1. A ARQUITETURA DA SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
Por laércio Bruno Filho
O artigo a seguir tem como objetivo servir como um argumento adicional à reflexão
sobre a questão da Sustentabilidade Empresarial e suas interfaces.
Arquitetura: termo que vem do grego arché — αρχή — significando "primeiro" ou
"principal" e tékton — τέχνη — significando "construção" e refere-se à arte ou a
técnica de projetar e edificar o ambiente habitado pelo ser humano. Fonte :wikpédia.
Sustentabilidade: Segundo o Relatório de Brundtland (1987), sustentabilidade é:
"suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações
futuras de suprir as suas".Colocando de forma mais direta: a sustentabilidade é
prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um
futuro indefinido.
A Arquitetura da Sustentabilidade corresponde à arte de projetar e edificar o
ambiente habitado pelo ser humano em comunhão com as 4 dimensões que
constituem o Desenvolvimento Sustentável. O resultado desta ação deve criar um
ambiente que seja:
1- ecologicamente correto;
2- economicamente viável;
3- socialmente justo; e
4- culturalmente aceito.
Em consonância com estas dimensões o artigo discorrerá sobre como estruturar e
implementar no âmbito empresarial uma política corporativa de sustentabilidade.
As empresas que objetivam estabelecer o seu posicionamento estratégico através
da incorporação dos valores e princípios sustentáveis,devem transmitir de forma
efetiva ao seu publico de que esta atitude não se trata apenas de uma ação
pontual, mas sim, de uma política corporativa de sustentabilidade a ser
implementada em médio e longo prazo com iniciativas mensuráveis e com metas
bem definidas.
Diante deste pressuposto, uma política corporativa de sustentabilidade que seja
abrangente e integradora deve ser concebida de acordo com o seguinte modelo:
2. O passo inicial será o entendimento e avaliação da cultura empresarial existente,
sendo examinados missão e valores,observando-se o grau de atenção direcionado
aos temas socioambientais. A seguir, a análise do Plano de Negócios (BP) buscando
o entendimento em como serão realizadas as metas de sucesso estabelecidas em
médio e longo prazo e as correlações pragmáticas com as dimensões do triple
botton line (triplo resultado). O Balanço Anual de resultados será avaliado e
entendido onde e como são alocados os passivos e os ativos socioambientais. Por
fim os relatórios gerenciais e operacionais, referentes aos processos produtivos,
verificando-se a regularidade e o conteúdo reportado, com indicações de correção
de desvios.
A existência de reportes periódicos referentes às iniciativas pode indicar um parte
de caminho já percorrido dentro da empresa, facilitando a concepção e
implementação de uma política corporativa de sustentabilidade. Estas iniciativas
correspondem aos projetos mais operacionais, diretamente ligados aos processos.
A política deve ser concebida em acordo com as dimensões ambiental, social e
econômica (TBL), sendo a questão cultural inserida dentro da dimensão social.
As metas para o sucesso da implementação da política na empresa devem ser
projetadas respeitando-se o grau de flexibilidade para mudanças (monitorado por
indicadores específicos) e sua capacidade para absorção e amadurecimento da
nova cultura, agora com o viés da sustentabilidade.
Alguns resultados concretos podem ser monitorados e avaliados em curto prazo, ao
fim dos primeiros dois anos. O restante deverá ser identificado e avaliado em médio
e longo prazos, a partir do terceiro ano em diante.
Os resultados serão contínuos dado que a característica original da sustentabilidade
é seu dinamismo. Será um ciclo virtuoso que periodicamente retornará ao inicio
para rever objetivos e metas.
3. As dimensões do triple botton line são concomitantes e uma diversidade de
iniciativas transversais coexistirá de forma simultânea. A seguir comentamos
algumas delas:
- Gestão Energética: ações de reavaliação estratégica e redesenho de processos
cujo resultado pode indicar adoção de iniciativas para otimização do uso da energia.
Uso intensivo de energia significa investimento de recursos. Portanto, usar de
forma racional é primordialmente importante para a empresa e para o planeta.
- Gestão de Resíduos: adoção de iniciativas que apresentam as melhores práticas
no trato dos resíduos gerados antes, durante e após os processos. Coleta,
transporte e armazenamento final adequados reduzem o custo da operação, além
de contribuir para a preservação dos recursos naturais.
- Gestão dos Recursos Hídricos: água é um recurso finito e caro. Algumas ações
podem reduzir seu uso e custo. Por exemplo, a implantação de ETEs (estação de
tratamento de esgotos); a captação e uso de águas pluviais, a contratação de água
para reuso; a adoção de equipamentos mais eficientes e a implantação de métodos
que apontem sua produtividade (input X output). Estudos recentes de Analise de
Ciclo de Vida (LCA) apontam que a água é utilizada muito mais do que se imagina e
contabilizado de forma inadequada no computo geral do custo dos produtos.
- Gestão das Emissões dos GEE1: regularmente a primeira ação tomada é a
realização de um inventário de emissões para identificar o quanto e onde a
empresa está emitindo. Depois parte-se para a gestão e se possível, a redução das
emissões de GEE.
Estas reduções acontecem via revisão ou aprimoramento de processos produtivos.
São monitorados por metodologias especificas aprovadas pela ONU (UNFCCC),
sendo os mais conhecidos, os projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
(MDL) que podem gerar ativos ambientais (créditos de carbono) com alto valor
agregado e grande liquidez no mercado.
-Gestão de Stakehoders: a agenda social da sustentabilidade.
Podem ser considerados “atores participantes” (stakeholders) ao entorno do
projeto: comunidades, associações de bairro, grupos jurídicos, promotoria pública,
associações religiosas, escolas e universidades, colaboradores da empresa,
acionistas (stockholders), consumidores, fornecedores, entre outros.
Diversas iniciativas podem ser concebidas e implementadas.
Para o Público Interno;criação e adoção de políticas de remuneração e
reconhecimento, planos de carreira, assistência para saúde, suporte para
especializaçã0 profissional.
Para o Publico Externo; criação de estratégias e ações para a disseminação dos
conceitos e das boas práticas da Sustentabilidade. Por exemplo, capacitando
comunidades de entorno, fornecedores ou consumidores em como lidar com temas
como consumo consciente, preservação e utilização dos recursos naturais, impactos
ambientais, descarte adequado de resíduos e valores de cidadania.
- Governança Corporativa: incorporação de ações efetivas de transparência
empresarial para o publico. Na prática significa adoção de indicadores que buscam
apresentar de forma direta, transparente e acessível a performance empresarial.
Alguns índices como o ISE-Indice de Sustentabilidade Empresarial, e o DJSI-Down
Jones Sustainability Index agregam empresas que atendem aos pré-requisitos de
1
gases que provocam o efeito estufa resultando no Aquecimento Global do planeta
4. sustentabilidade exigidos, contribuindo para criar valor real para as empresas.
- Green IT: iniciativas que acontecem a partir do ambiente de IT e são voltadas
para redução do consumo de materiais e recursos naturais.
A reavaliação e redesenho de processos assim como o incremento do nível de
utilização de alguns equipamentos, como por exemplo, Servidores. São medidas
que quando adotadas e alinhadas com a estratégia global da empresa podem
resultar em reduções significativas do custo operacional ou da necessidade de
recursos para investimento futuros.
- Plano de Comunicação com o Mercado: é o instrumento de interação e
informação entre empresa e stakeholders.
Apresenta de forma estruturada, todas as iniciativas planejadas e em andamento
assim como os benefícios econômicos e socioambientais obtidos.
Comunica o posicionamento formal da empresa podendo ter a forma de um
Relatório de Sustentabilidade, divulgado em períodos específicos e mostrando a
regularidade e continuidade da Politica de Sustentabilidade.
O plano de comunicação contribui diretamente para que o Mercado possa perceber
o valor criado e incentivar a empresa à continuidade das suas ações.
Por fim, o sucesso efetivo na adoção de uma política de sustentabilidade, deve
construir valor real para o produto, empresa,individuo e comunidades.
A grande recompensa para a empresa será a preferência dada pelo Mercado. No
momento de decisão de compra será escolhido o produto que apresenta a menor
“pegada socioambiental” em seu rótulo. Isto rentabilizará a empresa e contribuirá
para a sua continuidade e perenidade.
O beneficio maior será a contribuição efetiva para a preservação do
planeta e da qualidade de vida para as futuras gerações.