O documento discute a reciclagem de entulho da construção civil para uso como agregado em substituição aos agregados naturais. A reciclagem dos resíduos de construção é benéfica para o meio ambiente e pode gerar ganhos econômicos. O documento revisa pesquisas anteriores sobre usos do entulho reciclado em argamassas, concretos e pavimentação.
Utilização de tecnologias apropriadas na construção civil a partir da reciclagem do entulho
1. A UTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIAS APROPRIADAS NA CONSTRUÇÃO
CIVIL A PARTIR DA RECICLAGEM DO ENTULHO
Shandy Alexandra Morassi Francisco (PIBIC), Dr. Generoso De Angelis Neto
(Orientador), e-mail: ganeto@uem.br, Dr. Bruno Luiz Domingos De Angelis
(Co-Orientador), e-mail: brucagen@uol.com.br.
Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Engenharia Civil –
Maringá – PR.
Palavras-chave: entulho; reciclagem; construção civil; tecnologia apropriada.
Resumo:
Os resíduos sólidos de construção e demolição são responsáveis por mais
da metade da massa total de resíduos sólidos urbanos produzidos, dos
quais, no Brasil, 90% corresponde a materiais de origem mineral, que podem
ser reciclados como agregado e utilizados, em muitos casos, em substituição
aos agregados naturais, com bons resultados.
Introdução
Segundo o CREA-PR (2006), atualmente, a construção civil é considerada a
maior geradora de resíduos de todos os setores produtivos. Dados do
SINDUSCON-SP (2005) acusam que os RCD’s (Resíduos de Construção e
Demolição, que para efeito deste estudo, será considerado todo e qualquer
material residual proveniente de atividades de construção civil) são
responsáveis por mais da metade da massa total de resíduos sólidos
urbanos produzidos, variando de 50% a 70 % nas cidades pesquisadas pelo
Sindicato e a falta de política pública e conscientização dos geradores de
resíduos leva à deposição irregular dos RCD’s, provocando grandes
impactos ambientais.
Portanto, faz-se necessário a implantação de uma gestão do processo
produtivo, do qual faz parte a gestão de resíduos da construção civil,
prevista na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
nº 307, de 2002. A mesma Resolução define gerenciamento de resíduos
como “o sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos,
incluindo planejamento, responsabilidades, práticas, procedimentos e
recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao
cumprimento das etapas previstas em programas e planos”, podendo assim
diminuir custos de produção e os impactos sobre o meio.
Reutilização é o processo de reaplicação de um resíduo, sem
transformação do mesmo. Já reciclagem é o processo de reaproveitamento
de um resíduo, após ter sido submetido à transformação (CONAMA, 2002).
Caso não seja possível a ‘não geração’ de resíduos, deve-se proceder,
secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem e como última
alternativa, a destinação final. O presente trabalho trata da reciclagem.
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2. Materiais e Métodos
Procedeu-se à pesquisa bibliográfica em bases on-line de teses,
dissertações e artigos científicos e em biblioteca, acerca dos RCD’s, sua
geração, gestão, reutilização e reciclagem, além de sua utilização em
tecnologias apropriadas de baixo custo.
Através da revisão bibliográfica, foi elaborado o estado-da-arte do
material pesquisado, sendo possível determinar a potencialidade de
utilização de entulhos produzidos na construção civil, assim como seu
emprego na confecção de produtos reciclados.
Resultados e Discussão
A fração de materiais de origem mineral (rochas, solos, cerâmicas,
concretos, argamassas etc) representa em torno de 90% da massa do RCD
no Brasil (BRITO, 1998 apud ÂNGULO; JOHN, 2005), na Europa (EC, 2000
apud ÂNGULO; JOHN, 2005) e em alguns países asiáticos (HUANG et al.,
2002 apud ÂNGULO; JOHN, 2005). Portanto, a reciclagem massiva e os
benefícios econômicos e ambientais associados a esta reciclagem
dependem da reciclagem intensiva da fração mineral do RCD (ANGULO et
al., 2002 apud ÂNGULO; JOHN, 2005).
Segundo Pinto (1999), processos menos sofisticados de reciclagem
dos RCD podem gerar agregados adequados ao uso como material de
enchimento para a preparação de terrenos, para projetos de drenagem, em
sub-base de vias e outros produtos simples. Processos mais controlados
podem levar a novos agregados para emprego na própria obra na produção
de argamassa ou até mesmo com a qualidade requerida para a produção de
concreto e componentes com elevada requisição de desempenho.
No Brasil, as atividades de pavimentação e obras públicas são
capazes de absorver apenas 30% do total do RCD gerado (Angulo et al.,
2002 apud ÂNGULO; JOHN, 2005), além de possuir o menor valor agregado
como produto. Já os setores de concretos e argamassas podem consumir
integralmente a quantidade de RCD gerada como agregado.
Conforme Pinto (1999), são comuns situações onde ocorre o
lançamento de RCD para manutenção de condições mínimas de tráfego. A
investigação sobre o uso dos RCD em obras de pavimentação tem sido
ancorada em metodologias que consideram as características específicas
dos solos tropicais típicos (BODI et al. 1995 apud PINTO, 1999). Os
resultados das verificações realizadas indicaram a possibilidade de obter-se
idêntica capacidade de suporte com o uso de quantidade muito menor de
agregados, caso utilizado o RCD reciclado.
Para Miranda (2000), pode ser amplo o potencial de emprego de
entulhos reciclados como agregados em argamassas de assentamento e
revestimento, porém, a fissuração de revestimentos é uma das propriedades
críticas de desempenho que devem ser controladas e minimizadas. Os
resultados de sua pesquisa indicam que o entulho de construção reciclado
pode ser utilizado para a produção de revestimentos, obtendo-se bom
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3. acabamento superficial, resistência de aderência а tração e baixos níveis de
fissuração. Mas recomenda-se controlar o teor total de finos < 75 µm nas
argamassas, para evitar excesso de refinamento dos poros, principalmente
em se tratando de entulhos com elevado teor de argamassas mistas, e
reduzir a exposição de revestimentos externos, a ciclos de umedecimento e
secagem, por medidas adequadas de projeto e execução.
As verificações do comportamento dos RCD na produção de concreto
para uso enquanto massa ou para produção de artefatos (blocos de concreto
para pavimentação e vedação, sarjetas e guias e outros componentes)
apontam para bons resultados em composições com baixo consumo de
aglomerante, quando os agregados miúdos e graúdos são substituídos
integralmente pelo reciclado (PINTO, 1995; ZORDAN, 1997 apud PINTO,
1999). Para uso em concretos estruturais, os agregados de RCD reciclados
devem conter teores de materiais não-minerais inferiores a 1,5% (resistência
mecânica superior a 25 MPa) (Rilem Recommendation, 1994; Muller, 2004
apud ÂNGULO, 2005).
Conclusões
A reciclagem dos RCD’s é possível e necessária como forma de minimizar
os impactos da construção no meio, além da possibilidade de ganhos
econômicos e sociais, podendo o material ser empregado como agregado
em substituição aos agregados naturais em diversas situações.
Agradecimentos
A todos que colaboraram com o desenvolvimento da pesquisa, em especial
aos professores orientadores Dr. Generoso De Angelis Neto e Dr. Bruno Luiz
Domingos De Angelis.
Referências
ABNT, NBR 10004, Rio de Janeiro, 2004.
CONAMA, Resolução nº 307, Brasília, 2002.
CREA-PR, Gerenciamento de resíduos de construção em discussão em
PG, site CREA-PR, 2006.
L. S. R. Miranda, Dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo,
2000.
S. C. Ângulo; V. M. John in Anais do IX Encontro Nacional de Tecnologia
do Ambiente Construído, Foz do Iguaçu, 2002.
S. C. Ângulo; V. M. John in Anais do II Seminário: O Uso da Fração Fina
de Britagem, São Paulo, 2005.
SINDUSCON-MG, Cartilha de gerenciamento de resíduos sólidos para
construção civil, 2ª Ed., Belo Horizonte, 2005.
T. P. Pinto, Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, 1999.
S. E. Zordan, Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de
Campinas, 1997.
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