV, jornal ou rádios do DF. Essa
visibilidade rendeu importantes frutos como o convite a participação no evento Ecos da Mata em
São Paulo, apresentação dos resultados do projeto na Frente Parlamentar Ambientalista do
Congresso Nacional e ingresso de novos apoiadores ao projeto.
OBJETIVOS E METAS DO PROJETO NASCENTES DO BRASIL NA
BACIA DO CORUMBÁ-PARANOÁ
O objetivo geral dessa iniciativa é desenvolver junto à comunidade local, governos e outros
atores um Plano de Recuperação de Bacia em tributário do Rio Corumbá, e colaborar na
implementação e fortalecimento do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá.
O Projeto está estruturado em quatro principais objetivos:
1) Elaborar um plano de recuperação de bacia e implementar em escala piloto.
2) Promover a mobilização social para a conservação.
3) Fomentar a gestão das águas no DF.
4) Construir aprendizagem e disseminar lições aprendidas.
1- Elaborar um plano de recuperação de bacia e implementar em escala piloto
Meta 1 - Análise de atores (stakeholders) da bacia realizado até outubro de 2010.
Meta 2- Elaboração participativa e plano de recuperação de microbacia – nos moldes da
Ecobacia - que considere os diversos aspectos da conservação da água implementado em
áreas de nascentes até março de 2013.
2. Promover a Mobilização Social para a Conservação
Meta 3- Rede social que legitime a atuação do projeto e garanta sua sustentabilidade de
longo prazo criada /fortalecida até março de 2013.
Meta 4- Funcionários da empresa engajados nas ações do projeto até março de 2011.
Meta 5 - Monitoramento dos córregos e tributários na Bacia do Corumbá- Paranoá com o kit
colorimétrico de análise de água realizado até março de 2013.
Meta 6 - Criar ações de campanha, mobilização e comunicação para o cuidado com a água
na microbacia alvo deflagrada até março de 2011.
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8. 3. Fomento à Gestão dos Recursos Hídricos no DF
Meta 07 - Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá apoiado em sua formação,
instalação e funcionamento até março de 2013.
4. Aprendizagem e disseminação.
Meta 08- Estratégia de sustentabilidade do projeto elaborada em conjunto com a AMBEV
gerando aprendizagem das atividades de conservação até dezembro de 2012.
Meta 09- Estratégia de disseminação e magnificação do projeto elaborado até março de
2013.
Posicionamento do WWF-BR
Em termos das parcerias corporativas, o WWF-Brasil visa à sustentabilidade ambiental e a
responsabilidade social. O desafio de mudança é o foco principal do WWF-Brasil. Atua com
parceiros corporativos para encontrar soluções sustentáveis. Trabalha com empresas que
estejam no caminho para a melhoria dos impactos ambientais ou comprometidos com a
mudança. O enfoque do WWF-Brasil é positivo, colaborador e baseado em soluções. E é nessa
perspectiva que o WWF-Brasil vê o grande potencial da parceria a ser estabelecida com a
AMBEV considerando os seguintes aspectos:
• A empresa faz parte da solução. Embora as corporações façam freqüentemente parte
do problema, elas devem também fazer parte da solução.
• Demonstrar real compromisso com uma nova prática de sustentabilidade
socioambiental. O WWF-Brasil trabalhará com empresas que demonstrem um real
compromisso aos princípios de sustentabilidade e que estejam dispostas para adotar
objetivos desafiadores para essa mudança.
• Real potencial para mudança positiva. O WWF-Brasil estimula e apóia as boas
práticas socioambientais e a melhoria da responsabilidade corporativa das empresas.
O WWF-Brasil é uma ONG brasileira dedicada à conservação da natureza com o objetivo de
harmonizar a atividade humana com a conservação da biodiversidade. É uma organização que
busca soluções para problemas, baseado no melhor conhecimento científico disponível, e se
adaptando às condições reais atuais, mas tendo olhos no futuro, promovendo a inovação.
Procura atuar sempre em parceria, junto às organizações de cooperação internacional multi e
bilateral, com os Governos, empresas e com comunidades locais e outras organizações
ambientalistas.
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