1. ALFABETIZAÇÃO COM SENTIDO: POR ONDE COMEÇAR?
- confeccione os crachás dos alunos (aqueles de mesa escrito dos dois lados com letra bastão) e faça uma
entrega solene deste crachá. Ele deve estar todo o dia sobre a mesa e ser trabalhado sempre de forma diferente.
Deves convencer os alunos de que todo dia farão atividades com os crachás, por isso é importante levar todo
dia. Em um dia brinque de ditar as letras e ver quem as têm no seu crachá, comparando-os (fulano tem! quem
mais tem? no início do nome está a letra? no meio? no fim?). O ideal é que as mesas estejam organizadas em U
para que, além de verem seus nomes no verso do crachá, eles possam copiar letras dos crachás dos colegas,
caso precisem para escrever determinada palavra. Em outro dia, ponha os crachás sobre as mesas e peça que
eles sentem onde estiver o seu. Em outro dia, faça um círculo e entregue os crachás trocados e eles devem
encontrar o dono. Em outro, copiar 10 nomes de colegas, olhando seus crachás, no seu caderno. E assim cada
dia uma coisa diferente. O aluno deve copiar seu nome do crachá de sua mesa toda a vez que tiver que escrevê-
lo em uma folha para te entregar. Logo saberão de memória e estas palavras (seu nome e nome dos colegas)
serão teu ponto de partida para alfabetizá-los. Nada de iniciar apresentando vogais soltas no mundo.
- Digite em letra bastão o nome de todos os alunos da turma, tal qual estão escritos no crachá, e faça disso uma
lista que será entregue de presente para que os alunos colem no caderno e consultem sempre que precisarem de
referencial para escrever. Muitas atividades diárias de leitura e escrita podem ser feitas com essa lista. Outras
tantas listas posteriores a essa podem ser pensadas, tais como dos materiais que existem na sala, dos ambientes
da escola, dos combinados da turma; mas, só passe para a próxima, quando achares que a anterior está esgotada.
- insira na sala um alfabeto referencial (aquele que fica em cima do quadro) com a letra bastão maiúscula (ex:
A) e a letra minúscula imprensa (ex: a). Isso deve ser feito na presença e com auxílio da turma. Em cada folha
(letra do alfabeto), veja com eles e, a partir dos crachás, inclua abaixo da letra o nome dos alunos que iniciam
seu nome com aquela letra, ou mesmo que somente a possuem (nos casos em que não há ninguém que a tenha
no início). Se alguma letra ficar sem nomes, logo surgirão no dia a dia de vocês uma que possa se encaixar lá.
Isso é melhor do que pôr BULE, JACA, IGUANA. Eles consultam a ordem do alfabeto para encontrar a letra
que precisam para escrever.
- faça a testagem individualmente com os alunos (4 palavras - uma polissílaba, uma trissílaba, uma dissílaba e
uma monossílaba - e uma frase - que deve conter a mesma palavra dissílaba ditada acima). Esta testagem
deveria ser feita em um horário em que os demais alunos estivessem em alguma aula especializada e tu
pudesses ir levando um por um para uma sala silenciosa. Isso pode levar umas duas semanas. Estas palavras
serão solicitadas ao aluno após uma conversa entre vocês. Dentre as palavras que o aluno disser nesta conversa
informal sobre um assunto de agrado do aluno, é que sairão as palavras que ditará para ele escrever "do melhor
jeito que sabe". Importante, após cada escrita, solicitar que o aluno leia com o dedo o que escreveu para que tu
possas confirmar a hipótese de pensamento dele (entre aquelas apresentadas pela Ferreiro no capítulo 6 da
Psicogênese). Eles devem escrever o nome nesta folha também (da melhor maneira que souberem). Guarde as
testagens, classifique as escritas e monte uma planilha com estes dados. A cada dois meses a testagem deve ser
repetida. Assim, verás a evolução das hipóteses deles sobre a escrita e podes ver quem não está avançando nas
suas aprendizagens. Invista nestes!
2. - faça muitos trabalhos em grupo, nos quais eles em conjunto devam te entregar uma única folha como
resultado coletivo, com nome escrito por cada um. Exemplo: cada grupo deve inventar uma história
coletivamente e te entregar.
- faça muitos textos coletivos, principalmente de contos de fadas conhecidos por eles e de cantigas infantis
também conhecidas deles. Diga que escreverão a história da Chapeuzinho Vermelho. Eles vão ditando e tu vais
escrevendo. Depois faça mil atividades orais coletivas com eles, tais como "onde está escrito LOBO? Como
descobriram? Quantas palavras têm nesta frase? Qual outra palavra começa com esta letra?". Ao final, os
alunos copiam os textos no caderno ou em uma folha que será encadernada junto com outros textos coletivos e
que virará um livro de histórias para cada um ler em casa no final do ano.
- com essas músicas e histórias conhecidas, peça que individualmente escrevam elas. Diga que, mesmo que não
saibam escrever como está nos livros, tu queres ver eles escreverem suas histórias da melhor maneira que
conseguem.
- faça o TESOURO de cada aluno. Presenteie cada um com um envelope colorido no qual estará escrito em
letra bastão o nome dele. Depois, tal qual a testagem, vá chamando-os individualmente, de preferência com os
outros em outro espaço, ocupados com outra coisa, e diga a cada um que aquele envelope será a partir daquele
dia o seu TESOURO e que ali dentro ele poderá guardar 10 coisas que são muito importantes para ele (são seus
tesouros), tal como coisas que ele gosta de comer, pessoas que ele gosta, nomes de brinquedos, coisas que ele
gosta de fazer, etc. Leve recortado os 10 papéis para cada envelope de teus alunos. Diga a cada um deles
individualmente que te ditem as palavras que representam seus tesouros e que serão guardadas no seu envelope.
Ele te dita as 10 e tu escreves com letra bastão as 10 palavras (uma em cada papel) lendo-as para o aluno.
Depois peça que ele guarde seu tesouro com carinho de quem guarda algo importante, de quem guarda o que
ama. Informe que este tesouro deve ser trazido diariamente para sala, pois o ajudará a mostrar letras que
poderão ajudá-lo a escrever outras palavras que queira (usando-o como referencial, com sentido, para consultas
a letras). É possível pôr no envelope uma folha de ofício dobrada na qual escreverás as 10 palavras. Com isso, o
aluno pode fazer pareamento com as fichas ao lado das palavras e muitas outras relações (letra inicial, etc).
-faça dicionário com eles. Cada folha uma letra na ordem do alfabeto e diariamente vocês incluem no dicionário
umas 5 palavras novas que aprenderam (nos textos coletivos, nas histórias contadas por ti) naquela tarde.
- todo o dia leia um texto para eles (livro de literatura, notícia de jornal, panfleto, etc). Se possível, deixe-os
"ler" para ti e contar histórias "lendo" para os colegas.
- confeccione jogos de bingo nos quais cada aluno receberá uma cartela. Os bingos podem ser só de letras
(assim aprendem mais o nome das letras), de nomes dos colegas, palavras das listas ou do dicionário). Cada
cartela pode ter 5 palavras em letra bastão. Tu sorteias, ditas e eles marcam com uma bolinha de papel. Quem
completar primeiro vence. Este jogo pode ser feito duas vezes na semana.
- escrita coletiva (tu escreves, eles ditam) de relatos/narrativas de experiências (feijão, margarida, etc) que
fizeram, como fizeram, o que usaram, e seus resultados. Pode ser também relatório de um passeio. Pode ainda
ser as regras de um jogo que frequentemente brincam. Depois eles copiam no caderno estes textos.
-Entregar com letra bastão xerox de letras de música para brincar de encontrar palavras, tal qual no texto
coletivo;
3. - Xerox com cruzadinhas, caça-palavras, com palavras do dicionário, das listas, etc.
Busque trabalhar diariamente com letras, palavras e textos, mas, como observaste nas minhas sugestões, essas
não podem ser descontextualizadas, pois senão vira memorização. Nada de uma letra por dia, pois elas estão
todas juntas na rua. Tudo deve partir do vivido, do experienciado, do real do cotidiano deste grupo específico.
Como sugestão de leitura, os três livros da Esther Pillar Grossi: Didática do nível pré-silábico; Didática do nível
silábico; e Didática do nível alfabético. Para completar, a teoria do livro "Alfabetizando sem o BA-BE-BI-BO-
BU", do Cagliari.
Estas ideias estão inspiradas e surgiram a partir da proposta de alfabetização do GEEMPA.
Espero que tais sugestões contribuam para a sua prática de alfabetizadora!
Um abraço, Profª Zoraia