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Letramento 4.0 – competências e
habilidades para o trabalho
A biografia de Leonardo da Vinci escrita por Walter Isaacson começa com uma tentativa de
descrever Leonardo a partir de como ele próprio se enxergava. Figura monumental na história
da humanidade, Leonardo é considerado por muitos, Isaacson inclusive, o maior gênio criativo
que já viveu. A passagem é a seguinte:
Na época em que ele alcançou o desconcertante marco dos 30 anos,
Leonardo da Vinci escreveu uma carta ao governante de Milão listando as
razões pelas quais ele deveria receber um emprego. Ele havia sido
moderadamente bem-sucedido como pintor em Florença, mas teve
problemas para terminar suas encomendas e buscava novos horizontes.
Nos primeiros dez parágrafos dessa carta, ele descreveu, de forma bastante
autolaudatória, suas habilidades de engenharia, incluindo sua capacidade
de projetar pontes, canais, canhões, veículos blindados e edifícios públicos.
Apenas no décimo primeiro parágrafo, o último, ele acrescentou que ele
também era um artista. “Da mesma forma, na pintura, posso fazer
qualquer coisa que se possa imaginar”, escreveu ele.
Sim, ele podia. Ele iria criar as duas pinturas mais famosas da história, “A
Última Ceia” e a “Mona Lisa”. Mas em sua própria mente, ele era tanto um
homem de ciência e engenharia. (Isaacson, 2018)
Para Isaacson, o século XV apresenta importantes similaridades com o século XXI: foi um
período histórico de “invenção, exploração e a difusão de conhecimento por meio de novas
tecnologias” (p.9). Para ele, Leonardo demonstrou, unindo arte, ciência, tecnologia e
humanismo, como é possível navegar no mar de inovação e incerteza que tais momentos
acarretam. Talvez o século XXI seja marcado, realmente, pela redescoberta da mentalidade
renascentista. Permitimos que a ciência e a tecnologia, por um lado, as afastassem em
demasia da arte e do pensamento humano. Tudo indica que este é o momento de promover
uma necessária unificação em nossa forma de enxergar o mundo.
Formação para o trabalho e para a vida – um problema global
No Brasil, assim como no restante do mundo industrializado, mudar a área de atuação não
somente uma, mas várias vezes ao longo da trajetória profissional do indivíduo, se tornou a
regra ao invés da exceção. Em um estudo conduzido pelo economista Naércio Menezes Filho
(Folha de São Pauulo, 2018), menos de 50% das pessoas, em 34 das 41 profissões analisadas,
trabalhavam em área de atuação compatível com a formação universitária. Esse fenômeno é
mundial e coloca um desafio para quem quiser se manter competitivo e relevante
profissionalmente: a pessoa precisa se preparar para aprender e dominar funções para as
quais não teve formação prévia.
Além disso, deve-se considerar também que a maior parte das funções que os jovens de hoje
sequer existem. O percentual varia de estudo para estudo, mas avalia-se que 2/3 ou mais das
profissões que existirão em 2030 ainda não existem hoje. Algumas projeções chegam a
afirmar que 85% das profissões de 2030 ainda não existem hoje (Dell e Institute for the Future
(IFTF), 2017).
O que possibilita mudanças nessa escala sem dúvida é a tecnologia. Mal começamos a
arranhar as possibilidades do que a Inteligência Artificial tem para nos oferecer e profissões as
mais variadas já sentem seus impactos. É claro que tarefas rotineiras e repetitivas são as
primeiras a ser ameaçadas pela automatização, mas a mudança é mais profunda e abrange
praticamente todas as áreas de atuação humana. Professores podem ser substituídos por
robôs, diagnósticos médicos podem ser substituídos por inteligência artificial, advogados,
engenheiros, aparentemente não há limites para até onde a tecnologia pode avançar. Nesse
ambiente, o ser humano precisa se redefinir a fim de manter a sua competitividade por um
período de vida também cada vez mais longo. As crianças de hoje que desenvolvam bons
hábitos de vida e tenham acesso a medicina diagnóstica e preventiva possuem expectativa de
vida, excetuando-se acidentes, que supera os cem anos, chegando mesmo a 120 ou até mais.
Nossos jovens, portanto, têm um enorme desafio pela frente e cabe a nós, mais velhos e que,
supostamente, temos mais experiência e conhecimento das coisas, ajudá-los a se posicionar
frente a ele.
A pergunta básica que temos para fazer, portanto, é a seguinte: que competências uma pessoa
deve desenvolver para manter o seu valor como indivíduo e como profissional em um
ambiente de mudança acelerada como aquele em que vivemos? As respostas variam mas
todas elas têm um fundamento comum: a estrada passa pela (re)unificação da arte, ciência,
tecnologia e pensamento humanístico em um todo que diferencia o ser humano da máquina.
Competências e habilidades para o Século XXI
Em 2015 a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou
um relatório intitulado Skills for progress: the power of social and emotional skills (OCDE,
2015). Nesse relatório, a organização alerta para o fato de que competências sócio
comportamentais são no mínimo tão relevantes, senão mais, do que competências técnicas e
cognitivas para os trabalhadores no século XXI. A figura abaixo resume as principais
características de cada uma dessas famílias de competências:
Figura 1: Competências cognitivas e emocionais essenciais ao século XXi
Fonte: (OCDE, 2015)
Do lado esquerdo, constam as competências técnicas (de alto nível) e cognitivas que as
pessoas precisam desenvolver. É interessante que a palavra CRIATIVIDADE não consta dessa
relação. Embora o relatório do OCDE não explique essa omissão de uma característica que
consideramos importante, talvez isso ocorra porque ainda não se tenha muito conhecimento
sobre como a criatividade pode ser desenvolvida. Nesse sentido, a trajetória de um
excepcional criativo como Leonardo da Vinci, pode nos ajudar a compreender melhor como
isso pode ser feito. Voltaremos a esta questão na última sessão deste artigo.
Do lado direito, são apresentadas as principais competências humanas e comportamentais
necessárias para uma trajetória profissional bem sucedida. Essa relação certamente tem
semelhança com o que Daniel Goleman define como Inteligência Emocional. Para ele,
Inteligência Emocional abrange três aspectos fundamentais: (1) Reconhecer, compreender e
controlar as próprias emoções, (2) Reconhecer, compreender e influenciar as emoções dos
outros e (3) Moldar o próprio comportamento em função das próprias emoções e das dos
outros (Goleman, 1995). Peter Drucker, guru da administração, também sabia disso e nos
deixou uma visão magistral da essência da liderança: “[O] seu principal desafio, como líder, é
dominar a sua própria energia para, então, promover a energia das outras pessoas”
(Freedman, 2007).
O Banco Mundial também argumenta a favor da importância das competências humanas e
comportamentais. Em uma matéria disponível no site da organização (Banco Mundial, 2016),
eles afirmam que:
Devemos priorizar a formação de habilidades cognitivas e sócio-
comportamentais desde a infância. Estas habilidades são necessárias para
melhorar e conquistar novas habilidades técnicas ao longo da vida. Elas
fazem trabalhadores mais resilientes e capazes de suportar melhor
ambientes em mudança. [...] os adultos com baixos níveis de letramento
verbal e matemático têm dificuldade para aprender e atualizar as
habilidades técnicas necessárias para competir no mercado de trabalho
moderno.
A menção à capacidade de resiliência é particularmente interessante. Resiliência pode ser
entendida como a capacidade de se adaptar a mudanças e se recuperar de acontecimentos
negativos que ocorrem para todos nós ao longo da vida. Resiliência é uma importante
característica de pessoas que se destacaram em suas carreiras; de acordo com o livro de
Walter Isaacson, Leonardo foi uma pessoa de grande resiliência. É interessante notar que
resiliência e autoconhecimento estão associados; a pessoa, para ser resiliente, precisa se
conhecer e saber tirar proveito dos reservatórios internos de motivação e energia que todos
nós possuímos.
Em um outro relatório, o Institute for the Future (IFTF) define as competências essenciais ao
século XXI a partir de seis direcionadores de mudança particularmente relevantes, na visão dos
autores: (1) longevidade extrema, (2) mundo computacional, (3) organizações
superestruturadas e escaláveis, (4) inteligência artificial, (5) novas mídias e (6) mundo
conectado (Institute for the Future, 2011).
Figura 2: Direcionadores de mudança e competências essenciais ao século XXI
Fonte: (Institute for the Future, 2011)
A partir desses seis direcionadores, o IFTF elencou dez competências essenciais: (1)
pensamento crítico, (2) pensamento criativo e adaptativo, (3) inteligência social, (4)
transdisciplinaridade, (5) letramento digital e em novas mídias, (6) pensamento
computacional, (7) gestão da carga cognitiva, (8) competência multicultural, (9) colaboração
virtual e (10) pensamento de Design. As descrições detalhadas de cada uma dessas
competências podes ser encontradas no relatório disponível on-line e não serão repetidas
aqui; nos restringiremos a destacar alguns pontos que nos parecem particularmente
interessantes.
Em primeiro lugar, o pensamento criativo foi explicitamente incluído na reflexão do IFTF,
juntamente com pensamento adaptativo: ou seja, as pessoas precisam ser capazes de se
adaptar a novas circunstâncias, inovando ao longo do percurso. A combinação de
competências variadas, a transdisciplinaridade, também merece destaque. O mundo está
cada vez mais complexo, os problemas que enfrentamos resultam e recebem impactos de
diversas fontes. Isso ocorre tanto no nível de uma nação como no nível de empresas e
organizações que, forçosamente, atuam em escala global ou, no mínimo, se deparam com
competidores globais.
Outra consequência dessa complexidade é o fato de que os profissionais do século XXI estão
expostos à interação global a qualquer momento: a colaboração virtual e a capacidade de
trabalhar com equipes multiculturais são essenciais. Mais uma vez, competências
comportamentais ocupam posição de destaque na formação profissional.
A importância da criatividade também é destacada pela organização Partnership for 21st
Century Learning (P21). Eles propõem um modelo extenso e abrangente, que parte de
conteúdos essenciais das disciplinas de ensino médio até chegar a uma proposta de
competências para o trabalho, que são divididas em três categorias (Tabela 1).
Tabela 1: Competências essenciais ao trabalho e na vida no século XXI
Aprendizagem e Inovação
(os 4 C’s) 1
Letramento digital Carreira e vida
* Pensamento crítico e
solução de problemas
* Criatividade e inovação
* Comunicação
* Colaboração
* Letramento informacional
* Letramento em mídia
* Letramento em tecnologias
de informação e
comunicação (TICs)
* Flexibilidade e
adaptabilidade
* Iniciativa e
autodirecionamento
* Interação social e
multicultural
* Produtividade e senso de
responsabilidade
* Liderança
Fonte: (Partnership for 21st Century Learning, 2015)
Temos, dessa forma, as visões de quatro organizações sobre o a questão do letramento
necessário ao século XXI e à Indústria 4.0. É claro que há diferenças, criatividade é um bom
exemplo. Ela não é mencionada nas definições da OCDE nem do Banco Mundial, mas aparece
nos documentos do IFTF e da P21. De todos, o IFTF parece ser o que dá mais importância
relativa à tecnologia, embora o P21 seja explícito quanto ao letramento digital. A OCDE, por
outro lado, dá mais ênfase às capacidades cognitivas que permitiriam o desenvolvimento de
habilidades técnicas.
No entanto, se há um ponto de concordância entre todos estes modelos é que o ser humano,
para se diferenciar da máquina e manter a sua relevância no mundo que vem pela frente,
precisa se redescobrir, reintegrar aspectos que o avanço da tecnologia e do pensamento
separaram, como a ciência e a arte, e reforçar aquela característica que, na visão de Albert
Einstein, é o principal indicador de inteligência: a criatividade; o que nos leva ao último
questionamento deste artigo.
Estará faltando alguma coisa?
No final da sessão anterior, foi relembrada a importância que Einstein sempre deu à
criatividade e à imaginação. Ele certamente concordaria com Walter Isaacson sobre a
importância de combinar o pensamento analítico ao criativo. Para Einstein, “os grandes
cientistas também são artistas” (Calaprice, 2000). Ele também concordaria quanto à
importância de uma outra característica que, embora não apareça nos modelos descritos
acima, também, em nossa opinião, merece lugar de destaque entre os atributos que
diferenciam fundamentalmente o ser humano da máquina: a curiosidade. Para Einstein:
“O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria
razão para existir. Não podemos deixar de nos maravilhar ao contemplar
os mistérios da eternidade, da vida, da maravilhosa estrutura da realidade.
Basta que se tente apenas compreender um pouco desse mistério todos os
dias. Nunca perca sua curiosidade” (AZ Quotes, 2018).
1
Do inglês: (1) Critical thinking and problem solving, (2) Creativity and innovation, (3)
Communication e (4) Collaboration.
Para Einstein a curiosidade é tão fundamental que, sobre si mesmo, ele declarou que não tinha
talentos especiais, a não ser pelo fato de ser apaixonadamente curioso. Isaacson diz o mesmo
a respeito de Leonardo. Uma das características mais fortes em sua personalidade era a
curiosidade. Para Isaacson, Leonardo era “selvagemente criativo, apaixonadamente curioso e
criativo em múltiplas disciplinas” (Isaacson, Op., cit., p.3).
Brian Grazer, importante produtor cinematográfico norte-americano que fez sua carreira em
Hollywood, atribui todo o seu sucesso à curiosidade. Produtor de cerca de 60 filmes, entre os
quais estão sucessos como Splash, uma cereia em minha vida, O Código Da Vinci, Apollo 13,
entre outros, ele diz que cedo percebeu o valor da curiosidade, uma curiosidade que não tinha
limites. Ele procurava conhecer tudo o que pudesse sobre os assuntos e as pessoas mais
variados. Em seu livro Uma Mente Curiosa, Grazer descreve de forma muito divertida, por
exemplo, o seu hábito de manter conversas de curiosidade com pessoas as mais diversas
(Grazer, 2016).
Para Grazer, a conexão entre curiosidade e criatividade é bastante evidente: boas narrativas
requerem criatividade e originalidade; requer uma centelha real de inspiração. De onde vem
essa centelha? Eu acredito que a curiosidade seja a fagulha que incendeia a inspiração e a
criatividade (p.21).
Talvez Grazer esteja certo, talvez a curiosidade seja mesmo a competência essencial que
explica tantas outras conquistas da humanidade. No mínimo, devemos admitir que há
precedentes famosos apontando nessa mesma direção. É claro que a curiosidade, sozinha,
não é suficiente, mas os modelos apresentados acima são bastante abrangentes e incorporam
as principais competências necessárias ao indivíduo. Mas, por algum motivo, nenhum deles
inclui a curiosidade e deixamos aqui a proposta de que esse predicado seja deliberadamente
trabalhado no processo educacional, assim como o autoconhecimento, o pensamento crítico,
a criatividade.
O ser humano tem o potencial de transformar a realidade
Concluindo, qual perfil profissional será valorizado no século XXI? Na ESPM, nós definimos,
como nosso objetivo no trabalho com os estudantes, o fortalecimento do potencial
transformador que todos, em maior ou menor grau, possuem. Para nós, o transformador é um
indivíduo questionador, que procura caminhos novos, às vezes radicalmente novos. Ele
conhece a si próprio e acredita no seu projeto e nos seus ideais. Possui um propósito e possui
também o ferramental necessário para ver esse propósito concretizado: competências
cognitivas, técnicas, humanas e comportamentais.
Acreditamos que seja esse o caminho para as pessoas se manterem sempre à frente da
tecnologia, à frente da onda avassaladora da Inteligência Artificial. Certamente, não se trata
de lutar contra o avanço tecnológico, ou se colocar à margem dele. Essas opções não existem
em um mundo cada vez mais conectado e interdependente. Porém, redescobrindo o que nos
torna únicos, como espécie e como indivíduos, podemos encontrar novos caminhos, percursos
que valorizem as contribuições que cada um pode trazer.
As organizações precisam, cada vez mais, de pessoas motivadas, centradas e capazes de
exercer a liderança de uma forma saudável para si mesmas e para o ambiente. As pessoas
estão estressadas, cansadas e desmotivadas2
. Além do custo humano, as empresas perdem
bilhões de dólares com o declínio em produtividade causado por tudo isso. Talvez, o que o
século XXI mais precise, é de pessoas que possam fazer a diferença.
Referências bibliográficas
AZ Quotes. (06 de 05 de 2018). Albert Einstein QUotes. Fonte: AZQuotes:
http://www.azquotes.com/quote/455371
Banco Mundial. (2 de Março de 2016). Preparing for the Robots: Which Skills for 21st Century
Jobs? Fonte: Site do Banco Mundial:
http://www.worldbank.org/en/news/opinion/2016/03/02/preparing-for-robots-
which-skills-for-21st-century-jobs
Calaprice, A. (2000). The Expanded Quotable Einstein. New Jersey: Princeton University Press.
Dell e Institute for the Future (IFTF). (2017). The next era of human | machines partnerships -
Emerging technologies impact on society and work in 2030.
Folha de São Pauulo. (28 de Janeiro de 2018). Jovens trabalham fora da área em que se
formaram, mostram estudos. Fonte: Site do jornal Folhda de São Paulo:
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1953841-jovens-trabalham-fora-da-
area-em-que-se-especializaram-mostram-estudos.shtml
Freedman, J. (2007). At the heart of leadership: How to get results with emotional intelligence.
Freedom: Six Seconds.
Gallup. (2017). State of the Global Workplace.
Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence: Why it can matter more than IQ. New York:
Bantam Dell, Random House.
Grazer, B. (2016). Uma mente curiosa. Citadel: São Paulo.
Institute for the Future. (2011). Future Work Skills 2020.
Isaacson, W. (2018). Leonardo da VInci. New Yoirk: Simon & Schuster.
OCDE. (2015). Skills for social progress: the power of social and emotional skills .
Partnership for 21st Century Learning. (2015). P21 Framework Definitions.
2
Como exemplo, ver Gallup Research, State of the Global Workplace: Segundo o relatório, globalmente
não mais do que 15% dos trabalhadores se consideram motivados e engajados (Gallup, 2017).

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Artigo letramento4revistaespm

  • 1. Letramento 4.0 – competências e habilidades para o trabalho A biografia de Leonardo da Vinci escrita por Walter Isaacson começa com uma tentativa de descrever Leonardo a partir de como ele próprio se enxergava. Figura monumental na história da humanidade, Leonardo é considerado por muitos, Isaacson inclusive, o maior gênio criativo que já viveu. A passagem é a seguinte: Na época em que ele alcançou o desconcertante marco dos 30 anos, Leonardo da Vinci escreveu uma carta ao governante de Milão listando as razões pelas quais ele deveria receber um emprego. Ele havia sido moderadamente bem-sucedido como pintor em Florença, mas teve problemas para terminar suas encomendas e buscava novos horizontes. Nos primeiros dez parágrafos dessa carta, ele descreveu, de forma bastante autolaudatória, suas habilidades de engenharia, incluindo sua capacidade de projetar pontes, canais, canhões, veículos blindados e edifícios públicos. Apenas no décimo primeiro parágrafo, o último, ele acrescentou que ele também era um artista. “Da mesma forma, na pintura, posso fazer qualquer coisa que se possa imaginar”, escreveu ele. Sim, ele podia. Ele iria criar as duas pinturas mais famosas da história, “A Última Ceia” e a “Mona Lisa”. Mas em sua própria mente, ele era tanto um homem de ciência e engenharia. (Isaacson, 2018) Para Isaacson, o século XV apresenta importantes similaridades com o século XXI: foi um período histórico de “invenção, exploração e a difusão de conhecimento por meio de novas tecnologias” (p.9). Para ele, Leonardo demonstrou, unindo arte, ciência, tecnologia e humanismo, como é possível navegar no mar de inovação e incerteza que tais momentos acarretam. Talvez o século XXI seja marcado, realmente, pela redescoberta da mentalidade renascentista. Permitimos que a ciência e a tecnologia, por um lado, as afastassem em demasia da arte e do pensamento humano. Tudo indica que este é o momento de promover uma necessária unificação em nossa forma de enxergar o mundo. Formação para o trabalho e para a vida – um problema global No Brasil, assim como no restante do mundo industrializado, mudar a área de atuação não somente uma, mas várias vezes ao longo da trajetória profissional do indivíduo, se tornou a regra ao invés da exceção. Em um estudo conduzido pelo economista Naércio Menezes Filho (Folha de São Pauulo, 2018), menos de 50% das pessoas, em 34 das 41 profissões analisadas, trabalhavam em área de atuação compatível com a formação universitária. Esse fenômeno é mundial e coloca um desafio para quem quiser se manter competitivo e relevante profissionalmente: a pessoa precisa se preparar para aprender e dominar funções para as quais não teve formação prévia. Além disso, deve-se considerar também que a maior parte das funções que os jovens de hoje sequer existem. O percentual varia de estudo para estudo, mas avalia-se que 2/3 ou mais das profissões que existirão em 2030 ainda não existem hoje. Algumas projeções chegam a
  • 2. afirmar que 85% das profissões de 2030 ainda não existem hoje (Dell e Institute for the Future (IFTF), 2017). O que possibilita mudanças nessa escala sem dúvida é a tecnologia. Mal começamos a arranhar as possibilidades do que a Inteligência Artificial tem para nos oferecer e profissões as mais variadas já sentem seus impactos. É claro que tarefas rotineiras e repetitivas são as primeiras a ser ameaçadas pela automatização, mas a mudança é mais profunda e abrange praticamente todas as áreas de atuação humana. Professores podem ser substituídos por robôs, diagnósticos médicos podem ser substituídos por inteligência artificial, advogados, engenheiros, aparentemente não há limites para até onde a tecnologia pode avançar. Nesse ambiente, o ser humano precisa se redefinir a fim de manter a sua competitividade por um período de vida também cada vez mais longo. As crianças de hoje que desenvolvam bons hábitos de vida e tenham acesso a medicina diagnóstica e preventiva possuem expectativa de vida, excetuando-se acidentes, que supera os cem anos, chegando mesmo a 120 ou até mais. Nossos jovens, portanto, têm um enorme desafio pela frente e cabe a nós, mais velhos e que, supostamente, temos mais experiência e conhecimento das coisas, ajudá-los a se posicionar frente a ele. A pergunta básica que temos para fazer, portanto, é a seguinte: que competências uma pessoa deve desenvolver para manter o seu valor como indivíduo e como profissional em um ambiente de mudança acelerada como aquele em que vivemos? As respostas variam mas todas elas têm um fundamento comum: a estrada passa pela (re)unificação da arte, ciência, tecnologia e pensamento humanístico em um todo que diferencia o ser humano da máquina.
  • 3. Competências e habilidades para o Século XXI Em 2015 a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um relatório intitulado Skills for progress: the power of social and emotional skills (OCDE, 2015). Nesse relatório, a organização alerta para o fato de que competências sócio comportamentais são no mínimo tão relevantes, senão mais, do que competências técnicas e cognitivas para os trabalhadores no século XXI. A figura abaixo resume as principais características de cada uma dessas famílias de competências: Figura 1: Competências cognitivas e emocionais essenciais ao século XXi Fonte: (OCDE, 2015) Do lado esquerdo, constam as competências técnicas (de alto nível) e cognitivas que as pessoas precisam desenvolver. É interessante que a palavra CRIATIVIDADE não consta dessa relação. Embora o relatório do OCDE não explique essa omissão de uma característica que consideramos importante, talvez isso ocorra porque ainda não se tenha muito conhecimento sobre como a criatividade pode ser desenvolvida. Nesse sentido, a trajetória de um excepcional criativo como Leonardo da Vinci, pode nos ajudar a compreender melhor como isso pode ser feito. Voltaremos a esta questão na última sessão deste artigo. Do lado direito, são apresentadas as principais competências humanas e comportamentais necessárias para uma trajetória profissional bem sucedida. Essa relação certamente tem semelhança com o que Daniel Goleman define como Inteligência Emocional. Para ele, Inteligência Emocional abrange três aspectos fundamentais: (1) Reconhecer, compreender e controlar as próprias emoções, (2) Reconhecer, compreender e influenciar as emoções dos outros e (3) Moldar o próprio comportamento em função das próprias emoções e das dos outros (Goleman, 1995). Peter Drucker, guru da administração, também sabia disso e nos deixou uma visão magistral da essência da liderança: “[O] seu principal desafio, como líder, é
  • 4. dominar a sua própria energia para, então, promover a energia das outras pessoas” (Freedman, 2007). O Banco Mundial também argumenta a favor da importância das competências humanas e comportamentais. Em uma matéria disponível no site da organização (Banco Mundial, 2016), eles afirmam que: Devemos priorizar a formação de habilidades cognitivas e sócio- comportamentais desde a infância. Estas habilidades são necessárias para melhorar e conquistar novas habilidades técnicas ao longo da vida. Elas fazem trabalhadores mais resilientes e capazes de suportar melhor ambientes em mudança. [...] os adultos com baixos níveis de letramento verbal e matemático têm dificuldade para aprender e atualizar as habilidades técnicas necessárias para competir no mercado de trabalho moderno. A menção à capacidade de resiliência é particularmente interessante. Resiliência pode ser entendida como a capacidade de se adaptar a mudanças e se recuperar de acontecimentos negativos que ocorrem para todos nós ao longo da vida. Resiliência é uma importante característica de pessoas que se destacaram em suas carreiras; de acordo com o livro de Walter Isaacson, Leonardo foi uma pessoa de grande resiliência. É interessante notar que resiliência e autoconhecimento estão associados; a pessoa, para ser resiliente, precisa se conhecer e saber tirar proveito dos reservatórios internos de motivação e energia que todos nós possuímos. Em um outro relatório, o Institute for the Future (IFTF) define as competências essenciais ao século XXI a partir de seis direcionadores de mudança particularmente relevantes, na visão dos autores: (1) longevidade extrema, (2) mundo computacional, (3) organizações superestruturadas e escaláveis, (4) inteligência artificial, (5) novas mídias e (6) mundo conectado (Institute for the Future, 2011).
  • 5. Figura 2: Direcionadores de mudança e competências essenciais ao século XXI Fonte: (Institute for the Future, 2011) A partir desses seis direcionadores, o IFTF elencou dez competências essenciais: (1) pensamento crítico, (2) pensamento criativo e adaptativo, (3) inteligência social, (4) transdisciplinaridade, (5) letramento digital e em novas mídias, (6) pensamento computacional, (7) gestão da carga cognitiva, (8) competência multicultural, (9) colaboração virtual e (10) pensamento de Design. As descrições detalhadas de cada uma dessas competências podes ser encontradas no relatório disponível on-line e não serão repetidas aqui; nos restringiremos a destacar alguns pontos que nos parecem particularmente interessantes. Em primeiro lugar, o pensamento criativo foi explicitamente incluído na reflexão do IFTF, juntamente com pensamento adaptativo: ou seja, as pessoas precisam ser capazes de se adaptar a novas circunstâncias, inovando ao longo do percurso. A combinação de competências variadas, a transdisciplinaridade, também merece destaque. O mundo está cada vez mais complexo, os problemas que enfrentamos resultam e recebem impactos de diversas fontes. Isso ocorre tanto no nível de uma nação como no nível de empresas e organizações que, forçosamente, atuam em escala global ou, no mínimo, se deparam com competidores globais. Outra consequência dessa complexidade é o fato de que os profissionais do século XXI estão expostos à interação global a qualquer momento: a colaboração virtual e a capacidade de trabalhar com equipes multiculturais são essenciais. Mais uma vez, competências comportamentais ocupam posição de destaque na formação profissional. A importância da criatividade também é destacada pela organização Partnership for 21st Century Learning (P21). Eles propõem um modelo extenso e abrangente, que parte de conteúdos essenciais das disciplinas de ensino médio até chegar a uma proposta de competências para o trabalho, que são divididas em três categorias (Tabela 1).
  • 6. Tabela 1: Competências essenciais ao trabalho e na vida no século XXI Aprendizagem e Inovação (os 4 C’s) 1 Letramento digital Carreira e vida * Pensamento crítico e solução de problemas * Criatividade e inovação * Comunicação * Colaboração * Letramento informacional * Letramento em mídia * Letramento em tecnologias de informação e comunicação (TICs) * Flexibilidade e adaptabilidade * Iniciativa e autodirecionamento * Interação social e multicultural * Produtividade e senso de responsabilidade * Liderança Fonte: (Partnership for 21st Century Learning, 2015) Temos, dessa forma, as visões de quatro organizações sobre o a questão do letramento necessário ao século XXI e à Indústria 4.0. É claro que há diferenças, criatividade é um bom exemplo. Ela não é mencionada nas definições da OCDE nem do Banco Mundial, mas aparece nos documentos do IFTF e da P21. De todos, o IFTF parece ser o que dá mais importância relativa à tecnologia, embora o P21 seja explícito quanto ao letramento digital. A OCDE, por outro lado, dá mais ênfase às capacidades cognitivas que permitiriam o desenvolvimento de habilidades técnicas. No entanto, se há um ponto de concordância entre todos estes modelos é que o ser humano, para se diferenciar da máquina e manter a sua relevância no mundo que vem pela frente, precisa se redescobrir, reintegrar aspectos que o avanço da tecnologia e do pensamento separaram, como a ciência e a arte, e reforçar aquela característica que, na visão de Albert Einstein, é o principal indicador de inteligência: a criatividade; o que nos leva ao último questionamento deste artigo. Estará faltando alguma coisa? No final da sessão anterior, foi relembrada a importância que Einstein sempre deu à criatividade e à imaginação. Ele certamente concordaria com Walter Isaacson sobre a importância de combinar o pensamento analítico ao criativo. Para Einstein, “os grandes cientistas também são artistas” (Calaprice, 2000). Ele também concordaria quanto à importância de uma outra característica que, embora não apareça nos modelos descritos acima, também, em nossa opinião, merece lugar de destaque entre os atributos que diferenciam fundamentalmente o ser humano da máquina: a curiosidade. Para Einstein: “O importante é não parar de questionar. A curiosidade tem sua própria razão para existir. Não podemos deixar de nos maravilhar ao contemplar os mistérios da eternidade, da vida, da maravilhosa estrutura da realidade. Basta que se tente apenas compreender um pouco desse mistério todos os dias. Nunca perca sua curiosidade” (AZ Quotes, 2018). 1 Do inglês: (1) Critical thinking and problem solving, (2) Creativity and innovation, (3) Communication e (4) Collaboration.
  • 7. Para Einstein a curiosidade é tão fundamental que, sobre si mesmo, ele declarou que não tinha talentos especiais, a não ser pelo fato de ser apaixonadamente curioso. Isaacson diz o mesmo a respeito de Leonardo. Uma das características mais fortes em sua personalidade era a curiosidade. Para Isaacson, Leonardo era “selvagemente criativo, apaixonadamente curioso e criativo em múltiplas disciplinas” (Isaacson, Op., cit., p.3). Brian Grazer, importante produtor cinematográfico norte-americano que fez sua carreira em Hollywood, atribui todo o seu sucesso à curiosidade. Produtor de cerca de 60 filmes, entre os quais estão sucessos como Splash, uma cereia em minha vida, O Código Da Vinci, Apollo 13, entre outros, ele diz que cedo percebeu o valor da curiosidade, uma curiosidade que não tinha limites. Ele procurava conhecer tudo o que pudesse sobre os assuntos e as pessoas mais variados. Em seu livro Uma Mente Curiosa, Grazer descreve de forma muito divertida, por exemplo, o seu hábito de manter conversas de curiosidade com pessoas as mais diversas (Grazer, 2016). Para Grazer, a conexão entre curiosidade e criatividade é bastante evidente: boas narrativas requerem criatividade e originalidade; requer uma centelha real de inspiração. De onde vem essa centelha? Eu acredito que a curiosidade seja a fagulha que incendeia a inspiração e a criatividade (p.21). Talvez Grazer esteja certo, talvez a curiosidade seja mesmo a competência essencial que explica tantas outras conquistas da humanidade. No mínimo, devemos admitir que há precedentes famosos apontando nessa mesma direção. É claro que a curiosidade, sozinha, não é suficiente, mas os modelos apresentados acima são bastante abrangentes e incorporam as principais competências necessárias ao indivíduo. Mas, por algum motivo, nenhum deles inclui a curiosidade e deixamos aqui a proposta de que esse predicado seja deliberadamente trabalhado no processo educacional, assim como o autoconhecimento, o pensamento crítico, a criatividade. O ser humano tem o potencial de transformar a realidade Concluindo, qual perfil profissional será valorizado no século XXI? Na ESPM, nós definimos, como nosso objetivo no trabalho com os estudantes, o fortalecimento do potencial transformador que todos, em maior ou menor grau, possuem. Para nós, o transformador é um indivíduo questionador, que procura caminhos novos, às vezes radicalmente novos. Ele conhece a si próprio e acredita no seu projeto e nos seus ideais. Possui um propósito e possui também o ferramental necessário para ver esse propósito concretizado: competências cognitivas, técnicas, humanas e comportamentais. Acreditamos que seja esse o caminho para as pessoas se manterem sempre à frente da tecnologia, à frente da onda avassaladora da Inteligência Artificial. Certamente, não se trata de lutar contra o avanço tecnológico, ou se colocar à margem dele. Essas opções não existem em um mundo cada vez mais conectado e interdependente. Porém, redescobrindo o que nos torna únicos, como espécie e como indivíduos, podemos encontrar novos caminhos, percursos que valorizem as contribuições que cada um pode trazer. As organizações precisam, cada vez mais, de pessoas motivadas, centradas e capazes de exercer a liderança de uma forma saudável para si mesmas e para o ambiente. As pessoas
  • 8. estão estressadas, cansadas e desmotivadas2 . Além do custo humano, as empresas perdem bilhões de dólares com o declínio em produtividade causado por tudo isso. Talvez, o que o século XXI mais precise, é de pessoas que possam fazer a diferença. Referências bibliográficas AZ Quotes. (06 de 05 de 2018). Albert Einstein QUotes. Fonte: AZQuotes: http://www.azquotes.com/quote/455371 Banco Mundial. (2 de Março de 2016). Preparing for the Robots: Which Skills for 21st Century Jobs? Fonte: Site do Banco Mundial: http://www.worldbank.org/en/news/opinion/2016/03/02/preparing-for-robots- which-skills-for-21st-century-jobs Calaprice, A. (2000). The Expanded Quotable Einstein. New Jersey: Princeton University Press. Dell e Institute for the Future (IFTF). (2017). The next era of human | machines partnerships - Emerging technologies impact on society and work in 2030. Folha de São Pauulo. (28 de Janeiro de 2018). Jovens trabalham fora da área em que se formaram, mostram estudos. Fonte: Site do jornal Folhda de São Paulo: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/01/1953841-jovens-trabalham-fora-da- area-em-que-se-especializaram-mostram-estudos.shtml Freedman, J. (2007). At the heart of leadership: How to get results with emotional intelligence. Freedom: Six Seconds. Gallup. (2017). State of the Global Workplace. Goleman, D. (1995). Emotional Intelligence: Why it can matter more than IQ. New York: Bantam Dell, Random House. Grazer, B. (2016). Uma mente curiosa. Citadel: São Paulo. Institute for the Future. (2011). Future Work Skills 2020. Isaacson, W. (2018). Leonardo da VInci. New Yoirk: Simon & Schuster. OCDE. (2015). Skills for social progress: the power of social and emotional skills . Partnership for 21st Century Learning. (2015). P21 Framework Definitions. 2 Como exemplo, ver Gallup Research, State of the Global Workplace: Segundo o relatório, globalmente não mais do que 15% dos trabalhadores se consideram motivados e engajados (Gallup, 2017).