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Ano 2 nº 09                                                        .MÚSICA .FILME .HQ .SHOW                                             João Pessoa, julho 2012
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                                                         MIKE DEODATO - Daqui para o Mundo
                        Quem é o paraibano mais conhecido no mundo?Assis Chateaubriand? Augusto dos Anjos? Herbert Vianna? Sivuca? Genival Lacerda? Bem,
                        isso eu não sei, mas uma coisa é certa: se você perguntar quem é Deodato Taumaturgo Borges Filho, talvez, de cara, ninguém saiba, mas,
                        se perguntarem, ao norte do Canadá, no sudoeste da Indonésia e também em São José de Mipibu, quem é Mike Deodato, aí, meu velho,
                        o panorama muda. Mike Deodato é, com certeza, o paraibano mais conhecido no mundo nesse século, desenhista contratado da Marvel,
                        empresa pela qual já passou grandes lendas das HQs, ele tem status de rock star. Com seu traço e sua simplicidade, colocou seu nome
                        na história dos HQs. Confira agora a entrevista com esse paraibano ilustre. Detalhe: ele não se encontra na lista de paraibanos ilustres.
    Foto: Victorama




                        Você desenha ouvindo música? Que tipo de música             banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa. Homenagem?            a pressão de um editor influencia no produto final?
                        você gosta de ouvir enquanto desenha?                       O Thedy, atualmente, escreve roteiros para HQs.          Nunca tive problemas com prazos. Sou bem profissional
                        Desenho ouvindo música, sim. Não tem que ser neces-         Vocês já se conheciam ou mantiveram contato, não         e conhecido por minha pontualidade. Tenho controle
                        sariamente algo ligado ao tema da história. Música me       só devido ao gosto pela música, mas pelos quadrinhos     total sobre minha arte, faço minha própria arte-final
                        faz sentir bem, e isso passa ao meu desenho. Gosto de ou-   também?                                                  e só trabalho com o mesmo colorista – escolhido por
                        vir muita coisa diferente:Queen, ELO, Beatles, Monkees,     Conheci ele através do Twitter. Ficamos amigos de ime-   mim – há mais de dez anos. É puxado, sim, mas estou
                        Dylan, Legião, 14 Bis, New Pornographers, Beirut, etc.      diato e trocamos gibis e CDs pelo correio. Ele gosta     acostumado com pressão por ter trabalhado em jornais e
                        Aqui você encontra uma boa amostra do que ouço, é a         muito de quadrinhos e, quando tive a oportunidade, fiz   agências de publicidade.
                        minha estação no Blip FM: http://blip.fm/mikedeodatojr      a homenagem. Adoro sua música. Marcou bem os meus
                                                                                    anos 80.                                                 Você já entregou algum material sabendo que pode-
                        Quando e como você começou a ouvir rock e música                                                                     ria ter realizado melhor, se tivesse um prazo maior?
                        pop? De que forma a música passou a ter alguma in-          Em 89, você publicou, na revista Aventura e Ficção,      Você tem a liberdade de pedir alguns dias a mais
                        fluência no seu trabalho como desenhista?                   uma história intitulada Verso e Reverso, com o seu       quando acha necessário para finalizar um trabalho?
                        Desde minha adolescência. Comecei com Monkees,              pai (Deodato Borges) como roteirista. Você pretende      Nos anos 90, por falta de experiência, já fiz isso, sim.
                        depois passei pra Beatles, Kiss e Queen, minha grande       voltar a abordar o mesmo assunto (cangaço) e tra-        Hoje em dia, só pego trabalhos com prazos que não
                        paixão. A influência seria só em meu estado de espírito.    balhar novamente com ele?                                comprometam a qualidade.
                        Música me faz um bem danado, e eu desenho melhor            Pretendo, um dia. No momento, estou exclusivo da Mar-
                        quando estou bem.                                           vel. Cangaço é um tema interessantíssimo e ainda quero   Recentemente, Alan Moore criticou a DC por
                                                                                    fazer algo grande com ele.                               publicar Before Watchmen. Você acha que obras
                        Você fez a capa do disco da banda Sociedade Anôn-                                                                    como Watchmen e o Cavaleiro das Trevas não deve-
                        ima (conhecida aqui na Paraíba na década de 80) e,                                                                   riam ser revisitadas, ou a indústria de quadrinhos,
                        recentemente, a capa do Seu Pereira e Coletivo 401.         De que você mais gostava quando tinha o Deodato          assim como o cinema, encontrou um ótimo nicho?
                        Você já fez trabalhos para outras bandas?                   Studios?                                                 Qual a sua opinião?
                        Foram os dois únicos até hoje. Ah, fiz também uma capa      Nada. Foi uma ideia ruim desde o nascimento. Feita so-
                        pro Kruger. Queria ter feito mais, mas meu tempo é es-      mente pra produzir mais e se ganhar mais dinheiro.       Eles têm o direito de fazê-lo, já que as histórias lhes per-
                        casso.                                                                                                               tencem. Alan Moore deveria ser o último a reclamar, já
                                                                                    Muitas vezes, o mercado norte americano é criticado      que duas de suas criações mais marcantes, Watchmen e
                        Em uma edição dos Novos Vingadores, há um desen-            pela produção em massa, fazendo do desenhista uma        Miracleman, são revisitações de outras obras, como os
                        ho seu que tem uma semelhança com o vocalista da            espécie de operário de uma montadora. Até que ponto      heróis da Charlton e Capitão Marvel, respectivamente.
2                                                                                                                                                   MICROFONIA
Você respondeu a Julinda Morrow, no site Sequen-                                                                     Como você vê a nova geração de quadrinistas/desen-
tial Highway, que o que o inspira de forma criativa é                                                                histas locais?
um “roteiro bem escrito para os personagens que eu                                                                   Muito talento e muita garra. A internet aproximando
amo!”. Quais são as adaptações para o cinema que                                                                     todo mundo. O quadrinho brasileiro tá em muito boas
você mais gosta?                                                                                                     mãos.
300, Avengers, Spider-Man 2 e Sin City.
                                                                                                                     No primeiro filme do Homem-Aranha (trilogia de
Qual personagem merece ganhar uma adaptação                                                                          Sam Raimi), aparece um desenho seu da person-
para o cinema? Quem você imagina ser suficiente-                                                                     agem Electra no quarto do Peter Parker. O que você
mente competente para realizar isso?                                                                                 achou?
Eu acho que, depois de Avengers, Joss Whedon deveria                                                                 Só pra lhe dar uma ideia, eu tirei um cópia da imagem
ser obrigado a dirigir só filme de super-heróis, para sem-                                                           e mandei pra todo mundo em minha lista de e-mails.
pre. Acho que Ka-zar daria um filme sensacional.                                                                     Adorei.


                                                             Sabendo que você é fã do selo Vertigo, com quais per-
                                                             sonagens e autores você gostaria de trabalhar?
                                                             Death, Fables, Sandman, Hellblazer, Swamp-Thing.
                                                             Azzarello, Gaiman, Moore, Miller.

                                                             Tem outro selo que você admira?
                                                             Gosto muito do material da Dark-Horse.

                                                             Como é participar dessas convenções internacionais
                                                             e, de repente, ser cumprimentado por pessoas como
                                                             Stan Lee e Neal Adams pelo reconhecimento do seu
                                                             trabalho?
                                                             Surreal. Tenho 49 anos, mas, quando chego perto de
                                                             gênios da estatura dos dois, me sinto como um ga-
                                                             rotinho. Não importa o tempo que passe, vou sempre me
                                                             sentir mais um fã do que um veterano da área.

                                                             Em alguma viagem, aqui no Brasil ou no exterior,
                                                             você chegou a ir a algum show de alguma banda de
                                                             que você gosta muito?
                                                             Gosto mais de shows intimistas, sem muita multidão.             Atrás da Porta Verde
                                                             Assistir 14 Bis é minha melhor lembrança de um show.
                                                             EDITORIAL
                                                             Parafraseando Millôr Fernandes: “Prefiro a noto-
                                                             riedade do que a popularidade”. Já David Bowie
                                                             perguntava: “Fama, qual o seu nome?” O nosso
                                                             entrevistado dessa edição, Mike Deodato, é mui-
                                                             to conhecido pelo que faz e pode ir à padaria da
                                                             esquina sem ser assediado. Todos querem re-
                                                             conhecimento pelo trabalho bem realizado. O fan-
                                                             zine Fodido e Xerocado ganhou uma edição bem
                                                             caprichada com fotos da cena punk desse século.         Fazer versão erótica de filmes de sucesso virou até uma
                                                             Memórias não Póstumas de um Punk quer o re-             moda. O problema é quando o filme em questão é uma
                                                             conhecimento em vida de um cenário musical-             fraude, como A Bruxa de Blair. Já a Devassa de Blair até
                                                             mente importante que se tornou uma história pou-        que tentou colocar algum sentido na história... Quando
                                                             co contada. Conan, finalmente, tem um volume
                                                                                                                     três estudantes de jornalismo decidem pesquisar uma
                                                             digno da fama do herói em nossas terras. E mais
                                                                                                                     lenda e viajam até a cidade de Blair, lá elas escutam
                                                             três colaboradores se juntaram a nós nessa
                                                             edição: Fred (Não Conformismo), Carlos Eduardo          histórias de um morador chamado Roge Lemos, que, por
                                                             e Joelson Nascimento. John Lennon mostrou que           sinal, é o diretor e que também atuou no filme. Então,
                                                             sentiu na pele quando externou que “ninguém o           ele começa a relatar o encontro que teve com a devassa,
                                                             ama quando você está por fora e deprimido/To-           interpretada por Mayara Rodrigues, uma das melhores
                                                             dos o amam quando você está a sete palmos”. E           atrizes do cinema pornô nacional. Morena de corpo
                                                             os quinze minutos de fama viraram segundos..            perfeito, Mayara consegue conduzir a cena com muita
                                                             EXPEDIENTE                                              sedução. No decorrer do filme, as estudantes, interpreta-
                                                             Editores Responsáveis:                                  das por Ingrid Miranda, Denise Braga e Michelle But,
                                                             Adriano Stevenson                                       são seduzidas pelos capangas da Devassa de Blair, e as
                                                             Olga Costa(DRT – 60/85)
                                                                                                                     meninas são forçadas, no bom sentido, a fazer barba,
                                                             Colaboradores:Josival Fonseca/Beto L./                  cabelo e bigode! Lembrando que Mayara Rodrigues
                                                             Erivan Silva/Leví Kíssinger/Fred-Não Confor             já ganhou o título de maior performance anal. Use
                                                             mismo/Carlos Eduardo/Joelson Nascimento                 camisinha e até a próxima! B.L.
                                                             Editoração:Olga Costa

                                                             Ilustração:Josival Fonseca

                                                             Revisão: Juliene Paiva Osias

                                                             Agradecimentos:Januncio Neto (Studio
                                                             Made in PB)

                                                             Contato/Anúncios:(83)3512 2330

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                                                             editores.
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                                                                               Zumbilandia
                                                                                 Legião do Mal (Yannick Dahan/Benjamin Rocher, FRA- 2010) Norte da França, policiais vão
                                                                                 vingar colega assassinado por traficantes nigerianos. Até aí, parece um filme do Steven Seagal,
                                                                                 só que o caldo entorna e quem tava morto começa a andar. Surge, então, uma estranha e tênue
                                                                                 aliança entre policiais e traficantes pra escapar da horda de zumbis. Com uma das melhores co-
                                                                                 reografias de luta entre humano e zumbi, onde a policial do filme, interpretada por Claude Per-
                                                                                 ron, é o capeta e bate muito. Outra cena legal é a do policial vivido por Jean Pierre Martins (na
                                                                                 vida real, ele é cantor de uma banda de rock chamada Silmarils) brigando sozinho com 300 mil
                                                                                 zumbis. O troço é sinistro! A ideia dessa cena poderia até ter partido do próprio Jean Pierre, uma
                                                                                 vez que ele sabe muito bem como é estar em cima do palco com centenas de fãs aos seus pés!
                                                           Autumn (Steven Rumbelow, CAN-2009) O outono se vai, e, ao caírem as suas últi-
                                                           mas folhas, acontece algo estranho: pessoas morrem sem motivo algum, poucos so-
                                                           brevivem. De repente, os mortos se levantam e ficam num estado catatônico. Quem é
Amantes de filme de zumbis sempre têm umas                 esperto se manda dos grandes centros, que é o caso dos personagens Michael (Dex-
cismas com as possibilidades apresentadas nos ro-          ter Fletcher) e Carl (Dickon Tolson). Os andarilhos já não estão catatônicos, andam
teiros, tanto que já assisti a gente sendo infectada       em grupo e têm fome. Se um dia acontecer um apocalipse zumbi, vai ser assim. As
por vacas, por ovelhas e... pasmem: por árvores.           coisas começam mal e seguem ladeira abaixo. Esse filme me deixou neurótico, le-
Gosto mais da questão sobrenatural, em que não             vantei os muros aqui de casa só pra garantir. Com David Carradine, falecido em 2009.
dá para explicar porra nenhuma, e o único pensa-
                                                                                Eaters – Rise of Dead (Luca Boni/Marco Ristori, ITA-2011) Um cientista e dois
mento do cidadão é correr feito doido. A ideia do
                                                                                militares vivendo num mundo cheio de nazistas e mortos-vivos e o pior...o vírus ma-
vírus de laboratório também é legal, como foi feito
no filme Extermínio (Danny Boyle, 2002), com
                                                                                tou todas as mulheres, é o fim do mundo mesmo! Os militares capturam os zumbis,
continuação em Extermínio II (Juan Carlos Fes-                                  e o cientista faz experimentos com os ditos cujos para descobrir uma cura para o
nadillo, 2007). A ressalva é que, nesses filmes, os                             vírus. A deterioração é caprichada, o cinema italiano tem uma tradição em maquia-
zumbis correm como um maratonista da São Sil-                                   gem, e não é diferente nessa película. O enredo é que é meio frouxo e tem algo que
vestre (batizei-os de zumbis 2.0). Para alguns, fica                            incomoda... Zumbi falando! Ok, só são quatro palavras, mas aí já é foda. Assista
mais impactante e, para outros (aqui me incluo),                                e tenha bons sonhos. Garanto que o mestre Romero deve estar tendo algum. A.S.
saem um pouco da originalidade. Penso da seguinte
forma: se os próprios estão mortos, então, acredito
que suas articulações e músculos estão se dete-
riorando, mas, enfim, não há regra, como já disse
Aleister Crowley: “faz o que tu queres, pois é tudo
da lei”. Disseco aqui três filmes feitos além dos
muros hollywoodianos: um francês, um canadense
e outro italiano. E aqui vai uma dica legal: assista
nessa ordem porque há uma ligação entre eles, uma
vez que o primeiro mostra o dia em que começa o
apocalipse, o segundo mostra como é sobreviver no
apocalipse e o terceiro, a busca da cura. Let’s go!

 El Mariachi
CEFFALIUM – SERVANT OF CYRANNY CD (PB) Pegadas fortes e mui-                   nas e bate portas. Todas as palavras são levadas de vento em popa. E as-
ta velocidade é o que vamos ouvir nesse CD. Sem sair do contexto do som ex-    sim segue para renovar o ar na corte do rei, onde se fala com vento, mas,
tremo. Walldo Akino (vocal/baixo), Bruno Motta (guitarra /backing vocals),     infelizmente, o vento não pode ouvir. O.C. www.bandanonsense.com
Claudio Lima (guitarra) e Bruno Laert (bateria) fazem um som que poderia
ser ouvido em qualquer parte desse planeta. As músicas são bem executa-        TRAGEDY - DARKER DAYS AHEAD (CD) Em “Darker Days Ahead”
das, percebe-se que as guitarras conseguiram delinear um ritmo, e a bateria,   o Tragedy abre mão da velocidade que era constante nos trabalhos ante-
outro, sem sair do tempo, enquanto o baixo dá o peso na medida certa. O vo-    riores. O álbum anterior, “Nerve Damage”, já nos mostrava essa faceta
cal não é exagerado, garantindo um maior entendimento. Tem forte influên-      mais “arrastada” da banda, mas aqui a velocidade se resume apenas a al-
cia de bandas, como Deicede e Krisiun, não tirando o mérito do CD lançado      gumas partes de um único som, The Grim Infinite. A verdade é que, se
pelo sistema SMD.Destaque para a belíssima capa, que tem uma mulher de-        esse fosse o 1º trabalho da banda, nem poderia se encaixar em material
capitada e nua, traduzindo toda a temática do disco. Destaques para todas as   advindo de alguma cena Punk. Mas é preciso checar a história e o peso
músicas, que são uma cacetada só! B.L. www.myspace.com/ceffalium B.L.          do nome Tragedy quando o assunto é Crust e Hardcore. Por conta dis-
                                                                               so tudo, imediatamente, lembrei do Amebix quando escutei este álbum
GIRLIEHELL – GET HARD CD (GO) Quem disse que mulher não sabe                   pela primeira vez. Quem saca Amebix e já ouviu esse “Darker...” sabe
fazer rock? Banda criada em Goiânia, há cinco anos, tem como integrantes       exatamente o que estou falando. É bem verdade que poucos álbuns con-
quatro moçoilas que honram as guitarras que tocam: Bullas Attekita (vocal/     seguiram aliar com tamanha perfeição o título, desenho da capa, letras,
guitarra solo), Júlia Stoppa (segunda guitarra), Fernanda Simmonds (baixo)     gravação e andamento das músicas. Tudo é extremamente sombrio e ater-
e Carol Pasquali ( bateria). O CD foi gravado no Rocklab e tem onze faixas     rorizante. O clima é de total desesperança! A introdução da já citada The
pauleiras, com guitarras muito bem afinadas e distorcidas. Bullas Attekita é   Grim Infinite é muito sinistra. Outros destaques são a música título, Power
uma vocalista de cordas vocais potentes. As garotas realmente mandam bala      Fades e No Cemeteries Here. Se você curte som Punk, Hardcore,
e colocam qualquer bandinha de garotas que acham que tocam rock no chine-      Crust, etc. e não conhece o Tragedy, digo pra você conhe-
lo. A primeira faixa, Girlies Nigth, tem uma pegada “farofa”, que lembra o     cer primeiro os outros álbuns e singles pra depois ouvir esse aqui.F-NC
rock anos 80. Mas dou destaque à faixa de nome Struggle: já no início da
música, você sente que o negócio é de responsa, com a participação de Pedro
Cipriano, vocalista da banda Mugo. Outro destaque é a capa e contracapa        ROTTEN FLIES - AMARGO CD (PB) Guardadas as devidas propor-
do CD, que podem ser trocadas, tipo, a contracapa pode ser colocada como       ções, a história, sem perdão, se repete, em outra cidade, a muitos quilô-
capa... Muito bacana. Chupa Bárbara!www.myspace.com/girliehelll L.K.           metros de distância de uma ilha inglesa. Amargo, primeiro trabalho ofi-
                                                                               cial do quarteto, gravado em 2002, lançado virtualmente em 2009 e só
NONSENSE - DE VENTO EM FLOR EP (RJ) Até onde esse vento irá                    agora, depois de dez anos, ganha a sua versão em CD. O primeiro, que
nos levar? Por todas as brechas de janelas e portas até chegar ao morro        se tornou o segundo, é, também, o primeiro a ser lançado pelo selo Jor-
dos malandros, dos ventos uivantes. E onde está o sentido disso? Não           nal Microfonia. O que há de mais relevante nesse trabalho, além de ser
tem, como também não tem senso e nem nunca terá, mesmo na boca do              um resumo do que foi lançado nas três demos tapes anteriormente, é o
Chico, do Arrigo, do Bruno. Do Rio ao mar num saveiro até um cais.             fato de reunir algumas músicas preferidas nos shows pelo público, a
Um trio que inventa a flor. Vento de abril. O poder da flor vem de longe,      exemplo de Mini Psicopata (a morte jorra pelos botões), Amigo do Cão
muito longe que o vento sobre o mar atravessou e transformou. O mesmo          (quem confia se fode) e a já clássica Revolta Programada (sua panaca
vento que soprou as palavras dylanescas e que, também, traz frases para        cara de mau). Além de conter músicas nunca incluídas em um setlist
lembrar coisas que ficaram muito tempo por dizer/Na canção do vento/           da banda, como Mega Otário, Minha Rebelião e Cidadão. Recomen-
Não se cansam de voar. O mesmo que apaga as velas, balança as corti-           da-se ouvir no volume máximo! www.myspace.com/rottenflies O.C.
4                                                                                                                                                 MICROFONIA

         Fahrenheit 451                                                                                                 Amor à Queima Roupa
                                                                                          Editora: Cospe Fogo
                                      Editora: Mil                                        Gravações e Augus-                                     Editora: Mythos
                                       Palavras/                                               ta Edições                                          Páginas: 500
                                       Multifoco                                              Páginas:68                                        Formato:25x33 cm
                                       Número de                                           Formato: (17 x 26                                     Colorido/Preto e
                                      páginas: 384                                         cm)Colorido/P&B
                                        Ano: 2011                                                                                               branco/Capa dura
                                                                                            Preço: R$ 15,00 a                                     Preço de capa:
                                       Preço : R$
                                          50,00                                                  20,00                                              R$ 129,90
                                                                 Faça você mesmo é a melhor lição deixada pelo
                                                                 punk. Atitude ainda é gatilho para bandas, zines e    Lançado no final de 2011, de cara, é um dos mate-
Década de 90. Cenário: Garage. O show era para                   selos. Não foi diferente para Mateus Mondini, que,    riais mais bacanas do ano, principalmente refer-
angariar fundos para a casa. No evento quatro ban-               além de fotógrafo, é dono do selo Nada Nada Dis-      ente ao nosso herói cimério que nunca teve nada
das: Sex Noise, Piu Piu & Sua Banda, Soutien Xiita               cos e da loja de vinis The Records, e Daigo Oliva.    igual aqui no país. Capa dura revestida de cou-
e Gangrena Gasosa. Um cara de cabelo azul sobe                   Com uma câmera fotográfica na mão e um foco           ro, com hot-stamp em letras douradas, o que faz
no palco e começa um espancamento sonoro ini-
                                                                 na cabeça, os caras foram atrás do que é o punk       valer cada centavo, mas realmente só pra quem
gualável: Larry Antha, vocalista à frente de sua
banda, Sex Noise. 2012: atualmente trabalhando
                                                                 do século XXI, registrando o melhor da banda ou       gosta e/ou está disposto a pagar pelo volumão.
como produtor cultural, Larry lançou a autobio-                  talvez o pior (dependendo do seu ponto de vista),     O material compila toda a saga Conan: O Lib-
grafia “Memórias Não Póstumas de um Punk”, que                   nas fotos da cena nacional com Ratos de Porão,        ertador, quando se torna o novo rei do império da
fala de sua vida pessoal dentro e fora do Sex Noise,             Morte Asceta, Eu Serei a Hiena, Mukeka de Rato,       Aquilônia, etapa iniciada com a batalha contra a
mostrando como era ter uma banda nos anos 90. C.E.               Busscops e gringa como G.B.H., Discharge, Gang        tribo dos pictos, muito comentada entre os fãs.
                                                                 of Four (inglesas), US Bombs e Clorox Girls (amer-    Estas histórias saíram primeiramente entremeio
Você se baseou em algum outro livro ou escri-                    icanas). A lente da dupla sempre capta a fúria e a
tor para começar a escrever o ‘Memórias...’?                                                                           a muitas outras na extinta “A Espada Selvagem
                                                                 inquietação de um momento ímpar. Uma sacada
Difícil dizer, leio muita coisa, mas a primeira referên-                                                               de Conan” (205 eds. de jun/1984 a dez/2001,
cia que me vem é o livro “Barulho”, do André Barcin-
                                                                 legal foi fazer o livro no papel couché, conferindo
                                                                                                                       Editora Abril), só que de forma aleatória e fora
ski, que mapeava o cenário independente americano.               brilho e qualidade ao trabalho, com apenas 200 có-
                                                                 pias editadas. Antes de tudo, não há como negar a     da ordem cronológica, ou seja, não seguiu o
Ficou alguma história de fora do ‘Memórias...’?                  ousadia do trabalho, pois fotozine é algo raro no     original americano publicado, na época, pela
Sempre fica. Mas acho que consegui ser bastante                  Brasil. Livro inspirador que serve de referência      Marvel. A Mythos Editora assumiu a publica-
orgânico e falar basicamente de quase tudo. Tudo                 aos fotógrafos de plantão. O negócio é arregaçar as   ção, agora com o título de Conan – O Bárbaro
transcorre de uma forma linear, como se eu sentasse              mangas, parar de comer bisteca e mãos à obra. A.S.    (fev/2002 a jun/2010 com 76 edições) e cance-
num bar e começasse a contar minha vida. Teve um                                                                       lada posteriormente devido às baixas vendas.
papo com um jornalista que editava um fanzine nun-
                                                                                                                       Continuou as HQs de onde a Abril parou e nova-
ca lançado que fluiu um pouco assim. Depois daquele
papo me toquei que tinha muitas histórias pra contar.                                                                  mente republicou esta saga na sequência correta.
                                                                                                                       Quem escreve é o Roy Thomas, e a arte é divi-
Como foi o contato com a editora Multifoco?                                                                            dida com vários artistas, com destaque pra John
Foi meio louco. Eu estava colaborando para o site ‘Samba                                                               Buscema (1927-2002), Gil Kane (1926-2000) e
Punk’, doAdilson Pereira, com uns vídeos, contando um
                                                                                                                       Tony De Zuniga, nascido em 1932 e morto em
pouco das histórias do meu livro. A gente se reunia na casa
dele, apertava um, apertava o play, e eu saía falando. O                                                               11 de maio deste ano. O Buscema, além de trab-
Adilson era amigo das antigas. Tinha feito matérias com                                                                alhar com o De Zuniga em muitas HQs, também
o Sex Noise e sabia que tinha um livro na gaveta, e se in-                                                             fez dupla com outros dois filipinos: Alfredo Al-
teressou em colocar no seu site. Junto a isso, ele passou a       Quem são os Comedores de Lixo?                       calla (1925-2000) e Ernie Chan (1940-2012),
trampar de produtor no Circo Voador. Foi onde conheci o                                                                referência de boas histórias. Quem não conhece
pessoal da Multifoco, que se interessou pelo livro e lançou.           Descubra em breve!
                                                                                                                       pode perguntar a quem leu. A ilustração da capa
Por coincidência, Leonardo Panço e Pedro de Luna                                                                       fica por conta do Earl Norem – pra mim, uma das
lançaram, respectivamente, ‘Esporro’ e ‘Niterói Rock                                                                   mais bonitas do artista produzidas para a ESC.
Underground’, que falam também da cena independen-                                                                     Não sei se a editora pretende continuar este
te dos 90. Você acha que os livros se complementam?                                                                    material, mas fica a torcida pra que lancem
P erfeitamente. Vi v e m o s a m e s m a é p o c a . O
                                                                                                                       novos volumes deste. Caso contrário, fica
que os diferenci a s ã o n o s s a s p e r s p e c t i v a s .
                                                                                                                       aqui registrada uma sugestão: que tal relançar
Como você vê o cenário de bandas independen-                                                                           o material da ESC em volumosos blocos de
tes com acesso a redes sociais, blogs, myspace, etc?                                                                   500 páginas em formato americano, como vem
Surgem bandas novas a todo instante. Fica, às vezes,                                                                   sendo feito pela Dark Horse com The Savage
difícil de acompanhar. Discos lançados no ano passado
                                                                                                                       Sword of Conan? Será venda garantida para os
já são velhos. As carreiras das bandas são relativamente
curtas. E por aqui não é diferente. Existe uma pressa e                     Selo Jornal Microfonia                     muitos que leram estas nos anos 80 e 90.J.F.
uma necessidade de fazer as coisas acontecerem, que

                                                                  Enquanto isso fora da redação
acaba interferindo na qualidade do som das bandas. Enfim,
o momento é melhor para ser ter uma boa ideia e mon-
tar uma banda. O problema é que ninguém quer montar
banda. Todo mundo quer ser artista. Todas as bandas têm
milhões de visitas. Eu ficaria constrangido com tanta
gente vasculhando minha vida, meus ensaios, sem ao me-
nos eu ter um disco lançado, saca? As bandas já nascem
megafamosas na Internet, e isso, às vezes, me dá no saco.

Qual foi o livro que você leu e menos gostou?
Nossa, que pergunta difícil. Lembro que não consegui ler
‘O Guarani’, de José de Alencar, no colégio. Li a metade e
larguei. No dia da prova, pedi a uma colega pra me contar
o final da história. Ela tirou 5,5 de nota, e eu, 8,5. Sei que
a colega ficou muito puta, e eu, em débito eterno com José
de Alencar. É, acho que já está na hora de ler esse livro.

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Mike Deodato - O paraibano mais conhecido no mundo nos quadrinhos

  • 1. Ano 2 nº 09 .MÚSICA .FILME .HQ .SHOW João Pessoa, julho 2012 Distribuição gratuita MIKE DEODATO - Daqui para o Mundo Quem é o paraibano mais conhecido no mundo?Assis Chateaubriand? Augusto dos Anjos? Herbert Vianna? Sivuca? Genival Lacerda? Bem, isso eu não sei, mas uma coisa é certa: se você perguntar quem é Deodato Taumaturgo Borges Filho, talvez, de cara, ninguém saiba, mas, se perguntarem, ao norte do Canadá, no sudoeste da Indonésia e também em São José de Mipibu, quem é Mike Deodato, aí, meu velho, o panorama muda. Mike Deodato é, com certeza, o paraibano mais conhecido no mundo nesse século, desenhista contratado da Marvel, empresa pela qual já passou grandes lendas das HQs, ele tem status de rock star. Com seu traço e sua simplicidade, colocou seu nome na história dos HQs. Confira agora a entrevista com esse paraibano ilustre. Detalhe: ele não se encontra na lista de paraibanos ilustres. Foto: Victorama Você desenha ouvindo música? Que tipo de música banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa. Homenagem? a pressão de um editor influencia no produto final? você gosta de ouvir enquanto desenha? O Thedy, atualmente, escreve roteiros para HQs. Nunca tive problemas com prazos. Sou bem profissional Desenho ouvindo música, sim. Não tem que ser neces- Vocês já se conheciam ou mantiveram contato, não e conhecido por minha pontualidade. Tenho controle sariamente algo ligado ao tema da história. Música me só devido ao gosto pela música, mas pelos quadrinhos total sobre minha arte, faço minha própria arte-final faz sentir bem, e isso passa ao meu desenho. Gosto de ou- também? e só trabalho com o mesmo colorista – escolhido por vir muita coisa diferente:Queen, ELO, Beatles, Monkees, Conheci ele através do Twitter. Ficamos amigos de ime- mim – há mais de dez anos. É puxado, sim, mas estou Dylan, Legião, 14 Bis, New Pornographers, Beirut, etc. diato e trocamos gibis e CDs pelo correio. Ele gosta acostumado com pressão por ter trabalhado em jornais e Aqui você encontra uma boa amostra do que ouço, é a muito de quadrinhos e, quando tive a oportunidade, fiz agências de publicidade. minha estação no Blip FM: http://blip.fm/mikedeodatojr a homenagem. Adoro sua música. Marcou bem os meus anos 80. Você já entregou algum material sabendo que pode- Quando e como você começou a ouvir rock e música ria ter realizado melhor, se tivesse um prazo maior? pop? De que forma a música passou a ter alguma in- Em 89, você publicou, na revista Aventura e Ficção, Você tem a liberdade de pedir alguns dias a mais fluência no seu trabalho como desenhista? uma história intitulada Verso e Reverso, com o seu quando acha necessário para finalizar um trabalho? Desde minha adolescência. Comecei com Monkees, pai (Deodato Borges) como roteirista. Você pretende Nos anos 90, por falta de experiência, já fiz isso, sim. depois passei pra Beatles, Kiss e Queen, minha grande voltar a abordar o mesmo assunto (cangaço) e tra- Hoje em dia, só pego trabalhos com prazos que não paixão. A influência seria só em meu estado de espírito. balhar novamente com ele? comprometam a qualidade. Música me faz um bem danado, e eu desenho melhor Pretendo, um dia. No momento, estou exclusivo da Mar- quando estou bem. vel. Cangaço é um tema interessantíssimo e ainda quero Recentemente, Alan Moore criticou a DC por fazer algo grande com ele. publicar Before Watchmen. Você acha que obras Você fez a capa do disco da banda Sociedade Anôn- como Watchmen e o Cavaleiro das Trevas não deve- ima (conhecida aqui na Paraíba na década de 80) e, riam ser revisitadas, ou a indústria de quadrinhos, recentemente, a capa do Seu Pereira e Coletivo 401. De que você mais gostava quando tinha o Deodato assim como o cinema, encontrou um ótimo nicho? Você já fez trabalhos para outras bandas? Studios? Qual a sua opinião? Foram os dois únicos até hoje. Ah, fiz também uma capa Nada. Foi uma ideia ruim desde o nascimento. Feita so- pro Kruger. Queria ter feito mais, mas meu tempo é es- mente pra produzir mais e se ganhar mais dinheiro. Eles têm o direito de fazê-lo, já que as histórias lhes per- casso. tencem. Alan Moore deveria ser o último a reclamar, já Muitas vezes, o mercado norte americano é criticado que duas de suas criações mais marcantes, Watchmen e Em uma edição dos Novos Vingadores, há um desen- pela produção em massa, fazendo do desenhista uma Miracleman, são revisitações de outras obras, como os ho seu que tem uma semelhança com o vocalista da espécie de operário de uma montadora. Até que ponto heróis da Charlton e Capitão Marvel, respectivamente.
  • 2. 2 MICROFONIA Você respondeu a Julinda Morrow, no site Sequen- Como você vê a nova geração de quadrinistas/desen- tial Highway, que o que o inspira de forma criativa é histas locais? um “roteiro bem escrito para os personagens que eu Muito talento e muita garra. A internet aproximando amo!”. Quais são as adaptações para o cinema que todo mundo. O quadrinho brasileiro tá em muito boas você mais gosta? mãos. 300, Avengers, Spider-Man 2 e Sin City. No primeiro filme do Homem-Aranha (trilogia de Qual personagem merece ganhar uma adaptação Sam Raimi), aparece um desenho seu da person- para o cinema? Quem você imagina ser suficiente- agem Electra no quarto do Peter Parker. O que você mente competente para realizar isso? achou? Eu acho que, depois de Avengers, Joss Whedon deveria Só pra lhe dar uma ideia, eu tirei um cópia da imagem ser obrigado a dirigir só filme de super-heróis, para sem- e mandei pra todo mundo em minha lista de e-mails. pre. Acho que Ka-zar daria um filme sensacional. Adorei. Sabendo que você é fã do selo Vertigo, com quais per- sonagens e autores você gostaria de trabalhar? Death, Fables, Sandman, Hellblazer, Swamp-Thing. Azzarello, Gaiman, Moore, Miller. Tem outro selo que você admira? Gosto muito do material da Dark-Horse. Como é participar dessas convenções internacionais e, de repente, ser cumprimentado por pessoas como Stan Lee e Neal Adams pelo reconhecimento do seu trabalho? Surreal. Tenho 49 anos, mas, quando chego perto de gênios da estatura dos dois, me sinto como um ga- rotinho. Não importa o tempo que passe, vou sempre me sentir mais um fã do que um veterano da área. Em alguma viagem, aqui no Brasil ou no exterior, você chegou a ir a algum show de alguma banda de que você gosta muito? Gosto mais de shows intimistas, sem muita multidão. Atrás da Porta Verde Assistir 14 Bis é minha melhor lembrança de um show. EDITORIAL Parafraseando Millôr Fernandes: “Prefiro a noto- riedade do que a popularidade”. Já David Bowie perguntava: “Fama, qual o seu nome?” O nosso entrevistado dessa edição, Mike Deodato, é mui- to conhecido pelo que faz e pode ir à padaria da esquina sem ser assediado. Todos querem re- conhecimento pelo trabalho bem realizado. O fan- zine Fodido e Xerocado ganhou uma edição bem caprichada com fotos da cena punk desse século. Fazer versão erótica de filmes de sucesso virou até uma Memórias não Póstumas de um Punk quer o re- moda. O problema é quando o filme em questão é uma conhecimento em vida de um cenário musical- fraude, como A Bruxa de Blair. Já a Devassa de Blair até mente importante que se tornou uma história pou- que tentou colocar algum sentido na história... Quando co contada. Conan, finalmente, tem um volume três estudantes de jornalismo decidem pesquisar uma digno da fama do herói em nossas terras. E mais lenda e viajam até a cidade de Blair, lá elas escutam três colaboradores se juntaram a nós nessa edição: Fred (Não Conformismo), Carlos Eduardo histórias de um morador chamado Roge Lemos, que, por e Joelson Nascimento. John Lennon mostrou que sinal, é o diretor e que também atuou no filme. Então, sentiu na pele quando externou que “ninguém o ele começa a relatar o encontro que teve com a devassa, ama quando você está por fora e deprimido/To- interpretada por Mayara Rodrigues, uma das melhores dos o amam quando você está a sete palmos”. E atrizes do cinema pornô nacional. Morena de corpo os quinze minutos de fama viraram segundos.. perfeito, Mayara consegue conduzir a cena com muita EXPEDIENTE sedução. No decorrer do filme, as estudantes, interpreta- Editores Responsáveis: das por Ingrid Miranda, Denise Braga e Michelle But, Adriano Stevenson são seduzidas pelos capangas da Devassa de Blair, e as Olga Costa(DRT – 60/85) meninas são forçadas, no bom sentido, a fazer barba, Colaboradores:Josival Fonseca/Beto L./ cabelo e bigode! Lembrando que Mayara Rodrigues Erivan Silva/Leví Kíssinger/Fred-Não Confor já ganhou o título de maior performance anal. Use mismo/Carlos Eduardo/Joelson Nascimento camisinha e até a próxima! B.L. Editoração:Olga Costa Ilustração:Josival Fonseca Revisão: Juliene Paiva Osias Agradecimentos:Januncio Neto (Studio Made in PB) Contato/Anúncios:(83)3512 2330 E-mail:jornalmicrofonia@gmail.com Facebook.com/jornalmicrofonia Twitter:@jmicrofonia Tiragem:3.000 exemplares Todos os textos dos nossos colaboradores são assinados e não refletem a opinião dos editores.
  • 3. MICROFONIA 3 Zumbilandia Legião do Mal (Yannick Dahan/Benjamin Rocher, FRA- 2010) Norte da França, policiais vão vingar colega assassinado por traficantes nigerianos. Até aí, parece um filme do Steven Seagal, só que o caldo entorna e quem tava morto começa a andar. Surge, então, uma estranha e tênue aliança entre policiais e traficantes pra escapar da horda de zumbis. Com uma das melhores co- reografias de luta entre humano e zumbi, onde a policial do filme, interpretada por Claude Per- ron, é o capeta e bate muito. Outra cena legal é a do policial vivido por Jean Pierre Martins (na vida real, ele é cantor de uma banda de rock chamada Silmarils) brigando sozinho com 300 mil zumbis. O troço é sinistro! A ideia dessa cena poderia até ter partido do próprio Jean Pierre, uma vez que ele sabe muito bem como é estar em cima do palco com centenas de fãs aos seus pés! Autumn (Steven Rumbelow, CAN-2009) O outono se vai, e, ao caírem as suas últi- mas folhas, acontece algo estranho: pessoas morrem sem motivo algum, poucos so- brevivem. De repente, os mortos se levantam e ficam num estado catatônico. Quem é Amantes de filme de zumbis sempre têm umas esperto se manda dos grandes centros, que é o caso dos personagens Michael (Dex- cismas com as possibilidades apresentadas nos ro- ter Fletcher) e Carl (Dickon Tolson). Os andarilhos já não estão catatônicos, andam teiros, tanto que já assisti a gente sendo infectada em grupo e têm fome. Se um dia acontecer um apocalipse zumbi, vai ser assim. As por vacas, por ovelhas e... pasmem: por árvores. coisas começam mal e seguem ladeira abaixo. Esse filme me deixou neurótico, le- Gosto mais da questão sobrenatural, em que não vantei os muros aqui de casa só pra garantir. Com David Carradine, falecido em 2009. dá para explicar porra nenhuma, e o único pensa- Eaters – Rise of Dead (Luca Boni/Marco Ristori, ITA-2011) Um cientista e dois mento do cidadão é correr feito doido. A ideia do militares vivendo num mundo cheio de nazistas e mortos-vivos e o pior...o vírus ma- vírus de laboratório também é legal, como foi feito no filme Extermínio (Danny Boyle, 2002), com tou todas as mulheres, é o fim do mundo mesmo! Os militares capturam os zumbis, continuação em Extermínio II (Juan Carlos Fes- e o cientista faz experimentos com os ditos cujos para descobrir uma cura para o nadillo, 2007). A ressalva é que, nesses filmes, os vírus. A deterioração é caprichada, o cinema italiano tem uma tradição em maquia- zumbis correm como um maratonista da São Sil- gem, e não é diferente nessa película. O enredo é que é meio frouxo e tem algo que vestre (batizei-os de zumbis 2.0). Para alguns, fica incomoda... Zumbi falando! Ok, só são quatro palavras, mas aí já é foda. Assista mais impactante e, para outros (aqui me incluo), e tenha bons sonhos. Garanto que o mestre Romero deve estar tendo algum. A.S. saem um pouco da originalidade. Penso da seguinte forma: se os próprios estão mortos, então, acredito que suas articulações e músculos estão se dete- riorando, mas, enfim, não há regra, como já disse Aleister Crowley: “faz o que tu queres, pois é tudo da lei”. Disseco aqui três filmes feitos além dos muros hollywoodianos: um francês, um canadense e outro italiano. E aqui vai uma dica legal: assista nessa ordem porque há uma ligação entre eles, uma vez que o primeiro mostra o dia em que começa o apocalipse, o segundo mostra como é sobreviver no apocalipse e o terceiro, a busca da cura. Let’s go! El Mariachi CEFFALIUM – SERVANT OF CYRANNY CD (PB) Pegadas fortes e mui- nas e bate portas. Todas as palavras são levadas de vento em popa. E as- ta velocidade é o que vamos ouvir nesse CD. Sem sair do contexto do som ex- sim segue para renovar o ar na corte do rei, onde se fala com vento, mas, tremo. Walldo Akino (vocal/baixo), Bruno Motta (guitarra /backing vocals), infelizmente, o vento não pode ouvir. O.C. www.bandanonsense.com Claudio Lima (guitarra) e Bruno Laert (bateria) fazem um som que poderia ser ouvido em qualquer parte desse planeta. As músicas são bem executa- TRAGEDY - DARKER DAYS AHEAD (CD) Em “Darker Days Ahead” das, percebe-se que as guitarras conseguiram delinear um ritmo, e a bateria, o Tragedy abre mão da velocidade que era constante nos trabalhos ante- outro, sem sair do tempo, enquanto o baixo dá o peso na medida certa. O vo- riores. O álbum anterior, “Nerve Damage”, já nos mostrava essa faceta cal não é exagerado, garantindo um maior entendimento. Tem forte influên- mais “arrastada” da banda, mas aqui a velocidade se resume apenas a al- cia de bandas, como Deicede e Krisiun, não tirando o mérito do CD lançado gumas partes de um único som, The Grim Infinite. A verdade é que, se pelo sistema SMD.Destaque para a belíssima capa, que tem uma mulher de- esse fosse o 1º trabalho da banda, nem poderia se encaixar em material capitada e nua, traduzindo toda a temática do disco. Destaques para todas as advindo de alguma cena Punk. Mas é preciso checar a história e o peso músicas, que são uma cacetada só! B.L. www.myspace.com/ceffalium B.L. do nome Tragedy quando o assunto é Crust e Hardcore. Por conta dis- so tudo, imediatamente, lembrei do Amebix quando escutei este álbum GIRLIEHELL – GET HARD CD (GO) Quem disse que mulher não sabe pela primeira vez. Quem saca Amebix e já ouviu esse “Darker...” sabe fazer rock? Banda criada em Goiânia, há cinco anos, tem como integrantes exatamente o que estou falando. É bem verdade que poucos álbuns con- quatro moçoilas que honram as guitarras que tocam: Bullas Attekita (vocal/ seguiram aliar com tamanha perfeição o título, desenho da capa, letras, guitarra solo), Júlia Stoppa (segunda guitarra), Fernanda Simmonds (baixo) gravação e andamento das músicas. Tudo é extremamente sombrio e ater- e Carol Pasquali ( bateria). O CD foi gravado no Rocklab e tem onze faixas rorizante. O clima é de total desesperança! A introdução da já citada The pauleiras, com guitarras muito bem afinadas e distorcidas. Bullas Attekita é Grim Infinite é muito sinistra. Outros destaques são a música título, Power uma vocalista de cordas vocais potentes. As garotas realmente mandam bala Fades e No Cemeteries Here. Se você curte som Punk, Hardcore, e colocam qualquer bandinha de garotas que acham que tocam rock no chine- Crust, etc. e não conhece o Tragedy, digo pra você conhe- lo. A primeira faixa, Girlies Nigth, tem uma pegada “farofa”, que lembra o cer primeiro os outros álbuns e singles pra depois ouvir esse aqui.F-NC rock anos 80. Mas dou destaque à faixa de nome Struggle: já no início da música, você sente que o negócio é de responsa, com a participação de Pedro Cipriano, vocalista da banda Mugo. Outro destaque é a capa e contracapa ROTTEN FLIES - AMARGO CD (PB) Guardadas as devidas propor- do CD, que podem ser trocadas, tipo, a contracapa pode ser colocada como ções, a história, sem perdão, se repete, em outra cidade, a muitos quilô- capa... Muito bacana. Chupa Bárbara!www.myspace.com/girliehelll L.K. metros de distância de uma ilha inglesa. Amargo, primeiro trabalho ofi- cial do quarteto, gravado em 2002, lançado virtualmente em 2009 e só NONSENSE - DE VENTO EM FLOR EP (RJ) Até onde esse vento irá agora, depois de dez anos, ganha a sua versão em CD. O primeiro, que nos levar? Por todas as brechas de janelas e portas até chegar ao morro se tornou o segundo, é, também, o primeiro a ser lançado pelo selo Jor- dos malandros, dos ventos uivantes. E onde está o sentido disso? Não nal Microfonia. O que há de mais relevante nesse trabalho, além de ser tem, como também não tem senso e nem nunca terá, mesmo na boca do um resumo do que foi lançado nas três demos tapes anteriormente, é o Chico, do Arrigo, do Bruno. Do Rio ao mar num saveiro até um cais. fato de reunir algumas músicas preferidas nos shows pelo público, a Um trio que inventa a flor. Vento de abril. O poder da flor vem de longe, exemplo de Mini Psicopata (a morte jorra pelos botões), Amigo do Cão muito longe que o vento sobre o mar atravessou e transformou. O mesmo (quem confia se fode) e a já clássica Revolta Programada (sua panaca vento que soprou as palavras dylanescas e que, também, traz frases para cara de mau). Além de conter músicas nunca incluídas em um setlist lembrar coisas que ficaram muito tempo por dizer/Na canção do vento/ da banda, como Mega Otário, Minha Rebelião e Cidadão. Recomen- Não se cansam de voar. O mesmo que apaga as velas, balança as corti- da-se ouvir no volume máximo! www.myspace.com/rottenflies O.C.
  • 4. 4 MICROFONIA Fahrenheit 451 Amor à Queima Roupa Editora: Cospe Fogo Editora: Mil Gravações e Augus- Editora: Mythos Palavras/ ta Edições Páginas: 500 Multifoco Páginas:68 Formato:25x33 cm Número de Formato: (17 x 26 Colorido/Preto e páginas: 384 cm)Colorido/P&B Ano: 2011 branco/Capa dura Preço: R$ 15,00 a Preço de capa: Preço : R$ 50,00 20,00 R$ 129,90 Faça você mesmo é a melhor lição deixada pelo punk. Atitude ainda é gatilho para bandas, zines e Lançado no final de 2011, de cara, é um dos mate- Década de 90. Cenário: Garage. O show era para selos. Não foi diferente para Mateus Mondini, que, riais mais bacanas do ano, principalmente refer- angariar fundos para a casa. No evento quatro ban- além de fotógrafo, é dono do selo Nada Nada Dis- ente ao nosso herói cimério que nunca teve nada das: Sex Noise, Piu Piu & Sua Banda, Soutien Xiita cos e da loja de vinis The Records, e Daigo Oliva. igual aqui no país. Capa dura revestida de cou- e Gangrena Gasosa. Um cara de cabelo azul sobe Com uma câmera fotográfica na mão e um foco ro, com hot-stamp em letras douradas, o que faz no palco e começa um espancamento sonoro ini- na cabeça, os caras foram atrás do que é o punk valer cada centavo, mas realmente só pra quem gualável: Larry Antha, vocalista à frente de sua banda, Sex Noise. 2012: atualmente trabalhando do século XXI, registrando o melhor da banda ou gosta e/ou está disposto a pagar pelo volumão. como produtor cultural, Larry lançou a autobio- talvez o pior (dependendo do seu ponto de vista), O material compila toda a saga Conan: O Lib- grafia “Memórias Não Póstumas de um Punk”, que nas fotos da cena nacional com Ratos de Porão, ertador, quando se torna o novo rei do império da fala de sua vida pessoal dentro e fora do Sex Noise, Morte Asceta, Eu Serei a Hiena, Mukeka de Rato, Aquilônia, etapa iniciada com a batalha contra a mostrando como era ter uma banda nos anos 90. C.E. Busscops e gringa como G.B.H., Discharge, Gang tribo dos pictos, muito comentada entre os fãs. of Four (inglesas), US Bombs e Clorox Girls (amer- Estas histórias saíram primeiramente entremeio Você se baseou em algum outro livro ou escri- icanas). A lente da dupla sempre capta a fúria e a tor para começar a escrever o ‘Memórias...’? a muitas outras na extinta “A Espada Selvagem inquietação de um momento ímpar. Uma sacada Difícil dizer, leio muita coisa, mas a primeira referên- de Conan” (205 eds. de jun/1984 a dez/2001, cia que me vem é o livro “Barulho”, do André Barcin- legal foi fazer o livro no papel couché, conferindo Editora Abril), só que de forma aleatória e fora ski, que mapeava o cenário independente americano. brilho e qualidade ao trabalho, com apenas 200 có- pias editadas. Antes de tudo, não há como negar a da ordem cronológica, ou seja, não seguiu o Ficou alguma história de fora do ‘Memórias...’? ousadia do trabalho, pois fotozine é algo raro no original americano publicado, na época, pela Sempre fica. Mas acho que consegui ser bastante Brasil. Livro inspirador que serve de referência Marvel. A Mythos Editora assumiu a publica- orgânico e falar basicamente de quase tudo. Tudo aos fotógrafos de plantão. O negócio é arregaçar as ção, agora com o título de Conan – O Bárbaro transcorre de uma forma linear, como se eu sentasse mangas, parar de comer bisteca e mãos à obra. A.S. (fev/2002 a jun/2010 com 76 edições) e cance- num bar e começasse a contar minha vida. Teve um lada posteriormente devido às baixas vendas. papo com um jornalista que editava um fanzine nun- Continuou as HQs de onde a Abril parou e nova- ca lançado que fluiu um pouco assim. Depois daquele papo me toquei que tinha muitas histórias pra contar. mente republicou esta saga na sequência correta. Quem escreve é o Roy Thomas, e a arte é divi- Como foi o contato com a editora Multifoco? dida com vários artistas, com destaque pra John Foi meio louco. Eu estava colaborando para o site ‘Samba Buscema (1927-2002), Gil Kane (1926-2000) e Punk’, doAdilson Pereira, com uns vídeos, contando um Tony De Zuniga, nascido em 1932 e morto em pouco das histórias do meu livro. A gente se reunia na casa dele, apertava um, apertava o play, e eu saía falando. O 11 de maio deste ano. O Buscema, além de trab- Adilson era amigo das antigas. Tinha feito matérias com alhar com o De Zuniga em muitas HQs, também o Sex Noise e sabia que tinha um livro na gaveta, e se in- fez dupla com outros dois filipinos: Alfredo Al- teressou em colocar no seu site. Junto a isso, ele passou a Quem são os Comedores de Lixo? calla (1925-2000) e Ernie Chan (1940-2012), trampar de produtor no Circo Voador. Foi onde conheci o referência de boas histórias. Quem não conhece pessoal da Multifoco, que se interessou pelo livro e lançou. Descubra em breve! pode perguntar a quem leu. A ilustração da capa Por coincidência, Leonardo Panço e Pedro de Luna fica por conta do Earl Norem – pra mim, uma das lançaram, respectivamente, ‘Esporro’ e ‘Niterói Rock mais bonitas do artista produzidas para a ESC. Underground’, que falam também da cena independen- Não sei se a editora pretende continuar este te dos 90. Você acha que os livros se complementam? material, mas fica a torcida pra que lancem P erfeitamente. Vi v e m o s a m e s m a é p o c a . O novos volumes deste. Caso contrário, fica que os diferenci a s ã o n o s s a s p e r s p e c t i v a s . aqui registrada uma sugestão: que tal relançar Como você vê o cenário de bandas independen- o material da ESC em volumosos blocos de tes com acesso a redes sociais, blogs, myspace, etc? 500 páginas em formato americano, como vem Surgem bandas novas a todo instante. Fica, às vezes, sendo feito pela Dark Horse com The Savage difícil de acompanhar. Discos lançados no ano passado Sword of Conan? Será venda garantida para os já são velhos. As carreiras das bandas são relativamente curtas. E por aqui não é diferente. Existe uma pressa e Selo Jornal Microfonia muitos que leram estas nos anos 80 e 90.J.F. uma necessidade de fazer as coisas acontecerem, que Enquanto isso fora da redação acaba interferindo na qualidade do som das bandas. Enfim, o momento é melhor para ser ter uma boa ideia e mon- tar uma banda. O problema é que ninguém quer montar banda. Todo mundo quer ser artista. Todas as bandas têm milhões de visitas. Eu ficaria constrangido com tanta gente vasculhando minha vida, meus ensaios, sem ao me- nos eu ter um disco lançado, saca? As bandas já nascem megafamosas na Internet, e isso, às vezes, me dá no saco. Qual foi o livro que você leu e menos gostou? Nossa, que pergunta difícil. Lembro que não consegui ler ‘O Guarani’, de José de Alencar, no colégio. Li a metade e larguei. No dia da prova, pedi a uma colega pra me contar o final da história. Ela tirou 5,5 de nota, e eu, 8,5. Sei que a colega ficou muito puta, e eu, em débito eterno com José de Alencar. É, acho que já está na hora de ler esse livro.