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Opinias 
UMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA 
CULPADO 
OU 
INOCENTE? 
GRAMSCISMO 
A revolução 
silenciosa 
RIMBAUT 
Um olhar 
fotográfico 
JAPÃO 
A delicadeza 
de um povo 
Ano I - nº. 4 
Setembro - 2014 
O PODER DO JÚRI 
PARA FAZER JUSTIÇA 
EM NOME DA SOCIEDADE
Opinias - Setembro 2014 
2 
Editorial Sumário 
Herança possível 
Qual o legado que pretendemos deixar para nossos 
descendentes a fim de que possamos cumprir a missão de 
tornar melhor a sua vida? Temos realmente essa missão ou 
isso é um problema das gerações que irão nos suceder? 
Como, então, pretendemos deixar as marcas de nossa 
passagem por este mundo? Que temos feito para o bem ou 
para o mal da perpetuação da humanidade? Qual nosso 
compromisso, afinal, para com um universo tão vasto e 
complexo, para que nossa passagem por ele tenha valido a 
pena? 
Claro que não temos as respostas para tudo isso. 
Cada um a seu modo imagina estar cumprindo o seu papel. 
Esse questionamento, no entanto, é vital para que 
encontremos algum sentido em nossas atitudes e 
posicionamentos. Nosso grande trunfo, talvez, seja apenas 
o de termos sido dotados do “ânimo vital”. Temos um poder 
inimaginável de discernir, discutir e agir, de analisar refletir e 
conjecturar, avaliar, decidir e, enfim, interferir nos destinos 
de nosso universo. Nossa missão é repleta de paradoxos, 
dúvidas e medos. Mas é bem por tudo isso que a vida é 
essa aventura tão maravilhosa. 
Novamente OPINIAS convida a todos os seus 
leitores a algumas reflexões e a uma análise sobre alguns 
pontos de vista de pessoas que pretendem deixar alguma 
herança possível a seus semelhantes. Por bem ou por mal, a 
humanidade caminha. Em meio a guerras, injustiças, doenças 
e todo tipo de surpresas. E ainda assim sobrevivendo e se 
multiplicando, conforme os desígnios de um Grande 
Arquiteto, no qual muitos nem acreditam. Mas, ainda assim, 
somos todos bem semelhantes entre nós e compartilhamos 
o mesmo habitat, seja lá quem o tenha criado. E quanta 
diversidade há nisso, não é? Desafios não nos faltam e um 
deles é tentar fazer o melhor bem possível à humanidade, 
pelo aperfeiçoamento de nós mesmos! 
MARCOS GIMENES SALUN 
Jornalista 
São Paulo - SP 
msalun@uol.com.br 
Participe! 
Expediente 
Envie seu artigo ou comentários e 
embarque nesta aventura: 
rumoeditorial@uol.com.br 
03 Drogas 
08 Yoga 
10 
A análise de Carlos Galvão para 
um problema cada dia mais 
preocupante na sociedade. 
Gramscismo 04 
Adalto Barreiros descreve e detalha a teoria 
e o projeto de dominação concebido pelo 
filósofo italiano Antonio Gramsci. 
Eliana 
Veridiano 
Japão 
09 Internet 
Luciana Gomes 
Gimenes 
O fotógrafo Marcos Seyde registrou 
momentos de rara beleza do Japão. 
O poder do júri 12 
A promotora Marlusse Pestana Daher 
fala sobre a atuação do júri popular 
como instrumento de justiça. 
Decanters 
Carlos Eduardo de Oliveira trata 
nesta edição do correto uso dos 
decantadores de vinhos 
O falar do povo 18 
No dicionário de Paulo Camelo, tudo o 
que o povo pernambucano tem de 
peculiar no seu linguajar do dia a dia. 
16 
20Rimbaud 
Luciana Brandão Carreira faz um 
estudo sobre este poeta francês 
que, ainda jovem, escreveu boa 
parte de sua obra. 
Envelhecer 23 
Delasnieve Daspet narra sua própria 
experiência com o envelhecimento numa 
crônica irreverente e bem humorada. 
24 Rito de Passagem 
A delicada poesia de Eliana Mora vai da 
palavra ao silêncio, fechando esta 
edição com suavidade. 
OPINIAS - ANO I - nº. 4 - Setembro 2014 - Publicação virtual mensal da Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. * Diretores: Marcos 
Gimenes Salun, Luciana Gomes Gimenes e Naira Gomes Gimenes * Editor e Jornalista Responsável:: Marcos Gimenes Salun (MTb 
20.405-SP) * Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). *Redação e Correspondência: Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - conj.12 - 
Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 E-mail: rumoeditorial@uol.com.br - Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815. 
BLOG: http://opinias2014.blogspot.com.br/ * Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão (SP), Adalto Luiz Lupi Barreiros 
(SP), Eliana Veridiano dos Santos (SP), Luciana Gomes Gimenes (SP), Marcos Seyde (Toyota - Japão), Marlusse Pestana Daher (ES), Carlos 
Eduardo de Oliveira (SP), Paulo Camelo (PE), Luciana Brandão Carreira (PA), Delasnieve Daspet (MS) e Eliana Mora (MG). Matérias assinadas 
são de responsabilidade de seus autores a quem pertencem todos os direitos autorais. PERMITIDA a reprodução dos artigos desde que citada 
a fonte e mencionada a autoria.
Opinias - Setembro 2014 
3 
Por 
CARLOS AUGUSTO GALVÃO 
Psiquiatra 
São Paulo - SP 
carlosafgalvao@terra.com.br 
Inicialmente se faz necessário retirar este rótulo da 
juventude: há muito que as drogas ilícitas estão 
disseminadas por todos os extratos sociais, todas as 
faixas etárias, enfim espalha-se por toda a 
humanidade. Então é profundamente injusto ver o uso 
de entorpecentes como atividade própria dos jovens. 
Em meu consultório, não é raro aparecerem pessoas 
com mais de 50 anos, em busca de apoio psiquiátrico 
para livrar-se de dependências químicas, pessoas que, 
porém, conseguem trabalhar, manter um nível social 
adequado, mas que devido à dependência, assustam-se 
com o futuro e com a possibilidade de “perderem o 
controle”. Todos comungam com o medo do que 
pode acontecer caso não haja êxito terapêutico. 
Morrem de medo do escândalo social caso sejam 
descobertos, das implicações jurídico/criminais (que 
pode arruinar uma reputação), da fragilidade a que se 
expõem na hora de comprar estas substâncias, das 
balas dos traficantes... Tenho observado, sim, que o 
indivíduo, na grande maioria dos casos, chega à 
maturidade trazendo um vício adquirido na juventude. 
Podemos dizer, no entanto, que os adolescentes são 
os mais expostos à incidência dessas afecções, por 
uma série de fatores oriundos das próprias 
características da juventude (curiosidade, instabilidade 
emocional, imaturidade, aventureirismo etc...) ; então 
todas as formas de combate à drogadição devem ter 
como alvo prioritário o público jovem devido à 
vulnerabilidade desta faixa etária, e aí entra a família 
como importante ator tanto na profilaxia quanto na 
terapêutica deste flagelo da humanidade. 
Também é comum receber, em meu consultório, pais 
alarmados com filhos que mudam bruscamente de 
comportamento, declinam no rendimento escolar, 
tornam-se agressivos e irritadiços... Imaginam logo 
que o rapaz (ou a moça) estão envolvidos com 
entorpecentes. 
Há famílias com dificuldades imensas de comunicação 
entre as gerações, o que dificulta muito a observação e 
identificação de problemas nos mais novos, e aí pode 
estar o “caldo de cultura” favorito para o surgimento 
da afecção. 
Manter 
diálogo com 
os filhos, 
procurar 
entender 
seus gostos 
e desgostos, 
suas aflições 
(muitas 
vezes 
insignificantes 
quando observadas de fora), suas atividades e 
comportamentos tanto escolares quanto fora da 
escola, e, sobretudo, seus amigos e sua “turminha” é 
muito importante para manter a saúde social de uma 
família de uma maneira geral, e detectar o surgimento 
de problemas com os jovens, inclusive drogadição. 
Há, porém, que se manter o bom senso de não agredir 
o filho com observação muito ostensiva, que pode 
simplesmente fazer efeito contrário (o jovem passa a 
se esconder) e quebrar o diálogo. 
Não dá para erradicar esta doença do planeta sem o 
engajamento profundo das famílias, em interação com 
as autoridades sanitárias. 
Drogas 
3
Opinias - Setembro 2014 
4 
Por 
ADALTO LUIZ LUPI BARREIROS 
Militar da Reserva do 
Exército Brasileiro 
São Paulo - SP 
allbarreiros@gmail.com 
Sobre a revolução 
GRAMSCISTA 
no Ocidente 
Trata-se de história de como, a partir do Manifesto 
Marxista de Marx e Engels, começou a opor-se ao capitalismo 
uma teoria que preconizava o fim do capitalismo e a exploração 
dos trabalhadores pelo capital. O cenário era favorável (devido 
às condições dos trabalhadores na Europa) a uma ideia que 
estava fundamentada em dois princípios: o determinismo 
histórico – que apregoava o fim inevitável do capitalismo e a 
mais-valia que preconizava que a força do trabalho era o fator 
mais importante na produção e, portanto, deveria ter a 
prevalência sobre ela, devendo toda propriedade pertencer ao 
trabalhador (ou seja, a um Estado que representasse a classe 
trabalhadora). Estes princípios implicavam na extinção da 
propriedade privada e na coletivização de tudo, não só dos 
fatores da produção, mas da produção em si. Tudo passaria a 
pertencer ao Estado. Não vou detalhar a história. É preciso 
conhecer a revolução russa que implantou o comunismo e criou 
a União Soviética e depois se estendeu para o Leste europeu e 
para a Ásia com a revolução maoísta na China e na Indochina, 
até sua derrocada no final do século passado, com a queda do 
Muro de Berlim. Essa história perpassa a história da 2.ª Guerra 
Mundial e as suas causas e consequências. 
O importante é que estas revoluções comunistas seguiam 
o princípio da “tomada do poder pela força, com uma insurreição 
armada da classe trabalhadora contra a classe dita dominante – 
Revolução do Proletariado”. Isto era feito seguindo orientações 
das Internacionais que disseminavam as ideias marxistas, dando 
à Revolução do Proletariado seu caráter internacionalista. A 
palavra de ordem era: Trabalhadores do mundo uni-vos! No 
meu testemunho à História Oral do Exército, conto como ocorreu 
esse internacionalismo no Brasil. 
Antonio Gramsci foi um filósofo, político, cientista 
político, comunista e antifascista italiano. Nasceu em 22 de 
janeiro de 1891 e morreu em 27 de abril de 1937. Em 8 de novembro 
de 1926, a polícia fascista prendeu Gramsci e, apesar de sua 
imunidade parlamentar, levaram-no à prisão. Recebeu uma 
sentença de cinco anos de confinamento e, no ano seguinte, 
uma sentença de 20 anos de prisão em Turi, perto de Bari. Um 
projeto para trocar prisioneiros políticos entre a Itália e a União 
Soviética falhou em 1932. Dois anos depois de ser libertado por 
Mussolini, ele morreu sem ver a sua teoria comunista para a 
Europa dominar as Internacionais. Depois do colapso da União 
Soviética é que suas ideias foram ressuscitadas e dos “Cadernos 
do Cárcere” cuja teorização fora expandida nos meios 
intelectuais por marxistas tradicionais e notórios pelo mundo 
afora, é que os comunistas passaram a adotar a nova metodologia 
de conquista do poder. 
Antonio Gramscis 
ANTECEDENTES IMEDIATOS 
Em 1922, devido à corrupção política e às eleições 
fraudadas, bem como a situação do país, os chamados 
“tenentes” que já haviam se revoltado contra o governo com o 
movimento dos “18 do Forte Copacabana”, acabaram por 
provocar nova revolta que visava pôr fim à corrupção política 
e aos costumes fraudulentos nos governos do país. Essa 
revolta acabou por desembocar na Revolução de 24 em São 
Paulo e na Coluna Prestes que durou cerca de 4 anos e percorreu 
26.000 km pelo país, lutando contra as Forças Legais do 
Governo. É desse movimento dos Tenentes que surgiu Luiz 
Carlos Prestes - um Capitão do EB que se converteu ao 
comunismo e acabou sendo o principal líder comunista 
brasileiro. Cumprindo a orientação da III Internacional e 
financiado por ela, ele acabou chefiando e gerando a Revolução 
Comunista de 35, um triste episódio de traição e assassinatos 
nos quartéis, visando a tomada do governo pelos comunistas 
sob a inspiração dos princípios da Revolução do Proletariado. 
É história que conheço bem, mas que precisa ser pesquisada 
para entender como foi e o que causou, bem como suas 
consequências. A Revolução de 35 ocorreu na ditadura Vargas 
que fora implantada com a Revolução de 30, apoiada pelos 
Tenentes e acabou prolongando a ditadura Vargas que durou 
até 45, quando as Forças Armadas, voltando da Itália, depuseram 
Getúlio e deram eleições livres no Brasil. Os “tenentes” de
Opinias - Setembro 2014 
5 
22/24 deram origem aos líderes militares que derrotaram os 
comunistas em 35 e que, também, deram fim ao chamado Estado 
Novo sob a ditadura Vargas que havia se consolidado com a 
Carta Constitucional outorgada por ele - a chamada Carta do 
Estado Novo de 1937. Essa Constituição foi o resultado do 
golpe comunista de 35, bem como a prorrogação do Estado 
Novo até o fim da guerra. 
Em 64, o que houve foi nova tentativa dos comunistas 
tomarem o poder e houve a contrarrevolução de 64, impedindo 
de novo esse assalto ao poder que contava com a conivência 
do próprio Vice-Presidente que acabara na função presidencial 
com a renúncia do Presidente Jânio Quadros (outro que queria 
implantar uma ditadura). Jango Goulart era um herdeiro político 
de Getúlio que se comprometera com as tais reformas de base 
defendida pelos comunistas e com eles mesmos que o apoiavam. 
Eles diziam que já estavam no poder e só faltava tomá-lo. É 
história sobre a qual é preciso conhecer. Não vou detalhar. É 
assunto para se estudar história, com isenção e livre de 
propaganda ideológica que voltou a todo vapor hoje no 
gramscismo. 
ENFOQUE DIFERENCIAL 
Aqui trataremos do diferencial como o Ocidente interpreta 
a estrutura da sociedade (ou nação), os preceitos da democracia 
representativa e como é tratada e operada pela metodologia 
gramscista. Este diferencial é básico para se entender o processo. 
Além disso, permite que se identifique nos fatos da conjuntura 
nacional cada um desses mecanismos que são aplicados. 
O espaço nacional de uma nação na democracia é visto 
como um agrupamento de cidadãos numa área territorial 
organizada pelo Estado nacional, com uma língua, um destino e 
interesse comuns, identificados pela sua herança histórica. Já 
no gramscismo é apenas um espaço não estatal onde se disputa 
a hegemonia sobre os grupos privados onde a identidade 
coletiva deve ser fragmentada para se controlar os diversos 
aparelhos privados desses grupos. É um lugar de luta pela 
hegemonia sobre as classes ditas subalternas e a partir deste 
controle projetar essa hegemonia sobre o Estado. A sociedade 
é um “ringue” de lutas de classes e não o lugar de exercício da 
soberania popular que é garantida pelos direitos e obrigações 
individuais que os tornariam iguais perante as leis. Na 
democracia a sociedade dita nacional é o lugar onde se busca a 
redução das desigualdades, a liberdade (em seu sentido 
filosófico), a dignidade humana, e onde a individualidade de 
cada um é imaculada. No gramscismo é a arena de luta pela 
hegemonia onde se dá a primeira etapa do processo. 
Na sociedade civil gramscista, desenvolvem-se os 
aparelhos privados de hegemonia política e cultural. É onde 
nasce a direção política dos intelectuais orgânicos que são os 
condutores do processo e onde se cria as bases para a 
hegemonia e para a gestão popular do poder – uma utopia, pois 
sempre uma classe privilegiada vai ser selecionada para dirigir 
– a nomenklatura! 
Ela existiu em todos os países onde há o regime 
comunista. Basta olhar para dois exemplos atuais. China e Cuba. 
Só o membro do partido hegemônico tem prerrogativa plena de 
cidadania. É fundamental entender essas diferenças de como 
uma sociedade na democracia (a nacional) e no gramscismo (a 
civil) é interpretada. Esse é o princípio básico para se entender 
o que é o processo! Uma das razões de se ouvir hoje falar muito 
em sociedade civil decorre deste fundamento. Pode-se facilmente 
identificar em fatos cotidianos essas diferenças de enfoque 
entre mecanismo de democracia e de gramscismo. Por exemplo: 
responder por que há tanto conflito social no Brasil em torno 
de centenas de temas e grupos sociais! Seria porque a 
sociedade é uma “arena” de lutas de classes e não um espaço 
de busca de consenso e paz social? 
FATORES DETERMINANTES 
São cinco os fatores determinantes do processo: 
1) Organizar um centro de irradiação (o partido das 
classes subalternas) capaz de disputar a hegemonia com as 
classes dominantes e dentro dela com a classe dirigente. Isto é 
feito a partir de diretrizes dos núcleos de “intelectuais 
orgânicos” que são encarregados das “impregnações” culturais 
que visam basicamente o que se conhece por “controle 
hegemônico das classes subalternas”. 
2) Mudar o consenso social, pela preparação ideológica 
das classes subalternas, criando as condições para disputar a 
hegemonia pelas classes subalternas e neutralizar o poder de 
coerção do Estado. Isto é feito pela infiltração de executores 
das diretrizes dos “intelectuais orgânicos” em todos os 
organismos da nação, em particular nas escolas, na mídia, nas 
chamadas “comunidades” etc. 
3) Usar a estrutura (a economia) e a superestrutura (o 
estado) para criar o que se chama de Estado Ampliado, de 
forma que possa haver a CATARSE. No momento em que o 
poder estiver sob controle da sociedade civil “modificada” e 
da sociedade política devidamente aparelhada, será realizada a 
tomada do poder e mudança da estrutura vigente e dos valores, 
criando a sociedade coletiva. Assim, se usa os instrumentos 
do capitalismo vigente para se aparelhar o estado (a 
superestrutura) e para criar associações entre essa 
superestrutura e os entes econômicos, de forma que sejam 
preservados os princípios capitalistas, até que possa ocorrer a 
“catarse”. Isto é feito por etapas. 
4) Usar as instituições nacionais e os parâmetros do 
capitalismo, para mudar o sistema político e o regime 
democrático a partir de suas próprias entranhas. Este é o fator 
direcional básico e fundamental. Fala-se permanentemente em 
democracia e ampliação de benefícios à sociedade subalterna 
até que ela seja instrumento controlado do partido hegemônico 
que é responsável pela condução política do processo. 
5) Assumir o controle do Estado. Aparelhar esse Estado 
com os intelectuais orgânicos e com os militantes do partido 
hegemônico das classes subalternas. Isto garante não só a 
condução do processo, como minimiza o uso da força. O 
aparelhamento do Estado implica em infiltrar os executores do
Opinias - Setembro 2014 
6 
GELADA 
6 
processo em todas as instituições do Estado e nele implantar 
os mecanismos e instrumentos que garantam o controle da 
superestrutura (o Estado). 
Todos esses fatores estão baseados na definição da 
HEGEMONIA. Veja cuidadosamente o conceito de hegemonia 
que envolve duas “sociedades” – a civil e a política. A 
sociedade civil é a classe subalterna. É a arena da luta. A 
sociedade política que será posteriormente alvo do controle 
na etapa seguinte é a “superestrutura” do Estado. A primeira 
– a civil – é objeto dos aparelhos privados de controle e a 
segunda – a política – é objeto do partido hegemônico. A 
direção política diz respeito à superestrutura e a direção 
cultural, numa primeira etapa, aos aparelhos privados e numa 
segunda etapa passará a receber direção da própria 
“superestrutura”. Veja o caso, por exemplo, do MEC passar a 
distribuir cartilhas de homossexualismo nas escolas de 
1.º Grau, a título de combate à homofobia! 
A hegemonia é obtida por vários meios. A quebra da 
herança histórica é uma alavanca mestra. Quinhentos anos 
de história são “o lixo” a ser oxigenado. A fomentação de 
dissensos sociais entre minorias étnicas, de opção sexual, 
segmentos religiosos, de costumes etc., bem como de 
desconstrução de mitos históricos para substituí-los por 
mitos ideológicos. Entre outros meios está, também, a 
fomentação de debates sobre “falhas” das instituições do 
estado e ataques permanentes àquelas que são, por herança 
histórica ou por fundamento democrático, mais adversas ao 
processo de poder. 
A concepção de liberdade está restrita à “libertação” 
das classes subalternas depois de ocorrer o controle 
hegemônico. Enquanto essa libertação não ocorre não existe 
liberdade. Diferente do conceito na democracia, a liberdade 
só é inerente a ela quando as classes subalternas e seu partido 
hegemônico tiverem conquistado a sociedade civil e a política 
(ou seja, a hegemonia sobre a sociedade civil e a 
superestrutura, o estado). Tanto nessa concepção de liberdade 
como de democracia o partido é o centro diretivo do 
processo e instrumento ativo do processo. Ele é a 
expressão da sociedade civil libertada do conceito 
de liberdade e democracia, tal como esses 
conceitos são vistos nas democracias ocidentais. 
CATARSE 
Acima dei o exemplo do MEC passar a distribuir 
cartilhas de homossexualismo nas escolas de 1.º Grau, a título 
de combate à homofobia, para ilustrar como, após o 
aparelhamento do Estado, ele mesmo passa a atuar em reforço 
aos aparelhos privados de hegemonia! Veja um exemplo em 
http://www.youtube.com/watch?v=S63PlEIHdnA . 
Nesta etapa a “superestrutura” já aparelhada passa a 
reforçar os “aparelhos privados” de hegemonia. Podem ser 
aparelhos privados de hegemonia os sindicatos, movimentos 
sociais (com personalidade jurídica própria ou clandestinos, 
como o MST, M sem Teto, Força Campesina etc.), ONGs, 
associação de classe (como a UNE, a UBES ou qualquer outra 
de qualquer tipo), instituições de classe (como o é a OAB), 
grupos representativos de minorias (como os movimentos 
GBLST, Blogues, mídias virtuais etc.). Relembro que a 
liberdade, cujo conceito na cultura judaico-cristã se refere ao 
indivíduo como ser único, é regido pelo princípio fundamental 
das democracias. O cidadão pode fazer tudo o que a lei não 
proíba e o Estado só pode fazer o que a Lei manda. A liberdade 
no gramscismo se refere ao ser coletivo que emerge da classe 
subalterna quando é ela sujeita ao controle hegemônico. Só esse 
ser coletivo é livre e a liberdade a ele se refere. 
O binômio “sociedade civil + sociedade política” é objeto 
assim de um conceito estratégico que preconiza etapas até a 
CATARSE. Desse conceito estratégico, decorrem as diferenças 
entre princípios da “Revolução do Proletariado” tal com ocorreu 
em 1917 na Rússia e era preconizado pelo Movimento Comunista 
Internacional (MCI) e a Revolução na forma atual, para implantar 
regimes comunistas. Estas diferenças podem ser resumidas: 
No marxismo-leninismo tradicional, as condições objetivas 
se situam nas condições da classe trabalhadora (nas injustiças 
sociais do capitalismo e na exploração da mais-valia na força de 
trabalho) e as subjetivas nas formas da democracia burguesa e 
na inércia e conformismo das “classes subalternas”. Com estas 
condições, cria-se a crise institucional e se sujeita o capitalismo 
ao “determinismo histórico” (seu fim porque contém o DNA da 
autoextinção). 
Através da violência revolucionária, criam-se os focos de 
insurreição e se assalta o poder pela força das armas, expropriadas 
das instituições do Estado que detém o monopólio do uso da 
força. Cria-se o Exército Revolucionário constituído das “classes 
subalternas”. Este exército atuará contra as “burguesias” 
esmagando-as e expropriando os seus bens privados. 
É esse uso da força das armas que cria o Estado Ampliado 
onde, da crise orgânica surge o Estado Classe (a do proletariado), 
onde é implantada a “ditadura do proletariado”. Nesta fase estatal 
é que se vai ao socialismo e dele para a catarse. Na experiência
Opinias - Setembro 2014 
7 
prática dos regimes comunistas, esta fase estatal, como a 
sucessiva – a do comunismo – é que se instala a 
nomenklatura (ou classe dirigente) que são os membros do 
partido comunista. Todos os partidos são extintos e surge o 
Partido Único. Nessa fase é que sucedem as exterminações 
em massa e as depurações. 
No gramscismo a primeira fase – econômico-corporativa 
– o regime mantém a face do regime liberal 
democrático, enquanto se luta pelo controle hegemônico 
através da penetração cultural que envolve todas as formas, 
instrumentos e mecanismos que foram citados no “conceito 
da hegemonia”, acima, e como eles agem. A ação é, portanto, 
sobre o binômio “sociedade civil x sociedade política”. Na 
primeira agem os aparelhos privados de controle 
inicialmente, na busca do novo consenso e na segunda agem 
o partido hegemônico e os intelectuais orgânicos. Ambas 
buscam a direção moral e cultural do binômio, a partir do 
controle hegemônico e para completar esse controle. Desse 
“consenso” se vai então criar o Estado Ampliado, onde a 
crise orgânica decorrente vai fazer surgir o Estado-Classe e 
a Ditadura do Proletariado, exatamente como na metodologia 
do marxismo-leninismo. Esse “consenso” implica em destruir 
valores para substituí-los por novos! 
A primeira fase, que é diferente em cada uma das 
formas de implantação de regime comunista, mostra a criação 
do partido hegemônico (o partido-classe) que através dos 
intelectuais orgânicos implanta e dá curso à fase 
“econômico-corporativa” usando todas as franquias do 
regime liberal democrático, seus princípios, fundamentos, 
mecanismos e instrumentos. 
CONSENSO 
Vejamos como se dá a 2.ª Fase, a partir do regime 
liberal democrático, seus princípios, fundamentos, 
mecanismos e instrumentos. Nesta fase se reitera 
insistentemente os valores democráticos e as lutas pela 
redemocratização. Tudo é feito em nome da democracia. Nela 
os aparelhos privados que se inseriram em toda e qualquer 
instituição da sociedade começam a “organizar” a sociedade 
civil – onde se vai buscar a hegemonia sobre as classes 
subalternas – a arena onde se disputa o controle sobre as 
classes ditas dominantes. 
Nela a hegemonia é buscada pela superação do 
senso-comum, ou seja, pela superação dos valores em que 
se baseou a herança cultural na formação da nação e, ao 
mesmo tempo, pela conscientização política ideológica das 
classes subalternas. Na primeira “reforma intelectual e moral” 
– a superação do senso-comum – se busca a virtual e real 
destruição dos mitos, heróis, versão histórica e/ou 
consciência histórica que formou a nacionalidade, bem como 
dos valores judaico-cristãos em que se baseou. Na segunda 
forma de “reforma intelectual e moral” – a conscientização 
ideológica – se implanta por todos os meios possíveis, 
exatamente usando os princípios democráticos fundamentais 
(liberdade de expressão, liberdade da imprensa, direitos 
humanos etc.) a nova ideologia. Nesta área de busca de 
controle hegemônico, é comum o uso das “falhas” do sistema 
econômico e das instituições do Estado para “vender” a 
visão da “utopia da igualdade absoluta” e do paraíso 
“socialista” que é prometido. Nela começam a se intensificar 
ä “luta de classe” e a fragmentação social tanto pela ruptura 
dos valores do senso-comum, como pelo confronto de minorias 
étnicas, de opção sexual, religiosa etc. É uma fase em que as 
instituições que são óbices a esse esforço, pela sua doutrina ou 
pela sua sujeição aos dispositivos legais, ou, ainda, pela sua herança 
histórica ideológica (como é o caso das FFAA, por exemplo) são 
alvo de esforços sucessivos de separação da população (quebra 
de consenso sobre o que elas representam à nação e sobre o 
conceito que gozam junto a ela). 
Com estes dois instrumentos da reforma intelectual e moral 
da sociedade se constrói o CONSENSO. O que seria esse 
consenso? É a nova estrutura de valores em que a sociedade civil 
se organiza, na medida em que os valores deteriorados do senso-comum 
foram alijados da cultura nacional. É o surgimento da nova 
cultura. É preciso ressaltar que não se trata de evolução dessa 
estrutura, decorrente das mudanças sociais a que toda sociedade 
se sujeita ao longo da vida. Trata-se de construir uma nova tábua 
de valores que visa tão somente a neutralização do aparelho 
hegemônico do Estado nacional enquanto este organiza a nação. 
O que se visa é a desestruturação do próprio Estado, de forma que 
ele se torne (como superestrutura) presa do mesmo esforço, 
quando as “trincheiras” da sociedade liberal-democrática 
estiverem enfraquecidas. 
Formado o novo consenso, o esforço irá se dirigir à 
neutralização desse aparelho do estado – a superestrutura, uma 
vez que ele detém o monopólio da força e da violência que lhe dá 
o poder de coerção. Assim, o que se identifica por “grupo 
dominante” (a massa crítica da nação) estará sujeita à tomada e à 
derrota. Quando isto ocorre temos o Estado Ampliado. 
Nele a sociedade civil e a sociedade política estarão 
integradas. Estão sob o mesmo tipo de controle hegemônico. Ou 
seja, o binômio se unifica sob o controle do partido hegemônico 
que passa a deter a direção moral e política. Nesse binômio já 
unificado tanto uma como outra (sociedade civil e sociedade 
política) estarão sob domínio da Sociedade Ampliada, condição 
necessária para a 3.ª Fase. Sociedade Ampliada é sinônimo de 
Estado Ampliado e é o objetivo desta fase. 
Em todos os casos de aplicação desse processo de poder, 
são identificáveis os 4 (quatro) meios de aparelhamento do estado. 
Esse aparelhamento ocorre não só por integrantes do partido 
hegemônico, mas também por “forças aliadas” que, muitas vezes, 
dissimulam uma “oposição política” ao partido hegemônico e 
também por “forças” e “organizações sociais” que podem ou não 
estar de acordo com as leis ainda vigentes. Neste processo é 
comum o próprio Estado Ampliado passar a financiar estas “outras” 
forças, tanto por meios legais como por meios ilegais, bem como 
receber financiamentos de centros de poder externo. A corrupção 
nesta fase assola o Estado e alimenta, com essa forma de 
criminalidade institucional, a criminalidade social que vai ajudar a 
fragmentar a sociedade civil, mantendo-a sob controle hegemônico.
Opinias - Setembro 2014 
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Yoga 
Equilíbrio para o 
Por 
ELIANA VERIDIANO 
Personal Treiner 
São Paulo - SP 
elibenessere@gmail.com 
CORPO 
A expectativa de vida aumentou nos últimos tempos. As pessoas vivem 
mais, seja graças ao avanço de tecnologias que propiciam melhor 
qualidade de vida, seja graças às campanhas que visam motivar as pessoas 
a cuidarem melhor da saúde e do bem-estar. 
Contudo, diante de influências culturais, sociais ou financeiras, o ser 
humano às vezes se perde em angústias decorrentes da agitação do dia a 
dia e de seus afazeres, o que acaba causando o estresse. E com isso 
desenvolve ou adquire doenças, inclusive as psicossomáticas. 
Daí a importância de procurar alternativas como a prática da atividade 
física, bem como a conscientização de viver com qualidade e bem-estar 
físico, mental, emocional e espiritual. Uma dessas alternativas está na 
prática do Yoga. A utlização de suas técnicas auxilia no autoconhecimento 
com maturidade, consciência e com respeito à integridade física, 
influenciando nos aspectos comportamentais. 
YOGA 
Surgiu há mais de 5.000 anos na Índia, e foi 
transmitido oralmente até próximo do ano 400 a.C., 
quando foi codificado por PATANJALI nos Yoga 
Sutra, onde dizia: “Saber relaxar bem é saber 
viver bem.” 
É o equilíbrio perfeito entre o corpo e a mente, 
autossuficiência, bem-estar e satisfação. 
Integração, união e prática; a força, o poder e a 
energia. É uma ciência ancestral, que auxilia no 
autoconhecimento, com maturidade e consciência. 
BENEFÍCIOS DA PRÁTICA 
*Melhora da força muscular; 
*Melhora da flexibilidade articular e postura corporal; 
*Aumento da capacidade de concentração e percepção; 
*Afloramento da sensibilidade, espiritualismo, 
autoestima e desinibição; 
*Prevenção de doenças; 
*Influencia o indivíduo a adquirir um estilo 
de vida mais saudável; 
*Promove o bem-estar e a qualidade de vida. 
HATHA YOGA 
O “Yoga Vigoroso” ou “Hatha Yoga” é oriundo 
da época medieval. Seu objetivo supremo é 
idêntico ao de todas as formas autênticas de Yoga: 
“transcender a consciência egoica e realizar o Si 
Mesmo, a Realidade Divina”. 
“Ha” é o princípio solar e “Tha” é o princípio lunar 
– é portanto uma fusão dos princípios positivo e 
negativo, masculino e feminino. Trabalha para 
fortalecer o corpo.
Opinias - Setembro 2014 
9 
Por 
LUCIANA GOMES GIMENES 
Administradora de empresas e 
Coordenadora de compras 
São Paulo - SP 
lucianagg@uol.com.br 
NETDicas e links 
Nesta edição selecionamos mais três opções para você se divertir passeando na 
rede: uma para quem gosta de música e poderá curtir 1001 álbuns diferentes, 
altamente recomendados, tudo on-line; outra para quem tem curiosidade sobre 
(quase) tudo, inclusive cultura inútil; e finalmente uma dica para quem quer 
saber mais sobre a grande Clarice Lispector. Navegue à vontade e boa diversão! 
PARA OUVIR ANTES DE MORRER 
A rádio romena 3 Net disponibiliza os álbuns do projeto “1001 Álbuns Para Ouvir 
Antes de Morrer.” do livro homônimo do jornalista Robert Dimery. Do rock ao pop, 
são apresentados os melhores álbuns dos últimos 50 anos. Você vai encontrar de 
Frank Sinatra a Arcade Fire. Artistas brasileiros como João Gilberto, Tom Jobim, 
Caetano Veloso, Astrud Gilberto, Bebel Gilberto, Mutantes, Chico Buarque, Elis 
Regina, Jorge Ben Jor e Sepultura também estão presentes.Para ouvir, basta clicar 
no CD desejado e aguardar o player no canto superior direito do site. O projeto 
ainda não está disponível para plataformas móveis. OUÇA: 
http://www.radio3net.ro/play# 
PARA TODOS OS CURIOSOS 
Se há um lugar na internet onde você vai encontrar informações e 
curiosidades sobre praticamente tudo, este se chama 
“Guia dos Curiosos”. Alí o jornalista Marcelo Duarte juntou, como parte 
de seu amplo projeto editorial que abrange livros e outras midias, todo 
tipo de notas sobre animais, cultura e entretenimento, literatura, esporte, 
variedades, futebol, datas e comemorações, enfim... É um universo a ser 
explorado por quem tem curiosidade e pretende matar a curiodidade com 
diversão garantida e bons momentos de lazer. BISBILHOTE: 
http://www.guiadoscuriosos.com.br/ 
PARA OS FÃS DE CLARICE 
O Instituto Moreira Sales criou um site dedicado 
exclusivamente a Clarice Lispector. Em suas páginas, há uma 
cronologia ilustrada; obras comentadas; destaques do acervo 
que está sob a guarda do instituto; aulas especialmente 
preparadas por José Miguel Wisnik; traduções comparadas e 
muitas outras informações que certamente serão úteis e 
agradarão aos fãs da escritora. VISITE: 
http://claricelispectorims.com.br/
Opinias - Setembro 2014 
10 
JAPÃO 
a delicadeza 
de um povo Por 
MARCOS SEYDE 
Fotógrafo 
Toyota (Aichi - JAPÃO) 
hannamidori@outlook.com 
Opinias - Setembro 2014 
10 
Monte Fuji 
Kyoto Arashiyama - Floresta de Bambu 
Sakura Street 
O festival da Flor de 
Cerejeira é comemorado 
com muito entusiasmo. 
Olá! Sou Marcos Seyde, carioca, e moro no Japão há 12 
anos. Quero recomendar um pouco das maravilhas do 
Nihon que conheci e fotografei para quem vier para cá a 
passeio ou a trabalho! 
Monte Fuji 
É um dos símbolos mais conhecidos do Japão. Está localizado 
nas Províncias de Shizuoka e Yamanashi. É a mais alta 
montanha do arquipélago japonês com 3.776 m. Trata-se, na 
verdade, de um vulcão ativo, mas com baixo risco de erupção, e 
que, em junho de 2013, entrou para a lista de Patrimônio 
Mundial da Unesco devido à inspiração que este vulcão 
despertou em diversas gerações de artistas ao longo dos 
séculos. Existem cinco lagos ao redor do Monte Fuji. Acredita-se 
que sua formação deu-se quando as lavas vulcânicas 
interromperam o curso do rio. No local existe uma variedade 
enorme de comércio e atrações que variam entre parques 
temáticos, passeios de barcos e jardins imensos que abrigam um 
número muito grande de flores e plantas. 
Floresta de Bambu 
Sagano Bamboo Forest é uma linda floresta de bambu que 
cobre uma área de aproximadamente 16 km. quadrados, 
localizada em Arashiyama, Kyoto.O lugar encanta não só pela 
sua beleza natural, mas pelos sons produzidos pelo vento 
soprando por entre as árvores do bambu. Visto como símbolo de 
resistência, o bambu está presente em todo o Japão, nas artes, 
nas paisagens, na arquitetura e nos jardins dos Templos.
Opinias - Setembro 2014 
Matsumoto Castel 
Sakura 
O festival da Flor de Cerejeira (Sakura), é 
comemorado com muita ênfase por toda a 
população japonesa com seus Hanami 
(apreciação das flores) ou piqueniques sob a 
florada. Esse festival é cercado de muitas 
histórias e crendices do povo japonês que 
participa sempre com muito entusiasmo e 
empenho. Essa tão esperada florada dura só de 2 
a 3 semanas. Também há as glicíneas, 
conhecidas como Flor de Fuji, com suas flores e 
árvores centenárias. 
Castelo de Matsumoto 
O Castelo de Matsumoto é um dos 12 Castelos 
do país que mantém a construção original 
preservada. Está listado como Tesouro Nacional 
do Japão. Construído no século 16, tem seis 
andares e cerca de 30 metros de altura. Outros 
castelos que devem ser vistos são os de Nagoya, 
Osaka e de Himeiji, esse usado para as 
filmagens de “O Último Samurai”. 
Templo Kiyomizudera 
É o segundo templo mais antigo da Cidade de 
Kyoto que abriga 2.000 templos de muita 
importância religiosa. Esse templo é destaque por 
ser Patrimônio da Unesco e o salão principal, de 
nome Hondo, possui uma varanda em um 
precipício apoiada por 139 pilares e 90 vigas que 
são encaixadas umas às outras, sem utilizar 
pregos! Em Kioto também se localiza o pavilhão 
de ouro Kinkakuji que tem suas paredes 
folheadas de ouro e seu pavilhão todo dourado, 
composto de 3 andares com estilos diferentes. O 
primeiro andar, com estilo de palácio, o segundo 
com estilo de casa de samurai e o terceiro com 
estilo de templo zen. 
Jardins do Castelo de Nagoya 
Templo Kiyomizudera - Pavilhão Dourado 
Saiba mais sobre o Japão 
11 
http://viajeaqui.abril.com.br/materias/atracoes-turisticas-no-japao-especial
Opinias - Setembro 2014 
12 
O 
JÚRI 
Por 
MARLUSSE PESTANA DAHER 
Promotora de Justiça, radialista, 
jornalista e escritora 
Vitória – ES 
mpdaher@ig.com.br 
Com a feição mais aproximada da que conhecemos hoje, o júri 
originou-se na Inglaterra, no período sucessivo ao Concílio de Latrão. Remonta 
entretanto, ao período áureo do direito romano com os seus judices juratis. 
Entre os gregos era formado dos diskatas e entre os germanos pelos centeni 
comites. 
De início, revelava forte conotação mística e religiosa, tanto que era 
formado de doze jurados, número que corresponde ao dos doze apóstolos, 
seguidores do Cristo nos seus dias da Galileia. 
Chegado à Gália, logrou ser ali rapidamente adotado, uma vez que 
representou a forma de na época da revolução burguesa, ser manifestado o 
repúdio e aversão tributada à classe dos magistrados, historicamente vinculada 
à nobreza e artífice de toda sorte de arbitrariedades. Foi a época das práticas 
irracionais dos chamados “juízos de Deus” de que os combates judiciários, 
a imersão em água fervente, a aplicação do ferro em brasa foram 
algumas das mais bárbaras demonstrações.Da França, disseminou-se por 
todo o continente. 
Data deste tempo o direito de dizer, por parte de um Juiz togado, se 
o réu devia ou não ser submetido ao crivo do julgamento popular. 
No Brasil, a instituição do júri data de 18 de junho de 1822 e se 
encarregava do julgamento dos crimes de imprensa. Em 1824, inserido na 
Constituição do Império, passou a integrar o Poder Judiciário. Pelo Código 
de Processo Criminal de 1832 e pela reforma de 1871, foi alterado em sua 
estrutura e competência. Foi mantido na Constituição de 1891 e nas sucessivas, 
até 1937, quando a Carta foi omissa sobre ele, razão que a fez vir a ser 
corrigida por um Decreto-Lei, o de n.º 167 de 5 de janeiro de 1938, o qual 
delimitava a soberania dos veredictos.
Opinias - Setembro 2014 
13 
No capítulo dos direitos e garantias 
individuais, sua soberania voltou a ser assegurada, seja 
na Constituição de 1946, seja na de 1967. 
Consolidado na sua razão de ser, permaneceu, 
na Constituição de 1988, no título que assegura os nossos 
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – 
CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERES 
INDIVIDUAIS E COLETIVOS; inciso XXXVIII - é 
reconhecida a instituição do júri, com a organização 
que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de 
defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos 
veredictos; d) a competência para o julgamento dos 
crimes dolosos contra a vida. 
A lei que organiza o júri, na verdade o Decreto- 
-Lei de n.º 3.689, datado de 03 de outubro de 1941, 
sofreu no decurso desse tempo algumas modificações. 
No entanto, não no que a ele se refere. Esse decreto é o 
Código de Processo Penal e estabelece como 
competência privativa do Tribunal do Júri, o julgamento 
dos crimes de homicídio, simples ou qualificado, o 
infanticídio, o aborto; na forma consumada, isto é, com 
a culminação do evento morte, ou apenas tentada. Por 
fim, a conduta tem que ter sido praticada de forma dolosa, 
isto é, quando há deliberação para sua prática, com o 
lançar mão ou valer-se de meio idôneo, utilizá-lo e colimar 
o intento, ou não o colimando que tenha sido 
independente da vontade do agente. 
Assim, quando acontece um homicídio, morte 
de alguém por outrem, a polícia judiciária adotará as 
providências preliminares. Dirigindo-se ao local, 
providencia análise das diversas circunstâncias e 
motivações do delito, identifica o autor e testemunhas 
que possam informar sobre o fato, remove o corpo para 
efeito de necropsia, no Instituto Médico Legal, onde 
existe, na ausência deste, o médico que, sob 
compromisso, emitirá o laudo respectivo, detalhando as 
lesões e atestando-as como causa da morte. 
Tais diligências compõem o inquérito policial 
que é instaurado mediante PORTARIA de competência 
do Delegado de Polícia, hoje, bacharéis em direito e 
com preparação específica ao desempenho do mister 
judiciário. Quando o inquérito é concluído, o Autor do 
delito é indiciado e os autos são remetidos ao Juiz de 
Direito que, por sua vez, determina abertura de vista ao 
Promotor de Justiça, o qual, formando seu juízo, denuncia 
o autor. 
Denúncia é a peça mediante a qual o Órgão do 
Parquet se dirige ao Estado Juiz, e depois de qualificar o 
indiciado de forma a tornar inequívoca sua identidade, 
narra a partir da hora, dia e local em que o delito tiver 
sido praticado, as circunstâncias em que se deu, as 
motivações que o rodeiam, o modo com que agiu e todos 
os demais detalhes, de tal forma que não pairem motivos 
de suposição ou dúvida, até porque, é nos termos da 
denúncia que se vai arrimar o contraditório. Vale para a 
defesa o que estiver escrito. Finalmente, aponta os 
dispositivos do Código Penal infringidos e requer citação 
do denunciado para que promova sua defesa como 
melhor entender; nesta oportunidade, ainda, apresenta 
o rol de testemunhas a serem ouvidas na fase instrutória 
processual. 
O Juiz, recebendo a denúncia, determina a 
citação do denunciado e seu comparecimento à sua 
presença para ser interrogado. Nesta oportunidade, ele 
toma conhecimento formal dos termos da acusação que 
lhe é feita, apresenta a própria versão para o fato ou de 
sua conduta, nomeia o Advogado que vai defendê-lo, 
ou se for pobre, no sentido da lei, tem conhecimento do 
que lhe é nomeado. É um grande momento do processo, 
é o momento em que pode falar, depois, estará limitado 
a ouvir. Tanta é sua importância que só deve ser feito de 
forma presencial, quando, além de através das palavras, 
o Juiz pode analisar o interrogando lendo no seu ânimo, 
deduzindo pelo como se comporta. 
Quando o inquérito é concluído, o Autor 
do delito é indiciado e os autos são 
remetidos ao Juiz de Direito que, por sua 
vez, determina abertura de vista ao 
Promotor de Justiça, o qual, formando 
seu juízo, denuncia o autor.
Opinias - Setembro 2014 
14 
Em seguida, o advogado, respaldando os 
termos do interrogatório, não concorda ou concorda 
apenas em parte com a denúncia, apresenta o rol de 
testemunhas ou requer outras diligências. Geralmente, 
reserva-se o direito de só fazer conhecida sua tese, a 
final. Tem início o contraditório, fundamental para a 
validade de todos os atos. O próprio Promotor que 
entender pela não defesa de quem é acusado, na sua 
função de fiscalizar a correta aplicação da lei, deve vigiar 
neste sentido, ou seja, no sentido de que o 
contraditório seja potencialmente exercido. 
São ouvidas as testemunhas 
arroladas pelo Ministério Público, em 
seguida, as que a defesa apresentou. Finda 
esta fase, são feitas as alegações finais pelas 
partes e mediante o que tiver concluído, à 
vista do que tiver sido provado, o Juiz 
proferirá uma decisão de impronúncia ou de 
pronúncia. No primeiro caso, decide pela 
absolvição do denunciado e julga 
improcedente a denúncia; no segundo, 
reconhece a presença dos elementos 
constitutivos do dolo, sem aprofundar-se no 
mérito, mesmo que paire alguma dúvida, 
neste caso, o in dubio é pro societate, e 
remete o julgamento ao Tribunal Popular do 
Júri. 
Júri popular é, portanto, julgamento de 
alguém do povo, pelo próprio povo. 
Em certos casos, até menos, mas o tempo de 
tramitação de um processo está legalmente previsto, para 
acontecer em noventa dias. 
Em toda Comarca, anualmente, são alistados 
cidadãos entre 21 (vinte e um) a 60 (sessenta) anos de 
idade, pessoas indicadas pelas diferentes repartições em 
que trabalham e que vão estar a serviço do júri o que é 
obrigatório. O exercício efetivo da função de jurado 
constitui serviço público relevante, estabelece 
presunção de idoneidade moral, assegura prisão 
especial, em caso de crime comum, até o julgamento 
definitivo, bem como preferência, em igualdade de 
condições, nas concorrências públicas. 
Os jurados representam a sociedade da qual 
fazem parte. Quando investidos da função, decidem em 
nome dos demais. É portanto, o júri, expressão 
eminentemente democrática, intérprete da vontade do 
povo, competindo aos que o integram agir de forma 
independente e magnânima. Por isto, conta com a 
votação secreta e seu veredicto é soberano. 
Os sete integrantes do conselho de sentença, 
sorteados entre os vinte e um convocados para cada 
sessão, são Juízes de fato. Podem requerer diligências, 
mais que simplesmente ouvir respostas formuladas pelo 
Juiz, pela defesa ou pelo Ministério Público, inquirir as 
testemunhas, valerem-se de quaisquer recursos que os 
conduzam a um juízo preciso a respeito da decisão a ser 
tomada. Assim, formam a própria convicção e mediante 
resposta por um NÃO ou um SIM, cédula que vão 
depositando numa pequena urna, após cada uma das 
questões que lhe são propostas, decidem pela inocência 
ou pela culpa de quem devem julgar. 
É a eles que se dirigem o Ministério Público e a 
defesa, cada qual apresentando sua versão da conduta 
em julgamento. Em número de sete, jamais correm o 
risco de ocorrência de um empate na votação. O Juiz de 
Direito que ali está preside a sessão, vela pela ordem e 
pela normalidade dos atos, mas quando, ao final, vai 
prolatar a sentença, estará condicionado ao que lhe tiver 
sido prescrito pelos jurados, nem mais, nem menos. 
Júri popular é, portanto, julgamento de 
alguém do povo, pelo próprio povo.
Opinias - Setembro 2014 
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Aqui em Vitória, acabamos de acompanhar um julgamento cuja duração, três dias, só tem precedente 
com o do esquadrão da morte. Refiro-me ao julgamento do líder dos “sem-terra”, José Rainha Júnior.(*) 
A imputação que lhe é feita data de 1989. 
As opiniões se dividem. Para uns, é inocente; para outros, é culpado. Culpado ou não, o povo que estava 
representado pelos componentes do Conselho de Sentença por 4 votos contra 3, pressionado ou não, dizem que 
atemorizado pela multidão que postou-se na frente e dentro da Catedral Metropolitana, (onde se permitiu fazer 
nada menos que tudo), disse que é inocente e só restou, ao Juiz Presidente, absolvê-lo. 
Uma das duas eram as hipóteses do que sucederia: Rainha é culpado ou Rainha é inocente. Condenado, 
pairaria a dúvida sobre a efetiva realização da justiça, mas não é que não subsista, agora que foi absolvido. 
Ai é que, ainda que haja divergências entre a culpa e a inocência, num ponto há unanimidade e está na 
consciência dos longos onze anos que se passaram os quais nos autorizam a voltar a repetir como o fizera Rui 
Barbosa, na sua Oração aos Moços, (exortação a paraninfados de um curso de Direito): “Mas justiça atrasada 
não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. 
(*) Julgamento realizado em abril de 2000. 
DAHER, Marlusse Pestana. O júri. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 42, 1 jun. 2000. 
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/1070>. Acesso em: 4 ago. 2014. 
Muitos já devem ter 
visto uma imagem ou uma 
estátua de uma mulher 
vendada representando a 
Justiça. O que a maioria 
não sabe é que essa mulher 
é a representação de uma 
deusa greco-romana; 
chamada pelos gregos 
antigos de Têmis e pelos romanos 
de Justiça. 
Esta era filha de Urano (o deus-céu 
ou o próprio céu personificado) e de Gaia 
(a deusa-terra ou sua personificação), 
sendo, portanto, filha do céu e da terra. 
Têmis era a deusa da justiça, da lei 
e da ordem, sendo também a protetora dos 
oprimidos, e a própria personificação do 
Direito, apoiada nos costumes e nas leis. 
Em regra, é representada por uma mulher 
vendada, onde a cegueira significa que a 
justiça não diferencia as pessoas, ideia que 
já era concebida pelos romanos antigos e 
que se encontra manifesta em nossa 
Constituição Federal (lei maior que 
determina todo o funcionamento do Estado 
brasileiro e o modo de suas leis): 
Art. 5.º, caput : Todos são iguais 
perante a lei, sem distinção de qualquer 
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à 
segurança e à propriedade (…). 
Na figura de Têmis, ainda podemos 
encontrar outros elementos de forte simbolismo 
e o segundo que merece ser mencionado é a 
balança, que, assim como a venda, sempre está 
presente em sua representação. A balança tem 
o significado do equilíbrio (equidade) que a 
Justiça deve ter, representa o próprio conceito 
de justiça como pensado por Aristóteles na 
distante Grécia antiga: dar a cada um o que é 
seu proporcionalmente as suas necessidades. 
Colocando pessoas de níveis diferentes 
em situação equivalente. São exemplos 
clássicos da manifestação deste conceito na 
justiça brasileira o direito do trabalho e do 
consumidor, que têm o objetivo de proteger 
aquele mais fraco na relação (o trabalhador e 
o consumidor). Há ainda outros dois elementos 
na figura de Têmis de significado pertinente: o 
que ela segura na outra mão, que às vezes é a 
espada e outras a lei. Quando é a espada, diz-se 
que é o próprio peso da lei (ou seus meios 
de punição) aguardando para atuar diante de 
seu descumprimento; quando é a lei, o 
significado não muda muito, pois esta também 
é utilizada para fazer valer a justiça. 
Têmis
Opinias - Setembro 2014 
16 
Por 
CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA 
Engenheiro 
Santo André - SP 
carlos@sabbahi.com.br 
decantando 
O VINHO 
Salut les amis! 
Na coluna de hoje, vamos falar um pouco sobre a decantação dos vinhos. Algumas vezes vamos a 
restaurantes ou algum evento de degustação e os vinhos nos são apresentados naqueles belos 
recipientes cristalinos. Mas, afinal, o que são, para que servem e quando devem ser usados os 
decanters? 
Devemos partir do princípio de que a grande maioria dos vinhos pode ser 
perfeitamente servida diretamente da garrafa para a taça. Poucos vinhos 
têm a real necessidade de serem decantados devido à presença de 
depósitos de material sólido nas garrafas, o que pode prejudicar uma 
perfeita degustação – essa “borra” tem o gosto amargo e pode turvar o 
líquido, prejudicando sua aparência. A decantação pode então melhorar 
os vinhos sob dois aspectos: eliminando essas partículas indesejáveis ou 
servindo para “aerar” o líquido, fazendo com que os aromas de vinhos 
“fechados” se desprendam com mais facilidade. 
Os decanters são recipientes de vidro ou cristal, em diversos formatos de 
jarra ou garrafa, onde se verte o vinho proveniente de outro recipiente – 
de outras garrafas, das chamadas bag in box ou diretamente de barris – 
pois antigamente o vinho da casa nos estabelecimentos era comprado a 
granel direto do produtor e armazenado em barril, devendo então ser 
colocado em uma jarra menor para ir à mesa. Com o aumento da 
produção de vidro, no final da Idade Média, as garrafas deste material 
passaram a ser utilizadas com esta finalidade (pois só viriam a ser 
“popularizadas” muitos anos mais tarde, no século XVIII). Com o uso 
desse expediente ao longo do tempo, verificou-se que alguns vinhos eram 
beneficiados pela agitação do líquido, pois “abriam” seus aromas, que se 
volatizavam mais facilmente após o contato com o ar. A decantação desse 
tipo (que não significa propriamente uma decantação no sentido de 
concentração de partículas) beneficia em maior parte os vinhos tintos 
jovens, aqueles mais concentrados, tânicos e alcoólicos. 
16
Opinias - Setembro 2014 
17 
Neste caso, recomenda-se o uso 
de recipientes bojudos, de forma 
que se obtenha a maior superfície 
de contato possível entre o líquido 
e o ar. Quanto mais agitação na 
operação de transvase, mais 
oxigenação, melhor para este tipo 
de vinho. Depois, deixa-se o vinho 
em repouso por um pouco de 
tempo antes da degustação. 
Normalmente, uma ou duas horas de decantação é 
o suficiente para que os aromas explodam; e 
quando necessário, o decanter pode repousar 
sobre um recipiente ou dentro de um balde com 
água gelada, para que o vinho seja servido na 
temperatura ideal. Além dos tintos “saradões”, 
alguns vinhos brancos mais encorpados, como os 
Borgonhas e chardonnays do Novo Mundo (EUA, 
Austrália, Nova Zelândia, América do Sul), 
também podem se beneficiar com esse tipo de 
decantação. Hoje em dia são vendidos artefatos 
que prometem aerar instantaneamente o vinho ao 
ser vertido para a taça, o que eliminaria a função 
da decantação. Mas convenhamos que servir um 
bom vinho, límpido e brilhante, em uma bela garrafa 
de cristal também traz uma grande vantagem 
estética, não é mesmo? 
Outro caso onde se utiliza a decantação é para eliminar 
partículas suspensas nas garrafas de velhos vinhos, aqueles 
que não passaram por filtração ou que acumularam ao longo 
do tempo partículas provenientes da polimerização dos 
taninos. Esse processo pede um pouco de paciência: com 
uma boa antecedência devemos colocar a garrafa em pé, de 
modo que a borra depositada na lateral da garrafa – que 
deve ter sido armazenada deitada – se acumule no fundo do 
recipiente – aquele fundo côncavo de algumas garrafas 
também tem como objetivo concentrar o acúmulo da borra no 
fundinho do recipiente. 
SAIBA MAIS EM “CONSERVADO NO VINHO” 
Depois de algum tempo, o sedimento sólido se 
acumula no fundo da garrafa, e deve-se sacar a rolha 
o mais cuidadosamente possível, evitando agitar o 
líquido - o que revolveria novamente a borra – e 
verte-se o vinho em um decanter. Pode-se utilizar 
para isso acessórios como funis ou peneiras, mas o 
mais importante é posicionar o gargalo da garrafa 
contra uma fonte de luz – que pode ser uma vela, uma 
lâmpada ou lanterna – o que vai facilitar a observação 
do movimento das partículas pela garrafa, e a 
operação de transvase deve ser interrompida quando 
a borra atingir o gargalo. Ao contrário dos vinhos 
novos e concentrados, os vinhos velhos – já 
“amaciados” pela ação do tempo – não se beneficiam 
com a oxigenação, e então devem ser manuseados 
com lentidão e delicadeza, sem grande agitação, e de 
preferência devem permanecer em recipientes mais 
estreitos, com uma pequena superfície de contato com 
o ar. 
A princípio pode parecer um pouco complicado, mas 
como tudo – ou quase tudo – nesta vida, com o tempo 
e a experiência a prática da decantação e todo o ritual 
que se segue à abertura da garrafa de vinho tornarão 
ainda mais prazeroso o culto a essa bebida com que 
Baco nos presenteou! No próximo mês, começaremos 
a conversar sobre a geografia do vinho. 
Santé, et à la prochaine! 
http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/
Opinias - Setembro 2014 
18 
O jeito de falar 
pernambucano 
Por 
PAULO CAMELO 
Médico e escritor 
Recife - PE 
camelo.paulo@gmail.com 
O Brasil é um país de dimensões continentais e 
um único idioma. Embora alguns linguistas falem em 
“dialetos”, o idioma é o mesmo e as regras se mantêm 
em qualquer região. O que muda – e é muito em alguns 
aspectos – é a maneira de falar, é o vocabulário próprio, 
é o aspecto fonético e fonológico de cada região. 
Alguns aspectos me fazem renunciar à tese de 
dialeto: a gramática única, a coincidência da maioria das 
palavras e expressões em todas as regiões e a 
possibilidade de diálogo inteligível entre habitantes de 
regiões diferentes. Mesmo assim, há características 
regionais que levam os especialistas a manter tal tese de 
dialeto. E isso se dá no âmbito do falar, e não no do 
escrever. 
Eu nasci e me criei em Pernambuco. E sempre 
falei como se fala em Pernambuco. Mas eu achava 
engraçado ouvir as pessoas falando com corruptelas, e 
tais fatos me levaram a iniciar um rudimento de pesquisa 
linguística para saber por que assim eram pronunciadas 
as palavras, quais os significados originais ou de onde 
provinham. 
Como em todo idioma, vemos, em nosso, uma 
diferença entre o idioma escrito, ou culto, e o idioma 
falado, ou vulgar. A variante do idioma vulgar que chama 
atenção é o falar errado, que dá lugar a uma deturpação 
do idioma escrito, fazendo aparecer pseudoidiomas (que 
mais se parecem dialetos) em cada região do país, como 
o denominado pernambuquês, que nada mais é do que 
a expressão escrita do falar errado do pernambucano 
inculto. 
É sempre bom fazer uma diferenciação entre o 
falar pernambucano e o chamado pernambuquês, pois 
este mostra um pseudoidioma deturpado, depreciado e 
caricato. Ao contrário, o pernambucano médio – e 
mesmo o inculto – fala de uma maneira que a maioria 
dos falantes lusófonos entende. 
É caricata e depreciativa a grafia insistentemente 
errada feita por alguns escritores, quando só o que muda 
é algum fonema, mais fechado aqui ou ali, aberto em 
outras ocasiões, sibilado ou com exclusão de sílabas ou 
do “s”, “r” ou “l” finais. 
Assim, se em alguns momentos o nativo faz 
concordância falha, o que mais se pode fazer é mostrar 
essa falha de concordância, e não grafar erradamente 
uma ou outra pronúncia mais fortemente denunciadora. 
Quando o pernambucano diz “nós vamos falar”, 
deprecia-se seu falar escrevendo “nóis vamu falá”. Isso 
é inversão de valores, parecendo que a forma vulgar 
interfere na culta, ao invés de ser sua variante. 
Vemos isso em várias ocasiões. Até um bloco 
carnavalesco envereda por esse erro. Ao querer registrar 
a variante vulgar de não concordância nominal e uso de 
fonemas característicos, escreveu “Nóis sofre mais nóis 
goza”, quando o “Nós sofre mas nós goza” mostraria 
essa variante sem assassinar o léxico. 
O falar pernambucano sofreu influência dos 
idiomas nativos indígenas, mormente o tupi e sua vertente 
tupi-guarani. Os termos dali advindos estão mais 
arraigados em uma ou outra região e, desses termos, 
tomamos propriedade, como nossos. Assim são: 
catapora, tipoia, pereba etc. São de nosso uso desde 
sempre, porém não se limitam a nossa região.
Opinias - Setembro 2014 
19 
Sofreu, também, influência dos idiomas africanos 
que vieram com os escravos. Recebeu carga linguística 
dos holandeses, dos americanos e, por tabela ou 
indiretamente, de outros povos e outros idiomas, tais 
como o árabe, o francês, o espanhol, entre outros. 
Com o tempo e as várias influências, algumas 
palavras ou expressões foram se apagando e, se não 
postas em uma obra e publicadas, podem desaparecer 
por completo. E esta foi uma das razões por que eu me 
propus a escrever o “Dicionário do falar pernambucano”. 
A internet, o mais recente meio de comunicação, 
faz com que se globalizem os termos, as palavras, as 
expressões. E muitas daquelas que antes eram 
características ou exclusivas de uma região, um estado, 
uma comunidade, passaram a ser ditas e escritas por 
outras pessoas, de rincões tão distantes dos locais de 
origem. Isso faz com que utilizemos, muitas e muitas 
vezes, termos que nem parecem mais ser de origem 
regional, e também capturemos outros originários em 
outras regiões e já encravados em nosso falar de tal modo 
que nos parecem familiares desde criancinhas. 
A globalização trouxe três fenômenos no modo 
de falar de um povo: a exportação, a importação e a 
substituição de termos. Dessa forma, corroborando o 
dito acima, podem ser encontrados termos de origem 
em outras plagas, como podem também existir aqueles 
já do conhecimento de muitos. Há, também, aqueles 
termos que, substituídos, saíram de circulação, e muitos 
dos que hoje usam o falar pernambucano talvez não os 
conheçam, por arcaísmo, por desuso. 
As expressões e os ditos são outros aspectos 
importantes no falar regional, e o falar pernambucano 
não se diferencia disso. Utilizando termos de uso não 
necessariamente pernambucano, formamos expressões 
que na maioria das vezes só por essas terras são 
pronunciadas e entendidas. 
19 
PEGANDO BIGU 
Dicionário do falar pernambucano 
de Paulo Camelo 
Editora Paulo Camelo - Recife - PE - 2014 - 288 páginas 
I.S.B.N.: 978-85-904262-9-5 
Preço: R$40.00 
Sinopse: 2.280 verbetes correspondendo ao falar 
pernambucano. Substantivos, adjetivos, verbos, 
locuções, expressões que estão no falar cotidiano do 
pernambucano. Explicações, citações, etimologia. 
288 páginas ilustradas. Capa e ilustrações do desenhis-ta 
Fábio Maia. Acompanham referências bibliográficas e 
índice onomástico de autores citados. 
AQUISIÇÕES: camelo.paulo@gmail.com 
aboiar » v. t. d. - cantar um aboio; » s. m. - aboio. 
“Onde o forte aboia a sorte 
no seu canto de lutar.” 
(Janduhy Finizola - “Glória”) 
até Mané chegar » expr. - sem tempo 
determinado; sem hora para terminar. 
“Agora, Mestre Bentevi, pegue a sua viola 
pra nós cantar repente até Mané chegar, em 
honra da minha patroa e do mestre Quinca 
Tomaz...” (Zé Limeira, apud Orlando Tejo - 
“Prestando contas ao mestre”) 
bigu » s. m. - carona. 
ETIMO - Inglês: be good (seja bom). 
Expressão utilizada pelos americanos, 
em trabalho no Recife durante a 
Segunda Guerra, ao pedir carona. 
“Do Colégio Pio X onde me hospedava à 
universidade, caminhei por uns vinte anos, 
somente aceitando bigu nos seis quilômetros 
se o tempo fazia-se chuvoso.” (José Rafael 
de Menezes - “Memórias de um escritor”) 
caçoar » v. int. e t. i. - fazer caçoada; galhofar. 
caçoleta » s. f. - medalhão com local para se 
colocar retrato, geralmente usado pendurado 
no pescoço. 
bater a caçoleta » morrer. 
escuma » s. f. - espuma. 
ETIMO - germ.: skuma = espuma. 
“Cervejinha é essa, Sá Marica? Só tem 
escuma!” (Luiz Gonzaga - “Karolina com 
K”) 
mel-de-furo » s. m. - mel resultante da decantação do 
mel-de-engenho não cristalizado na preparação do 
açúcar-bruto; melaço; cabaú. 
melé » s. m. - curinga do baralho. 
passista » adj. e s. 2 gên. - dançarino do frevo. 
“Ao ouvir um frevo tocado por alguma orquestra, o 
passista parte para algum lugar que nem ele sabe 
qual será.” (Reinaldo de Oliveira - “O frevo”) 
pei » interj. - exprime ação imediata; » conj. aditiva – 
exprime ação imediata; então. 
pei bufe » acertou!; na mosca! 
piojota » s. f. - 1) cepa de cana-de-açúcar; 2) (fig.) 
bebedeira. 
ETIMO - var. de peojota, da sigla POJ - Posto 
de Observação de Java. 
piripaque » s. m. - mal súbito; desmaio. 
“Por que uma pessoa, gozando de boa saúde, tem um 
piripaque e morre?” (José Urbano de Andrade Almeida 
- “Quase”)
Opinias - Setembro 2014 
20 
Ruptura e reinvenção: 
Por 
LUCIANA BRANDÃO CARREIRA 
Psicanalista, Professora e 
Escritora 
Belém - PA 
lucianabrandaocarreira@gmail.com 
O que 
RIMBAUD 
tem a nos ensinar 
sobre o Ato 
À une raison 
Un coup de ton doigt sur le tambour décharge tous 
les sons et commence la nouvelle harmonie. 
Un pas de toi, c’est la levée des nouveaux hommes 
et leur en-marche. 
Ta tetê se détourne: le nouvel amour! 
Ta Tetê se détourne – le nouvel amour! 
“Change nos lots, crible les fléaux, à commencer 
par le temps” te chantent ces enfants. “Elève 
n’importe où la substance de nos fortunes et de 
nos voeux” on t’en prie. 
Arrivée de toujours, qui t’en iras partout. 
Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud. 
À uma Razão 
Um toque de teu dedo no tambor desencadeia todos 
os sons e dá início a uma nova harmonia. 
Um passo teu recruta novos homens, e os põe em 
marcha. 
Tua cabeça se vira: o novo amor! Tua cabeça se volta, 
– o novo amor! 
“Muda nossos destinos, acaba com as calamidades, a 
começar pelo tempo”, cantam estas crianças, diante 
de ti. “Semeia não importa onde a substância de nossas 
fortunas e desejos”, pedem-te. 
Chegada de sempre, que irás por toda parte. 
Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud (tradução livre da 
autora). 
Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud começou a escrever o livro Illuminations em 
1873, quando estava prestes a completar 20 anos de idade, enquanto percorria a 
Bélgica, a Inglaterra e toda a Alemanha, ao lado de seu amante, o também poeta Paul 
Verlaine. 
Ao meio de muito haxixe, álcool, violência e escândalos, Rimbaud também 
chocava a sociedade com a sua homossexualidade. E, quando encerra a obra citada, 
o escritor se afasta da literatura por quase dez anos, entrando numa espécie de exílio 
voluntário, deixando o Ocidente ao partir para uma vida no deserto da Etiópia e do 
Egito. 
Finalizado em 1875, tal livro é composto por pequenos textos (prosas, em 
sua maioria), parecendo desprovido de tema, tamanha a liberdade com a qual o 
poeta o concebera. Talvez por esse motivo o escritor tenha denominado os anos nos 
quais escrevera Illuminations como um período de “desregramento de todo o sentido”. 
Jean-Michel Espitallier considera Illuminations como a primeira compilação 
de videoclips da história, “rodada” vinte anos antes do nascimento do cinema e um 
século antes dos primeiros clips televisuais. Considerados por tal crítico como “prosas 
rasgadas”, tais textos parecem surgir de uma urgência furiosa de Rimbaud em 
reproduzir com palavras as cenas do mundo que o capturavam, registradas em seus 
versos tal como se a escrita jorrasse dos olhos fotográficos de um jovem homem 
apressado. Esse caráter faz que Jean-Michel Espitallier considere o seu “modelo de
Opinias - Setembro 2014 
21 
poema em prosa” como tendo sido o pioneiro – o 
verdadeiro pioneiro”, “inventado” quarenta anos antes 
do que se estima ter nascido com Bertrand, tendo 
influenciado, enfim, muitos dos grandes poetas do século 
dezenove, dentre os quais, Baudelaire. 
Em Rimbaud a prosa não visa à narrativa. O 
enredo, este se precipita sobre zonas visuais, 
consideradas pelo próprio Rimbaud como “fotografias 
do tempo passado” – como a grafia de um instante tão 
infinitamente fugaz que a escrita dele suscitada é 
simplesmente a memória de um átimo que não se deixa 
apreender. 
Rimbaud inaugurou-se na poesia extremamente 
jovem, escrevendo em Latim aquilo que foram os seus 
primeiros versos, apenas quatro anos antes do 
Illuminations. Trazendo a luz para o título com o qual 
ele nomeou tal obra – utilizando-se de uma palavra que, 
em inglês, quer dizer “gravuras coloridas” – Rimbaud 
então vincularia sua poesia à ruptura e à reinvenção, 
definitivamente, desestabilizando assim o pilar racionalista 
do pensamento francês. Deste livro pinçamos o curto 
poema em prosa À une raison, tantas vezes citado por 
Lacan ao longo de seu ensino. Por que o fazemos? 
Porque no contexto em que surge, esse texto nos permite 
apreender o giro discursivo, enquanto efeito de 
linguagem, que se opera na passagem de um discurso a 
outro, em cujas bases encontramos o amor que enlaça. 
Afinal, ao desestabilizar o racionalismo francês, Rimbaud 
aponta que o Eu não é senhor de seus atos, indicando 
que há uma suspensão do Eu no ato da criação, liberdade 
à qual todo artista está condenado. 
Entusiasmado pela Comuna de Paris, lembremos 
que o poeta francês parecia ansiar por uma nova ordem 
social, esperançoso que estava por uma renovação da 
sociedade e de seus costumes, que seriam alcançadas 
por via de uma revolução. Contudo, podemos dizer que 
o texto À une raison anuncia uma outra espécie de 
revolução; reviravolta que convoca o homem, em sua 
marcha pelo mundo, a semear o desejo por onde quer 
que ele passe. A nosso ver, o poeta convida e estabelece 
uma torção no eixo do amor num sentido ainda mais 
radical, tal como Lacan a propôs ao discorrer sobre o 
Novo amor em seu seminário Mais, ainda (1972-1973), 
pois, para Lacan, o Novo amor nada mais é do que o 
signo da emergência de um novo discurso, indicando 
um novo laço social, inédito e original. Disso decorre a 
passagem do discurso da histérica ao discurso do analista, 
no final de análise, quando um amor novo no laço 
psicanalítico se estabelece. Ao acompanharmos os passos 
do poeta, bem como os de Lacan, encontramos assim o 
desejo de semear o desejo. 
Pouco antes, em seu seminário sobre O ato 
analítico (LACAN, 1968-1969), foi também a partir 
desse poema, no qual um Novo amor é evocado, que 
Lacan propôs a fórmula do ato, uma vez que o ato 
analítico suscita o novo, um novo desejo, um novo amor 
transferencial. Na imprevisibilidade de um encontro com 
o Real, eis a essência do desejo do analista: transmitir o 
intransmissível de uma experiência limite (o Real 
inapreensível pelo significante) que provoca um giro 
discursivo e uma ruptura no saber, pois “o intransmissível 
está no coração do desejo de transmitir” (PORGE, 2009, 
p.15). Afinal, como Rimbaud persevera em seu verso, 
basta “Um toque do dedo no tambor” para que se 
desencadeiem “todos os sons” e se inicie “uma nova 
harmonia”; basta “um passo” para que se recrutem novos 
homens e estes, a partir daí, enveredem por esta nova 
trilha. Rimbaud associa o novo ao movimento capaz de 
mudar destinos e direções, reinventando caminhos, e, 
mais importante, semeando o desejo ao longo dessa 
errância pelo mundo afora. 
Mas de que maneira Lacan trabalha a partir desse 
poema no seminário Mais, ainda (1972-1973)? 
Para acompanharmos os desenvolvimentos de 
Lacan em tal contexto, situemos, em primeiro lugar, que 
todo amor é narcísico. Os laços sociais, que são laços 
amorosos em sua essência, propiciam toda sorte de 
fenômenos imaginários de massa, uma vez que se pautam 
em ideais identificatórios do eu. 
A rede discursiva é tecida por esses fios, ainda 
que o amor, que faz laço, demande simplesmente o amor. 
Mas o amor é impotente, pois a relação complementar 
entre os sexos é impossível, uma vez que, havendo 
reciprocidade, tal amor é guiado pelo desejo de fazer 
unidade, própria ao amor fusional que aliena. Ao indicar 
que o seu aforismo “o inconsciente é estruturado como 
uma linguagem” não é do campo da linguística, e sim da 
21
Opinias - Setembro 2014 
22 
linguisteria, eis então que Lacan avança, circunscrevendo 
uma modalidade amorosa nova, própria ao seu discurso. 
Ainda que o amor seja um signo, Lacan 
circunscreve, assim, que o amor de que se trata é signo 
de uma mudança discursiva. Lacan pouco a pouco vai 
delineando uma modalidade de amor que não é alienante, 
e que tampouco escraviza. Amor que está num mais além 
do narcisismo, capaz de romper e esvaziar as 
identificações imaginárias. Um puro amor. Amor que é 
pura potência criativa, inovadora, que nos “constrange 
a decidir uma nova maneira de ser”, como bem 
estabelece Alain Badiou ao se referir ao que é da ordem 
de um acontecimento. (BADIOU, 1993, p.38). Logo, 
o gozo do Outro não é, em absoluto, um signo do amor. 
Ao contrário, o que é signo de amor é a torção que aí se 
produz, no lugar onde tal gozo é vislumbrado e 
entrevisto. 
Mas apesar de todos esses elementos listados, 
compartilhamos da ideia de que a razão cantada nos 
versos de Rimbaud não equivale à descoberta freudiana 
do inconsciente; assim, sua “razão poética não é nem o 
senso cartesiano nem o inconsciente freudiano”. 
(BERNARDES, 2009, p.102). 
De todo modo, o fazer poético, próprio ao ato 
do poeta, desvela que o material com o qual o poeta 
trabalha, – ao esbarrar no gozo do sem-sentido que se 
infiltra em Lalangue –, é o mesmo do qual o inconsciente 
se serve. Território do desconhecido onde a razão não 
tem vez, justamente porque o sentido aí se desfaz, 
constrangendo o artista e impelindo-o a fazer algo com 
isso que lhe escapa. 
Seja como for, Rimbaud rompeu com as formas 
clássicas da poesia metrificada e versificada, reinventando 
a lógica e a sintaxe, inaugurando uma nova maneira de 
fazer poesia. Fazer poético que muito nos lembra o 
trabalho operado por Clarice Lispector, cuja potência 
subverteu o campo literário, reinventando-o, enquanto 
signo de um novo amor que fez emergir um laço novo; 
um novo laço social que aflora enquanto acontecimento 
de discurso, efeito do encontro com o Real. 
Acontecimento que impulsiona uma torção na 
ordem vigente, de maneira imprevista, determinando um 
novo começo, novamente. Fruto de um amor que é pura 
contingência, capaz de transformar nossos destinos, como 
Sendo assim, a “razão” sobre a qual Rimbaud bem profetizou Rimbaud. 
BIBLIOGRAFIA: 
FORESTIER, L. Oeuvres complètes/correspondance. Paris: 
Robert Lafont, 2004. 
BADIOU, A. L´étique; essai sur la conscience du Mal. Paris: 
Hatier, 1993. 
BERNARDES, A. Um amor reinventado: a arte do poeta e o 
discurso do analista. In. MELLO, M e JORGE, M. (org). 
Psicanálise e Arte: saber fazer com o Real. Rio de Janeiro: 
Cia de Freud, 2009, p. 99-107. 
BERNARD, S. Rimbaud et la création d´une nouvelle langue 
poétique, in Le poème em prose de Baudelaire à nos jours. 
Paris: Nizet, 1959. 
BRUNEL, P. Éclats de violence; pour une lecture 
comparatiste des Illuminations d´Arthur Rimbaud. Paris : 
José Corti, 2004. 
LACAN, J. (1968-69) O ato analítico. (Seminário inédito) 
LACAN, J. (1972-1973) O seminário, livro 20: Mais, ainda. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. 
PORGE, E. Trasmettre la Clinique Psychanalytique – Freud, 
Lacan, aujourd’hui. Toulouse: Éditions Érès, 2005. 
PORGE, E. Transmitir a clínica psicanalítica. Tradução: 
Viviane Veras e Paulo Souza. Campinas, S.P: Editora da 
Unicamp, 2009. 
se refere em seu poema À une raison é signo de um 
novo amor, pois “o amor, nesse texto, é o signo, 
apontado como tal, de que se troca de razão, e é por 
isso que o poeta se dirige a essa razão. Mudamos de 
razão, quer dizer – mudamos de discurso”. (LACAN, 
[1972-73] 1985, p.26). 
Pois bem, dito isto, voltemos a Rimbaud uma 
vez mais. 
Apontando ao que se opera na emergência de 
um novo laço social, Rimbaud sacode as bases do 
racionalismo cartesiano, subvertendo-o, uma vez que, 
ao invés de louvar uma racionalidade amparada na razão, 
ao contrário, Rimbaud se dirige, nesse poema, a uma 
Razão que é de outra ordem. (BRUNEL, 2004, p.218). 
Numa de suas cartas endereçadas a Paul 
Démeny, Rimbaud deixa clara a sua discordância em 
relação ao “penso, logo sou” cartesiano, propondo, em 
contrapartida, a máxima “Eu é um outro”. Para ele, a 
fórmula “Eu penso” é um grande engodo, pois considera 
que, ao invés disso, o que se passa na verdade é da 
ordem de um “Pensam-me”. Ou seja, o Eu, – diz 
Rimbaud antes mesmo que Freud o faça –, é pensado 
por um outro.
Opinias - Setembro 2014 
Por 
DELASNIEVE DASPET 
Poeta, Advogada e Ativista Cultural e Social 
Campo Grande - MS 
daspet@uol.com.br 
Que botox, que cirurgia, que nada! Cheguei aos 62 
anos completamente com 62 anos... Ninguém me dá 
um dia a menos ou a mais. E que bom chegar aos 62 
anos com a cabeça e o corpo de 62 anos. Eu não 
malho. Não tenho saco para isso. Não ando, sou 
preguiçosa... Mas adoro dançar – já quis fazer várias 
vezes um curso de dança... mas, dançar sozinha, ou 
com aqueles meninos... não me dá nenhum tesão, 
então, fico aqui – eu e os meus livros, minhas canetas, 
computador, agenda, e, meu cérebro. Gosto de 
exercitá-lo e faço isso em todos os momentos. Crio, 
recrio, fantasio, valseio, falseio, pazeio... Não bebo, 
não fumo, até comer – não abuso. Não me preocupo, 
nunca me preocupei com qualquer glamour... Mas 
adoro pensar que tenho um pote de ouro no final do 
arco-íris: os meus sonhos, os meus ideais, 
as minhas conquistas. 
Nestes tempos, ridículos, do politicamente correto, me 
pego com saudades do passado quando podíamos 
brincar sem acusações de intolerâncias, de racismo, e 
de tantos outros “ismos” e modismos. Eu, por 
exemplo, acho que todas as diferenças podem 
conviver em perfeita harmonia, e, que o direito de um 
começa onde termina o do outro. Qualquer um tem de 
conquistar o seu espaço respeitando o dos outros, isto 
é, não se pode obrigar ninguém a aceitar nada... pode-se 
esclarecer as coisas, a aceitação ou não vai de cada 
um. Assim é, e, assim deveria ser, sempre. 
Filhos, tenho dois. Um me paparica todos os dias, o 
outro, ocasionalmente. Mas não posso mudar os fatos 
– cada um é como é. Os amigos, conto-os e os 
reconto e alguns podem ser chamados como tais – 
mas com tantos conhecidos – como são poucos, os 
amigos! Mesmo assim, eu continuo a chamá-los para 
que não se olvidem de que estamos juntos 
na caminhada. 
Gosto de movimento... Do vento que balança as folhas 
e faz tilintar os sinos da varanda. Gosto de gatos – 
quando eles ouvem a minha voz – me rodeiam com 
seus miados doces e interesseiros... eu, também, sou 
interesseira, adoro receber seus carinhos 
e acarinhá-los. 
E, o melhor de tudo, é que sou soberana nas minhas 
atitudes e dos meus atos, ainda mais quando nunca me 
preocupei com o que podiam dizer ou pensar de mim. 
Já dei sonoras bananas sem me importar a quem... 
Tenho orgulho de dizer que piorei, sempre falei 
palavrões... com a idade, como bom vinho, melhorei e 
aperfeiçoei... o vocabulário em guarani, 
espanhol, francês... 
Não sou, totalmente, tola... percebo com clareza 
quando me usam... às vezes me deixo trampolim por 
meu interesse. E, quando oportuno, deixo claro, para 
que não pairem dúvidas, sobre o meu realizar. Porém, 
nunca, nunca, nunca, deixo porém o “pé na minha 
onça” e tirar foto... Se fui eu quem a abateu, digo em 
alto e bom som... Não divido meu chapéu. 
Que o tempo continue passando... Que eu possa 
contar ao espelho a história de cada ruga, dos cabelos 
brancos, das mãos envelhecidas, da gordura que 
acumulei, do olhar faceiro; que eu tenha a ventura de 
contar os dias vividos em tão boa companhia e 
parceria, eu tive a sorte de achar o parceiro perfeito – 
que sempre respeitou meus espaços. 
Que eu me complete neste ir e vir, como ondas do 
mar, que vai e vem e sempre morre na praia, como 
lágrimas de espuma que a areia branca se encarrega 
de guardar. Que seja assim, no último alento, quando 
misturada ao vermelho de minha terra, possa voar, 
voar, voar... e, integrar-me ao verde de nossos 
cerrados, à pureza de nossos rios, ao cantar dos 
pássaros e, quem sabe, camuflada como um urutau, 
cantar em noites de lua cheia as saudades 
que deixei na terra. 
En 
velhe 
cendo 
Opinias - Setembro 2014 
23
Rito de 
PASSAGEM 
Por 
ELIANA MORA 
Jornalista e poeta 
Juiz de Fora - MG 
elianamora@uol.com.br 
A palavra espera 
tem o poder de transformar-se em 
algo 
líquido 
quase amorfo 
consegue adaptar-se às paredes do 
cérebro 
da garganta 
do coração 
escorrer pelas veias e concentrar-se 
em local desconhecido 
a palavra pede 
precisa transformar-se novamente em 
algo 
que possui sons e feitios 
para logo após diluir-se no ar 
não sem ter encontrado 
seu destino 
[ao menos o daquele momento] 
o silêncio se arruma em torno dela 
novamente 
e as construções das letras aí iniciam 
sua expansão 
concentram-se 
dilatam-se 
até sua generosa saída para o mundo 
aí, então, completamente 
amadurecidas.

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Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014

  • 1. Opinias UMA REVISTA DE IDEIAS, PENSAMENTOS E PONTOS DE VISTA CULPADO OU INOCENTE? GRAMSCISMO A revolução silenciosa RIMBAUT Um olhar fotográfico JAPÃO A delicadeza de um povo Ano I - nº. 4 Setembro - 2014 O PODER DO JÚRI PARA FAZER JUSTIÇA EM NOME DA SOCIEDADE
  • 2. Opinias - Setembro 2014 2 Editorial Sumário Herança possível Qual o legado que pretendemos deixar para nossos descendentes a fim de que possamos cumprir a missão de tornar melhor a sua vida? Temos realmente essa missão ou isso é um problema das gerações que irão nos suceder? Como, então, pretendemos deixar as marcas de nossa passagem por este mundo? Que temos feito para o bem ou para o mal da perpetuação da humanidade? Qual nosso compromisso, afinal, para com um universo tão vasto e complexo, para que nossa passagem por ele tenha valido a pena? Claro que não temos as respostas para tudo isso. Cada um a seu modo imagina estar cumprindo o seu papel. Esse questionamento, no entanto, é vital para que encontremos algum sentido em nossas atitudes e posicionamentos. Nosso grande trunfo, talvez, seja apenas o de termos sido dotados do “ânimo vital”. Temos um poder inimaginável de discernir, discutir e agir, de analisar refletir e conjecturar, avaliar, decidir e, enfim, interferir nos destinos de nosso universo. Nossa missão é repleta de paradoxos, dúvidas e medos. Mas é bem por tudo isso que a vida é essa aventura tão maravilhosa. Novamente OPINIAS convida a todos os seus leitores a algumas reflexões e a uma análise sobre alguns pontos de vista de pessoas que pretendem deixar alguma herança possível a seus semelhantes. Por bem ou por mal, a humanidade caminha. Em meio a guerras, injustiças, doenças e todo tipo de surpresas. E ainda assim sobrevivendo e se multiplicando, conforme os desígnios de um Grande Arquiteto, no qual muitos nem acreditam. Mas, ainda assim, somos todos bem semelhantes entre nós e compartilhamos o mesmo habitat, seja lá quem o tenha criado. E quanta diversidade há nisso, não é? Desafios não nos faltam e um deles é tentar fazer o melhor bem possível à humanidade, pelo aperfeiçoamento de nós mesmos! MARCOS GIMENES SALUN Jornalista São Paulo - SP msalun@uol.com.br Participe! Expediente Envie seu artigo ou comentários e embarque nesta aventura: rumoeditorial@uol.com.br 03 Drogas 08 Yoga 10 A análise de Carlos Galvão para um problema cada dia mais preocupante na sociedade. Gramscismo 04 Adalto Barreiros descreve e detalha a teoria e o projeto de dominação concebido pelo filósofo italiano Antonio Gramsci. Eliana Veridiano Japão 09 Internet Luciana Gomes Gimenes O fotógrafo Marcos Seyde registrou momentos de rara beleza do Japão. O poder do júri 12 A promotora Marlusse Pestana Daher fala sobre a atuação do júri popular como instrumento de justiça. Decanters Carlos Eduardo de Oliveira trata nesta edição do correto uso dos decantadores de vinhos O falar do povo 18 No dicionário de Paulo Camelo, tudo o que o povo pernambucano tem de peculiar no seu linguajar do dia a dia. 16 20Rimbaud Luciana Brandão Carreira faz um estudo sobre este poeta francês que, ainda jovem, escreveu boa parte de sua obra. Envelhecer 23 Delasnieve Daspet narra sua própria experiência com o envelhecimento numa crônica irreverente e bem humorada. 24 Rito de Passagem A delicada poesia de Eliana Mora vai da palavra ao silêncio, fechando esta edição com suavidade. OPINIAS - ANO I - nº. 4 - Setembro 2014 - Publicação virtual mensal da Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. * Diretores: Marcos Gimenes Salun, Luciana Gomes Gimenes e Naira Gomes Gimenes * Editor e Jornalista Responsável:: Marcos Gimenes Salun (MTb 20.405-SP) * Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). *Redação e Correspondência: Av. Prof. Sylla Mattos, 652 - conj.12 - Jardim Santa Cruz - São Paulo - SP - CEP 04182-010 E-mail: rumoeditorial@uol.com.br - Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815. BLOG: http://opinias2014.blogspot.com.br/ * Colaboradores desta edição: Carlos Augusto Ferreira Galvão (SP), Adalto Luiz Lupi Barreiros (SP), Eliana Veridiano dos Santos (SP), Luciana Gomes Gimenes (SP), Marcos Seyde (Toyota - Japão), Marlusse Pestana Daher (ES), Carlos Eduardo de Oliveira (SP), Paulo Camelo (PE), Luciana Brandão Carreira (PA), Delasnieve Daspet (MS) e Eliana Mora (MG). Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores a quem pertencem todos os direitos autorais. PERMITIDA a reprodução dos artigos desde que citada a fonte e mencionada a autoria.
  • 3. Opinias - Setembro 2014 3 Por CARLOS AUGUSTO GALVÃO Psiquiatra São Paulo - SP carlosafgalvao@terra.com.br Inicialmente se faz necessário retirar este rótulo da juventude: há muito que as drogas ilícitas estão disseminadas por todos os extratos sociais, todas as faixas etárias, enfim espalha-se por toda a humanidade. Então é profundamente injusto ver o uso de entorpecentes como atividade própria dos jovens. Em meu consultório, não é raro aparecerem pessoas com mais de 50 anos, em busca de apoio psiquiátrico para livrar-se de dependências químicas, pessoas que, porém, conseguem trabalhar, manter um nível social adequado, mas que devido à dependência, assustam-se com o futuro e com a possibilidade de “perderem o controle”. Todos comungam com o medo do que pode acontecer caso não haja êxito terapêutico. Morrem de medo do escândalo social caso sejam descobertos, das implicações jurídico/criminais (que pode arruinar uma reputação), da fragilidade a que se expõem na hora de comprar estas substâncias, das balas dos traficantes... Tenho observado, sim, que o indivíduo, na grande maioria dos casos, chega à maturidade trazendo um vício adquirido na juventude. Podemos dizer, no entanto, que os adolescentes são os mais expostos à incidência dessas afecções, por uma série de fatores oriundos das próprias características da juventude (curiosidade, instabilidade emocional, imaturidade, aventureirismo etc...) ; então todas as formas de combate à drogadição devem ter como alvo prioritário o público jovem devido à vulnerabilidade desta faixa etária, e aí entra a família como importante ator tanto na profilaxia quanto na terapêutica deste flagelo da humanidade. Também é comum receber, em meu consultório, pais alarmados com filhos que mudam bruscamente de comportamento, declinam no rendimento escolar, tornam-se agressivos e irritadiços... Imaginam logo que o rapaz (ou a moça) estão envolvidos com entorpecentes. Há famílias com dificuldades imensas de comunicação entre as gerações, o que dificulta muito a observação e identificação de problemas nos mais novos, e aí pode estar o “caldo de cultura” favorito para o surgimento da afecção. Manter diálogo com os filhos, procurar entender seus gostos e desgostos, suas aflições (muitas vezes insignificantes quando observadas de fora), suas atividades e comportamentos tanto escolares quanto fora da escola, e, sobretudo, seus amigos e sua “turminha” é muito importante para manter a saúde social de uma família de uma maneira geral, e detectar o surgimento de problemas com os jovens, inclusive drogadição. Há, porém, que se manter o bom senso de não agredir o filho com observação muito ostensiva, que pode simplesmente fazer efeito contrário (o jovem passa a se esconder) e quebrar o diálogo. Não dá para erradicar esta doença do planeta sem o engajamento profundo das famílias, em interação com as autoridades sanitárias. Drogas 3
  • 4. Opinias - Setembro 2014 4 Por ADALTO LUIZ LUPI BARREIROS Militar da Reserva do Exército Brasileiro São Paulo - SP allbarreiros@gmail.com Sobre a revolução GRAMSCISTA no Ocidente Trata-se de história de como, a partir do Manifesto Marxista de Marx e Engels, começou a opor-se ao capitalismo uma teoria que preconizava o fim do capitalismo e a exploração dos trabalhadores pelo capital. O cenário era favorável (devido às condições dos trabalhadores na Europa) a uma ideia que estava fundamentada em dois princípios: o determinismo histórico – que apregoava o fim inevitável do capitalismo e a mais-valia que preconizava que a força do trabalho era o fator mais importante na produção e, portanto, deveria ter a prevalência sobre ela, devendo toda propriedade pertencer ao trabalhador (ou seja, a um Estado que representasse a classe trabalhadora). Estes princípios implicavam na extinção da propriedade privada e na coletivização de tudo, não só dos fatores da produção, mas da produção em si. Tudo passaria a pertencer ao Estado. Não vou detalhar a história. É preciso conhecer a revolução russa que implantou o comunismo e criou a União Soviética e depois se estendeu para o Leste europeu e para a Ásia com a revolução maoísta na China e na Indochina, até sua derrocada no final do século passado, com a queda do Muro de Berlim. Essa história perpassa a história da 2.ª Guerra Mundial e as suas causas e consequências. O importante é que estas revoluções comunistas seguiam o princípio da “tomada do poder pela força, com uma insurreição armada da classe trabalhadora contra a classe dita dominante – Revolução do Proletariado”. Isto era feito seguindo orientações das Internacionais que disseminavam as ideias marxistas, dando à Revolução do Proletariado seu caráter internacionalista. A palavra de ordem era: Trabalhadores do mundo uni-vos! No meu testemunho à História Oral do Exército, conto como ocorreu esse internacionalismo no Brasil. Antonio Gramsci foi um filósofo, político, cientista político, comunista e antifascista italiano. Nasceu em 22 de janeiro de 1891 e morreu em 27 de abril de 1937. Em 8 de novembro de 1926, a polícia fascista prendeu Gramsci e, apesar de sua imunidade parlamentar, levaram-no à prisão. Recebeu uma sentença de cinco anos de confinamento e, no ano seguinte, uma sentença de 20 anos de prisão em Turi, perto de Bari. Um projeto para trocar prisioneiros políticos entre a Itália e a União Soviética falhou em 1932. Dois anos depois de ser libertado por Mussolini, ele morreu sem ver a sua teoria comunista para a Europa dominar as Internacionais. Depois do colapso da União Soviética é que suas ideias foram ressuscitadas e dos “Cadernos do Cárcere” cuja teorização fora expandida nos meios intelectuais por marxistas tradicionais e notórios pelo mundo afora, é que os comunistas passaram a adotar a nova metodologia de conquista do poder. Antonio Gramscis ANTECEDENTES IMEDIATOS Em 1922, devido à corrupção política e às eleições fraudadas, bem como a situação do país, os chamados “tenentes” que já haviam se revoltado contra o governo com o movimento dos “18 do Forte Copacabana”, acabaram por provocar nova revolta que visava pôr fim à corrupção política e aos costumes fraudulentos nos governos do país. Essa revolta acabou por desembocar na Revolução de 24 em São Paulo e na Coluna Prestes que durou cerca de 4 anos e percorreu 26.000 km pelo país, lutando contra as Forças Legais do Governo. É desse movimento dos Tenentes que surgiu Luiz Carlos Prestes - um Capitão do EB que se converteu ao comunismo e acabou sendo o principal líder comunista brasileiro. Cumprindo a orientação da III Internacional e financiado por ela, ele acabou chefiando e gerando a Revolução Comunista de 35, um triste episódio de traição e assassinatos nos quartéis, visando a tomada do governo pelos comunistas sob a inspiração dos princípios da Revolução do Proletariado. É história que conheço bem, mas que precisa ser pesquisada para entender como foi e o que causou, bem como suas consequências. A Revolução de 35 ocorreu na ditadura Vargas que fora implantada com a Revolução de 30, apoiada pelos Tenentes e acabou prolongando a ditadura Vargas que durou até 45, quando as Forças Armadas, voltando da Itália, depuseram Getúlio e deram eleições livres no Brasil. Os “tenentes” de
  • 5. Opinias - Setembro 2014 5 22/24 deram origem aos líderes militares que derrotaram os comunistas em 35 e que, também, deram fim ao chamado Estado Novo sob a ditadura Vargas que havia se consolidado com a Carta Constitucional outorgada por ele - a chamada Carta do Estado Novo de 1937. Essa Constituição foi o resultado do golpe comunista de 35, bem como a prorrogação do Estado Novo até o fim da guerra. Em 64, o que houve foi nova tentativa dos comunistas tomarem o poder e houve a contrarrevolução de 64, impedindo de novo esse assalto ao poder que contava com a conivência do próprio Vice-Presidente que acabara na função presidencial com a renúncia do Presidente Jânio Quadros (outro que queria implantar uma ditadura). Jango Goulart era um herdeiro político de Getúlio que se comprometera com as tais reformas de base defendida pelos comunistas e com eles mesmos que o apoiavam. Eles diziam que já estavam no poder e só faltava tomá-lo. É história sobre a qual é preciso conhecer. Não vou detalhar. É assunto para se estudar história, com isenção e livre de propaganda ideológica que voltou a todo vapor hoje no gramscismo. ENFOQUE DIFERENCIAL Aqui trataremos do diferencial como o Ocidente interpreta a estrutura da sociedade (ou nação), os preceitos da democracia representativa e como é tratada e operada pela metodologia gramscista. Este diferencial é básico para se entender o processo. Além disso, permite que se identifique nos fatos da conjuntura nacional cada um desses mecanismos que são aplicados. O espaço nacional de uma nação na democracia é visto como um agrupamento de cidadãos numa área territorial organizada pelo Estado nacional, com uma língua, um destino e interesse comuns, identificados pela sua herança histórica. Já no gramscismo é apenas um espaço não estatal onde se disputa a hegemonia sobre os grupos privados onde a identidade coletiva deve ser fragmentada para se controlar os diversos aparelhos privados desses grupos. É um lugar de luta pela hegemonia sobre as classes ditas subalternas e a partir deste controle projetar essa hegemonia sobre o Estado. A sociedade é um “ringue” de lutas de classes e não o lugar de exercício da soberania popular que é garantida pelos direitos e obrigações individuais que os tornariam iguais perante as leis. Na democracia a sociedade dita nacional é o lugar onde se busca a redução das desigualdades, a liberdade (em seu sentido filosófico), a dignidade humana, e onde a individualidade de cada um é imaculada. No gramscismo é a arena de luta pela hegemonia onde se dá a primeira etapa do processo. Na sociedade civil gramscista, desenvolvem-se os aparelhos privados de hegemonia política e cultural. É onde nasce a direção política dos intelectuais orgânicos que são os condutores do processo e onde se cria as bases para a hegemonia e para a gestão popular do poder – uma utopia, pois sempre uma classe privilegiada vai ser selecionada para dirigir – a nomenklatura! Ela existiu em todos os países onde há o regime comunista. Basta olhar para dois exemplos atuais. China e Cuba. Só o membro do partido hegemônico tem prerrogativa plena de cidadania. É fundamental entender essas diferenças de como uma sociedade na democracia (a nacional) e no gramscismo (a civil) é interpretada. Esse é o princípio básico para se entender o que é o processo! Uma das razões de se ouvir hoje falar muito em sociedade civil decorre deste fundamento. Pode-se facilmente identificar em fatos cotidianos essas diferenças de enfoque entre mecanismo de democracia e de gramscismo. Por exemplo: responder por que há tanto conflito social no Brasil em torno de centenas de temas e grupos sociais! Seria porque a sociedade é uma “arena” de lutas de classes e não um espaço de busca de consenso e paz social? FATORES DETERMINANTES São cinco os fatores determinantes do processo: 1) Organizar um centro de irradiação (o partido das classes subalternas) capaz de disputar a hegemonia com as classes dominantes e dentro dela com a classe dirigente. Isto é feito a partir de diretrizes dos núcleos de “intelectuais orgânicos” que são encarregados das “impregnações” culturais que visam basicamente o que se conhece por “controle hegemônico das classes subalternas”. 2) Mudar o consenso social, pela preparação ideológica das classes subalternas, criando as condições para disputar a hegemonia pelas classes subalternas e neutralizar o poder de coerção do Estado. Isto é feito pela infiltração de executores das diretrizes dos “intelectuais orgânicos” em todos os organismos da nação, em particular nas escolas, na mídia, nas chamadas “comunidades” etc. 3) Usar a estrutura (a economia) e a superestrutura (o estado) para criar o que se chama de Estado Ampliado, de forma que possa haver a CATARSE. No momento em que o poder estiver sob controle da sociedade civil “modificada” e da sociedade política devidamente aparelhada, será realizada a tomada do poder e mudança da estrutura vigente e dos valores, criando a sociedade coletiva. Assim, se usa os instrumentos do capitalismo vigente para se aparelhar o estado (a superestrutura) e para criar associações entre essa superestrutura e os entes econômicos, de forma que sejam preservados os princípios capitalistas, até que possa ocorrer a “catarse”. Isto é feito por etapas. 4) Usar as instituições nacionais e os parâmetros do capitalismo, para mudar o sistema político e o regime democrático a partir de suas próprias entranhas. Este é o fator direcional básico e fundamental. Fala-se permanentemente em democracia e ampliação de benefícios à sociedade subalterna até que ela seja instrumento controlado do partido hegemônico que é responsável pela condução política do processo. 5) Assumir o controle do Estado. Aparelhar esse Estado com os intelectuais orgânicos e com os militantes do partido hegemônico das classes subalternas. Isto garante não só a condução do processo, como minimiza o uso da força. O aparelhamento do Estado implica em infiltrar os executores do
  • 6. Opinias - Setembro 2014 6 GELADA 6 processo em todas as instituições do Estado e nele implantar os mecanismos e instrumentos que garantam o controle da superestrutura (o Estado). Todos esses fatores estão baseados na definição da HEGEMONIA. Veja cuidadosamente o conceito de hegemonia que envolve duas “sociedades” – a civil e a política. A sociedade civil é a classe subalterna. É a arena da luta. A sociedade política que será posteriormente alvo do controle na etapa seguinte é a “superestrutura” do Estado. A primeira – a civil – é objeto dos aparelhos privados de controle e a segunda – a política – é objeto do partido hegemônico. A direção política diz respeito à superestrutura e a direção cultural, numa primeira etapa, aos aparelhos privados e numa segunda etapa passará a receber direção da própria “superestrutura”. Veja o caso, por exemplo, do MEC passar a distribuir cartilhas de homossexualismo nas escolas de 1.º Grau, a título de combate à homofobia! A hegemonia é obtida por vários meios. A quebra da herança histórica é uma alavanca mestra. Quinhentos anos de história são “o lixo” a ser oxigenado. A fomentação de dissensos sociais entre minorias étnicas, de opção sexual, segmentos religiosos, de costumes etc., bem como de desconstrução de mitos históricos para substituí-los por mitos ideológicos. Entre outros meios está, também, a fomentação de debates sobre “falhas” das instituições do estado e ataques permanentes àquelas que são, por herança histórica ou por fundamento democrático, mais adversas ao processo de poder. A concepção de liberdade está restrita à “libertação” das classes subalternas depois de ocorrer o controle hegemônico. Enquanto essa libertação não ocorre não existe liberdade. Diferente do conceito na democracia, a liberdade só é inerente a ela quando as classes subalternas e seu partido hegemônico tiverem conquistado a sociedade civil e a política (ou seja, a hegemonia sobre a sociedade civil e a superestrutura, o estado). Tanto nessa concepção de liberdade como de democracia o partido é o centro diretivo do processo e instrumento ativo do processo. Ele é a expressão da sociedade civil libertada do conceito de liberdade e democracia, tal como esses conceitos são vistos nas democracias ocidentais. CATARSE Acima dei o exemplo do MEC passar a distribuir cartilhas de homossexualismo nas escolas de 1.º Grau, a título de combate à homofobia, para ilustrar como, após o aparelhamento do Estado, ele mesmo passa a atuar em reforço aos aparelhos privados de hegemonia! Veja um exemplo em http://www.youtube.com/watch?v=S63PlEIHdnA . Nesta etapa a “superestrutura” já aparelhada passa a reforçar os “aparelhos privados” de hegemonia. Podem ser aparelhos privados de hegemonia os sindicatos, movimentos sociais (com personalidade jurídica própria ou clandestinos, como o MST, M sem Teto, Força Campesina etc.), ONGs, associação de classe (como a UNE, a UBES ou qualquer outra de qualquer tipo), instituições de classe (como o é a OAB), grupos representativos de minorias (como os movimentos GBLST, Blogues, mídias virtuais etc.). Relembro que a liberdade, cujo conceito na cultura judaico-cristã se refere ao indivíduo como ser único, é regido pelo princípio fundamental das democracias. O cidadão pode fazer tudo o que a lei não proíba e o Estado só pode fazer o que a Lei manda. A liberdade no gramscismo se refere ao ser coletivo que emerge da classe subalterna quando é ela sujeita ao controle hegemônico. Só esse ser coletivo é livre e a liberdade a ele se refere. O binômio “sociedade civil + sociedade política” é objeto assim de um conceito estratégico que preconiza etapas até a CATARSE. Desse conceito estratégico, decorrem as diferenças entre princípios da “Revolução do Proletariado” tal com ocorreu em 1917 na Rússia e era preconizado pelo Movimento Comunista Internacional (MCI) e a Revolução na forma atual, para implantar regimes comunistas. Estas diferenças podem ser resumidas: No marxismo-leninismo tradicional, as condições objetivas se situam nas condições da classe trabalhadora (nas injustiças sociais do capitalismo e na exploração da mais-valia na força de trabalho) e as subjetivas nas formas da democracia burguesa e na inércia e conformismo das “classes subalternas”. Com estas condições, cria-se a crise institucional e se sujeita o capitalismo ao “determinismo histórico” (seu fim porque contém o DNA da autoextinção). Através da violência revolucionária, criam-se os focos de insurreição e se assalta o poder pela força das armas, expropriadas das instituições do Estado que detém o monopólio do uso da força. Cria-se o Exército Revolucionário constituído das “classes subalternas”. Este exército atuará contra as “burguesias” esmagando-as e expropriando os seus bens privados. É esse uso da força das armas que cria o Estado Ampliado onde, da crise orgânica surge o Estado Classe (a do proletariado), onde é implantada a “ditadura do proletariado”. Nesta fase estatal é que se vai ao socialismo e dele para a catarse. Na experiência
  • 7. Opinias - Setembro 2014 7 prática dos regimes comunistas, esta fase estatal, como a sucessiva – a do comunismo – é que se instala a nomenklatura (ou classe dirigente) que são os membros do partido comunista. Todos os partidos são extintos e surge o Partido Único. Nessa fase é que sucedem as exterminações em massa e as depurações. No gramscismo a primeira fase – econômico-corporativa – o regime mantém a face do regime liberal democrático, enquanto se luta pelo controle hegemônico através da penetração cultural que envolve todas as formas, instrumentos e mecanismos que foram citados no “conceito da hegemonia”, acima, e como eles agem. A ação é, portanto, sobre o binômio “sociedade civil x sociedade política”. Na primeira agem os aparelhos privados de controle inicialmente, na busca do novo consenso e na segunda agem o partido hegemônico e os intelectuais orgânicos. Ambas buscam a direção moral e cultural do binômio, a partir do controle hegemônico e para completar esse controle. Desse “consenso” se vai então criar o Estado Ampliado, onde a crise orgânica decorrente vai fazer surgir o Estado-Classe e a Ditadura do Proletariado, exatamente como na metodologia do marxismo-leninismo. Esse “consenso” implica em destruir valores para substituí-los por novos! A primeira fase, que é diferente em cada uma das formas de implantação de regime comunista, mostra a criação do partido hegemônico (o partido-classe) que através dos intelectuais orgânicos implanta e dá curso à fase “econômico-corporativa” usando todas as franquias do regime liberal democrático, seus princípios, fundamentos, mecanismos e instrumentos. CONSENSO Vejamos como se dá a 2.ª Fase, a partir do regime liberal democrático, seus princípios, fundamentos, mecanismos e instrumentos. Nesta fase se reitera insistentemente os valores democráticos e as lutas pela redemocratização. Tudo é feito em nome da democracia. Nela os aparelhos privados que se inseriram em toda e qualquer instituição da sociedade começam a “organizar” a sociedade civil – onde se vai buscar a hegemonia sobre as classes subalternas – a arena onde se disputa o controle sobre as classes ditas dominantes. Nela a hegemonia é buscada pela superação do senso-comum, ou seja, pela superação dos valores em que se baseou a herança cultural na formação da nação e, ao mesmo tempo, pela conscientização política ideológica das classes subalternas. Na primeira “reforma intelectual e moral” – a superação do senso-comum – se busca a virtual e real destruição dos mitos, heróis, versão histórica e/ou consciência histórica que formou a nacionalidade, bem como dos valores judaico-cristãos em que se baseou. Na segunda forma de “reforma intelectual e moral” – a conscientização ideológica – se implanta por todos os meios possíveis, exatamente usando os princípios democráticos fundamentais (liberdade de expressão, liberdade da imprensa, direitos humanos etc.) a nova ideologia. Nesta área de busca de controle hegemônico, é comum o uso das “falhas” do sistema econômico e das instituições do Estado para “vender” a visão da “utopia da igualdade absoluta” e do paraíso “socialista” que é prometido. Nela começam a se intensificar ä “luta de classe” e a fragmentação social tanto pela ruptura dos valores do senso-comum, como pelo confronto de minorias étnicas, de opção sexual, religiosa etc. É uma fase em que as instituições que são óbices a esse esforço, pela sua doutrina ou pela sua sujeição aos dispositivos legais, ou, ainda, pela sua herança histórica ideológica (como é o caso das FFAA, por exemplo) são alvo de esforços sucessivos de separação da população (quebra de consenso sobre o que elas representam à nação e sobre o conceito que gozam junto a ela). Com estes dois instrumentos da reforma intelectual e moral da sociedade se constrói o CONSENSO. O que seria esse consenso? É a nova estrutura de valores em que a sociedade civil se organiza, na medida em que os valores deteriorados do senso-comum foram alijados da cultura nacional. É o surgimento da nova cultura. É preciso ressaltar que não se trata de evolução dessa estrutura, decorrente das mudanças sociais a que toda sociedade se sujeita ao longo da vida. Trata-se de construir uma nova tábua de valores que visa tão somente a neutralização do aparelho hegemônico do Estado nacional enquanto este organiza a nação. O que se visa é a desestruturação do próprio Estado, de forma que ele se torne (como superestrutura) presa do mesmo esforço, quando as “trincheiras” da sociedade liberal-democrática estiverem enfraquecidas. Formado o novo consenso, o esforço irá se dirigir à neutralização desse aparelho do estado – a superestrutura, uma vez que ele detém o monopólio da força e da violência que lhe dá o poder de coerção. Assim, o que se identifica por “grupo dominante” (a massa crítica da nação) estará sujeita à tomada e à derrota. Quando isto ocorre temos o Estado Ampliado. Nele a sociedade civil e a sociedade política estarão integradas. Estão sob o mesmo tipo de controle hegemônico. Ou seja, o binômio se unifica sob o controle do partido hegemônico que passa a deter a direção moral e política. Nesse binômio já unificado tanto uma como outra (sociedade civil e sociedade política) estarão sob domínio da Sociedade Ampliada, condição necessária para a 3.ª Fase. Sociedade Ampliada é sinônimo de Estado Ampliado e é o objetivo desta fase. Em todos os casos de aplicação desse processo de poder, são identificáveis os 4 (quatro) meios de aparelhamento do estado. Esse aparelhamento ocorre não só por integrantes do partido hegemônico, mas também por “forças aliadas” que, muitas vezes, dissimulam uma “oposição política” ao partido hegemônico e também por “forças” e “organizações sociais” que podem ou não estar de acordo com as leis ainda vigentes. Neste processo é comum o próprio Estado Ampliado passar a financiar estas “outras” forças, tanto por meios legais como por meios ilegais, bem como receber financiamentos de centros de poder externo. A corrupção nesta fase assola o Estado e alimenta, com essa forma de criminalidade institucional, a criminalidade social que vai ajudar a fragmentar a sociedade civil, mantendo-a sob controle hegemônico.
  • 8. Opinias - Setembro 2014 8 Yoga Equilíbrio para o Por ELIANA VERIDIANO Personal Treiner São Paulo - SP elibenessere@gmail.com CORPO A expectativa de vida aumentou nos últimos tempos. As pessoas vivem mais, seja graças ao avanço de tecnologias que propiciam melhor qualidade de vida, seja graças às campanhas que visam motivar as pessoas a cuidarem melhor da saúde e do bem-estar. Contudo, diante de influências culturais, sociais ou financeiras, o ser humano às vezes se perde em angústias decorrentes da agitação do dia a dia e de seus afazeres, o que acaba causando o estresse. E com isso desenvolve ou adquire doenças, inclusive as psicossomáticas. Daí a importância de procurar alternativas como a prática da atividade física, bem como a conscientização de viver com qualidade e bem-estar físico, mental, emocional e espiritual. Uma dessas alternativas está na prática do Yoga. A utlização de suas técnicas auxilia no autoconhecimento com maturidade, consciência e com respeito à integridade física, influenciando nos aspectos comportamentais. YOGA Surgiu há mais de 5.000 anos na Índia, e foi transmitido oralmente até próximo do ano 400 a.C., quando foi codificado por PATANJALI nos Yoga Sutra, onde dizia: “Saber relaxar bem é saber viver bem.” É o equilíbrio perfeito entre o corpo e a mente, autossuficiência, bem-estar e satisfação. Integração, união e prática; a força, o poder e a energia. É uma ciência ancestral, que auxilia no autoconhecimento, com maturidade e consciência. BENEFÍCIOS DA PRÁTICA *Melhora da força muscular; *Melhora da flexibilidade articular e postura corporal; *Aumento da capacidade de concentração e percepção; *Afloramento da sensibilidade, espiritualismo, autoestima e desinibição; *Prevenção de doenças; *Influencia o indivíduo a adquirir um estilo de vida mais saudável; *Promove o bem-estar e a qualidade de vida. HATHA YOGA O “Yoga Vigoroso” ou “Hatha Yoga” é oriundo da época medieval. Seu objetivo supremo é idêntico ao de todas as formas autênticas de Yoga: “transcender a consciência egoica e realizar o Si Mesmo, a Realidade Divina”. “Ha” é o princípio solar e “Tha” é o princípio lunar – é portanto uma fusão dos princípios positivo e negativo, masculino e feminino. Trabalha para fortalecer o corpo.
  • 9. Opinias - Setembro 2014 9 Por LUCIANA GOMES GIMENES Administradora de empresas e Coordenadora de compras São Paulo - SP lucianagg@uol.com.br NETDicas e links Nesta edição selecionamos mais três opções para você se divertir passeando na rede: uma para quem gosta de música e poderá curtir 1001 álbuns diferentes, altamente recomendados, tudo on-line; outra para quem tem curiosidade sobre (quase) tudo, inclusive cultura inútil; e finalmente uma dica para quem quer saber mais sobre a grande Clarice Lispector. Navegue à vontade e boa diversão! PARA OUVIR ANTES DE MORRER A rádio romena 3 Net disponibiliza os álbuns do projeto “1001 Álbuns Para Ouvir Antes de Morrer.” do livro homônimo do jornalista Robert Dimery. Do rock ao pop, são apresentados os melhores álbuns dos últimos 50 anos. Você vai encontrar de Frank Sinatra a Arcade Fire. Artistas brasileiros como João Gilberto, Tom Jobim, Caetano Veloso, Astrud Gilberto, Bebel Gilberto, Mutantes, Chico Buarque, Elis Regina, Jorge Ben Jor e Sepultura também estão presentes.Para ouvir, basta clicar no CD desejado e aguardar o player no canto superior direito do site. O projeto ainda não está disponível para plataformas móveis. OUÇA: http://www.radio3net.ro/play# PARA TODOS OS CURIOSOS Se há um lugar na internet onde você vai encontrar informações e curiosidades sobre praticamente tudo, este se chama “Guia dos Curiosos”. Alí o jornalista Marcelo Duarte juntou, como parte de seu amplo projeto editorial que abrange livros e outras midias, todo tipo de notas sobre animais, cultura e entretenimento, literatura, esporte, variedades, futebol, datas e comemorações, enfim... É um universo a ser explorado por quem tem curiosidade e pretende matar a curiodidade com diversão garantida e bons momentos de lazer. BISBILHOTE: http://www.guiadoscuriosos.com.br/ PARA OS FÃS DE CLARICE O Instituto Moreira Sales criou um site dedicado exclusivamente a Clarice Lispector. Em suas páginas, há uma cronologia ilustrada; obras comentadas; destaques do acervo que está sob a guarda do instituto; aulas especialmente preparadas por José Miguel Wisnik; traduções comparadas e muitas outras informações que certamente serão úteis e agradarão aos fãs da escritora. VISITE: http://claricelispectorims.com.br/
  • 10. Opinias - Setembro 2014 10 JAPÃO a delicadeza de um povo Por MARCOS SEYDE Fotógrafo Toyota (Aichi - JAPÃO) hannamidori@outlook.com Opinias - Setembro 2014 10 Monte Fuji Kyoto Arashiyama - Floresta de Bambu Sakura Street O festival da Flor de Cerejeira é comemorado com muito entusiasmo. Olá! Sou Marcos Seyde, carioca, e moro no Japão há 12 anos. Quero recomendar um pouco das maravilhas do Nihon que conheci e fotografei para quem vier para cá a passeio ou a trabalho! Monte Fuji É um dos símbolos mais conhecidos do Japão. Está localizado nas Províncias de Shizuoka e Yamanashi. É a mais alta montanha do arquipélago japonês com 3.776 m. Trata-se, na verdade, de um vulcão ativo, mas com baixo risco de erupção, e que, em junho de 2013, entrou para a lista de Patrimônio Mundial da Unesco devido à inspiração que este vulcão despertou em diversas gerações de artistas ao longo dos séculos. Existem cinco lagos ao redor do Monte Fuji. Acredita-se que sua formação deu-se quando as lavas vulcânicas interromperam o curso do rio. No local existe uma variedade enorme de comércio e atrações que variam entre parques temáticos, passeios de barcos e jardins imensos que abrigam um número muito grande de flores e plantas. Floresta de Bambu Sagano Bamboo Forest é uma linda floresta de bambu que cobre uma área de aproximadamente 16 km. quadrados, localizada em Arashiyama, Kyoto.O lugar encanta não só pela sua beleza natural, mas pelos sons produzidos pelo vento soprando por entre as árvores do bambu. Visto como símbolo de resistência, o bambu está presente em todo o Japão, nas artes, nas paisagens, na arquitetura e nos jardins dos Templos.
  • 11. Opinias - Setembro 2014 Matsumoto Castel Sakura O festival da Flor de Cerejeira (Sakura), é comemorado com muita ênfase por toda a população japonesa com seus Hanami (apreciação das flores) ou piqueniques sob a florada. Esse festival é cercado de muitas histórias e crendices do povo japonês que participa sempre com muito entusiasmo e empenho. Essa tão esperada florada dura só de 2 a 3 semanas. Também há as glicíneas, conhecidas como Flor de Fuji, com suas flores e árvores centenárias. Castelo de Matsumoto O Castelo de Matsumoto é um dos 12 Castelos do país que mantém a construção original preservada. Está listado como Tesouro Nacional do Japão. Construído no século 16, tem seis andares e cerca de 30 metros de altura. Outros castelos que devem ser vistos são os de Nagoya, Osaka e de Himeiji, esse usado para as filmagens de “O Último Samurai”. Templo Kiyomizudera É o segundo templo mais antigo da Cidade de Kyoto que abriga 2.000 templos de muita importância religiosa. Esse templo é destaque por ser Patrimônio da Unesco e o salão principal, de nome Hondo, possui uma varanda em um precipício apoiada por 139 pilares e 90 vigas que são encaixadas umas às outras, sem utilizar pregos! Em Kioto também se localiza o pavilhão de ouro Kinkakuji que tem suas paredes folheadas de ouro e seu pavilhão todo dourado, composto de 3 andares com estilos diferentes. O primeiro andar, com estilo de palácio, o segundo com estilo de casa de samurai e o terceiro com estilo de templo zen. Jardins do Castelo de Nagoya Templo Kiyomizudera - Pavilhão Dourado Saiba mais sobre o Japão 11 http://viajeaqui.abril.com.br/materias/atracoes-turisticas-no-japao-especial
  • 12. Opinias - Setembro 2014 12 O JÚRI Por MARLUSSE PESTANA DAHER Promotora de Justiça, radialista, jornalista e escritora Vitória – ES mpdaher@ig.com.br Com a feição mais aproximada da que conhecemos hoje, o júri originou-se na Inglaterra, no período sucessivo ao Concílio de Latrão. Remonta entretanto, ao período áureo do direito romano com os seus judices juratis. Entre os gregos era formado dos diskatas e entre os germanos pelos centeni comites. De início, revelava forte conotação mística e religiosa, tanto que era formado de doze jurados, número que corresponde ao dos doze apóstolos, seguidores do Cristo nos seus dias da Galileia. Chegado à Gália, logrou ser ali rapidamente adotado, uma vez que representou a forma de na época da revolução burguesa, ser manifestado o repúdio e aversão tributada à classe dos magistrados, historicamente vinculada à nobreza e artífice de toda sorte de arbitrariedades. Foi a época das práticas irracionais dos chamados “juízos de Deus” de que os combates judiciários, a imersão em água fervente, a aplicação do ferro em brasa foram algumas das mais bárbaras demonstrações.Da França, disseminou-se por todo o continente. Data deste tempo o direito de dizer, por parte de um Juiz togado, se o réu devia ou não ser submetido ao crivo do julgamento popular. No Brasil, a instituição do júri data de 18 de junho de 1822 e se encarregava do julgamento dos crimes de imprensa. Em 1824, inserido na Constituição do Império, passou a integrar o Poder Judiciário. Pelo Código de Processo Criminal de 1832 e pela reforma de 1871, foi alterado em sua estrutura e competência. Foi mantido na Constituição de 1891 e nas sucessivas, até 1937, quando a Carta foi omissa sobre ele, razão que a fez vir a ser corrigida por um Decreto-Lei, o de n.º 167 de 5 de janeiro de 1938, o qual delimitava a soberania dos veredictos.
  • 13. Opinias - Setembro 2014 13 No capítulo dos direitos e garantias individuais, sua soberania voltou a ser assegurada, seja na Constituição de 1946, seja na de 1967. Consolidado na sua razão de ser, permaneceu, na Constituição de 1988, no título que assegura os nossos DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS – CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS; inciso XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados: a) a plenitude de defesa; b) o sigilo das votações; c) a soberania dos veredictos; d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida. A lei que organiza o júri, na verdade o Decreto- -Lei de n.º 3.689, datado de 03 de outubro de 1941, sofreu no decurso desse tempo algumas modificações. No entanto, não no que a ele se refere. Esse decreto é o Código de Processo Penal e estabelece como competência privativa do Tribunal do Júri, o julgamento dos crimes de homicídio, simples ou qualificado, o infanticídio, o aborto; na forma consumada, isto é, com a culminação do evento morte, ou apenas tentada. Por fim, a conduta tem que ter sido praticada de forma dolosa, isto é, quando há deliberação para sua prática, com o lançar mão ou valer-se de meio idôneo, utilizá-lo e colimar o intento, ou não o colimando que tenha sido independente da vontade do agente. Assim, quando acontece um homicídio, morte de alguém por outrem, a polícia judiciária adotará as providências preliminares. Dirigindo-se ao local, providencia análise das diversas circunstâncias e motivações do delito, identifica o autor e testemunhas que possam informar sobre o fato, remove o corpo para efeito de necropsia, no Instituto Médico Legal, onde existe, na ausência deste, o médico que, sob compromisso, emitirá o laudo respectivo, detalhando as lesões e atestando-as como causa da morte. Tais diligências compõem o inquérito policial que é instaurado mediante PORTARIA de competência do Delegado de Polícia, hoje, bacharéis em direito e com preparação específica ao desempenho do mister judiciário. Quando o inquérito é concluído, o Autor do delito é indiciado e os autos são remetidos ao Juiz de Direito que, por sua vez, determina abertura de vista ao Promotor de Justiça, o qual, formando seu juízo, denuncia o autor. Denúncia é a peça mediante a qual o Órgão do Parquet se dirige ao Estado Juiz, e depois de qualificar o indiciado de forma a tornar inequívoca sua identidade, narra a partir da hora, dia e local em que o delito tiver sido praticado, as circunstâncias em que se deu, as motivações que o rodeiam, o modo com que agiu e todos os demais detalhes, de tal forma que não pairem motivos de suposição ou dúvida, até porque, é nos termos da denúncia que se vai arrimar o contraditório. Vale para a defesa o que estiver escrito. Finalmente, aponta os dispositivos do Código Penal infringidos e requer citação do denunciado para que promova sua defesa como melhor entender; nesta oportunidade, ainda, apresenta o rol de testemunhas a serem ouvidas na fase instrutória processual. O Juiz, recebendo a denúncia, determina a citação do denunciado e seu comparecimento à sua presença para ser interrogado. Nesta oportunidade, ele toma conhecimento formal dos termos da acusação que lhe é feita, apresenta a própria versão para o fato ou de sua conduta, nomeia o Advogado que vai defendê-lo, ou se for pobre, no sentido da lei, tem conhecimento do que lhe é nomeado. É um grande momento do processo, é o momento em que pode falar, depois, estará limitado a ouvir. Tanta é sua importância que só deve ser feito de forma presencial, quando, além de através das palavras, o Juiz pode analisar o interrogando lendo no seu ânimo, deduzindo pelo como se comporta. Quando o inquérito é concluído, o Autor do delito é indiciado e os autos são remetidos ao Juiz de Direito que, por sua vez, determina abertura de vista ao Promotor de Justiça, o qual, formando seu juízo, denuncia o autor.
  • 14. Opinias - Setembro 2014 14 Em seguida, o advogado, respaldando os termos do interrogatório, não concorda ou concorda apenas em parte com a denúncia, apresenta o rol de testemunhas ou requer outras diligências. Geralmente, reserva-se o direito de só fazer conhecida sua tese, a final. Tem início o contraditório, fundamental para a validade de todos os atos. O próprio Promotor que entender pela não defesa de quem é acusado, na sua função de fiscalizar a correta aplicação da lei, deve vigiar neste sentido, ou seja, no sentido de que o contraditório seja potencialmente exercido. São ouvidas as testemunhas arroladas pelo Ministério Público, em seguida, as que a defesa apresentou. Finda esta fase, são feitas as alegações finais pelas partes e mediante o que tiver concluído, à vista do que tiver sido provado, o Juiz proferirá uma decisão de impronúncia ou de pronúncia. No primeiro caso, decide pela absolvição do denunciado e julga improcedente a denúncia; no segundo, reconhece a presença dos elementos constitutivos do dolo, sem aprofundar-se no mérito, mesmo que paire alguma dúvida, neste caso, o in dubio é pro societate, e remete o julgamento ao Tribunal Popular do Júri. Júri popular é, portanto, julgamento de alguém do povo, pelo próprio povo. Em certos casos, até menos, mas o tempo de tramitação de um processo está legalmente previsto, para acontecer em noventa dias. Em toda Comarca, anualmente, são alistados cidadãos entre 21 (vinte e um) a 60 (sessenta) anos de idade, pessoas indicadas pelas diferentes repartições em que trabalham e que vão estar a serviço do júri o que é obrigatório. O exercício efetivo da função de jurado constitui serviço público relevante, estabelece presunção de idoneidade moral, assegura prisão especial, em caso de crime comum, até o julgamento definitivo, bem como preferência, em igualdade de condições, nas concorrências públicas. Os jurados representam a sociedade da qual fazem parte. Quando investidos da função, decidem em nome dos demais. É portanto, o júri, expressão eminentemente democrática, intérprete da vontade do povo, competindo aos que o integram agir de forma independente e magnânima. Por isto, conta com a votação secreta e seu veredicto é soberano. Os sete integrantes do conselho de sentença, sorteados entre os vinte e um convocados para cada sessão, são Juízes de fato. Podem requerer diligências, mais que simplesmente ouvir respostas formuladas pelo Juiz, pela defesa ou pelo Ministério Público, inquirir as testemunhas, valerem-se de quaisquer recursos que os conduzam a um juízo preciso a respeito da decisão a ser tomada. Assim, formam a própria convicção e mediante resposta por um NÃO ou um SIM, cédula que vão depositando numa pequena urna, após cada uma das questões que lhe são propostas, decidem pela inocência ou pela culpa de quem devem julgar. É a eles que se dirigem o Ministério Público e a defesa, cada qual apresentando sua versão da conduta em julgamento. Em número de sete, jamais correm o risco de ocorrência de um empate na votação. O Juiz de Direito que ali está preside a sessão, vela pela ordem e pela normalidade dos atos, mas quando, ao final, vai prolatar a sentença, estará condicionado ao que lhe tiver sido prescrito pelos jurados, nem mais, nem menos. Júri popular é, portanto, julgamento de alguém do povo, pelo próprio povo.
  • 15. Opinias - Setembro 2014 15 Aqui em Vitória, acabamos de acompanhar um julgamento cuja duração, três dias, só tem precedente com o do esquadrão da morte. Refiro-me ao julgamento do líder dos “sem-terra”, José Rainha Júnior.(*) A imputação que lhe é feita data de 1989. As opiniões se dividem. Para uns, é inocente; para outros, é culpado. Culpado ou não, o povo que estava representado pelos componentes do Conselho de Sentença por 4 votos contra 3, pressionado ou não, dizem que atemorizado pela multidão que postou-se na frente e dentro da Catedral Metropolitana, (onde se permitiu fazer nada menos que tudo), disse que é inocente e só restou, ao Juiz Presidente, absolvê-lo. Uma das duas eram as hipóteses do que sucederia: Rainha é culpado ou Rainha é inocente. Condenado, pairaria a dúvida sobre a efetiva realização da justiça, mas não é que não subsista, agora que foi absolvido. Ai é que, ainda que haja divergências entre a culpa e a inocência, num ponto há unanimidade e está na consciência dos longos onze anos que se passaram os quais nos autorizam a voltar a repetir como o fizera Rui Barbosa, na sua Oração aos Moços, (exortação a paraninfados de um curso de Direito): “Mas justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta”. (*) Julgamento realizado em abril de 2000. DAHER, Marlusse Pestana. O júri. Jus Navigandi, Teresina, ano 5, n. 42, 1 jun. 2000. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/1070>. Acesso em: 4 ago. 2014. Muitos já devem ter visto uma imagem ou uma estátua de uma mulher vendada representando a Justiça. O que a maioria não sabe é que essa mulher é a representação de uma deusa greco-romana; chamada pelos gregos antigos de Têmis e pelos romanos de Justiça. Esta era filha de Urano (o deus-céu ou o próprio céu personificado) e de Gaia (a deusa-terra ou sua personificação), sendo, portanto, filha do céu e da terra. Têmis era a deusa da justiça, da lei e da ordem, sendo também a protetora dos oprimidos, e a própria personificação do Direito, apoiada nos costumes e nas leis. Em regra, é representada por uma mulher vendada, onde a cegueira significa que a justiça não diferencia as pessoas, ideia que já era concebida pelos romanos antigos e que se encontra manifesta em nossa Constituição Federal (lei maior que determina todo o funcionamento do Estado brasileiro e o modo de suas leis): Art. 5.º, caput : Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (…). Na figura de Têmis, ainda podemos encontrar outros elementos de forte simbolismo e o segundo que merece ser mencionado é a balança, que, assim como a venda, sempre está presente em sua representação. A balança tem o significado do equilíbrio (equidade) que a Justiça deve ter, representa o próprio conceito de justiça como pensado por Aristóteles na distante Grécia antiga: dar a cada um o que é seu proporcionalmente as suas necessidades. Colocando pessoas de níveis diferentes em situação equivalente. São exemplos clássicos da manifestação deste conceito na justiça brasileira o direito do trabalho e do consumidor, que têm o objetivo de proteger aquele mais fraco na relação (o trabalhador e o consumidor). Há ainda outros dois elementos na figura de Têmis de significado pertinente: o que ela segura na outra mão, que às vezes é a espada e outras a lei. Quando é a espada, diz-se que é o próprio peso da lei (ou seus meios de punição) aguardando para atuar diante de seu descumprimento; quando é a lei, o significado não muda muito, pois esta também é utilizada para fazer valer a justiça. Têmis
  • 16. Opinias - Setembro 2014 16 Por CARLOS EDUARDO DE OLIVEIRA Engenheiro Santo André - SP carlos@sabbahi.com.br decantando O VINHO Salut les amis! Na coluna de hoje, vamos falar um pouco sobre a decantação dos vinhos. Algumas vezes vamos a restaurantes ou algum evento de degustação e os vinhos nos são apresentados naqueles belos recipientes cristalinos. Mas, afinal, o que são, para que servem e quando devem ser usados os decanters? Devemos partir do princípio de que a grande maioria dos vinhos pode ser perfeitamente servida diretamente da garrafa para a taça. Poucos vinhos têm a real necessidade de serem decantados devido à presença de depósitos de material sólido nas garrafas, o que pode prejudicar uma perfeita degustação – essa “borra” tem o gosto amargo e pode turvar o líquido, prejudicando sua aparência. A decantação pode então melhorar os vinhos sob dois aspectos: eliminando essas partículas indesejáveis ou servindo para “aerar” o líquido, fazendo com que os aromas de vinhos “fechados” se desprendam com mais facilidade. Os decanters são recipientes de vidro ou cristal, em diversos formatos de jarra ou garrafa, onde se verte o vinho proveniente de outro recipiente – de outras garrafas, das chamadas bag in box ou diretamente de barris – pois antigamente o vinho da casa nos estabelecimentos era comprado a granel direto do produtor e armazenado em barril, devendo então ser colocado em uma jarra menor para ir à mesa. Com o aumento da produção de vidro, no final da Idade Média, as garrafas deste material passaram a ser utilizadas com esta finalidade (pois só viriam a ser “popularizadas” muitos anos mais tarde, no século XVIII). Com o uso desse expediente ao longo do tempo, verificou-se que alguns vinhos eram beneficiados pela agitação do líquido, pois “abriam” seus aromas, que se volatizavam mais facilmente após o contato com o ar. A decantação desse tipo (que não significa propriamente uma decantação no sentido de concentração de partículas) beneficia em maior parte os vinhos tintos jovens, aqueles mais concentrados, tânicos e alcoólicos. 16
  • 17. Opinias - Setembro 2014 17 Neste caso, recomenda-se o uso de recipientes bojudos, de forma que se obtenha a maior superfície de contato possível entre o líquido e o ar. Quanto mais agitação na operação de transvase, mais oxigenação, melhor para este tipo de vinho. Depois, deixa-se o vinho em repouso por um pouco de tempo antes da degustação. Normalmente, uma ou duas horas de decantação é o suficiente para que os aromas explodam; e quando necessário, o decanter pode repousar sobre um recipiente ou dentro de um balde com água gelada, para que o vinho seja servido na temperatura ideal. Além dos tintos “saradões”, alguns vinhos brancos mais encorpados, como os Borgonhas e chardonnays do Novo Mundo (EUA, Austrália, Nova Zelândia, América do Sul), também podem se beneficiar com esse tipo de decantação. Hoje em dia são vendidos artefatos que prometem aerar instantaneamente o vinho ao ser vertido para a taça, o que eliminaria a função da decantação. Mas convenhamos que servir um bom vinho, límpido e brilhante, em uma bela garrafa de cristal também traz uma grande vantagem estética, não é mesmo? Outro caso onde se utiliza a decantação é para eliminar partículas suspensas nas garrafas de velhos vinhos, aqueles que não passaram por filtração ou que acumularam ao longo do tempo partículas provenientes da polimerização dos taninos. Esse processo pede um pouco de paciência: com uma boa antecedência devemos colocar a garrafa em pé, de modo que a borra depositada na lateral da garrafa – que deve ter sido armazenada deitada – se acumule no fundo do recipiente – aquele fundo côncavo de algumas garrafas também tem como objetivo concentrar o acúmulo da borra no fundinho do recipiente. SAIBA MAIS EM “CONSERVADO NO VINHO” Depois de algum tempo, o sedimento sólido se acumula no fundo da garrafa, e deve-se sacar a rolha o mais cuidadosamente possível, evitando agitar o líquido - o que revolveria novamente a borra – e verte-se o vinho em um decanter. Pode-se utilizar para isso acessórios como funis ou peneiras, mas o mais importante é posicionar o gargalo da garrafa contra uma fonte de luz – que pode ser uma vela, uma lâmpada ou lanterna – o que vai facilitar a observação do movimento das partículas pela garrafa, e a operação de transvase deve ser interrompida quando a borra atingir o gargalo. Ao contrário dos vinhos novos e concentrados, os vinhos velhos – já “amaciados” pela ação do tempo – não se beneficiam com a oxigenação, e então devem ser manuseados com lentidão e delicadeza, sem grande agitação, e de preferência devem permanecer em recipientes mais estreitos, com uma pequena superfície de contato com o ar. A princípio pode parecer um pouco complicado, mas como tudo – ou quase tudo – nesta vida, com o tempo e a experiência a prática da decantação e todo o ritual que se segue à abertura da garrafa de vinho tornarão ainda mais prazeroso o culto a essa bebida com que Baco nos presenteou! No próximo mês, começaremos a conversar sobre a geografia do vinho. Santé, et à la prochaine! http://www.conservadonovinho.blogspot.com.br/
  • 18. Opinias - Setembro 2014 18 O jeito de falar pernambucano Por PAULO CAMELO Médico e escritor Recife - PE camelo.paulo@gmail.com O Brasil é um país de dimensões continentais e um único idioma. Embora alguns linguistas falem em “dialetos”, o idioma é o mesmo e as regras se mantêm em qualquer região. O que muda – e é muito em alguns aspectos – é a maneira de falar, é o vocabulário próprio, é o aspecto fonético e fonológico de cada região. Alguns aspectos me fazem renunciar à tese de dialeto: a gramática única, a coincidência da maioria das palavras e expressões em todas as regiões e a possibilidade de diálogo inteligível entre habitantes de regiões diferentes. Mesmo assim, há características regionais que levam os especialistas a manter tal tese de dialeto. E isso se dá no âmbito do falar, e não no do escrever. Eu nasci e me criei em Pernambuco. E sempre falei como se fala em Pernambuco. Mas eu achava engraçado ouvir as pessoas falando com corruptelas, e tais fatos me levaram a iniciar um rudimento de pesquisa linguística para saber por que assim eram pronunciadas as palavras, quais os significados originais ou de onde provinham. Como em todo idioma, vemos, em nosso, uma diferença entre o idioma escrito, ou culto, e o idioma falado, ou vulgar. A variante do idioma vulgar que chama atenção é o falar errado, que dá lugar a uma deturpação do idioma escrito, fazendo aparecer pseudoidiomas (que mais se parecem dialetos) em cada região do país, como o denominado pernambuquês, que nada mais é do que a expressão escrita do falar errado do pernambucano inculto. É sempre bom fazer uma diferenciação entre o falar pernambucano e o chamado pernambuquês, pois este mostra um pseudoidioma deturpado, depreciado e caricato. Ao contrário, o pernambucano médio – e mesmo o inculto – fala de uma maneira que a maioria dos falantes lusófonos entende. É caricata e depreciativa a grafia insistentemente errada feita por alguns escritores, quando só o que muda é algum fonema, mais fechado aqui ou ali, aberto em outras ocasiões, sibilado ou com exclusão de sílabas ou do “s”, “r” ou “l” finais. Assim, se em alguns momentos o nativo faz concordância falha, o que mais se pode fazer é mostrar essa falha de concordância, e não grafar erradamente uma ou outra pronúncia mais fortemente denunciadora. Quando o pernambucano diz “nós vamos falar”, deprecia-se seu falar escrevendo “nóis vamu falá”. Isso é inversão de valores, parecendo que a forma vulgar interfere na culta, ao invés de ser sua variante. Vemos isso em várias ocasiões. Até um bloco carnavalesco envereda por esse erro. Ao querer registrar a variante vulgar de não concordância nominal e uso de fonemas característicos, escreveu “Nóis sofre mais nóis goza”, quando o “Nós sofre mas nós goza” mostraria essa variante sem assassinar o léxico. O falar pernambucano sofreu influência dos idiomas nativos indígenas, mormente o tupi e sua vertente tupi-guarani. Os termos dali advindos estão mais arraigados em uma ou outra região e, desses termos, tomamos propriedade, como nossos. Assim são: catapora, tipoia, pereba etc. São de nosso uso desde sempre, porém não se limitam a nossa região.
  • 19. Opinias - Setembro 2014 19 Sofreu, também, influência dos idiomas africanos que vieram com os escravos. Recebeu carga linguística dos holandeses, dos americanos e, por tabela ou indiretamente, de outros povos e outros idiomas, tais como o árabe, o francês, o espanhol, entre outros. Com o tempo e as várias influências, algumas palavras ou expressões foram se apagando e, se não postas em uma obra e publicadas, podem desaparecer por completo. E esta foi uma das razões por que eu me propus a escrever o “Dicionário do falar pernambucano”. A internet, o mais recente meio de comunicação, faz com que se globalizem os termos, as palavras, as expressões. E muitas daquelas que antes eram características ou exclusivas de uma região, um estado, uma comunidade, passaram a ser ditas e escritas por outras pessoas, de rincões tão distantes dos locais de origem. Isso faz com que utilizemos, muitas e muitas vezes, termos que nem parecem mais ser de origem regional, e também capturemos outros originários em outras regiões e já encravados em nosso falar de tal modo que nos parecem familiares desde criancinhas. A globalização trouxe três fenômenos no modo de falar de um povo: a exportação, a importação e a substituição de termos. Dessa forma, corroborando o dito acima, podem ser encontrados termos de origem em outras plagas, como podem também existir aqueles já do conhecimento de muitos. Há, também, aqueles termos que, substituídos, saíram de circulação, e muitos dos que hoje usam o falar pernambucano talvez não os conheçam, por arcaísmo, por desuso. As expressões e os ditos são outros aspectos importantes no falar regional, e o falar pernambucano não se diferencia disso. Utilizando termos de uso não necessariamente pernambucano, formamos expressões que na maioria das vezes só por essas terras são pronunciadas e entendidas. 19 PEGANDO BIGU Dicionário do falar pernambucano de Paulo Camelo Editora Paulo Camelo - Recife - PE - 2014 - 288 páginas I.S.B.N.: 978-85-904262-9-5 Preço: R$40.00 Sinopse: 2.280 verbetes correspondendo ao falar pernambucano. Substantivos, adjetivos, verbos, locuções, expressões que estão no falar cotidiano do pernambucano. Explicações, citações, etimologia. 288 páginas ilustradas. Capa e ilustrações do desenhis-ta Fábio Maia. Acompanham referências bibliográficas e índice onomástico de autores citados. AQUISIÇÕES: camelo.paulo@gmail.com aboiar » v. t. d. - cantar um aboio; » s. m. - aboio. “Onde o forte aboia a sorte no seu canto de lutar.” (Janduhy Finizola - “Glória”) até Mané chegar » expr. - sem tempo determinado; sem hora para terminar. “Agora, Mestre Bentevi, pegue a sua viola pra nós cantar repente até Mané chegar, em honra da minha patroa e do mestre Quinca Tomaz...” (Zé Limeira, apud Orlando Tejo - “Prestando contas ao mestre”) bigu » s. m. - carona. ETIMO - Inglês: be good (seja bom). Expressão utilizada pelos americanos, em trabalho no Recife durante a Segunda Guerra, ao pedir carona. “Do Colégio Pio X onde me hospedava à universidade, caminhei por uns vinte anos, somente aceitando bigu nos seis quilômetros se o tempo fazia-se chuvoso.” (José Rafael de Menezes - “Memórias de um escritor”) caçoar » v. int. e t. i. - fazer caçoada; galhofar. caçoleta » s. f. - medalhão com local para se colocar retrato, geralmente usado pendurado no pescoço. bater a caçoleta » morrer. escuma » s. f. - espuma. ETIMO - germ.: skuma = espuma. “Cervejinha é essa, Sá Marica? Só tem escuma!” (Luiz Gonzaga - “Karolina com K”) mel-de-furo » s. m. - mel resultante da decantação do mel-de-engenho não cristalizado na preparação do açúcar-bruto; melaço; cabaú. melé » s. m. - curinga do baralho. passista » adj. e s. 2 gên. - dançarino do frevo. “Ao ouvir um frevo tocado por alguma orquestra, o passista parte para algum lugar que nem ele sabe qual será.” (Reinaldo de Oliveira - “O frevo”) pei » interj. - exprime ação imediata; » conj. aditiva – exprime ação imediata; então. pei bufe » acertou!; na mosca! piojota » s. f. - 1) cepa de cana-de-açúcar; 2) (fig.) bebedeira. ETIMO - var. de peojota, da sigla POJ - Posto de Observação de Java. piripaque » s. m. - mal súbito; desmaio. “Por que uma pessoa, gozando de boa saúde, tem um piripaque e morre?” (José Urbano de Andrade Almeida - “Quase”)
  • 20. Opinias - Setembro 2014 20 Ruptura e reinvenção: Por LUCIANA BRANDÃO CARREIRA Psicanalista, Professora e Escritora Belém - PA lucianabrandaocarreira@gmail.com O que RIMBAUD tem a nos ensinar sobre o Ato À une raison Un coup de ton doigt sur le tambour décharge tous les sons et commence la nouvelle harmonie. Un pas de toi, c’est la levée des nouveaux hommes et leur en-marche. Ta tetê se détourne: le nouvel amour! Ta Tetê se détourne – le nouvel amour! “Change nos lots, crible les fléaux, à commencer par le temps” te chantent ces enfants. “Elève n’importe où la substance de nos fortunes et de nos voeux” on t’en prie. Arrivée de toujours, qui t’en iras partout. Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud. À uma Razão Um toque de teu dedo no tambor desencadeia todos os sons e dá início a uma nova harmonia. Um passo teu recruta novos homens, e os põe em marcha. Tua cabeça se vira: o novo amor! Tua cabeça se volta, – o novo amor! “Muda nossos destinos, acaba com as calamidades, a começar pelo tempo”, cantam estas crianças, diante de ti. “Semeia não importa onde a substância de nossas fortunas e desejos”, pedem-te. Chegada de sempre, que irás por toda parte. Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud (tradução livre da autora). Jean-Nicolas-Arthur Rimbaud começou a escrever o livro Illuminations em 1873, quando estava prestes a completar 20 anos de idade, enquanto percorria a Bélgica, a Inglaterra e toda a Alemanha, ao lado de seu amante, o também poeta Paul Verlaine. Ao meio de muito haxixe, álcool, violência e escândalos, Rimbaud também chocava a sociedade com a sua homossexualidade. E, quando encerra a obra citada, o escritor se afasta da literatura por quase dez anos, entrando numa espécie de exílio voluntário, deixando o Ocidente ao partir para uma vida no deserto da Etiópia e do Egito. Finalizado em 1875, tal livro é composto por pequenos textos (prosas, em sua maioria), parecendo desprovido de tema, tamanha a liberdade com a qual o poeta o concebera. Talvez por esse motivo o escritor tenha denominado os anos nos quais escrevera Illuminations como um período de “desregramento de todo o sentido”. Jean-Michel Espitallier considera Illuminations como a primeira compilação de videoclips da história, “rodada” vinte anos antes do nascimento do cinema e um século antes dos primeiros clips televisuais. Considerados por tal crítico como “prosas rasgadas”, tais textos parecem surgir de uma urgência furiosa de Rimbaud em reproduzir com palavras as cenas do mundo que o capturavam, registradas em seus versos tal como se a escrita jorrasse dos olhos fotográficos de um jovem homem apressado. Esse caráter faz que Jean-Michel Espitallier considere o seu “modelo de
  • 21. Opinias - Setembro 2014 21 poema em prosa” como tendo sido o pioneiro – o verdadeiro pioneiro”, “inventado” quarenta anos antes do que se estima ter nascido com Bertrand, tendo influenciado, enfim, muitos dos grandes poetas do século dezenove, dentre os quais, Baudelaire. Em Rimbaud a prosa não visa à narrativa. O enredo, este se precipita sobre zonas visuais, consideradas pelo próprio Rimbaud como “fotografias do tempo passado” – como a grafia de um instante tão infinitamente fugaz que a escrita dele suscitada é simplesmente a memória de um átimo que não se deixa apreender. Rimbaud inaugurou-se na poesia extremamente jovem, escrevendo em Latim aquilo que foram os seus primeiros versos, apenas quatro anos antes do Illuminations. Trazendo a luz para o título com o qual ele nomeou tal obra – utilizando-se de uma palavra que, em inglês, quer dizer “gravuras coloridas” – Rimbaud então vincularia sua poesia à ruptura e à reinvenção, definitivamente, desestabilizando assim o pilar racionalista do pensamento francês. Deste livro pinçamos o curto poema em prosa À une raison, tantas vezes citado por Lacan ao longo de seu ensino. Por que o fazemos? Porque no contexto em que surge, esse texto nos permite apreender o giro discursivo, enquanto efeito de linguagem, que se opera na passagem de um discurso a outro, em cujas bases encontramos o amor que enlaça. Afinal, ao desestabilizar o racionalismo francês, Rimbaud aponta que o Eu não é senhor de seus atos, indicando que há uma suspensão do Eu no ato da criação, liberdade à qual todo artista está condenado. Entusiasmado pela Comuna de Paris, lembremos que o poeta francês parecia ansiar por uma nova ordem social, esperançoso que estava por uma renovação da sociedade e de seus costumes, que seriam alcançadas por via de uma revolução. Contudo, podemos dizer que o texto À une raison anuncia uma outra espécie de revolução; reviravolta que convoca o homem, em sua marcha pelo mundo, a semear o desejo por onde quer que ele passe. A nosso ver, o poeta convida e estabelece uma torção no eixo do amor num sentido ainda mais radical, tal como Lacan a propôs ao discorrer sobre o Novo amor em seu seminário Mais, ainda (1972-1973), pois, para Lacan, o Novo amor nada mais é do que o signo da emergência de um novo discurso, indicando um novo laço social, inédito e original. Disso decorre a passagem do discurso da histérica ao discurso do analista, no final de análise, quando um amor novo no laço psicanalítico se estabelece. Ao acompanharmos os passos do poeta, bem como os de Lacan, encontramos assim o desejo de semear o desejo. Pouco antes, em seu seminário sobre O ato analítico (LACAN, 1968-1969), foi também a partir desse poema, no qual um Novo amor é evocado, que Lacan propôs a fórmula do ato, uma vez que o ato analítico suscita o novo, um novo desejo, um novo amor transferencial. Na imprevisibilidade de um encontro com o Real, eis a essência do desejo do analista: transmitir o intransmissível de uma experiência limite (o Real inapreensível pelo significante) que provoca um giro discursivo e uma ruptura no saber, pois “o intransmissível está no coração do desejo de transmitir” (PORGE, 2009, p.15). Afinal, como Rimbaud persevera em seu verso, basta “Um toque do dedo no tambor” para que se desencadeiem “todos os sons” e se inicie “uma nova harmonia”; basta “um passo” para que se recrutem novos homens e estes, a partir daí, enveredem por esta nova trilha. Rimbaud associa o novo ao movimento capaz de mudar destinos e direções, reinventando caminhos, e, mais importante, semeando o desejo ao longo dessa errância pelo mundo afora. Mas de que maneira Lacan trabalha a partir desse poema no seminário Mais, ainda (1972-1973)? Para acompanharmos os desenvolvimentos de Lacan em tal contexto, situemos, em primeiro lugar, que todo amor é narcísico. Os laços sociais, que são laços amorosos em sua essência, propiciam toda sorte de fenômenos imaginários de massa, uma vez que se pautam em ideais identificatórios do eu. A rede discursiva é tecida por esses fios, ainda que o amor, que faz laço, demande simplesmente o amor. Mas o amor é impotente, pois a relação complementar entre os sexos é impossível, uma vez que, havendo reciprocidade, tal amor é guiado pelo desejo de fazer unidade, própria ao amor fusional que aliena. Ao indicar que o seu aforismo “o inconsciente é estruturado como uma linguagem” não é do campo da linguística, e sim da 21
  • 22. Opinias - Setembro 2014 22 linguisteria, eis então que Lacan avança, circunscrevendo uma modalidade amorosa nova, própria ao seu discurso. Ainda que o amor seja um signo, Lacan circunscreve, assim, que o amor de que se trata é signo de uma mudança discursiva. Lacan pouco a pouco vai delineando uma modalidade de amor que não é alienante, e que tampouco escraviza. Amor que está num mais além do narcisismo, capaz de romper e esvaziar as identificações imaginárias. Um puro amor. Amor que é pura potência criativa, inovadora, que nos “constrange a decidir uma nova maneira de ser”, como bem estabelece Alain Badiou ao se referir ao que é da ordem de um acontecimento. (BADIOU, 1993, p.38). Logo, o gozo do Outro não é, em absoluto, um signo do amor. Ao contrário, o que é signo de amor é a torção que aí se produz, no lugar onde tal gozo é vislumbrado e entrevisto. Mas apesar de todos esses elementos listados, compartilhamos da ideia de que a razão cantada nos versos de Rimbaud não equivale à descoberta freudiana do inconsciente; assim, sua “razão poética não é nem o senso cartesiano nem o inconsciente freudiano”. (BERNARDES, 2009, p.102). De todo modo, o fazer poético, próprio ao ato do poeta, desvela que o material com o qual o poeta trabalha, – ao esbarrar no gozo do sem-sentido que se infiltra em Lalangue –, é o mesmo do qual o inconsciente se serve. Território do desconhecido onde a razão não tem vez, justamente porque o sentido aí se desfaz, constrangendo o artista e impelindo-o a fazer algo com isso que lhe escapa. Seja como for, Rimbaud rompeu com as formas clássicas da poesia metrificada e versificada, reinventando a lógica e a sintaxe, inaugurando uma nova maneira de fazer poesia. Fazer poético que muito nos lembra o trabalho operado por Clarice Lispector, cuja potência subverteu o campo literário, reinventando-o, enquanto signo de um novo amor que fez emergir um laço novo; um novo laço social que aflora enquanto acontecimento de discurso, efeito do encontro com o Real. Acontecimento que impulsiona uma torção na ordem vigente, de maneira imprevista, determinando um novo começo, novamente. Fruto de um amor que é pura contingência, capaz de transformar nossos destinos, como Sendo assim, a “razão” sobre a qual Rimbaud bem profetizou Rimbaud. BIBLIOGRAFIA: FORESTIER, L. Oeuvres complètes/correspondance. Paris: Robert Lafont, 2004. BADIOU, A. L´étique; essai sur la conscience du Mal. Paris: Hatier, 1993. BERNARDES, A. Um amor reinventado: a arte do poeta e o discurso do analista. In. MELLO, M e JORGE, M. (org). Psicanálise e Arte: saber fazer com o Real. Rio de Janeiro: Cia de Freud, 2009, p. 99-107. BERNARD, S. Rimbaud et la création d´une nouvelle langue poétique, in Le poème em prose de Baudelaire à nos jours. Paris: Nizet, 1959. BRUNEL, P. Éclats de violence; pour une lecture comparatiste des Illuminations d´Arthur Rimbaud. Paris : José Corti, 2004. LACAN, J. (1968-69) O ato analítico. (Seminário inédito) LACAN, J. (1972-1973) O seminário, livro 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. PORGE, E. Trasmettre la Clinique Psychanalytique – Freud, Lacan, aujourd’hui. Toulouse: Éditions Érès, 2005. PORGE, E. Transmitir a clínica psicanalítica. Tradução: Viviane Veras e Paulo Souza. Campinas, S.P: Editora da Unicamp, 2009. se refere em seu poema À une raison é signo de um novo amor, pois “o amor, nesse texto, é o signo, apontado como tal, de que se troca de razão, e é por isso que o poeta se dirige a essa razão. Mudamos de razão, quer dizer – mudamos de discurso”. (LACAN, [1972-73] 1985, p.26). Pois bem, dito isto, voltemos a Rimbaud uma vez mais. Apontando ao que se opera na emergência de um novo laço social, Rimbaud sacode as bases do racionalismo cartesiano, subvertendo-o, uma vez que, ao invés de louvar uma racionalidade amparada na razão, ao contrário, Rimbaud se dirige, nesse poema, a uma Razão que é de outra ordem. (BRUNEL, 2004, p.218). Numa de suas cartas endereçadas a Paul Démeny, Rimbaud deixa clara a sua discordância em relação ao “penso, logo sou” cartesiano, propondo, em contrapartida, a máxima “Eu é um outro”. Para ele, a fórmula “Eu penso” é um grande engodo, pois considera que, ao invés disso, o que se passa na verdade é da ordem de um “Pensam-me”. Ou seja, o Eu, – diz Rimbaud antes mesmo que Freud o faça –, é pensado por um outro.
  • 23. Opinias - Setembro 2014 Por DELASNIEVE DASPET Poeta, Advogada e Ativista Cultural e Social Campo Grande - MS daspet@uol.com.br Que botox, que cirurgia, que nada! Cheguei aos 62 anos completamente com 62 anos... Ninguém me dá um dia a menos ou a mais. E que bom chegar aos 62 anos com a cabeça e o corpo de 62 anos. Eu não malho. Não tenho saco para isso. Não ando, sou preguiçosa... Mas adoro dançar – já quis fazer várias vezes um curso de dança... mas, dançar sozinha, ou com aqueles meninos... não me dá nenhum tesão, então, fico aqui – eu e os meus livros, minhas canetas, computador, agenda, e, meu cérebro. Gosto de exercitá-lo e faço isso em todos os momentos. Crio, recrio, fantasio, valseio, falseio, pazeio... Não bebo, não fumo, até comer – não abuso. Não me preocupo, nunca me preocupei com qualquer glamour... Mas adoro pensar que tenho um pote de ouro no final do arco-íris: os meus sonhos, os meus ideais, as minhas conquistas. Nestes tempos, ridículos, do politicamente correto, me pego com saudades do passado quando podíamos brincar sem acusações de intolerâncias, de racismo, e de tantos outros “ismos” e modismos. Eu, por exemplo, acho que todas as diferenças podem conviver em perfeita harmonia, e, que o direito de um começa onde termina o do outro. Qualquer um tem de conquistar o seu espaço respeitando o dos outros, isto é, não se pode obrigar ninguém a aceitar nada... pode-se esclarecer as coisas, a aceitação ou não vai de cada um. Assim é, e, assim deveria ser, sempre. Filhos, tenho dois. Um me paparica todos os dias, o outro, ocasionalmente. Mas não posso mudar os fatos – cada um é como é. Os amigos, conto-os e os reconto e alguns podem ser chamados como tais – mas com tantos conhecidos – como são poucos, os amigos! Mesmo assim, eu continuo a chamá-los para que não se olvidem de que estamos juntos na caminhada. Gosto de movimento... Do vento que balança as folhas e faz tilintar os sinos da varanda. Gosto de gatos – quando eles ouvem a minha voz – me rodeiam com seus miados doces e interesseiros... eu, também, sou interesseira, adoro receber seus carinhos e acarinhá-los. E, o melhor de tudo, é que sou soberana nas minhas atitudes e dos meus atos, ainda mais quando nunca me preocupei com o que podiam dizer ou pensar de mim. Já dei sonoras bananas sem me importar a quem... Tenho orgulho de dizer que piorei, sempre falei palavrões... com a idade, como bom vinho, melhorei e aperfeiçoei... o vocabulário em guarani, espanhol, francês... Não sou, totalmente, tola... percebo com clareza quando me usam... às vezes me deixo trampolim por meu interesse. E, quando oportuno, deixo claro, para que não pairem dúvidas, sobre o meu realizar. Porém, nunca, nunca, nunca, deixo porém o “pé na minha onça” e tirar foto... Se fui eu quem a abateu, digo em alto e bom som... Não divido meu chapéu. Que o tempo continue passando... Que eu possa contar ao espelho a história de cada ruga, dos cabelos brancos, das mãos envelhecidas, da gordura que acumulei, do olhar faceiro; que eu tenha a ventura de contar os dias vividos em tão boa companhia e parceria, eu tive a sorte de achar o parceiro perfeito – que sempre respeitou meus espaços. Que eu me complete neste ir e vir, como ondas do mar, que vai e vem e sempre morre na praia, como lágrimas de espuma que a areia branca se encarrega de guardar. Que seja assim, no último alento, quando misturada ao vermelho de minha terra, possa voar, voar, voar... e, integrar-me ao verde de nossos cerrados, à pureza de nossos rios, ao cantar dos pássaros e, quem sabe, camuflada como um urutau, cantar em noites de lua cheia as saudades que deixei na terra. En velhe cendo Opinias - Setembro 2014 23
  • 24. Rito de PASSAGEM Por ELIANA MORA Jornalista e poeta Juiz de Fora - MG elianamora@uol.com.br A palavra espera tem o poder de transformar-se em algo líquido quase amorfo consegue adaptar-se às paredes do cérebro da garganta do coração escorrer pelas veias e concentrar-se em local desconhecido a palavra pede precisa transformar-se novamente em algo que possui sons e feitios para logo após diluir-se no ar não sem ter encontrado seu destino [ao menos o daquele momento] o silêncio se arruma em torno dela novamente e as construções das letras aí iniciam sua expansão concentram-se dilatam-se até sua generosa saída para o mundo aí, então, completamente amadurecidas.