O documento discute como o sistema prisional nos Estados Unidos assumiu um papel central na administração da pobreza através de três mecanismos: 1) disciplinando os segmentos mais baixos do mercado de trabalho; 2) artificialmente reduzindo a taxa de desemprego ao retirar milhões de indivíduos desqualificados da força de trabalho; e 3) fornecendo um grande número de empregos no setor prisional.
Ri etnias, grupos minoritários, nacionalismos, conflitosFelix
O documento discute as relações complexas entre cidadania, direitos humanos e Estados-nação. Aborda temas como etnias minoritárias, nacionalismos, conflitos urbanos e como esses fatores desafiam os direitos humanos. Também analisa como a globalização e o neoliberalismo enfraqueceram os Estados e suas políticas de proteção social, levando a uma ascensão do "Estado social-policial".
Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XXValter Gomes
O documento discute a evolução histórica dos direitos humanos no Brasil. Apesar de a Constituição de 1988 garantir esses direitos, na prática eles ainda não são totalmente respeitados, como demonstram os altos índices de violência, pobreza e desigualdade social. É um desafio diminuir as incongruências entre o discurso sobre direitos e a realidade vivida no país.
O documento discute as raízes da crise brasileira, identificando três principais causas: 1) a cultura do patrimonialismo, que tornou o Estado ineficiente e corrupto; 2) a transição para o socialismo, liderada por intelectuais e partidos de esquerda; 3) a falta de capacidade em definir valores nacionais. Essas causas convergem e fragilizam a democracia, contribuindo para um possível colapso institucional e a implantação de um regime socialista.
O documento discute a exclusão social no Brasil e no mundo capitalista. Aponta que cerca de 21% da população brasileira está excluída da atividade produtiva, formando um "exército de reserva" permanente. Programas de transferência de renda como o Bolsa Família são considerados paliativos que não resolvem a exclusão estrutural inerente ao sistema capitalista. Uma nova ordem social e econômica seria necessária para garantir trabalho a todos e reduzir desigualdades de fato.
1) O documento apresenta uma peça teatral de Chico Buarque e Paulo Pontes chamada "Gota D'Água", que discute o capitalismo radical que vem sendo implantado no Brasil e seu impacto nas classes sociais.
2) A peça argumenta que o capitalismo brasileiro tem cooptado os melhores quadros da classe média, dando-lhes novas funções, ao mesmo tempo em que intensificou o empobrecimento da maioria da população.
3) Antes, a economia brasileira relegava a classe média à marginalidade, estim
A violência contra a mulher no Brasil persiste devido às raízes históricas e ideológicas da sociedade patriarcal. A cultura machista normaliza a violência e dificulta a punição dos agressores, enquanto o sistema jurídico é lento. É necessária uma mudança cultural que promova a igualdade de gênero para erradicar a violência.
Redações nota 1000 no enem 2015 por Manoel Nevesma.no.el.ne.ves
1) O documento discute a persistência da violência contra a mulher no Brasil, apesar dos avanços legais e sociais. A violência é fruto de valores machistas enraizados que inferiorizam as mulheres.
2) Há dificuldades em denunciar agressores, especialmente na esfera doméstica, devido a laços familiares. A mídia também reproduz estereótipos de gênero que reforçam a noção de inferioridade feminina.
3) É necessário que o governo, escolas e mídia combatam o pre
Ri etnias, grupos minoritários, nacionalismos, conflitosFelix
O documento discute as relações complexas entre cidadania, direitos humanos e Estados-nação. Aborda temas como etnias minoritárias, nacionalismos, conflitos urbanos e como esses fatores desafiam os direitos humanos. Também analisa como a globalização e o neoliberalismo enfraqueceram os Estados e suas políticas de proteção social, levando a uma ascensão do "Estado social-policial".
Folhetim do Estudante - Ano II - Núm. XXValter Gomes
O documento discute a evolução histórica dos direitos humanos no Brasil. Apesar de a Constituição de 1988 garantir esses direitos, na prática eles ainda não são totalmente respeitados, como demonstram os altos índices de violência, pobreza e desigualdade social. É um desafio diminuir as incongruências entre o discurso sobre direitos e a realidade vivida no país.
O documento discute as raízes da crise brasileira, identificando três principais causas: 1) a cultura do patrimonialismo, que tornou o Estado ineficiente e corrupto; 2) a transição para o socialismo, liderada por intelectuais e partidos de esquerda; 3) a falta de capacidade em definir valores nacionais. Essas causas convergem e fragilizam a democracia, contribuindo para um possível colapso institucional e a implantação de um regime socialista.
O documento discute a exclusão social no Brasil e no mundo capitalista. Aponta que cerca de 21% da população brasileira está excluída da atividade produtiva, formando um "exército de reserva" permanente. Programas de transferência de renda como o Bolsa Família são considerados paliativos que não resolvem a exclusão estrutural inerente ao sistema capitalista. Uma nova ordem social e econômica seria necessária para garantir trabalho a todos e reduzir desigualdades de fato.
1) O documento apresenta uma peça teatral de Chico Buarque e Paulo Pontes chamada "Gota D'Água", que discute o capitalismo radical que vem sendo implantado no Brasil e seu impacto nas classes sociais.
2) A peça argumenta que o capitalismo brasileiro tem cooptado os melhores quadros da classe média, dando-lhes novas funções, ao mesmo tempo em que intensificou o empobrecimento da maioria da população.
3) Antes, a economia brasileira relegava a classe média à marginalidade, estim
A violência contra a mulher no Brasil persiste devido às raízes históricas e ideológicas da sociedade patriarcal. A cultura machista normaliza a violência e dificulta a punição dos agressores, enquanto o sistema jurídico é lento. É necessária uma mudança cultural que promova a igualdade de gênero para erradicar a violência.
Redações nota 1000 no enem 2015 por Manoel Nevesma.no.el.ne.ves
1) O documento discute a persistência da violência contra a mulher no Brasil, apesar dos avanços legais e sociais. A violência é fruto de valores machistas enraizados que inferiorizam as mulheres.
2) Há dificuldades em denunciar agressores, especialmente na esfera doméstica, devido a laços familiares. A mídia também reproduz estereótipos de gênero que reforçam a noção de inferioridade feminina.
3) É necessário que o governo, escolas e mídia combatam o pre
O documento discute como os termos "esquerda" e "direita" são imprecisos e não refletem a complexidade ideológica. Muitos governos autoritários se apropriaram de ideologias tanto de esquerda quanto de direita para justificar suas ações. Além disso, países passaram por períodos tanto de liberalismo econômico quanto de estatismo, independentemente de serem governados por esquerda ou direita.
O documento discute as oligarquias partidárias brasileiras, a hegemonia econômica e a corrupção no país. Afirma que a elite econômica e política não tem interesse em promover mudanças que beneficiem os pobres, e que a desigualdade e a corrupção mantêm o status quo. Também critica a mídia por criminalizar movimentos sociais legítimos.
Discussão maioridade penal e internação compulsória sérgio botton barcellosUFPB
O documento discute as políticas de internação compulsória e redução da maioridade penal no Brasil. Argumenta que essas políticas criminalizam a pobreza e os jovens e são usadas para "higienizar" as cidades para os megaeventos esportivos, violando direitos humanos. Também aponta que a violência atinge mais os jovens negros e pobres, que são as principais vítimas, não os causadores dos problemas.
1) O documento discute o acesso de negros às universidades públicas no Brasil e o movimento por ações afirmativas.
2) Historicamente, as demandas do movimento negro evoluíram de combater o preconceito para combater a discriminação racial e desigualdades.
3) Recentemente, o foco passou a ser pedir ações afirmativas do governo para promover a inclusão de negros no ensino superior, especialmente nas universidades públicas.
1) O documento discute o enigma da persistência e crescimento da pobreza no Brasil, que atinge até trabalhadores urbanos integrados na economia.
2) A pobreza brasileira é imensa e persistente, apesar do desenvolvimento econômico e institucional do país.
3) A autora argumenta que a pobreza reflete o autoritarismo e exclusão da sociedade brasileira, onde desigualdades sociais são grandes e os pobres são vistos como inferiores.
Este documento descreve a Lei Maria da Penha, uma importante conquista para as mulheres brasileiras que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres. A lei é nomeada em homenagem a Maria da Penha, que sofreu tentativas de assassinato por parte do marido e lutou por justiça. A lei estabelece penas mais severas para agressores e medidas de assistência às vítimas, como inclusão em programas assistenciais.
Lula foi eleito presidente do Brasil em 2002 após 12 anos tentando, capitalizando o fracasso do governo FHC. Seu governo trouxe novas políticas sociais e sua popularidade ultrapassou 80%, apesar de acusações de corrupção. Dilma Rousseff foi eleita primeira presidente mulher em 2010, trazendo novos desafios para a esquerda no poder.
O texto Brazilian way of life – A racionalidade do capitalismo trata da questão política, econômica e social presente na modernidade, enfatizando a desigualdade de classes na qual estamos inseridos. A partir de uma perspectiva baseada nas composições do grupo Racionais MC’s e no texto “Ouvindo Racionais MC’s”, de Walter Garcia, traça-se um paralelo com o texto “Pobreza e cidadania”, de Vera da Silva Telles. A modernidade traz consigo a globalização do capitalismo e, enviesado nele, a população que vive na periferia. Esta tem cultura e influências características, o que também engrandece o valor de uma canção e representam, através da crítica, sujeitos políticos capazes de se pronunciar com ênfase sobre as questões que lhe dizem respeito.
O documento discute as desigualdades sociais e econômicas presentes na modernidade brasileira, enfatizando como o capitalismo globalizado marginaliza os mais pobres. A música do grupo Racionais MC's critica essa realidade e representa sujeitos políticos capazes de falar sobre questões que afetam suas vidas. Programas assistenciais são insuficientes para resolver os problemas estruturais da pobreza no país.
Este artigo discute o papel das elites e lideranças políticas em Portugal. Argumenta que as elites instaladas resistem à mudança enquanto as elites renovadoras trabalham para prevenir perigos ao sistema democrático. Também sugere que os líderes do futuro podem estar entre ativistas que contestam o poder atual. Conclui que Portugal precisa de elites e lideranças capazes de reformar as instituições ou uma revolução pode ocorrer.
Este documento descreve os direitos de propriedade intelectual sobre os conteúdos do jornal Público e as restrições sobre como os assinantes podem usar esses conteúdos. Também discute posições ambíguas de partidos de esquerda portugueses em relação a regimes estrangeiros e a União Europeia.
O documento discute as recentes rebeliões sociais lideradas por jovens em todo o mundo. Aponta que, apesar de causas específicas diferentes, as manifestações compartilham insatisfação com desigualdades, precariedade e falta de oportunidades, defendendo um Estado social que promova educação e saúde públicas. Também observa que os protestos expressam uma "luta de classes sem vanguardas" e rejeitam a política institucional, usando redes sociais para mobilização.
O documento descreve 3 cenários possíveis para a crise política no Brasil: 1) Dilma permanece no poder com apoio do Congresso até ser impedida; 2) Dilma sofre impeachment e Temer assume sem condições de resolver a crise; 3) Intervenção militar diante da incapacidade do governo em manter a ordem social.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.Ancelmonetto
O documento discute a atual conjuntura sociopolítica brasileira e como a mídia tem dado cobertura aos eventos. A crise econômica levou a uma crise política que resultou no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O documento argumenta que a grande mídia, especialmente a Rede Globo, tem sua cobertura tendenciosa e manipuladora ao tentar falar por todos e estabelecer verdades.
Este documento compara a realidade da classe média no Brasil e em Portugal. No Brasil, a classe média tem crescido nas últimas décadas, mas ainda há grandes desigualdades de renda. Em Portugal, a classe média cresceu com o Estado de bem-estar social, mas agora está declinando devido à crise econômica, com muitos enfrentando empobrecimento. Embora os dois países tenham experimentado mudanças nas estruturas de classe, o Brasil ainda lida com alta pobreza e informalidade do trabalho.
Adesão subjetiva à barbárie vera m batistaIvana Marques
1) O texto discute como as políticas econômicas neoliberais estão associadas à expansão do sistema penal através do trabalho de Loïc Wacquant.
2) Wacquant argumenta que o neoliberalismo transformou a assistência social em trabalho forçado ("workfare") e encarceramento em massa ("prisonfare"), criminalizando os pobres.
3) O autor concorda com Wacquant que a sociologia brasileira foi cooptada para legitimar a expansão do poder punitivo, mas que iniciativas do Ministério da Justiça tentam ab
Resumo: No Brasil, as periferias são o centro de duas figurações recentes e dicotômicas: a da violência urbana
que pede mais repressão e a do desenvolvimento social, que transformaria pobres em “Classe C”. Este
ensaio argumenta que a representação da “violência urbana” retirou o centro da “questão social” con-
temporânea dos “trabalhadores”, deslocando-o aos “marginais”. A derrocada do universalismo inscrito
nesse deslocamento enseja um governo seletivo que recorta a população em distintos graus de “vulne-
rabilidade” e níveis de “complexidade” da intervenção estatal; como efeito colateral, emergem distintos
regimes normativos nas periferias – por exemplo: estatal, do “crime” e religioso – que embora estejam
sempre em tensão, encontram coesão no fato de regularem mercados monetarizados. O dinheiro passa a
mediar a relação entre os grupos recortados e suas formas de vida que, sob outras perspectivas – a lei ou
a moral – estariam em alteridade radical; o consumo emerge como forma de vida comum e a expansão
mercantil, aposta de todos, conecta mercados legais e ilegais, inclusive fomentando a violência urbana
que pretensamente controlaria.
Sobre a democracia - a democracia e a sua usurpação 1a parte-GRAZIA TANTA
Sumário
1- Um contexto civilizacional para mudança urgente
2- Estado não rima com democracia
3- Exemplos democráticos na Antiguidade
Ciro, o Grande, rei dos persas
A democracia ateniense
4 - Factores de neutralização da participação democrática
O documento discute os impactos do golpe de 2016 no Brasil e no Sistema Único de Saúde (SUS). A crise política e econômica resultante levou a um aumento da pobreza e da mortalidade, ameaçando as conquistas do SUS. Reformas impostas pelo governo Temer visam desmontar o Estado de bem-estar social brasileiro em benefício de interesses conservadores.
O texto descreve a história das prisões ao longo dos tempos, desde os primeiros registros até a atualidade. Inicialmente, as prisões serviam para reclusão de escravos e prisioneiros de guerra, sem um código penal definido. Posteriormente, surgiram as primeiras cadeias e presídios, porém o sistema prisional atual passa por graves problemas como superlotação, falta de infraestrutura e falha na ressocialização.
O documento discute diversos conceitos relacionados ao Estado moderno e à política brasileira. Aborda o absolutismo, liberalismo, neoliberalismo e suas características. Também analisa conceitos como poder, dominação e populismo. Por fim, discute desafios da democracia no Brasil como clientelismo, nepotismo e corrupção.
O documento discute como os termos "esquerda" e "direita" são imprecisos e não refletem a complexidade ideológica. Muitos governos autoritários se apropriaram de ideologias tanto de esquerda quanto de direita para justificar suas ações. Além disso, países passaram por períodos tanto de liberalismo econômico quanto de estatismo, independentemente de serem governados por esquerda ou direita.
O documento discute as oligarquias partidárias brasileiras, a hegemonia econômica e a corrupção no país. Afirma que a elite econômica e política não tem interesse em promover mudanças que beneficiem os pobres, e que a desigualdade e a corrupção mantêm o status quo. Também critica a mídia por criminalizar movimentos sociais legítimos.
Discussão maioridade penal e internação compulsória sérgio botton barcellosUFPB
O documento discute as políticas de internação compulsória e redução da maioridade penal no Brasil. Argumenta que essas políticas criminalizam a pobreza e os jovens e são usadas para "higienizar" as cidades para os megaeventos esportivos, violando direitos humanos. Também aponta que a violência atinge mais os jovens negros e pobres, que são as principais vítimas, não os causadores dos problemas.
1) O documento discute o acesso de negros às universidades públicas no Brasil e o movimento por ações afirmativas.
2) Historicamente, as demandas do movimento negro evoluíram de combater o preconceito para combater a discriminação racial e desigualdades.
3) Recentemente, o foco passou a ser pedir ações afirmativas do governo para promover a inclusão de negros no ensino superior, especialmente nas universidades públicas.
1) O documento discute o enigma da persistência e crescimento da pobreza no Brasil, que atinge até trabalhadores urbanos integrados na economia.
2) A pobreza brasileira é imensa e persistente, apesar do desenvolvimento econômico e institucional do país.
3) A autora argumenta que a pobreza reflete o autoritarismo e exclusão da sociedade brasileira, onde desigualdades sociais são grandes e os pobres são vistos como inferiores.
Este documento descreve a Lei Maria da Penha, uma importante conquista para as mulheres brasileiras que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra as mulheres. A lei é nomeada em homenagem a Maria da Penha, que sofreu tentativas de assassinato por parte do marido e lutou por justiça. A lei estabelece penas mais severas para agressores e medidas de assistência às vítimas, como inclusão em programas assistenciais.
Lula foi eleito presidente do Brasil em 2002 após 12 anos tentando, capitalizando o fracasso do governo FHC. Seu governo trouxe novas políticas sociais e sua popularidade ultrapassou 80%, apesar de acusações de corrupção. Dilma Rousseff foi eleita primeira presidente mulher em 2010, trazendo novos desafios para a esquerda no poder.
O texto Brazilian way of life – A racionalidade do capitalismo trata da questão política, econômica e social presente na modernidade, enfatizando a desigualdade de classes na qual estamos inseridos. A partir de uma perspectiva baseada nas composições do grupo Racionais MC’s e no texto “Ouvindo Racionais MC’s”, de Walter Garcia, traça-se um paralelo com o texto “Pobreza e cidadania”, de Vera da Silva Telles. A modernidade traz consigo a globalização do capitalismo e, enviesado nele, a população que vive na periferia. Esta tem cultura e influências características, o que também engrandece o valor de uma canção e representam, através da crítica, sujeitos políticos capazes de se pronunciar com ênfase sobre as questões que lhe dizem respeito.
O documento discute as desigualdades sociais e econômicas presentes na modernidade brasileira, enfatizando como o capitalismo globalizado marginaliza os mais pobres. A música do grupo Racionais MC's critica essa realidade e representa sujeitos políticos capazes de falar sobre questões que afetam suas vidas. Programas assistenciais são insuficientes para resolver os problemas estruturais da pobreza no país.
Este artigo discute o papel das elites e lideranças políticas em Portugal. Argumenta que as elites instaladas resistem à mudança enquanto as elites renovadoras trabalham para prevenir perigos ao sistema democrático. Também sugere que os líderes do futuro podem estar entre ativistas que contestam o poder atual. Conclui que Portugal precisa de elites e lideranças capazes de reformar as instituições ou uma revolução pode ocorrer.
Este documento descreve os direitos de propriedade intelectual sobre os conteúdos do jornal Público e as restrições sobre como os assinantes podem usar esses conteúdos. Também discute posições ambíguas de partidos de esquerda portugueses em relação a regimes estrangeiros e a União Europeia.
O documento discute as recentes rebeliões sociais lideradas por jovens em todo o mundo. Aponta que, apesar de causas específicas diferentes, as manifestações compartilham insatisfação com desigualdades, precariedade e falta de oportunidades, defendendo um Estado social que promova educação e saúde públicas. Também observa que os protestos expressam uma "luta de classes sem vanguardas" e rejeitam a política institucional, usando redes sociais para mobilização.
O documento descreve 3 cenários possíveis para a crise política no Brasil: 1) Dilma permanece no poder com apoio do Congresso até ser impedida; 2) Dilma sofre impeachment e Temer assume sem condições de resolver a crise; 3) Intervenção militar diante da incapacidade do governo em manter a ordem social.
Ensaio sobre atual crise política do Brasil e os efeitos da mídia.Ancelmonetto
O documento discute a atual conjuntura sociopolítica brasileira e como a mídia tem dado cobertura aos eventos. A crise econômica levou a uma crise política que resultou no processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O documento argumenta que a grande mídia, especialmente a Rede Globo, tem sua cobertura tendenciosa e manipuladora ao tentar falar por todos e estabelecer verdades.
Este documento compara a realidade da classe média no Brasil e em Portugal. No Brasil, a classe média tem crescido nas últimas décadas, mas ainda há grandes desigualdades de renda. Em Portugal, a classe média cresceu com o Estado de bem-estar social, mas agora está declinando devido à crise econômica, com muitos enfrentando empobrecimento. Embora os dois países tenham experimentado mudanças nas estruturas de classe, o Brasil ainda lida com alta pobreza e informalidade do trabalho.
Adesão subjetiva à barbárie vera m batistaIvana Marques
1) O texto discute como as políticas econômicas neoliberais estão associadas à expansão do sistema penal através do trabalho de Loïc Wacquant.
2) Wacquant argumenta que o neoliberalismo transformou a assistência social em trabalho forçado ("workfare") e encarceramento em massa ("prisonfare"), criminalizando os pobres.
3) O autor concorda com Wacquant que a sociologia brasileira foi cooptada para legitimar a expansão do poder punitivo, mas que iniciativas do Ministério da Justiça tentam ab
Resumo: No Brasil, as periferias são o centro de duas figurações recentes e dicotômicas: a da violência urbana
que pede mais repressão e a do desenvolvimento social, que transformaria pobres em “Classe C”. Este
ensaio argumenta que a representação da “violência urbana” retirou o centro da “questão social” con-
temporânea dos “trabalhadores”, deslocando-o aos “marginais”. A derrocada do universalismo inscrito
nesse deslocamento enseja um governo seletivo que recorta a população em distintos graus de “vulne-
rabilidade” e níveis de “complexidade” da intervenção estatal; como efeito colateral, emergem distintos
regimes normativos nas periferias – por exemplo: estatal, do “crime” e religioso – que embora estejam
sempre em tensão, encontram coesão no fato de regularem mercados monetarizados. O dinheiro passa a
mediar a relação entre os grupos recortados e suas formas de vida que, sob outras perspectivas – a lei ou
a moral – estariam em alteridade radical; o consumo emerge como forma de vida comum e a expansão
mercantil, aposta de todos, conecta mercados legais e ilegais, inclusive fomentando a violência urbana
que pretensamente controlaria.
Sobre a democracia - a democracia e a sua usurpação 1a parte-GRAZIA TANTA
Sumário
1- Um contexto civilizacional para mudança urgente
2- Estado não rima com democracia
3- Exemplos democráticos na Antiguidade
Ciro, o Grande, rei dos persas
A democracia ateniense
4 - Factores de neutralização da participação democrática
O documento discute os impactos do golpe de 2016 no Brasil e no Sistema Único de Saúde (SUS). A crise política e econômica resultante levou a um aumento da pobreza e da mortalidade, ameaçando as conquistas do SUS. Reformas impostas pelo governo Temer visam desmontar o Estado de bem-estar social brasileiro em benefício de interesses conservadores.
O texto descreve a história das prisões ao longo dos tempos, desde os primeiros registros até a atualidade. Inicialmente, as prisões serviam para reclusão de escravos e prisioneiros de guerra, sem um código penal definido. Posteriormente, surgiram as primeiras cadeias e presídios, porém o sistema prisional atual passa por graves problemas como superlotação, falta de infraestrutura e falha na ressocialização.
O documento discute diversos conceitos relacionados ao Estado moderno e à política brasileira. Aborda o absolutismo, liberalismo, neoliberalismo e suas características. Também analisa conceitos como poder, dominação e populismo. Por fim, discute desafios da democracia no Brasil como clientelismo, nepotismo e corrupção.
O documento discute a violência, juventude e polícia no Brasil. Em três frases: (1) A violência afeta desproporcionalmente a juventude como vítimas e perpetradores, levando à exclusão social; (2) A polícia representa o uso legítimo da força pelo Estado, porém suas práticas frequentemente violam direitos humanos, especialmente contra os mais pobres; (3) As causas incluem falhas na formação policial, baixos salários, estresse do trabalho e desânimo com o sistema judiciário.
1. O documento introduz o tema da violência contra as mulheres e destaca a importância de se conhecer fenômenos sociais ocultos.
2. A autora reconhece as limitações do número de páginas para analisar os dados coletados sobre violência de gênero no Brasil.
3. O texto discute como os processos de macro e micropoder se interpenetram e como a desigualdade e exploração continuam mesmo com novas dinâmicas globais.
1. O documento introduz um livro sobre violência contra mulheres e destina-se a pessoas interessadas em conhecer fenômenos sociais ocultos sobre o tema.
2. A autora reconhece que a limitação de páginas é um problema para abordar o volume de dados coletados, mas busca construir referenciais teóricos para analisá-los.
3. O feminismo apresentado tem potencial crítico para apontar caminhos rumo à democracia plena, embora seja necessário saber utilizá-lo selecionando as
As diferentes abordagens do modelo de cidadania ocidental e oriental fase ao ...Marina Alves
O documento discute as abordagens ocidentais e orientais à cidadania e como regimes democráticos responderam à pandemia de COVID-19. Analisa a resposta dos EUA, incluindo ações do presidente Trump que levantaram questões sobre o compromisso dos EUA com princípios democráticos como o direito à vida. A pandemia também revelou desigualdades raciais no acesso aos cuidados de saúde.
Cap 20 violência, crime e justiça no brasilDante Galvao
O documento discute a violência no Brasil, analisando suas diversas categorias e complexidades. Aponta que, ao longo dos séculos, o sistema de justiça se tornou mais racional, porém os índices de violência permanecem altos. Argumenta que a desigualdade, e não só a pobreza, gera violência, e que alguns jovens se envolvem no crime em busca de prestígio. Conclui que a violência atinge a todos e exige envolvimento da sociedade para modificar essa situação.
1) O documento discute a doutrina da segurança nacional adotada pelas ditaduras militares na América Latina no século 20, que levou à repressão e violações de direitos humanos.
2) A doutrina promovia a ideia de uma ameaça comunista interna e defendia o fortalecimento dos estados para combater essa ameaça. Isso resultou no terror de estado e violência estatal contra cidadãos.
3) As ditaduras usaram táticas de desaparecimento, tortura e assassinato para semear
1. O documento discute como as concepções liberais clássicas sobre direito e justiça têm embasado políticas neoliberais que promovem a exclusão social.
2. As medidas de austeridade impostas em resposta à crise financeira global afetaram direitos básicos como saúde e educação.
3. Isso levou a uma redefinição da cidadania em termos de consumo e acesso ao mercado, em vez de participação política.
1. O documento analisa a resistência às cotas raciais no Brasil e argumenta que ela é motivada pela manutenção do status quo de exclusão de negros e indígenas.
2. Aborda a história da formação das sociedades estamental e de classes no Brasil e o papel dos escravos negros nesses modelos.
3. Discutem-se os aspectos éticos e econômicos do preconceito racial brasileiro e a constitucionalidade das ações afirmativas e cotas raciais.
Para uma constituição democrática com caráter de urgência – 1GRAZIA TANTA
1) O documento discute as limitações da democracia e da constituição atual, argumentando que servem mais os interesses de poucos do que da maioria da população.
2) Aponta que o poder econômico se concentrou em poucas instituições e pessoas, capturando os aparelhos de estado para seus próprios interesses através da manipulação das leis e políticas fiscais.
3) Isso faz com que as instituições democráticas funcionem como uma fachada, afastando a população dos processos de decisão
O documento apresenta o programa do Partido Comunista Brasileiro para as eleições de 2010, criticando o capitalismo e defendendo uma alternativa socialista. O programa critica os governos neoliberais anteriores e as opções do PSDB e PT, propondo em vez disso a construção de um sistema socialista que coloque os trabalhadores no poder e nacionalize os meios de produção.
O documento discute a ideologia do trabalho no Estado Novo brasileiro entre 1930-1945. Resume que neste período o governo desenvolveu uma legislação trabalhista e estruturou uma ideologia de valorização do trabalho e do papel do trabalhador. Esta ideologia via o trabalho como meio de superar problemas socioeconômicos e garantir dignidade, tornando o homem em cidadão/trabalhador responsável pela riqueza individual e coletiva.
1. O documento discute a "crise da ditadura" no Brasil e como ela revelou a incapacidade das classes dominantes de resolver os problemas sociais e conduzir a revolução burguesa.
2. As classes dominantes interromperam tanto as revoluções quanto as contra-revoluções, mostrando sua impotência para impor seus interesses particulares contra a vontade da maioria.
3. A "crise da ditadura" é tão importante quanto a suposta "crise da democracia" e revela a incapacidade crônica do imperial
O documento discute a legitimação do "vandalismo" em estados opressores e a relação entre movimentos sociais e direitos humanos. Apresenta exemplos de violações de direitos como restrições ao acesso à educação e saúde. Também critica a gestão de segurança pública e como isso gera impunidade e violência policial. Defende que a resistência à opressão é um direito fundamental.
A violência nossa de cada dia a juventude pobre na linha de tiroAndréCafé Oliveira
1) O documento discute a violência urbana e seu impacto nos jovens pobres, particularmente em Teresina-PI.
2) Ele explora como as teorias eugenistas e higienistas do século XIX influenciaram as políticas públicas no Brasil de forma discriminatória contra os pobres.
3) Finalmente, analisa como essas ideias históricas ainda afetam a percepção negativa dos jovens pobres e a abordagem punitiva do Estado.
Slides - A democracia em crise (2020(1).pdfTiagoSouto9
O livro discute a crise da democracia liberal ocidental, argumentando que (1) há uma ruptura crescente entre governantes e governados devido à perda de confiança nas instituições políticas e (2) movimentos antiestablishment e sentimentos de medo e desunião ameaçam os princípios democráticos. O autor analisa esses problemas à luz da teoria marxista de luta de classes e da influência das redes globais e mudanças tecnológicas.
O documento discute a candidatura da Coletiva Feminista à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) com um programa feminista, antirracista e ecossocialista. Ele apresenta a análise da situação socioeconômica crítica do Rio de Janeiro e propõe que os recursos públicos, como os royalties do petróleo, sejam alocados para políticas sociais e combate à fome e desigualdade, em vez de pagamento da dívida e interesses privados.
1. Loïc Wacquant
tradução: Paula Miraglia e Hélio de Mello Filho
9NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
RESUMO
A sociedade norte-americana é cinco vezes mais punitiva
hojedoquehá25anos.Oacionamentodalutacontraocrimeserviutão-somentecomopretextoetrampolimparauma
reformulação do perímetro e das funções do Estado, que resultou no enxugamento do seu componente de welfare. O
complexo penitenciário ganhou um lugar central como instrumento para a administração da pobreza, nas encruzilha-
das do mercado de trabalho desqualificado, no colapso do gueto urbano e nos serviços de bem-estar social “reforma-
dos” de modo a reforçar a disciplina do trabalho assalariado dessocializado.
PALAVRAS-CHAVE:prisão;administraçãodapobreza;welfare;workfare.
ABSTRACT
The irresistible rise of the penal state in the United States
manifests the implementation of a policy of criminalization of poverty that is the indispensable complement to the
imposition of precarious and underpaid wage labor as civic obligation for those trapped at the bottom of the class and
caste structure. The prison has thus regained a central place in the panoply of instruments for the government of
poverty,at the crossroads of the deskilled labor market,the collapsing urban ghetto,and social-welfare services “refor-
med” with a view to buttressing the discipline of desocialized wage work.
KEYWORDS: prison;workfare;ghetto;poverty;United States;
neoliberalism.
[*] AserpublicadoemMarie-Louie
Frampton,Ián Haney Lopez e Jona-
than Simon (eds.), After the war on
crime (New York: New York Univer-
sity Press, 2008). Este artigo refor-
mula argumentos do livro Prisões da
miséria,publicado no Brasil pela edi-
toraJorgeZaharem2001.
[1] BureauofJusticeStatistics.Sour-
ceboook of Criminal Justice Statistics
2000.Washington:GovernmentPrin-
tingOffice,2001,p.528.
Apreender a mudança das funções do estado penal
na era pós-fordista e pós-keynesiana exige uma dupla ruptura.Pri-
meiro,deve-se romper o paradigma do “crime e castigo”,materiali-
zadopelacriminologiaeodireitopenal,quenosmantémconfinados
àperspectivaestreitadaimposiçãodocumprimentodalei,incapazde
considerarograucadavezmaiordepuniçõesaplicadaspelasautorida-
des,que ignoram na mesma proporção as finalidades extrapenais da
prisão.Bastaumaúnicaestatísticaparafazersobressairafaltadecone-
xão flagrante e crescente entre crime e encarceramento nos Estados
Unidos:em1975,opaísprendia21criminososparacada1.000crimes
graves(homicídio,estupro,agressão,roubo,assaltoefurtodecarros);
em1999,estenúmerohaviachegadoa1061.Seconsiderarmosocrime
como uma constante,a sociedade norte-americana é cinco vezes mais
punitivahojedoqueeraháumquartodeséculo.Porém,éprecisoafastar
o conto oposicionista do “complexo industrial prisional”,defendido
por ativistas,jornalistas e acadêmicos mobilizados contra a escalada
O LUGAR DA PRISÃO NA NOVA
ADMINISTRAÇÃO DA POBREZA*
2. [2] A toda a conversa de “trancafiá-
losejogarachavefora”,opõe-seofato
de que 95% de todos os presos con-
victos encarcerados em prisões fede-
raiseestaduaisacabamsendosoltos.
Os detentos sentenciados à prisão
perpétua ou à morte representam
3.500 indivíduos, de toda a popula-
çãocarcerária(Donziger,MarcR.The
real war on crime. New York: Harper
Perennial,1996,p.126).
[3] O termo welfare foi deixado
propositalmente em inglês não ape-
nas por ser amplamente adotado
assim, mas também, e sobretudo,
porque é utilizado neste artigo em
contraposição a workfare, que só
poderia ser traduzido por uma ex-
pressão explicativa, o que poluiria o
texto pela quantidade de vezes em
queaparece[N.doT.].
[4] Gifford,SidraLea.Justiceexpen-
ditures and employment in the United
States, 1999.Washington:Bureau of
Justice Statistics, 2002, p. 8; Com-
mittee on Ways and Means. 1996
Green Book. Washington: Govern-
mentPrintingOffice,1997,p.921.
penal,que de formas variadas atribuem equivocadamente a explosão
do encarceramento dos Estados Unidos à reestruturação global do
capitalismo,queintensificouoracismo,eàcorridafrenéticaembusca
dolucropormeiodaconstruçãodepenitenciáriasedasuperexplora-
çãodotrabalhodedetentos.
Quandoparamosparapensarsobreoassunto,tambémpercebe-
mos que a expressão “guerra contra o crime” é inapropriada sob três
aspectos,retóricostantoquantomateriais.Emprimeirolugar,guer-
ras são empreendidas por militares contra inimigos externos da
nação,enquanto o combate ao crime,independentemente do quão
duro seja,envolve órgãos civis que lidam com cidadãos e detentos
protegidos por uma série de direitos e que,ao invés de serem expul-
sos ou aniquilados, são reintroduzidos na sociedade após um
período em custódia penal2.Segundo,a chamada guerra declarada
por autoridades federais e locais nunca foi empreendida contra o
“crime”emgeral.Oalvonaverdadeeramdeterminadascategoriasde
ilegalidadescometidasemumsetorbemdefinidodosespaçosfísico
e social:basicamente crimes de rua cometidos em bairros de classes
desfavorecidas e segregadas das metrópoles norte-americanas.Ter-
ceiro,emaisimportante:oacionamentodalutacontraocrimeserviu
tão-somentecomopretextoetrampolimparaumareformulaçãodoperíme-
tro e das funções do Estado,que resultou no enxugamento (downsizing)
do seu componente de welfare3 e no inchaço (upsizing) dos seus seto-
respoliciais,jurídicosecorrecionais.
O NEXO INSTITUCIONAL TRIÁDICO DA PRISÃO
Entre 1975 e 2000,a população carcerária dos Estados Unidos
cresceuemtermosexponenciais,passandode380mila2milhõesde
detentos,enquanto o número de beneficiários dowelfare caiu vertigi-
nosamentede11paramenosde5milhões.Aoquadruplicaronúmero
de detentos entre 1980 e 2000 e submeter algo em torno de 6,5
milhõesdepessoasàsupervisãodajustiçapenal(incluindoosindiví-
duosemliberdadecondicionalesursis),osEstadosUnidosaumenta-
ramosorçamentosconjuntosdasadministraçõespenitenciáriasfede-
ral,estadualemunicipalemUS$50bilhões,eacrescentaram500mil
novos funcionários,tornando as cadeias e penitenciárias do país no
terceiro maior empregador em 1998, atrás apenas da Manpower
IncorporatededaWal-Mart.Acadaano,desde1985,osgastosnacio-
naiscomoencarceramentosuperaramosfundosalocadosparaoFood
Stamps e o AFDC:em 1995,às vésperas da “reforma do welfare”,os
Estados Unidos gastavam US$ 46 bilhões na operação das casas de
detençãocontramenosdeUS$20bilhõescomoAFDC4.Aindaassim,
em razão de as administrações públicas não terem sido capazes de se
10 DOSSIÊ SEGURANÇA PÚBLICA ❙❙Loïc Wacquant
3. 11NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
[5] Rothman,David.Thediscoveryof
the asylum: social order and disorder in
the New Republic (Boston: Little
Brown,1971),pp.254-255.
expandirosuficienteparaconteraondaemcrescimentocontínuode
presos convictos, a explosão carcerária levou ao renascimento do
encarceramentoprivado.Emapenasumadécada,operadorescomfins
lucrativos dominaram 7% do “mercado”,oferecendo 120 mil vagas
adicionais em 1998,o que equivale à população carcerária da França,
ItáliaeEspanhajuntas.
Noentanto,ésobretudoalógicaintrínsecadestaviradadoregis-
trosocialparaopenal,maisdoqueasparticularidadessobredadose
tendências estatísticas,que merece ser assimilada.Longe de contra-
dizer o projeto neoliberal de desregulamentação e degradação do
setorpúblico,aascensãoirrefreáveldoestadopenalnorte-americano
constitui,por assim dizer,o seu negativo (ou seja,é a um só tempo a
revelação e a manifestação do seu reverso),uma vez que evidencia a
implementaçãodeumapolíticadecriminalizaçãodapobreza,queéocom-
plemento indispensável à imposição de ofertas de trabalho precárias e mal
remuneradas na forma de obrigações cívicas para aqueles que estão
cativosnabasedaestruturadeclassesecastas,bemcomoareimplan-
tação concomitante de programas de welfare reformulados com uma
face mais restritiva e punitiva.Na época da sua institucionalização,
nos Estados Unidos de meados do século XIX,“o encarceramento
era,acimadetudo,ummétodoquealmejavaocontroledepopulações
divergentes e dependentes”5,e os prisioneiros eram,acima de tudo,
pessoas pobres e imigrantes europeus recém-chegados ao Novo
Mundo.Hojeemdia,oaparatocarcerárionorte-americanodesempe-
nhaumpapelanálogonoquedizrespeitoaessesgrupos,transforma-
dosemsupérfluosoudiscrepantespeladuplareestruturaçãodarela-
ção entre o trabalho assalariado e a caridade do Estado:as porções
decadentesdaclassetrabalhadoraedosnegrospobresficarampresos
aoscentrosdascidades,umadiaindustrializados,agoradegradados.
Dessaforma,elepôdeganharumlugarcentralnapanópliadeinstru-
mentosparaaadministraçãodapobreza,nasencruzilhadasdomer-
cado de trabalho desqualificado,no colapso do gueto urbano e nos
serviçosdebem-estarsocial“reformados”demodoareforçaradisci-
plinadotrabalhoassalariadodessocializado.
A PRISÃO E O MERCADO DE TRABALHO DESQUALIFICADO
Emprimeirolugar,osistemapenalcontribuidiretamenteparaaregula-
mentaçãodossegmentosmaisbaixosdomercadodetrabalho—eofazdeum
modomaiscoercitivoesignificativodoquealegislaçãotrabalhista,os
sistemas de seguridade social e outras políticas públicas,muitas das
quais nem mesmo abrangem o trabalho não-regulamentado.Seus
efeitosnestalinhadefrentesãotripartidos.Primeiro,aprevalênciaea
escaladaimpressionantesdassançõespenaisajudamadisciplinaras
4. [6] Nelson, Marta, Dees, Perry e
Allen, Charlotte. The first month out:
post-incarceration experiences in New
York City. New York: Vera Institute,
1999.
[7] Termo usado em contraposição
ao welfare,e que implica o condicio-
namento do trabalho para a conces-
sãodaassistênciapública[N.doT.].
[8] Western, Bruce e Beckett, Ka-
therine. “How unregulated is the
U.S.labor market? The penal system
asalabormarketinstitution”. Ameri-
can Journal of Sociology,vol.104,n-º4,
1999,pp.1030-1060.
[9] Isso dá aos Estados Unidos 24
empregados penitenciários para cada
10milresidentesem“equivalentesde
tempointegral”contra4por10milna
França(efetivode24.220),5naEspa-
nha (22.035) e 8 na Inglaterra e no
PaísdeGales(41.065)[deacordocom
dados de Tournier, Pierre V. Space I
(Statistique Pénale Annuelle du Conseil
del’Europe):Enquête2000surlespopu-
lations pénitentiaires, version définitive.
Strasbourg:Conseil de Coopération
Pénologique,PC-CP,2001,p.47].
parcelas reticentes da classe trabalhadora,aumentando o custo das
estratégias de resistência ao trabalho assalariado dessocializado por
intermédiodeuma“saída”paraaeconomiainformal.Afrontadospor
umapolíciaagressiva,tribunaisseveroseapossibilidadedesentenças
de prisão estupidamente longas para crimes envolvendo drogas ilíci-
tasereincidência,muitosevitamentrarouafastam-sedocomércioile-
galderuaesubmetem-seaosprincípiosdotrabalhonão-regulamen-
tado.Para alguns dos recém-saídos de uma instituição carcerária,a
intrincada malha da supervisão pós-correcional aumenta a pressão
para a opção pela vida “do caminho certo” ancorada no trabalho,
quandodisponível6.Emumcasocomonooutro,osistemadejustiça
penal atua em anuência com o workfare7,para forçar a entrada da sua
clientelanossegmentosperiféricosdomercadodetrabalho.
Segundo, o aparato carcerário ajuda a “fluidificar” o setor de
empregos mal remunerados e reduz de maneira artificial a taxa de
desemprego,subtraindoàforçamilhõesdeindivíduosdesqualifica-
dos da força de trabalho.Estima-se que o confinamento carcerário
tenhadiminuídooíndicededesempregadosnosEstadosUnidosem
dois pontos percentuais durante a década de 1990. Com efeito,
segundoBruceWesterneKatherineBeckett,quandosecontabilizou
a diferença entre o nível de encarceramento das duas áreas,os Esta-
dos Unidos divulgaram uma taxa de desemprego mais alta do que a
média para a União Européia durante dezoito dos vinte anos entre
1974 e 1994, contrariando a visão propalada pelos entusiastas do
neoliberalismoecríticosda“euroesclerose”8.Aindaquesejaverdade
que nem todos os prisioneiros fariam parte da força de trabalho se
estivessememliberdade,adiferençadedoispontospercentuaisnão
inclui o estímulo keynesiano proporcionado pela explosão dos gas-
tospúblicosedoempregoeminstituiçõescorrecionais:onúmerode
empregosnascadeiaseprisõesmunicipais,estaduaisefederaismais
quedobrounasúltimasduasdécadas,saltandodemenosde300mil
em1982,paramaisde716milem1999,quandoafolhadepagamento
mensal excedia US$ 2,1 bilhões9. O crescimento penal também
impulsionouoempregonosetorprivadodeprodutoseserviçoscar-
cerários,um setor com altas taxas de empregos precários e rotativi-
dade,e que cresce paralelamente à privatização da punição (já que a
fonteda“competitividade”dasempresascorrecionaissãoossalários
incrivelmentebaixoseosbenefíciosinsuficientesconcedidosaoseu
quadrodeempregados).
Western e Beckett argumentam que a hipertrofia carcerária é um
mecanismo tardio,bipartido e com efeitos contraditórios:a um só
tempodouraocenáriotrabalhistadecurtoprazo,amputandoosupri-
mento de trabalho na base da hierarquia ocupacional,e agrava-o a
longoprazo,inviabilizandoemmenoroumaiorintensidademilhões
12 DOSSIÊ SEGURANÇA PÚBLICA ❙❙Loïc Wacquant
5. [10] WesterneBeckett,op.cit.,p.1031.
[11] Peck,JamieeTheodore,Nikolas.
“The business of contingent work:
growthandrestructuringinChicago’s
temporary employment industry”.
Work,Employment&Society,vol.12,n-º
4,1998,pp.655-674;Barker,Kathleen
eKristensen,Kathleen(eds.).Contin-
gent work: American employment rela-
tionsintransition.Ithaca:CornellUni-
versityPress,1998.
[12] Para uma elaboração histórica e
conceitual compacta sobre o acopla-
mento entre (hiper)gueto e prisão
apósodeclíniogradualdoMovimento
dos Direitos Civis,ver L.Wacquant.
“Thenew‘peculiarinstitution’:Onthe
prison as surrogate ghetto” (Theoreti-
cal Criminology,vol.4,n-º 3,2000,pp.
377-389); para uma exposição com-
pleta e detalhada sobre a extensão do
modeloteóricoparaaEuropaOciden-
taleoBrasil,veridem.Deadlysymbiosis:
raceandtheriseof thepenalstate(Cam-
bridge:PolityPress,2008).
de pessoas para o trabalho.Na visão desses autores,“o encarcera-
mento reduziu a taxa de desemprego dos Estados Unidos,mas [...]
sustentar índices baixos de desemprego no futuro vai depender da
expansãodosistemapenal”10.Porém,esseargumentoignoraumter-
ceiro impacto do ultra-encarceramento sobre o mercado de trabalho,
queéodefacilitarocrescimentodaeconomiainformaledeempregos
abaixodalinhadepobreza,eofazgerandocontinuamenteumgrande
volume de trabalhadores marginais que podem ser explorados sem
quaisquer escrúpulos.Ex-detentos dificilmente podem exigir algo
melhor que um emprego degradante e degradado em razão das traje-
tórias interrompidas,dos laços sociais esgarçados,do status jurídico
ignominioso e do amplo leque de restrições legais e obrigações civis
implicadas.O meio milhão de condenados que escoam das prisões
americanastodososanosforneceaforçadetrabalhovulnerávelapro-
priada para suprir a demanda de empregos temporários,o setor do
mercado de trabalho que mais cresceu nos Estados Unidas ao longo
dasduasúltimasdécadas(equerespondeporumquintodetodosos
novos empregos criados desde 1984)11.O encarceramento extremo,
portanto,alimenta o emprego contingente,que é a linha de frente da
flexibilizaçãodotrabalhoassalariadonascamadasmaisbaixasdadis-
tribuição de empregos.Além disso,a proliferação de penitenciárias
nos Estados Unidos (seu número triplicou em trinta anos,e já ultra-
passa4.800)contribuidiretamenteparaocrescimentoeadissemina-
ção do tráfico ilícito (drogas,prostituição,produtos roubados),que
sãoomotordocapitalismodepilhagemdasruas.
A PRISÃO E A IMPLOSÃO DO GUETO
A representação maciçamente predominante e crescente de afro-
americanos em qualquer nível do aparato penal tinge a segunda fun-
ção assumida pelo sistema carcerário da nova administração da
pobrezanaAméricadeumacordesagradável:compensarecomplementar
afalênciadoguetocomomecanismodeconfinamentodeumapopulaçãocon-
siderada divergente,desonesta e perigosa,bem como supérflua no
planoeconômico(imigrantesmexicanoseasiáticossãotrabalhadores
maisdóceis)enoplanopolítico(negrospobresraramentevotame,de
qualquer forma,o centro gravitacional eleitoral mudou das regiões
centraisurbanasdecadentesparaosprósperossubúrbiosbrancos)12.
Desseângulo,oencarceramentoéapenasamanifestaçãoparoxís-
ticadalógicadaexclusãoetnorracialdaqualoguetotemsidoinstru-
mentoeprodutodesdeasuaorigemhistórica.Duranteomeioséculo
dedomíniodaeconomiaindustrialfordista(1915-1965)—paraaqual
osnegroscontribuíramcomumaquantidadeindispensáveldetraba-
lho não-qualificado,desde a Primeira Guerra Mundial,que pôs em
13NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
6. [13] Kerner Commission.The Kerner
report: The 1968 report of the national
advisory commission on civil disorders.
New York: Pantheon, 1969/1989;
Harris,Fred R.e Curtis,Lynn (eds.).
Lockedinthepoorhouse:Cities,race,and
poverty in the United States.Lanham:
Rowman & Littlefield, 1998; Wac-
quant,L.Urbanoutcasts:Acomparative
sociologyofadvancedmarginality.Cam-
bridge:PolityPress2007.
[14] White,Armond.Rebelforthehell
of it: Life of Tupac Shakur. London:
QuartetBooks,1997/2002.
[15] Katz,MichaelB.Intheshadowof
thepoorhouse:Asocialhistoryof welfare
in America. New York: Basic Books,
1996, pp. 300-334; Handler, Joel e
Hasenfeld,Yeheskel.We the poor peo-
ple: Work, poverty, and welfare. New
Haven:YaleUniversityPress,1997.
marchaa“GrandeMigração”dosestadossegregacionistasdoSulpara
asmetrópolesdetrabalhadoresdoNorte,atéaRevoluçãodosDireitos
Civis,que finalmente lhes deu acesso às urnas (cem anos depois da
abolição da escravidão) —,o gueto desempenhou o papel de “prisão
social”,garantindo,assim,o ostracismo social sistemático de afro-
americanos e ao mesmo tempo permitindo a exploração da sua força
de trabalho na cidade.Após a crise de debilitação do gueto,simboli-
zada pela grande onda de revoltas urbanas que varreram o país em
meadosdadécadade1960,aprisãopreencheuoespaçoqueseabriu,
servindo como um “gueto” substituto para armazenar as parcelas do
(sub)proletariadonegroquetêmsidomarginalizadaspelatransiçãoà
economiadeserviçosduploseàspolíticasestataisderetraçãodowel-
fareederetiradadascidades13.
Logo,ambas as instituições acoplaram-se e complementaram-se,
poiscadaumaoperaàsuaprópriamaneiraparareforçaraseparação(o
significadoetimológicodesegregare)deumacategoriaindesejada,per-
cebidacomoumaameaçaduplaparaametrópole,indissociavelmente
moralefísica.Eessasimbioseestruturalefuncionalentreguetoepri-
são encontra uma expressão cultural surpreendente nas letras musi-
caisenoestilodevidadesdenhosodosmúsicosdegangstarap,exem-
plificado pelo destino trágico do cantor e compositor Tupac Shakur.
Nascido na prisão,filho de um pai ausente (sua mãe,Afeni Sahkur,
faziapartedosPanterasNegras),oapóstolodathuglife,heróiparauma
multidãodejovensdosguetos(elegiõesdeadolescentesbrancosdos
subúrbios),morreu em 1996,em Las Vegas,crivado de balas em um
carro,após cair numa emboscada armada por membros da gangue
rival.Antesdisso,foiacusadodeatirarcontrapoliciaisecumpriupena
deoitomesesporagressãosexual.14
A PRISÃO E O WELFARE TRANSFORMADO EM WORKFARE
Assimcomonoseunascimento,aprisãocomoinstituiçãoestádire-
tamentevinculadaaoconjuntodeorganizaçõeseprogramasencarrega-
dosdeprestar“assistência”àspopulaçõesdesfavorecidas,ealinhadaà
crescente interpenetração organizacional e ideológica entre os setores
penal e social do estado pós-keynesiano.Por um lado,a lógica pan-
óptica e punitiva própria ao campo penal tende a contaminar e em
seguidaredefinirosobjetivosemecanismosdeprestaçãodeassistên-
ciapública15.Dessemodo,alémdesubstituirodireitodecriançasdes-
favorecidasàassistênciaestatalpelaobrigaçãodeseuspaistrabalharem
apósdoisanos,a“reformadowelfare”,endossadaporClintonem1996,
sujeitaosbeneficiáriosdaassistênciapúblicaàspráticasintrusivasdo
registrovitalíciodeinformaçõesecontrolerígido,bemcomoestabele-
ceummonitoramentorigorosodesuascondutas—noquedizrespeito
14 DOSSIÊ SEGURANÇA PÚBLICA ❙❙Loïc Wacquant
7. [16] Fuller, Torrey E. “Jails and pri-
sons: America’s new mental hospi-
tals”.America Journal of Public Health
vol.85,n-º12,1995,pp.1611-1613.
[17] Lilly,J.Robert e Knepper,Paul.
“The corrections-commercial com-
plex”.Crime and Delinquency,vol.39,
n-º 2, 1993, pp. 150-166; Schlosser,
Eric. “The prison-industrial com-
plex”.The Atlantic Monthly,vol.282,
dez.1998,pp.51-77;Goldberg,Eve e
Evans, Linda. The prison industrial
complex and the global economy. Bos-
ton: Kersplebedeb, 1998. Uma cole-
ção valiosa de escritos, demandas e
informações de ativistas sobre os
tópicosestáreunidanosite<www.pri-
sonsucks.com>, administrado pela
Prison Policy Initiative (sediada em
Northampton,Massachusetts).
àeducação,emprego,consumodedrogasesexualidade—porforçado
qual podem ser acionadas sanções administrativas e criminais.Um
exemplo:desde1998,naregiãocentraldeMichigan,osbeneficiáriosde
programas de assistência social devem se submeter a testes de uso de
drogas periódicos,da mesma forma que os condenados em liberdade
condicional ou sursis.Esses testes são realizados pelo Departamento
PenitenciárioEstatalembeneficiáriosepresosemliberdadecondicio-
nal,todosjuntosnasmesmasinstalações.Poroutrolado,asinstalações
correcionaisdevem,nolensvolens,emcondiçõesdepenúriaeemergência
permanentes,enfrentar as adversidades médicas e sociais que a sua
“clientela”nãoconseguiuresolverdoladodefora:nasprincipaiscida-
des do país, o abrigo para sem-teto de maior capacidade e as mais
amplas instalações para doentes mentais prontamente acessíveis ao
subproletariadoéaprisãomunicipal16.Eamesmapopulaçãooscilade
umpóloaooutrodessecontinuuminstitucional,percorrendoumatraje-
tória quase fechada,que encerra sua marginalidade socioeconômica e
intensificaseusensodeindignação.
Finalmente, as limitações orçamentárias e a moda política de
“menosgoverno”convergiramparaintensificarastendênciasdareifi-
cação do welfare assim como as do encarceramento.Diversas jurisdi-
ções,comooTexaseoTennessee,consignamumaparteconsiderável
dosseuscondenadosaestabelecimentosprivadosesubcontratamfir-
mas especializadas para a administração dos beneficiários da assis-
tência pública,pois o estado não tem capacidade administrativa para
implementar sua nova política de combate à pobreza. Essa é uma
maneiradetornarpessoaspobreseprisioneiros(cujagrandemaioria
erapobreemliberdadeevoltaráaserpobrequandolibertada)“lucra-
tivos”,em termos ideológicos e econômicos.O que nós estamos tes-
temunhandoaquiéagênese,nãodeum“complexoindustrialprisio-
nal”,como é sugerido por alguns criminólogos,acompanhados por
umcorodejornalistaseativistasdosmovimentospelajustiça,mobi-
lizados contra o crescimento do Estado Penal17,mas de uma forma
organizacional verdadeiramente nova,um continuum carcerário-assis-
tencial em parte explorado para fins lucrativos,que é a linha de frente do
Estadoliberal-paternalistanascente.Suamissãoévigiaresubjugar,e
se necessário reprimir e neutralizar,as populações refratárias à nova
ordemeconômicaquesegueumadivisãodotrabalhoporsexo,como
seucomponentepenalvoltando-sesobretudoaoshomenseocompo-
nente assistencial exercendo sua tutela sobre as mulheres e crianças
(desses mesmos homens).Ao manter a tradição política americana
estabelecidaduranteaeracolonial,essecorpoinstitucionalformadoe
in statu nascendi é caracterizado,por um lado,pela interpenetração
entranhadaentreossetorespúblicoeprivadoe,poroutro,pelafusão
dasfunçõesdeestigmatização,reparaçãomoralerepressãodoEstado.
15NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
8. [18] Por exemplo,Donziger,op.cit.;
Rosenblatt, Elihu (ed.). Criminal
injustice: confronting the prison crisis.
Boston: South End Press, 1996;
Davis,AngelaeGordon,A.F.“Globa-
lism and the prison-industrial com-
plex: An interview with Angela
Davis”.RaceandClass,vol.40,n-ºs2-3,
1999,pp.145-157;Braz,Roseeoutros.
“Overview:Critical resistance to the
prison-industrial complex” (Intro-
duction to a symposium on ‘The Pri-
son-Industrial Complex’).Social Jus-
tice,vol.27,n-º3,2000,pp.1-5.
[19] A variante internacional do
argumento do “complexo industrial
prisional” que afirma que o aprisio-
namento de “pessoas do sexo femi-
nino de cor,imigrantes e indígenas”
em todo o planeta se deve à colisão
entreestadosecorporaçõesdeencar-
ceramento privadas (Sudbury,Julia.
Global lockdown: Race, gender, and the
prison-industrial complex. New York:
Routledge, 2005) é ainda mais im-
plausível que a sua versão masculina
nacional.
O MITO DEMONÍACO DO “COMPLEXO INDUSTRIAL PRISIONAL”
Os acadêmicos, ativistas e cidadãos comuns preocupados, ou
consternados,com o crescimento desgovernado do sistema penal
norte-americano não foram capazes de detectar o ancoradouro insti-
tucionaltriádicodaprisãoporestaremobnubiladospelovínculoapa-
rente entre encarceramento e lucro.Na década passada,o refrão da
ascensão de um “complexo industrial prisional” que teria sucedido
(ousuplementado)o“complexoindustrialmilitar”daGuerraFria—
em que os gigantes da indústria da defesa reestruturavam-se com o
abastecimento de armas para o Pentágono e,assim,proporcionavam
poderdevigilânciaepuniçãoaospobres;omedodo“inimigoverme-
lho” no exterior era substituído pelo temor do “inimigo negro” no
interior;eosoperadoresprivadostramavamemsurdinacompolíticos
e oficiais do sistema penitenciário para constituir um “subgoverno”
dissimulado,quedirecionavaaexpansãocarceráriadesmedidaparaa
exploração de uma força de trabalho cativa de crescimento exponen-
cial — foi o leitmotiv do discurso de oposição à prisão nos Estados
Unidos18.Baseadaemumavisãoconspiratóriadehistória,essateseé
solapadaporquatrolacunasimportantes,quederrubamasuasignifi-
cânciaanalíticaearruínamasuapertinênciaprática.
Emprimeirolugar,reduzatransformaçãodúplice,conjuntaeinterativa
dos componentes penal e social do campo burocrático à simples “indus-
trialização” do encarceramento.Porém,a escala mutável do confina-
mentonosEstadosUnidoséapenasumelementodaredefiniçãomais
ampladoperímetroedasmodalidadesdaaçãodoEstadovoltadapara
as“populaçõesproblemáticas”,residentesdasprofundezasdoespaço
socialeurbano.Essaescalaesuaexplicaçãoestãoindissociavelmente
vinculadas à transição paradigmática do welfare para o workfare.Em
contraposição,apossibilidadedevínculodocapitalismoedoracismo
(os dois réus favoritos do conto ativista sobre a malignidade do
governo) com a “globalização” é muito ambígua,sendo que nenhum
dessesdoisimensosevagos“ismos”proporcionaascondiçõesneces-
sáriasesuficientesparaesseexperimentocarcerárionorte-americano
inaudito e singular.Para começar,a inflação carcerária nos Estados
Unidosfoidisparadamuitoantesdaaceleraçãodamobilidadedecapi-
taisentreasfronteiras,e,também,outrospaísesmaisavançados,cujas
economiashaviampassadoporumainternacionalizaçãosemelhante,
apresentaramumcrescimentoapenasmodestodaspopulaçõescarce-
rárias, alimentado pelo alongamento das sentenças, e não pelo
aumentodasadmissões19.Ademais,emboraaoperaçãodosistemade
justiça seja marcada pelo preconceito etnorracial,é difícil perceber
como a discriminação poderia ter se intensificadodesde os anos 1970,
dada a ênfase cada vez maior às salvaguardas e devidos processos
16 DOSSIÊ SEGURANÇA PÚBLICA ❙❙Loïc Wacquant
9. [20] Hacker,JacobS.ThedividedWel-
fareState:Thebattleoverpublicandpri-
vate social benefits in the United States.
New York: Cambridge University
Press,2002.
legaisinstituídanodespertardarevoluçãodosdireitoscivis,semfalar
napresençacrescentedepoliciais,juízes,vigias,carcereiros,oficiaisde
condicionalnegrosemtodososníveisdoaparatopenal.
Em segundo lugar,o imaginário do “complexo industrial prisio-
nal”enquadra-senopapeldeforçamotrizdosinteressespecuniários
deempresasquevendemserviçosouprodutoscorrecionais,ousupos-
tamente mantêm trancafiadas vastas reservas de mão-de-obra.Sus-
tentaqueomotivodolucroécrucialparaoaparecimentodaprisãoem
massa,quando,na verdade,esta vincula-se principal e primordial-
mente a uma lógica e a um projeto políticos,ou seja,à construção de um
estado pós-keynesiano,“liberal paternalista”,apto à instituição do
trabalhoassalariadodessocializadoeàpropagaçãodeumaéticareno-
vada de trabalho e de “responsabilidade individual” que a reforça.O
lucrocomprisõesnãoéacausaprincipal,masumaconseqüênciasecun-
dária e incidental do desenvolvimento hipertrófico do aparato penal.
Ofatodeinteressesprivadosestaremsendobeneficiadospelaexpan-
sãodasfunçõesgovernamentaisdecertonãoénovotampoucoespecí-
fico ao encarceramento: a distribuição de todos os bens públicos
importantesnosEstadosUnidos,desdeaeducaçãoeahabitaçãoatéa
segurança e a saúde,confere um papel amplo para o terceiro setor e o
setor de serviços e comércio — em relação,por exemplo,ao forneci-
mentodeassistênciamédicaesocial,apuniçãopermanecesurpreen-
dentemente pública20.A privatização tampouco é necessária para o
crescimentocarcerário.Baniraprisãocomfinslucrativosnãoimpediu
a Califórnia de se unir à corrida frenética pelo confinamento.Entre
1980e2000,o“GoldenState”testemunhousuapopulaçãodedeten-
tossaltarde27milpara160mil;seuorçamentoparaosistemacarce-
ráriodecuplicardeUS$400milhõesparaUS$4,2bilhões;eoquadro
de funcionários de penitenciárias inchar,passando de 8.400 para 48
mil,tudoissosemabrirsequerumaúnicaprisãoprivadaparaadultos.Narea-
lidade,seosoperadorescomerciaissimplesmentedesaparecessemda
noite para o dia,os estados e municípios enfrentariam interrupções
operacionais,emaissuperlotaçõeseobstáculosdecurtoprazoaocres-
cimento,mas a prevalência e a fisionomia social do encarceramento
permaneceriamintactas.
Damesmaforma,adenúnciaritualdasuperexploraçãodedeten-
tosemcondiçõesqueevocamumaescravidãopenalnãopodeescon-
der o fato de que apenas uma parcela ínfima e estagnada da popula-
ção carcerária dos Estados Unidos trabalha para empresas externas
(bemmenosque1%,deacordocomascontasmaisgenerosas)eque
nenhum setor econômico se apóia,nem mesmo marginalmente,em
trabalhadores presos. Em relação a prisioneiros que trabalham
arduamente atrás das grades para setores estatais ou federais (cerca
de8%,segundoasestatísticasmaiscondescendentes),suaprodução
17NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
10. [21] No exercício fiscal de 2001, o
UNICOR,o programa de Indústrias
PrisionaisFederais,empregou22.600
detentos para a produção de uma
variedade de mercadorias (uniformes
depolícia,capacetesdekevlar,jogosde
cama e cortinas,móveis de escritório,
serviços de lavanderia,encadernação,
reparos de veículos,reciclagem de ele-
trônicos etc.) vendidas ao governo
comumrendimentode583milhõesde
dólares.Apesar dos subsídios finan-
ceiros,ummercadoparaaproduçãode
detentos (dois terços das vendas são
para o Departamento de Defesa) e
saláriosmédiosmíseros,entre23cen-
tavosa1,15dólarporhora,oprograma
gerouumfluxodecaixanegativodeUS$
5 milhões (Federal Bureau of Prisons.
UNICOR 2001 Annual Report.Dispo-
nível em <http://www.unicor.gov/
information/publications/pdfs/cor-
porate/CATAR2001.pdf>, acessado
em11/08/2007).
[22] Goldberg e Evans, op. cit., p.
1998.
[22] Zimring,FranklinE.eHawkins,
Gordon J. The scale of imprisonment.
Chicago: University of Chicago
Press,1991,p.173.
éinsignificanteeelessão“empregados”comprejuízolíquidoparao
governo,aindaquesuaatividadesejamaciçamentesubsidiadaefor-
temente protegida21.A despeito de seu crescimento,todavia,diante
dos números brutos nacionais fica difícil concordar com o argu-
mento de Goldberg e Evans22,de que o “complexo industrial prisio-
nalestásetornandocadavezmaiscentralparaocrescimentodaeco-
nomia norte-americana”:os US$ 57 bilhões que os Estados Unidos
gastaram com prisões municipais,estaduais e federais em 2001 não
chegamnemàmetadede1%doPIBdeU$10.128bilhõesdaqueleano.
Longe de ser “um componente essencial da economia norte-ameri-
cana”,as prisões permanecem insignificantes do ponto de vista da
produçãoeservemnãocomoumestímulogeralparaoslucroscorpo-
rativos,mas como um escoadouro de dinheiro dos cofres públicos e
umdesviosemsentidodocapitalfinanceiro.
Em terceiro lugar,a visão ativista tem como premissa um parale-
lismo equivocado entre as funções de defesa nacional do Estado e
administraçãopenal,quedeixadeperceberestadiferençafundamen-
tal:a política militar é altamente centralizada e coordenada no plano
federal,enquanto o controle da criminalidade é amplamente descen-
tralizadoedispersoentreautoridadesfederais,umacentenadedepar-
tamentosestaduaisdejustiçaeprisões,emilharesdeadministrações
estaduaismunicipaisresponsáveispelaspolícias,tribunaisecadeias.
A expressão “sistema de justiça criminal” oculta uma rede frouxa de
agênciasburocráticasprovidasdeumlivre-arbítrioabrangenteedes-
tituídas de uma filosofia ou política penal em comum.Ainda que um
grupogovernantemíopetivesse,dealgummodo,inventadoumplano
terrívelparatransformarosistemacarcerárioemumaindústrialucra-
tiva,usandooscorposdospobresdepelenegracomo“matéria-prima”,
não haveria uma única base de apoio que pudesse ter sido utilizada
paragarantirasuarealização.Atesesimplistadequeolucrocapitalista
impulsiona o crescimento carcerário deixa sem explicação os meca-
nismosespecíficosquederamorigemànotávelconvergênciadasten-
dênciascorrecionaisentrediferentesjurisdiçõesdosEstadosUnidos
e é apenas mais um elemento que se soma ao “composto misterioso”
doultra-encarceramentonacional,dadaafaltadeum“precursorpolí-
ticodistintivo”22.
Finalmente,constrangidapelasuaabordagemacusatória,anoção
confusade“complexoindustrialprisional”nãolevaemconsideração
osefeitosabrangentesdaintrodução,aindaquedeumamaneiralimi-
tadaepervertida,dalógicadowelfarenointeriordouniversocarcerárioem
si.As instituições correcionais foram profundamente transformadas
ao longo das últimas três décadas,não apenas pelas mudanças na
escala e composição da sua clientela,mas também pelo movimento
dosdireitosdospresos,aracionalizaçãoeaprofissionalizaçãodocon-
18 DOSSIÊ SEGURANÇA PÚBLICA ❙❙Loïc Wacquant
11. [24] Feeley, Malcolm e Rubin, Ed-
ward L.Judicial policy making and the
Modern State: How the courts reformed
America’s prisons. New York: Cornell
UniversityPress,1998.
[25] Glaser, Jordan B. e Greifinger,
RobertB.“Correctionalhealthcare:a
public health opportunity”.Annals of
Internal Medicine,vol.118,n-º 2,1993,
pp.139-145. N.T.
finamento,eavigilânciacadavezmaiordoserrosjudiciais24.Assim,os
juízes exigiram que as autoridades das cadeias e prisões cumprissem
umabateriadenormasmínimasreferentesadireitosindividuaiseser-
viçosinstitucionais,oquesignificou,porexemplo,oferecereducação
para presos menores de idade e atendimento psiquiátrico em massa.
Mesmoqueaindadeficiente,osistemadesaúdedasprisõesmelhorou
consideravelmente,apontodesersuperioraosserviçosmédicosdefi-
cientes acessíveis aos condenados mais pobres do lado de fora, e
atende a milhões anualmente, tanto que pesquisadores da saúde
pública e oficiais governamentais consideraram o sistema carcerário
umpontodeintervençãocrucialparadiagnosticaretratarumasériede
doençasinfecciosascomunsempopulaçõesdebaixarenda25.
CODA
Escapar do paradigma angelical da imposição do cumprimento
da lei e exorcizar o mito demoníaco do “complexo industrial prisio-
nal” são duas etapas necessárias e complementares para localizar de
forma apropriada as novas funções que a prisão carrega no sistema
reconfiguradodeinstrumentosparagerirotrabalhonão-regulamen-
tado,a hierarquia etnorracial e a marginalidade urbana nos Estados
Unidosdosdiasdehoje.Realizaressasduasetapasrevelaquealibe-
ração de um aparato penal hipertrófico e hiperativo após meados da
década de 1970 não é a lâmina cega de uma “guerra contra o crime”,
nem o engendramento de um acordo secreto demoníaco entre ofi-
ciais públicos e corporações privadas com vistas a faturar com o
encarceramento.Em vez disso,revela que o fenômeno participa da
construção de um Estado reformado capaz de impor requerimentos
econômicos e morais adstringentes do neoliberalismo após o des-
carte do pacto social fordista-keynesiano e a implosão do gueto
negro. O aparecimento dessa nova administração da pobreza de
mãos dadas com o workfare restritivo e com punições expansivas
exige que tiremos a prisão dos domínios técnicos da criminologia e
dapolíticacriminal,eacoloquemosdiretamentenocentrodasocio-
logiapolíticaedasaçõescivis.
LoïcWacquantéprofessordesociologianaUniversidadedaCalifórnia,emBerkeley,epesquisa-
dordoCentredeSociologieEuropéenne,Paris.PublicourecentementenoBrasiloslivrosOMistério
doministério:PierreBourdieueapolíticademocrática(Revan,2005)eOndapunitiva:onovogovernodainse-
gurançasocial(Revan,2007).
19NOVOS ESTUDOS 80 ❙❙MARÇO 2008
Recebidoparapublicação
em25denovembrode2007.
NOVOSESTUDOS
CEBRAP
80,março2008
pp. 9-19