Testes clínicos mostraram que o uso do medicamento Truvada antes e depois de relações sexuais reduziu em 86% o risco de infecção pelo HIV entre homens gays. Os testes foram realizados na França e Canadá com 414 homens. Apesar dos resultados promissores, as autoridades de saúde americanas alertaram para os riscos do método e enfatizaram que preservativos continuam sendo a principal forma de prevenção.
1. Novos testes apontam eficácia de remédio na prevenção da AIDS.
Testes clínicos apresentados nos Estados Unidos nesta terça-feira (24)
indicaram que o uso do Truvada, um coquetel de antirretrovirais, antes e depois
de relações sexuais, teria reduzido em 86% o risco de infecção pelo vírus da
Aids. Os resultados foram apresentados durante uma conferência em Seattle.
De acordo com a Agência francesa de pesquisa sobre a Aids (ANRS, na
sigla em francês), mesmo se vários estudos sobre o uso do coquetel de
medicamentos já haviam sido realizados no passado, essa é a primeira vez
que o uso desses antirretrovirais no momento das relações sexuais entre
homens oferece uma proteção elevada contra o vírus. Os resultados da
pesquisa, batizada de Ipergay, foram apresentada na Conferência sobre
retrovírus e infecções oportunistas (CROI, na sigla em inglês), que acontece
esta semana nos Estados Unidos.
O teste foi realizado em 414 homossexuais, com idade média de 35
anos, na França e no Canadá. A metade de grupo usou um placebo e a
restante usou o Truvada antes e depois das relações sexuais. Segundo o
professor Jean-Michel Molina, do hospital parisiense Saint-Louis, que
coordenou as pesquisas, cerca de 70 dos participantes da experiência não
utilizavam sempre preservativo e mantinham cerca de dez relações sexuais por
mês, com parceiros diferentes.
Após 13 meses de teste, 16 dos pacientes haviam sido infectados, 14
deles no grupo que usava um placebo e dois no grupo que usava o Truvada,
mas que pararam o tratamento semanas antes do aparecimento da infecção.
Os números representam uma redução de 86% no risco de infecção.
Preservativo continua sendo a principal forma de prevenção
2. O professor Molina disse durante uma entrevista coletiva que os
resultados obtidos são “melhores do que uma vacina”. No entanto, o médico
ressaltou que “o preservativo contina sendo, por enquanto, a melhor
prevenção”.
Um outro estudo de pesquisadores britânicos, batizado de Proud,
também mostrou uma redução de 86% no risco de infecção entre os gays que
usaram o Truvada diariamente. O coquetel do laboratório norte-americano
Gilead Sciences, composto de uma mistura tenofovir com emtricitabina, já
havia demonstrado que, se tomado todos os dias, permitia uma diminuição do
risco de infecção pelo HIV de cerca de 44% entre homens homossexuais. Mas
nesses primeiros testos, alguns dos participantes não seguiram o tratamento
regularmente.
De acordo com Bruno Spire, presidente da associação AIDES e um dos
pesquisadores que participou dos testes do Ipergay, a França registra
atualmente 6.400 novos casos de contaminação por ano, dos quais 43% são
homossexuais. O programa continua até março de 2016.
Autoridades sanitárias americanas alertam para risco dos testes
As autoridades sanitárias norte-americanas saudaram os resultados do
teste. No entanto, o Centro de controle e de prevenção de doenças (CDC, na
sigla em inglês), alertou para os riscos da experiência. “Os pesquisadores não
sabem se esse método seria eficaz em homossexuais que tenham um número
menor de relações sexuais e que, nesse caso, tomariam menos Truvada”,
declarou por meio de um comunicado Jonathan Mermin, diretor do Centro
nacional da Aids do CDC. Já para Carl Dieffenbach, diretor da divisão Aids do
Instituto norte-americano de alergias e doenças infecciosas (NIAID, na sigla em
inglês), os resultados do Ipergay apresentados em Seattle “são um avanço (...)
mas não são uma revolução”.
3. Fonte de pesquisa
Aids/Saúde -
Artigo publicado em 25 de Fevereiro de 2015 - Atualizado em 25 de Fevereiro
de 2015
http://www.portugues.rfi.fr/ciencias/20150225-novos-testes-apontam-eficacia-
de-remedio-na-prevencao-da-aids