1. DESIGNE
Designe
entrevista
Benicio
UM MITO E UMA PERMANÊNCIA: É O QUE EVOCA AQUELA
ASSINATURA LARGA E BEM-RISCADA, NO CANTO DA
IMAGEM, REFORÇADA PELA BOLOTA NO PINGO DO “I”
( designe entrevista benicio >
QUE SUBSTITUI UM ACENTO QUE NUNCA EXISTIU.
BENICIO, CRAQUE DA ILUSTRAÇÃO, MESTRE DO GUACHE
QUE REVELA MOVIMENTO, ANATOMIA E COR. PENSE NUM
LIVRO DE BOLSO: A CAPA QUE SE EVOCA É DELE; LEMBRE
DE UM CARTAZ DE CINEMA, DE UMA PERSPECTIVA DE
IMOBILIÁRIA, DE UMA SENSUAL SUPERMULHER, DA
REALIDADE MAIS-QUE-A-REALIDADE, E O PINCEL DE
BENICIO ESTARÁ NESSA LEMBRANÇA. DESIGNE TEVE A
CHANCE DE ENTREVISTÁ-LO, E TRAZ PARA VOCÊ A
HISTÓRIA DE 50 ANOS DE PERCURSO PROFISSIONAL
DESSE PERSONAGEM QUE JÁ SE TORNOU LENDÁRIO.
PARTICIPARAM, PELO IAV: ALDEMAR PEREIRA, CARLOS
HORCADES, HENRIQUE PIRES, ISABEL THEES, KAREN
CESAR, LEO VISCONTI, MARCELO MARTINEZ.
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2. DESIGNE: Benicio, qual foi a primeira
DESIGNE: D: Foi lá que você começou a mexer segui um contrato de cara: era um pia-
vez em que você se percebeu ilustrador? com tinta e pincel? nista de 14 anos que já tinha programa
Benicio: Tinha uns oito anos, ainda no B: Não. Lá comecei a mexer com lápis, o na rádio. Vim de férias visitar um irmão
primário. Ganhei prêmios. Eu fazia uma máximo era traço de nanquim. Saí do Sul que morava aqui no Rio. Uma professo-
ilustração que já não era infantil: mon- e vim pro Rio para estudar piano, não pra ra do Conservatório Brasileiro me ou-
tava uma cena, mobiliava o cenário, tudo desenhar. Com 14 anos, eu queria mais era viu tocar e me facilitou a entrada na
intuitivamente. Duas professoras do Gru- festa: de repente larguei a agência. Já to- escola, por isso saí de Porto Alegre. Só
po Escolar Argentina, em Porto Alegre – cava no colégio, e nesse mesmo dia passei que tinha que me manter aqui, e fui ser
Alice Fortes e Leda Merina – que tam- na frente da Rádio Gaúcha e pensei: “Vou desenhista na Rio Gráfica, que naquele
bém eram pintoras, me deram o toque tentar ser pianista de rádio. Se não der, não tempo era como a Editora Abril hoje.
inicial. Isso na década de 50, que em 60 perco nada”. Cheguei lá e disse: “Sou pia-
D: Já pertencia ao jornal O Globo?
eu já estava batendo pernas aqui no Rio. nista e queria fazer um teste e ver se dou
B: Sempre foi do Roberto Marinho. De-
para o negócio”. Estava o diretor artístico,
D: Qual a sua formação? veria se chamar Editora Globo, mas já
o diretor da emissora, acompanhei cantor
B: Fiz escola técnica (hoje segundo tinha uma outra com esse nome, justa-
e tudo. Saí de lá com um contrato para
grau). Naquele tempo, todo mundo que mente em Porto Alegre, e que só viria a
minha mãe assinar, pois eu era menor. Es-
sabia desenhar um pouquinho estuda- ser comprada muitos anos depois. Eu
cândalo na família: “Vai se meter num an-
va para ser arquiteto. Aos 14 anos, meu estava com 16 para 17 anos e comecei a
tro, aquele ambiente não é pra você”...
pai morreu e a barra pesou: tive de sair tomar gosto de trabalhar como dese-
do curso e fui trabalhar como aprendiz D: Você era bom pianista ou ilustra- nhista. Era a editora das revistas, não ti-
de desenhista, numa agência de propa- dor que tocava um pianinho? nha nada daquela rigidez da agência. Lá
ganda chamada Clarim. B: Eu não devia tocar mal porque con- tive a oportunidade de me formar mes-
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3. DESIGNE
mo, no autodidatismo, porque não re- lhando para cá, fazendo capas para a Edi-
cebi teoria de ninguém, mas eu traba- tora Monterrey e fazendo campanhas in-
lhava com feras como Lúcio... não sei se clusive pra Denison. Não tinha por que fi-
era Guimarães, Gutenberg Monteiro, Flá- car infeliz e ganhando pouco, e resolvi vol-
vio Colin. Eu ficava observando o que tar para o Rio.
eles faziam e ia aprendendo. Nas con-
D: Em 64 a mudança de governo repre-
versas, a gente tinha um ambiente ma-
pa
sentou alguma coisa pa ra você? O am-
ravilhoso. Um pouco antes havia saído o
biente da propaganda era politizado?
Valter Maia, mas ainda peguei trabalhos
B: Não, porque sempre fui alienado para
dele que eu adorava (mais tarde vim a
isso. Olha que eu nem tinha razão para ser,
conviver com ele nas agências McCann
porque cunhados meus que eram milita-
Erickson e Artplan). Fiquei por oito anos
res foram banidos. O ambiente da propa-
na Rio Gráfica, e quando saí de lá já fazia
ganda era muito envaidecido: negócio de
capas, como as da revista Cinderela.
quem ganhava mais e quem mandava mais.
D: Quem fez a tipografia do título da Mas voltei ao Rio por acaso: fiz um traba-
Cinderela? lho para a Varig, que me pagou com pas-
B: Foi o Mario Salles. Mais tarde, a McCann sagens, e foi minha primeira viagem à Eu-
me chamou para ser ilustrador oficial: quer ropa. Na volta, o Vieiros da Monterrey –
dizer, já fui por cima da carne-seca. Na que já andava me chamando para fazer
McCann fiquei três anos. Depois fui para a um estúdio – me preparou uma excelente
Denison: mais um ano e pouco. Nesse sala, onde fiquei por muito tempo.
meio-tempo meu irmão, que já trabalhava
D: A relação com essa editora era en-
com marketing em propaganda – naquele
graçada: você não tinha vínculo
tempo chamava-se contato – me chamou
empregatício mas tinha cota de tra-
para fundar uma agência lá no Sul. Voltei
balho garantida... O que a Monterrey
para Porto Alegre em 64, mas como dono
fazia e o que você produzia para ela?
da agência J. Benicio. Aí já estava casado,
B: Editava muitas coleções de livros de
tinha filhos. A agência está lá até hoje, e
bolso: ZZ7, FBI, bangue-bangue, horós-
um de meus filhos é diretor de arte. Fiquei
copo. Eu preparava por volta de 16 ca-
uns dois anos no máximo, porque me senti
pas por mês. É difícil calcular, porque
infeliz: dono de agência tem que se envol-
eram feitas em grupos de quatro, já que
ver com atendimento a cliente, e eu tinha
eram impressas de quatro em quatro.
horror, não era a minha praia. Claro que a
agência não dava a grana que a gente ima- D: Por isso queriam que você voltasse
ginava, então continuei lá no Sul traba- do Sul. Imagine essa produção toda,
Ao lado, capas inspiradas na cantora Thelma Elita
e na atriz Tônia Carrero. 57
4. sem e-mail nem fax, dependendo do só não tem a composição da história que de cachorro.... o Copertone também era
correio! Qual era o grau de interferên- a gente dá na ilustração. meu. Exatamente como o original. Só
cia do cliente no trabalho? que no americano não tinha praia, e eles
D: Qual a diferença do seu desenho
B: Eu recebia o que eles mandavam, evi- quiseram que ambientasse numa praia.
para capa e desenho para publicida-
dentemente não tinha tempo pra ler
de? O que você priorizava na sua ilus- D: Quando você percebeu que já esta-
aquelas baboseiras... eles me davam o
tração para publicidade? vam lhe pedindo o “estilo Benicio”?
sinal, eu fazia, pronto.
B: Na publicidade você tem que se ade- B: Desde que eu saí da Rio Gráfica,
D: Era muito frustrante: a gente via a quar aos objetivos do cliente para ver o por causa das mulheres que desenha-
capa na banca, comprava o livrinho e que você deve enfatizar. Geralmente, eu va. As capas da Cinderela já chama-
ver...
depois a história não tinha nada a ver... executava um leiaute do diretor de arte. vam a atenção do pessoal de propa-
por outro lado, sua produção foi bem A liberdade de criação era conjunta com ganda. Tinham um apelo bem sensual,
dividida entre publicitária e editorial, né? ele. Na campanha do Banco do Brasil, sem serem ousadas demais.
O tempo inteiro um pé lá e outro cá... por exemplo, o diretor de arte era o Cláu-
D: Carlos Zéfiro levava uma vida du-
você chegou a trabalhar em jornal? dio Sendin, mas as imagens nós criamos
pla. Você fez alguma coisa erótica, que
B: Não. O máximo que fiz foi trabalhar juntos. A campanha tinha uma angulação
tivesse de usar pseudônimo?
na Rio Gráfica, e era nas revistas. Quando toda cinematográfica, via primeiros pla-
B: Não, mas já andei dando minhas
voltei da viagem e fui para a Monterrey, nos. Isso foi feito de acordo, ali no rafe,
investidas eróticas, nas capinhas da
já era freelancer, trabalhando para agên- na prancheta. Essa campanha é a história
Monterrey. São pin-ups, mas não do es-
cias. Sempre tive muita liberdade. Voltei do banco e a história do Brasil através
tilo Vargas.
.
a trabalhar em agência, na Artplan, na do banco. Olha, aqui estão dois presi-
década de 70, mas aí sempre em meio dentes e o Rui Barbosa conversando: claro D: Esta aqui, por acaso, é Tônia Carrero.
Est
expediente. Nunca mais trabalhei expe- que não tinha nada que servisse de refe- Aquela parece a Elisabeth Taylor. Você
parece Taylor Você
aylor.
diente inteiro em lugar nenhum. Mesmo rência nessas posições, então tive de pe- se inspirava nas mulheres reais?
como freelancer, eu sempre trabalhei no gar fotos aproximadas e ir estudando as B: Me inspirava mas disfarçava. Esta é
editorial, para Abril, Bloch, sobretudo Ele figuras, até poder montar. mesmo baseada na Tônia Carrero. A ou-
& Ela. Mas eu gosto de propaganda, de tra não é a Taylor, mas uma cantora
D: E storyboard, você fez muita coisa?
ilustração para propaganda. chamada Thelma Elita...
Embalagem, chegou a pegar: tem aquela
D: Você inclui aquelas perspectivas da Loção Camélia do Brasil, onde você D: Quando é que começa a criação de
para arquitetura em propaganda? pôs um coroa muito bem disposto... cartazes para cinema?
B: Não. Minha participação na arquitetura B: Storyboard nunca fiz, sempre tive B: Em 1969. Como Estúdio Benicio, conci-
nunca foi como desenhista arquitetônico, horror, não sei se porque nunca tive ta- liando com o meio expediente. Eu sempre
já que qualquer projetista levanta prédio lento para história em quadrinhos. Já tive meu estúdio. Trabalhei 18 anos na
melhor que eu. Meu negócio é mais o embalagem, fiz uma de produto para ca- Artplan, era empregado, carteira assinada.
ambiente, mas fazer a perspectiva dá belo “étnico” e pus uma moça negra bo- Saí de lá tem uns três ou quatro anos, por-
prazer: é grande, tem muitos elementos, nitinha. Eu fiz embalagem pra produto que estava virando “móveis e utensilios”.
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5. D: Se não tivesse saído, você ia para a demolição, já que até o prédio fechou. D: Todos esses eram pintores-ilustra-
E outras mídias? dores. Tem alguém que destoe dessa
B: Fiz um mural em acrílica no alto de um fundo de loja, para uma butique no São Conrado escola de guache?
Fashion Mall. Depois fui lá, tinha outra loja! Perguntei para a moça: “Cadê uma pintura que B: Não que me influenciasse. Eu fiquei
ficava aí, de uma moto Harley-Davidson?” E a moça: “Só sei que colaram essa foto por cima muito fascinado pela cor. O tratamen-
de um desenho que estava na parede”. Um original, não era reprodução, colaram uma to de cor que se dava, a transparência
ampliação de foto por cima do original! O que eu podia fazer? Fiquei muito chateado. no acrílico, meio gráfica, meio pintu-
ra. Já entre os desenhistas, Flávio Colin
D: Será que não dava pra descolar e fazer uma restauração? Quem são seus ilustra-
era especialmente tracista, mas me en-
dores favoritos? Entre eles está aquele que morreu caindo da escada?
cantava o conhecimento que mostrava
B: Foi o Bob Peak. Tem também o Melo Menezes, o Flávio Colin, o Nilton Ramalho e o
do desenho. Ele não tinha arquivo ne-
Gutenberg Monteiro. O Gutenberg, que até hoje mora em Nova York, não tinha nada
nhum.. Se mandassem fazer o esquele-
a ver com meu desenho, mas ele tinha o domínio do guache, que eu precisava na época
to de qualquer animal, ele sabia o mo-
aprender, pegar o manejo. Bernie Fuchs faz parte da gente que me influenciou. A
vimento e toda a anatomia. Um cavalo,
ilustração européia era mais intelectualizada, até hoje é assim. Eu gostava mesmo era
se não estiver documentado, sou inca-
dos ilustradores americanos, que publicavam nas revistas Esquire, McCall, Vanity Fair,
paz de mudar um movimento dele se-
Good Housekeeping. Entre eles estava Al Parker, que tinha um poder de síntese impres-
quer. Isso em si é uma especialidade,
sionante. Trabalho dele era quase que só chapado!
nunca tive tendência nem vontade de
aprender. Por isso, nunca pensei em fa-
zer ilustração cientifica.
D: O traço de Flávio Colin não é rea-
lista ou fotográfico. É uma
estilização. E ilustração de linha,
como se usa em ilustração infantil:
você teve experiência nessa área? Co-
nhece Rui de Oliveira, e Percy Lau, que
fez o famoso livro Tipos e Aspectos
do Brasil, para o IBGE?
B: Pouca. Quando entrei nessa área
de livro, fui logo para o pocket book,
que me absorveu muito e por longo
tempo. Conheço o Rui. Percy Lau era
mais velho do que eu, e trabalhava
em A Cigarra. Álvaro Martins era ou-
tro que eu admirava.
Mural em acrílica para uma
butique no São Conrado 59
Fashion Mall.
6. D: Dos artistas pintores brasileiros, quais deles o impressionam mais? outros que ficavam naquela de “Ah, hoje
B: Tem aquele do início do século 20, Eliseu Visconti, e mais recentemente o traba- não posso”. E os prazos agora são mais aper-
lho do Oswaldo Teixeira. Os modernos, como minha tendência não era essa, nunca tados, porque estão se acostumando com
me chamaram muito a atenção. a rapidez do computador. No trabalho do
Rock in Rio Lisboa, esbocei a prancha no
trabalhar
abalhar,
D: Há quanto tempo você definiu sua forma de trabalhar, que envolve lápis, lápis,
lápis, mandei para a Artplan, era pra exa-
decalque em papel vegetal, papel, guache, pincel? Você desenha a lápis ou usa
minar os detalhes, se estava tudo certo. Aí,
outra técnica, como pastel?
vem de volta no e-mail uma coisa toda
B: Uso pincéis 000, 00, 0, 1, 2. Nunca usei pastel, não sei nem a técnica, porque sou
rabiscada, com um comentário assim: “Fa-
alérgico a poeira: o giz escama a minha mão. Já usei tinta acrílica, porque é quase como
zer outro ângulo”. Eu tive que ligar pra lá e
se estivesse pintando com o guache, com efeitos diferentes. Faço no papel Schoeller
dizer que não: em computador você faz o
montado, mas só no 4G, que é liso, o 4R não se encontra mais. Há o 6R, que é bem grosso
ângulo que quiser na hora, mas para dese-
mas não é montado, e para chapados grandes, mesmo encorpado às vezes atrapalha.
nhar, sabe quanto tempo leva?
D: Depois de tantos anos de técnica e material, o que você vê hoje que ainda surpreende?
D: Tantos anos na Artplan e os caras
Há coisas boas feitas em tablet que consigam enganá-lo, como faz William Medeiros?
não sabem como você trabalha?
B: Aprecio quando tem um digital bem feito, e é coisa rara de se ver. Mas tem, sim, ilustração
B: É garotada nova. As agências ficam
imobiliária também, até o Nelson Sadalla, cujo desenho era muito característico, está
contratando estagiário, gente que está
usando computador!
começando, daqui a pouco aprende um
D: Dá vontade de experimentar, ou nunca mais?
experimentar, pouquinho e fica como funcionário,
B: Não. Teria que ser muito mais moço para aproveitar o computador: teria de investir então não tem laços, como é que vai
tempo num aprendizado. Eu não me sinto limitado na minha técnica. O que eu invejo do saber, coitado, nem é culpa dele...
computador é que não é preciso carregar aquelas pranchas enormes, vai tudo no CD.
D: Como você descobriu que virou ce-
D: E o Guta, que fez aquelas séries sobre o Rio em várias épocas, você conhece? Já viu lebridade na internet? Desde quando
trabalho Renner, trabalhava
o trabalho dele antes e depois do computador? O Roberto Renner, que trabalhava com participa de lista de discussão, vai to-
(DESIGNE
ele, na entrevista que nos deu (DESIGNE 1), disse que a grande ferramenta do compu- mar chopinho com a molecada?
tador era o undo, porque clicava e voltava atrás no trabalho sem precisar retocar.
era porque trabalho precisar retocar
etocar. B: Desde o tempo das capinhas da
B: Do Guta lembro daquela série da Praça 15 e outra da Lapa. O retoque é coisa Monterrey, que todo mundo gostava e a
difícil, mas é raro ter de corrigir, porque a prática facilita as coisas. No guache, como gurizada lia, era uma distração, tinha me-
a tinta é opaca, dá para tapar o erro, ao contrário da aquarela: errou, fica errado. nos televisão, não tinha novela todo dia...
D: Dê um bom conselho aos jovens ilustradores. D: Uma coisa que esse pessoal tem
B: O pessoal jovem não está preocupado com disciplina de trabalho. Cumprir prazo, ser que fazer e não faz é um tremendo
correto. Nunca deixei de entregar no dia em que não tivesse prometido, e sempre me dei banco de imagens de referência.
tão bem... Quem solicitava o meu trabalho, naquela época de propaganda em que se lidava B: Ainda tenho meu arquivo de desenhos
com verbas enormes, sabia que podia contar com o que estava contratando, diferente de e recortes de revista. Se alguém me diz:
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7. DESIGNE
“Pô, atualiza, faz um arquivo digital”, o Ziraldo respondeu muito bem no Jô Soares: D: Como é que você cobra, por tama-
“O tempo que vou gastar pra escanear eu estou jogando fora, é tempo que eu gasto nho ou tipo de publicação?
noutras coisas”. Espalhar os desenhos como fazemos aqui, a partir de um arquivo digital, B: É por complexidade do trabalho.
gasta muito mais tempo. Tem que imprimir tudo outra vez. Agora as próprias agências já incluem
no pedido o prazo para utilização da
D: O que é ética no seu trabalho? imagem. Está se tornando uma coisa que
B: É ser honesto, não copiar ninguém, não cobrar menos para pegar o trabalho do você não precisa manifestar.
outro, que acho isso o fim da picada. Mas às vezes vale, quando não se quer fazer o
trabalho, dar um preço além do razoável, que você não prejudica ninguém, pelo D: Usa os contratos padronizados da
contrário, você até está passando trabalho para outro. Sociedade dos Ilustradores do Brasil?
B: Não tenho usado contratos assim por-
D: Já encontrou algum caloteiro? que a SIB está se voltando demais para a
B: Um empresário português de uma pousada lá do Ceará, sabe, para aqueles que vêm área editorial, e parece que tudo que rola
fazer turismo sexual? Encomendou um trabalho, e, como veio indicado por um conhe- ali é pra desenhista de livro infantil.
cido, eu não me cerquei de cuidados. Fiz o trabalho e ele voltou para o Ceará. Não
publicou, mas não me pagou. D: Os que fazem livro infantil acham
que é o contrário. Você está com 50
( designe entrevista benicio >
D: “Não me cerquei de cuidados” ...que cuidados? anos de carreira, está com os filhos
B: Exigir uma parte do pagamento adiantada. Quando não conheço a pessoa, acho criados e tal, já se despediu da Artplan:
perfeitamente cabível. Se for cliente antigo – porque os meus clientes são tão você está pensando em parar?
regulares – ele já sabe o preço que é cobrado. B: Nem penso nisso.
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