3. A centralização dos cuidados de saúde nos
Hospitais levou a uma transição da morte, que
outrora ocorria em casa, para dentro do Hospital
Levou igualmente a que os profissionais de saúde
substituíssem progressivamente a família, no acto
de cuidar na morte.
O estilo de vida do séc. XX tornou irreversível este
processo.
4. Os profissionais de saúde nos hospitais,
transformaram-se nos maiores responsáveis pelo
curso da vida e da morte.
As pessoas deixaram de pensar como aceitáveis
outras formas de morrer que não no Hospital
As sociedades deixaram de lidar globalmente com
a morte, porque esta foi transferida para
“profissionais qualificados para lidar com a
mesma”
A família passou a ser menos presente no processo
de morrer.
5. A formação essencial dos profissionais de saúde
diz-lhes que vão diagnosticar, tratar, curar ou
estabilizar sintomas e doenças mais ou menos
graves.
O profissional de saúde vê-se no final da sua
formação como um “ Conserta tudo” em busca da
solução que tudo fará regressar a um estado de
normalidade.
O que o contacto com pacientes que morrem diz
aos profissionais de saúde é que não é possível
fazê-lo sempre.
6.
7. Todas as culturas ancestrais e todas as religiões do
Mundo se ocupam intensa e ritualmente dos seus
moribundos e dos seus mortos
Todas formam e orientam as pessoas no sentido
de encontrar conforto e resposta para as mais
antigas questões humanas perante a morte
No paradigma humanista cientifico das sociedades
do Ocidente a vida apenas termina e os poucos
rituais são delegados em estranhos.
8. Tem sido demonstrado que o contacto com a morte é o
aspecto que mais contribui para o desgaste emocional dos
profissionais de saúde e que o contacto prolongado com a
morte se caracteriza nestes por sintomas muito
semelhantes aos do luto por pessoas próximas.
A formação é o factor que mais se associa a uma melhor
adaptação psicológica ao contacto prolongado com a morte,
em todos os grupos de profissionais.
No que se refere ao contacto com a morte vários estudos
indicam que ao nível da formação pré-graduada a oferta
formativa nesta área ainda apresenta um vazio importante
a preencher.
9. Ferrel et al (1999): Analisaram os 50
manuais de formação pré-graduada
mais utilizados em enfermagem e
constataram deficiências graves na
área dos cuidados em final de vida,
morte e luto.
Rabow et al (2001): Analisaram
conteúdos dos 50 principais manuais
de formação médica pré-graduada, e
verificaram que 47 dos mesmos não
se referiam de todo à questão da
morte ou luto e que os restantes
apenas referiam o tema
superficialmente relacionando-o com
a geriatria.
10. Trush et al (1979): Através de inquéritos passados
em 226 escolas de Enfermagem dos EUA,
constataram que apenas 5%, apresentavam
unidades curriculares obrigatórias nas quais se
abordava o tema da morte e do luto
Dickinson et al (1991): Através de inquéritos a
todas as escolas de Medicina e Enfermagem nos
EUA, constatou que 50% das mesmas abordavam
o tema da morte apenas em aulas pontuais mas
não em unidades curriculares específicas para tal.
11. Doyle (1991). Através de inquéritos realizados em
todas as faculdades de Medicina do Reino Unido
concluiu que no final dos cinco anos formativos, todos
os alunos teriam recebido em média seis horas de
formação obrigatória sobre o tema da morte e do luto
Buss et al (1998) num inquérito a 426 alunos finalistas
de Medicina em Inglaterra, 98% dos alunos reportava
ter tido insuficiente preparação e contacto para lidar
com pacientes em fase final de vida.
12. Sullivan et al (2003), através de um inquérito a 1445
estudantes finalistas e professores de 62 faculdades de
medicina dos EUA, constataram que apenas 18% dos
envolvidos reportavam ter recebido algum treino formal
na área do contacto com a morte, 39% afirmava não
estar preparado para interagir com pacientes em fase
final de vida e 50% disse não saber lidar com os seus
próprios sentimentos face à morte.
13. Formações pioneiras
Integrados num Manual direccionado para a
formação avançada na área da Morte e do Luto,
Quint Benoliel (1982) reuniu várias propostas
formativas de grande interesse.
As propostas variam no tempo, no público alvo, no
regime de frequência e na fase de formação à qual
se destinam.
14. Swain e Coles (1982)
Disciplina semestral optativa
num curso de enfermagem no
Wisconsin com 30 horas de
duração e com vários
objectivos integrados de
aprendizagem
Crenças e atitudes perante a
morte
Processo de luto e suas tarefas
Mecanismos de coping com a
perda
Luto e fases de desenvolvimento
Aspectos legais e éticos da morte
Diferenças socioculturais na
morte
Comunicação dos enfermeiros
com o paciente em fase final de
vida
Sintomas de desgaste no
enfermeiro
15. Degner et al (1982)
Unidade curricular
obrigatória para estudantes
do terceiro ano de
enfermagem com a duração
de um semestre na
Universidade de Manitoba
Para além das aulas teóricas
incluia contacto
supervisionado em
unidades de cuidados
paliativos, serviços de
oncologia e domícilios de
pacientes em fase final de
vida
História dos cuidados
Paliativos
Enquadramento ético-legal
dos cuidados em final de vida
Alívio de sintomas em fase
final de vida
Comunicação com paciente e
família
Impacto do cuidado no
profissional de saúde
16. Goodell et al (1982):
Proposta formativa de 3 seminários de 4 horas, para
alunos do segundo ano de Medicina ( 1-Atitudes face à
Morte, 2- Papel do Médico junto do paciente em fase
final de vida e sua família, 3- Papel do Hospital, da
Família e da Comunidade face ao paciente em fase
final de vida).
Como metodologia utilizava a visualização e discussão
de filmes relevantes e entrevistas a pacientes em fase
final de vida.
17. Bertman et al (1982) . Curso
livre de seis seminários de
90 minutos em seis
semanas consecutivas para
licenciados em diversas
áreas da saúde em
Massachussets
Complementado com
contacto com pacientes no
final do curso
Consciência face à doença e à
Morte, Informação e
Comunicação
Atitudes e Crenças face à Morte
Gestão de Comunicações
difíceis e Conflitos
Avaliação de sintomas de mal
estar psicológico no paciente
Dilemas éticos para o
profissional de saúde face à
morte
Enquadramento histórico da
morte, rituais funerários e
crenças de vida para além da
morte
18. McCorkle (1982)
Desenvolveu uma pós-graduação de 1 ano para
enfermeiros de cuidados domiciliários com o objectivo
de preparar a intervenção em vários cenários em fase
final de vida.
2 horas semanais divididas em três fases especificas :
Período que antecede a Morte, Período em que ocorre
a Morte e período depois da Morte
Estágios e supervisão de casos acompanhados.
19. A partir de 1995 a maioria das Associações Americanas
de saúde salientou a importância de formação
especializada para profissionais que lidam com a
morte dos seus pacientes.
Desde 1996 a American Academy of Hospice and
Paliative Medicine desenvolve programas pós-
graduados para médicos e enfermeiros
Desde 1998, a American Medical Association
apresenta formação presencial e à distância para
médicos denominada de “ Education for the
Physicians on End-of-Life Care”
20. Desde 2000, a American Association of Colleges of
Nursing tem um programa pós- graduado : “ End of Life
Nursing Education Curriculum” com nove módulos
intensivos de formação no apoio em final de vida.
Desde 2003, o Cancer and pain Symptom Managment
Nursing research group, desenvolveu um programa pré-
graduado em formato multimédia : “ Toolkit for
nurturing excelence in end of life transitions”, com seis
módulos destinados a ser ministrados como apoio em
aulas de enfermagem.
Outras Formações têm surgido na área um pouco por
todo o mundo em Unidades de Cuidados Paliativos como
o seguindo o exemplo do St Christophers Hospice
21. A formação em cuidados paliativos mostra desde 1999
algum desenvolvimento.
Formações em Luto em Cuidados Paliativos estenderam-
se da Faculdade de Medicina de Lisboa para a
Universidade Católica (Porto e Lisboa) e mais
recentemente, decorrem mestrados equivalentes, em
várias escolas superiores de Saúde.
Ao nível pré-graduado uma análise curricular mais
profunda mostra que apenas em alguns currículos o
tema é pontualmente abordado ou aparece com carácter
opcional.
22. Praticamente toda a formação que analisamos não
é parte obrigatória na formação de profissionais de
saúde que vão lidar de perto com a morte.
Os conteúdos são tão variáveis na forma e na
duração que nem sequer são comparáveis em
termos de impacto
A avaliação de mudanças atitudinais ou
comportamentais nos profissionais de saúde é
raramente feita de forma adequada.
23. Após avaliação de todos os conteúdos ministrados
na área da Educação para a morte em
Profissionais de Saúde foi elaborado e proposto ao
CTC um programa de UC obrigatória na formação
base de profissionais de saúde na Escola Superior
de Saúde Egas Moniz.
Após aprovação do mesmo foi aprovado para ser
ministrado desde 2007/2008.
24. 1) O contacto com a morte e seu impacto ao longo
da História da Humanidade
2) A morte e os profissionais de saúde ao longo da
História
3) Diferentes perspectivas religiosas e rituais
perante a morte. A questão da vida depois da
Morte
4) A Morte ao longo do ciclo de vida e seu impacto
25.
26.
27.
28. 5) O Processo de Luto : fases, tipos e
Intervenção
6) Comunicações difíceis em torno da morte e
do luto envolvendo crianças ou adolescentes
7) Consequências da exposição à morte e a
outros aspectos stressantes nas profissões de
saúde
29. 8) Impacto das atitudes perante a morte no
comportamento dos profissionais de saúde
9) Avaliação do stress ocupacional em profissões de
saúde em contacto com a morte
10)Estratégias de coping e métodos de intervenção
no stress ocupacional
30. Com o objectivo de avaliar o impacto da UC e da
metodologia pedagógica foram passados
questionários para avaliar as Atitudes Perante a
Morte e o bem estar psicológico no inicio e no final
da UC.
31. Uma análise estatística inicial revelou que os
resultados dos alunos que receberam a formação
têm relativamente ao inicio da formação mostram
que a atitude consideradas negativas de
evitamento e de medo da morte diminuem
significativamente e se mantêm estáveis ao longo
de um ano lectivo. Os níveis de bem estar
psicológico são significativamente superiores aos
dos alunos que não receberam formação.