3. 4
Introdução
O presente projeto foi desenvolvido para os adolescentes do Lar Fabiano de
Cristo, visando através de uma orientação profissional informar e orientá-los em suas
escolhas profissionais.
A questão do trabalho na adolescência é complexa, estando associada
principalmente à pobreza, à desigualdade e à exclusão social existentes tanto no
Brasil quanto em outros países. Outros fatores de natureza cultural, econômica e de
organização social da produção implicam também pelo seu agravamento (FRANKLIN
et al., 2001, p.80). Contudo nos últimos anos tem se caracterizado por uma
valorização da mão de obra adolescente, seja por causa da criação de leis que apoiam
o trabalho dos adolescentes e determinam que os estabelecimentos tenham de 5 a
15% de adolescentes como parte do quadro de funcionários (Silva, 2006), ou também
para uma inserção cada vez maior dos adolescentes no mercado de trabalho, para
retira-los da ociosidade e possível marginalidade.
Em muitos momentos o jovem escolhe a profissão sem ter conhecimento de si
mesmo nem do mundo do trabalho, o que poderá gerar um desinteresse futuro pela
profissão escolhida (Soares, 2002). Ou seja, a perda do sentido no trabalho é cada
vez mais associada a falta de identificação com a atividade que realiza, por isso
considera-se o autoconhecimento como um fator importante na orientação
profissional.
A adolescência é uma fase do desenvolvimento marcada por inúmeras
mudanças significativas em seus aspectos sociais, familiares, físicos e psicológicos,
por isso tona-se necessário compreender um pouco sobre esta fase do
desenvolvimento para auxiliar o processo de orientação
profissional e compreensão dos problemas sociais que envolvem a adolescência.
Erikson apresentou a adolescência a partir do conceito de moratória e a
caracterizou como uma fase especial no processo do desenvolvimento, na qual a
confusão de papéis, as dificuldades para estabelecer uma
4. 4
identidade própria a marcavam como “...um modo de vida entre a infância e a
vida adulta” (Erickson, 1976, p.128, apud Bock, 2007, p. 64).
Uma das características da adolescência é a confusão de papéis, portanto o
trabalho do orientador profissional começa em ajudar este adolescente em seu
processo de autoconhecimento.
As dificuldades dos jovens em relação a uma escolha profissional sempre estão atreladas a não
definição de um autoconceito; à insegurança; à falta de informações sobre os cursos, o mercado de
trabalho e as profissões; bem como a medos que fazem parte do momento psicossocial da
adolescência (Carvalho, 1995, apud Jacinto et al.).
O movimento da orientação profissional permeia o autoconhecimento, as
informações sobre as profissões e o mercado de trabalho, como as questões pessoais
que estão associadas nesse processo de escolha. A família geralmente é um grande
influenciador das escolhas dos adolescentes, inclusive sobre suas escolhas
profissionais. A orientação visa conduzir o adolescente para que ele se perceba como
parte ativa em suas escolhas e o quanto pode estar sendo influenciado pela família,
rede de apoio e pela sociedade. Como aponta Carvalho (1995, apud Jacinto et al.) a
orientação profissional é o processo de fazer o indivíduo descobrir e usar seus dotes
naturais e tomar ciência das fontes de treinamento disponíveis, a fim de que possa
viver de modo a tirar o máximo proveito para si próprio e para a sociedade.
Para isso, é necessário que o psicólogo haja de forma compreensível e atuante com o orientando,
descobrindo e trabalhando tudo que englobe a sua identidade, ou seja, tudo no âmbito “biológico,
psicológico, social, cultural e histórico”, bem como as circunstâncias do momento da escolha, sejam
elas subjetivas, objetivas ou externas ao indivíduo (Carvalho, 1995, apud Jacinto et al.).
A construção da escolha profissional, se fosse mais difundida nas escolas os
adolescentes estariam mais preparados para tomar suas decisões na escolha de sua
profissão. Conhecendo melhor as profissões, quebrando alguns tabus como a
qualificação profissional através de outras instituições e instâncias que não
simplesmente de nível superior. Mas a escola, como instituição representante da
educação, tem sustentado a estrutura social vigente, pois ela transmite muitas vezes
conceitos desvinculados da realidade na qual o adolescente está inserido, visando
apenas o seu enquadramento no mercado de trabalho, pois a educação está voltada
para o futuro (na grande maioria das vezes profissional) do aluno. Com isto, verifica-
se que a escola apenas transmite informações e que, ao invés de promover a
mudança, ela conduz a uma inércia social, preservando, assim, os privilégios de uma
elite na qual o sistema educacional serve, negligenciando grandes parcelas da
população. "A educação precisa promover criação e integração como fatores de
5. 5
melhor organização do povo, do seu aperfeiçoamento. Para isso, precisa estar bem
adaptada à realidade sócio-cultural onde funciona" (ADAMO, 1987, p.60, apud
Fernandes et al.).
Portanto, a orientação profissional é de suma importância para auxiliar o
adolescente inserido sob tais contextos sociais, culturais, pessoais e políticos. E tem
por objetivo:
Capacitar a pessoa a fazer uma escolha. Para isso, o profissional deve considerar o orientando com
sendo um ser ativo, com possibilidades de constante desenvolvimento, que busca conhecer suas
potencialidades e ao mesmo tempo aumentar sua consciência do meio em que vive. No aprimoramento
de uma visão sistêmica do mundo, o orientando se aproxima de uma posição mais clara do que será
sua atividade de trabalho. (Lago, 2017, p. 11)
A escolha profissional do adolescente é compreendida pela sociedade como
uma passagem, entrada no mundo adulto (Lago, 2017, p. 10). Nesse momento a
qualidade do vínculo familiar construído com o jovem pode facilitar ou dificultar o
processo de individualização que o adolescente terá que vivenciar para chegar à sua
autonomia pessoal e profissional.
Rogers apud Fadiman (1979) apontam que no processo de escolha da
profissão o jovem considera não só as suas expectativas, mas também os valores e
crenças pertencentes à família. Ele divide com seu meio as possibilidades futuras.
Para definir nosso self, precisamos estar em um estado de aceitação incondicional
positiva. A história que o jovem tem com sua família é a estrutura para a sua
identidade, mas, para concretizar a visão de quem ele é, diferenciando-se dos demais,
o jovem precisa reconfigurar sua história.
O projeto de vida visita o passado que interiorizamos, remete ao futuro que
esperamos, mas se concretiza na relação que estabelecemos de consciência do
agora, das condições do meio e das possibilidades reais. E a orientação profissional
possibilita um suporte para este adolescente compreender melhor seus anseios e
suas escolhas profissionais (Lago, 2017, p. 23).
Justificativa
Este é um projeto de grande relevância para a psicologia, pois, além de
contribuir cientificamente para a área da orientação profissional, também colaborará
para os adolescentes do Lar Fabiano de Cristo em seus processos de escolha
6. 6
profissional, obtendo um maior conhecimento de si mesmo, sobre as profissões e o
mercado de trabalho.
Objetivo Geral
Orientar os adolescentes em seu processo de escolha profissional.
Objetivos específicos
Desenvolver o autoconhecimento para auxiliar na escolha profissional.
Auxiliar na identificação dos perfis profissionais dos adolescentes.
Refletir sobre as profissões de acordo ao perfil obtido.
Método
O público alvo são os adolescentes entre 15 e 18 anos do Lar Fabiano de
Cristo. Com duração de duas horas por encontro, totalizando entre 6 a 10 encontros,
que irão ocorrer semanalmente. O primeiro e o segundo encontro serão individual, no
primeiro será feito uma entrevista semiestruturada e aplicação de um teste
profissional. No segundo encontro diante dos dados obtidos haverá um momento para
que o adolescente coloque algumas questões pessoais que compreende como
relevante para o processo. A partir do terceiro encontro será em grupo e as atividades
a serem desenvolvidas contemplarão o autoconhecimento, descrição de profissões,
empoderamento do adolescente em seus processos de escolhas e atividades lúdicas
tendo por pano de fundo os temas citados.
Recursos humanos e materiais
Os orientadores serão estudantes de psicologia que estejam cursando a partir
do 8º semestre com orientação de um psicólogo. Os materiais a serem utilizados são:
teste profissional impresso, jogos de orientação profissional.
7. 7
Cronograma
DATA PROPOSTA ATIVIDADE RECURSO REFERÊNCIA
1º
Encontro
Conhecer o
perfil
profissional.
Aplicação do
teste
profissional .
Computador
com acesso
a internet.
A definir.
2º
Encontro
Levantamento
das
expectativas.
Sessão
individual e
aplicação do
curtograma
para
conhecer o
que eles
curtem ou
não fazer.
Papel com a
estrutura do
curtograma
impresso e
lápis.
A definir.
3º
Encontro
Integração
com o grupo
Dinâmica de
integração.
Papel em
branco e
caneta.
Dinâmicas de
interação são
importantes
ferramentas para
integrar, unir e
possibilitar que
criem laços que
poderão
contribuir com as
atividades
(Marques, 2015).
4º
Encontro
Conhecer as
profissões.
Aplicação de
um jogo de
O.P.
Jogo de
orientação
profissional.
Nesse sentido o
lúdico pode
contribuir de
forma
significativa para
o
desenvolvimento
do ser humano,
seja ele de
qualquer idade,
auxiliando não só
na
aprendizagem,
mas também no
desenvolvimento
social, pessoal e
cultural,
facilitando no
processo de
socialização,
comunicação,
expressão e
construção do
8. 8
pensamento
(Tavares, 2002,
apud Longo,
2009).
5º
Encontro
Análise e
reflexão das
escolhas
profissionais.
Descrever as
profissões
que a família
gostaria que
escolhessem
e quais eles
realmente se
identificam.
Papel em
branco e
lápis
coloridos.
No processo de
escolha da
profissão o jovem
considera não só
as suas
expectativas,
mas também os
valores e crenças
pertencentes à
família. Ele divide
com seu meio as
possibilidades
futuras, como
aponta Rogers
apud Fadiman
(1979).
6º
Encontro
Elaborar o
projeto de
vida.
Descrever
metas para
alcançar o
objetivo
(profissão
escolhida),
levantar
possíveis
obstáculos e
o que fazer
para superá-
los.
Papel
pautado e
caneta.
Orientação
profissional é
capacitar a
pessoa a fazer
uma escolha.
Para isso, o
profissional deve
considerar o
orientando com
sendo um ser
ativo, com
possibilidades de
constante
desenvolvimento,
que busca
conhecer suas
potencialidades e
ao mesmo tempo
aumentar sua
consciência do
meio em que vive
(Lago, 2017).
Considerações finais
9. 9
O projeto pretende demonstrar o quanto é importante a orientação profissional
na adolescência. Os adolescentes que participarão do projeto poderão se perceber
como sujeitos ativos no processo de escolha profissional e como é relevante pensar
em quais profissões possuem uma maior afinidade, e que suas decisões no momento
presente repercutirão em seu futuro profissional.
É muito importante que a orientação profissional seja mais difundida entre os
adolescentes para que tenham um auxílio em seu processo de escolha profissional,
contemplando as dificuldades que englobam a adolescência enquanto fase do
desenvolvimento humano.
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