Este documento descreve a paixão de Ed Motta pelo café. Motta, um músico e colecionador, começou a gostar de café por influência de sua esposa e agora está aprendendo mais sobre o assunto complexo do café. Embora seu conhecimento ainda seja pequeno, Motta está desfrutando de experimentar cafés artesanais e orgânicos em casa.
1. perfil
Ed Motta vive cercado por milhares
de discos de vinil , quadrinhos, filmes
em branco e preto e fitas VHS. Notório
um ninja do café?
enófilo, agora ele está despertando
para uma nova paixão: o café
TEXTO paulo pedroso FOTOGRAFIA jorge bispo
Entre muitas outras coisas, Ed Motta pode ser considerado um
foodie, termo usado atualmente para classificar os aficionados
pelos prazeres da gastronomia. Quem se senta à mesa com ele,
além de nunca comer e beber de forma medíocre, pode desfrutar
de suas originais associações com a cultura. “Tal chef é o Miles
Davis da cozinha francesa.” Ou então, “Esse Magret de Pato com
batatas é o Steely Dan da coisa.” A comida, a música e o cinema
se fundem a todo instante na percepção aguçada desse artista
e colecionador quase patológico que um dia já foi conhecido
como o sobrinho de Tim Maia.
EU NÃO NASCI PRA TRABALHO
Ed poderia até dizer a seu modo que em se tratando de apren-
dizado musical ele não é exatamente um Cordon Bleu, ou seja,
não tem formação acadêmica. Como na maioria dos assuntos
que domina, ele também se considera um autodidata na música.
Diz que aprende tudo observando e perguntando. Aos sete anos
já tocava violão e apesar de sua mãe ser irmã de Tim Maia, ele
não sofreu influência direta dos pais para seguir a carreira do tio.
Na sua música é possível reconhecer a forte pegada da cha-
mada black music dos anos 1970, desde que ele surgiu na cena
carioca em 1988 liderando a banda Conexão Japeri. Uma salada
de soul, funk e pop-rock que ganhou o Brasil com os hits Manuel
e Vamos Dançar. Embora a atmosfera setentista povoe a sua mente
até hoje, ele evoluiu como instrumentista e compositor, absor-
veu novas influências, principalmente o jazz, estudou piano e se
tornou arranjador e produtor. Posteriormente, na carreira solo,
tocou ao lado de vários artistas e grupos nacionais e internacio-
nais como o Incognito, um dos ícones do chamado acid jazz,
o gênero musical inglês surgido na década de 90, que mistura
elementos da soul music com a sofisticação do jazz. Com eles,
gravou disco e o apresentou no Japão, em 2002.
Ed e uma de suas paixões:
a coleção com mais de
30 mil discos de vinil. UM BOM PRATO É MÚSICA PARA OS OUVIDOS
Criar trilhas sonoras para filmes e desenhos animados é outra
atividade que ele gosta bastante. Trabalhou com Daniel Filho em
A Partilha, Bruno Barreto no filme Caixa 2 e Sandra Werneck no Pe-
queno Dicionário Amoroso. Fez Brasil Animado, com Mariana Caltabiano,
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2. “Passei a gostar
de café por Além da música, Ed Motta se
encanta com a gastronomia,
principalmente a francesa.
influência da
minha mulher, mas e participou da trilha das animações da Disney, Tarzan e A Nova Onda do Imperador. E,
recentemente, ele organizou uma seleção musical não para algum filme ou desenho,
mas para uma situação bastante real e prazerosa da vida: comer – e mais – num dos
só tomo quando melhores restaurantes franceses de São Paulo (SP).
Quem se senta para almoçar ou jantar no Bistrô Le Marais, pode desfrutar de
músicas escolhidas a dedo por Ed Motta na sua coleção de 30 mil discos de vinil. São
bebo vinho.” oito horas de raridades francesas da década de 60 nas vozes de gente como Michel
Legrand, Borin Vian e Serge Gainsbourg, além de outros artistas, cuja trajetória mu-
sical de algum modo tem relação com a França. O próprio Ed Motta, quando está em
São Paulo, costuma passar por lá. Supomos que ele faça uma checagem regular para
ver se os clássicos da gastronomia francesa ainda estão à altura de sua elegante trilha.
De preferência acompanhados por um bom Borgonha, que é o seu vinho preferido.
A CULPA É DA EDNA
Foi a esposa quem levou e continua levando o nosso amigo para esse verdadeiro
caminho da perdição. Ao seu lado, ele aprendeu a ler histórias em quadrinhos,
iniciou-se no mundo do vinho, e agora está bebendo café. Casados há mais de
20 anos, conheceram-se num show dele quando ela tentou,
sem sucesso, entrevistá-lo para um trabalho de faculdade.
Depois de um tempo, numa outra apresentação de Ed, um desculpa e tenta manter a civilidade. Até com os chatos que
amigo em comum a levou até o camarim e, desde então, o insistem numa velha comparação. “Você é o Ed Motta? Seu tio
cantor e ela não se separaram mais. A curitibana Edna Lopes era sensacional!”
é quadrinista, escritora e web designer. Desde o início do A bem da verdade, os frequentadores das mídias sociais
relacionamento ela cuida de toda a parte visual do trabalho que acompanham o artista deveriam agradecê-lo pelo aumen-
de Ed Motta. Sobre a nova paixão que o casal divide, ele diz: to da sua cultura musical. Diariamente ele posta verdadeiras
“Passei a gostar de café por influência da minha mulher, raridades na rede. São pérolas dos mais variados gêneros que
que também introduziu o vinho na minha vida.” Quanto ao vão desde trilhas de séries de TV vintage e filmes europeus,
consumo, ele é cuidadoso, “Eu gosto de beber café somente até o jazz contemporâneo passando por muita soul music,
quando bebo vinho, porque costuma me deixar muito agi- pop japonês e MPB.
tado se não for nessas circunstâncias.”
Estudioso compulsivo dos assuntos que gosta, ele sabe que CONSUMINDO CAPITAL
esse é mais um universo fascinante para uma mente curiosa. Ed Motta tem se tornado cada vez mais conhecido pelas suas
“Meu conhecimento sobre cafés ainda é pequeno. Sei que é paixões. Coisa que leva muito a sério. Ele apresenta um programa
um mundo complexo como o chá, com milhares de nuances, sobre o universo do vinil na Rádio Eldorado, o Empoeirado, que
levando anos e anos para uma percepção mais aguçada.” Ed diz, pode ser ouvido no site da emissora. Além disso, mantém um
também, que está começando a tomar mais a bebida em casa blog sempre atualizado, onde comenta vinhos e gastronomia;
depois que adquiriu uma máquina de espresso, e tem provado e, por fim, escreve eventuais colunas em jornais e revistas. Cada
alguns grãos artesanais e orgânicos. Por fim, revela: “Tenho vez mais, ele desperta a curiosidade dos entrevistadores pelas
muita vontade de me aprofundar no conhecimento sobre cafés. suas manias e interesses. Recentemente, até declarou por aí de
Fico feliz que exista uma publicação como esta sobre o assunto, forma bem humorada que prefere ficar em casa degustando
já que o Brasil produz tantos cafés de alto padrão.” uma bela taça de vinho e ouvindo os ninjas tocarem do que ele
mesmo se apresentar. A propósito, ninja é o termo que ele mais
PÉ NA JACA gosta de usar quando se refere aos craques. Seja na música ou
Ed Motta costuma falar o que pensa sem a intermediação de em qualquer outro assunto do seu interesse.
assessores de imagem. Ele é cáustico em algumas opiniões, e Mas, por enquanto, seus admiradores não têm com o que se
certos críticos musicais, em especial, são o alvo predileto de preocupar. Pois, a menos que esteja milionário, precisará seguir
suas farpas. Já se viu envolvido em enrascadas, principalmente a sua carreira gravando, compondo e fazendo shows. Afinal, é
por comentários considerados por ele como inofensivos, mas preciso muito dinheiro para sustentar suas brincadeiras de gen-
que se amplificaram nas mídias sociais. Eventualmente ele se te grande. Torcemos para que o café entre de vez nessa lista.˙
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