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VISÕES SOBRE O EMPREGO NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
António Brandão Moniz
(Sociólogo,
Professor com agregação em Sociologia na FCT-Universidade Nova de
Lisboa,
Investigador sénior no ITAS-Karlsruhe Institute of Technology
Coordenador do programa doutoral de Avaliação de Tecnologia na
FCT-UNL)
1
MERCADO ÚNICO DIGITAL EUROPEU
Transformações Económicas, Competências e
Empregabilidade
2
QUESTÕES
como avaliamos a relação entre tecnologias e
emprego?
quais os desafios para a Europa e para Portugal
nas próximas décadas?
quais as efetivas condições de desenvolvimento e
expansão do Emprego Digital em Portugal, no
quadro do Mercado Único Digital Europeu?
como suprir o previsível défice de competências
digitais da sociedade portuguesa, assegurando a
coesão social e a inclusão?
3
QUESTÕES (cont)
em que medida as transformações económicas
inevitavelmente introduzidas pelo desenvolvimento
tecnológico vão efetivamente destruir emprego?
e que novos empregos, para além dos classificáveis
como digitais, deverão surgir?
como assegurar a empregabilidade da população
portuguesa a prazo?
como tirar partido das tecnologias e desenvolver uma
SI compatível com o emprego e o bem-estar social,
financeiramente sustentável, numa economia
globalizada e com um perfil demográfico distinto? 4
PREVISÃO DE KEYNES EM 1933
Previsão de John Maynard Keynes sobre a tendência de
difusão de desemprego tecnológico:
“due to our discovery of means of economising de use of
labour outrunning the pace at which we can find new uses
of labour” (“Economic possibilities for our grandchildren”,
Essays in persuasion, 1933, 358-373)
De facto, a tecnologia tem contribuído para o aumento
de produtividade, mas o efeito direto sobre o emprego é
sobretudo a curto prazo.
Esta relação ainda merece a atenção de muitos estudos
e não certezas ainda acerca dos efeitos e das causas.
5
INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS
Em 1955 nos Estados Unidos foi criada uma Joint
Economic Committee (JEC) do Congresso com longas
audições acerca das consequências da automação e
fábricas “push-button” para o mercados de trabalho.
Em 1961, o Presidente John F. Kennedy estabeleceu o
Office of Automation & Manpower.
Em 1964, o Presidente Johnson estabeleceu o “Blue
Ribbon National Commission on Technology, Automation
and Economic Progress”
6
O DEBATE EM TORNO DO TRABALHO DIGITAL
O trabalho digital é uma característica da sociedade moderna
O nível de dimensão técnica do trabalho digital parece ser muito
significante. Não é apenas um estatuto na relação laboral
O debate científico da 'Informatização do trabalho' começou nos
anos 1990 (Boes, Pfeiffer 2006, Schmiede, Huws):
Novas práticas socio-técnicas em muitas profissões (temporais & espaciais)
Mudança do quadro institucional do emprego (flexibiliação, 'empregabilidade')
As fronteiras difusas (blurring boundaries) do trabalho e da vida quotidiana
(caráter dominante do trabalho nas biografias)
Processos de aumento de velocidade e intensificação do trabalho (novas
formas de carga na esfera do trabalho)
Globalização do trabalho (dependências)
7
TIC NO TRABALHO: EVOLUÇÃO RECENTE
NA EUROPA
Fonte: Eurofound (2012): Fifth European Working Conditions
Survey, Luxembourg
Evolução do uso de tecnologia, UE27 (%)
8
PROBLEMAS COM A DIGITALIZAÇÃO DO
TRABALHO
Proteção de dados
Investmento em tecnologia (politicas)
Intensificação das tarefas
Flexibilidade do uso do tempo de trabalho
Precaridade dos contratos
Des-qualificação
Conteúdos de tarefas mais pobres
Produtividade (baseada apenas na tecnologia ou no
capital?)
• Análise mais profunda dos processos é necessária!
9
ABORDAGENS OTIMISTAS
As velhas estruturas de trabalho tendem a
desaparecer (sindicatos, relações laborais,
etc.)
A maioria dos empregados serão trabalhadores
do conhecimento e grande parte transforma-se
em empreendedores ou profissionais
autónomos
Grande parte dos empregos criados são nos
setores baseados no conhecimento e em
indústrias de base tecnológica
10
ABORDAGENS PESSIMISTAS
Braverman (1974) apontava para a tendência de
desqualificação induzida pela automatização
Rifkin fala-nos no “fim do trabalho” na era da
informação e da tecnologia
O aumento de emprego nos serviços não levou a uma
melhoria das qualificações e condições de trabalho
A crise global de emprego é muito profunda e complexa
Mesmo os trabalhadores do conhecimento e os mais
qualificados irão sofrer com a diminuição do valor
salarial
O aumento da produtividade possível pela tecnologia
não se traduz em melhoria da qualidade de vida
11
A NOVA IDADE DAS MÁQUINAS (BRYNJOLFSSON
& MCAFEE)
Estudos de Brynjolfsson & McAfee apontam para uma
tendência de aumento da capacidade da tecnologia em
automatizar funções geralmente realizadas por
humanos (Second Machine Age, 2014).
As máquinas passaram a substituir a capacidade
muscular desde o sec. XIX, e desde os anos 80 as
máquinas começaram a substituir a capacidade de
pensar.
O impacto deste processo vai fazer-se sentir sobretudo
nas nossas vidas quotidianas e no nosso trabalho
Exemplos: veículos autónomos, robots
12
ESTUDO DE FREY E OSBORNE (2013)
Estudaram as profissões que tenderão a ser
informatizadas.
Num primeiro passo, as profissões associadas aos
transportes e logística, às de trabalho administrativo, e
às de produção industrial tenderão a ser substituídas
por computadores.
A esta vaga de automação vai seguir-se uma diminuição
de uso de computadores para substituição de trabalho
devido ao aumento dos problemas técnicos em
consegui-lo. Alguns desafios da automatização
relacionam-se com dificuldades na perceção e
manipulação
13
SEGUNDA VAGA DE COMPUTORIZAÇÃO
O trabalho humano tem ainda vantagens comparativas
com as máquinas em tarefas que requerem perceção e
manipulação complexas
De acordo com o modelo de Frey e Osborne, a resolução
das dificuldades de computorização da inteligência
criativa e social vai ser conseguida (com machine
learning)
No entanto, profissões que requerem conhecimento de
heurística humana e profissões especializadas que
envolvam o desenvolvimento de novas ideias e
artefatos, serão as menos suscetíveis de
computorização.
14
MODELO FREY-OSBORNE
15
Fonte: BLS, O*NET
TENDÊNCIAS POSSÍVEIS
Do mesmo modo que o reconhecimento de escrita manual por
algoritmos informáticos se desenvolveu recentemente (Plötz &
Fink, 2009), as tarefas não-rotineiras podem ser problemas
definidos e passíveis de computorização.
Grande quantidade de dados é necessária para verificar a
capacidade de sucesso de um algoritmo. Os desafios da big
data permitem aumentar a capacidade de computação que
permite automatizar tarefas cognitivas não rotineiras.
A navegação de veículos autónomos, a tradução automática,
os sistemas de base de conhecimento são exemplos de uma
evolução técnica que permite vantagem comparativa em
relação aos humanos
16
TAREFAS HUMANAS?
As tarefas de diagnóstico médico tipicamente são
desempenhadas por humanos com conhecimento não
rotinizado e muito qualificado. No entanto, o tratamento
informático que grandes quantidades de relatórios médicos,
de artigos em revistas científicas, de relatos de experiências
clínicas, etc., permitem automatizar com grande
probabilidade de sucesso um diagnóstico e desenvolver um
plano de tratamento;
Serviços financeiros recorrem cada vez mais a algoritmos
que permitem decisão automática de investimento ou de
criação de cenários
O tratamento informático de enormes quantidades de
documentos legais (com tratamento de linguagem, análise
de conteúdo, definição de conceitos) permite apresentar
informação para tomada de decisão jurídica em curto prazo
17
LIMITES NO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO
ASSOCIADO AO TRABALHO HUMANO
Dificuldade em igualar a capacidade de perceção humana,
sobretudo em ambientes não estruturados
Sem uma capacidade de perceção desenvolvida, as tarefas
de manipulação encontram limites. A interação com
humanos ainda tem problemas de segurança
As tarefas de inteligência criativa não são automatizáveis
(mesmo em todas as formas de arte)
As tarefas de inteligência social têm ainda muitos limites. As
emoções não são passíveis de algoritmização. A área de
social robotics permite o reconhecimento de emoções, BCI
permite mapeamento do cérebro na interação, mas os
resultados são ainda insatisfatórios e provavelmente não
permitem alcançar a capacidade humana.
18
SOLUÇÕES?
Necessidade de aumentar a qualidade dos conteúdos
de trabalho.
A informatização de tarefas pode disponibilizar mais
tempo livre, pois com a mesma unidade de tempo os
níveis de produtividade podem ser atingidos com a
automatização.
Uma chave para a resolução dos novos problemas pode
ser encontrada nos modos de distribuição da riqueza e
no acesso ao conhecimento
Trabalho menos qualificado poderá não implicar
desemprego se o conteúdo das tarefas revelar a
necessidade de inteligência criativa e social.
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Muito obrigado pela atenção!
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Visões sobre o emprego na sociedade digital

  • 1. VISÕES SOBRE O EMPREGO NA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO António Brandão Moniz (Sociólogo, Professor com agregação em Sociologia na FCT-Universidade Nova de Lisboa, Investigador sénior no ITAS-Karlsruhe Institute of Technology Coordenador do programa doutoral de Avaliação de Tecnologia na FCT-UNL) 1
  • 2. MERCADO ÚNICO DIGITAL EUROPEU Transformações Económicas, Competências e Empregabilidade 2
  • 3. QUESTÕES como avaliamos a relação entre tecnologias e emprego? quais os desafios para a Europa e para Portugal nas próximas décadas? quais as efetivas condições de desenvolvimento e expansão do Emprego Digital em Portugal, no quadro do Mercado Único Digital Europeu? como suprir o previsível défice de competências digitais da sociedade portuguesa, assegurando a coesão social e a inclusão? 3
  • 4. QUESTÕES (cont) em que medida as transformações económicas inevitavelmente introduzidas pelo desenvolvimento tecnológico vão efetivamente destruir emprego? e que novos empregos, para além dos classificáveis como digitais, deverão surgir? como assegurar a empregabilidade da população portuguesa a prazo? como tirar partido das tecnologias e desenvolver uma SI compatível com o emprego e o bem-estar social, financeiramente sustentável, numa economia globalizada e com um perfil demográfico distinto? 4
  • 5. PREVISÃO DE KEYNES EM 1933 Previsão de John Maynard Keynes sobre a tendência de difusão de desemprego tecnológico: “due to our discovery of means of economising de use of labour outrunning the pace at which we can find new uses of labour” (“Economic possibilities for our grandchildren”, Essays in persuasion, 1933, 358-373) De facto, a tecnologia tem contribuído para o aumento de produtividade, mas o efeito direto sobre o emprego é sobretudo a curto prazo. Esta relação ainda merece a atenção de muitos estudos e não certezas ainda acerca dos efeitos e das causas. 5
  • 6. INICIATIVAS GOVERNAMENTAIS Em 1955 nos Estados Unidos foi criada uma Joint Economic Committee (JEC) do Congresso com longas audições acerca das consequências da automação e fábricas “push-button” para o mercados de trabalho. Em 1961, o Presidente John F. Kennedy estabeleceu o Office of Automation & Manpower. Em 1964, o Presidente Johnson estabeleceu o “Blue Ribbon National Commission on Technology, Automation and Economic Progress” 6
  • 7. O DEBATE EM TORNO DO TRABALHO DIGITAL O trabalho digital é uma característica da sociedade moderna O nível de dimensão técnica do trabalho digital parece ser muito significante. Não é apenas um estatuto na relação laboral O debate científico da 'Informatização do trabalho' começou nos anos 1990 (Boes, Pfeiffer 2006, Schmiede, Huws): Novas práticas socio-técnicas em muitas profissões (temporais & espaciais) Mudança do quadro institucional do emprego (flexibiliação, 'empregabilidade') As fronteiras difusas (blurring boundaries) do trabalho e da vida quotidiana (caráter dominante do trabalho nas biografias) Processos de aumento de velocidade e intensificação do trabalho (novas formas de carga na esfera do trabalho) Globalização do trabalho (dependências) 7
  • 8. TIC NO TRABALHO: EVOLUÇÃO RECENTE NA EUROPA Fonte: Eurofound (2012): Fifth European Working Conditions Survey, Luxembourg Evolução do uso de tecnologia, UE27 (%) 8
  • 9. PROBLEMAS COM A DIGITALIZAÇÃO DO TRABALHO Proteção de dados Investmento em tecnologia (politicas) Intensificação das tarefas Flexibilidade do uso do tempo de trabalho Precaridade dos contratos Des-qualificação Conteúdos de tarefas mais pobres Produtividade (baseada apenas na tecnologia ou no capital?) • Análise mais profunda dos processos é necessária! 9
  • 10. ABORDAGENS OTIMISTAS As velhas estruturas de trabalho tendem a desaparecer (sindicatos, relações laborais, etc.) A maioria dos empregados serão trabalhadores do conhecimento e grande parte transforma-se em empreendedores ou profissionais autónomos Grande parte dos empregos criados são nos setores baseados no conhecimento e em indústrias de base tecnológica 10
  • 11. ABORDAGENS PESSIMISTAS Braverman (1974) apontava para a tendência de desqualificação induzida pela automatização Rifkin fala-nos no “fim do trabalho” na era da informação e da tecnologia O aumento de emprego nos serviços não levou a uma melhoria das qualificações e condições de trabalho A crise global de emprego é muito profunda e complexa Mesmo os trabalhadores do conhecimento e os mais qualificados irão sofrer com a diminuição do valor salarial O aumento da produtividade possível pela tecnologia não se traduz em melhoria da qualidade de vida 11
  • 12. A NOVA IDADE DAS MÁQUINAS (BRYNJOLFSSON & MCAFEE) Estudos de Brynjolfsson & McAfee apontam para uma tendência de aumento da capacidade da tecnologia em automatizar funções geralmente realizadas por humanos (Second Machine Age, 2014). As máquinas passaram a substituir a capacidade muscular desde o sec. XIX, e desde os anos 80 as máquinas começaram a substituir a capacidade de pensar. O impacto deste processo vai fazer-se sentir sobretudo nas nossas vidas quotidianas e no nosso trabalho Exemplos: veículos autónomos, robots 12
  • 13. ESTUDO DE FREY E OSBORNE (2013) Estudaram as profissões que tenderão a ser informatizadas. Num primeiro passo, as profissões associadas aos transportes e logística, às de trabalho administrativo, e às de produção industrial tenderão a ser substituídas por computadores. A esta vaga de automação vai seguir-se uma diminuição de uso de computadores para substituição de trabalho devido ao aumento dos problemas técnicos em consegui-lo. Alguns desafios da automatização relacionam-se com dificuldades na perceção e manipulação 13
  • 14. SEGUNDA VAGA DE COMPUTORIZAÇÃO O trabalho humano tem ainda vantagens comparativas com as máquinas em tarefas que requerem perceção e manipulação complexas De acordo com o modelo de Frey e Osborne, a resolução das dificuldades de computorização da inteligência criativa e social vai ser conseguida (com machine learning) No entanto, profissões que requerem conhecimento de heurística humana e profissões especializadas que envolvam o desenvolvimento de novas ideias e artefatos, serão as menos suscetíveis de computorização. 14
  • 16. TENDÊNCIAS POSSÍVEIS Do mesmo modo que o reconhecimento de escrita manual por algoritmos informáticos se desenvolveu recentemente (Plötz & Fink, 2009), as tarefas não-rotineiras podem ser problemas definidos e passíveis de computorização. Grande quantidade de dados é necessária para verificar a capacidade de sucesso de um algoritmo. Os desafios da big data permitem aumentar a capacidade de computação que permite automatizar tarefas cognitivas não rotineiras. A navegação de veículos autónomos, a tradução automática, os sistemas de base de conhecimento são exemplos de uma evolução técnica que permite vantagem comparativa em relação aos humanos 16
  • 17. TAREFAS HUMANAS? As tarefas de diagnóstico médico tipicamente são desempenhadas por humanos com conhecimento não rotinizado e muito qualificado. No entanto, o tratamento informático que grandes quantidades de relatórios médicos, de artigos em revistas científicas, de relatos de experiências clínicas, etc., permitem automatizar com grande probabilidade de sucesso um diagnóstico e desenvolver um plano de tratamento; Serviços financeiros recorrem cada vez mais a algoritmos que permitem decisão automática de investimento ou de criação de cenários O tratamento informático de enormes quantidades de documentos legais (com tratamento de linguagem, análise de conteúdo, definição de conceitos) permite apresentar informação para tomada de decisão jurídica em curto prazo 17
  • 18. LIMITES NO DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO ASSOCIADO AO TRABALHO HUMANO Dificuldade em igualar a capacidade de perceção humana, sobretudo em ambientes não estruturados Sem uma capacidade de perceção desenvolvida, as tarefas de manipulação encontram limites. A interação com humanos ainda tem problemas de segurança As tarefas de inteligência criativa não são automatizáveis (mesmo em todas as formas de arte) As tarefas de inteligência social têm ainda muitos limites. As emoções não são passíveis de algoritmização. A área de social robotics permite o reconhecimento de emoções, BCI permite mapeamento do cérebro na interação, mas os resultados são ainda insatisfatórios e provavelmente não permitem alcançar a capacidade humana. 18
  • 19. SOLUÇÕES? Necessidade de aumentar a qualidade dos conteúdos de trabalho. A informatização de tarefas pode disponibilizar mais tempo livre, pois com a mesma unidade de tempo os níveis de produtividade podem ser atingidos com a automatização. Uma chave para a resolução dos novos problemas pode ser encontrada nos modos de distribuição da riqueza e no acesso ao conhecimento Trabalho menos qualificado poderá não implicar desemprego se o conteúdo das tarefas revelar a necessidade de inteligência criativa e social. 19
  • 20. Muito obrigado pela atenção! 20