O documento discute a liderança a partir da perspectiva de Oscar Motomura e de lições aprendidas com grandes líderes empresariais brasileiros. Motomura argumenta que todos temos o potencial para ser líderes e que a liderança é uma decisão de agir para resolver problemas crônicos da nação. As lições dos empresários incluem investir em pessoas, criar uma cultura meritocrática e manter foco em criar algo grande ao invés de apenas administrar dinheiro.
Claudio de Moura Castro - As Causas da Riqueza das Nações
Aula Magna UVV Business School
1. Vila Velha, 15 de maio de 2014
Roteiro de orientação à palestra na UVV BUSINESS SCHOOL
Local: Shopping Boulevard, Vila Velha.
Tema: Liderança
- Cumprimentos e agradecimentos à UVV.
- Prezadas e prezados, estou aqui a partir de um convite para lhes falar sobre liderança. Assim,
vou compartilhar um pouco do que pude concluir de minha experiência como gestor e
também de minhas leituras e reflexões sobre o tema.
- Gostaria de começar apresentando o pensamento do consultor em gestão Oscar Motomura o
tema, elaborado a partir da análise dos desafios nacionais.
- Em seu artigo “A Liderança Necessária”, ele pergunta: “onde estão os líderes capazes de
operar as mudanças de que tanto precisamos numa realidade paradoxal como a brasileira, que
produz um dos maiores PIBs do mundo e mantém um sofrível índice de desenvolvimento
humano?”.
- E também questiona: quais são as nossas necessidades mais evidentes para operar a
mudança?
- Precisamos, lista Motomura, de ética e confiança, precondição para a otimização da
economia; educação de qualidade para todos; saúde e bem-estar; paz e não violência;
“trabalhos significativos” que deem vazão à criatividade individual e contribuam para o bem
comum; e crescimento.
- Motomura também fala de necessidades mais “sutis”, como: “participação” (envolvimento
comunitário); “interconexão e senso de comunicação” (afeto, amor e amizade); “evolução do
nível de consciência” do “jogo da vida”, seus condicionantes e inserção efetiva nele;
“realização da essência” (bem-estar para além do “ter”, com o cultivo de valores como
generosidade, solidariedade e compaixão); e necessidade de deixar um legado, por mais
simples que sua obra seja.
- Mas Motomura chega ao foco de nosso encontro e da sua reflexão e pergunta: “onde estão
os líderes aptos a responder nossas demandas, evidentes e sutis, na construção de um novo
paradigma de vida?”.
- Para o autor, não nos faltam líderes. O que falta são líderes decididos a transformar o nosso
cotidiano.
- Segundo ele, “liderança é decisão, um ato de vontade”. E ele vai além: de acordo com sua
concepção, somos todos potencialmente líderes e o mais importante é tomar a decisão de
usar esse potencial e também decidir a qual propósito vamos nos dedicar.
- O autor convoca todos a se tornarem líderes, decidindo e agindo em favor da solução dos
problemas crônicos de nossa nação. Por fim, defende, perguntando: “Embora incomum, essa
ideia de liderança coletiva não estaria mais em sintonia com o verdadeiro conceito de
democracia?”.
2. - Essa é uma questão totalmente pertinente, porque temos muitos problemas a resolver;
estamos em pleno processo de debate acerca dos fundamentos político-representativos em
sociedades mundo afora, inclusive na nossa; e ainda porque, se temos o potencial da
liderança, inclusive de nossas próprias vidas, por que não agir? O que não falta são problemas
crônicos a superar.
- A partir dessa visão mais ampliada de liderança, ou seja, de que todos podemos nos qualificar
a ser um líder, de que a liderança não é um dom divino, mas uma decisão e um empenho,
acrescento as minhas observações pessoais.
- O que é ser um líder? O treinamento da vida me ensinou que liderança é, entre outros, a arte
de mobilizar e motivar boas companhias para enfrentar tarefas desafiantes.
- Aprendi desde cedo a não acreditar em voluntarismo. Não se enfrenta sozinho um desafio.
Ou seja, a liderança é também a arte de montar equipes.
- E nesse processo é fundamental saber avaliar vocações, entender forças e fraquezas de cada
um, definir projetos e ações, descentralizar e delegar tarefas, e avaliar os passos para qualificar
a caminhada.
- A arte de liderar é também a estratégia de cercar-se de colaboradores que saibam mais da
sua área de especialização do que o líder, que deve possuir outros atributos, como ter a noção
de conjunto, capacidade de motivar e de identificar e potencializar talentos. O profissionalismo
é um requisito básico.
- Tenho agido assim ao longo de minha vida pessoal e profissional. Tenho me cercado de
pessoas que complementam e fortalecem minha atuação. Por melhor que seja a formação
profissional e intelectual, por maior que seja a experiência administrativa, é um mau caminho
se achar supercapaz.
- Nenhum líder deve temer a sombra alheia ou se achar o único habilitado a resolver tudo. A
ideia de liderança se fundamenta exatamente na conjugação de forças e competências sob a
condução de quem tem visão de conjunto e clareza de objetivos a serem alcançados.
- Ou seja, a minha trajetória me ensinou que é preciso construir times de excelência,
conjugando talentos e aptidões. Conhecer os colaboradores e, a partir da compreensão de que
todos nós temos habilidades e limitações, fazer um mapeamento de vocações.
- Cada um deve ocupar o lugar em que mais pode contribuir. É estar no lugar certo para fazer a
coisa certa, num jogo de soma e articulação em que ganha todo o conjunto.
- A liderança também deve ser capaz de viabilizar um clima de harmonia e produção de
soluções em momentos de crise, desgastes ou equívocos.
- Distante da prática de eleger bodes expiatórios ou culpados, os líderes precisam oferecer
ambiente de segurança e confiabilidade para que seus liderados tenham chance de acertar e
também errar, entendendo que esse é o mecanismo da vida. Parece lugar-comum, mas só não
erra quem não faz, quem vive se omitindo.
3. - Equipes sólidas são equipes que convivem com altos e baixos sem se desintegrarem diante
do primeiro problema ou se destruírem numa competitividade irracional entre colegas de
projeto.
- Para finalizar, apresento as lições tiradas das atividades de grandes líderes empresariais
brasileiros. São 10 principais lições constantes do livro Sonho Grande, feitas pelo professor Jim
Collins acerca da trajetória de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira, donos da AB
Inbev, a maior cervejaria do mundo, da Burger King e da Heinz.
- Eis os segredos do dia a dia desses líderes:
1) “Invista sempre – e acima de tudo – nas pessoas”. “Sua filosofia: melhor dar chances às
pessoas talentosas (ainda que novatas) e sofrer algumas decepções no caminho do que não
acreditar nelas”.
2) “Sustente o impulso com um grande sonho”. “Gente boa precisa ter coisas grandes para
fazer, senão leva sua energia para outro lugar”.
3) “Crie uma cultura meritocrática”, que “valoriza o desempenho, não o status; a realização,
não a idade; a contribuição, não o cargo; o talento, não as credenciais”.
4) “Você pode exportar uma ótima cultura para setores e geografias amplamente
divergentes”, entendendo que a “cultura não é um apoio à estratégia; a cultura é a estratégia”.
5) “Concentre-se em criar algo grande, não em administrar dinheiro”. “Administrar dinheiro,
por si, nunca cria algo grande e duradouro, mas desenvolver algo grande pode levar a
resultados substanciais”.
6) “A simplicidade tem magia e genialidade”. “Em quase todas as dimensões, os três buscam
ser simples”, principalmente na estratégia de negócios: “tenha gente boa, dê a esse pessoal
grandes coisas para fazer e sustente uma cultura meritocrática”.
7) “É bom ser fanático”. “Não há atalhos para resultados excepcionais”. “Existe apenas um
esforço intenso, de longo prazo e sustentado. E o único meio de constituir esse tipo de
empresa é ser fanático”.
8) “Disciplina e calma (não velocidade) são a chave do sucesso em momentos difíceis”.
“Sempre observei nos três ‘um espírito de avaliação cuidadosa de opções seguida de decisões
calculadas’”. Nada de pânico.
9) “Um conselho de administração forte e disciplinado pode ser um ativo estratégico
poderoso”.
10) “Busque conselheiros e professores, e conecte-os entre si”, “estimulando o potencial
aprendizado de todos”.
- Com as devidas adaptações, essas lições podem ser aplicadas tanto no ambiente público
quanto no privado, sabendo-se que em qualquer desses caminhos é imprescindível a devoção
absoluta de cada um de nós a fazer o melhor que pudermos sempre, a partir da dedicação, do
4. compromisso consigo mesmo e com o outro e do aprendizado contínuo. E, claro, tendo um
“Sonho Grande”.
- Afinal, como escreveu Saint-Exupéry, “o futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas
um lugar que estamos criando”.
- Muito obrigado!