SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 83
Baixar para ler offline
Anais
XI Jornada Médico-Literária Paulista
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
SOBRAMES
Regional do Estado de São Paulo
Itu - São Paulo - Brasil
22 a 25 de setembro de 2011
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES
Regional do Estado de São Paulo
SOBRAMES - SP
Diretoria Gestão 2011/2012
Cargos Eletivos
Presidente: Josyanne Rita deArruda Franco
Vice-presidente: Luiz Jorge Ferreira
Primeiro secretário: Márcia Etelli Coelho
Segundo secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã
Primeiro tesoureiro: JorgeAlbertoVieira
Segundotesoureiro:AídaLúciaPullinDelSassoBegliomini
Conselho Fiscal
Efetivos:
HelioBegliomini
RobertoAntonioAniche
CarlosAugustoFerreiraGalvão
Suplentes:
AlcioneAlcântaraGonçalves
Flerts Nebó
Manlio Mario Marco Napoli
A XI Jornada Médico-Literária Paulista é uma realização da SOBRAMES - SP
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo
Endereço para correspondência (SOBRAMES-SP):
Rua Francisco Pereira Coutinho 290, 121A
Vila Municipal Jundiaí, SP. - CEP13201-100
josyannerita@gmail.com
Copyright 2011 © dosAutores
Comissão Organizadora da XI Jornada Médico-Literária Paulista
Os integrantes da Diretoria da Regional São Paulo
Os conceitos emitidos nos textos literários deste evento representam exclusivamente
a opinião de seus autores, não sendo de responsabilidade da SOBRAMES-SP.
Projeto Gráfico e Diagramação: Marcos Gimenes Salun
Produção Editorial: Rumo Editorial Produções e Edições Ltda.
E-mail: rumoeditorial@uol.com.br
AprAprAprAprApresentaçãoesentaçãoesentaçãoesentaçãoesentação
A literatura se nutre da história, dos mitos, das tradições. A vida de cada um é um
acontecimento, uma grande narrativa recheada de fatos e ficções: somos personagens da
históriadooutro,autoreseprotagonistasdenossaprópriahistória.
Oquedizerquandomédicos,engenheiros,advogados,professores,jornalistas,artistas
plásticos,pesquisadoreseoutrosprofissionaisliberaisdespem-sedesuaspersonastécnico-
acadêmicasparaevocaraimaginaçãoecriarparaísosemversoeprosa?
Tem sido assim na Sociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos Escritores Res Res Res Res Regional São Pegional São Pegional São Pegional São Pegional São Pauloauloauloauloaulo
desdeaprimeirajornadaemJundiaí,em1991.
Seoobjetivoinicialdasjornadasfoidivulgarajovementidadefundadaem16desetembro
de 1988, com o passar do tempo tornou-se oportunidade de congregar os sócios fora do
ambienteurbanodagrandemetrópolepaulistaondeacontecemasconsagradasPizzasLiterárias.
Seguiram-se,então,outrasjornadascomperiodicidadeacadadoisanos:BragançaPaulista
(1993),Santos(1995),CamposdoJordão(1997e2003),ÁguasdeSãoPedro(1999),Botucatu
(2001),SerraNegra(2005),novamenteJundiaí(2007)eSãoPaulo(2009).
Assim, foi inserido no calendário bienal dos associados um evento aguardado pela
singeleza de seu propósito, incensado com a amizade e a paixão de seus membros pela
atividadeliterária.
A XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária Paulista encontrou acolhimento na cidade histórica
deItu,ondefloresceramasbasesdomovimentorepublicano.Comseuscaminhosbandeiristas,
casarõeshistóricoseigrejassecularesreverenciandoamemóriadeumperíodovibranteque
semeounovosrumosparaapátria,aItuquatrocentonatorna-seentrepostodeliteraturada
mais alta qualidade: a Academia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de Letras aceitou o convite da Sobrames SP e
julgouostrabalhosliteráriosdosautoressobramistas.
De 22 a 25 de setembro a realeza se fará representar pelas letras: o manto real será
exibidocomluxoeprimornolançamentoda VIII AntologiaVIII AntologiaVIII AntologiaVIII AntologiaVIII Antologia,compilaçãodostrabalhosde
confrades e confreiras apresentados nos encontros festivos dos últimos dois anos; cetro e
coroaserãoversoeprosadeumaliteraturaqueabraçahistóricopassado,revigoraosaresdo
presente e semeia futuro nas imensas terras férteis que se exibem generosas nas próximas
páginas,pacientementecultivadascominsumosdacriatividadeedaimaginação.
Dra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
Presidente da SOBRAMES-SP (2011-012)
5
A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo,
foi fundada em 16 de setembro de 1988 e congrega mais de cem membros titulares,
acadêmicos, colaboradores, eméritos, honorários e beneméritos.
Basicamente a sociedade é constituída por médicos escritores de
literatura NÃO-CIENTÍFICA, além de escritores de outras formações profissionais
(advogados, engenheiros, jornalistas, dentistas, arquitetos, etc..).
Pizzas Literárias
Em 1989 surgiu a idéia de se reunir os colegas ao redor de uma mesa de pizza, como acontecera por
ocasião da fundação da entidade.Areunião mensal tornou-se uma tradição e foi intitulada “Pizza
Literária”. Desde então é realizada em uma pizzaria de São Paulo, com uma freqüência que costuma
beirar trinta pessoas. Nesta, além de se saborear uma deliciosa pizza, tomar um chope e bater papo com
os amigos, tem-se a oportunidade de ouvir os trabalhos dos colegas e também apresentar os seus. Tem-
se, também, a possibilidade de encontrar colegas de outras especialidades e formados nas mais diversas
faculdades, além de sócios não médicos das mais variadas profissões.Todos com uma paixão em
comum: a literatura. As reuniões de 2011 têm acontecido na terceira quinta-feira de cada mês, na
pizzaria BONDE PAULISTA, na Rua Oscar Freire, 1597 – à partir de 19h30.
Jornadas e Congressos
A cada dois anos a Regional de São Paulo promove uma Jornada Médico-literária.
Estas já se realizaram em diversas cidades do interior paulista,
e em 2009 na própria capital do Estado:
Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 1991
Bragança Paulista – de 28 a 30 de maio de 1993
Santos – de 24 a 26 de novembro de 1995
Campos do Jordão – de 28 a 30 de agosto de 1997
Águas de São Pedro – de 16 a 19 de setembro de 1999
Botucatu – de 27 a 30 de setembro de 2001
Campos do Jordão – de 25 a 28 de setembro de 2003
Serra Negra - de 22 a 25 de setembro de 2005
Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 2007
São Paulo - de 17 a 19 de setembro de 2009
Nos anos pares é realizado um Congresso Nacional da SOBRAMES.
Em 1994 e 1998, este ocorreu em São Paulo, organizado por nossa regional. O XXIII Congresso
Brasileiro aconteceu em junho de 2010na cidade Belo Horizonte – MG.
O próximo congresso será realizado no Estado do Paraná, em 2012.
Sociedade Brasileira
de Médicos Escritores
Regional do Estado de São Paulo
6
Eventos internacionais
Além da existência de regionais da SOBRAMES na maioria dos estados brasileiros, seus membros
também participam em algumas associações em outros países, como é o caso da LISAME - Liga Sul
Americana de Médicos Escritores, com sede em BuenosAires –Argentina; UMEM – União Mundial de
Escritores Médicos, com sede em Lisboa – Portugal, cujo congresso se realizou emViana de Castelo -
Portugal, de 27 de setembro a 3 de outubro de 2004, contando com representação da SOBRAMES paulista;
UMEAL– União de Médicos Escritores eArtistas de
Língua Lusófona, com sede em Lisboa – Portugal, dentre outras.
Publicações
Jornal - Desde 1992 a SOBRAMES-SP publica o informativo mensal “O Bandeirante” que é distribuído
aos membros da regional paulista, diversos confrades de outras regionais, além de entidades culturais no Brasil
e no exterior. Por vários anos publicou o suplemento literário, as “Páginas Sobrâmicas”, trazendo textos
literários dos membros da Regional de São Paulo. À partir de 2001 a publicação ganhou o título de
“SuplementoLiterário”,econtinuasendopublicadomensalmente,comoencartedojornal“OBandeirante”.
Desde janeiro de 2007 o jornal “O Bandeirante” passou a ser distribuído pela internet, para mais de 1000
destinatáriosnoBrasilenoExterior.
Coletâneas - ASociedade já editou dez coletâneas com trabalhos dos membros:
“Por um Lugar ao Sol” (1990)
“APizzaLiterária”(1993)
“A Pizza Literária - segunda fornada” (1995)
“Criação” (1996)
“A Pizza Literária - quinta fornada” (1998)
“A Pizza Literária - sexta fornada” (2000)
“A Pizza Literária – sétima fornada” (2002)
“APizzaLiterária–oitavafornada”(2004)
“APizzaLiterária–nonafornada”(2006)
“A Pizza Literária - décima fornada” (2008)
“APizzaLiterária-décimaprimeirafornada”(2010)
Antologias - Em 1999, editou-se a “IAntologia Paulista”, contendo todos os trabalhos das “Páginas
Sobrâmicas” nos seus dois primeiros anos de publicação (abril 1997 a março de 1999). Em 2000 foi publicada
a IIAntologia Paulista, desta vez com trabalhos inéditos dos sócios.Asérie de antologias continuou e já conta
com cinco volumes, tendo os demais sido publicados em 2001, 2003, 2005, 2007 e 2009.
Em setembro de 2011 está sendo lançada aVIIIAntologia Paulista.
Concursos literários
Em 1997, foi instituído o concurso paraAMelhor Poesia doAno, Prêmio “Bernardo de Oliveira Martins”
e, a partir de 1999, o concurso paraAMelhor Prosa doAno, Prêmio “Flerts Nebó”, dos quais participam
todos os membros da SOBRAMES-SP que apresentam seu textos nas Pizzas Literárias. Estes certames visam
dar estímulo à criatividade dos autores membros da SOBRAMES, tendo em vista a característica meramente
diletantedeseusparticipantes.TrimestralmenteaconteceumdesafioliteráriointituladoSUPERPIZZA,ondeos
escritores são convidados a produzir um texto
em prosa ou verso sobre um tema sugerido.
Em janeiro de 2007 foram introduzidos dois novos concursos que têm como objetivo incentivar os
integrantes da sociedade a participar de suas atividades.
Trata-se do “Prêmio Rodolpho Civile”, deAssiduidade
e o “PrêmioAldo Mileto” de Melhor Desempenho.
7
Internet
A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores tem um Blog onde
publicainformações,notíciasetextosliteráriosdeseusautores.Visiteeparticipe:
http:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.com
Diretoria
A cada dois anos a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do
Estado de São Paulo elege em assembléia uma nova diretoria.
Na atual gestão (biênio 2011/2012) a diretoria está assim composta:
Presidente: Josyanne Rita deArruda Franco;
Vice-presidente: Luiz Jorge Ferreira;
Primeiro-secretário:MárciaEtelliCoelho;
Segundo-secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã;
Primeiro-tesoureiro: JoséAlbertoVieira;
Segundo-tesoureiro:AídaLúciaPullinDelSassoBegliomini;
Conselho Fiscal Efetivos:Helio Begliomini, RobertoAntonioAniche e CarlosAugusto Ferreira Galvão;
Conselho Fiscal Suplentes: AlcioneAlcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mario Marco Napoli.
Como participar
Podem tornar-se membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores todos os médicos, de qualquer
especialidade, e todos os acadêmicos de medicina, em qualquer ano do curso, mediante simples solicitação de
sua inscrição, e bastando que sejam também escritores de literatura NÃO-CIENTÍFICA, em qualquer gênero
literário (romance, crônica, conto, poesia, ensaios, etc.).Também podem tornar-se membros da SOBRAMES-
SP os ESCRITORES de qualquer outra formação profissional, apresentados por outros membros da sociedade.
A solicitação será aprovada mediante análise da diretoria e existência de quorum na forma de seu estatuto. Os
membroscontribuemfinanceiramentecomumaanuidadedepequenovalor. Os custos de algumas atividades da
SOBRAMES-SP são pagos pelos participantes, como por exemplo,
despesas de hospedagem em congressos e jornadas e despesas
deconsumonasreuniõesdenominadasPizzasLiterárias.
Associe-se
Para obter outras informações sobre a SOBRAMES-SP ou para tornar-se membro
enviecorrespondênciaparaoe-mail josyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.com.
Pelo correio você poderá obter ficha de inscrição escrevendo para:
Sociedade Brasileira de Médicos Escritores
Rua FRua FRua FRua FRua Francisco Prancisco Prancisco Prancisco Prancisco Pererererereira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 A
VVVVVila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SP.....
CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100
8
9
A cidade de Itu
Fundada em 1610, por muito tempo considerada a vila mais rica da capitania de São
Paulo, Itu serviu de pousada para os bandeirantes que iam ao sertão em busca de pedras
preciosas. Firmou-se no comércio minerador, na plantação de cana de açúcar e posteriormente
no plantio de café.
Na visita às inúmeras fazendas, é possível compreender todos esses ciclos, através da
narração histórica dos seus proprietários e da construção de época, tanto na casa principal
como nas senzalas. A natureza permite passeios por várias trilhas que aguçam o paladar para
típica comida tropeira, sempre acompanhada por boa cantoria e hospitalidade.
Itu é conhecida como o “Berço da República” e, em sua região central, destacam-se
antigos casarões preservados em suas características originais. Muitos se transformaram em
museus ou espaços culturais com destaque para o Museu Republicano, instalado em um
sobrado de taipa de pilão e pau a pique, onde em abril de 1873 alguns paulistas contrários à
monarquia reuniram-se para discutir as bases do Partido Republicano Paulista. O encontro,
conhecido como “Convenção de Itu” representou o marco inicial para a futura proclamação
da República. É impossível não se encantar com os azulejos artísticos rodeando uma pomposa
escadaria e com o gabinete praticamente intacto de Prudente de Moraes, o primeiro presidente
civil do Brasil.
Pitoresca com seus objetos de grande tamanho (inspirada no humorista Simplício do
programa televisivo A Praça é Nossa), Itu é também denominada de “Cidade dos Exageros”.
E fazendo jus a essa fama, mais um apelido lhe é conferido: o de “Roma Brasileira” devido a
suas belíssimas Igrejas, tombadas pelo Patrimônio Histórico, com exuberante arquitetura
barroca e pinturas de renomados artistas como o ituano Almeida Junior e o Padre Jesuíno de
Monte Carmelo.
Itu é também uma das poucas cidades do mundo a possuir, no Parque do Varvito, uma
rocha sedimentar datada da era glacial.
Muitos outros atrativos surpreendem o visitante, incluindo a boa gastronomia tendo
como exemplo o Bar do Alemão que é considerado o melhor filé a parmegiana do Brasil.
Assim, com seus 400 anos de existência, Itu é um agradável convite ao passado e poderá
proporcionar à nossa Jornada Médico-Literária Paulista um ambiente aconchegante e inspirador.
Diretoria da SOBRAMES-SP
(texto de Márcia Etelli Coelho)
10
11
ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndice
Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini
Adeus / Separação
1515151515
Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves
JornadaemItú /Mamãe,euquero
1818181818
Arary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz Tiribairibairibairibairiba
Pernoites, percalços... percevejos /
UmforasteiroemtrânsitoporIguape
2020202020
Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
Cortinaparapatifarias/MeuBrasil
2323232323
Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó
A mitologia em nossos dias / São Paulo, meu torrão
2929292929
Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz
Mito / Pizza
3131313131
HelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliomini
Ave-Marias / CarusoMadalena,umgrandepsiquiatra
contemporâneo
3434343434
HildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEnger
Irmandade/Momentos
3737373737
Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos
Infância/ VitalBrazil:umcontoreal
2626262626
Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas
Asmaisbelaspalavras/Overdealertaohomem
3838383838
José Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto Vieiraieiraieiraieiraieira
Limiar
4040404040
I - Textos Literários
José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo
Carta aos médicos escritores / Travessias
4141414141
12
ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndice
José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros
ReminiscênciasdomestreAurélioBuarquedeHolanda/
Vultosdamedicina
4343434343
Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock
Acontecimento / Quando
4747474747
Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
Caliptra / Pássaros do crepúsculo
4949494949
Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira
Casaamarela / Quartodegrau
5151515151
Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho
Contratenor / Quemsoueu,afinal?
5454545454
Maria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho Louzã
Garôapaulistana / Reencontro
5757575757
Nelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson Jacintho
Aganânciadohomempordinheirotornou-seo
venefíciodoBrasil /Anoiteceràbeiramar
6060606060
RRRRRobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAniche
Destino /Água de rosas
6363636363
RodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivile
Esmeralda,cartomanteequiromante /
EstranharconsideraçõessobreoSerHumano
6666666666
XI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária Paulista
Atividades Gerais
7171717171
II - Programa
III - Sessões Literárias
XI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária Paulista
Apresentação dos textos
7575757575
13
I
Textos Literários
14
15
Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini
Engenheira - São Paulo - SP
ADEUSADEUSADEUSADEUSADEUS
Emumúltimosuspiro
osilênciosefazpresente,
nanoitetristeefriadeinverno.
Nãodeuminvernocomum,
masdaquelequenevapelaprimeiravez.
Os flocos finos, brancos e fofos
docéucaememprofusão.
tais quais nacos de algodão doce
perfumadospelaessênciadanoite.
Nasflores,nasárvoresnocumedamontanha
espalham-se fundindo-secomaterraúmidadeorvalho.
Pelavidraçadavida,
otempoestedivisordemomentos
atudoespreitaeaguarda,
implacávelemudo.
Umaúltimalágrima,
caidemeusolhosúmidos,aindavivos.
Meuespíritoporémjávaga
entreoaquieoagora
oinfinitoeodesconhecido.
Numbrevemomento,
aúltimalucidez.
Agarrotuamãoemdesespero,
Despeço-me...
Umcarinhoprofundo,
quesóotempoentende,
Umadeusdoídonadespedidadapartida.
Emumúltimosuspiro,
minhaalmaparte,
ficameucorpoinerte,
esparramadonoleitodamorte.
16
Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini
SEPSEPSEPSEPSEPARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃO
Abri a porta, acendi a luz sentindo uma sensação estranha “dejavu”. Não dei muita
importância.Apoieiabolsaeopacotedecomprasnobalcãoevoltei-meparatrancaraporta.
Aindaderelanceobserveiumavezmaisobeloentardecerqueacabaradeseformar,sentindo
olevearomadadamadanoite,plantadajuntoàescadadavaranda.
A casa estava imersa num silêncio profundo enquanto me dirigia para a cozinha,
atualmentemuitoutilizadadepoisdaamplaemodernareformaquefiz.Apoucalouçadanoite
anterior, as taças, a garrafa vazia do Bordeaux degustado até o último gole, tudo no lugar,
comodecostume.OqueeufariasemaminhafielescudeiraDonaJoana?
Comeceiaguardarascomprasnageladeira,recordandocomsatisfaçãodanoiteanterior,
os aromas e a profusão de sabores que exalaram da receita escolhida e preparada a quatro
mãos para o jantar. Passamos horas alegres, rimos mais do que o normal principalmente
apósalgunsgolesdovinhoqueforaespecialmenteselecionadoparaaquelaocasiãoecombinou
perfeitamentecomomomento. Lembramosdealgumassituaçõesrealmenteengraçadas,
falamos de pessoas que hoje se tornaram pontos quase esquecidos num passado já um
poucodistante,masquedeumaformaoudeoutrafizerampartedanossahistória.Quanto
tempo havia passado desde então? Não sei, não me lembro ao certo. Mas a sensação que
tive, por alguns segundos foi de que ainda possuíamos laços fortes que nos mantinham
conectados,apesardadistânciaedotempoquenosafastara.
Quemforarealmenteoresponsávelpelodistanciamentoquelentamenteforatomando
conta de nossas vidas? Teria sido a ausência de filhos, o excesso de trabalho, a falta de
privacidade,asconstantesviagensdenegóciososcompromissosquesemprenosculpávamos
porassumir,masquenadafazíamosparalimitá-los?
Tínhamosumavidaconfortávelebemestruturadaenosamávamosmuito,pelomenos
eraoquepensávamos.Achávamosquetudopoderiaserresolvidonodiaseguinte,outalvez
nofinaldesemanaseguinte,ounasfériasseguintes,comoseavidafosseumaciênciaexata
ondesimplesmentesesoma,semultiplica,sesubtraiesedivideobtendo-seosresultadosde
formaprevisível,nahoraemquesequer.
Fomospercebendootamanhodadistânciaquenosseparavaquandomarcamosuma
viagemdefériascomumcasaldeamigosequandoelesacancelarampormotivospessoais,
fizemos o mesmo, pois ficamos com medo de enfrentarmos uma terrível solidão a dois em
um local desconhecido e onde não poderíamos compensar nossas frustrações de forma
comosemprefazíamosemcasa,ousejanosapegandoaotrabalho,quenofimerasemprea
nossa válvula de escape.
Poderíamosterrevertidooquadro? Hojeemdiaeuacreditoquesim.Nomomento
sentimos quase que um alívio em pedirmos um ao outro um tempo. Como se dando um
tempofosseumasoluçãodeaproximação.Oquedefatoocorreuéquedesfizemosdenosso
apartamento e de forma provisória cada um encontrou o seu próprio espaço e o tempo
transformou-se em meses, que foram completamente preenchidos por muitas atividades
17
Aída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini
profissionais e outras pessoais, que completavam o nosso dia a dia. De vez em quando nos
encontrávamosdeformarápida,ounosfalávamosportelefone.Naverdadenãotínhamos
muitoquefalar.Cadaumjáestavavivendosuavidadaformaqueachavamelhoresemmuito
problemanemdecunhopessoal,nemfinanceiro,nemsocialemuitomenosreligioso,pois
ambostinhamumatendênciaaoagnosticismo.
Semana passada após muito tempo sem nos vermos de forma real nos encontramos
por acaso em um barzinho. Ele estava com uns amigos e eu com uma amiga que veio ao
BrasilatrabalhoeresolvimostraraelaumpoucodanoiteemSãoPaulo.Apósasurpresaea
coincidência do encontro conversamos um pouco e marcamos um jantarzinho em minha
casaparaasemanaseguinte.
Não sei realmente o que pode ou não acontecer após o jantar de ontem. Foi muito
bom,podeserumrecomeço,nãodigodeumauniãoestávelcomojávivenciamosnopassado,
masquemsabededuaspessoas quejáseamarammuito equehojeapós novasconquistas
eexperiênciasestãoemcondiçõesdeassumiremumarelação maismaduraemenosegoísta.
Osilênciodacasaquesempremedeuumasensaçãodepaz,hojeestameangustiando
umpouco.Precisodeumpoucodemúsica.VoutocaromesmoCDqueporcoincidênciafoi
amúsicadefundodojantar.
Coincidênciaounão,oAndréaBoccelliqueecoaagorapelacasaéminhainspiração
paraprepararmeujantarequemsabemaistardeseráaminhamotivaçãoparatelefonare
marcarumnovoencontro,oureencontrocomumpoucodomeupassado.
18
Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves
Psiquiatra - Tupã - SP
JORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚ
Setembroéprimavera!
As flores desabrochando,
Colorindoeperfumando,
Oambientevaiembelezando!
ÉaniversáriodaSOBRAMESRegional
EencontroJornadianobi-anual
DosqueridosconfradesSobramistas,
NajornadaMédico-LiteráriaPaulista.
Nesteanode2011emITU,
Cidadehistórica,berçodaRepública,
Rotadosbandeirantes,consideradanaquelaépoca,
Vilapopulosa,charmosaerica.
Poetas, Prosadores e Médicos Escritores,
EmITUvãoseencontrar
Durantetrêsdiasprimaverissedutores,
Debeleza,culturaehistóriasecular.
Comsuagentehospitaleira,
ITUvainoshospedar,
E a SOBRAMES Paulista,
Suajornadavairealizar.
19
Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves
MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!
Mulher,venhoteanunciar:
Euteescolhiparameabrigar!
Seuóvulo,vaisejuntar
Aoespermatozóidedeumhomeminvulgar.
Transformadoemovo,voucresceremealimentar,
Emseuútero,voumeaninhar.
Meuberçovermelhoemaciovaimeacobertar,
Pornovemeses,nastuasentranhaseuvoumorar.
Nesteperíodogestacionaldeformaçãoecrescimento,
Meudelgadocorpocomeçaasedelinear;
Contigo,eujácomeçoaconversar,
Atravésdaforçadomeupensamento.
Preparo-me,apósamaturaçãodocorpofetal,
Paradeixarestaminhaaconchegantemorada;
Precisodeforçaedecisãoparadeixaresselagotépido,
Eatravessarocanal,afenda,atéaluznormal.
Abro os olhos, respiro e choro.
Cortaramomeucordãoumbilical,
Paranestenovomundoeuviver.
Mamãe!Euqueronestemomentoteagradecer.
Mamãe,euquerotedizerquesouteufilho!
Mamãe,euqueroteconfidenciarqueeuteescolhi,
Paraser,nesteplanetaterra,acarnedaminhacarne
E,pormepermitirveraluz,agradecer-lhemamãe,euquero!
20
Arary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz Tiribairibairibairibairiba
Infectologista - São Paulo - SP
PERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOS
Leio:quepercevejosvoltaramcomtodovigoremNovaIorque;quehoteleirosempregam
cãesfarejadoresparaidentificarlocaisinfestados...
Ora!nova-iorquinosaindaestãopordescobriramim,fonteindividualparapesquisa
[incomparávelarmadilhahumana],poisquejáatraíoschupa-sanguesemmomentospolares
da profissão que escolhi, ao início e ao fim do curso médico!
1942,aos16anos,desatraqueidoportosantista,aceneiadeusaocolégiomaristapara
matricular-menopré-médicodaCapital.PrimeirocontatocomSãoPaulo!Cercade800mil
habitantes!Imensa!paraumrecém-chegadodoMacuco.DesembarqueinaEstaçãodaLuz,
dinheirinhocontado,milréis,doismilréis,cinco...Nãoouseiprocurarhospedagemàdistância
da referência ferroviária, pra não me perder. Diante da Estação, casarões centenários com
anúncio de “VAGAS” [em Santos, oceânicas; na Paulicéia, ondas, as do colchão de capim].
Pernoite−baratocomdireitoabaratas−,massurpresa!Nãoindividual!Àshorasdamadrugada
− acesa a luz −, o desconhecido se alojava na camilha ao lado! Porém, estranho mesmo −
espetáculohitchcockiano−,insetosdespertadospelaluminosidade,batendoemretiradapor
lençóis e paredes! Maciça a infestação. De percevejos! À manhã seguinte efeitos... Caroços
vermelhos, duros, coceira pra lá da conta! Carimbado, grosseira e extensamente, pelos
tatuadoressanguinários.
“PrimeiraLiçãoPráticadaParasitologiaMédica-AoVivo”.Naprópriapele!Nenhum
livrodemedicinaaregistra.
Virando a página, segunda lição. Sexto e último ano do Curso Médico, canudo ao
alcance da mão! Comemoração em Buenos Aires! Economias amealhadas, 9 de julho de
1950,quadrimotorCruzeirodoSulronca4horas,depositaosdoutorandosemEzeiza.9de
julho,repito,datamagnaargentina!NacionalismoexaltadoporPerón,apopulaçãoacorreraà
Capital!Supersuperlotaçãodahotelaria!
E agora? Colegas remediados de alguma forma conseguem hospedarias razoáveis.
CalhambequedaépocalevaAutoràpensióncoletiva.Nãodeuoutra.Aonascente,odespertar...
encaroçadoepruriginosopormordedurasdoinsetoasqueroso!
Pior ainda, Catedrático da universidade austral oferece recepção em sua residência.
Convidaraalgumasniñasparaaconfraternizaçãoacadêmicaportenho-paulistana.Aoanalisar
opescoçolesionadodestavítima,sentenciou−altavoz−,inapelável:
− “Brasilçno... SÍFILIS!”
Dói, não dói? A essa altura me considerava expert do repulsivo Cimex lectularius, o
inseto da cama. Se denunciasse a fonte local, mal-estar diplomático! Contive a gana, mas
vontadedesobrapragritar:
21
Arary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz Tiriba
− Perdón Maestro! Brasilçno, si. Nadie de sífilis, pero picadura! SI PICADURA!
Desventuras.Nãobastantes!16dejulho,aindanopaísirmão,suportamos nosotros,
brasilçnos en las calles, el temporal fantástico, la lluvia “copiosa”! De chistes! Final da
CopadoMundo!Brasil1,Uruguai2!Maracanazo!!!Praficarnahistória.
TuBuenosAiresquerido/cuandoyotevuelvaaver/nohabrámáspenasniolvido...
GrandeCarlosGardel! Tambiénnohabrámás“chinches”,percevejos,esse,onomequese
dá?
UM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPE
DeSãoPaulopraSantaMaria,RioGrandedoSul,resolvipousaremIguape,cidade
deromarias.Alguémmecontaradesuafolclórica;lá,oestranhoganhaapelidoemmenosde
24 horas. Prova disso...
Caixeiro viajante apostou que ali passaria o dia inteiro sem alcunha. Cedinho, sem
chamar a atenção, chegou à hospedaria e não saiu mais do aposento. Limitou-se a abrir a
porta,chamaroboy.
− Garçom, o café! ao meio-dia: ... − o almoço! à noite: ... − minha ceia!
Àmanhãseguinte,antegozandovitóriaabriuaportapelaúltimavez:
−Garçom,minhaconta!
Doempregadoparaoproprietário:
−Patrão,comandap´rocuco!
... ... ...
Caminhavasó.Costalitorâneailuminadapeloluar.Àcurtadistância,velhopescador
sentadonacarcaçadecanoa;cabisbaixo,solitário,costasparaapraçadomercado.Aproximei-
medemanso,passosqueaareiaencharcadaabafava.Nãoseiexplicarcomopercebeuminha
aproximação.Sequermeneouacabeça,exibiu-meamãoaberta.Marcada −apalma −por
estrela de reflexos faiscantes. Tatuagem ou não, impressão permanente! Sem chegar a me
encarar,deitoufalação.
−Vosmicêpódinumdáféd´istóriadepescadô.Acuntecêoquandumi´acumpanhêra
midexôsuzinho.
Pausou,comoquearelerpapelamassado...apágina,candente,dasuavida.E
continuou.
− A noite era linda di extasiá. Ergui d´areia istrelinha-du-má. Sinti ela fria, iguá
qui´eu,quequisdávidapr´éla.Prumórdelasobrevivêcalenteielacoé´stamão,sempará
difazêrêdico´a´ôtra.Intão,istrêla-du-máperdêofrieza,calentô!Essamãotambémgarrô
di´ardê,quárbrasêro,intéqueimá!
Seuolhar...fixadonamãoaberta.
22
−Dirrepenti,numpé-de-ventoescapôdami´amão.Ind´umtempuficôpostadadiante
d´êsti pescadô, cheia du brio i da graça. Na lufada siguinti, subío, deitano risca nu céo,
comu essas´istrela qui vosmicê − hóme das letra −, chama cadenti. Di´olhá pr´éla, cegô
mêos´zóio,aistrelinha-du-máquians´simmimarcô,éssamãoquivosmicê´stáinchergandu.
Silencioucomosearevisse.Arrisqueiperguntar-lheporquenãodirigirosolhosparao
céu...reencontrarobemperdido...Aoquerespondeu:
− Num carece, sêo dotô. Êssis´zóio, inda qu´inturvadu, é capáiz di riconhecê´ela in
quaquécantuducéo´istreladu,maiz´essamãonãoarcançamaiz´ela..
Ecompletou.
−Incontrôu´ástrucumpanhêru.
Cabeçaparaaareia,cerrouamão,estrelaescondida...
Afastadoalgunspassos,curioso,voltei-me.Paraindagar-lhedonome.Ouparaesticar
aprosaintrigante.Porém...inexplicável!Praiaerma!Nenhumacriatura!
Devoltaàpraça,depareicomarodadenotívagosmoradores−cartorários,professores,
advogados,pecuaristas−,seletosiguapenses,aosquaisnarreioestranhoencontro.Ouviram-
meseminterrupção.Entreolharam-se.Nopovoadonãoconheciamninguémcomosinal.
Pesca tornara-se industrializada; artesanal, já não existia; tampouco destroços de canoa.
Perguntou-me, um, se estava cansado da viagem, outro [respeitosa delicadeza], se sofrera
quedadapressãojuntoaomar.[Comosemeupassado,minhaalma,minhaancestralidade,
nãoexibissemsalpicossul-atlânticos,santistaquenascinolitoralmaisacima].
Desconcertadopelodescrédito,participeiporalgumtempodaroda,tratandodeouvir
mais do que falar, atento às expressões idiomáticas castiças e ao sotaque regional mesclado
debrasil-sulino.
Passava da meia-noite, despedi-me, deixando-os entregues aos comentários a meu
respeito,cientedequehábitosprovincianosrequeremaintrigacomqueexultam.
Acaminhodopouso,repensavaahistóriadohomemcaiçara.Deitei-meexausto.
... ... ...
... pescador... sua estrela... o fascínio do Mar Pequeno da manjuba... do espelho de
areia... do véu noturno sobre as águas... o velho que identificava sua estrela, mas não a
alcançava. Eu... zzzzz... preso ao com...zzzzz pro... misso matrimonial zzzzzzzzz teria tido,
por acaso, igual visão estelar? Zzzzzzzzzz... ... ...
... ... ...
Aoacordaràmanhãpuleidacamapararetomaraviagem.Espalmeiasmãos.Alívio,
nãotinhaestigma!
... ... ...
Ainda se lembra? do forasteiro? do apelido? Como seria o meu? Mão de xerifeMão de xerifeMão de xerifeMão de xerifeMão de xerife?
[xerifesemestrela,nãoéxerife];mão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelo[aentidadesobrenatural]?
Teriaquebradoorecordedocaixeiroviajante?Seilá!
Arary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz Tiriba
23
Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
Psiquiatra - São Paulo - SP
CORTINAPARAPATIFARIAS
Exaspera ver os representantes do estado brasileiro esfalfando-se atrás de algo que dê
substâncias aos rotos encobrimentos de falcatruas e incúrias dos que nos obrigam a cultuar
como heróis, e depois dizerem que isso ajuda a preservar as “honras” da Pátria.
Recentemente, vimos os esforços do presidente do senado brasileiro para “amputar”
da história o afastamento, por pressão popular intensa, de um dos que sujaram a presidência
da nossa “república”, aliás, defeituosa desde o início pois surgiu com um dos golpes tão
comuns no Brasil, gerados pela insubordinação e indisciplina viscerais de nossos militares.
Andando pelo bairro do Ipiranga na capital de São Paulo, é comum vermos as ruas
poluídas por nomes cujas indecências estão enclausuradas nos fedorentos baús escondidos
nos porões de Brasília, para que fiquem eternamente longe das vistas da nação brasileira,
como pretende o estado brasileiro. Quanta desinteligência, quanta ingenuidade estatal.Atitude
vã pois o povo brasileiro não é burro e acaba descobrindo.
Estudando a história de meu estado, o Pará, em historiadores estrangeiros e diários de
bordo dos navios ingleses, tive oportunidade de conhecer as “façanhas heróicas” destas
vestais cujas fantasias desafiam o tempo.
Comecemos por Pedro I, o tal da “independência” que ameaçou o vento com uma
espada de enfeite, cercado de puxa-sacos nas margens plácidas. O que está escondido é que,
pouco tempo depois, o ignorante sujeito esnobou o trono do Brasil, quando os Ingleses o
ordenaram que assumisse o trono de Portugal que, diga-se, ocupou por pouco tempo, uma
vez que foi cedo para o inferno, consumido pela sífilis que adquiriu na vida amoral e devassa
que levou no Brasil; capaz até de se encontrar o recibo dos milhões de Libras Esterlinas com
os quais “comprou” de Portugal a tal “independência”. Será que querem que não se saiba
quem foi Greenfell? Um assassino que, em Belém, atirou contra o peito de pessoas desarmadas
e presas pela sua soldadesca, isto em público em praça pública, à vista de milhares de pessoas.
Sem falar no trágico assassinato de centenas de paraenses presos nos porões de uma caravela,
onde, por sua ordem, foram jogados vários tambores de cal soldada.
Natural que o estado brasileiro queira manter escondido quem realmente foi o
“Comandante Taylor”, prócer de nossa “gloriosa” marinha, e desertor da “insignificante”
marinha inglesa; o “prócer” permanecia em terra sempre que havia belonaves britânicas na
costa brasileira pois corria o risco de ser preso e levado para a Inglaterra, onde seria enforcado.
Natural que o estado brasileiro não queira que se saiba que o almirante Wandenkolk foi o
responsável por três “gloriosos” bombardeios que Belém do Pará, uma cidade brasileira,
sofreu da “gloriosa” marinha brasileira. Natural que o estado brasileiro procure esconder
eternamente que o “herói da pacificação nacional” de nossa “gloriosa” marinha, o almirante
24
Francisco José de SouzaAndrea, na realidade foi um genocida que assassinou mais de quarenta
mil paraenses, com seu exército de facínoras retirados dos presídios de Pernambuco e da
Bahia.
Quais serão os motivos que tem o estado para esconder as cartas que o duque de
Caxias mandava para a corte durante a guerra do Paraguai? Será que não quer que a nação
saiba dos crimes de guerra que confessa nessas cartas? Ou não foi crime jogar cadáveres de
coléricos no rio Paraná para contaminar a população de Assunção? O que pensaria a nação
se soubesse das atrocidades do conde D’Eu? Este Francês sinistro que incendiou hospitais
paraguaios, com os doentes dentro, após lacrar portas e janelas e queimou vivas quatro mil
crianças numa batalha desta guerra que, está escondido também, foi patrocinada pelos ingleses
que não queriam um concorrente industrializado nas Américas, como era o caso do Paraguai.
Vai ver deve haver também documentos secretos do golpe de Jacareacanga naAmazônia,
quandoaaeronáuticamilitarbrasileiraexerceuindisciplinascontraJuscelinoKubticheck.Quanto
a “revolução” de 1964 não há mais o que esconder; nossos chefes militares já avisaram que
destruíram todas as provas da insubordinação, das malfeitorias, dos assassinatos e outros
crimes que cometeram.
Da parte civil do estado, acredito que não escondem nada. Seria absolutamente inútil
pois ontem, assim como hoje, nunca tiveram vergonha na cara mesmo...
Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
25
Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
MEU BRASILMEU BRASILMEU BRASILMEU BRASILMEU BRASIL
Pátriaminha,muitobemamadaevaronil.
Merecesummelhordestino,maisdenodo,
Umaelitemaisdecenteenãotãoimbecil,
Otérminodaenganaçãoemenosengodo.
MeugrandeBrasil,acordairmãoamigo!
Emtuasruasmilhõesamargamdesespero,
Vítimasdoscultoresdopróprioumbigo,
Eespecialistasdomalfeitocomesmero.
Queserá detipátriafortebelaequerida?
Quintaldamiséria,dadoençaedaincúria.
PedeaDeusquetealivie,tefaçaguarida,
Mandandoproinfernoarealidadeespúria
Meuamordepesadeloedevidadura,
Muitoruimteverestraçalhadopelapolítica
Dirigidaporvestaiscomfantasiasdecandura,
Sacerdotesdadoredamaldadeapocalíptica
NãovêsBrasil,opresentemaismedonho?
Maustedominando,tetornandoinclemente?
Asriquezasquefariamdavidabelosonho,
Sendodigeridasporumestadoindecente?
EntãovejaBrasil,oteufuturocomprometido:
Umacriançachorandosó,famélicaeangustiada
Sem luz, sem saúde, sem escola, sem sentido,
Semesperança,sempaz,semnorteemaisnada.
26
Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos
Infectologista - Botucatu - SP
INFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIA
Nainfânciaocresceréumadóciltarefa
Brincaréregraprimadobelodestino.
Sonharémotivaçãodavidasonhando
Criaréarotadoseredoamarcriando.
Pensaréainvençãodaprópriainfância
Oalegreviveremanaeanimaseuser.
Aimaginaçãodivaganaaçãosingela.
Suaalmaéplenadesonhoefantasia.
O seu dia é a expressão do ser criança.
Vasculha, corre, descobre e se diverte.
Oquerermostraolivremododebrincar.
A ação é o gesto puro e belo de sorrir.
Adescobertaéoiníciodaaventura.
Venturosapalpitasuapiaalmajovial.
Noinfantecadaminutoétodoeterno.
Correr,assobiar,sorrirnoseiodaterra,
Jogar,tirar,ver,apanharéseufolguedo.
Abrindo sua vista e sua fértil cabeça
Noatoinocentedebrincarsorrindo,
Felizcaminhoacariciaaçãopueril.
Todofaceiro,despidonanatureza.
Nadócilinfânciasonhaacordado.
Emumaabençoadadádivadivina
27
Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos
VITVITVITVITVITAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REAL
Em1895Dr.VitalBrazilseinstalouemnaCidadedosBonsAresaconvitedacolônia
presbiterianaquenessaocasião,floresciae,consequentementeerapujanteedesenvolvida.O
núcleoconstruíraaigrejapresbiteriana,mercêdosesforçosdeDomingosSoaresdeBarrose
doreverendoLaneoqual,tambéminiciaraemSãoPaulo,afundaçãodoMackenzie.
Nasadiaintençãodecriareinovarosdoisprogressistasevisionáriosamigos,unidose
esperançosos, houve por bem modificar a assistência médica ao trazer à crescente e a
progressivaBotucatu,oirmãodefé,osonhador,Dr.VitalBrazil.
SuaclínicaeradeSenhorasedeCriançase,alémdisso,amavaconheceredesvendara
ação do veneno das cobras peçonhentas: crotálica e botrópicas responsáveis, por mera
coincidência, pelos acidentes humanos frequentes nesta região. Recebia, com bastante
freqüência no consultório, pacientes picados por cobras peçonhentas ou se dirigia as
propriedadesruraisacavaloparaatendê-losousocorrê-losnoscasosgravesouurgentesde
difícil locomoção a cidade.
Emgeral,aspeçonhaseram,porele,adquiridasporvalorsimbólicoouganhavapara
estudá-las,coletando,analisandoeavaliandoseusvenenos. Apósoisolamentoosinoculava
empombosouanimaisdoseuimprovisadolaboratórionoporãodacasaquehabitavacontígua
àEscolaAmericananaquallecionavamprofessorasdeorigemestrangeira.
O edema local e as alterações vasculares habituais nas botrópicas, enquanto que nas
crotálicas,emgeral,cursamsemedemanolocaldapicada,masrevelamexuberantesalterações
centraissensoriaise,quandoatingemobulbocerebraldeterminamparalisiarespiratórialevando
amorte.
As diferenças dos quadros clínicos observados nas picadas das botrópicas frente as
dacrotálicainduziram-noainferirsobreaprováveldiferenteatividadeimunológicamercêde
suapercepçãonasendadapesquisalaboratorial.
Devido ao rápido crescimento de seu laboratório, por precaução, devido à presença de
alunosnaescolaamericana,transferiu-oparaoamploporãodaFarmáciasituadaàantigaRua
Riachuelo.
Suaspesquisasevoluírameosresultadosobtidosincitaram-noàsnovasespeculações
eaostesteslaboratoriaisdiantedosvenenosdaspeçonhas.
Seuestudogerminouquandoem1901resolveufrutificá-lanorecémcriadoInstituto
Butantan. Logo se instalou e foi desvendar seu conceito de especificidade sorológica dos
venenosensaiadosaté1908.
Em1909,asdescreveuemsuadissertação“LaDéfenseContreL´Ophidisme”,aqual
apresentouemParisem1911.
De volta ao período de vida em Botucatu a clínica se consagrava entre os diferentes
pacientespresbíteros,católicosounãoosquaiseramatendidoscomdedicaçãofraternalno
consultório.
28
Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos
Ospresbiterianosutilizavamumabandeira,decorbrancaafimdeidentificararesidência
ouapropriedaderuralaomédico.Nessetempoosconflitosreligiososexistiamesemantinham
entreeleseoscatólicos.Infelizmenteissoperturbavaorelacionamentodopovonacomunidade.
Certaocasião,apósumaintrépidaeventurosasubidamatinaldaserradeBotucatu,um
colonosurgiuesedirigiunoiniciodatardeàcasadoDr.VitalBrazil.Vinhasolicitaraeleque
o acompanhasse a cavalo a distante fazenda de seu patrão. Era hábito normal e necessário
aos médicos a utilização do cavalo para que fossem atender os pacientes das comunidades
dacercaniaeasdazonarural,geralmente,distantesdocentrourbano.
Portanto,ocavaloouacharreteeraomeiodelocomoçãonormalerotineirodomédico
quecavalgandoouboleandosedirigiaàscasasdaperiferiaoudaextensazonaruralexistente
naépoca.
Essapropriedadesesituavaabaixodaserra,portantohaveriaumalongaviagem,deida
e, também de volta a cavalo, até se chegar à sede, para que o médico pudesse realizar e
assistiropartodaesposadopatrãoquepertenciaaumafamíliapresbiteriana,Nogueira.
Adescidaíngremedaserraeraárdua,difícileaventureira.Dessamaneiraoscavalos
deveriamestarpreparadosparaexaustivaviagemefetuadanotrechodaencosta.Oexperiente
cavaleiro levou e conduziu, cuidadosamente, o criterioso e devoto doutor em seu dócil e
treinadocavalo,atéacasasede.
Ao entrar na residência se defrontou com o marido apreensivo que, de imediato,
confirmouonascimentoNogueiraemhomenagemaodoutor.Saudávelelongevoviveumais
de95anos.
AsuafilhaArleteB.Nogueiranarrouessecontoverdadeiro.
29
FlertsNebóFlertsNebóFlertsNebóFlertsNebóFlertsNebó
Reumatologista - São Paulo - SP
A MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIAS
Não vou entrar nas diferentes considerações da Mitologia, visto que todos os deuses
que ela agasalha não passam de contos engendrados pelos gregos e romanos, há muitos
séculos passados.
Masoquemechamaaatençãoéqueatualmentemuitosdaqueles“conceitos“conceitos“conceitos“conceitos“conceitos”continuam
presentesemnossosdiasemplenoséculo XXIXXIXXIXXIXXI.
Haja visto que estão desejando, após o desembarque do homem na Lua (Ceres dos
GregoseRomanos)estãoestudandoaconstruçãodeumaparelhoparaodesembarqueno
planetaMarte(deusdaguerraentreduascivilizações,GREGAEROMANA).
Buscam um modo, talvez antes de desembarcar em um de seus satélites (Castor eCastor eCastor eCastor eCastor e
PoluxPoluxPoluxPoluxPolux).
Desembarcaremumdeles,procurandoummomentoemqueumestejamaismaismaismaismais
próximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestre, o que será um acontecimento, que marcará para o resto de
nossa humanidade; um feito incomumfeito incomumfeito incomumfeito incomumfeito incomum, como foi também a primeira vez que um homem
(GAGARIN)passoudoslimitesdenossaatmosfera,entrandonoespaçosideral.
Ohomemporsuaprópria naturezanaturezanaturezanaturezanaturezaéum sercuriososercuriososercuriososercuriososercuriosoenuncasecontentacomaquilo
que tem, e sempre deseja mais, visto que existe um ditado que diz: VIVENDO EVIVENDO EVIVENDO EVIVENDO EVIVENDO E
APRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDO–époristoqueestamosparticipandodestaJornada,aquiemItu,ouvindo
o que os nossos confrades e comadres tem para nos contar.
Nestemomentoagradeçoemnomedeminhacidadenataltudoquantoouviatéagorae
me despeço dizendo Até brAté brAté brAté brAté breveeveeveeveeve e que os Deuses vos acompanhem. AMÉMAMÉMAMÉMAMÉMAMÉM!
30
SÃO PSÃO PSÃO PSÃO PSÃO PAAAAAULOULOULOULOULO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO
SãoPaulodaex-garoa
São Paulo do ex-café
Só tu és coisa boa
Emtiponhotodaminhafé.
SãoPaulo,terraformosa,
Vivesemmeucoração
SãoPaulo,terradadivosa
SãoPaulodaprodução.
SãoPaulodasbandeiras
SãoPaulodaConstituição
Trezelistasaltaneiras
ÉstodoumaNação.
SãoPaulodeamor
Sempreforteevaronil
Ouvemeucanto-clamor
ÉsaalmadoBrasil.
Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó
31
Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz
Oftalmologista - São Paulo - SP
MITOMITOMITOMITOMITO
Omitomoldaamente
Docrente
Demodointeligente.
Algumlentamente
Outroderepente,
Masàmodaconveniente,
Eestecrêpiamente
Emmitonascente
Oujacente,
Sejamitocoerente
Ouincongruente.
Hámitoquematagente,
Outroquemorrepelagente.
Hámitoinocente.
Hámitoindecente.
Hámitoquemente.
Hámitovalente.
Hádementedoente.
Hámitoprepotente.
Amaioriaéinconsistente,
Muitomitoinconsciente.
Hajamito,minhagente!
Porqueohumanosente
Necessidadepremente
Deodiarouestarcontente,
Comummitojáausente
Oualgumorapresente.
Éumdesejoardente,
Consequente,
Imanente.
Omitoémuitoinfluente
Epeloditoepelonãodito,
Secridoirracionalmente,
Melhorparaomito.
32
Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz
PIZZAPIZZAPIZZAPIZZAPIZZA
Qualquer farinha que contenha glúten quando amassada com água, sovada e assada,
recebe o nome de pão. O pão pode ter formas diversas, mas basicamente ele é: ou alto ou
plano.
A pizza nada mais é do que um pão plano fermentado, feito com farinha de trigo.
Inicialmenteeraumsimplespãoassadodeumladosobreumapedraquenteeemseguida
virado, até que descobriram o forno oco de calor seco, que o assava simultaneamente dos
doislados.Asuaorigemseconfundecomopãoárabe,oupãopita,cujaetimologiasugerea
mesma raiz fonética. A diferença está na cobertura, que a enriquece. Esta cobertura é
basicamente um pomodoro, molho de tomate (sugo). Não se sabe se havia um pão com o
nomedepizzaantesdodescobrimentodaAmérica,porqueotomatefoidaquiparalá,masé
possívelquejáexistisseelevasseoutracobertura,aliche,sardinha,patêsdiversos,ouentão
secomiaempedaçosmolhadosemcaldosquentesousopas,alémdeguisados.
Esta variante de pão ficou restrita à cidade e ao reino ou principado de Nápoles por
séculos,porquecadapovoeuropeutinhaseupãopróprio,incluindoaíasoutrasprovíncias
italiotas, e ninguém se interessou por ela. Era um pão regional coberto com molho e,
eventualmente,comqueijo.Acoberturacomqueijoémaisrecente,econstituiaformaclássica
dapizzanapolitana.Usou-semussareladebúfala.Mussareladebúfalonãoexiste:búfalonão
temleite,temesperma....
Maisrecentemente,depoisdasmigraçõesdositalianosparaasAméricas,elafoiaculturada
em duas cidades: Nova Iorque e São Paulo. Nos Estados Unidos difundiu-se rapidamente
com o surgimento da comida industrial e do fast-food. O processamento em larga escala
criou o disco pré-assado, o que culminou na Pizza Hut e outras marcas. É uma bolacha
crocante com cobertura. Bolachas também são pães planos. Para quem se acostumou com
massafrescarecémassadaistopareceumaheresia,masofatoéquetambémémuitogostosa.
Questãodecostumeepaladar.
Em São Paulo o consumo da pizza patinou até o fim dos anos 70. Havia umas poucas
pizzarias,comoaCastelõesnoBrás,aZiaTerezanofinaldaaindaestreitaRuadaConsolação,
alguma que não conheci no Bixiga, e a rede Paulino. Todas elas faziam massa grossa com
borda saliente, porque a filosofia da pizza sempre foi esta: um pão massudo para encher a
barrigaeumacoberturaparadarsabor,refinamento.
Mas aí aconteceu. Uma modesta casa de pasto, a Monte Verde, situada entre o Bom
RetiroeaBarraFunda,quenemeraumapizzariaespecífica,forneciaumcardápiovariado,
churrasquinhoseoutrosassados,umasguarniçõescomooarroz,afarofa.Tinhaumaspoucas
mesas e uma clientela limitada, paroquial. Havia um forno no qual também fazia pizzas, à
escolha do freguês, massa grossa ou massa fina. A moda da massa fina pegou! De repente,
informadospelapropagandabocaaboca,levasemaislevasdepaulistanosforamlácomera
novidade.Sãoasconhecidashordasurbanas.
Então,oportunistascomeçaramaabrirpizzariasportodaacidade,etambémaspizzarias
tradicionaisjáestabelecidasaderiramaomodismodapizzafina.Estaassavamaisdepressa,
33
Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz
economizavalenhaoueletricidade,dobravaolucroeatraíafregueses.Istocoincidiucomo
desastradogovernoSarney,quandoainflaçãochegouaos80%aomês,odólarfoipararnas
alturaseotrigoencareceumuito.Seantesumapizzaalimentavacomsustançaumafamília,
agora são necessárias três, e ainda se fica com fome. A cada vez mais a pizza vem sendo
descaracterizada,hojemaispareceumapanquecatransparente.Jáouvipaulistanosqueforam
comer pizza em Nápoles dizerem que a pizza de lá é muito inferior à nossa, é uma pizza
grossa(espessa),quasesemcobertura.Eutiveumprimoquesógostavadeboloqueimado.
Suamãenuncaacertavaeelecresceucomendoboloqueimado,umcarvãozinhodoce...
Hoje, a partir de São Paulo, a pizza avassalou o Brasil. Deve haver índio botocudo
comendo pizza nas mais remotas nascentes do Amazonas. E temos um costume deveras
singular:aquisecomepizzasóànoite.EmNápolescomeçamacomê-lanocafédamanhã,e
passamodiacomendopizza,comotambémofazemosamericanos.Outraparticularidade:
só nós, os “brasiliani”, a comemos no prato, com faca e garfo. Como qualquer pão, no
mundoelaécomidacomamão.Masdiantedaatual“pizzabrasileira”,oupaulistana,seilá,
superfina,molenga,queijofumegantederretendoebastantemolhonabase,seriaumaousadia
tentarcomê-lanamão.Despenca,queimaamão,sujaosdedos,manchaaroupa.Umdesastre
naetiqueta.Melecatudo.
Umadescobertaminha,entregenialefatal.Pormelhorquesejaapizza,comê-laànoite
acompanhadadechope,éazianacerta,demadrugada.Estimulaasecreçãodesucogástrico
e libera um ácido clorídrico capaz de derreter aço inoxidável. Mas a diaba é danada de
gostosa,edacervejanemsediga:voumearriscaraterumagastriteouumaúlceraduodenal.
Nhacc!nhacc!:
- Tante grazie, paesano!
34
HelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliomini
Urologista - São Paulo - SP
AAAAAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIASSSSS
Lembro-menitidamentequandocriançadasmanhãsdedomingo.Osolnãoseacanhava
em dardejar seus raios através dos vitrais da igreja de São Pedro Apóstolo, iluminando,
aquecendoeanimandoorecinto.Oaltareracarinhosamenteenfeitadocomfloreseadereços
dispostos de acordo com as festas litúrgicas. O silêncio do ambiente era quebrado pelo
cantarolardospássarosquevoavamgarbosamentedeumladoparaooutro.
Nessecenárioeucomeceiaaprenderdeformasimplesasinestimáveisriquezasdafé
católica. Não eram tão-somente conhecimentos teóricos impalpáveis, mas sim práticos e
acessíveis àqueles de boa vontade.
Essesensinamentos,queforamsedimentadosparalelamentenoGinásioSantaGema
dasIrmãsPassionistasduranteoitoanos,deformaexplícitaeimplícita,tiveramreverberação
em minha casa onde meus pais procuravam igualmente viver de acordo com aquilo que
acreditavam.
Guardocommuitaternuraegratidãoafigurademeupai,sempreajoelhadoaoladode
suacamaconjugalantesdesedeitar,independentementedafadigadoseudia.
Dentreasmaisbelasfórmulasdeoraçãoquetenhoemestimacitoo Glória,Glória,Glória,Glória,Glória,hinoque
deformasimplesediretalouvaaSantíssimaTrindade;o PPPPPai-Nossoai-Nossoai-Nossoai-Nossoai-Nosso,ensinadopelopróprio
Jesus,filhodoPaie,acarinhosa AAAAAve-Mariave-Mariave-Mariave-Mariave-Maria,emhomenagemàmãedoRedentor.Aliás,asua
primeiraparteétodabíblica, portantoneotestamentária.
AolongodeminhavidatenhorecitadoessesingelohinodelouvoraMariaSantíssima
algumascentenasdemilharesdevezes...senãofoimaisdeummilhão!
Sim,muitíssimasAve-Mariastenhodeclamadodasmaisdiversasformas:compenetrada,
desconcentrada,atabalhoada,rápida,vagarosa,meditativa,mecânica,soleneeinformal.O
queimportaéquecomometaprincipal,semprealmejeicomessaprecelouvarNossaSenhora
eagradeceraDeusporela.
Interessanteéqueasuasegundapartecomeçouaterumsabordiferenteaolongodos
anos.Tenhoproferido-atalqualumnáufragoquevêsuasalvaçãoaoabraçarvigorosamente
umtroncodemadeiraquebailaaoléupelasmarolaseondasdooceano.
Àmedidaqueotempopassa,eurecordocomternuradostemposdaminhainocente
infância,quandonãotinhacondiçõesdeaquilataropeso,adensidadedecadapalavraede
cadasentençadasinúmerasAve-Mariasquerecitei.
Aomeaproximardocrepúsculodaexistênciacomamaturidadereunida,contocada
vez mais com a esperança de um órfão ao dizer: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nós
(pobr(pobr(pobr(pobr(pobres) pecadores) pecadores) pecadores) pecadores) pecadores, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobretudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (exxxxxclusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.
35
Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini
CARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENA
UM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIATRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEO
Apesar de estar em idade provecta, fiquei surpreendido e triste com a notícia de seu
falecimento,em27dedezembrode2010,contandocom94anos.
EmborafôssemosmembrosfundadoresdaAcademiaBrasileiradeMédicosEscritores
–Abrames,nuncaoconhecipessoalmente,vistoqueesteveimpossibilitadodecomparecer
nasessãodeinstalaçãodosodalícioem26demaiode1989,nacapitalfluminense.Radicado
emTeresópolis e já idoso, tampouco esteve presente em nossas anuais, magnas e calorosas
SemanasdaAbrames,dasquaistenhocomparecidoprazerosamenteemsuaimensamaioria.
Nãoobstante,trocavamensalmentecartas,comentários,boletins,opúsculoselivros
com ele, particularmente nos últimos quatro anos, por ocasião da coleta de dados de meu
livro Imortais da AbramesImortais da AbramesImortais da AbramesImortais da AbramesImortais da Abrames (2010), ao qual deu também sua inesquecível contribuição.
Apesardeter-lheenviadoumexemplardessaobra,assimcomofizcomtodososacadêmicos
daAbrames,elenãopôdecomentá-la,pois,infelizmente,jáhaviafalecidosemqueeusoubesse
doocorrido.
JoséCarusoMadalena,maisconhecidosimplesmenteporCarusoMadalena,nasceu
nacidadedoRiodeJaneiroem19deagostode1916.Eradefamíliahumildeecomeçoua
trabalhar aos 9 anos como jornaleiro. Manifestou desde cedo pendor para a literatura,
publicandonarevistadaAcademiaAnchietadoColégioMunicipalSãoVicentedePauloseu
primeirocontointitulado“OBalão”,quandocontavacom13anos.
Graduou-sepelaEscoladeMedicinaeCirurgiadaUniversidadeFederaldoEstadodo
Rio de Janeiro (UNI-RIO), especializando-se em neurologia e psiquiatria. Foi professor
assistentedepsiquiatriadaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro;professordepsicologiae
higienementaldaEscoladeEnfermagemdaUniversidadeFederalFluminense;professordo
Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas; professor emérito de psiquiatria da
UniversidadedeNovaIguaçu;professoradidodepsiquiatriadaOrganizaçãoMundialde
Saúde no Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina; e professor convidado de
psicofarmacologianasuniversidadesfederaisdaBahiaedoRioGrandedoNorte.
CarusoMadalenatinhagrandecabedalcultural,religioso,filosófico,científicoeliterário.
Era um gigante do intelecto. Ao contrário do que se pensa, a ciência não o distanciou de
Deus.Eraumhomemdesólidafée,particularemente,umcatólicoconvicto.Sabiademonstar
atravésdarazãooporquêdesuacrença,apesardasdificuldadesinerentesaomaterialismo,
egoísmoepragmatismohodiernos.
Pertenceu a diversas entidades, salientando-se: Associação Brasileira de Psiquiatria
(membro fundador); World Psiquiatric Association; Sociedade de Medicina e Cirurgia do
RiodeJaneiro;SociedadeLatino-AmericanadePsicobiologia(membrofundador);Sociedade
PsiquiátricadeLínguaPortuguesa(membrofundador);AssociaçãoBrasileiradePsiquiatria
Biológica(membrofundador);AssociaçãoPsiquiátricadeBrasília(membrohonorário);Centro
Brasileiro de Estudos Estratégicos; Centro de Estudos Franco da Rocha; Academia
36
Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini
JoséCarusoMadalena(1916-2010).
TeresopolitanadeLetras;AcademiaBrasileiradeMedicinaMilitar(emérito);GrêmioBarra-
Mansense de Letras; Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional do Estado do
Rio de Janeiro; Academia Brasileira de Médicos Escritores(membro fundador e emérito);
AssociaçãoNacionaldeEscritores;AcademiaCariocadeLetras;InstitutoBrasileirodeHistória
daMedicina;SociedadeBrasileiradeFilosofia(presidenteemérito);AcademiaAlagoanade
Letras(correspondente);eAcademiaPetropolitanadeLetras(correspondente)dentreoutras.
CarusoMadalenatinhaespíritoinventivo.Naliteratura,criouogênero“humorismo
iconoclasta” e a poesia “pareidólica”. Na filosofia, concebeu o mundo como “significação”
daignorânciaecriouconceitosde“filosofiaúltima”e“causainfinita”.
Escreveumaisdeumacentenadeensaiosemopúsculossobretemasquevariavamda
mitologiaàtanatologia;dareligiãoàfilologia;daliteraturaàfilosofia;damedicinaàhistória.
Naimprensautilizou,porvezes,opseudônimode“JoãoCarlosMagalhães”.Sãoseuslivros:
PPPPPsicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básica; Lições de PLições de PLições de PLições de PLições de Psiquiatriasiquiatriasiquiatriasiquiatriasiquiatria; As PAs PAs PAs PAs Psicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicas;
Fenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia Psiquiátrica; O SonoO SonoO SonoO SonoO Sono; História da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da Esquizofrenia; e Caderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de Páginas
TTTTTristesristesristesristesristes. Possuía cerca de 80 títulos honoríficos nacionais e internacionais.
ConheciJoséCarusoMadalenaapenasporcartasatravésdocorreiotradicionalepela
leituradealgunsespécimesdesuavastaemultifáriaobra.Encontrava-seviúvoenãodeixou
descendentes biológicos. Apesar da idade avançada, comportava-se como um jovem. Era
muitolépidoemcomentarouresponderàsminhasindagaçõesemissivas.Gostavadeinteragir
ecorrespondercomigo.Foiumtitãdaintelectualidade.Seupassamentodeixougrandelacuna
nasentidadesqueparticipou,particularmente,naqueridaAcademiaBrasileiradeMédicos
Escritores.
37
HildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEnger
Clínica Geral - São Paulo - SP
IRMANDADEIRMANDADEIRMANDADEIRMANDADEIRMANDADE
Silenciosaeimpassível
Atravesseiotempo...
Tolereichuvas
Etempestades...
Quietaemuda
escuteisegredos
Semdesvendá-los
Mecontentei
Com as viagens do vento...
Queindoevindo
Através dos tempos
Mecontoudasrotas
Domundo.
Nuncasoubedondevim
Nemparaondevou
Masagora
Olhandoaterraseca
porondeando
descobriserirmãdapedra.
MOMENTOSMOMENTOSMOMENTOSMOMENTOSMOMENTOS
Tudopassouenfim
Equasenadarestou
Dos sonhos
Quenãoforamsonhados
dosprojetos
Quenemforamesboçados.
As palavras
Perderamsentido
E os gestos todos
Foramesquecidos.
Tudoficoumuitosimples
Muitoóbvio
Muitoprevisível...
Poristo,agora,
Nãotedirei
Maisnada.
Apenasteolharei
Comolhostristes
Dedespedida.
38
Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas
Advogada - São Paulo - SP
AAAAAS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELAAAAAS PS PS PS PS PALALALALALAAAAAVRAVRAVRAVRAVRASSSSS
OrganizadapelaSobramesmaisumajornadaliterária,destaveznagrandeItu,procurei
umtemaquefizessejusaessahistóricacidadeparameinscrever.
As palavras desfilavam na minha mente, empurra, empurra, pois, em se tratando de tal
importância,todasqueriamaparecerpararepresentarotemaemquestão.FoiumDeusnos
acuda!Largueiafolhadepapeleacanetanamesaedeiumavoltapelosarredoresdecasa.
Tomarumcafezinhoàtarde,numaboaconfeitaria,compartilharamesacompessoanão
conhecida,renovaovigorparavoltaraescrever.Quantacoisaseaprendeeseensina,éuma
trocadeexperiências.
Volteiparacasa,vireiafolhadepapel,relioquejáhaviaescritoparacontinuaraescrever,
mas, escrever o quê?
Preciso das palavras que se atropelam na minha mente, como as mais belas da língua
portuguesa,paraengalanarestaminhahomenagemàfamosacidadedeItu.Queremaparecer
aqualquerpreço,paramostrarabelezaquerepresentam.Sãosonorasquandolidasemvoz
altaouquandocantadasnasnotasmusicaisdaspartituras.
Quaispalavras,meuDeus,escolhereiparadizeroquantoadmiroessacidade?
Certamente,invocareiograndepoetaOlavoBilacepedireiajudaparasocorreraÚLTIMA
FLORDOLÁCIOINCULTAEBELAeassimeupossa,simplesmente,dizer:
Acolhedora Itu, berço da República, A MINHA GRATIDÃO.
39
Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas
O VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERTTTTTA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEM
Verdequerosempreser.
Fuicriadopeloaltíssimo
Paraserohabitatdahumanidade,
Quenãoestáreconhecendomeuvalor.
Nãodeixequeoinsanomedestrua
Souverdeequeroserútil.
Estousentindoosmaustratos.
Meuspulmõesestãoenfraquecendo
Minhaamiga,aNatureza,
ComlivretrânsitojuntoaDeus,
Estáperdendoapaciência
Depoisdetantosalertas!
Eohomem,inquilinodesteplaneta,
Faz-sededesentendido,
Continuaamaltratar-me.
Oqueserádahumanidade
Sealgumdia,oalimentocolhidonaterra
Tiverovenenodavingança?
Salve-me, para você ser salvo!
40
José Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto Vieiraieiraieiraieiraieira
Anestesiologista - São Paulo - SP
LIMIAR
O corpo doente, e a alma quem sabe?
Leva o ser ao umbral do seu destino.
Que insondáveis caminhos nos levará?
A consciência ou ao seu fim?
Quisera que a divindade nos levasse
Ao sono profundo para depois despertar
Com o raiar do sol, alegre, forte e cheio de sonhos
Que os nossos amores continuassem...
Que a saudade tivesse fim
Insondáveis são estes caminhos...
Até que este dia chegue,
Que a esperança alivie nosso fardo.
41
José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo
Patologia Clínica - Belo Horizonte - MG
CARCARCARCARCARTTTTTA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORES
Nestemomento,cingidosnapromoçãohumanística,maslançadosparaasociedade
agresteeávidadecuidados,nãohácomosentir-seseguro,distantedasangústiasedaagrura
dofuturo.
Anossofavor,amedicinaunge-nosàmedidaqueseaprofundanaessênciahumanae
sederramanocuidardetodoscomrespeito,amizade,solidariedadeeinvariávelcompetência.
Oimponderávelinstaosaberconduzircomsegurançaassituaçõesdeurgência,que
colocamemriscoavida,podendocunharterríveissequelas.
Representoaquelesquesededicamaoensinodasemergênciasmédicasequelutam
paraajustaroensinoaestarealidadepungente.Urgeproporeincitarmudançasnoensinode
urgência,aindaqueconfrontandointeressesnacirandadaensinadela,alimentadaporinfindável
discussãonatertúliaburocracial...
Tragoainocênciadeacreditarqueumdianãomaisdesaguarãonassalasdeemergência
tudo que não se resolveu em outras instâncias, as inúmeras falhas e gargalos do sistema de
saúde..., e as diversas máculas da sociedade moderna, como o vício, a mazela das drogas e
do álcool, a pisadura da pobreza dilacerando o homem..., cuja vida, por vezes, já nasceu/
afloroudescomedida/insípida/desequipada.
Amedicinanoscolocafaceafacecomosofrimentohumano,asperdasinevitáveiseo
estressededefenderavida...,nacontrafacedobem,naexorbitânciadodescomedidomal,
emsuasprosaicasfaces,àsvezesimpermeávelaosnossosanseios... Elaépartedecadaum,
a confundir-se com seu todo, amiga, algoz, musa, amante, companheira astrométrica..., a
iluminaravida,defendendo-aepromovendo-anoslimitesdaética.
Omédicolidacominusitadasdores,ohomemcriaelidacomseusprópriosdissabores,
masaospoucos,rompeemsuatravessiaexistencial,ganhaqualidadedevidaeolampejoda
vidadecadaumperpetua-seacadanovosegundo,jagunceando,forcejando,cachorrandoa
mortecerta.
Namedicina,asconquistaseoprazeremexercê-la,ajudandoemotivandoavidade
outrem, afagam os fracassos, tornando-os toleráveis. Por fim, o calor da vida se paga e nos
paga.
42
José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo
TRATRATRATRATRAVESVESVESVESVESSIASIASIASIASIASSSSS
“Aciêncialançaluznosmilêniosdetrevasdosem-fim”,(GuimarãesRosa)
enquantoaepistemologiarondaburacosnegros,(Jocase)
somente“aboaleituradesbastaaignorância”,(HaroldBloom)
“amedicinalidacominusitadasdores,
ohomemcriaelidacomseusprópriosdissabores,
masaospoucos,rompeemsuatravessiaexistencial,
ganhaqualidadedevida
eolampejodavidadecadaumperpetua-seacadanovosegundo,
jagunceando,forcejando,cachorrandoàmortecerta”.(jocase)
O dia-a-dia é assim, como “as serras que vão saindo
paradestaparoutrasserras”(GuimarãesRosa)
Eentão,
“Tudovaleapena,sealmanãoépequena”(Fernandopessoas)
Omédicodentrodecadaumaindanãofoiterminado...,
nãooserá,
nãoconheçoumgrandemestrequetenhasesentidofinalizado,
o médico se constrói a cada dia...
com o cabedal do façanhoso bem,
comamassadaangústia,
que só assim se esvaece... (Jocase)
Aboapráticamédicaéassim,
comoumaprofusãodefrasesfeitas,
belas,completas,complexas,expressivas,
consensuais,
aplicadascomharmonia,
aharmoniaqueadoençaexige,
odoentetantoclama
e, se certo, afaga-nos o ego,
encantaenosencanta.
43
JoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeiros
Pneumologista - Maceió - AL
REMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTRE
AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA
AurélioBuarquedeHolandaéalagoano?Eleproduziuobrasliteráriasalémdodicionário
que o celebrizou? Estas perguntas têm sido feitas fora do Estado e eu tenho explicado o
orgulhodeAlagoastersidooberçodoimortalAurélioerepetidoonomedasobrasliterárias
que produziu. Sobre o dicionário sou sempre enfático. Estima-se que um em cada seis
habitantes do Brasil tenha em casa, pelo menos, uma das versões do dicionário de Aurélio
BuarquedeHolanda.Líderdevendasemseusegmento,durantemuitosanosfoiumbest-
sellernaslivrarias,somenteperdiafôlegoparaaBíblia,queénadamais,nadamenos,olivro
maisvendidonomundo.Lançadoem1975,foipublicadoapóscincoanosdetrabalhoem
equipe, coordenada por ele e por D. Marina, sua esposa. A obra foi a concretização de um
antigosonhodoautor,que,desdemenino,demonstroupaixãopelosignificadoepelaorigem
daspalavras.
Poeta,críticoliterário,contista,ensaísta,tradutor,professorelexicógrafo,caracterizaram
asváriasfasesdesuavida.ComoconheciAurélioBuarquedeHolanda?
Nadécadade60,meuirmão,RuiMedeiros,jornalistaeescritor,trabalhavanoDiário
de Notícias, Rio de Janeiro. Naquela época, eu estava realizando especialização no Rio e
costumavair,ànoite,aojornal,paraesperaromanoquetrabalhavaatéàs22horas.Nasala
daredaçãodojornaltiveafelicidadedeconhecernomesdestacadosdaliteraturabrasileira:
AurélioBuarquedeHolanda,JoséLinsdoRego,OttoMariaCarpeaux,RacheldeQueiroze
Álvaro Lins. Eles se reuniam, todas as quintas-feiras, para elaborar o caderno cultural do
domingo.
Duranteadécadade70,períodoemqueassumiaPró-ReitoriaComunitáriadaUFAL,
realizamosváriasjornadasculturais.MestreAurélioparticipoudetrêsdelas.Quandooconvidei,
pelaprimeiravez,elemerespondeucomoutrapergunta.Nãopodesernofinaldenovembro?
E explicou: “todos os anos gosto de passar um mês de férias em Maceió. Nessa hipótese,
junto o útil ao agradável”. Assim foi feito. No final de uma dessas jornadas, o então Reitor
Manoel Ramalho designou-me para representar a UFAL, num encontro de folclore em
Laranjeiras (SE); Mestre Aurélio era um dos convidados especiais do evento. Durante o
percurso,deautomóvel,deliciei-mecomaexuberânciadesuacultura.Orarecitavapoemas,
oratrechoslongosdeescritoresportuguesesebrasileiros.DeCarlosDrummonddeAndrade
aCecíliaMeirelles,deMachadodeAssisaEçadeQueiroz,elediscorriadememória.Contou-
me Dona Marina que “ele sabia de cor todos os versos de “Os Lusíadas”, de Camões.
Mesmonosúltimosanosdevida,jávítimadomaldeParkinson,elemepediaquedissessea
primeira estrofe para dar prosseguimento ao restante do conteúdo”. Uma extraordinária
memória.
Do festival folclórico de Laranjeiras, relembro fatos curiosos. Estávamos na praça
assistindoaosfolguedosenosacompanhavamminhaesposaeminhafilhaMorgana.Aproximou-
se de Mestre Aurélio um casal, e o homenzinho, meio feioso, de terno e camisa colorida,
44
José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros
teceuelogiosaodicionarista.Dizia:“éomaiorescritordesteséculo,umdicionaristanunca
igualado,mestredosmestres,bemmereciaparticipardeumaacademiamundial”.Sentique
Aurélionãoestavagostando;desorridente,caiunomutismo.Eohomenzinhocontinuava...
Talvez, a título de conclusão, saiu-se com essa: “Vossa Senhoria é um desses homens após
cujaapariçãodescansa,talvezséculos,esgotadaanatureza”.Nessemomento,Aurélioabriu
umsorriso:“poisbem,meuamigo,vocêdissetudoissodemim,euagradeço,maseutroco
todos esses elogios por essa morena bonita que está acompanhando você. Vamos fazer a
troca?”Rimosabandeirasdespregadas.Ohomenzinhodesapareceu.
Comojáafirmei,assistíamos,napraçacentraldacidade,exibiçõesdemanifestações
popularesfolclóricas.Morgana,minhafilha,comcincoanosdeidade,passavadomeubraço
paraosdeRosa,natentativademelhoraproveitaroespetáculo.AurélioBuarquedeHolanda,
ao nosso lado, sempre gentil e afável, pediu permissão para colocá-la no ombro, assim
permanecendoatéofinaldoespetáculo.Todasasvezesquerelembramosessefatodizemos
queMorganaestevebempróximadeumdoscérebrosprivilegiadosdoplaneta.
Aos27anos,elejáparticipavadavidaculturalalagoana. CarlosHeitorConycontou,
ementrevista,quepossuiumafotografia(de1930)emqueaparecemosseguintesescritores,
reunidosemMaceió:AurélioBuarquedeHolanda,JorgedeLima,GracilianoRamos,José
LinsdoRego,RacheldeQueiroz,GilbertoFreireeManuelBandeira.Éumsinaldequehavia
umagrandeefervescênciaculturalemMaceió,nessadécada.
Umadatasignificativamereceserrememorada.Em1961,foieleitoparaaAcademia
Brasileira de Letras. Frisou em seu discurso de posse: “Sou escritor da província e minha
maiorglóriaéentrarparaaAcademia”.OgovernodeAlagoasdoouofardãotradicionalda
Academia.
Parauns,eraoSherlockHolmesdaspalavras;paraoutros,opsicólogodaspalavras,
umagaláxiadepalavras.“Tinhaaalmadaspalavras,avidadaspalavras,e,porisso,conseguiu
traduzi-lasdeformauniversal”.
DasmuitasdefiniçõessobreessapersonalidadedestacoaopiniãodopoetaLedoIvo:
“AurélioBuarquedeHolandaamavaaspalavras.Amava-ascomoseelasfossemmulheres–
emulheresnuas,queselevantavamdesuascamasimaginárias,vestiam-sedeluzesombra,
caminhavamaoseuencontro,distanciavam-se,juntavam-seebailavam.Ecantavam.Avida
inteiraeleescutouocantointerminável,vindodetodososlugares:dosgrandesdicionáriosde
seusantecessores,dovastoarsenallinguísticoeliterárioqueconvertiaasuabibliotecanuma
verdadeirailhadetesouros,especialmentedabocadopovo,omestresupremodalinguagem”.
AurélioBuarque de Holanda jamais esqueceu sua terra e sua gente. Amava Alagoas,
tinhamuitosamigosnoEstado.Suapermanênciaentrenóserasempreumafesta.Amavaa
comidaregional.Aalagoanidadenuncaperdidafaziapartedeseugenomaexistencial.Jamais
seráesquecidopeloscontemporâneosqueoconheceram,pelasobrasliteráriasqueproduziu,
peloDicionárioquesetornoupropriedadedafamíliabrasileira.
Aopassarparaadimensãoespiritualseudicionáriotornou-seocompanheirodetodos
aquelesqueutilizamaescritaequepassaramatratá-locomamaiorintimidadeecarinho:traga
o Aurélio, consulte o Aurélio, veja o Aurélio. Nossa homenagem recordativa. Imperecível.
Mesmo, porque, acredito sempre, que o verdadeiro túmulo dos mortos é o coração dos
vivos.
45
José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros
VULVULVULVULVULTOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINA
Lembraréreviver.Reverenciarosgrandesnomesqueenaltecemahistóriadamedicina
éresgatarfatosefeitosdehomensemulheresquecontribuíramparaqueessaciênciaearte
vencessemosumbraisdoempirismoealcançassemopatamardeumamplodesenvolvimento
científico.Seahistóriaéaciênciadotempo,elaprojetanopresentefigurasquesedestacaram
emsuasépocasesãoenobrecidasnopresentepormeiodegloriosasreminiscências.
No passado, grassavam epidemias mortíferas. Na Europa, no século XVI, a varíola
causava,anualmente,600milmortes;apestebubônicaalastrava-secomvirulência,destruindo
apopulaçãodecidadesinteiras.Agripeespanhola,noséculoXX,fezumavítimailustre,o
presidentedaRepúblicaRodriguesAlves,quenãopôdetomarposse,nosegundomandato,
morrendonodia16dejaneirode1919,vítimadessaterrívelvirose.Gradualmente,ohomem
conseguiudominá-lasemsuagrandemaioriaeelevaroslimitesdavidahumana,mercêde
medidaspreventivas,denovasdrogasterapêuticasedosprogressosdatécnica.
Milharesdeanosantesdaeracristãumestranhopostuladodominavaamedicinachinesa:
“O coração é o rei; os pulmões, os ministros; o fígado, o general; a vesícula, a justiça”.
Pode-se discordar desse aforismo; todavia, muito se deve aos cultores da medicina desse
país,queéumadascivilizaçõesmaisantigasdomundo.
Será impossível lembrar o nome e a contribuição de milhares de médicos, que, com
suasdescobertas,abriramperspectivasàciênciamédica.Gostonãosediscute.Escolhi,com
liberdade,algunsvultosdamedicina,que,paramim,sãomarcoshistóricosdaevoluçãoda
ciênciamédica.RobertKoch,nascidonoséculoXIX,dedicou-seàpatologiaeàbacteriologia.
Éconsideradoumdosprincipaisresponsáveispelaatualcompreensãodaepidemiologiadas
doençastransmissíveis.Descobriuoagentedocarbúnculoeidentificouoagenteetiológico
datuberculose(BacilodeKoch).Seusestudossobreatuberculoseforamtãocompletosque
pouco se pôde acrescentar às suas descrições, a não ser no campo da terapêutica.
AlexanderFleming,inglês,foiodescobridordapenicilina,obtidaapartirdeumfungo,
oPenicilliumnotatum.Adescobertafoiocasional.“Oantibióticodespertouointeressedos
investigadoresamericanos,queduranteaSegundaGuerraMundialtentavamimitaramedicina
militar alemã que possuía as sulfamidas. Os cientistas Ernst Boris Chain e Howard Walter
Florey descobriram um método de purificação da penicilina que permitiu sua síntese e
distribuição comercial para o resto da população”. A penicilina salvou milhares de vidas
duranteessaguerra.
Edward Jenner foi o precursor das vacinas. Colhendo pus de uma ferida variólica
bovina,inoculounobraçodeumadolescente;mesesdepois,repetiuaexperiência,inoculando
material contaminante de varíola humana. A doença não aconteceu. Jenner concluiu ter
descoberto a vacina. O aperfeiçoamento dessa descoberta foi o ponto de partida para o
preparodetodasasvacinasatualmenteexistentes;umpassode“botade7léguas”naevolução
daciênciamédica.
NãosepodeesquecerosábiofrancêsPasteur,quenãoeramédico,esimbioquímico.
Sua contribuição é incomensurável; soube entender os desafios científicos de seu tempo e
dar-lhesrespostasadequadas.
46
José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros
No Brasil, há nomes que não podem ser esquecidos: Oswaldo Cruz, Carlos Chagas,
VitalBrasil,AdolphoLutz;e,maisrecentemente,CarlosdaSilvaLacaz,ClementinoFraga,
AfrânioPeixotoeMiguelCouto,entretantosoutros.
Na descoberta da Tripanossomíase americana e do agente causador dessa doença,
destaca-se o nome do cientista Carlos Chagas, responsável por uma grande contribuição
brasileira à medicina. O Trypanossoma cruzi, o agente etiológico, retirado de um inseto
hematófagoquevivenasparedesdecasebresdepau-a-pique,éoresponsávelporessagrave
enfermidade.
Nãopoderiaencerraressebrevehistóricosemfazerreferênciaaoutronomededestaque
nocampocientífico:VitalBrasil,imunologistaquealcançourenomeinternacional.Descobriu
o soro ofídico e os soros específicos contra picadas de aranha e escorpião. Em trabalhos
posteriores,contribuiuparaoaperfeiçoamentodossorosantitetânicoeantidiftérico.Criador
doInstitutoButantã,doInstitutoVitalBrasil,elefezumlargotrabalhonocamposanitário.
ArthurRamos,umnomequenãopodeseresquecido.Médico,psicólogo,psicanalista,
professor universitário, antropólogo, etnólogo, filósofo, cientista, escritor de renome
internacional. Deixou mais de 400 trabalhos científicos e 23 livros publicados, nos quais
transbordasuaextraordináriacompetência.
A vida grita, a luta continua. A realidade sanitária brasileira com núcleos de grande
evolução e extremos carenciais que oprimem a população, bem merece a comparação de
“belindia”,metadeBélgica(comamelhordasmedicinas)eoutrametadeÍndia(subdesenvolvida
edeparcaevolução).Salva-nosaesperançadequeapesquisaeaciênciasejamvanguardade
aplicaçãosocialparaapopulaçãoquemaisprecisadeapoio.
Valelembrar:ahistóriadamedicinaconfunde-secomahistóriaevolutivadaprópria
humanidade.
47
Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock
Oftalmologista - São Paulo - SP
ACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTO
Aconteceunolimbodamemória,
ondeopassadoeopresenteseencontram,
aondeosolbrilhanteseespreguiça
nalinhadohorizonte.
Aconteceunodiachuvosoenoensolarado,
nasnoitesestreladasdaluanova,
ounaclaridadedaluacheia.
Aconteceunalinhadohorizonte.
Aconteceusóumavez,masnãodeixoudeacontecer.
Mudardeopiniãosobreoqueaconteceu
eparaissonovamenteacontecer,
umlargotempoestreladohádepassar.
Deixaracontecereamarintensamente,
mas não se esquecer,
dequeerraquemfazacontecer
etambémquemdeixadefazer.
Acontece das pessoas esquecerem o que alguém disse,
oquealguém fez,
masnãoseesquecem
como alguém fez como elas se sentissem.
Aconteceu
eacontecedeacontecer.
48
Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock
QUANDOQUANDOQUANDOQUANDOQUANDO
Quandonocéujánãohouverestrelas.
Quandonocoraçãojánãohouverpaixão.
Quandonomarjánãohouverpeixes.
Quandonaprimaveranãovirmosflores.
Quandonajuventudenossentimosvelhos.
Quandobrotaráguanodeserto.
Quandoooceanosecar.
Quandonoverãosófizerfrio.
Quandolembrarmosasbelasquimeras.
Quandoasfantasiassetransformarem.
Quandonossentirmosdoamordescrentes.
Quandoarealidadenosabater.
Quandojánãomaisouvirmos.
Quandojánãomaisvirmos
Quandojánãomaissentirmos.
Quandotudoseacabar.
Tuaslágrimasencherãoosrios,
teusorrisodesabrocharáasflores,
teusolhosfarãobrilharasestrelas,
teucorpoaqueceráaTerra.
Só, só tua presença restará.
49
Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
Pediatra - Jundiaí - SP
CALIPTRACALIPTRACALIPTRACALIPTRACALIPTRA
Eladeveriaestaracostumadacomaquelarotinaqueanoapósanotornava-otãoprevisível
etãodiferente.Calorosoemornonosdiasdesol,noinvernosearrebatavacommergulhos
loucosnasuaintimidade,voracidadedequemnadatematemer.Inevitávelqueficassedespida
deseuorgulho,àmercêdavontadeimperiosaeinquestionáveldeseuamantedelongadata.
Sabia que progressivamente ele se tornaria gélido e distante, fazendo com que ela
tremesse na base, arqueando-se à sua passagem, com todos seus vãos e meandros se
envolvendonaquelarededeinsanidadequetiravadelaquasetudo,menosaconvicçãodeque
aagoniapassariae,enfim,elaressurgiriacomelen’algumamanhãcolorida,cheiosdeternura
e frescas promessas.
Olhavaaoredorenãoseencontravasozinha,parecendo-lhequeasdemaisaceitavam
aquela condição impossível de submissão, calando-se ante os caprichos dele e de suas
determinações,feitoharémdeodaliscasentristecidas.
Porquantasestaçõesresistiriaàquilosemqueoinexoráveltempoviessecobrardeles
tantasmetamorfoses?Suavastacabeleira,aindaexuberante,perdiaseuesplendoracadadia,
despindo-se de seda e perfume. O forte e vigoroso corpo detinha-se ressequido por
intempestivasbrutalidades,imotoaosolo,aspacíficasraízesdesonhosmalnutridosemespera.
Ah,erabemverdadequedetestavaaquelaorgiaqueotransformavaacadaestação!
Volúvelepoderoso,cientedavirilidadequeexalavavidaesedução,tornava-amodesta
einsignificanteemmeioatantasoutras...Elasofria,mascominternabeligerânciaealtivez,
pois que havia lhe dado alegrias durante toda a vida, enfeitando o caminho por onde ele
passou com acenos melancólicos na partida, exultando toda ornada de flores e aromas de
jardinssilentesacadaretorno...
Noentanto,nãoprogrediucomoele,quesemprealçououtrosvooseviunovaspaisagens,
vivendoaventuras.Elaficouali,imóvelcomoaluaqueirradiavafrialuzsemjamaisconsentir
intimidade.Eraassimtambémcomeles:elaorecebiaeodeixavapassar...Eleapossuíaese
deixavapartir.
Entre lembranças e saudade fazia planos, tentando convencer a si mesma de que na
próximaestaçãotudoseriadiversoemsualongavidadeservidão.Resignada,reluzialunática
para depois se apagar, vestindo-se e despindo-se, renovando e findando. Ele continuava
senhor das cores da primavera, do mormaço do verão, da fria aragem de outono e dos
cristaispendentesdoinverno,tudoseguindocomooprevisto.
E outra vez ele passeou por entre os braços dela, alisando seu contorno, soprando e
cantandocanções.Elaoaceitoucomdissimuladapassividadeeaudaciosainveja,querendo-
lhealiberdade;mantendo-seimóvel,rendidaaochão,despediu-sesemapelos,acatandoseu
destinoeoporvir,enquantolongeelejáestava,levandomechasdeseuscabelos...
A natureza deixa que o vento recolha as folhas que vestem os galhos. Mostra que a
árvoresempreaceitatalsacrifícioedeixaadorvibrarseusacordes,mentirqueépassageira,
cingirotempocomaesperançadeumlongobeijosemnovoadeus!
50
PÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULO
Queanoiteédesilêncioatardeanuncia!
Os pássaros esquecem os piados frementes.
Quesabemdofuturosepalrampelodia
Queaescuridãocarreganoventreinconsequente?
A noite se apresenta qual fosse o fim da vida!
Setodaescuridãoésempreassim,silente,
Contigoeudeveriaestarquaseescondida
Noabraçoaconchegada,mirandoosolpoente...
Esperotuavoltaantesqueasavesdurmam
Edeixemnalembrançaseuspiosearrulhos
Praseaninharemjuntasnasebedoquintal!
Nãotarda,meuquerido,esperoregressares.
Vemmemostraravidaquetemosnospomares:
Avidaquepalpitaalémdomatagal...
Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
51
Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira
Médico Clínico - São Paulo - SP
CACACACACASA AMARELSA AMARELSA AMARELSA AMARELSA AMARELAAAAA
Alheio aos passos do gato do telhado
Alheioaluaminguanteesparramadanovasodeplantas.
EuralhocomDeus.Porquemefez?
Alheioanoitesobreamesa.Alheioaosolnopratodeparede.
Eucaioemmim.
Alheioàsextadécadadaquiavintesemanas.
AlheioanecessidadedeumCaptopriledoisAAS(s).
Eu Solo I Mio.
Nenhumdosmeuspassosmetrouxedevolta.
Nemaretatorta,nemaveiasolta,nemalínguatrôpega.
Nemapalavraamargadeixoudeseroqueera.
Nemosperfumesretornaramnobicodospintassilgos,nemosfilhosforamsemelhantes.
Ninguém desfez, e refez os nós, os sós, os cós, os calafrios e os catiripapos.
Noentanto,pormuitotempo,aminhavidahabitouemmim.
Comoumamúsicaqueeufinginãoouvir.
Comoumaintrusaqueacheimelhornãonotar.
Euumandarilho.
Compoucosmetrosdetrilha,naimensidãodeumailha.
Eumavontadeimensadenãoprosseguir.
Escrevo.
Todasasnoites,aquinestatelaestérilevaziadeumcomputador.
Abrigo os meus monossílabos. Que nem sílabas são, nem papel ela é.
Alheioamimeaofim.Desaparecerei.
RestarãoquilosdeCaptopril,toneladasdeAAS.
Paraseremconsumidasporoutroshipertensosansiosos.
Poetassolitários,queouvirãopisadasdistantesdegatos.
Apenasgatos,andandocabisbaixosnotelhado,deumavelhacasaamarela.
52
Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira
QUQUQUQUQUARARARARARTO DEGRATO DEGRATO DEGRATO DEGRATO DEGRAUUUUU
Depois que nos mudamos para aquela casa. Bastava cessar a chuva e eu ouvia o
barulhodeZig.Zig.Zag.
Ouviaporquatrovezes.Depoisparava.Eusaiadomeuquartomeiocommedodentro
dosmeusseisanos.Iaatéacozinhaeolhandonadireçãodaescadaquelevavaaoandarde
cima.Estavaláumaesferaluminosazigzigzagdeslizandocomruídonoquartodegrau.Eu
dasprimeirasvezesfiqueiespantado.Depoisjámeaproximavadela.Eraesféricaetinhaum
orifício no meio. Eu enxergava–a com dificuldade. Mas mesmo assim conseguia ver que
haviaimagensnocentrodoorifício.Depoiselasumiaesumiacomelaobarulho.
Nãoconteiparaninguém.Nemsatisfizacuriosidadedeolharnocentrodaesferaever
oqueeramaquelasfigurasali.Quedavaparanotá-las,dava,masnãodavaparadistinguir.Mesmo
eu dobrando os óculos de vovó, para por as duas lentes em um olho só.
Mesmoassim.Eutinhamedodeaproximarmeurostodaesferaluminosa.
MesesdepoismeupaiqueeraGerentedoBancoMoreiraGomesemMacapá.
FoitransferidoparaFortaleza.
Passaram-seanos.Euformadoemengenhariavoltoacidadeatrabalho.Comocresceu.
Quasenãoareconheço.
Hojeeuresolvoiràcasadeumacolegadeequipeparaumencontroejámeioatrasado
tomoumtáxi.
PodemelevaràruaJovinodeNoa,aalturado515?-Éprajá,responde,omotorista.
Começamosarodar.Estouansioso.Parecequeestouapaixonado,elainteressou-me
demais.
Derepenteotáxientraporruasquemelevaramainfância.Lembrançasfelizes.
Momentosinesquecíveisjuntocommeuspais,agorajáfalecidos.
Peçoqueelediminuaavelocidade.
–Olhaocolégioqueestudei.OlhaapraçadosEscoteiros.Quantaspipasempineiaqui.
Omotoristasorriu.
–Aquinestapraçaganheiestacicatriz.Apontei-asobreasobrancelhadireita.
Derepentesurgiuoesqueletodeumacasajámeiodemolida.Eujámoreiai.Disse-lhe.
Quevãoconstruir?Perguntei.Umtemplo,respondeu.
–Pareumpouco.Voudescerummomento.Vouentrarumpouconestasruínas.
Eleparounaesquina.Debaixodeumfocodeluzdailuminaçãopublica.Oquerestou
dacasaestavadooutroladodaruaemtotalabandono.
Nãosedemoredisse.Estelugarébastanteperigoso.
Atravesseimeiocorrendo.
A casa estava ali. Fora a ultima moradia comum a meus pais e meus avós, antes de
irmosparaFortaleza.
Apesardeestaremderrubadasalgumasparedes.Euaindaconheçovocê,disse.Conheço
bemaindaseuscômodos.Aquieraasala.Bemalificavamosquartos,obanheiro,acozinha.
Estavamuitoescuro.Aplacadaconstrutoradefrontedacasaquasetotalmentedemolida
aumentavaaescuridãoeeraumaconstruçãoderesponsabilidadedenossaConstrutora.
53
Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira
Quecoincidência.Penseicomigo.
Parecequeotáxibuzinava,chamando-me.
Olugarestáescorregadio.QuaselevoumtomboÉquechoveufininhohápouco.
Daspoucascoisasaindadepéencontroàescadaaminhafrente,suspensanoar.
Agoraelanãoseencontracomoandardecima.Vouaoquintal,nãohámaisaporta,
vejoocajueirooutrorapequeno,agoraenorme.
Derepenteouçoumzigzigzagquemeassustaumpouco.Retornoàcozinhapulando
porsobremonturosdeparedesderrubadas.
Está lá brilhando a esfera luminosa. Parece que me esperava. Olho seu movimento
zigzagueandodeumdegrauparaooutroatépararnoquartodegrau.
Agora a vejo melhor. Estou usando óculos. E com eles posso vê-la. É de uma
luminosidadequasevermelha,brilhante,comumorifícionomeio.Enestemeioalgumacoisa
comoquesemexe.
Puloporcimadospedaçosdemadeiraspodres,espalhadospelochãoemeaproximo
cada vez mais.
Elanãofogedemimzigzigzagueiaemeespera.
Agorameioapoiadonaprópriaescada,olhopeloorifíciodocentro.
Háumafiguramasculina,possoperceberpelotraje.Andando,decostasparamim.
Há um carro estacionado, é na direção do carro que ele caminha, posso vê-lo bem.
Prestomaisatençãosemmepreocuparcomaproximidadedosmeusolhos,comoorifício
daesferaluminosa.Chegaumnovovulto,éoutrohomem.
Nãoconsigodistinguirbemasfeições.Oquechegouporúltimoestáarmado,metea
mãonobolsodoprimeiro,retiraalgumacoisa.Brigamumpouco.Ohomemarmadoatira
váriasvezes.Nãoacreditopareçosentiremmimostiros.Elecorre.Oqueestavaindoparao
carro é atingido cai de costas. Não consigo ver seu rosto. Agora quase encosto os olhos no
orifíciodebolaluminosa.
Derepentesaioutrohomemdocarropelaportadomotoristaesedirigeaoqueestáno
chãoToma-lheopulsoeparecegritar.Ooutrodeveestarmorto,pensei.
Entãoviraocorpocaído.Meucoraçãosobressalta-se.Foiumassalto.Euvejoporfim
o rosto nítido do morto no chão.Sua feição jovem, a meia barba, uma cicatriz sobre a
sobrancelha direita, os óculos caídos no chão sob a luz mortiça do poste.Agora posso vê-lo
nítido.
Aesferaluminosacomeçaextinguir-se,nãoantesdosmeusgritos
Ele. – Sou eu! Ele. – Sou eu! Ele – Sou eu.
54
Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho
Médica Ocupacional - São Paulo - SP
CONTRACONTRACONTRACONTRACONTRATENORTENORTENORTENORTENOR
PPPPPrimeirrimeirrimeirrimeirrimeiro sinal.o sinal.o sinal.o sinal.o sinal. Teatro lotado. Os músicos da orquestra se posicionam no palco,
afinandoosinstrumentos.Nocamarim,Henriqueaqueceavoz,ansiosoporsuaestreiacomo
solista.Nemacreditaque,aosvinteecincoanos,irárealizarseusonho.
Desdepequeno,destacara-senocorodaIgreja,alcançandotonsagudosqueninguém
maisconseguia.Osfiéisdiziamqueatéosanjosparavamparaescutá-lo.Comotempo,oque
se considerava divino passou a incomodá-lo. Veio a puberdade, e sua voz não engrossara.
Aoconversar,seutimbresoavaagradável.Masquandocantava,porém,pareciaumamenina
eissooenvergonhava.
Henrique, então, começou a se esquivar das missas, a faltar aos ensaios, inventando
mildesculpas.Temiaqueosamigoscaçoassemdele.Tinhamedoquepensassemqueeleera
“bicha”.Piorainda,receavaque,sedesenvolvesseavozfeminina,eleprópriosetornariagay.
Tentouesquecerapaixãopelamúsica.Mas,semela,atémesmooentusiasmonosjogosde
futeboleraefêmero.
Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal. Bebe meio copo de água mineral. Termina a leve maquiagem que a
importância do evento exige. Um blush acobreado realça o charme másculo das maçãs de
seurosto.Umglosspêssegoumedeceoslábioscarnudos,deixando-osmaissensuais.Henrique
respirafundo.Gostadaimagemquevênoespelho.
Ojovemtenorsaidocamarimepercorreocorredordoteatro.Lembra-sedospasseios
com o avô que viera morar em sua casa após ficar viúvo. Sem muito equilíbrio, ele evitava
andarsozinho.EHenriqueoacompanhava,depoisdasaulas,pelasruastranquilasdaLapa.
Conversas inesquecíveis, histórias da época em que era bombeiro. Mais que um avô, ele se
tornaraumgrandeamigoeoincentivavaacontinuarcomamúsica.
– Medo? Medo de quê? De ser diferente? Pois é justamente com essa diferença que
você vai poder se destacar, rapaz...
As dúvidas sobre sua sexualidade não mais existiam. Os desejos pelas garotas, a
descobertadoamorporMariaRita...
Queimportânciateriaoqueosoutrospensassemdele?
EHenriqueretornouaocanto.Decidiuaperfeiçoarseutalento.
Umaoutraquestão,porém,começouainquietá-lo:
Como custear os estudos se sua família era tão pobre?
TTTTTerererererceirceirceirceirceiro sinal.o sinal.o sinal.o sinal.o sinal. Chegaograndemomento.SomentequatropassosafastamHenrique
dopalco.Elesentemolezanaspernas.Asmãosestãofrias.Omaestro,queiráentrarprimeiro,
deseja-lheboasorte.
Eisso,realmente,Henriquesempreteve.
55
Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho
Sorte por ter uma família que se sacrificou para ajudá-lo. Horas e mais horas de um
trabalhoextenuantequesóporumfirmeobjetivofoipossívelsuportar.
Sorteporconseguirumabolsadeestudos.
Sorteaovencerumconcursonacional.
–.Sorteetalento,diziasuamãe.
–...edeterminação,completavaoavô.
Ah!ComoHenriquequeriaqueseuavôestivessecomelenessemomento.Acostumara-
secomseuapoioeincentivo.Mas,nasemanaanterior,elesofrerauminfartoeprecisouser
internado.Umapenanãopodercompartilharavitória...
Odevaneioseinterrompequandooapresentadoranunciaomaestroe,emseguida,o
seunome.
Um orgulho preenche seu coração que bate cada vez mais forte. Henrique entra no
palco e olha para a plateia. Sabe que pessoas queridas estão presentes em meio a tantos
rostosdesconhecidos.Eelecantaráparatodos,comomuitasvezessonhara.
Na primeira fila, reservada para a família, vê sua mãe, sua noiva e suas duas irmãs.
Tentaencontraroavô.Quemsabeelenãosairiadohospitalparalhefazerumasurpresa?
Mas, não... O lugar está vazio...
Comosprimeirosacordesdaorquestra,Henriquemergulhanummundomágico.Nada
maislheimporta,anãoseramúsica.Suavozmelodiosainebria.Aafinaçãoéperfeita.Todos
semaravilhamcomseutimbrepeculiar,suainterpretaçãoesensibilidade.
Aoentoaraúltimanota,aplateiaprendearespiração.
Porumsegundo,osilêncio...Depois,aplausos...muitosaplausos...
Henrique abre um sorriso e, emocionado, contempla o magnífico teatro. Não quer
perder nenhum detalhe. As pessoas de pé, os camarotes suntuosos, o brilho das luzes...
Pensanoavô,comgratidão.Sentesuapresençaeatéocheirodesuacolôniaparecequese
impregnanoar.
Num hospital público, o paciente do leito 603 aplaude com entusiasmo. Lágrimas
escorrempelorosto.Osdoentesdomesmoquartoacordamassustadosecomeçamabalbuciar.
Aenfermeiradeplantãologochega.Esorri,comosesoubesseoqueestáacontecendo.
Aosaplausos,unem-seoutrossonsdavidacotidiana.Masnadasecomparaaoafetuoso
cantodeumsonhadorqueaquelevelhocoração,nailusóriadistância,conseguiuescutar.
56
Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho
QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?
Eusoualegria,poesiaerima,
olivroqueensina,caminhofeliz.
Eusouaconquistadatrilhaperdida,
divinarainhadeumsimplessorrir.
Eusouaternuradomundoinseguro,
sourumodaplumaembuscadaluz.
Eusouatorturadamudacensura
queocultaaloucura,sepulcrodacruz.
Eu sou a verdade que marca o passado.
Soualiberdadedapátriaempaz.
Eusousuaamada,souaveencantada,
voandocomgraça,suavealcatraz.
Eusouumaceganaselvadepedra
quesemprerenegaosalertasdocéu.
Eusouprimaveradefériasetrégua,
eusouasideiasnumdébilpapel.
Eusouapartilhaespontâneadoprêmio,
Eusouopecadopedindoperdão.
Eusouapoeiradoseudesempenho.
No passo apressado, sou só solidão.
Eusouosecretotormentodatarde,
instantetãotristedemuitostalvez.
Eusouoretornodanoiteestrelada.
Soufolhasnooutonoemtotaltimidez.
Eusouoamanhãquenocantodescansa
eporumencantorenovaaestação.
Eusouaganância,finalderomance,
afalsaaliançalançadanochão.
Eu sou o suspiro no alívio da crise,
abrigodeamigo,soulivrenosim.
Eusousinfonia,sorrisodeumdia,
sou vida, sou filha, reinício e... fim.
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011
Anais   xi jornada - 2011

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012
Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012
Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012MUNICÍPIO DE LOURES
 
Filacap on line 085
Filacap on line 085Filacap on line 085
Filacap on line 085mgermina
 
Filacap on line 087
Filacap on line 087Filacap on line 087
Filacap on line 087mgermina
 
Plano de actividades plataforma independência 40
Plano de actividades   plataforma independência 40Plano de actividades   plataforma independência 40
Plano de actividades plataforma independência 40Jorge Humberto
 
Boletim mensageiro do_algarve _i
Boletim mensageiro do_algarve _iBoletim mensageiro do_algarve _i
Boletim mensageiro do_algarve _imensageiro2013
 
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173Marcos Gimenes Salun
 
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 20125.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012Besaf Biblioteca
 
Filacap on line 086
Filacap on line 086Filacap on line 086
Filacap on line 086mgermina
 
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244O Bandeirante - Março 2013 - nº 244
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244Marcos Gimenes Salun
 

Mais procurados (13)

Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012
Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012
Newsletter do Departamento de Cultura, Desporto e Juventude - Junho 2012
 
O Acadêmico ANO I - N2
O Acadêmico ANO I - N2O Acadêmico ANO I - N2
O Acadêmico ANO I - N2
 
Jornal escola viva 6
Jornal escola viva 6Jornal escola viva 6
Jornal escola viva 6
 
Filacap on line 085
Filacap on line 085Filacap on line 085
Filacap on line 085
 
Filacap on line 087
Filacap on line 087Filacap on line 087
Filacap on line 087
 
Plano de actividades plataforma independência 40
Plano de actividades   plataforma independência 40Plano de actividades   plataforma independência 40
Plano de actividades plataforma independência 40
 
Acontece356net
Acontece356netAcontece356net
Acontece356net
 
Boletim mensageiro do_algarve _i
Boletim mensageiro do_algarve _iBoletim mensageiro do_algarve _i
Boletim mensageiro do_algarve _i
 
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173
O Bandeirante - Abril 2007 - nº 173
 
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 20125.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012
5.ª ed. Concurso de fotografia BESAF 2012
 
Filacap on line 086
Filacap on line 086Filacap on line 086
Filacap on line 086
 
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244O Bandeirante - Março 2013 - nº 244
O Bandeirante - Março 2013 - nº 244
 
São paulo
São pauloSão paulo
São paulo
 

Destaque

Www focusreza com_product-es002
Www focusreza com_product-es002Www focusreza com_product-es002
Www focusreza com_product-es002fygerr
 
Polipos colorrectales
Polipos colorrectales Polipos colorrectales
Polipos colorrectales Sergio Rojas
 
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA ADINA ROSARIO SANTA FE. ARGENTINA
 
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017Cezar Asan
 
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte211020144rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014Arturo Farías Ubeda
 
Jegkrem gyartasa
Jegkrem gyartasaJegkrem gyartasa
Jegkrem gyartasagnadori
 
Kenya model power_purchase_agreement
Kenya model power_purchase_agreementKenya model power_purchase_agreement
Kenya model power_purchase_agreementAyub Gathu
 
ppt at techfest
ppt at techfestppt at techfest
ppt at techfestPhan Quang
 
テストーAndroid市場分析
テストーAndroid市場分析テストーAndroid市場分析
テストーAndroid市場分析熹 罗
 

Destaque (15)

Resume Breland Frith (5)
Resume Breland Frith (5)Resume Breland Frith (5)
Resume Breland Frith (5)
 
Www focusreza com_product-es002
Www focusreza com_product-es002Www focusreza com_product-es002
Www focusreza com_product-es002
 
Polipos colorrectales
Polipos colorrectales Polipos colorrectales
Polipos colorrectales
 
O Bandeirante - n.238 - 092012
O Bandeirante - n.238 - 092012O Bandeirante - n.238 - 092012
O Bandeirante - n.238 - 092012
 
Gwuz5
Gwuz5Gwuz5
Gwuz5
 
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA
ANUARIO ADINA ROSARIO. TEMAS DE NEUROPSICOLOGÍA, NEUROLINGÜÍSTICA Y AFASIOLOGÍA
 
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017
LM & CV_Cezar AsanMic_ Eng_2017
 
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte211020144rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014
4rtharla 2014 impuesto_renta2parte21102014
 
Proyecto
ProyectoProyecto
Proyecto
 
Jegkrem gyartasa
Jegkrem gyartasaJegkrem gyartasa
Jegkrem gyartasa
 
O Bandeirante - n.236 - 072012
O Bandeirante -  n.236 - 072012O Bandeirante -  n.236 - 072012
O Bandeirante - n.236 - 072012
 
Kenya model power_purchase_agreement
Kenya model power_purchase_agreementKenya model power_purchase_agreement
Kenya model power_purchase_agreement
 
ppt at techfest
ppt at techfestppt at techfest
ppt at techfest
 
テストーAndroid市場分析
テストーAndroid市場分析テストーAndroid市場分析
テストーAndroid市場分析
 
Bandeirante 102012
Bandeirante 102012Bandeirante 102012
Bandeirante 102012
 

Semelhante a Anais xi jornada - 2011 (20)

Anais VIII Jornada - 2005
Anais   VIII Jornada - 2005Anais   VIII Jornada - 2005
Anais VIII Jornada - 2005
 
Anais X Jornada 2009
Anais X Jornada 2009Anais X Jornada 2009
Anais X Jornada 2009
 
Anais Jornada 2013
Anais Jornada 2013Anais Jornada 2013
Anais Jornada 2013
 
O Bandeirante - Setembro 2007 - nº 178
O Bandeirante - Setembro 2007 - nº 178O Bandeirante - Setembro 2007 - nº 178
O Bandeirante - Setembro 2007 - nº 178
 
Anais VII Jornada - 2005
Anais   VII Jornada - 2005Anais   VII Jornada - 2005
Anais VII Jornada - 2005
 
O Bandeirante 062006
O Bandeirante 062006O Bandeirante 062006
O Bandeirante 062006
 
O Bandeirante 052006
O Bandeirante 052006O Bandeirante 052006
O Bandeirante 052006
 
O Bandeirante 082006
O Bandeirante 082006O Bandeirante 082006
O Bandeirante 082006
 
O Bandeirante - Outubro 2007 - nº 179
O Bandeirante - Outubro 2007 - nº 179O Bandeirante - Outubro 2007 - nº 179
O Bandeirante - Outubro 2007 - nº 179
 
O Bandeirante 032006
O Bandeirante 032006O Bandeirante 032006
O Bandeirante 032006
 
Cartaz 27.º Aniversário AFA
Cartaz 27.º Aniversário AFACartaz 27.º Aniversário AFA
Cartaz 27.º Aniversário AFA
 
Filacap on line 078
Filacap on line 078Filacap on line 078
Filacap on line 078
 
Revista de portugal n.15
Revista de portugal n.15Revista de portugal n.15
Revista de portugal n.15
 
O Bandeirante 092006
O Bandeirante 092006O Bandeirante 092006
O Bandeirante 092006
 
O Bandeirante 102006
O Bandeirante 102006O Bandeirante 102006
O Bandeirante 102006
 
O Acadêmico ANO III - N4
O Acadêmico ANO III - N4O Acadêmico ANO III - N4
O Acadêmico ANO III - N4
 
Boletim UNIVERTI novembro e dezembro 2011
Boletim UNIVERTI novembro e dezembro 2011Boletim UNIVERTI novembro e dezembro 2011
Boletim UNIVERTI novembro e dezembro 2011
 
Jb news informativo nr. 1068
Jb news   informativo nr. 1068Jb news   informativo nr. 1068
Jb news informativo nr. 1068
 
Jb news informativo nr. 1.069
Jb news   informativo nr. 1.069Jb news   informativo nr. 1.069
Jb news informativo nr. 1.069
 
O Bandeirante 022006
O Bandeirante 022006O Bandeirante 022006
O Bandeirante 022006
 

Mais de Marcos Gimenes Salun

O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015
O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015
O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015Marcos Gimenes Salun
 
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015O Bandeirante - nº 268 - março de 2015
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015Marcos Gimenes Salun
 
Revista opinias nº 8 - janeiro 2015
Revista opinias nº 8  -  janeiro 2015Revista opinias nº 8  -  janeiro 2015
Revista opinias nº 8 - janeiro 2015Marcos Gimenes Salun
 
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista Opinias nº 06 - Novembro 2014
Revista Opinias  nº 06 - Novembro 2014Revista Opinias  nº 06 - Novembro 2014
Revista Opinias nº 06 - Novembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Marcos Gimenes Salun
 
O Bandeirante - Setembro 2014 - nº 262
O Bandeirante -  Setembro 2014 - nº 262O Bandeirante -  Setembro 2014 - nº 262
O Bandeirante - Setembro 2014 - nº 262Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014Marcos Gimenes Salun
 
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014Marcos Gimenes Salun
 
O Bandeirante - n.260 - julho 2014
O Bandeirante - n.260 - julho 2014O Bandeirante - n.260 - julho 2014
O Bandeirante - n.260 - julho 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista Opinias n 02 - julho de 2014
Revista Opinias n 02 - julho de 2014Revista Opinias n 02 - julho de 2014
Revista Opinias n 02 - julho de 2014Marcos Gimenes Salun
 
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014Marcos Gimenes Salun
 

Mais de Marcos Gimenes Salun (20)

O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015
O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015
O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015
 
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015O Bandeirante - nº 268 - março de 2015
O Bandeirante - nº 268 - março de 2015
 
Revista OPINIAS nº 09
Revista OPINIAS   nº 09Revista OPINIAS   nº 09
Revista OPINIAS nº 09
 
O Bandandeirante - fevereiro 2015
O Bandandeirante - fevereiro 2015O Bandandeirante - fevereiro 2015
O Bandandeirante - fevereiro 2015
 
Revista opinias nº 8 - janeiro 2015
Revista opinias nº 8  -  janeiro 2015Revista opinias nº 8  -  janeiro 2015
Revista opinias nº 8 - janeiro 2015
 
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015
Jornal "O Bandeirante" - nº 266 - Janeiro de 2015
 
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014
Revista OPINIAS nº 07 - Dezembro 2014
 
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014
O Bandeirante - nº 265 - Dezembro 2014
 
Revista Opinias nº 06 - Novembro 2014
Revista Opinias  nº 06 - Novembro 2014Revista Opinias  nº 06 - Novembro 2014
Revista Opinias nº 06 - Novembro 2014
 
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014
O Bandeirante - nº 264 - novembro 2014
 
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014
Revista OPINIAS - nº 05 - Outubro de 2014
 
O Bandeirante - Outubro 2014
O Bandeirante - Outubro 2014O Bandeirante - Outubro 2014
O Bandeirante - Outubro 2014
 
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
 
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
Revista OPINIAS nº 04 - Setembro 2014
 
O Bandeirante - Setembro 2014 - nº 262
O Bandeirante -  Setembro 2014 - nº 262O Bandeirante -  Setembro 2014 - nº 262
O Bandeirante - Setembro 2014 - nº 262
 
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014
Revista OPINIAS - nº 03 - Agosto 2014
 
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014
"O Bandeirante" - nº 261 - agosto 2014
 
O Bandeirante - n.260 - julho 2014
O Bandeirante - n.260 - julho 2014O Bandeirante - n.260 - julho 2014
O Bandeirante - n.260 - julho 2014
 
Revista Opinias n 02 - julho de 2014
Revista Opinias n 02 - julho de 2014Revista Opinias n 02 - julho de 2014
Revista Opinias n 02 - julho de 2014
 
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014
Revista OPINIAS - n.1 - junho 2014
 

Anais xi jornada - 2011

  • 1. Anais XI Jornada Médico-Literária Paulista Sociedade Brasileira de Médicos Escritores SOBRAMES Regional do Estado de São Paulo Itu - São Paulo - Brasil 22 a 25 de setembro de 2011
  • 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE MÉDICOS ESCRITORES Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES - SP Diretoria Gestão 2011/2012 Cargos Eletivos Presidente: Josyanne Rita deArruda Franco Vice-presidente: Luiz Jorge Ferreira Primeiro secretário: Márcia Etelli Coelho Segundo secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã Primeiro tesoureiro: JorgeAlbertoVieira Segundotesoureiro:AídaLúciaPullinDelSassoBegliomini Conselho Fiscal Efetivos: HelioBegliomini RobertoAntonioAniche CarlosAugustoFerreiraGalvão Suplentes: AlcioneAlcântaraGonçalves Flerts Nebó Manlio Mario Marco Napoli A XI Jornada Médico-Literária Paulista é uma realização da SOBRAMES - SP Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo Endereço para correspondência (SOBRAMES-SP): Rua Francisco Pereira Coutinho 290, 121A Vila Municipal Jundiaí, SP. - CEP13201-100 josyannerita@gmail.com Copyright 2011 © dosAutores Comissão Organizadora da XI Jornada Médico-Literária Paulista Os integrantes da Diretoria da Regional São Paulo Os conceitos emitidos nos textos literários deste evento representam exclusivamente a opinião de seus autores, não sendo de responsabilidade da SOBRAMES-SP. Projeto Gráfico e Diagramação: Marcos Gimenes Salun Produção Editorial: Rumo Editorial Produções e Edições Ltda. E-mail: rumoeditorial@uol.com.br
  • 3. AprAprAprAprApresentaçãoesentaçãoesentaçãoesentaçãoesentação A literatura se nutre da história, dos mitos, das tradições. A vida de cada um é um acontecimento, uma grande narrativa recheada de fatos e ficções: somos personagens da históriadooutro,autoreseprotagonistasdenossaprópriahistória. Oquedizerquandomédicos,engenheiros,advogados,professores,jornalistas,artistas plásticos,pesquisadoreseoutrosprofissionaisliberaisdespem-sedesuaspersonastécnico- acadêmicasparaevocaraimaginaçãoecriarparaísosemversoeprosa? Tem sido assim na Sociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos EscritorSociedade Brasileira de Médicos Escritores Res Res Res Res Regional São Pegional São Pegional São Pegional São Pegional São Pauloauloauloauloaulo desdeaprimeirajornadaemJundiaí,em1991. Seoobjetivoinicialdasjornadasfoidivulgarajovementidadefundadaem16desetembro de 1988, com o passar do tempo tornou-se oportunidade de congregar os sócios fora do ambienteurbanodagrandemetrópolepaulistaondeacontecemasconsagradasPizzasLiterárias. Seguiram-se,então,outrasjornadascomperiodicidadeacadadoisanos:BragançaPaulista (1993),Santos(1995),CamposdoJordão(1997e2003),ÁguasdeSãoPedro(1999),Botucatu (2001),SerraNegra(2005),novamenteJundiaí(2007)eSãoPaulo(2009). Assim, foi inserido no calendário bienal dos associados um evento aguardado pela singeleza de seu propósito, incensado com a amizade e a paixão de seus membros pela atividadeliterária. A XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária PaulistaA XI Jornada Médico-Literária Paulista encontrou acolhimento na cidade histórica deItu,ondefloresceramasbasesdomovimentorepublicano.Comseuscaminhosbandeiristas, casarõeshistóricoseigrejassecularesreverenciandoamemóriadeumperíodovibranteque semeounovosrumosparaapátria,aItuquatrocentonatorna-seentrepostodeliteraturada mais alta qualidade: a Academia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de LetrasAcademia Ituana de Letras aceitou o convite da Sobrames SP e julgouostrabalhosliteráriosdosautoressobramistas. De 22 a 25 de setembro a realeza se fará representar pelas letras: o manto real será exibidocomluxoeprimornolançamentoda VIII AntologiaVIII AntologiaVIII AntologiaVIII AntologiaVIII Antologia,compilaçãodostrabalhosde confrades e confreiras apresentados nos encontros festivos dos últimos dois anos; cetro e coroaserãoversoeprosadeumaliteraturaqueabraçahistóricopassado,revigoraosaresdo presente e semeia futuro nas imensas terras férteis que se exibem generosas nas próximas páginas,pacientementecultivadascominsumosdacriatividadeedaimaginação. Dra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de ArDra. Josyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco Presidente da SOBRAMES-SP (2011-012)
  • 4. 5 A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, Regional do Estado de São Paulo, foi fundada em 16 de setembro de 1988 e congrega mais de cem membros titulares, acadêmicos, colaboradores, eméritos, honorários e beneméritos. Basicamente a sociedade é constituída por médicos escritores de literatura NÃO-CIENTÍFICA, além de escritores de outras formações profissionais (advogados, engenheiros, jornalistas, dentistas, arquitetos, etc..). Pizzas Literárias Em 1989 surgiu a idéia de se reunir os colegas ao redor de uma mesa de pizza, como acontecera por ocasião da fundação da entidade.Areunião mensal tornou-se uma tradição e foi intitulada “Pizza Literária”. Desde então é realizada em uma pizzaria de São Paulo, com uma freqüência que costuma beirar trinta pessoas. Nesta, além de se saborear uma deliciosa pizza, tomar um chope e bater papo com os amigos, tem-se a oportunidade de ouvir os trabalhos dos colegas e também apresentar os seus. Tem- se, também, a possibilidade de encontrar colegas de outras especialidades e formados nas mais diversas faculdades, além de sócios não médicos das mais variadas profissões.Todos com uma paixão em comum: a literatura. As reuniões de 2011 têm acontecido na terceira quinta-feira de cada mês, na pizzaria BONDE PAULISTA, na Rua Oscar Freire, 1597 – à partir de 19h30. Jornadas e Congressos A cada dois anos a Regional de São Paulo promove uma Jornada Médico-literária. Estas já se realizaram em diversas cidades do interior paulista, e em 2009 na própria capital do Estado: Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 1991 Bragança Paulista – de 28 a 30 de maio de 1993 Santos – de 24 a 26 de novembro de 1995 Campos do Jordão – de 28 a 30 de agosto de 1997 Águas de São Pedro – de 16 a 19 de setembro de 1999 Botucatu – de 27 a 30 de setembro de 2001 Campos do Jordão – de 25 a 28 de setembro de 2003 Serra Negra - de 22 a 25 de setembro de 2005 Jundiaí – de 27 a 29 de setembro de 2007 São Paulo - de 17 a 19 de setembro de 2009 Nos anos pares é realizado um Congresso Nacional da SOBRAMES. Em 1994 e 1998, este ocorreu em São Paulo, organizado por nossa regional. O XXIII Congresso Brasileiro aconteceu em junho de 2010na cidade Belo Horizonte – MG. O próximo congresso será realizado no Estado do Paraná, em 2012. Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Regional do Estado de São Paulo
  • 5. 6 Eventos internacionais Além da existência de regionais da SOBRAMES na maioria dos estados brasileiros, seus membros também participam em algumas associações em outros países, como é o caso da LISAME - Liga Sul Americana de Médicos Escritores, com sede em BuenosAires –Argentina; UMEM – União Mundial de Escritores Médicos, com sede em Lisboa – Portugal, cujo congresso se realizou emViana de Castelo - Portugal, de 27 de setembro a 3 de outubro de 2004, contando com representação da SOBRAMES paulista; UMEAL– União de Médicos Escritores eArtistas de Língua Lusófona, com sede em Lisboa – Portugal, dentre outras. Publicações Jornal - Desde 1992 a SOBRAMES-SP publica o informativo mensal “O Bandeirante” que é distribuído aos membros da regional paulista, diversos confrades de outras regionais, além de entidades culturais no Brasil e no exterior. Por vários anos publicou o suplemento literário, as “Páginas Sobrâmicas”, trazendo textos literários dos membros da Regional de São Paulo. À partir de 2001 a publicação ganhou o título de “SuplementoLiterário”,econtinuasendopublicadomensalmente,comoencartedojornal“OBandeirante”. Desde janeiro de 2007 o jornal “O Bandeirante” passou a ser distribuído pela internet, para mais de 1000 destinatáriosnoBrasilenoExterior. Coletâneas - ASociedade já editou dez coletâneas com trabalhos dos membros: “Por um Lugar ao Sol” (1990) “APizzaLiterária”(1993) “A Pizza Literária - segunda fornada” (1995) “Criação” (1996) “A Pizza Literária - quinta fornada” (1998) “A Pizza Literária - sexta fornada” (2000) “A Pizza Literária – sétima fornada” (2002) “APizzaLiterária–oitavafornada”(2004) “APizzaLiterária–nonafornada”(2006) “A Pizza Literária - décima fornada” (2008) “APizzaLiterária-décimaprimeirafornada”(2010) Antologias - Em 1999, editou-se a “IAntologia Paulista”, contendo todos os trabalhos das “Páginas Sobrâmicas” nos seus dois primeiros anos de publicação (abril 1997 a março de 1999). Em 2000 foi publicada a IIAntologia Paulista, desta vez com trabalhos inéditos dos sócios.Asérie de antologias continuou e já conta com cinco volumes, tendo os demais sido publicados em 2001, 2003, 2005, 2007 e 2009. Em setembro de 2011 está sendo lançada aVIIIAntologia Paulista. Concursos literários Em 1997, foi instituído o concurso paraAMelhor Poesia doAno, Prêmio “Bernardo de Oliveira Martins” e, a partir de 1999, o concurso paraAMelhor Prosa doAno, Prêmio “Flerts Nebó”, dos quais participam todos os membros da SOBRAMES-SP que apresentam seu textos nas Pizzas Literárias. Estes certames visam dar estímulo à criatividade dos autores membros da SOBRAMES, tendo em vista a característica meramente diletantedeseusparticipantes.TrimestralmenteaconteceumdesafioliteráriointituladoSUPERPIZZA,ondeos escritores são convidados a produzir um texto em prosa ou verso sobre um tema sugerido. Em janeiro de 2007 foram introduzidos dois novos concursos que têm como objetivo incentivar os integrantes da sociedade a participar de suas atividades. Trata-se do “Prêmio Rodolpho Civile”, deAssiduidade e o “PrêmioAldo Mileto” de Melhor Desempenho.
  • 6. 7 Internet A Sociedade Brasileira de Médicos Escritores tem um Blog onde publicainformações,notíciasetextosliteráriosdeseusautores.Visiteeparticipe: http:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.comhttp:/sobramespaulista.blogspot.com Diretoria A cada dois anos a Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, regional do Estado de São Paulo elege em assembléia uma nova diretoria. Na atual gestão (biênio 2011/2012) a diretoria está assim composta: Presidente: Josyanne Rita deArruda Franco; Vice-presidente: Luiz Jorge Ferreira; Primeiro-secretário:MárciaEtelliCoelho; Segundo-secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã; Primeiro-tesoureiro: JoséAlbertoVieira; Segundo-tesoureiro:AídaLúciaPullinDelSassoBegliomini; Conselho Fiscal Efetivos:Helio Begliomini, RobertoAntonioAniche e CarlosAugusto Ferreira Galvão; Conselho Fiscal Suplentes: AlcioneAlcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mario Marco Napoli. Como participar Podem tornar-se membros da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores todos os médicos, de qualquer especialidade, e todos os acadêmicos de medicina, em qualquer ano do curso, mediante simples solicitação de sua inscrição, e bastando que sejam também escritores de literatura NÃO-CIENTÍFICA, em qualquer gênero literário (romance, crônica, conto, poesia, ensaios, etc.).Também podem tornar-se membros da SOBRAMES- SP os ESCRITORES de qualquer outra formação profissional, apresentados por outros membros da sociedade. A solicitação será aprovada mediante análise da diretoria e existência de quorum na forma de seu estatuto. Os membroscontribuemfinanceiramentecomumaanuidadedepequenovalor. Os custos de algumas atividades da SOBRAMES-SP são pagos pelos participantes, como por exemplo, despesas de hospedagem em congressos e jornadas e despesas deconsumonasreuniõesdenominadasPizzasLiterárias. Associe-se Para obter outras informações sobre a SOBRAMES-SP ou para tornar-se membro enviecorrespondênciaparaoe-mail josyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.comjosyannerita@gmail.com. Pelo correio você poderá obter ficha de inscrição escrevendo para: Sociedade Brasileira de Médicos Escritores Rua FRua FRua FRua FRua Francisco Prancisco Prancisco Prancisco Prancisco Pererererereira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 Aeira Coutinho 290, 121 A VVVVVila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SPila Municipal - Jundiaí, SP..... CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100CEP13201-100
  • 7. 8
  • 8. 9 A cidade de Itu Fundada em 1610, por muito tempo considerada a vila mais rica da capitania de São Paulo, Itu serviu de pousada para os bandeirantes que iam ao sertão em busca de pedras preciosas. Firmou-se no comércio minerador, na plantação de cana de açúcar e posteriormente no plantio de café. Na visita às inúmeras fazendas, é possível compreender todos esses ciclos, através da narração histórica dos seus proprietários e da construção de época, tanto na casa principal como nas senzalas. A natureza permite passeios por várias trilhas que aguçam o paladar para típica comida tropeira, sempre acompanhada por boa cantoria e hospitalidade. Itu é conhecida como o “Berço da República” e, em sua região central, destacam-se antigos casarões preservados em suas características originais. Muitos se transformaram em museus ou espaços culturais com destaque para o Museu Republicano, instalado em um sobrado de taipa de pilão e pau a pique, onde em abril de 1873 alguns paulistas contrários à monarquia reuniram-se para discutir as bases do Partido Republicano Paulista. O encontro, conhecido como “Convenção de Itu” representou o marco inicial para a futura proclamação da República. É impossível não se encantar com os azulejos artísticos rodeando uma pomposa escadaria e com o gabinete praticamente intacto de Prudente de Moraes, o primeiro presidente civil do Brasil. Pitoresca com seus objetos de grande tamanho (inspirada no humorista Simplício do programa televisivo A Praça é Nossa), Itu é também denominada de “Cidade dos Exageros”. E fazendo jus a essa fama, mais um apelido lhe é conferido: o de “Roma Brasileira” devido a suas belíssimas Igrejas, tombadas pelo Patrimônio Histórico, com exuberante arquitetura barroca e pinturas de renomados artistas como o ituano Almeida Junior e o Padre Jesuíno de Monte Carmelo. Itu é também uma das poucas cidades do mundo a possuir, no Parque do Varvito, uma rocha sedimentar datada da era glacial. Muitos outros atrativos surpreendem o visitante, incluindo a boa gastronomia tendo como exemplo o Bar do Alemão que é considerado o melhor filé a parmegiana do Brasil. Assim, com seus 400 anos de existência, Itu é um agradável convite ao passado e poderá proporcionar à nossa Jornada Médico-Literária Paulista um ambiente aconchegante e inspirador. Diretoria da SOBRAMES-SP (texto de Márcia Etelli Coelho)
  • 9. 10
  • 10. 11 ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndice Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini Adeus / Separação 1515151515 Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves JornadaemItú /Mamãe,euquero 1818181818 Arary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz Tiribairibairibairibairiba Pernoites, percalços... percevejos / UmforasteiroemtrânsitoporIguape 2020202020 Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão Cortinaparapatifarias/MeuBrasil 2323232323 Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó A mitologia em nossos dias / São Paulo, meu torrão 2929292929 Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz Mito / Pizza 3131313131 HelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliomini Ave-Marias / CarusoMadalena,umgrandepsiquiatra contemporâneo 3434343434 HildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEnger Irmandade/Momentos 3737373737 Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos Infância/ VitalBrazil:umcontoreal 2626262626 Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas Asmaisbelaspalavras/Overdealertaohomem 3838383838 José Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto Vieiraieiraieiraieiraieira Limiar 4040404040 I - Textos Literários José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo Carta aos médicos escritores / Travessias 4141414141
  • 11. 12 ÍndiceÍndiceÍndiceÍndiceÍndice José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros ReminiscênciasdomestreAurélioBuarquedeHolanda/ Vultosdamedicina 4343434343 Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock Acontecimento / Quando 4747474747 Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco Caliptra / Pássaros do crepúsculo 4949494949 Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira Casaamarela / Quartodegrau 5151515151 Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho Contratenor / Quemsoueu,afinal? 5454545454 Maria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho LouzãMaria do Céu Coutinho Louzã Garôapaulistana / Reencontro 5757575757 Nelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson JacinthoNelson Jacintho Aganânciadohomempordinheirotornou-seo venefíciodoBrasil /Anoiteceràbeiramar 6060606060 RRRRRobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAnicheobertoAntonioAniche Destino /Água de rosas 6363636363 RodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivileRodolphoCivile Esmeralda,cartomanteequiromante / EstranharconsideraçõessobreoSerHumano 6666666666 XI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária Paulista Atividades Gerais 7171717171 II - Programa III - Sessões Literárias XI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária PaulistaXI Jornada Médico-literária Paulista Apresentação dos textos 7575757575
  • 13. 14
  • 14. 15 Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini Engenheira - São Paulo - SP ADEUSADEUSADEUSADEUSADEUS Emumúltimosuspiro osilênciosefazpresente, nanoitetristeefriadeinverno. Nãodeuminvernocomum, masdaquelequenevapelaprimeiravez. Os flocos finos, brancos e fofos docéucaememprofusão. tais quais nacos de algodão doce perfumadospelaessênciadanoite. Nasflores,nasárvoresnocumedamontanha espalham-se fundindo-secomaterraúmidadeorvalho. Pelavidraçadavida, otempoestedivisordemomentos atudoespreitaeaguarda, implacávelemudo. Umaúltimalágrima, caidemeusolhosúmidos,aindavivos. Meuespíritoporémjávaga entreoaquieoagora oinfinitoeodesconhecido. Numbrevemomento, aúltimalucidez. Agarrotuamãoemdesespero, Despeço-me... Umcarinhoprofundo, quesóotempoentende, Umadeusdoídonadespedidadapartida. Emumúltimosuspiro, minhaalmaparte, ficameucorpoinerte, esparramadonoleitodamorte.
  • 15. 16 Aída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini SEPSEPSEPSEPSEPARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃOARAÇÃO Abri a porta, acendi a luz sentindo uma sensação estranha “dejavu”. Não dei muita importância.Apoieiabolsaeopacotedecomprasnobalcãoevoltei-meparatrancaraporta. Aindaderelanceobserveiumavezmaisobeloentardecerqueacabaradeseformar,sentindo olevearomadadamadanoite,plantadajuntoàescadadavaranda. A casa estava imersa num silêncio profundo enquanto me dirigia para a cozinha, atualmentemuitoutilizadadepoisdaamplaemodernareformaquefiz.Apoucalouçadanoite anterior, as taças, a garrafa vazia do Bordeaux degustado até o último gole, tudo no lugar, comodecostume.OqueeufariasemaminhafielescudeiraDonaJoana? Comeceiaguardarascomprasnageladeira,recordandocomsatisfaçãodanoiteanterior, os aromas e a profusão de sabores que exalaram da receita escolhida e preparada a quatro mãos para o jantar. Passamos horas alegres, rimos mais do que o normal principalmente apósalgunsgolesdovinhoqueforaespecialmenteselecionadoparaaquelaocasiãoecombinou perfeitamentecomomomento. Lembramosdealgumassituaçõesrealmenteengraçadas, falamos de pessoas que hoje se tornaram pontos quase esquecidos num passado já um poucodistante,masquedeumaformaoudeoutrafizerampartedanossahistória.Quanto tempo havia passado desde então? Não sei, não me lembro ao certo. Mas a sensação que tive, por alguns segundos foi de que ainda possuíamos laços fortes que nos mantinham conectados,apesardadistânciaedotempoquenosafastara. Quemforarealmenteoresponsávelpelodistanciamentoquelentamenteforatomando conta de nossas vidas? Teria sido a ausência de filhos, o excesso de trabalho, a falta de privacidade,asconstantesviagensdenegóciososcompromissosquesemprenosculpávamos porassumir,masquenadafazíamosparalimitá-los? Tínhamosumavidaconfortávelebemestruturadaenosamávamosmuito,pelomenos eraoquepensávamos.Achávamosquetudopoderiaserresolvidonodiaseguinte,outalvez nofinaldesemanaseguinte,ounasfériasseguintes,comoseavidafosseumaciênciaexata ondesimplesmentesesoma,semultiplica,sesubtraiesedivideobtendo-seosresultadosde formaprevisível,nahoraemquesequer. Fomospercebendootamanhodadistânciaquenosseparavaquandomarcamosuma viagemdefériascomumcasaldeamigosequandoelesacancelarampormotivospessoais, fizemos o mesmo, pois ficamos com medo de enfrentarmos uma terrível solidão a dois em um local desconhecido e onde não poderíamos compensar nossas frustrações de forma comosemprefazíamosemcasa,ousejanosapegandoaotrabalho,quenofimerasemprea nossa válvula de escape. Poderíamosterrevertidooquadro? Hojeemdiaeuacreditoquesim.Nomomento sentimos quase que um alívio em pedirmos um ao outro um tempo. Como se dando um tempofosseumasoluçãodeaproximação.Oquedefatoocorreuéquedesfizemosdenosso apartamento e de forma provisória cada um encontrou o seu próprio espaço e o tempo transformou-se em meses, que foram completamente preenchidos por muitas atividades
  • 16. 17 Aída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso BegliominiAída Lucia Pullin Dal Sasso Begliomini profissionais e outras pessoais, que completavam o nosso dia a dia. De vez em quando nos encontrávamosdeformarápida,ounosfalávamosportelefone.Naverdadenãotínhamos muitoquefalar.Cadaumjáestavavivendosuavidadaformaqueachavamelhoresemmuito problemanemdecunhopessoal,nemfinanceiro,nemsocialemuitomenosreligioso,pois ambostinhamumatendênciaaoagnosticismo. Semana passada após muito tempo sem nos vermos de forma real nos encontramos por acaso em um barzinho. Ele estava com uns amigos e eu com uma amiga que veio ao BrasilatrabalhoeresolvimostraraelaumpoucodanoiteemSãoPaulo.Apósasurpresaea coincidência do encontro conversamos um pouco e marcamos um jantarzinho em minha casaparaasemanaseguinte. Não sei realmente o que pode ou não acontecer após o jantar de ontem. Foi muito bom,podeserumrecomeço,nãodigodeumauniãoestávelcomojávivenciamosnopassado, masquemsabededuaspessoas quejáseamarammuito equehojeapós novasconquistas eexperiênciasestãoemcondiçõesdeassumiremumarelação maismaduraemenosegoísta. Osilênciodacasaquesempremedeuumasensaçãodepaz,hojeestameangustiando umpouco.Precisodeumpoucodemúsica.VoutocaromesmoCDqueporcoincidênciafoi amúsicadefundodojantar. Coincidênciaounão,oAndréaBoccelliqueecoaagorapelacasaéminhainspiração paraprepararmeujantarequemsabemaistardeseráaminhamotivaçãoparatelefonare marcarumnovoencontro,oureencontrocomumpoucodomeupassado.
  • 17. 18 Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves Psiquiatra - Tupã - SP JORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚJORNADA EM ITÚ Setembroéprimavera! As flores desabrochando, Colorindoeperfumando, Oambientevaiembelezando! ÉaniversáriodaSOBRAMESRegional EencontroJornadianobi-anual DosqueridosconfradesSobramistas, NajornadaMédico-LiteráriaPaulista. Nesteanode2011emITU, Cidadehistórica,berçodaRepública, Rotadosbandeirantes,consideradanaquelaépoca, Vilapopulosa,charmosaerica. Poetas, Prosadores e Médicos Escritores, EmITUvãoseencontrar Durantetrêsdiasprimaverissedutores, Debeleza,culturaehistóriasecular. Comsuagentehospitaleira, ITUvainoshospedar, E a SOBRAMES Paulista, Suajornadavairealizar.
  • 18. 19 Alcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara GonçalvesAlcione Alcântara Gonçalves MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO!MAMÃE, EU QUERO! Mulher,venhoteanunciar: Euteescolhiparameabrigar! Seuóvulo,vaisejuntar Aoespermatozóidedeumhomeminvulgar. Transformadoemovo,voucresceremealimentar, Emseuútero,voumeaninhar. Meuberçovermelhoemaciovaimeacobertar, Pornovemeses,nastuasentranhaseuvoumorar. Nesteperíodogestacionaldeformaçãoecrescimento, Meudelgadocorpocomeçaasedelinear; Contigo,eujácomeçoaconversar, Atravésdaforçadomeupensamento. Preparo-me,apósamaturaçãodocorpofetal, Paradeixarestaminhaaconchegantemorada; Precisodeforçaedecisãoparadeixaresselagotépido, Eatravessarocanal,afenda,atéaluznormal. Abro os olhos, respiro e choro. Cortaramomeucordãoumbilical, Paranestenovomundoeuviver. Mamãe!Euqueronestemomentoteagradecer. Mamãe,euquerotedizerquesouteufilho! Mamãe,euqueroteconfidenciarqueeuteescolhi, Paraser,nesteplanetaterra,acarnedaminhacarne E,pormepermitirveraluz,agradecer-lhemamãe,euquero!
  • 19. 20 Arary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz TArary da Cruz Tiribairibairibairibairiba Infectologista - São Paulo - SP PERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOSPERNOITES, PERCALÇOS... PERCEVEJOS Leio:quepercevejosvoltaramcomtodovigoremNovaIorque;quehoteleirosempregam cãesfarejadoresparaidentificarlocaisinfestados... Ora!nova-iorquinosaindaestãopordescobriramim,fonteindividualparapesquisa [incomparávelarmadilhahumana],poisquejáatraíoschupa-sanguesemmomentospolares da profissão que escolhi, ao início e ao fim do curso médico! 1942,aos16anos,desatraqueidoportosantista,aceneiadeusaocolégiomaristapara matricular-menopré-médicodaCapital.PrimeirocontatocomSãoPaulo!Cercade800mil habitantes!Imensa!paraumrecém-chegadodoMacuco.DesembarqueinaEstaçãodaLuz, dinheirinhocontado,milréis,doismilréis,cinco...Nãoouseiprocurarhospedagemàdistância da referência ferroviária, pra não me perder. Diante da Estação, casarões centenários com anúncio de “VAGAS” [em Santos, oceânicas; na Paulicéia, ondas, as do colchão de capim]. Pernoite−baratocomdireitoabaratas−,massurpresa!Nãoindividual!Àshorasdamadrugada − acesa a luz −, o desconhecido se alojava na camilha ao lado! Porém, estranho mesmo − espetáculohitchcockiano−,insetosdespertadospelaluminosidade,batendoemretiradapor lençóis e paredes! Maciça a infestação. De percevejos! À manhã seguinte efeitos... Caroços vermelhos, duros, coceira pra lá da conta! Carimbado, grosseira e extensamente, pelos tatuadoressanguinários. “PrimeiraLiçãoPráticadaParasitologiaMédica-AoVivo”.Naprópriapele!Nenhum livrodemedicinaaregistra. Virando a página, segunda lição. Sexto e último ano do Curso Médico, canudo ao alcance da mão! Comemoração em Buenos Aires! Economias amealhadas, 9 de julho de 1950,quadrimotorCruzeirodoSulronca4horas,depositaosdoutorandosemEzeiza.9de julho,repito,datamagnaargentina!NacionalismoexaltadoporPerón,apopulaçãoacorreraà Capital!Supersuperlotaçãodahotelaria! E agora? Colegas remediados de alguma forma conseguem hospedarias razoáveis. CalhambequedaépocalevaAutoràpensióncoletiva.Nãodeuoutra.Aonascente,odespertar... encaroçadoepruriginosopormordedurasdoinsetoasqueroso! Pior ainda, Catedrático da universidade austral oferece recepção em sua residência. Convidaraalgumasniñasparaaconfraternizaçãoacadêmicaportenho-paulistana.Aoanalisar opescoçolesionadodestavítima,sentenciou−altavoz−,inapelável: − “Brasilçno... SÍFILIS!” Dói, não dói? A essa altura me considerava expert do repulsivo Cimex lectularius, o inseto da cama. Se denunciasse a fonte local, mal-estar diplomático! Contive a gana, mas vontadedesobrapragritar:
  • 20. 21 Arary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz Tiriba − Perdón Maestro! Brasilçno, si. Nadie de sífilis, pero picadura! SI PICADURA! Desventuras.Nãobastantes!16dejulho,aindanopaísirmão,suportamos nosotros, brasilçnos en las calles, el temporal fantástico, la lluvia “copiosa”! De chistes! Final da CopadoMundo!Brasil1,Uruguai2!Maracanazo!!!Praficarnahistória. TuBuenosAiresquerido/cuandoyotevuelvaaver/nohabrámáspenasniolvido... GrandeCarlosGardel! Tambiénnohabrámás“chinches”,percevejos,esse,onomequese dá? UM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPEUM FORASTEIRO EM TRÂNSITO POR IGUAPE DeSãoPaulopraSantaMaria,RioGrandedoSul,resolvipousaremIguape,cidade deromarias.Alguémmecontaradesuafolclórica;lá,oestranhoganhaapelidoemmenosde 24 horas. Prova disso... Caixeiro viajante apostou que ali passaria o dia inteiro sem alcunha. Cedinho, sem chamar a atenção, chegou à hospedaria e não saiu mais do aposento. Limitou-se a abrir a porta,chamaroboy. − Garçom, o café! ao meio-dia: ... − o almoço! à noite: ... − minha ceia! Àmanhãseguinte,antegozandovitóriaabriuaportapelaúltimavez: −Garçom,minhaconta! Doempregadoparaoproprietário: −Patrão,comandap´rocuco! ... ... ... Caminhavasó.Costalitorâneailuminadapeloluar.Àcurtadistância,velhopescador sentadonacarcaçadecanoa;cabisbaixo,solitário,costasparaapraçadomercado.Aproximei- medemanso,passosqueaareiaencharcadaabafava.Nãoseiexplicarcomopercebeuminha aproximação.Sequermeneouacabeça,exibiu-meamãoaberta.Marcada −apalma −por estrela de reflexos faiscantes. Tatuagem ou não, impressão permanente! Sem chegar a me encarar,deitoufalação. −Vosmicêpódinumdáféd´istóriadepescadô.Acuntecêoquandumi´acumpanhêra midexôsuzinho. Pausou,comoquearelerpapelamassado...apágina,candente,dasuavida.E continuou. − A noite era linda di extasiá. Ergui d´areia istrelinha-du-má. Sinti ela fria, iguá qui´eu,quequisdávidapr´éla.Prumórdelasobrevivêcalenteielacoé´stamão,sempará difazêrêdico´a´ôtra.Intão,istrêla-du-máperdêofrieza,calentô!Essamãotambémgarrô di´ardê,quárbrasêro,intéqueimá! Seuolhar...fixadonamãoaberta.
  • 21. 22 −Dirrepenti,numpé-de-ventoescapôdami´amão.Ind´umtempuficôpostadadiante d´êsti pescadô, cheia du brio i da graça. Na lufada siguinti, subío, deitano risca nu céo, comu essas´istrela qui vosmicê − hóme das letra −, chama cadenti. Di´olhá pr´éla, cegô mêos´zóio,aistrelinha-du-máquians´simmimarcô,éssamãoquivosmicê´stáinchergandu. Silencioucomosearevisse.Arrisqueiperguntar-lheporquenãodirigirosolhosparao céu...reencontrarobemperdido...Aoquerespondeu: − Num carece, sêo dotô. Êssis´zóio, inda qu´inturvadu, é capáiz di riconhecê´ela in quaquécantuducéo´istreladu,maiz´essamãonãoarcançamaiz´ela.. Ecompletou. −Incontrôu´ástrucumpanhêru. Cabeçaparaaareia,cerrouamão,estrelaescondida... Afastadoalgunspassos,curioso,voltei-me.Paraindagar-lhedonome.Ouparaesticar aprosaintrigante.Porém...inexplicável!Praiaerma!Nenhumacriatura! Devoltaàpraça,depareicomarodadenotívagosmoradores−cartorários,professores, advogados,pecuaristas−,seletosiguapenses,aosquaisnarreioestranhoencontro.Ouviram- meseminterrupção.Entreolharam-se.Nopovoadonãoconheciamninguémcomosinal. Pesca tornara-se industrializada; artesanal, já não existia; tampouco destroços de canoa. Perguntou-me, um, se estava cansado da viagem, outro [respeitosa delicadeza], se sofrera quedadapressãojuntoaomar.[Comosemeupassado,minhaalma,minhaancestralidade, nãoexibissemsalpicossul-atlânticos,santistaquenascinolitoralmaisacima]. Desconcertadopelodescrédito,participeiporalgumtempodaroda,tratandodeouvir mais do que falar, atento às expressões idiomáticas castiças e ao sotaque regional mesclado debrasil-sulino. Passava da meia-noite, despedi-me, deixando-os entregues aos comentários a meu respeito,cientedequehábitosprovincianosrequeremaintrigacomqueexultam. Acaminhodopouso,repensavaahistóriadohomemcaiçara.Deitei-meexausto. ... ... ... ... pescador... sua estrela... o fascínio do Mar Pequeno da manjuba... do espelho de areia... do véu noturno sobre as águas... o velho que identificava sua estrela, mas não a alcançava. Eu... zzzzz... preso ao com...zzzzz pro... misso matrimonial zzzzzzzzz teria tido, por acaso, igual visão estelar? Zzzzzzzzzz... ... ... ... ... ... Aoacordaràmanhãpuleidacamapararetomaraviagem.Espalmeiasmãos.Alívio, nãotinhaestigma! ... ... ... Ainda se lembra? do forasteiro? do apelido? Como seria o meu? Mão de xerifeMão de xerifeMão de xerifeMão de xerifeMão de xerife? [xerifesemestrela,nãoéxerife];mão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelomão-de-cabelo[aentidadesobrenatural]? Teriaquebradoorecordedocaixeiroviajante?Seilá! Arary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz TiribaArary da Cruz Tiriba
  • 22. 23 Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão Psiquiatra - São Paulo - SP CORTINAPARAPATIFARIAS Exaspera ver os representantes do estado brasileiro esfalfando-se atrás de algo que dê substâncias aos rotos encobrimentos de falcatruas e incúrias dos que nos obrigam a cultuar como heróis, e depois dizerem que isso ajuda a preservar as “honras” da Pátria. Recentemente, vimos os esforços do presidente do senado brasileiro para “amputar” da história o afastamento, por pressão popular intensa, de um dos que sujaram a presidência da nossa “república”, aliás, defeituosa desde o início pois surgiu com um dos golpes tão comuns no Brasil, gerados pela insubordinação e indisciplina viscerais de nossos militares. Andando pelo bairro do Ipiranga na capital de São Paulo, é comum vermos as ruas poluídas por nomes cujas indecências estão enclausuradas nos fedorentos baús escondidos nos porões de Brasília, para que fiquem eternamente longe das vistas da nação brasileira, como pretende o estado brasileiro. Quanta desinteligência, quanta ingenuidade estatal.Atitude vã pois o povo brasileiro não é burro e acaba descobrindo. Estudando a história de meu estado, o Pará, em historiadores estrangeiros e diários de bordo dos navios ingleses, tive oportunidade de conhecer as “façanhas heróicas” destas vestais cujas fantasias desafiam o tempo. Comecemos por Pedro I, o tal da “independência” que ameaçou o vento com uma espada de enfeite, cercado de puxa-sacos nas margens plácidas. O que está escondido é que, pouco tempo depois, o ignorante sujeito esnobou o trono do Brasil, quando os Ingleses o ordenaram que assumisse o trono de Portugal que, diga-se, ocupou por pouco tempo, uma vez que foi cedo para o inferno, consumido pela sífilis que adquiriu na vida amoral e devassa que levou no Brasil; capaz até de se encontrar o recibo dos milhões de Libras Esterlinas com os quais “comprou” de Portugal a tal “independência”. Será que querem que não se saiba quem foi Greenfell? Um assassino que, em Belém, atirou contra o peito de pessoas desarmadas e presas pela sua soldadesca, isto em público em praça pública, à vista de milhares de pessoas. Sem falar no trágico assassinato de centenas de paraenses presos nos porões de uma caravela, onde, por sua ordem, foram jogados vários tambores de cal soldada. Natural que o estado brasileiro queira manter escondido quem realmente foi o “Comandante Taylor”, prócer de nossa “gloriosa” marinha, e desertor da “insignificante” marinha inglesa; o “prócer” permanecia em terra sempre que havia belonaves britânicas na costa brasileira pois corria o risco de ser preso e levado para a Inglaterra, onde seria enforcado. Natural que o estado brasileiro não queira que se saiba que o almirante Wandenkolk foi o responsável por três “gloriosos” bombardeios que Belém do Pará, uma cidade brasileira, sofreu da “gloriosa” marinha brasileira. Natural que o estado brasileiro procure esconder eternamente que o “herói da pacificação nacional” de nossa “gloriosa” marinha, o almirante
  • 23. 24 Francisco José de SouzaAndrea, na realidade foi um genocida que assassinou mais de quarenta mil paraenses, com seu exército de facínoras retirados dos presídios de Pernambuco e da Bahia. Quais serão os motivos que tem o estado para esconder as cartas que o duque de Caxias mandava para a corte durante a guerra do Paraguai? Será que não quer que a nação saiba dos crimes de guerra que confessa nessas cartas? Ou não foi crime jogar cadáveres de coléricos no rio Paraná para contaminar a população de Assunção? O que pensaria a nação se soubesse das atrocidades do conde D’Eu? Este Francês sinistro que incendiou hospitais paraguaios, com os doentes dentro, após lacrar portas e janelas e queimou vivas quatro mil crianças numa batalha desta guerra que, está escondido também, foi patrocinada pelos ingleses que não queriam um concorrente industrializado nas Américas, como era o caso do Paraguai. Vai ver deve haver também documentos secretos do golpe de Jacareacanga naAmazônia, quandoaaeronáuticamilitarbrasileiraexerceuindisciplinascontraJuscelinoKubticheck.Quanto a “revolução” de 1964 não há mais o que esconder; nossos chefes militares já avisaram que destruíram todas as provas da insubordinação, das malfeitorias, dos assassinatos e outros crimes que cometeram. Da parte civil do estado, acredito que não escondem nada. Seria absolutamente inútil pois ontem, assim como hoje, nunca tiveram vergonha na cara mesmo... Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão
  • 24. 25 Carlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto FCarlos Augusto Ferererererrrrrreira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvãoeira Galvão MEU BRASILMEU BRASILMEU BRASILMEU BRASILMEU BRASIL Pátriaminha,muitobemamadaevaronil. Merecesummelhordestino,maisdenodo, Umaelitemaisdecenteenãotãoimbecil, Otérminodaenganaçãoemenosengodo. MeugrandeBrasil,acordairmãoamigo! Emtuasruasmilhõesamargamdesespero, Vítimasdoscultoresdopróprioumbigo, Eespecialistasdomalfeitocomesmero. Queserá detipátriafortebelaequerida? Quintaldamiséria,dadoençaedaincúria. PedeaDeusquetealivie,tefaçaguarida, Mandandoproinfernoarealidadeespúria Meuamordepesadeloedevidadura, Muitoruimteverestraçalhadopelapolítica Dirigidaporvestaiscomfantasiasdecandura, Sacerdotesdadoredamaldadeapocalíptica NãovêsBrasil,opresentemaismedonho? Maustedominando,tetornandoinclemente? Asriquezasquefariamdavidabelosonho, Sendodigeridasporumestadoindecente? EntãovejaBrasil,oteufuturocomprometido: Umacriançachorandosó,famélicaeangustiada Sem luz, sem saúde, sem escola, sem sentido, Semesperança,sempaz,semnorteemaisnada.
  • 25. 26 Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos Infectologista - Botucatu - SP INFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIAINFÂNCIA Nainfânciaocresceréumadóciltarefa Brincaréregraprimadobelodestino. Sonharémotivaçãodavidasonhando Criaréarotadoseredoamarcriando. Pensaréainvençãodaprópriainfância Oalegreviveremanaeanimaseuser. Aimaginaçãodivaganaaçãosingela. Suaalmaéplenadesonhoefantasia. O seu dia é a expressão do ser criança. Vasculha, corre, descobre e se diverte. Oquerermostraolivremododebrincar. A ação é o gesto puro e belo de sorrir. Adescobertaéoiníciodaaventura. Venturosapalpitasuapiaalmajovial. Noinfantecadaminutoétodoeterno. Correr,assobiar,sorrirnoseiodaterra, Jogar,tirar,ver,apanharéseufolguedo. Abrindo sua vista e sua fértil cabeça Noatoinocentedebrincarsorrindo, Felizcaminhoacariciaaçãopueril. Todofaceiro,despidonanatureza. Nadócilinfânciasonhaacordado. Emumaabençoadadádivadivina
  • 26. 27 Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos VITVITVITVITVITAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REALAL BRAZIL: UM CONTO REAL Em1895Dr.VitalBrazilseinstalouemnaCidadedosBonsAresaconvitedacolônia presbiterianaquenessaocasião,floresciae,consequentementeerapujanteedesenvolvida.O núcleoconstruíraaigrejapresbiteriana,mercêdosesforçosdeDomingosSoaresdeBarrose doreverendoLaneoqual,tambéminiciaraemSãoPaulo,afundaçãodoMackenzie. Nasadiaintençãodecriareinovarosdoisprogressistasevisionáriosamigos,unidose esperançosos, houve por bem modificar a assistência médica ao trazer à crescente e a progressivaBotucatu,oirmãodefé,osonhador,Dr.VitalBrazil. SuaclínicaeradeSenhorasedeCriançase,alémdisso,amavaconheceredesvendara ação do veneno das cobras peçonhentas: crotálica e botrópicas responsáveis, por mera coincidência, pelos acidentes humanos frequentes nesta região. Recebia, com bastante freqüência no consultório, pacientes picados por cobras peçonhentas ou se dirigia as propriedadesruraisacavaloparaatendê-losousocorrê-losnoscasosgravesouurgentesde difícil locomoção a cidade. Emgeral,aspeçonhaseram,porele,adquiridasporvalorsimbólicoouganhavapara estudá-las,coletando,analisandoeavaliandoseusvenenos. Apósoisolamentoosinoculava empombosouanimaisdoseuimprovisadolaboratórionoporãodacasaquehabitavacontígua àEscolaAmericananaquallecionavamprofessorasdeorigemestrangeira. O edema local e as alterações vasculares habituais nas botrópicas, enquanto que nas crotálicas,emgeral,cursamsemedemanolocaldapicada,masrevelamexuberantesalterações centraissensoriaise,quandoatingemobulbocerebraldeterminamparalisiarespiratórialevando amorte. As diferenças dos quadros clínicos observados nas picadas das botrópicas frente as dacrotálicainduziram-noainferirsobreaprováveldiferenteatividadeimunológicamercêde suapercepçãonasendadapesquisalaboratorial. Devido ao rápido crescimento de seu laboratório, por precaução, devido à presença de alunosnaescolaamericana,transferiu-oparaoamploporãodaFarmáciasituadaàantigaRua Riachuelo. Suaspesquisasevoluírameosresultadosobtidosincitaram-noàsnovasespeculações eaostesteslaboratoriaisdiantedosvenenosdaspeçonhas. Seuestudogerminouquandoem1901resolveufrutificá-lanorecémcriadoInstituto Butantan. Logo se instalou e foi desvendar seu conceito de especificidade sorológica dos venenosensaiadosaté1908. Em1909,asdescreveuemsuadissertação“LaDéfenseContreL´Ophidisme”,aqual apresentouemParisem1911. De volta ao período de vida em Botucatu a clínica se consagrava entre os diferentes pacientespresbíteros,católicosounãoosquaiseramatendidoscomdedicaçãofraternalno consultório.
  • 27. 28 Evanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de CamposEvanil Pires de Campos Ospresbiterianosutilizavamumabandeira,decorbrancaafimdeidentificararesidência ouapropriedaderuralaomédico.Nessetempoosconflitosreligiososexistiamesemantinham entreeleseoscatólicos.Infelizmenteissoperturbavaorelacionamentodopovonacomunidade. Certaocasião,apósumaintrépidaeventurosasubidamatinaldaserradeBotucatu,um colonosurgiuesedirigiunoiniciodatardeàcasadoDr.VitalBrazil.Vinhasolicitaraeleque o acompanhasse a cavalo a distante fazenda de seu patrão. Era hábito normal e necessário aos médicos a utilização do cavalo para que fossem atender os pacientes das comunidades dacercaniaeasdazonarural,geralmente,distantesdocentrourbano. Portanto,ocavaloouacharreteeraomeiodelocomoçãonormalerotineirodomédico quecavalgandoouboleandosedirigiaàscasasdaperiferiaoudaextensazonaruralexistente naépoca. Essapropriedadesesituavaabaixodaserra,portantohaveriaumalongaviagem,deida e, também de volta a cavalo, até se chegar à sede, para que o médico pudesse realizar e assistiropartodaesposadopatrãoquepertenciaaumafamíliapresbiteriana,Nogueira. Adescidaíngremedaserraeraárdua,difícileaventureira.Dessamaneiraoscavalos deveriamestarpreparadosparaexaustivaviagemefetuadanotrechodaencosta.Oexperiente cavaleiro levou e conduziu, cuidadosamente, o criterioso e devoto doutor em seu dócil e treinadocavalo,atéacasasede. Ao entrar na residência se defrontou com o marido apreensivo que, de imediato, confirmouonascimentoNogueiraemhomenagemaodoutor.Saudávelelongevoviveumais de95anos. AsuafilhaArleteB.Nogueiranarrouessecontoverdadeiro.
  • 28. 29 FlertsNebóFlertsNebóFlertsNebóFlertsNebóFlertsNebó Reumatologista - São Paulo - SP A MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIASA MITOLOGIA EM NOSSOS DIAS Não vou entrar nas diferentes considerações da Mitologia, visto que todos os deuses que ela agasalha não passam de contos engendrados pelos gregos e romanos, há muitos séculos passados. Masoquemechamaaatençãoéqueatualmentemuitosdaqueles“conceitos“conceitos“conceitos“conceitos“conceitos”continuam presentesemnossosdiasemplenoséculo XXIXXIXXIXXIXXI. Haja visto que estão desejando, após o desembarque do homem na Lua (Ceres dos GregoseRomanos)estãoestudandoaconstruçãodeumaparelhoparaodesembarqueno planetaMarte(deusdaguerraentreduascivilizações,GREGAEROMANA). Buscam um modo, talvez antes de desembarcar em um de seus satélites (Castor eCastor eCastor eCastor eCastor e PoluxPoluxPoluxPoluxPolux). Desembarcaremumdeles,procurandoummomentoemqueumestejamaismaismaismaismais próximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestrepróximo da órbita terrestre, o que será um acontecimento, que marcará para o resto de nossa humanidade; um feito incomumfeito incomumfeito incomumfeito incomumfeito incomum, como foi também a primeira vez que um homem (GAGARIN)passoudoslimitesdenossaatmosfera,entrandonoespaçosideral. Ohomemporsuaprópria naturezanaturezanaturezanaturezanaturezaéum sercuriososercuriososercuriososercuriososercuriosoenuncasecontentacomaquilo que tem, e sempre deseja mais, visto que existe um ditado que diz: VIVENDO EVIVENDO EVIVENDO EVIVENDO EVIVENDO E APRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDOAPRENDENDO–époristoqueestamosparticipandodestaJornada,aquiemItu,ouvindo o que os nossos confrades e comadres tem para nos contar. Nestemomentoagradeçoemnomedeminhacidadenataltudoquantoouviatéagorae me despeço dizendo Até brAté brAté brAté brAté breveeveeveeveeve e que os Deuses vos acompanhem. AMÉMAMÉMAMÉMAMÉMAMÉM!
  • 29. 30 SÃO PSÃO PSÃO PSÃO PSÃO PAAAAAULOULOULOULOULO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO, MEU TORRÃO SãoPaulodaex-garoa São Paulo do ex-café Só tu és coisa boa Emtiponhotodaminhafé. SãoPaulo,terraformosa, Vivesemmeucoração SãoPaulo,terradadivosa SãoPaulodaprodução. SãoPaulodasbandeiras SãoPaulodaConstituição Trezelistasaltaneiras ÉstodoumaNação. SãoPaulodeamor Sempreforteevaronil Ouvemeucanto-clamor ÉsaalmadoBrasil. Flerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts NebóFlerts Nebó
  • 30. 31 Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz Oftalmologista - São Paulo - SP MITOMITOMITOMITOMITO Omitomoldaamente Docrente Demodointeligente. Algumlentamente Outroderepente, Masàmodaconveniente, Eestecrêpiamente Emmitonascente Oujacente, Sejamitocoerente Ouincongruente. Hámitoquematagente, Outroquemorrepelagente. Hámitoinocente. Hámitoindecente. Hámitoquemente. Hámitovalente. Hádementedoente. Hámitoprepotente. Amaioriaéinconsistente, Muitomitoinconsciente. Hajamito,minhagente! Porqueohumanosente Necessidadepremente Deodiarouestarcontente, Comummitojáausente Oualgumorapresente. Éumdesejoardente, Consequente, Imanente. Omitoémuitoinfluente Epeloditoepelonãodito, Secridoirracionalmente, Melhorparaomito.
  • 31. 32 Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz PIZZAPIZZAPIZZAPIZZAPIZZA Qualquer farinha que contenha glúten quando amassada com água, sovada e assada, recebe o nome de pão. O pão pode ter formas diversas, mas basicamente ele é: ou alto ou plano. A pizza nada mais é do que um pão plano fermentado, feito com farinha de trigo. Inicialmenteeraumsimplespãoassadodeumladosobreumapedraquenteeemseguida virado, até que descobriram o forno oco de calor seco, que o assava simultaneamente dos doislados.Asuaorigemseconfundecomopãoárabe,oupãopita,cujaetimologiasugerea mesma raiz fonética. A diferença está na cobertura, que a enriquece. Esta cobertura é basicamente um pomodoro, molho de tomate (sugo). Não se sabe se havia um pão com o nomedepizzaantesdodescobrimentodaAmérica,porqueotomatefoidaquiparalá,masé possívelquejáexistisseelevasseoutracobertura,aliche,sardinha,patêsdiversos,ouentão secomiaempedaçosmolhadosemcaldosquentesousopas,alémdeguisados. Esta variante de pão ficou restrita à cidade e ao reino ou principado de Nápoles por séculos,porquecadapovoeuropeutinhaseupãopróprio,incluindoaíasoutrasprovíncias italiotas, e ninguém se interessou por ela. Era um pão regional coberto com molho e, eventualmente,comqueijo.Acoberturacomqueijoémaisrecente,econstituiaformaclássica dapizzanapolitana.Usou-semussareladebúfala.Mussareladebúfalonãoexiste:búfalonão temleite,temesperma.... Maisrecentemente,depoisdasmigraçõesdositalianosparaasAméricas,elafoiaculturada em duas cidades: Nova Iorque e São Paulo. Nos Estados Unidos difundiu-se rapidamente com o surgimento da comida industrial e do fast-food. O processamento em larga escala criou o disco pré-assado, o que culminou na Pizza Hut e outras marcas. É uma bolacha crocante com cobertura. Bolachas também são pães planos. Para quem se acostumou com massafrescarecémassadaistopareceumaheresia,masofatoéquetambémémuitogostosa. Questãodecostumeepaladar. Em São Paulo o consumo da pizza patinou até o fim dos anos 70. Havia umas poucas pizzarias,comoaCastelõesnoBrás,aZiaTerezanofinaldaaindaestreitaRuadaConsolação, alguma que não conheci no Bixiga, e a rede Paulino. Todas elas faziam massa grossa com borda saliente, porque a filosofia da pizza sempre foi esta: um pão massudo para encher a barrigaeumacoberturaparadarsabor,refinamento. Mas aí aconteceu. Uma modesta casa de pasto, a Monte Verde, situada entre o Bom RetiroeaBarraFunda,quenemeraumapizzariaespecífica,forneciaumcardápiovariado, churrasquinhoseoutrosassados,umasguarniçõescomooarroz,afarofa.Tinhaumaspoucas mesas e uma clientela limitada, paroquial. Havia um forno no qual também fazia pizzas, à escolha do freguês, massa grossa ou massa fina. A moda da massa fina pegou! De repente, informadospelapropagandabocaaboca,levasemaislevasdepaulistanosforamlácomera novidade.Sãoasconhecidashordasurbanas. Então,oportunistascomeçaramaabrirpizzariasportodaacidade,etambémaspizzarias tradicionaisjáestabelecidasaderiramaomodismodapizzafina.Estaassavamaisdepressa,
  • 32. 33 Geovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da CruzGeovah Paulo da Cruz economizavalenhaoueletricidade,dobravaolucroeatraíafregueses.Istocoincidiucomo desastradogovernoSarney,quandoainflaçãochegouaos80%aomês,odólarfoipararnas alturaseotrigoencareceumuito.Seantesumapizzaalimentavacomsustançaumafamília, agora são necessárias três, e ainda se fica com fome. A cada vez mais a pizza vem sendo descaracterizada,hojemaispareceumapanquecatransparente.Jáouvipaulistanosqueforam comer pizza em Nápoles dizerem que a pizza de lá é muito inferior à nossa, é uma pizza grossa(espessa),quasesemcobertura.Eutiveumprimoquesógostavadeboloqueimado. Suamãenuncaacertavaeelecresceucomendoboloqueimado,umcarvãozinhodoce... Hoje, a partir de São Paulo, a pizza avassalou o Brasil. Deve haver índio botocudo comendo pizza nas mais remotas nascentes do Amazonas. E temos um costume deveras singular:aquisecomepizzasóànoite.EmNápolescomeçamacomê-lanocafédamanhã,e passamodiacomendopizza,comotambémofazemosamericanos.Outraparticularidade: só nós, os “brasiliani”, a comemos no prato, com faca e garfo. Como qualquer pão, no mundoelaécomidacomamão.Masdiantedaatual“pizzabrasileira”,oupaulistana,seilá, superfina,molenga,queijofumegantederretendoebastantemolhonabase,seriaumaousadia tentarcomê-lanamão.Despenca,queimaamão,sujaosdedos,manchaaroupa.Umdesastre naetiqueta.Melecatudo. Umadescobertaminha,entregenialefatal.Pormelhorquesejaapizza,comê-laànoite acompanhadadechope,éazianacerta,demadrugada.Estimulaasecreçãodesucogástrico e libera um ácido clorídrico capaz de derreter aço inoxidável. Mas a diaba é danada de gostosa,edacervejanemsediga:voumearriscaraterumagastriteouumaúlceraduodenal. Nhacc!nhacc!: - Tante grazie, paesano!
  • 33. 34 HelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliominiHelioBegliomini Urologista - São Paulo - SP AAAAAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIAVE-MARIASSSSS Lembro-menitidamentequandocriançadasmanhãsdedomingo.Osolnãoseacanhava em dardejar seus raios através dos vitrais da igreja de São Pedro Apóstolo, iluminando, aquecendoeanimandoorecinto.Oaltareracarinhosamenteenfeitadocomfloreseadereços dispostos de acordo com as festas litúrgicas. O silêncio do ambiente era quebrado pelo cantarolardospássarosquevoavamgarbosamentedeumladoparaooutro. Nessecenárioeucomeceiaaprenderdeformasimplesasinestimáveisriquezasdafé católica. Não eram tão-somente conhecimentos teóricos impalpáveis, mas sim práticos e acessíveis àqueles de boa vontade. Essesensinamentos,queforamsedimentadosparalelamentenoGinásioSantaGema dasIrmãsPassionistasduranteoitoanos,deformaexplícitaeimplícita,tiveramreverberação em minha casa onde meus pais procuravam igualmente viver de acordo com aquilo que acreditavam. Guardocommuitaternuraegratidãoafigurademeupai,sempreajoelhadoaoladode suacamaconjugalantesdesedeitar,independentementedafadigadoseudia. Dentreasmaisbelasfórmulasdeoraçãoquetenhoemestimacitoo Glória,Glória,Glória,Glória,Glória,hinoque deformasimplesediretalouvaaSantíssimaTrindade;o PPPPPai-Nossoai-Nossoai-Nossoai-Nossoai-Nosso,ensinadopelopróprio Jesus,filhodoPaie,acarinhosa AAAAAve-Mariave-Mariave-Mariave-Mariave-Maria,emhomenagemàmãedoRedentor.Aliás,asua primeiraparteétodabíblica, portantoneotestamentária. AolongodeminhavidatenhorecitadoessesingelohinodelouvoraMariaSantíssima algumascentenasdemilharesdevezes...senãofoimaisdeummilhão! Sim,muitíssimasAve-Mariastenhodeclamadodasmaisdiversasformas:compenetrada, desconcentrada,atabalhoada,rápida,vagarosa,meditativa,mecânica,soleneeinformal.O queimportaéquecomometaprincipal,semprealmejeicomessaprecelouvarNossaSenhora eagradeceraDeusporela. Interessanteéqueasuasegundapartecomeçouaterumsabordiferenteaolongodos anos.Tenhoproferido-atalqualumnáufragoquevêsuasalvaçãoaoabraçarvigorosamente umtroncodemadeiraquebailaaoléupelasmarolaseondasdooceano. Àmedidaqueotempopassa,eurecordocomternuradostemposdaminhainocente infância,quandonãotinhacondiçõesdeaquilataropeso,adensidadedecadapalavraede cadasentençadasinúmerasAve-Mariasquerecitei. Aomeaproximardocrepúsculodaexistênciacomamaturidadereunida,contocada vez mais com a esperança de um órfão ao dizer: Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nósSanta Maria, Mãe de Deus, rogai por nós (pobr(pobr(pobr(pobr(pobres) pecadores) pecadores) pecadores) pecadores) pecadores, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobres, agora e (sobretudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (eetudo) na hora (exxxxxclusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.clusiva) de nossa morte – Amém.
  • 34. 35 Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini CARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENACARUSO MADALENA UM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIAUM GRANDE PSIQUIATRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEOTRA CONTEMPORÂNEO Apesar de estar em idade provecta, fiquei surpreendido e triste com a notícia de seu falecimento,em27dedezembrode2010,contandocom94anos. EmborafôssemosmembrosfundadoresdaAcademiaBrasileiradeMédicosEscritores –Abrames,nuncaoconhecipessoalmente,vistoqueesteveimpossibilitadodecomparecer nasessãodeinstalaçãodosodalícioem26demaiode1989,nacapitalfluminense.Radicado emTeresópolis e já idoso, tampouco esteve presente em nossas anuais, magnas e calorosas SemanasdaAbrames,dasquaistenhocomparecidoprazerosamenteemsuaimensamaioria. Nãoobstante,trocavamensalmentecartas,comentários,boletins,opúsculoselivros com ele, particularmente nos últimos quatro anos, por ocasião da coleta de dados de meu livro Imortais da AbramesImortais da AbramesImortais da AbramesImortais da AbramesImortais da Abrames (2010), ao qual deu também sua inesquecível contribuição. Apesardeter-lheenviadoumexemplardessaobra,assimcomofizcomtodososacadêmicos daAbrames,elenãopôdecomentá-la,pois,infelizmente,jáhaviafalecidosemqueeusoubesse doocorrido. JoséCarusoMadalena,maisconhecidosimplesmenteporCarusoMadalena,nasceu nacidadedoRiodeJaneiroem19deagostode1916.Eradefamíliahumildeecomeçoua trabalhar aos 9 anos como jornaleiro. Manifestou desde cedo pendor para a literatura, publicandonarevistadaAcademiaAnchietadoColégioMunicipalSãoVicentedePauloseu primeirocontointitulado“OBalão”,quandocontavacom13anos. Graduou-sepelaEscoladeMedicinaeCirurgiadaUniversidadeFederaldoEstadodo Rio de Janeiro (UNI-RIO), especializando-se em neurologia e psiquiatria. Foi professor assistentedepsiquiatriadaUniversidadeFederaldoRiodeJaneiro;professordepsicologiae higienementaldaEscoladeEnfermagemdaUniversidadeFederalFluminense;professordo Instituto de Pós-Graduação Médica Carlos Chagas; professor emérito de psiquiatria da UniversidadedeNovaIguaçu;professoradidodepsiquiatriadaOrganizaçãoMundialde Saúde no Brasil na Universidade Federal de Santa Catarina; e professor convidado de psicofarmacologianasuniversidadesfederaisdaBahiaedoRioGrandedoNorte. CarusoMadalenatinhagrandecabedalcultural,religioso,filosófico,científicoeliterário. Era um gigante do intelecto. Ao contrário do que se pensa, a ciência não o distanciou de Deus.Eraumhomemdesólidafée,particularemente,umcatólicoconvicto.Sabiademonstar atravésdarazãooporquêdesuacrença,apesardasdificuldadesinerentesaomaterialismo, egoísmoepragmatismohodiernos. Pertenceu a diversas entidades, salientando-se: Associação Brasileira de Psiquiatria (membro fundador); World Psiquiatric Association; Sociedade de Medicina e Cirurgia do RiodeJaneiro;SociedadeLatino-AmericanadePsicobiologia(membrofundador);Sociedade PsiquiátricadeLínguaPortuguesa(membrofundador);AssociaçãoBrasileiradePsiquiatria Biológica(membrofundador);AssociaçãoPsiquiátricadeBrasília(membrohonorário);Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos; Centro de Estudos Franco da Rocha; Academia
  • 35. 36 Helio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio BegliominiHelio Begliomini JoséCarusoMadalena(1916-2010). TeresopolitanadeLetras;AcademiaBrasileiradeMedicinaMilitar(emérito);GrêmioBarra- Mansense de Letras; Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – Regional do Estado do Rio de Janeiro; Academia Brasileira de Médicos Escritores(membro fundador e emérito); AssociaçãoNacionaldeEscritores;AcademiaCariocadeLetras;InstitutoBrasileirodeHistória daMedicina;SociedadeBrasileiradeFilosofia(presidenteemérito);AcademiaAlagoanade Letras(correspondente);eAcademiaPetropolitanadeLetras(correspondente)dentreoutras. CarusoMadalenatinhaespíritoinventivo.Naliteratura,criouogênero“humorismo iconoclasta” e a poesia “pareidólica”. Na filosofia, concebeu o mundo como “significação” daignorânciaecriouconceitosde“filosofiaúltima”e“causainfinita”. Escreveumaisdeumacentenadeensaiosemopúsculossobretemasquevariavamda mitologiaàtanatologia;dareligiãoàfilologia;daliteraturaàfilosofia;damedicinaàhistória. Naimprensautilizou,porvezes,opseudônimode“JoãoCarlosMagalhães”.Sãoseuslivros: PPPPPsicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básicasicofarmacologia Clínica Básica; Lições de PLições de PLições de PLições de PLições de Psiquiatriasiquiatriasiquiatriasiquiatriasiquiatria; As PAs PAs PAs PAs Psicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicassicoses Atípicas; Fenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia PsiquiátricaFenomenologia Psiquiátrica; O SonoO SonoO SonoO SonoO Sono; História da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da EsquizofreniaHistória da Esquizofrenia; e Caderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de PáginasCaderno de Páginas TTTTTristesristesristesristesristes. Possuía cerca de 80 títulos honoríficos nacionais e internacionais. ConheciJoséCarusoMadalenaapenasporcartasatravésdocorreiotradicionalepela leituradealgunsespécimesdesuavastaemultifáriaobra.Encontrava-seviúvoenãodeixou descendentes biológicos. Apesar da idade avançada, comportava-se como um jovem. Era muitolépidoemcomentarouresponderàsminhasindagaçõesemissivas.Gostavadeinteragir ecorrespondercomigo.Foiumtitãdaintelectualidade.Seupassamentodeixougrandelacuna nasentidadesqueparticipou,particularmente,naqueridaAcademiaBrasileiradeMédicos Escritores.
  • 36. 37 HildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEngerHildetteRangelEnger Clínica Geral - São Paulo - SP IRMANDADEIRMANDADEIRMANDADEIRMANDADEIRMANDADE Silenciosaeimpassível Atravesseiotempo... Tolereichuvas Etempestades... Quietaemuda escuteisegredos Semdesvendá-los Mecontentei Com as viagens do vento... Queindoevindo Através dos tempos Mecontoudasrotas Domundo. Nuncasoubedondevim Nemparaondevou Masagora Olhandoaterraseca porondeando descobriserirmãdapedra. MOMENTOSMOMENTOSMOMENTOSMOMENTOSMOMENTOS Tudopassouenfim Equasenadarestou Dos sonhos Quenãoforamsonhados dosprojetos Quenemforamesboçados. As palavras Perderamsentido E os gestos todos Foramesquecidos. Tudoficoumuitosimples Muitoóbvio Muitoprevisível... Poristo,agora, Nãotedirei Maisnada. Apenasteolharei Comolhostristes Dedespedida.
  • 37. 38 Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas Advogada - São Paulo - SP AAAAAS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELS MAIS BELAAAAAS PS PS PS PS PALALALALALAAAAAVRAVRAVRAVRAVRASSSSS OrganizadapelaSobramesmaisumajornadaliterária,destaveznagrandeItu,procurei umtemaquefizessejusaessahistóricacidadeparameinscrever. As palavras desfilavam na minha mente, empurra, empurra, pois, em se tratando de tal importância,todasqueriamaparecerpararepresentarotemaemquestão.FoiumDeusnos acuda!Largueiafolhadepapeleacanetanamesaedeiumavoltapelosarredoresdecasa. Tomarumcafezinhoàtarde,numaboaconfeitaria,compartilharamesacompessoanão conhecida,renovaovigorparavoltaraescrever.Quantacoisaseaprendeeseensina,éuma trocadeexperiências. Volteiparacasa,vireiafolhadepapel,relioquejáhaviaescritoparacontinuaraescrever, mas, escrever o quê? Preciso das palavras que se atropelam na minha mente, como as mais belas da língua portuguesa,paraengalanarestaminhahomenagemàfamosacidadedeItu.Queremaparecer aqualquerpreço,paramostrarabelezaquerepresentam.Sãosonorasquandolidasemvoz altaouquandocantadasnasnotasmusicaisdaspartituras. Quaispalavras,meuDeus,escolhereiparadizeroquantoadmiroessacidade? Certamente,invocareiograndepoetaOlavoBilacepedireiajudaparasocorreraÚLTIMA FLORDOLÁCIOINCULTAEBELAeassimeupossa,simplesmente,dizer: Acolhedora Itu, berço da República, A MINHA GRATIDÃO.
  • 38. 39 Jacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa FunfasJacyra da Costa Funfas O VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERO VERDE ALERTTTTTA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEMA O HOMEM Verdequerosempreser. Fuicriadopeloaltíssimo Paraserohabitatdahumanidade, Quenãoestáreconhecendomeuvalor. Nãodeixequeoinsanomedestrua Souverdeequeroserútil. Estousentindoosmaustratos. Meuspulmõesestãoenfraquecendo Minhaamiga,aNatureza, ComlivretrânsitojuntoaDeus, Estáperdendoapaciência Depoisdetantosalertas! Eohomem,inquilinodesteplaneta, Faz-sededesentendido, Continuaamaltratar-me. Oqueserádahumanidade Sealgumdia,oalimentocolhidonaterra Tiverovenenodavingança? Salve-me, para você ser salvo!
  • 39. 40 José Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto VJosé Alberto Vieiraieiraieiraieiraieira Anestesiologista - São Paulo - SP LIMIAR O corpo doente, e a alma quem sabe? Leva o ser ao umbral do seu destino. Que insondáveis caminhos nos levará? A consciência ou ao seu fim? Quisera que a divindade nos levasse Ao sono profundo para depois despertar Com o raiar do sol, alegre, forte e cheio de sonhos Que os nossos amores continuassem... Que a saudade tivesse fim Insondáveis são estes caminhos... Até que este dia chegue, Que a esperança alivie nosso fardo.
  • 40. 41 José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo Patologia Clínica - Belo Horizonte - MG CARCARCARCARCARTTTTTA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORESA AOS MÉDICOS ESCRITORES Nestemomento,cingidosnapromoçãohumanística,maslançadosparaasociedade agresteeávidadecuidados,nãohácomosentir-seseguro,distantedasangústiasedaagrura dofuturo. Anossofavor,amedicinaunge-nosàmedidaqueseaprofundanaessênciahumanae sederramanocuidardetodoscomrespeito,amizade,solidariedadeeinvariávelcompetência. Oimponderávelinstaosaberconduzircomsegurançaassituaçõesdeurgência,que colocamemriscoavida,podendocunharterríveissequelas. Representoaquelesquesededicamaoensinodasemergênciasmédicasequelutam paraajustaroensinoaestarealidadepungente.Urgeproporeincitarmudançasnoensinode urgência,aindaqueconfrontandointeressesnacirandadaensinadela,alimentadaporinfindável discussãonatertúliaburocracial... Tragoainocênciadeacreditarqueumdianãomaisdesaguarãonassalasdeemergência tudo que não se resolveu em outras instâncias, as inúmeras falhas e gargalos do sistema de saúde..., e as diversas máculas da sociedade moderna, como o vício, a mazela das drogas e do álcool, a pisadura da pobreza dilacerando o homem..., cuja vida, por vezes, já nasceu/ afloroudescomedida/insípida/desequipada. Amedicinanoscolocafaceafacecomosofrimentohumano,asperdasinevitáveiseo estressededefenderavida...,nacontrafacedobem,naexorbitânciadodescomedidomal, emsuasprosaicasfaces,àsvezesimpermeávelaosnossosanseios... Elaépartedecadaum, a confundir-se com seu todo, amiga, algoz, musa, amante, companheira astrométrica..., a iluminaravida,defendendo-aepromovendo-anoslimitesdaética. Omédicolidacominusitadasdores,ohomemcriaelidacomseusprópriosdissabores, masaospoucos,rompeemsuatravessiaexistencial,ganhaqualidadedevidaeolampejoda vidadecadaumperpetua-seacadanovosegundo,jagunceando,forcejando,cachorrandoa mortecerta. Namedicina,asconquistaseoprazeremexercê-la,ajudandoemotivandoavidade outrem, afagam os fracassos, tornando-os toleráveis. Por fim, o calor da vida se paga e nos paga.
  • 41. 42 José Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos SerufoJosé Carlos Serufo TRATRATRATRATRAVESVESVESVESVESSIASIASIASIASIASSSSS “Aciêncialançaluznosmilêniosdetrevasdosem-fim”,(GuimarãesRosa) enquantoaepistemologiarondaburacosnegros,(Jocase) somente“aboaleituradesbastaaignorância”,(HaroldBloom) “amedicinalidacominusitadasdores, ohomemcriaelidacomseusprópriosdissabores, masaospoucos,rompeemsuatravessiaexistencial, ganhaqualidadedevida eolampejodavidadecadaumperpetua-seacadanovosegundo, jagunceando,forcejando,cachorrandoàmortecerta”.(jocase) O dia-a-dia é assim, como “as serras que vão saindo paradestaparoutrasserras”(GuimarãesRosa) Eentão, “Tudovaleapena,sealmanãoépequena”(Fernandopessoas) Omédicodentrodecadaumaindanãofoiterminado..., nãooserá, nãoconheçoumgrandemestrequetenhasesentidofinalizado, o médico se constrói a cada dia... com o cabedal do façanhoso bem, comamassadaangústia, que só assim se esvaece... (Jocase) Aboapráticamédicaéassim, comoumaprofusãodefrasesfeitas, belas,completas,complexas,expressivas, consensuais, aplicadascomharmonia, aharmoniaqueadoençaexige, odoentetantoclama e, se certo, afaga-nos o ego, encantaenosencanta.
  • 42. 43 JoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeirosJoséMedeiros Pneumologista - Maceió - AL REMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTREREMINISCÊNCIAS DO MESTRE AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDAAURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA AurélioBuarquedeHolandaéalagoano?Eleproduziuobrasliteráriasalémdodicionário que o celebrizou? Estas perguntas têm sido feitas fora do Estado e eu tenho explicado o orgulhodeAlagoastersidooberçodoimortalAurélioerepetidoonomedasobrasliterárias que produziu. Sobre o dicionário sou sempre enfático. Estima-se que um em cada seis habitantes do Brasil tenha em casa, pelo menos, uma das versões do dicionário de Aurélio BuarquedeHolanda.Líderdevendasemseusegmento,durantemuitosanosfoiumbest- sellernaslivrarias,somenteperdiafôlegoparaaBíblia,queénadamais,nadamenos,olivro maisvendidonomundo.Lançadoem1975,foipublicadoapóscincoanosdetrabalhoem equipe, coordenada por ele e por D. Marina, sua esposa. A obra foi a concretização de um antigosonhodoautor,que,desdemenino,demonstroupaixãopelosignificadoepelaorigem daspalavras. Poeta,críticoliterário,contista,ensaísta,tradutor,professorelexicógrafo,caracterizaram asváriasfasesdesuavida.ComoconheciAurélioBuarquedeHolanda? Nadécadade60,meuirmão,RuiMedeiros,jornalistaeescritor,trabalhavanoDiário de Notícias, Rio de Janeiro. Naquela época, eu estava realizando especialização no Rio e costumavair,ànoite,aojornal,paraesperaromanoquetrabalhavaatéàs22horas.Nasala daredaçãodojornaltiveafelicidadedeconhecernomesdestacadosdaliteraturabrasileira: AurélioBuarquedeHolanda,JoséLinsdoRego,OttoMariaCarpeaux,RacheldeQueiroze Álvaro Lins. Eles se reuniam, todas as quintas-feiras, para elaborar o caderno cultural do domingo. Duranteadécadade70,períodoemqueassumiaPró-ReitoriaComunitáriadaUFAL, realizamosváriasjornadasculturais.MestreAurélioparticipoudetrêsdelas.Quandooconvidei, pelaprimeiravez,elemerespondeucomoutrapergunta.Nãopodesernofinaldenovembro? E explicou: “todos os anos gosto de passar um mês de férias em Maceió. Nessa hipótese, junto o útil ao agradável”. Assim foi feito. No final de uma dessas jornadas, o então Reitor Manoel Ramalho designou-me para representar a UFAL, num encontro de folclore em Laranjeiras (SE); Mestre Aurélio era um dos convidados especiais do evento. Durante o percurso,deautomóvel,deliciei-mecomaexuberânciadesuacultura.Orarecitavapoemas, oratrechoslongosdeescritoresportuguesesebrasileiros.DeCarlosDrummonddeAndrade aCecíliaMeirelles,deMachadodeAssisaEçadeQueiroz,elediscorriadememória.Contou- me Dona Marina que “ele sabia de cor todos os versos de “Os Lusíadas”, de Camões. Mesmonosúltimosanosdevida,jávítimadomaldeParkinson,elemepediaquedissessea primeira estrofe para dar prosseguimento ao restante do conteúdo”. Uma extraordinária memória. Do festival folclórico de Laranjeiras, relembro fatos curiosos. Estávamos na praça assistindoaosfolguedosenosacompanhavamminhaesposaeminhafilhaMorgana.Aproximou- se de Mestre Aurélio um casal, e o homenzinho, meio feioso, de terno e camisa colorida,
  • 43. 44 José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros teceuelogiosaodicionarista.Dizia:“éomaiorescritordesteséculo,umdicionaristanunca igualado,mestredosmestres,bemmereciaparticipardeumaacademiamundial”.Sentique Aurélionãoestavagostando;desorridente,caiunomutismo.Eohomenzinhocontinuava... Talvez, a título de conclusão, saiu-se com essa: “Vossa Senhoria é um desses homens após cujaapariçãodescansa,talvezséculos,esgotadaanatureza”.Nessemomento,Aurélioabriu umsorriso:“poisbem,meuamigo,vocêdissetudoissodemim,euagradeço,maseutroco todos esses elogios por essa morena bonita que está acompanhando você. Vamos fazer a troca?”Rimosabandeirasdespregadas.Ohomenzinhodesapareceu. Comojáafirmei,assistíamos,napraçacentraldacidade,exibiçõesdemanifestações popularesfolclóricas.Morgana,minhafilha,comcincoanosdeidade,passavadomeubraço paraosdeRosa,natentativademelhoraproveitaroespetáculo.AurélioBuarquedeHolanda, ao nosso lado, sempre gentil e afável, pediu permissão para colocá-la no ombro, assim permanecendoatéofinaldoespetáculo.Todasasvezesquerelembramosessefatodizemos queMorganaestevebempróximadeumdoscérebrosprivilegiadosdoplaneta. Aos27anos,elejáparticipavadavidaculturalalagoana. CarlosHeitorConycontou, ementrevista,quepossuiumafotografia(de1930)emqueaparecemosseguintesescritores, reunidosemMaceió:AurélioBuarquedeHolanda,JorgedeLima,GracilianoRamos,José LinsdoRego,RacheldeQueiroz,GilbertoFreireeManuelBandeira.Éumsinaldequehavia umagrandeefervescênciaculturalemMaceió,nessadécada. Umadatasignificativamereceserrememorada.Em1961,foieleitoparaaAcademia Brasileira de Letras. Frisou em seu discurso de posse: “Sou escritor da província e minha maiorglóriaéentrarparaaAcademia”.OgovernodeAlagoasdoouofardãotradicionalda Academia. Parauns,eraoSherlockHolmesdaspalavras;paraoutros,opsicólogodaspalavras, umagaláxiadepalavras.“Tinhaaalmadaspalavras,avidadaspalavras,e,porisso,conseguiu traduzi-lasdeformauniversal”. DasmuitasdefiniçõessobreessapersonalidadedestacoaopiniãodopoetaLedoIvo: “AurélioBuarquedeHolandaamavaaspalavras.Amava-ascomoseelasfossemmulheres– emulheresnuas,queselevantavamdesuascamasimaginárias,vestiam-sedeluzesombra, caminhavamaoseuencontro,distanciavam-se,juntavam-seebailavam.Ecantavam.Avida inteiraeleescutouocantointerminável,vindodetodososlugares:dosgrandesdicionáriosde seusantecessores,dovastoarsenallinguísticoeliterárioqueconvertiaasuabibliotecanuma verdadeirailhadetesouros,especialmentedabocadopovo,omestresupremodalinguagem”. AurélioBuarque de Holanda jamais esqueceu sua terra e sua gente. Amava Alagoas, tinhamuitosamigosnoEstado.Suapermanênciaentrenóserasempreumafesta.Amavaa comidaregional.Aalagoanidadenuncaperdidafaziapartedeseugenomaexistencial.Jamais seráesquecidopeloscontemporâneosqueoconheceram,pelasobrasliteráriasqueproduziu, peloDicionárioquesetornoupropriedadedafamíliabrasileira. Aopassarparaadimensãoespiritualseudicionáriotornou-seocompanheirodetodos aquelesqueutilizamaescritaequepassaramatratá-locomamaiorintimidadeecarinho:traga o Aurélio, consulte o Aurélio, veja o Aurélio. Nossa homenagem recordativa. Imperecível. Mesmo, porque, acredito sempre, que o verdadeiro túmulo dos mortos é o coração dos vivos.
  • 44. 45 José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros VULVULVULVULVULTOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINATOS DA MEDICINA Lembraréreviver.Reverenciarosgrandesnomesqueenaltecemahistóriadamedicina éresgatarfatosefeitosdehomensemulheresquecontribuíramparaqueessaciênciaearte vencessemosumbraisdoempirismoealcançassemopatamardeumamplodesenvolvimento científico.Seahistóriaéaciênciadotempo,elaprojetanopresentefigurasquesedestacaram emsuasépocasesãoenobrecidasnopresentepormeiodegloriosasreminiscências. No passado, grassavam epidemias mortíferas. Na Europa, no século XVI, a varíola causava,anualmente,600milmortes;apestebubônicaalastrava-secomvirulência,destruindo apopulaçãodecidadesinteiras.Agripeespanhola,noséculoXX,fezumavítimailustre,o presidentedaRepúblicaRodriguesAlves,quenãopôdetomarposse,nosegundomandato, morrendonodia16dejaneirode1919,vítimadessaterrívelvirose.Gradualmente,ohomem conseguiudominá-lasemsuagrandemaioriaeelevaroslimitesdavidahumana,mercêde medidaspreventivas,denovasdrogasterapêuticasedosprogressosdatécnica. Milharesdeanosantesdaeracristãumestranhopostuladodominavaamedicinachinesa: “O coração é o rei; os pulmões, os ministros; o fígado, o general; a vesícula, a justiça”. Pode-se discordar desse aforismo; todavia, muito se deve aos cultores da medicina desse país,queéumadascivilizaçõesmaisantigasdomundo. Será impossível lembrar o nome e a contribuição de milhares de médicos, que, com suasdescobertas,abriramperspectivasàciênciamédica.Gostonãosediscute.Escolhi,com liberdade,algunsvultosdamedicina,que,paramim,sãomarcoshistóricosdaevoluçãoda ciênciamédica.RobertKoch,nascidonoséculoXIX,dedicou-seàpatologiaeàbacteriologia. Éconsideradoumdosprincipaisresponsáveispelaatualcompreensãodaepidemiologiadas doençastransmissíveis.Descobriuoagentedocarbúnculoeidentificouoagenteetiológico datuberculose(BacilodeKoch).Seusestudossobreatuberculoseforamtãocompletosque pouco se pôde acrescentar às suas descrições, a não ser no campo da terapêutica. AlexanderFleming,inglês,foiodescobridordapenicilina,obtidaapartirdeumfungo, oPenicilliumnotatum.Adescobertafoiocasional.“Oantibióticodespertouointeressedos investigadoresamericanos,queduranteaSegundaGuerraMundialtentavamimitaramedicina militar alemã que possuía as sulfamidas. Os cientistas Ernst Boris Chain e Howard Walter Florey descobriram um método de purificação da penicilina que permitiu sua síntese e distribuição comercial para o resto da população”. A penicilina salvou milhares de vidas duranteessaguerra. Edward Jenner foi o precursor das vacinas. Colhendo pus de uma ferida variólica bovina,inoculounobraçodeumadolescente;mesesdepois,repetiuaexperiência,inoculando material contaminante de varíola humana. A doença não aconteceu. Jenner concluiu ter descoberto a vacina. O aperfeiçoamento dessa descoberta foi o ponto de partida para o preparodetodasasvacinasatualmenteexistentes;umpassode“botade7léguas”naevolução daciênciamédica. NãosepodeesquecerosábiofrancêsPasteur,quenãoeramédico,esimbioquímico. Sua contribuição é incomensurável; soube entender os desafios científicos de seu tempo e dar-lhesrespostasadequadas.
  • 45. 46 José MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé MedeirosJosé Medeiros No Brasil, há nomes que não podem ser esquecidos: Oswaldo Cruz, Carlos Chagas, VitalBrasil,AdolphoLutz;e,maisrecentemente,CarlosdaSilvaLacaz,ClementinoFraga, AfrânioPeixotoeMiguelCouto,entretantosoutros. Na descoberta da Tripanossomíase americana e do agente causador dessa doença, destaca-se o nome do cientista Carlos Chagas, responsável por uma grande contribuição brasileira à medicina. O Trypanossoma cruzi, o agente etiológico, retirado de um inseto hematófagoquevivenasparedesdecasebresdepau-a-pique,éoresponsávelporessagrave enfermidade. Nãopoderiaencerraressebrevehistóricosemfazerreferênciaaoutronomededestaque nocampocientífico:VitalBrasil,imunologistaquealcançourenomeinternacional.Descobriu o soro ofídico e os soros específicos contra picadas de aranha e escorpião. Em trabalhos posteriores,contribuiuparaoaperfeiçoamentodossorosantitetânicoeantidiftérico.Criador doInstitutoButantã,doInstitutoVitalBrasil,elefezumlargotrabalhonocamposanitário. ArthurRamos,umnomequenãopodeseresquecido.Médico,psicólogo,psicanalista, professor universitário, antropólogo, etnólogo, filósofo, cientista, escritor de renome internacional. Deixou mais de 400 trabalhos científicos e 23 livros publicados, nos quais transbordasuaextraordináriacompetência. A vida grita, a luta continua. A realidade sanitária brasileira com núcleos de grande evolução e extremos carenciais que oprimem a população, bem merece a comparação de “belindia”,metadeBélgica(comamelhordasmedicinas)eoutrametadeÍndia(subdesenvolvida edeparcaevolução).Salva-nosaesperançadequeapesquisaeaciênciasejamvanguardade aplicaçãosocialparaapopulaçãoquemaisprecisadeapoio. Valelembrar:ahistóriadamedicinaconfunde-secomahistóriaevolutivadaprópria humanidade.
  • 46. 47 Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock Oftalmologista - São Paulo - SP ACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTOACONTECIMENTO Aconteceunolimbodamemória, ondeopassadoeopresenteseencontram, aondeosolbrilhanteseespreguiça nalinhadohorizonte. Aconteceunodiachuvosoenoensolarado, nasnoitesestreladasdaluanova, ounaclaridadedaluacheia. Aconteceunalinhadohorizonte. Aconteceusóumavez,masnãodeixoudeacontecer. Mudardeopiniãosobreoqueaconteceu eparaissonovamenteacontecer, umlargotempoestreladohádepassar. Deixaracontecereamarintensamente, mas não se esquecer, dequeerraquemfazacontecer etambémquemdeixadefazer. Acontece das pessoas esquecerem o que alguém disse, oquealguém fez, masnãoseesquecem como alguém fez como elas se sentissem. Aconteceu eacontecedeacontecer.
  • 47. 48 Josef TJosef TJosef TJosef TJosef Tockockockockock QUANDOQUANDOQUANDOQUANDOQUANDO Quandonocéujánãohouverestrelas. Quandonocoraçãojánãohouverpaixão. Quandonomarjánãohouverpeixes. Quandonaprimaveranãovirmosflores. Quandonajuventudenossentimosvelhos. Quandobrotaráguanodeserto. Quandoooceanosecar. Quandonoverãosófizerfrio. Quandolembrarmosasbelasquimeras. Quandoasfantasiassetransformarem. Quandonossentirmosdoamordescrentes. Quandoarealidadenosabater. Quandojánãomaisouvirmos. Quandojánãomaisvirmos Quandojánãomaissentirmos. Quandotudoseacabar. Tuaslágrimasencherãoosrios, teusorrisodesabrocharáasflores, teusolhosfarãobrilharasestrelas, teucorpoaqueceráaTerra. Só, só tua presença restará.
  • 48. 49 Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco Pediatra - Jundiaí - SP CALIPTRACALIPTRACALIPTRACALIPTRACALIPTRA Eladeveriaestaracostumadacomaquelarotinaqueanoapósanotornava-otãoprevisível etãodiferente.Calorosoemornonosdiasdesol,noinvernosearrebatavacommergulhos loucosnasuaintimidade,voracidadedequemnadatematemer.Inevitávelqueficassedespida deseuorgulho,àmercêdavontadeimperiosaeinquestionáveldeseuamantedelongadata. Sabia que progressivamente ele se tornaria gélido e distante, fazendo com que ela tremesse na base, arqueando-se à sua passagem, com todos seus vãos e meandros se envolvendonaquelarededeinsanidadequetiravadelaquasetudo,menosaconvicçãodeque aagoniapassariae,enfim,elaressurgiriacomelen’algumamanhãcolorida,cheiosdeternura e frescas promessas. Olhavaaoredorenãoseencontravasozinha,parecendo-lhequeasdemaisaceitavam aquela condição impossível de submissão, calando-se ante os caprichos dele e de suas determinações,feitoharémdeodaliscasentristecidas. Porquantasestaçõesresistiriaàquilosemqueoinexoráveltempoviessecobrardeles tantasmetamorfoses?Suavastacabeleira,aindaexuberante,perdiaseuesplendoracadadia, despindo-se de seda e perfume. O forte e vigoroso corpo detinha-se ressequido por intempestivasbrutalidades,imotoaosolo,aspacíficasraízesdesonhosmalnutridosemespera. Ah,erabemverdadequedetestavaaquelaorgiaqueotransformavaacadaestação! Volúvelepoderoso,cientedavirilidadequeexalavavidaesedução,tornava-amodesta einsignificanteemmeioatantasoutras...Elasofria,mascominternabeligerânciaealtivez, pois que havia lhe dado alegrias durante toda a vida, enfeitando o caminho por onde ele passou com acenos melancólicos na partida, exultando toda ornada de flores e aromas de jardinssilentesacadaretorno... Noentanto,nãoprogrediucomoele,quesemprealçououtrosvooseviunovaspaisagens, vivendoaventuras.Elaficouali,imóvelcomoaluaqueirradiavafrialuzsemjamaisconsentir intimidade.Eraassimtambémcomeles:elaorecebiaeodeixavapassar...Eleapossuíaese deixavapartir. Entre lembranças e saudade fazia planos, tentando convencer a si mesma de que na próximaestaçãotudoseriadiversoemsualongavidadeservidão.Resignada,reluzialunática para depois se apagar, vestindo-se e despindo-se, renovando e findando. Ele continuava senhor das cores da primavera, do mormaço do verão, da fria aragem de outono e dos cristaispendentesdoinverno,tudoseguindocomooprevisto. E outra vez ele passeou por entre os braços dela, alisando seu contorno, soprando e cantandocanções.Elaoaceitoucomdissimuladapassividadeeaudaciosainveja,querendo- lhealiberdade;mantendo-seimóvel,rendidaaochão,despediu-sesemapelos,acatandoseu destinoeoporvir,enquantolongeelejáestava,levandomechasdeseuscabelos... A natureza deixa que o vento recolha as folhas que vestem os galhos. Mostra que a árvoresempreaceitatalsacrifícioedeixaadorvibrarseusacordes,mentirqueépassageira, cingirotempocomaesperançadeumlongobeijosemnovoadeus!
  • 49. 50 PÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULOPÁSSAROS DO CREPÚSCULO Queanoiteédesilêncioatardeanuncia! Os pássaros esquecem os piados frementes. Quesabemdofuturosepalrampelodia Queaescuridãocarreganoventreinconsequente? A noite se apresenta qual fosse o fim da vida! Setodaescuridãoésempreassim,silente, Contigoeudeveriaestarquaseescondida Noabraçoaconchegada,mirandoosolpoente... Esperotuavoltaantesqueasavesdurmam Edeixemnalembrançaseuspiosearrulhos Praseaninharemjuntasnasebedoquintal! Nãotarda,meuquerido,esperoregressares. Vemmemostraravidaquetemosnospomares: Avidaquepalpitaalémdomatagal... Josyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de ArJosyanne Rita de Arruda Fruda Fruda Fruda Fruda Francorancorancorancoranco
  • 50. 51 Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira Médico Clínico - São Paulo - SP CACACACACASA AMARELSA AMARELSA AMARELSA AMARELSA AMARELAAAAA Alheio aos passos do gato do telhado Alheioaluaminguanteesparramadanovasodeplantas. EuralhocomDeus.Porquemefez? Alheioanoitesobreamesa.Alheioaosolnopratodeparede. Eucaioemmim. Alheioàsextadécadadaquiavintesemanas. AlheioanecessidadedeumCaptopriledoisAAS(s). Eu Solo I Mio. Nenhumdosmeuspassosmetrouxedevolta. Nemaretatorta,nemaveiasolta,nemalínguatrôpega. Nemapalavraamargadeixoudeseroqueera. Nemosperfumesretornaramnobicodospintassilgos,nemosfilhosforamsemelhantes. Ninguém desfez, e refez os nós, os sós, os cós, os calafrios e os catiripapos. Noentanto,pormuitotempo,aminhavidahabitouemmim. Comoumamúsicaqueeufinginãoouvir. Comoumaintrusaqueacheimelhornãonotar. Euumandarilho. Compoucosmetrosdetrilha,naimensidãodeumailha. Eumavontadeimensadenãoprosseguir. Escrevo. Todasasnoites,aquinestatelaestérilevaziadeumcomputador. Abrigo os meus monossílabos. Que nem sílabas são, nem papel ela é. Alheioamimeaofim.Desaparecerei. RestarãoquilosdeCaptopril,toneladasdeAAS. Paraseremconsumidasporoutroshipertensosansiosos. Poetassolitários,queouvirãopisadasdistantesdegatos. Apenasgatos,andandocabisbaixosnotelhado,deumavelhacasaamarela.
  • 51. 52 Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira QUQUQUQUQUARARARARARTO DEGRATO DEGRATO DEGRATO DEGRATO DEGRAUUUUU Depois que nos mudamos para aquela casa. Bastava cessar a chuva e eu ouvia o barulhodeZig.Zig.Zag. Ouviaporquatrovezes.Depoisparava.Eusaiadomeuquartomeiocommedodentro dosmeusseisanos.Iaatéacozinhaeolhandonadireçãodaescadaquelevavaaoandarde cima.Estavaláumaesferaluminosazigzigzagdeslizandocomruídonoquartodegrau.Eu dasprimeirasvezesfiqueiespantado.Depoisjámeaproximavadela.Eraesféricaetinhaum orifício no meio. Eu enxergava–a com dificuldade. Mas mesmo assim conseguia ver que haviaimagensnocentrodoorifício.Depoiselasumiaesumiacomelaobarulho. Nãoconteiparaninguém.Nemsatisfizacuriosidadedeolharnocentrodaesferaever oqueeramaquelasfigurasali.Quedavaparanotá-las,dava,masnãodavaparadistinguir.Mesmo eu dobrando os óculos de vovó, para por as duas lentes em um olho só. Mesmoassim.Eutinhamedodeaproximarmeurostodaesferaluminosa. MesesdepoismeupaiqueeraGerentedoBancoMoreiraGomesemMacapá. FoitransferidoparaFortaleza. Passaram-seanos.Euformadoemengenhariavoltoacidadeatrabalho.Comocresceu. Quasenãoareconheço. Hojeeuresolvoiràcasadeumacolegadeequipeparaumencontroejámeioatrasado tomoumtáxi. PodemelevaràruaJovinodeNoa,aalturado515?-Éprajá,responde,omotorista. Começamosarodar.Estouansioso.Parecequeestouapaixonado,elainteressou-me demais. Derepenteotáxientraporruasquemelevaramainfância.Lembrançasfelizes. Momentosinesquecíveisjuntocommeuspais,agorajáfalecidos. Peçoqueelediminuaavelocidade. –Olhaocolégioqueestudei.OlhaapraçadosEscoteiros.Quantaspipasempineiaqui. Omotoristasorriu. –Aquinestapraçaganheiestacicatriz.Apontei-asobreasobrancelhadireita. Derepentesurgiuoesqueletodeumacasajámeiodemolida.Eujámoreiai.Disse-lhe. Quevãoconstruir?Perguntei.Umtemplo,respondeu. –Pareumpouco.Voudescerummomento.Vouentrarumpouconestasruínas. Eleparounaesquina.Debaixodeumfocodeluzdailuminaçãopublica.Oquerestou dacasaestavadooutroladodaruaemtotalabandono. Nãosedemoredisse.Estelugarébastanteperigoso. Atravesseimeiocorrendo. A casa estava ali. Fora a ultima moradia comum a meus pais e meus avós, antes de irmosparaFortaleza. Apesardeestaremderrubadasalgumasparedes.Euaindaconheçovocê,disse.Conheço bemaindaseuscômodos.Aquieraasala.Bemalificavamosquartos,obanheiro,acozinha. Estavamuitoescuro.Aplacadaconstrutoradefrontedacasaquasetotalmentedemolida aumentavaaescuridãoeeraumaconstruçãoderesponsabilidadedenossaConstrutora.
  • 52. 53 Luiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge FerreiraLuiz Jorge Ferreira Quecoincidência.Penseicomigo. Parecequeotáxibuzinava,chamando-me. Olugarestáescorregadio.QuaselevoumtomboÉquechoveufininhohápouco. Daspoucascoisasaindadepéencontroàescadaaminhafrente,suspensanoar. Agoraelanãoseencontracomoandardecima.Vouaoquintal,nãohámaisaporta, vejoocajueirooutrorapequeno,agoraenorme. Derepenteouçoumzigzigzagquemeassustaumpouco.Retornoàcozinhapulando porsobremonturosdeparedesderrubadas. Está lá brilhando a esfera luminosa. Parece que me esperava. Olho seu movimento zigzagueandodeumdegrauparaooutroatépararnoquartodegrau. Agora a vejo melhor. Estou usando óculos. E com eles posso vê-la. É de uma luminosidadequasevermelha,brilhante,comumorifícionomeio.Enestemeioalgumacoisa comoquesemexe. Puloporcimadospedaçosdemadeiraspodres,espalhadospelochãoemeaproximo cada vez mais. Elanãofogedemimzigzigzagueiaemeespera. Agorameioapoiadonaprópriaescada,olhopeloorifíciodocentro. Háumafiguramasculina,possoperceberpelotraje.Andando,decostasparamim. Há um carro estacionado, é na direção do carro que ele caminha, posso vê-lo bem. Prestomaisatençãosemmepreocuparcomaproximidadedosmeusolhos,comoorifício daesferaluminosa.Chegaumnovovulto,éoutrohomem. Nãoconsigodistinguirbemasfeições.Oquechegouporúltimoestáarmado,metea mãonobolsodoprimeiro,retiraalgumacoisa.Brigamumpouco.Ohomemarmadoatira váriasvezes.Nãoacreditopareçosentiremmimostiros.Elecorre.Oqueestavaindoparao carro é atingido cai de costas. Não consigo ver seu rosto. Agora quase encosto os olhos no orifíciodebolaluminosa. Derepentesaioutrohomemdocarropelaportadomotoristaesedirigeaoqueestáno chãoToma-lheopulsoeparecegritar.Ooutrodeveestarmorto,pensei. Entãoviraocorpocaído.Meucoraçãosobressalta-se.Foiumassalto.Euvejoporfim o rosto nítido do morto no chão.Sua feição jovem, a meia barba, uma cicatriz sobre a sobrancelha direita, os óculos caídos no chão sob a luz mortiça do poste.Agora posso vê-lo nítido. Aesferaluminosacomeçaextinguir-se,nãoantesdosmeusgritos Ele. – Sou eu! Ele. – Sou eu! Ele – Sou eu.
  • 53. 54 Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho Médica Ocupacional - São Paulo - SP CONTRACONTRACONTRACONTRACONTRATENORTENORTENORTENORTENOR PPPPPrimeirrimeirrimeirrimeirrimeiro sinal.o sinal.o sinal.o sinal.o sinal. Teatro lotado. Os músicos da orquestra se posicionam no palco, afinandoosinstrumentos.Nocamarim,Henriqueaqueceavoz,ansiosoporsuaestreiacomo solista.Nemacreditaque,aosvinteecincoanos,irárealizarseusonho. Desdepequeno,destacara-senocorodaIgreja,alcançandotonsagudosqueninguém maisconseguia.Osfiéisdiziamqueatéosanjosparavamparaescutá-lo.Comotempo,oque se considerava divino passou a incomodá-lo. Veio a puberdade, e sua voz não engrossara. Aoconversar,seutimbresoavaagradável.Masquandocantava,porém,pareciaumamenina eissooenvergonhava. Henrique, então, começou a se esquivar das missas, a faltar aos ensaios, inventando mildesculpas.Temiaqueosamigoscaçoassemdele.Tinhamedoquepensassemqueeleera “bicha”.Piorainda,receavaque,sedesenvolvesseavozfeminina,eleprópriosetornariagay. Tentouesquecerapaixãopelamúsica.Mas,semela,atémesmooentusiasmonosjogosde futeboleraefêmero. Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal.Segundo sinal. Bebe meio copo de água mineral. Termina a leve maquiagem que a importância do evento exige. Um blush acobreado realça o charme másculo das maçãs de seurosto.Umglosspêssegoumedeceoslábioscarnudos,deixando-osmaissensuais.Henrique respirafundo.Gostadaimagemquevênoespelho. Ojovemtenorsaidocamarimepercorreocorredordoteatro.Lembra-sedospasseios com o avô que viera morar em sua casa após ficar viúvo. Sem muito equilíbrio, ele evitava andarsozinho.EHenriqueoacompanhava,depoisdasaulas,pelasruastranquilasdaLapa. Conversas inesquecíveis, histórias da época em que era bombeiro. Mais que um avô, ele se tornaraumgrandeamigoeoincentivavaacontinuarcomamúsica. – Medo? Medo de quê? De ser diferente? Pois é justamente com essa diferença que você vai poder se destacar, rapaz... As dúvidas sobre sua sexualidade não mais existiam. Os desejos pelas garotas, a descobertadoamorporMariaRita... Queimportânciateriaoqueosoutrospensassemdele? EHenriqueretornouaocanto.Decidiuaperfeiçoarseutalento. Umaoutraquestão,porém,começouainquietá-lo: Como custear os estudos se sua família era tão pobre? TTTTTerererererceirceirceirceirceiro sinal.o sinal.o sinal.o sinal.o sinal. Chegaograndemomento.SomentequatropassosafastamHenrique dopalco.Elesentemolezanaspernas.Asmãosestãofrias.Omaestro,queiráentrarprimeiro, deseja-lheboasorte. Eisso,realmente,Henriquesempreteve.
  • 54. 55 Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho Sorte por ter uma família que se sacrificou para ajudá-lo. Horas e mais horas de um trabalhoextenuantequesóporumfirmeobjetivofoipossívelsuportar. Sorteporconseguirumabolsadeestudos. Sorteaovencerumconcursonacional. –.Sorteetalento,diziasuamãe. –...edeterminação,completavaoavô. Ah!ComoHenriquequeriaqueseuavôestivessecomelenessemomento.Acostumara- secomseuapoioeincentivo.Mas,nasemanaanterior,elesofrerauminfartoeprecisouser internado.Umapenanãopodercompartilharavitória... Odevaneioseinterrompequandooapresentadoranunciaomaestroe,emseguida,o seunome. Um orgulho preenche seu coração que bate cada vez mais forte. Henrique entra no palco e olha para a plateia. Sabe que pessoas queridas estão presentes em meio a tantos rostosdesconhecidos.Eelecantaráparatodos,comomuitasvezessonhara. Na primeira fila, reservada para a família, vê sua mãe, sua noiva e suas duas irmãs. Tentaencontraroavô.Quemsabeelenãosairiadohospitalparalhefazerumasurpresa? Mas, não... O lugar está vazio... Comosprimeirosacordesdaorquestra,Henriquemergulhanummundomágico.Nada maislheimporta,anãoseramúsica.Suavozmelodiosainebria.Aafinaçãoéperfeita.Todos semaravilhamcomseutimbrepeculiar,suainterpretaçãoesensibilidade. Aoentoaraúltimanota,aplateiaprendearespiração. Porumsegundo,osilêncio...Depois,aplausos...muitosaplausos... Henrique abre um sorriso e, emocionado, contempla o magnífico teatro. Não quer perder nenhum detalhe. As pessoas de pé, os camarotes suntuosos, o brilho das luzes... Pensanoavô,comgratidão.Sentesuapresençaeatéocheirodesuacolôniaparecequese impregnanoar. Num hospital público, o paciente do leito 603 aplaude com entusiasmo. Lágrimas escorrempelorosto.Osdoentesdomesmoquartoacordamassustadosecomeçamabalbuciar. Aenfermeiradeplantãologochega.Esorri,comosesoubesseoqueestáacontecendo. Aosaplausos,unem-seoutrossonsdavidacotidiana.Masnadasecomparaaoafetuoso cantodeumsonhadorqueaquelevelhocoração,nailusóriadistância,conseguiuescutar.
  • 55. 56 Márcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli CoelhoMárcia Etelli Coelho QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ?QUEM SOU EU, AFINAL ? Eusoualegria,poesiaerima, olivroqueensina,caminhofeliz. Eusouaconquistadatrilhaperdida, divinarainhadeumsimplessorrir. Eusouaternuradomundoinseguro, sourumodaplumaembuscadaluz. Eusouatorturadamudacensura queocultaaloucura,sepulcrodacruz. Eu sou a verdade que marca o passado. Soualiberdadedapátriaempaz. Eusousuaamada,souaveencantada, voandocomgraça,suavealcatraz. Eusouumaceganaselvadepedra quesemprerenegaosalertasdocéu. Eusouprimaveradefériasetrégua, eusouasideiasnumdébilpapel. Eusouapartilhaespontâneadoprêmio, Eusouopecadopedindoperdão. Eusouapoeiradoseudesempenho. No passo apressado, sou só solidão. Eusouosecretotormentodatarde, instantetãotristedemuitostalvez. Eusouoretornodanoiteestrelada. Soufolhasnooutonoemtotaltimidez. Eusouoamanhãquenocantodescansa eporumencantorenovaaestação. Eusouaganância,finalderomance, afalsaaliançalançadanochão. Eu sou o suspiro no alívio da crise, abrigodeamigo,soulivrenosim. Eusousinfonia,sorrisodeumdia, sou vida, sou filha, reinício e... fim.