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Universidade Federal do Rio Grande
               Escola de Enfermagem
          Trabalho de Conclusão de Curso



                Katiúcia Letiele Duarte Vieira




Atendimento da população masculina em Unidade
Básica de Saúde da Família: Motivos para a (não)
                   procura


          Orientadora:Enfª Profª Drª Vera Lúcia de O.Gomes
Objetivos

 Saber os motivos que levam os homens a procurarem
  atendimento em UBSF .

 Os motivos que afastam/impedem de procurarem
  atendimento.

                 Metodologia

Estudo quantitativo

 Estudo qualitativo
Distribuição dos homens atendidos na UBSF Santa Rosa
em 2010 segundo a idade.
        Idades          N                 %

25-34 anos              43              24,5

35-44 anos              38              21,7

45-54 anos              58              33,2

55- 59 anos             36              20,5

Total                  175              100,0
Distribuição de atendimento à homens, segundo motivos na
UBSF Santa Rosa em 2010.

         MOTIVOS             N                 %

     Problemas agudos       93                53,1
           Dor              42                24,0
  atestados, renovação de
  receita, agendamento de
  consulta ,enc. a outros
  profissionais             14                8,0


   Alguma doença crônica
                            68                38,8



          TOTAL             175              100,00
Análise qualitativa
A segunda etapa foi compreender os motivos que os afastam do
   atendimento na UBSF estudada por meio de entrevistas.
Após análise foi dividido em quatro categorias:

• Percepção dos homens sobre seu estado de saúde;

• Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF;

• Frequência com que os homens procuram atendimento;

• Motivos que dificultam ou impedem os homens de procurarem
  atendimento.
Percepção dos homens sobre seu estado de saúde
     10 dos informantes, quando inquiridos sobre a existência de
alguma doença, negam essa condição. Desses, três reconhecem a
possibilidade de uma patologia hereditária ou de virem a adoecer.

           H38... Não!... Que eu saiba não!... Mas tem... Como eu vou te dizer...
          Tem histórico de hipertensão e problemas cardiovasculares na família...
          Todo mundo morre do coração...

           H58 Por enquanto não!... Não!... Nunca examinei né...

           H27 Olha que eu saiba não... Hereditária, sim. Tenho na família
          pessoas diabéticas... Minha mãe era hipertensa, mas não que eu saiba...
          Até consegui um fato inédito... De três anos pra cá minha glicose baixou
          [...] Eu troquei o açúcar pelo adoçante... Só e mais nada... Continuo
          tomando coca-cola todos os dias...
A dificuldade dos homens para reconhecerem -se doentes e
recorrerem menos as consultas que as mulheres, Pinheiro et al
(2002) ; Laurenti et al e Braz (2005) se exemplifica com o fato
deles procurarem atendimento hospitalar e de emergência somente
quando não suportam mais a doença, como consequência eles se
internam gravemente enfermos e morrem mais cedo.
Raras são as situações em que o homem busca ajuda, isso
geralmente ocorre por dois motivos: quando a dor se torna insuportável
e quando há uma impossibilidade de trabalhar. Gomes et AL (2007).



     Em situações consideradas sem risco a grande maioria dos
  homens procura um tratamento alternativo, como tomar alguma
  medicação por conta própria, procurar farmácias, tomar chás
  caseiros.

      Essas alternativas, segundo eles, evitam a perda de tempo
  com filas e com a espera pelo atendimento médico.
No presente estudo, nove dos sujeitos verbalizaram utilizar chás
caseiros e automedicação. Os medicamentos mais utilizados foram o
paracetamol, aspirina e relaxante muscular que, segundo eles, são
oferecidos pelas esposas ou familiares.




                H57b É difícil eu me sentir doente... Não que eu seja o “super
               homem”, mas eu não fico mesmo... Olha eu costumo tomar
               remédio, né... um chá... [...] aí a gente toma uma comprimidinho
               vermelhinho, que eu não sei o nome. É prá dor... é barato e bom... Eu
               mesmo compro na farmácia... A minha esposa, as vezes tem uma
               dorzinha e toma esse remédio, aí qualquer pessoa lá em casa tem
               uma dor e toma esse remédio [...] A esposa toma e o marido tem que
               tomar também...
Percebeu-se que a automedicação e a utilização de chás
caseiros é muito comum entre eles, sendo uma construção cultural que
vem sendo passada de geração em geração.




         H35 Olha faz horas que eu não tomo... Quando tomo é uma coisinha ou
          outra... Um relaxante muscular, uma coisa assim pra dar uma
          descansadinha... Isso ai. [Questionado sobre quem indicou o
          entrevistado responde] Olha isso vem passando de geração pra
          geração... Se eu disser pra ti quem indicou... Foi a minha vó, depois
          veio minha mãe, meu pai... São coisinhas que a gente traz no “bolso”
          ou na “mala” da vida.
Embora três homens relatem que procuram atendimento
médico, quando estão doentes, o fazem somente em situações
extremadas confirmando a resistência da população masculina em
não se reconhecer doente.


           H31 “Só em casos extremos eu procuro o médico... Caso
        contrário, tomo um analgésico, alguma coisa... Ou nada mesmo... e passa...
        Dá e passa, mas é muito raro, não tenho por hábito tomar qualquer tipo de
        medicação.”

           H40 “... O problema não é no posto o problema é meu mesmo, não é
        que eu não goste de ir... Pra mim ir só em último caso mesmo ...”
Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF


 O desconhecimento da maior parte dos homens acerca do
atendimento prestado na UBSF do seu bairro ficou evidente. Dos
entrevistados cinco referem não ter opinião, pois nunca foram àquela
unidade.

 Desses, um tem consciência de que necessita acompanhamento de
saúde, pois em sua família há casos de doenças crônicas, mas à
semelhança do que vem sendo apontado na literatura nacional e
estrangeira, como não enfrentou alguma situação crítica (Gomes e
Nascimento, 2006), mantém a autopercepção de saudável (WHITE e
CASH, 2004) e vai adiando a decisão.
Frequência com que os homens procuram atendimento


Analisando o tempo decorrido da última consulta percebe-se que apenas
procuram o serviço médico com regularidade os homens com histórico de
patologias crônicas .




Realizaram sua última consulta entre um e cinco anos, quatro
informantes, cujos depoimentos permitem perceber que a procura pelo
atendimento ocorreu em situação extremada.
H40 “foi... Faz uns 4 meses eu acho... Cortei uma mão... Por acidente de
trabalho... Por doença não..”


H38 A última vez... Faz... Em torno de cinco anos atrás foi por princípio de
enfarto... [...] Muito raro, nessa época eu tava com o nível de stress muito
alto... E ai o “negócio” estourou...



H57a Já faz dois anos, foi por nervo ciático [...] eu forcei demais, eu
trabalhava de pedreiro aí eu tava sentindo o nervo ciático, eu comecei a
forçá, forçá, aí foi quando não deu mais... A coisa piorou mesmo...
Houve ainda casos de informantes cuja última consulta havia
ocorrido há mais de dez anos ou que nem sabiam informar com
precisão. Esses se percebem saudáveis, os problemas de saúde que
ocorrem são minimizados e tratados por conta própria.

             H26 Bah!... Não me lembro... Olha vai fazer... Acho uns 10 anos... A
           única coisa que eu tenho de mais grave é gripe... E assim mesmo faz
           horas que eu não tenho gripe... Dor de dente, aí eu tomo um remédio
           para dor de dente... Vou na farmácia, compro remédio e tomo... Faz uns
           10 anos que não vou no hospital procurá médico... Eu me sinto bem...
           Não vou procurar doença... Não tô doente...”

             H58a Não lembro!... Faz tanto tempo... Tava com o pé infeccionado
           por causa de um bicho de pé, fui no pronto socorro e fiz uma injeção e
           vim pra casa. [antes disso o senhor tinha ido ao médico alguma vez?]
           Não, nunca...

             H35 Bah! Nem me lembro... Eu era pequeno... Não me lembro... Nem
           o porquê... Nunca fui.
Motivos que dificultam ou impedem os
          homens de procurarem atendimento
A demora no atendimento,
Pequeno número de fichas
Vergonha pela exposição do corpo aos profissionais,
Medo da descoberta de uma doença grave,
 Estereótipos de gênero que dificultam o auto cuidado,
Não se reconhecerem alvo do atendimento. (Gomes et al 2007).

Doze sujeitos referiram não necessitar de atendimento, pois se
consideram saudáveis. Três preferem deixar o atendimento para “os mais
necessitados” não realizando qualquer ação promotora ou preventiva de
saúde.

                H26 Acho que nenhum... Eu não vou ali por que... Fazer o quê... Até
               ia marca uma consulta prá arrancar um dente, mas até agora não
               fui... Se precisar eu vou ali...
O temor de encontrar uma doença grave, ao procurar o
serviço de saúde sem sintomatologia foi expresso por um dos
informantes.



           H40 Ela sabe... (refere-se à esposa) não é o serviço, é assim... O
           que tu procura tu vai achá... Penso eu assim... Entendesse... O que
           tu procura tu vai achar... Se eu pegar um caminhão que tá bom ali...
           Ele tá bom, eu coloco ele na oficina e vai aparecer 1000 defeitos. Eu
           penso que com a saúde é a mesma coisa. Eu não tenho nada, mas
           de repente eu vou ali fazer um exame disso ou daquilo e vai
           aparecer isso ou aquilo, principalmente coisa que eu não tenho...
           Então o meu pensar é assim... Quem procura acha... Posso tá
           errado né? Mas...
Considerações Finais


      Com este trabalho as análises empreendidas demonstram
visivelmente que os homens na faixa etária produtiva procuram menos os
serviços de ABS por alguns fatores, dentre eles a dificuldade em se
reconhecerem doentes, a não preocupação com ações voltadas para a
promoção e prevenção a saúde, medo da descoberta de uma doença
grave, além de sentirem-se fortes, não necessitando de maiores cuidados
de saúde.

     Assim como alguns estudos já apresentados na literatura eles
somente procuram atendimento quando não conseguem suportar a dor
ou mais trabalhar. (Gomes et al., Nascimento E.F, Gomes R.)
Acredita-se que fatores relacionados a estereótipos de
gênero estejam contribuindo para tais resultados, deve-se levar em
consideração a necessidade de se mudar tanto o enfoque em
relação ao homem, quanto aos serviços que não priorizam esta
parcela da população.


        Finalizando, é necessário um repensar sobre todas as
questões levantadas em relação à saúde do homem e apesar da
PNAISH ter sido criada em 2008, em Saúde Pública é um tempo
relativamente pequeno para completa implementação, assim, cabe
a nós profissionais de saúde o papel de motivar e contribuir através
de programas de promoção e prevenção voltados especificamente
para o público masculino.
Referências

1. Laurenti R, Mello-Jorge MHP, Gotlieb SLD. Perfil epidemiológico da morbi-mortalidade masculina.
Ciência Saúde Coletiva 2005; 10:35-46.

2. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e
diretrizes. Brasília, 2008.

3. Couto,M.T.et al.Men in primary healthcare: discussing (in)visibility based on gender perspectives.
Interface – Comuni., saúde, educ.. 2010; 14(33): 257- 70.

4. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica a Saúde. Brasília, 2006.
http://www.conass.org.br/admin/arquivos/NT%2012-06.pdf. Acessado em 09/12/2010.

5. Figueiredo W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção primária.
Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10:105-9.

6. Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do
que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior.
Cad. Saúde Pública 2007; 23:565-74.
7. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censos Demográficos e Contagem
Populacional para os anos intercensitários. Estimativas preliminares dos totais
populacionais, estratificados por idade e sexo pelo MS/SE/ Datasus. Disponível:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acessado em 21/05/2011.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção Primária a saúde (APS). Brasília, 2009.
http://www.opas.org.br/informacao /UploadArq/ciclo_debates_texto_referencial. Acessado em
06/11/2010.

9. Pinheiro, R, S.et al.Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência &
Saúde Coletiva 2002; 7(4): 687-707.

10. Braz, M. A construção da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem:
reflexão bioética sobre justiça distributiva. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10 (1): 97-104.

11. Souza E R de. Masculinidade e violência no Brasil: contribuições para a reflexão no campo da
saúde. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10 (1): 59-70.

12. Gomes, R; Nascimento, E. F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a relação
homem-saúde: uma revisão bibliográfica. Cad. de Saúde Pública 2006; 22 (5): 901-911.

13. Nascimento EF, Gomes R. Marcas identitárias masculinas e a saúde de homens jovens. Cad.
Saúde Pública 2008; 24(7): 1556-64.

14. Brasil. Ministério da Saúde. NR 7 - PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE
OCUPACIONAL. http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_
regulamentadoras /nr_07_at.pdf. Acessado em 16/06/2011.
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Motivos que levam e afastam homens do atendimento em UBSF

  • 1. Universidade Federal do Rio Grande Escola de Enfermagem Trabalho de Conclusão de Curso Katiúcia Letiele Duarte Vieira Atendimento da população masculina em Unidade Básica de Saúde da Família: Motivos para a (não) procura Orientadora:Enfª Profª Drª Vera Lúcia de O.Gomes
  • 2. Objetivos  Saber os motivos que levam os homens a procurarem atendimento em UBSF .  Os motivos que afastam/impedem de procurarem atendimento. Metodologia Estudo quantitativo  Estudo qualitativo
  • 3. Distribuição dos homens atendidos na UBSF Santa Rosa em 2010 segundo a idade. Idades N % 25-34 anos 43 24,5 35-44 anos 38 21,7 45-54 anos 58 33,2 55- 59 anos 36 20,5 Total 175 100,0
  • 4. Distribuição de atendimento à homens, segundo motivos na UBSF Santa Rosa em 2010. MOTIVOS N % Problemas agudos 93 53,1 Dor 42 24,0 atestados, renovação de receita, agendamento de consulta ,enc. a outros profissionais 14 8,0 Alguma doença crônica 68 38,8 TOTAL 175 100,00
  • 5. Análise qualitativa A segunda etapa foi compreender os motivos que os afastam do atendimento na UBSF estudada por meio de entrevistas. Após análise foi dividido em quatro categorias: • Percepção dos homens sobre seu estado de saúde; • Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF; • Frequência com que os homens procuram atendimento; • Motivos que dificultam ou impedem os homens de procurarem atendimento.
  • 6. Percepção dos homens sobre seu estado de saúde 10 dos informantes, quando inquiridos sobre a existência de alguma doença, negam essa condição. Desses, três reconhecem a possibilidade de uma patologia hereditária ou de virem a adoecer. H38... Não!... Que eu saiba não!... Mas tem... Como eu vou te dizer... Tem histórico de hipertensão e problemas cardiovasculares na família... Todo mundo morre do coração... H58 Por enquanto não!... Não!... Nunca examinei né... H27 Olha que eu saiba não... Hereditária, sim. Tenho na família pessoas diabéticas... Minha mãe era hipertensa, mas não que eu saiba... Até consegui um fato inédito... De três anos pra cá minha glicose baixou [...] Eu troquei o açúcar pelo adoçante... Só e mais nada... Continuo tomando coca-cola todos os dias...
  • 7. A dificuldade dos homens para reconhecerem -se doentes e recorrerem menos as consultas que as mulheres, Pinheiro et al (2002) ; Laurenti et al e Braz (2005) se exemplifica com o fato deles procurarem atendimento hospitalar e de emergência somente quando não suportam mais a doença, como consequência eles se internam gravemente enfermos e morrem mais cedo.
  • 8. Raras são as situações em que o homem busca ajuda, isso geralmente ocorre por dois motivos: quando a dor se torna insuportável e quando há uma impossibilidade de trabalhar. Gomes et AL (2007). Em situações consideradas sem risco a grande maioria dos homens procura um tratamento alternativo, como tomar alguma medicação por conta própria, procurar farmácias, tomar chás caseiros. Essas alternativas, segundo eles, evitam a perda de tempo com filas e com a espera pelo atendimento médico.
  • 9. No presente estudo, nove dos sujeitos verbalizaram utilizar chás caseiros e automedicação. Os medicamentos mais utilizados foram o paracetamol, aspirina e relaxante muscular que, segundo eles, são oferecidos pelas esposas ou familiares. H57b É difícil eu me sentir doente... Não que eu seja o “super homem”, mas eu não fico mesmo... Olha eu costumo tomar remédio, né... um chá... [...] aí a gente toma uma comprimidinho vermelhinho, que eu não sei o nome. É prá dor... é barato e bom... Eu mesmo compro na farmácia... A minha esposa, as vezes tem uma dorzinha e toma esse remédio, aí qualquer pessoa lá em casa tem uma dor e toma esse remédio [...] A esposa toma e o marido tem que tomar também...
  • 10. Percebeu-se que a automedicação e a utilização de chás caseiros é muito comum entre eles, sendo uma construção cultural que vem sendo passada de geração em geração. H35 Olha faz horas que eu não tomo... Quando tomo é uma coisinha ou outra... Um relaxante muscular, uma coisa assim pra dar uma descansadinha... Isso ai. [Questionado sobre quem indicou o entrevistado responde] Olha isso vem passando de geração pra geração... Se eu disser pra ti quem indicou... Foi a minha vó, depois veio minha mãe, meu pai... São coisinhas que a gente traz no “bolso” ou na “mala” da vida.
  • 11. Embora três homens relatem que procuram atendimento médico, quando estão doentes, o fazem somente em situações extremadas confirmando a resistência da população masculina em não se reconhecer doente. H31 “Só em casos extremos eu procuro o médico... Caso contrário, tomo um analgésico, alguma coisa... Ou nada mesmo... e passa... Dá e passa, mas é muito raro, não tenho por hábito tomar qualquer tipo de medicação.” H40 “... O problema não é no posto o problema é meu mesmo, não é que eu não goste de ir... Pra mim ir só em último caso mesmo ...”
  • 12. Opinião dos homens acerca do atendimento da UBSF  O desconhecimento da maior parte dos homens acerca do atendimento prestado na UBSF do seu bairro ficou evidente. Dos entrevistados cinco referem não ter opinião, pois nunca foram àquela unidade.  Desses, um tem consciência de que necessita acompanhamento de saúde, pois em sua família há casos de doenças crônicas, mas à semelhança do que vem sendo apontado na literatura nacional e estrangeira, como não enfrentou alguma situação crítica (Gomes e Nascimento, 2006), mantém a autopercepção de saudável (WHITE e CASH, 2004) e vai adiando a decisão.
  • 13. Frequência com que os homens procuram atendimento Analisando o tempo decorrido da última consulta percebe-se que apenas procuram o serviço médico com regularidade os homens com histórico de patologias crônicas . Realizaram sua última consulta entre um e cinco anos, quatro informantes, cujos depoimentos permitem perceber que a procura pelo atendimento ocorreu em situação extremada.
  • 14. H40 “foi... Faz uns 4 meses eu acho... Cortei uma mão... Por acidente de trabalho... Por doença não..” H38 A última vez... Faz... Em torno de cinco anos atrás foi por princípio de enfarto... [...] Muito raro, nessa época eu tava com o nível de stress muito alto... E ai o “negócio” estourou... H57a Já faz dois anos, foi por nervo ciático [...] eu forcei demais, eu trabalhava de pedreiro aí eu tava sentindo o nervo ciático, eu comecei a forçá, forçá, aí foi quando não deu mais... A coisa piorou mesmo...
  • 15. Houve ainda casos de informantes cuja última consulta havia ocorrido há mais de dez anos ou que nem sabiam informar com precisão. Esses se percebem saudáveis, os problemas de saúde que ocorrem são minimizados e tratados por conta própria. H26 Bah!... Não me lembro... Olha vai fazer... Acho uns 10 anos... A única coisa que eu tenho de mais grave é gripe... E assim mesmo faz horas que eu não tenho gripe... Dor de dente, aí eu tomo um remédio para dor de dente... Vou na farmácia, compro remédio e tomo... Faz uns 10 anos que não vou no hospital procurá médico... Eu me sinto bem... Não vou procurar doença... Não tô doente...” H58a Não lembro!... Faz tanto tempo... Tava com o pé infeccionado por causa de um bicho de pé, fui no pronto socorro e fiz uma injeção e vim pra casa. [antes disso o senhor tinha ido ao médico alguma vez?] Não, nunca... H35 Bah! Nem me lembro... Eu era pequeno... Não me lembro... Nem o porquê... Nunca fui.
  • 16. Motivos que dificultam ou impedem os homens de procurarem atendimento A demora no atendimento, Pequeno número de fichas Vergonha pela exposição do corpo aos profissionais, Medo da descoberta de uma doença grave,  Estereótipos de gênero que dificultam o auto cuidado, Não se reconhecerem alvo do atendimento. (Gomes et al 2007). Doze sujeitos referiram não necessitar de atendimento, pois se consideram saudáveis. Três preferem deixar o atendimento para “os mais necessitados” não realizando qualquer ação promotora ou preventiva de saúde. H26 Acho que nenhum... Eu não vou ali por que... Fazer o quê... Até ia marca uma consulta prá arrancar um dente, mas até agora não fui... Se precisar eu vou ali...
  • 17. O temor de encontrar uma doença grave, ao procurar o serviço de saúde sem sintomatologia foi expresso por um dos informantes. H40 Ela sabe... (refere-se à esposa) não é o serviço, é assim... O que tu procura tu vai achá... Penso eu assim... Entendesse... O que tu procura tu vai achar... Se eu pegar um caminhão que tá bom ali... Ele tá bom, eu coloco ele na oficina e vai aparecer 1000 defeitos. Eu penso que com a saúde é a mesma coisa. Eu não tenho nada, mas de repente eu vou ali fazer um exame disso ou daquilo e vai aparecer isso ou aquilo, principalmente coisa que eu não tenho... Então o meu pensar é assim... Quem procura acha... Posso tá errado né? Mas...
  • 18. Considerações Finais Com este trabalho as análises empreendidas demonstram visivelmente que os homens na faixa etária produtiva procuram menos os serviços de ABS por alguns fatores, dentre eles a dificuldade em se reconhecerem doentes, a não preocupação com ações voltadas para a promoção e prevenção a saúde, medo da descoberta de uma doença grave, além de sentirem-se fortes, não necessitando de maiores cuidados de saúde. Assim como alguns estudos já apresentados na literatura eles somente procuram atendimento quando não conseguem suportar a dor ou mais trabalhar. (Gomes et al., Nascimento E.F, Gomes R.)
  • 19. Acredita-se que fatores relacionados a estereótipos de gênero estejam contribuindo para tais resultados, deve-se levar em consideração a necessidade de se mudar tanto o enfoque em relação ao homem, quanto aos serviços que não priorizam esta parcela da população. Finalizando, é necessário um repensar sobre todas as questões levantadas em relação à saúde do homem e apesar da PNAISH ter sido criada em 2008, em Saúde Pública é um tempo relativamente pequeno para completa implementação, assim, cabe a nós profissionais de saúde o papel de motivar e contribuir através de programas de promoção e prevenção voltados especificamente para o público masculino.
  • 20. Referências 1. Laurenti R, Mello-Jorge MHP, Gotlieb SLD. Perfil epidemiológico da morbi-mortalidade masculina. Ciência Saúde Coletiva 2005; 10:35-46. 2. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: princípios e diretrizes. Brasília, 2008. 3. Couto,M.T.et al.Men in primary healthcare: discussing (in)visibility based on gender perspectives. Interface – Comuni., saúde, educ.. 2010; 14(33): 257- 70. 4. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Básica a Saúde. Brasília, 2006. http://www.conass.org.br/admin/arquivos/NT%2012-06.pdf. Acessado em 09/12/2010. 5. Figueiredo W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção primária. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10:105-9. 6. Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad. Saúde Pública 2007; 23:565-74.
  • 21. 7. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Censos Demográficos e Contagem Populacional para os anos intercensitários. Estimativas preliminares dos totais populacionais, estratificados por idade e sexo pelo MS/SE/ Datasus. Disponível: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/link.php?uf=rs. Acessado em 21/05/2011. 8. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção Primária a saúde (APS). Brasília, 2009. http://www.opas.org.br/informacao /UploadArq/ciclo_debates_texto_referencial. Acessado em 06/11/2010. 9. Pinheiro, R, S.et al.Gênero, morbidade, acesso e utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva 2002; 7(4): 687-707. 10. Braz, M. A construção da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem: reflexão bioética sobre justiça distributiva. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10 (1): 97-104. 11. Souza E R de. Masculinidade e violência no Brasil: contribuições para a reflexão no campo da saúde. Ciência & Saúde Coletiva 2005; 10 (1): 59-70. 12. Gomes, R; Nascimento, E. F. A produção do conhecimento da saúde pública sobre a relação homem-saúde: uma revisão bibliográfica. Cad. de Saúde Pública 2006; 22 (5): 901-911. 13. Nascimento EF, Gomes R. Marcas identitárias masculinas e a saúde de homens jovens. Cad. Saúde Pública 2008; 24(7): 1556-64. 14. Brasil. Ministério da Saúde. NR 7 - PROGRAMA DE CONTROLE MÉDICO DE SAÚDE OCUPACIONAL. http://www.mte.gov.br/legislacao/normas_ regulamentadoras /nr_07_at.pdf. Acessado em 16/06/2011.