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Suplemento Pedagógico APASE                                                                                                                                            1




                                                                                                                                                                      27 - Abril de 2011
                                                                                                                                      Ano XII nº 27 - Abril de 2011




        Ensino Médio: formação para a cidadania ou
            submissão ao mercado de trabalho?
                                                                     Editorial
   “... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão semrpre
                  mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.” (João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas)

              s constantes reformas      ticas adotadas, com os ajustes pro-      Violência Escolar; Tipos de


A             aplicadas nos processos
            de ensino e aprendiza-
            gem por meio das políti-
cas educacionais de cada governo de
plantão nos últimos anos, resultam
                                         postos e as suas eventuais
                                         consequências.
                                             A Professora Acácia Zeneida
                                         Kuenzer, doutora em educação, atu-
                                         ando no Programa de Pós-Gradua-
                                                                                  violência que podem ser ob-
                                                                                  jeto de atenção da escola;
                                                                                  Situando o conceito de Cur-
                                                                                  rículo Escolar; e Implicações
                                                                                  para o Currículo.
em dificuldades e incoerências neste     ção em Educação pela Universidade           O quarto artigo do Su-
importante nível de escolaridade: o      Federal do Paraná, em seu artigo         plemento, intitulado ”O En-
Ensino Médio. Protagonista de um         “Ensino Médio: formação para a ci-       sino Médio: diferentes olha-
dos principais embates da atualida-      dadania ou submissão ao mercado de       res, desafios comuns”, de
de - ensino técnico versus cidadania     trabalho?” faz uma interessante aná-     autoria de Celso João
- ou seja, a formação profissional em    lise dessa dicotomia de expectativas     Ferretti, Professor Doutor,
confronto com a educação geral.          frente ao processo de ensino-apren-      atualmente colaborador do
    Para aprofundar a discussão des-     dizagem, aos programas públicos e
                                                                                  CEDES, enfoca os aspectos
sa ambiguidade conceitual, a Comis-      de política social.                                                                ra Vedovato, do livro “Trabalho e
                                                                                  da academia e dos educadores que
são deste Suplemento Pedagógico             Rozana Gomes de Abreu, Pro-           enfatizam a necessidade da forma-         Conhecimento: dilemas na educação
convidou renomados especialistas,        fessora Doutora do Colégio de Apli-      ção geral para consolidação dos co-       do trabalhador”, de Carlos M.
nesta área de estudos, para elabo-       cação da Universidade Federal do         nhecimentos que propicie uma atua-        Gomez, Gaudêncio Frigotto, Marcos
rar artigos sobre o Ensino Médio, suas   Rio de Janeiro, e Alice Casimiro                                                   Arruda, Miguel Arroyo e Paolo
                                                                                  ção cidadã da sociedade e popula-
peculiaridades, conceitos, políticas     Lopes, Professora Doutora do Pro-                                                  Nosella.
                                                                                  ção, que demandam uma educação
aplicadas e as implicações da violên-    grama de Pós-graduação em Edu-           profissionalizante.                          Finalmente, a Diretora de Comu-
cia no currículo, com o intuito de que   cação da Universidade do Rio de Ja-                                                nicação APASE, Maria José
                                         neiro, no artigo “A contextualização        Na seção Depoimento, duas es-
sejam utilizados pelos supervisores de                                                                                      Antunes Rocha Rodrigues da
                                         nas políticas curriculares nacionais     colas da região de Bragança Paulista
ensino, como recurso para o seu                                                                                             Costa, fez a resenha da obra “A Ci-
                                                                                  apresentam exemplos práticos de
melhor desempenho no trabalho de         para o ensino médio brasileiro”, fa-                                               dadania Negada: política de exclusão
                                                                                  ações positivas, na área artística e de
acompanhamento, orientação das           zem uma análise sobre a legislação,                                                na educação e no trabalho”?, de
                                                                                  novas mídias, para essa exigente cli-
escolas e, sobretudo, um estímulo à      as diretrizes e os parâmetros                                                      Gaudêncio Frigotto e Pablo Gentili.
                                                                                  entela do Ensino Médio.
reflexão e ao diálogo diante das polí-   curriculares nacionais e demais do-                                                   Boa leitura!
                                                       cumentos do Ensino            Completando este Suplemento,
                                                       Médio, tendo por base      encontram-se, também, resenhas e
                                                       a reflexão de diversos     indicações de obras que po-
                                                       autores.                   dem contribuir para o estudo
                                                                                  aprofundado do tema.                        Comissão organizadora:
                                                          O artigo “Implica-
                                                       ções da Prevenção da           A primeira resenha, elabo-     . Albino Astolfi Neto
                                                       Violência para o Currí-    rada pela Supervisora de En-       . Eliene Bonetti
                                                       culo do Ensino Médio”,     sino, Clarete Paranhos da          . Irene Machado Pantelidakis
                                                       da Professora Doutora      Silva, é sobre o livro “Ensino
                                                                                                                     . Maria Antonia de Oliveira Vedovato
                                                       em Educação, Maria         técnico e globalização: cida-
                                                                                  dania ou submissão?”, de           . Maria Cecília Mello Sarno
                                                       Auxiliadora     Elias,
                                                       tem sua estrutura fun-     Marcos Francisco Martins.          . Maria Clara Paes Tobo
                                                       damental articulada           A seguinte, foi realizada       . Maria José Antunes Rocha R. da Costa
                                                       com: Aproximação ao        pela Supervisora de Ensino,        . Maria Lúcia Morrone
                                                       Conceito da Violência;     Maria Antonia de Olivei-           . Rosângela Aparecida Ferini V. Chede
Suplemento Pedagógico APASE
2                    Abordagem
                                   Ensino Médio: formação para a cidadania ou
27 - Abril de 2011




                                       submissão ao mercado de trabalho?
                                                                                                                                                                                                    Acacia Zeneida Kuenzer (*)

                     1. Introdução                                       da diversidade de modalidades é que elas             é a história do enfrentamento dessa                  têm caracterizado as reformas do Ensino
                                                                         se destinam a alunos com diferentes                  tensão, que tem levado, antes do que à               Médio exige que se elucidem as
                                  Ensino Médio no Brasil tem


                     O            se constituído ao longo da
                                 história da educação brasileira
                                 como a etapa de mais difícil
                     enfrentamento, em termos de sua
                     concepção, estrutura e formas de
                                                                         origens de classe, com o que fica reforçada
                                                                         a inclusão dos incluídos; são, portanto,
                                                                         desiguais, e não apenas diversas.
                                                                             É esta dupla função — preparar para
                                                                         a continuidade de estudos e para o
                                                                         mundo do trabalho — que lhe confere
                                                                                                                              síntese, à polarização, fazendo da
                                                                                                                              dualidade estrutural a categoria de análise
                                                                                                                              por excelência para a compreensão das
                                                                                                                              propostas que vêm se desenvolvendo a
                                                                                                                              partir dos anos 40.
                                                                                                                                  Após o fracasso do modelo estabe-
                                                                                                                                                                                   concepções, preenchendo o discurso
                                                                                                                                                                                   lacunar típico das ideologias, para que as
                                                                                                                                                                                   intencionalidades decorrentes de in-
                                                                                                                                                                                   teresses e visões particulares de mundo,
                                                                                                                                                                                   próprias das diferentes posições de classe,
                                                                                                                                                                                   venham à tona, e assim se possa exercer
                     organização, em decorrência de sua
                                                                         ambiguidade, uma vez que essa não é uma              lecido em 1971, com a lei nº 5692, e                 o direito de escolha por possíveis
                     própria natureza de mediação entre a
                                                                         questão apenas pedagógica, mas política,             com a acomodação do “caos” pela lei nº               históricos que são necessariamente
                     educação fundamental e a formação
                                                                         determinada pelas mudanças nas bases                 7044/82 através de uma saída con-                    contraditórios, dentro dos limites da
                     profissional stricto sensu, obtida nos
                                                                         materiais de produção, a partir do que               servadora e nociva à classe trabalhadora,            democracia possível”2.
                     cursos superiores, incluindo os de
                                                                         se define a cada época, uma relação                  a quem não interessa um “propedêutico”                   Para tanto, é necessário que se analise
                     formação de tecnólogos, em que pese
                                                                         peculiar entre trabalho e educação.                  equivocadamente apresentado como                     a materialidade desta etapa da Educação
                     constituir-se, após a LDB de 1996, em
                                                                             Como as funções essenciais do                    “geral”, mas sem ser básico, voltado                 Básica para que se possa, não apenas fazer
                     segunda etapa da Educação Básica.
                                                                         mundo da produção originam classes                   exclusivamente para a preparação do                  a crítica ao discurso ideológico, mas
                         Como resultado, a marca de sua
                                                                         sociais diferenciadas com necessidades               ingresso dos mais “competentes” na                   também perceber, nos espaços
                     identidade continua a ser a oferta
                                                                         específicas, essas mesmas classes criam              universidade, a discussão do ensino                  contraditórios das relações entre capital
                     diferenciada e desigual, revelada pelas
                                                                         para si uma camada de intelectuais que               médio, que vinha sendo desenvolvida                  e trabalho, os avanços possíveis. Com
                     inúmeras possibilidades de organização
                                                                         será responsável pela sua homogeneidade,             lenta, mas seriamente, no período de                 este intuito, serão analisados a seguir, os
                     que oscilam entre a profissionalização, nas
                                                                         consciência e função, nos campos                     debate nacional da LDB, foi atropelada               dados referentes ao acesso e à per-
                     modalidades articulada ou subsequente,
                                                                         econômico, social e político.                        pela elaboração da proposta de                       manência, dado o reiterado discurso
                     e a educação geral de caráter prope-
                                                                             Formar esses intelectuais é função da            substitutivo do senador Darcy Ribeiro e              oficial sobre a ampliação progressiva das
                     dêutico; a modalidade articulada pode ser
                                                                         escola, com base nas demandas de cada                pela apresentação do PL 1603/96 pela                 oportunidades, e a relação entre es-
                     integrada ou concomitante, e ainda, a
                                                                         classe e das funções que lhes cabe                   Secretaria de Educação Média e                       colaridade média e inserção no mundo
                     integrada também pode ocorrer nas
                                                                         desempenhar na divisão social e técnica              Tecnológica do MEC/SEMTEC, cujo                      do trabalho, com vistas a analisar a
                     modalidades regular e PROEJA.
                                                                         do trabalho. O exercício dessas funções              conteúdo, dada a rejeição pelo Congresso             propriedade do discurso sobre a am-
                         Em tese, a diversificação de
                                                                         não se restringe apenas ao campo                     Nacional, foi aprovado por Decreto (nº               pliação da empregabilidade.
                     modalidades não é um problema em si,
                                                                         produtivo em si, mas abrange todas as                2208/97) e incorporado recentemente à
                     dadas as características diferenciadas de
                     seu público alvo, que inclui desde jovens           dimensões comportamentais, ideológicas               LDB, junto à retomada da integração                  2. O acesso e a permanência:
                     que frequentam o curso na faixa etária              e normativas que lhe são próprias, o que             entre ensino médio e educação                        compromisso com a democratização
                     de 14 a 17 anos, até profissionais que              exige, portanto, da escola em todos os               profissional1.                                       da oferta?
                                                                         níveis, a elaboração de suas propostas                   Essas propostas, que se sucedem ao                   Em recente artigo redigido com a
                     retornam à escola, após anos de
                     experiência,       para sistematizar o              segundo essas exigências.                            longo dos anos, são justificadas por                 finalidade de avaliar os resultados do I
                     conhecimento adquirido com a                            Não é diferente com o Ensino Médio;              diferentes discursos, que vão desde as               PNE (2001-2010) e propor metas para o
                     experiência ou apenas para obter                    apenas, nesse nível, por seu caráter                 necessidades do desenvolvimento eco-                 período que se inicia (II PNE – 2011-
                     certificação que melhore suas condições             intermediário, a elaboração da proposta              nômico em face do “milagre brasileiro”               2020), o estudo dos dados disponíveis
                     de trabalho; entre os jovens, há aqueles            pedagógica para cada fase de desen-                  da década de 70, passando por uma                    acerca do acesso e da permanência no
                     que, por sua condição de classe,                    volvimento das forças produtivas, exige              pretensa proposta unitária para todos,               Ensino Médio, consideradas todas as suas
                     demandam         um      ensino     médio           o enfrentamento adequado da tensão                   genérica, justificada pela afirmação “o              modalidades, revelou-se extremamente
                     propedêutico que lhes assegure acesso às            entre educação geral e educação                      ensino médio agora é para a vida” em                 preocupante, em que pesem os limites
                     boas universidades, e os que, filhos da             específica, em busca da síntese histo-               meados dos anos 90, até a necessidade                dos dados disponíveis, pouco desa-
                     classe trabalhadora, buscam melhores                ricamente possível de múltiplas deter-               de formação de profissionais flexíveis que           gregados e descontinuados, que não
                     oportunidades para inserir-se no mundo              minações infraestruturais e políticas que            continua caracterizando os anos 2000.                permitiram a elaboração de análises
                     do trabalho, condição necessária para               caracterizam cada momento.                               Como já se afirmou em texto anterior,            históricas, dificultando a elaboração de
                     que continuem estudando. O problema                     A história do Ensino Médio no Brasil             “compreender as diferentes propostas que             um diagnóstico mais preciso3. Contudo,



                     1
                      Lei nº 11.741 de 16 de julho de 2008, art. 34.
                     2
                      Kuenzer, Acacia. O ensino médio agora é para a vida: entre o pretendido, o dito e o feito. Campinas, Cedes, Educação e Sociedade, ano XXI, n. 70, abril de 2000, p. 16.
                     3
                      Os dados aqui apresentados, neste e no próximo ítem, em sua versão original foram publicados em Kuenzer, Acacia. O Ensino Médio no Plano Nacional de Educação 2011/2020: superando a década perdida? Campinas,
                     Cedes, Educação e Sociedade, set de 2010, vol 31, nº 112, p. 851-873.
Suplemento Pedagógico APASE
                                                                                                                                                  Abordagem                           3
é preciso considerar que esta dificuldade    2008, as quais, acrescidas às federais,     2008 era de apenas R$1.500,00vii.                Estes dados, embora apresentem




                                                                                                                                                                                     27 - Abril de 2011
em si já é uma demonstração da política      representam aproximadamente 87%;                 Reiteram-se, portanto, as indicações     limites em face da concepção dos
em curso. Mesmo assim, com os dados          ressalte-se que estes percentuais têm se    já feitas na Introdução deste texto: os       modelos de avaliação utilizados, apontam
disponíveis, na maioria brutos, é possível   mantido relativamente estáveis nos          problemas continuam os mesmos, a              a necessidade de discutir que qualidade
configurar uma realidade bastante            últimos anosiv.                             década foi perdida para o Ensino Médio,       se pretende para o Ensino Médio, na
perversa. Senão, vejamos.                        Os dados referentes ao fluxo, que       e as soluções possíveis passam pela           perspectiva dos que vivem do trabalho.
    A primeira conclusão que se              indicam o grau de eficácia desta etapa de   materialização da concepção de Educação
impõe é que as matrículas no Ensino          ensino, mostram o crescimento da taxa       Básica que, efetivamente, integre Ensino      3. A relação com o trabalho: a
Médio sofreram crescente retração            de repetência de 18,65 em 2000 para         Fundamental e Médio, assegurando              escolarização média aumenta as
na década 2001/2010, quando                  22,6% em 2005; de evasão, de 8,0% em        continuidade mediante o estabelecimento       possibilidades de inserção no
comparadas à evolução das matrículas         2000, para 10,0% em 2005; do tempo          de mecanismos de financiamento                mundo do trabalho?
ocorridas entre 1991 e 2001 e ao             médio de conclusão de 3,7% para 3.8%        compatíveis com a dimensão da
movimento ocorrido no Ensino                 no mesmo períodov.                          demanda. Isto só será possível com o              Analisado o caráter ideológico do
Fundamental entre 2000 e 2008.                   Os dados elencados, mesmo               estabelecimento de um novo pacto              discurso acerca da ampliação de acesso
    Assim é que, se as matrículas no         descontinuados e sem a necessária           federativo que integre os esforços das três   e da permanência no Ensino Médio,
Ensino Médio cresceram 32,1% entre           sistematização de modo a permitir análise   esferas do Poder Público, de modo a           torna-se necessário analisar a consistência
1996 e 2001, passando de aproxi-             mais qualificada, permitem inferir que,     permitir a reversão deste histórico quadro    do discurso dominante relativo à
madamente 5,7 milhões para 8,4 milhões,      quanto à expansão do acesso,                de desrespeito aos direitos dos que vivem     ampliação da empregabilidade a partir da
no quinquênio seguinte cresceram apenas      permanência e sucesso, não houve            do trabalho. Isto porque os dados,            ampliação da escolarização.
5,6 %, passando a decrescer a partir de      mudanças significativas no Ensino Médio,    embora não permitam relações                      Para esta análise contribui o estudo
2007, de modo a configurar crescimento       na vigência do Plano Nacional de            consistentes, são suficientes para mostrar    realizado por Ribeiro e Neder (2009), que
negativo de -8,4% de 2000 a 2008,            Educação 2000/2010.                         que a oferta é majoritariamente pública,      analisa a desocupação entre os jovens
segundo os dados do INEPi. Esta retração         Pode-se afirmar, portanto, que para o   urbana e para os brancos; os
se acentua entre 2008 e 2009, atingindo      Ensino Médio, apesar do discurso oficial    indicadores de acesso, sucesso e
um percentual de – 3,2, sendo que, em        professar a ampliação da oferta, esta foi   permanência apresentam evolução
2008, foram 8.369.389 matrículas contra      uma década perdida. Evidencia-se, desta     negativa, os fluxos apresentam
8.337.160 em 2009; ou seja, em apenas        forma, o caráter ideológico de tal          represamento e a distorção idade/
um ano, uma diferença de 32.229              proposição. A prioridade na aplicação       série atinge a metade das matrículas.
matrículas a menos. Verifica-se, portanto,   dos recursos ocorreu no Ensino              E, de quebra, pelo menos a metade
que na década passada, o acesso ao Ensino    Fundamental, primeira etapa da              das matrículas é noturna, atendendo
Médio não apenas não se ampliou, como        Educação Básica, que praticamente           a alunos trabalhadores.
diminuiu aproximadamente 8,5%,               atingiu a universalização. Embora                Com relação à qualidade, os dados
considerados os dados disponíveis até        louvável o atingimento desta meta, é de     disponíveis são os do ENEM e do
2008. Mantida esta tendência, a retração     se lamentar que tenha ocorrido a partir     IDEB, e, embora possam ser
pode ter sido ainda maior, se considerado    da retração do acesso ao Ensino Médio,      discutíveis do ponto de vista da
o ano seguinte.                              que não foi adequadamente contemplado       concepção de avaliação adotada pelos
    Esses dados, contudo, precisam ser       com os investimentos públicos.              docentes e especialistas compro-
desagregados para permitir uma melhor            Quando são analisadas outras            metidos com a qualidade da educação
análise, embora se disponha apenas de        dimensões, como por exemplo, a infra-       para os que vivem do trabalho,
dados descontinuados. Das matriculas em      estrutura, as conclusões não são muito      reforçam os matizes da desqua-
2008, apenas 252.661 se localizaram no       diferentes; no período de 2001 a 2007,      lificação da oferta e do descaso do
campo, ou seja, aproximadamente 3%.          passou-se de 46 para 47,4 as escolas        setor público com o Ensino Médio,
Dos matriculados, apenas 48% têm entre       que tinham biblioteca, telefone e           como já evidenciaram os dados
15 e 17 anos; esta taxa era de 45,3 em       copiadora. Já com os computadores,          acima analisados.
2005. A distorção idade série cresceu de     houve elevação do indicador; de 78,4             Os     dados     do     Índice     de    pobres e não pobres, tomando como
0,38 para 0,54 entre 2000 e 2007ii.          % das escolas que tinham este               Desenvolvimento da Educação Brasileira        referência desvantagens relativas à
    Em 2006, do total dos matriculados       equipamento em 2000, passou-se para         – IDEB, disponibilizados pelo INEPviii,       escolaridade.
no ensino médio nesta faixa etária,          94,1 em 2007, porém apenas 70% delas        mostram que, em 2007, no Ensino                   O estudo foi realizado com jovens a
58,4% eram brancos e 37,4 % eram             fizeram uso pedagógico em 2007 vi .         Médio, as escolas privadas alcançaram         partir dos 18 anos, para os quais a
negros.                                      Registre-se, também, que não há             média de 5,6, enquanto as escolas públicas    inserção no mundo do trabalho prevalece
    Em 2007, 41,3% das matrículas foram      informações sobre o número e a              atingiram a média de 3,2. Em face da          sobre a frequência à escola. Em 2006,
feitas no turno noturno; como                qualidade destes equipamentos, o que        priorização da expansão e melhoria da         segundo os dados da Pesquisa Nacional
aproximadamente a metade dos                 torna o dado pouco expressivo.              qualidade do Ensino Fundamental pelo          de Amostra Domiciliar (PNAD),
matriculados têm 18 anos e mais, elas            Um dado relevante, e que explica em     PNE 2000/2010, a estagnação do Ensino         aproximadamente 52% dos jovens
provavelmente referem-se, em sua             grande parte o descompromisso do            Médio também no que diz respeito à            inseridos na População Economicamente
expressiva maioria, a alunos que             Estado, diz respeito ao custo do aluno do   qualidade, era previsível.                    Ativa-PEA, não estudavam, percentual
trabalham ou procuram trabalhoiii.           Ensino Médio. Enquanto na Organização            Já os dados do ENEM para o ano de        que cai para 31% para os jovens de 17
    Quanto ao vínculo administrativo, o      para a Cooperação e Desenvolvimento         2009 mostram que os 1000 piores               anos. Ou seja, o ingresso no mercado de
esforço é majoritariamente público           Econômico - OCDE, em 2004, este custo       resultados foram obtidos por escolas          trabalho se dá com a desistência do direito
estadual, responsável por aproxi-            equivalia a R$ 13.000,00, na Argentina      públicas, sendo 97,8% estaduais.              à     escolarização,      para      muito
madamente 85,8% das matriculas m             e no Chile a R$ 2.000,00; no Brasil em      (ENEM 2009)                                   trabalhadores. Para fins de estudo, os
Suplemento Pedagógico APASE
4                    Abordagem
                     jovens foram separados entre pobres e                 Apontam os autores algumas variáveis            hipótese de que a educação geral, antes                Desnuda-se, desta forma, o discurso
27 - Abril de 2011



                     não pobres, e em faixas etárias. Merece           que podem contribuir para as maiores                reservada à elite, quando disponibilizada          do Banco Mundial nos anos 90, que
                     destaque que os autores tomam a                   taxas de desocupação dos jovens pobres              aos trabalhadores, banalizou-se e                  impactou significativamente a decisão
                     categoria juventude de forma concreta,            mais escolarizados: “background familiar            desqualificou-se. Ou seja, o Ensino                acerca da ruptura entre educação pro-
                     admitindo a sua imensa heterogeneidade            e qualidade da educação” (Ribeiro e                 Médio se caracteriza, a partir de meados           fissional e tecnológica e educação geral,
                     em decorrência de vários indicadores,             Neder, 2009, p.505).                                da década de 90, pela dualidade invertida          no Brasil e na América Latina (Zibas,
                     contemplando, entre eles a precarização               Em que pese a necessidade da                    (Kuenzer, 2010)4.                                  1993, Kuenzer, 1997).
                     cultural e econômica; por isso, falam em          realização de outros estudos para melhor                Segundo a autora, esse modelo                      Do ponto de vista das políticas
                     “juventudes”. Consideram, contudo, a              compreender essas relações, entre eles a            começou a ser invertido desde a metade             públicas para o Ensino Médio, esta é a
                     necessidade de estudar a relação entre            comparação da taxa de desocupação dos               dos anos 90, na esteira das políticas do           questão crucial a ser enfrentada: a mera
                     escolaridade e trabalho principalmente            jovens pobres que concluem o Ensino                 Banco Mundial para os países pobres,               ampliação do acesso em propostas que
                     entre os mais fragilizados economi-               Médio nas modalidades educação geral,               que propunha a oferta de educação geral            não atendem às necessidades de
                     camente, posto que demandam ações                 educação profissional integrada ao Ensino           para os jovens, que não deveriam se                participação social e produtiva dos que
                     públicas mais imediatas (Ribeiro e Neder,         Médio (regular e PROEJA), e ensino                  profissionalizar precocemente. Assim é             vivem do trabalho não é suficiente,
                     2009, p. 478).                                    técnico, as conclusões apresentadas pelo            que, no Brasil, o Decreto 2208/97                  embora se tenha claro que esta
                         As conclusões relativas às taxas de           estudo permitem fortalecer o poder                  separou a educação profissional e                  ampliação é urgente e necessária, com
                     desocupação são as esperadas: entre os            explicativo da hipótese que tem sido                tecnológica do ensino médio, inter-                a qualidade possível.
                     jovens mais pobres, a taxa de deso-               levantada por Zibas (1993 e 2002) e                 rompendo uma trajetória histórica                      A busca de uma nova qualidade não
                     cupação é maior. O que causa surpresa é           Kuenzer (2006 e 2007): se a modalidade              construída desde os anos 40 pelas                  pode justificar inércia na expansão da
                     o que os dados revelam a partir da relação        disponível para os jovens trabalhadores é           Escolas Técnicas Federais, que se                  oferta. Há metas, contudo, que precisam
                     entre anos de escolaridade e desocupação          o Ensino Médio de educação geral,                   caracterizavam por ofertar educação                ser priorizadas, para cuja efetivação torna-
                     (p. 485).                                         preferencialmente noturno, de fato passa            profissional pública de qualidade e com            se necessário vultoso financiamento, a ser
                         Não obstante as taxas de escolaridade         a ser essa “a escola para os filhos dos             isso permitindo aos jovens o acesso ao             equacionado por estratégias de cola-
                     entre os mais pobres terem aumentado                                                                                                                                  boração entre as esferas do
                     como resposta à complexificação do                                                                                                                                    Poder Público.
                     trabalho e à elevação dos requisitos de                                                                                                                                   Dentre elas, a mais im-
                     escolaridade para acesso a emprego,                                                                                                                                   portante, é a disponibilização
                     apontando os autores como característica                                                                                                                              ampliada da oferta de edu-
                     deste segmento na atualidade “a vivência                                                                                                                              cação profissional integrada
                     com maior intensidade, da simul-                                                                                                                                      ao ensino médio para os que
                     taneidade de várias fases que marcam sua                                                                                                                              vivem do trabalho, como
                     transição para a vida adulta”, (p. 493)                                                                                                                               estratégia de enfrentamento
                     ainda prevalece a saída antecipada da                                                                                                                                 dos efeitos perversos da
                     escola, como mostram os indicadores                                                                                                                                   dualidade invertida. Embora
                     apresentados no item anterior.                                                                                                                                        o Governo tenha investido
                         Ao tratar da relação entre escolaridade                                                                                                                           significativamente nesta
                     e desocupação, a hipótese que prevalece                                                                                                                               ampliação, as vagas ainda são
                     é que a baixa escolaridade é um dos                                                                                                                                   reduzidas.
                     fatores que dificulta a inserção no mundo         outros”, revestida antes de caráter                 emprego e ao ensino superior.                          Contudo, há ainda outro ponto a
                     do trabalho, a par da diminuição dos              certificatório do que da qualidade social               Para os filhos da burguesia e pequena          enfrentar, em que pese a seletividade que
                     postos de trabalho e da disponibilidade,          necessária para favorecer uma inclusão              burguesia, as escolas médias de educação           continua caracterizando, por diversos
                     no mercado de trabalho, de trabalhadores          menos subordinada, como já apontamos                geral, ofertadas pela iniciativa privada,          mecanismos, entre eles a avaliação para
                     desempregados mais velhos e experientes.          em outros estudos. Ou, quando se                    continuam a atender às suas demandas               ingresso e a mera transposição da versão
                     Contudo, os resultados obtidos pelo               “disponibiliza” a versão média de                   de acesso ao ensino superior; para os              tradicional do ensino técnico, que acaba
                     estudo mostram que a taxa de desocu-              educação geral para os trabalhadores, isso          estratos médios e para parcela menos               por gerar índices elevados de evasão e
                     pação dos jovens mais pobres que têm              se faz via oferta precarizada.                      precarizada da classe trabalhadora, os             repetência, indicadores que se acentuam
                     entre 11 a 14 de anos de estudos, o que               Segundo as autoras, o que está                  cursos de educação profissional e                  na versão PROEJA, onde a evasão tem
                     corresponderia ao Ensino Médio, pelo              ocorrendo é a inversão da proposta dual             tecnológica ofertados pelo setor público,          estado próxima de 50%: a ampliação da
                     menos incompleto, não se reduziu; ao              que, até os primeiros anos da década de             embora de reduzida oferta, atendem à               oferta da modalidade integrada não
                     contrário, se elevou, mostrando que o             1990 ofertava a escola média de educação            necessidade de inserção no mercado de              resolve de todo o problema. Há que
                     esforço educacional deste segmento não            geral para a burguesia e a escola                   trabalho, com o que viabilizam seu acesso          construir uma proposta de ensino médio
                     diminui suas dificuldades de obtenção de          profissional para os trabalhadores. E,              ao ensino superior, na busca por as-               integrado que supere a mera justaposição
                     ocupação. Assim, são os jovens pobres,            dadas as condições de precarização que              censão social. Para os segmentos da classe         dos componentes geral e específico dos
                     mesmo escolarizados, os que têm mais              as escolas médias públicas que atendem              trabalhadora mais precarizados econo-              currículos, sem cair no engodo de projetos
                     dificuldade de acesso a trabalho (Ribeiro         os que vivem do trabalho têm                        micamente, a dualidade invertida: a                com reduzida sistematização do co-
                     e Neder, 2009, p. 505).                           apresentado, as autoras trabalham com a             escola de educação geral desqualificada.           nhecimento a negar a necessidade de




                     4
                     Kuenzer, Acacia. O Ensino Médio no Plano Nacional de Educação 2011/2020: superando a década perdida? Campinas, Cedes, Educação e Sociedade, set 2010, vol. 31, nº 112, p. 851-873.
Suplemento Pedagógico APASE
                                                                                                                                                           Abordagem                              5
formação teórica para os trabalhadores,       com vistas à competitividade, para o que      necessidade do estabelecimento de                 de Educação 2001-2008




                                                                                                                                                                                                 27 - Abril de 2011
mediante uma rigorosa articulação entre       a redução dos custos da força de trabalho     padrões mínimos de qualidade precisa              iv
                                                                                                                                                  Dados do IBGE/PNAD, sistematizados
teoria e prática a partir da prática social   contribui decisivamente. E, se for possível   avançar, de modo a subsidiar a for-               pelo INEP/DTDIE
e dos processos de trabalho. Ou seja, há      culpar a vítima pela sua própria explo-       mulação de metas relativas à infraes-             v
                                                                                                                                                 Dados da Avaliação do plano Nacional
que investir em um rigoroso trabalho de       ração, melhor.                                trutura física e pedagógica; temas antigos        de Educação 2001-2008
organização curricular para esta moda-            Para tanto, contribui decisivamente a     precisam ser retomados, tais como                 vi
                                                                                                                                                  Idem
lidade, o que se associa à meta de quali-     oferta de Ensino Médio de educação geral      construções escolares apropriadas ao              vii
                                                                                                                                                   Idem, p.
ficar os docentes, mediante formação          precarizado que, sem preparar efeti-          Ensino Médio, considerando as carac-              vii
                                                                                                                                                   sistemaideb.inep.gov.br, consulta em
inicial e continuada.                         vamente para o mundo do trabalho, pelo        terísticas das “juventudes” que as                01/08/2010.
    Outra questão a considerar é que a        menos reforça o desenvolvimento de            frequentam; equipamentos, laboratórios,
mera expansão das vagas públicas com          algumas competências cognitivas básicas,
                                                                                            bibliotecas e outros espaços culturais e          Referências bibliográficas
qualidade, embora absolutamente neces-        acompanhado de disciplinamento ideo-
                                                                                            desportivos precisam ser disponi-                 KUENZER, Acacia Z. Ensino médio e
sária, pode não ser suficiente, pois os       lógico, nos termos das demandas de um
                                                                                            bilizados, pois não há como ter                   profissional: as políticas do estado neoliberal.
trabalhadores mais precarizados econo-        mercado cada vez mais polarizado e
                                                                                            qualidade em espaços precários.                   São Paulo, Cortez, 1997, 104 p
micamente podem não ter condições             desumano.
                                                                                                Por outro lado, há novas dimensões a          KUENZER, Acacia Z. A Educação
materiais efetivas para frequentar a escola       Enfrentar esta relação supõe a
média, ou porque trabalham (os dados          construção de um Ensino Médio com             contemplar, com destaque para as                  profissional nos anos 2000: a dimensão
mostram que a evasão aumenta a partir         outra qualidade para a classe traba-          políticas de assistência ao estudante e           subordinada das políticas de inclusão.
do 18 anos), ou porque não dispõem de         lhadora: não a qualidade requerida            para a constituição de espaços e projetos         Educação & Sociedade, Campinas,
recursos suficientes ou mesmo de              pelo mercado, mas a qualidade                 pedagógicos que atendam à diversidade             vol.27, n. 96 – Especial - p. 877-910, 2007
motivação para estar em curso distante        demandada pela inclusão na vida social        cultural, étnica e de gênero, que assegurem       KUENZER, A Z. Da dualidade assumida
de sua realidade e de suas necessidades,      e produtiva, em respeito aos direitos         acessibilidade e que sejam inclusivas; e          à dualidade negada: o discurso da
ou tudo isso ao mesmo tempo. Assim,           de cidadania.                                 que ofereçam segurança.                           flexibilização justifica a inclusão excludente.
além da oferta de vagas, e da reorga-             Isto implica em muitos movimentos             Finalmente, a sociedade civil precisa         Educação e Sociedade, n.100, 2007.
nização curricular, são necessários os        a serem deflagrados pela sociedade civil      exercer efetivamente controle sobre as            RIBEIRO, Rosane, NEDER, Henrique.
programas de assistência ao estudante,        organizada. Sem a preocupação de              políticas e programas públicos, exigindo          Juventude(s): desocupação, pobreza e
que promovam a gratuidade assistida           ordená-los por ordem de importância,          ampliação dos investimentos, realizando           escolaridade. Nova Economia. Belo
mediante bolsas de estudo, auxílio            merecem destaque o investimento na            diagnósticos e acompanhando a execução            Horizonte, 19(31), p. 475-506, set/dez,
alimentação, vale transporte, material        construção coletiva de uma nova proposta      das metas físico-financeiras, o que exige         2009.
didático gratuito ou outras modalidades       pedagógica que, contemplando a diver-         mobilização e organização.                        ZIBAS, Dagmar M. L. A função social do
de apoio que possam assegurar o acesso        sidade, articule formação científica e            Para concluir, não é demais                   ensino médio na América Latina: é sempre
e a permanência.                              sócio-histórica à formação tecnológica,       relembrar que a elaboração desta nova             possível o consenso? Cadernos de Pesquisa,
                                              promovendo autonomia intelectual e ética      síntese não é um problema pedagógico,             São Paulo, FCC, n. 85, p. 26-32, maio,
4. A qualidade que queremos                   mediante o domínio teórico-metodológico       mas um problema político, uma vez                 1993
                                              do conhecimento socialmente produzido         que a dualidade estrutural, na versão             ZIBAS, Dagmar M. L. A reforma do
    Em estudos anteriores, temos              e acumulado, de modo a preparar os            atual de dualidade invertida, tem suas            Ensino Médio no Chile: vitrina para a
mostrado que, no regime de acumulação         jovens para atender e superar as              raízes na forma de organização da                 América Latina? Cadernos de Pesquisa,
flexível, a relação entre o mercado de        revoluções na base técnica de produção
                                                                                            sociedade, expressando as relações                São Paulo, FCC, n. 115, p. 233-262,
trabalho e a escola se dá mediante um         com seus perversos impactos sobre a vida
                                                                                            entre capital e trabalho; em que pesem            março, 2002.
processo que articula dialeticamente          individual e coletiva. Seja mediante uma
                                                                                            os avanços que possam ocorrer com a
exclusão e inclusão; a exclusão includente    modalidade politécnica ou profissional,
                                                                                            ampliação da oferta e com a melhoria              Documentos
pelo mercado, que expulsa os traba-           esta proposta deverá integrar, neces-
                                                                                            da qualidade mediante políticas                   MEC. Inep. Avaliação do Plano Nacional
lhadores para inseri-los em pontos mais       sariamente, ciência, tecnologia, trabalho
precarizados das cadeias produtivas, onde     e cultura. Isto significa dizer que a         públicas, é preciso compreender que               de Educação – 2001/2008. 2009
sua força de trabalho seja consumida          unitariedade da escola média será             não é possível superar a dualidade                CNE. Indicações para subsidiar a
predatoriamente. Já a escola articula-se a    assegurada pela garantia do acesso, da        estrutural a partir da escola, senão a            construção do Plano Nacional de Educação
este movimento pela inclusão excludente,      permanência e do sucesso em escolas de        partir de transformações na própria               2011/2020, 2009.
ou seja, inclui em propostas precarizadas     qualidade, independentemente da origem        sociedade.                                        CONAE 2010. Construindo o Sistema
que não detêm a qualidade necessária para     de classe de seus alunos; a modalidade,                                                         Nacional Articulado de Educação: o Plano
ampliar as possibilidades de inclusão no      se integrada ou de educação geral, desde                                                        Nacional de Educação, Diretrizes e
                                                                                            i
mundo do trabalho de forma melhor             que assegurada a qualidade, deve                Dados da Sinopse Estatística da Educação        Estratégias.
qualificada. Como resultado, muitas           contemplar os interesses e necessidades       Básica, INEP/MEC
                                                                                            ii
vezes o certificado não é suficiente para     dos seus alunos.                                  Dados da Avaliação do Plano Nacional          Sites
assegurar a inclusão.                             Há, contudo, que ressalvar a neces-       de Educação 2001-2008                             www.inep.gov.br
    A dualidade invertida é uma das           sidade tanto de ampliar a oferta da           iii
                                                                                                Dados da Avaliação do Plano Nacional          sistemaideb.inep.gov.br
muitas mediações pelas quais esta             modalidade integrada quanto de investir
dialética ocorre, uma vez que atende às       maciçamente na qualidade da modalidade
necessidades de exercício de trabalho         de educação geral, com a finalidade de
precarizado em vários pontos das cadeias      reverter os efeitos perversos da dualidade
produtivas, como imperativo de                invertida.                                        (*) Doutora em Educação, Professora Titular aposentada, atuando no Programa de Pós-graduação
compressão do custo final dos produtos            Para tanto, a discussão acerca da             em Educação da Universidade Federal do Paraná, Pesquisadora 1ª do CNPq.
Suplemento Pedagógico APASE
6                    Abordagem
                               A contextualização nas políticas curriculares
27 - Abril de 2011




                                 nacionais para o ensino médio brasileiro
                                                                                                                                                    Rozana Gomes de Abreu e Alice Casimiro Lopes (*)



                     A               s políticas curriculares na-
                                    cionais, nas duas últimas
                                   décadas, enfocaram concei-
                                  tos considerados importantes
                     por diversos setores da sociedade. Con-
                     ceitos como interdisciplinaridade, contex-
                                                                    estabelecidas. O novo foco e ordena-
                                                                    mento, segundo Bernstein, leva em con-
                                                                    ta as lutas e os interesses predominantes
                                                                    dos grupos envolvidos no processo e pode
                                                                    produzir novos significados. A recon-
                                                                    textualização deve ser entendida assumin-
                                                                                                                  “contextualizar o conteúdo que se quer
                                                                                                                  aprendido significa, em primeiro lugar, as-
                                                                                                                  sumir que todo conhecimento envolve
                                                                                                                  uma relação entre sujeito e objeto” (Bra-
                                                                                                                  sil, 1999: 79), reforçando a relação entre
                                                                                                                  teoria e prática. As OCNem reafirmam a
                                                                                                                                                                 oficiais colaboram para uma visão
                                                                                                                                                                 reducionista do termo, porque a
                                                                                                                                                                 contextualização parece ser algo exterior
                                                                                                                                                                 que vem, com a finalidade de atrair os
                                                                                                                                                                 alunos, dar significado aos conteúdos es-
                                                                                                                                                                 colares. As teorias relacionadas à psico-
                     tualização, competências, cidadania e          do o caráter híbrido da cultura (Ball,        importância do ensino contextualizado          logia da aprendizagem são muitas vezes
                     tecnologia são centrais em todos os do-        1998), na medida em que cada contexto         para a superação de um ensino exclusiva-       citadas nos documentos com o intuito de
                     cumentos curriculares oficiais desde en-       não possui uma hierarquia a priori, as-       mente disciplinar, reducionista e enciclo-     valorizar os conhecimentos prévios dos
                     tão. Inicialmente introduzidos pela Lei        sim como as relações de poder e contro-       pédico (Brasil, 2006). Os textos oficiais      alunos, fazendo com que esses se tornem
                     de Diretrizes e Bases da Educação, esses       le não apresentam somente relações ver-       apontam que os jovens não relacionam os        participantes ativos do processo de apren-
                     conceitos são contemplados nas Diretri-        ticais, elas podem se entrecruzar.            conhecimentos escolares com suas vidas         dizagem. Dessa forma, a contextualização
                     zes Curriculares Nacionais (DCNem),                Nesse sentido, é preciso entender as      pessoais nem com as questões sociais e         apresenta-se mais como um recurso
                     nos Parâmetros Curriculares Nacionais          políticas curriculares como resultados de     políticas em geral. Afirmam ainda, que o       metodológico, baseados em princípios
                     (PCNem), nas Orientações Curriculares          disputas, internas e externas, às quais vi-   ensino atual está descontextualizado, pois     epistemológicos e psicológicos, na medi-
                     Nacionais (OCNem), no Exame Nacio-             sam a produzir e a instituir determina-       os conhecimentos são transpostos do con-       da em que discutem como ensinar me-
                     nal do Ensino Médio (ENEM), configu-           das identidades, utilizando para isso re-     texto de sua produção original para o con-     lhor os indivíduos para que estes possam
                     rando algumas das políticas curriculares       cursos humanos, materiais e simbólicos.       texto escolar sem que sejam feitas pontes      compreender o mundo em que vivem
                     estabelecidas para o ensino médio no           As políticas curriculares são produções       entre contextos mais próximos e signifi-       (Abreu, 2002; Abreu & Gomes, 2004;
                     Brasil, no período citado.                     híbridas de diferentes discursos, curri-      cativos para o aluno.                          Lopes; 2008).
                         Tais políticas promovem a difusão de       culares ou não, na tentativa de estabele-          Os discursos oficiais respondem de            A contextualização como princípio de
                     sentidos, práticas e recursos que orien-       cer a legitimação de determinada relação      certa forma às críticas sobre a disci-         organização curricular do ensino médio
                     tam as mudanças propostas pelo campo           ou finalidade social.                         plinaridade e a fragmentação do conheci-       brasileiro pretende facilitar a aplicação e
                     oficial. É por isso que os discursos que           Compreender quais os discursos hí-        mento, que tanto a academia quanto a           a relação dos conhecimentos escolares na
                     apresentam esses conceitos devem ser           bridos envolvidos nesse processo de recon-    sociedade fazem. Defende-se que a              compreensão das experiências pessoais,
                     analisados no sentido de entendermos as        textualização pode permitir identificar as    contextualização possibilitaria uma visão      bem como facilitar o processo de cons-
                     ressignificações ocorridas quando diferen-     “novas” relações de poder e controle que      mais integrada dos diferentes conhecimen-      trução dos conhecimentos abstratos na
                     tes sujeitos precisam se articular e esta-     as reformas promovem. É preciso enten-        tos e um diálogo maior entre os campos         escola a partir do aproveitamento das ex-
                     belecer um discurso, que servirá de base       der quais os discursos valorizados pelos      disciplinares. Entretanto, essa perspectiva    periências pessoais. Baseados na concep-
                     para outras ações políticas e promoverá        documentos oficiais e como eles podem         tende a desconsiderar os interesses e as       ção de aprendizagem situada de David
                     a legitimação de um determinado senti-         ser reinterpretados dentro de novos con-      relações de poder que os diferentes cam-       Stein (Brasil, 1999), os documentos ofi-
                     do. Não devemos menosprezar a força            textos por diferentes sujeitos, bem como      pos de conhecimento estabelecem na so-         ciais valorizam a vivência de situações
                     que as políticas curriculares oficiais pos-    quais os seus desdobramentos sociais,         ciedade quando lutam por espaço, recur-        cotidianas dos alunos para a construção
                     suem, mesmo com os diversos mecanis-           políticos, culturais e educacionais.          sos e legitimação (Goodson, 1997).             do conhecimento, e como esse tipo de
                     mos de resistência que a prática pedagó-           Nos documentos oficiais da reforma        Desconsideram também as diversas prá-          aprendizagem pode ser utilizada em ou-
                     gica desenvolve.                               do ensino médio, o discurso da con-           ticas pedagógicas realizadas nas diferentes    tras situações. Nessa perspectiva, a
                         O discurso sobre a contextualização        textualização aparece associado à ideia de    escolas do nosso país, dentre as quais a       contextualização valoriza os saberes pré-
                     é interessante porque, antes mesmo da          integração, considerada a principal meta      contextualização é utilizada para contribuir   vios dos alunos, recuperando de certa
                     sua circulação nos documentos oficiais,        a ser alcançada pelas mudanças preconi-       para o desenvolvimento do conhecimento         forma ideias do progressivismo de
                     ele já era defendido pelo contexto esco-       zadas. Machado, um dos elaboradores e         escolar, bem como para a discussão das         Dewey,        que      hoje      aparecem
                     lar. Podemos dizer que tal fato colabora       consultores do ENEM, argumenta que “a         relações sociais, políticas e econômicas de    ressignificados nos documentos oficiais
                     para que os discursos oficiais tenham uma      contextualização enriquece os canais de       nossa sociedade. Ressaltamos que a pers-       (Lopes, 2008).
                     aceitação melhor perante o contexto so-        comunicação entre bagagem cultural, qua-      pectiva oficial apresenta a contextualização       A valorização dos saberes cotidianos,
                     cial. No entanto, isso não significa afir-     se sempre tácita, e as formas explícitas ou   de forma neutra e técnica, uma vez que a       dos saberes prévios dos alunos e das teo-
                     mar que os sentidos que prevalecem na          explicitáveis de manifestação do conheci-     introdução de uma nova forma de organi-        rias de aprendizagem significativa é de-
                     definição desses documentos são os mes-        mento” (Machado, 1999: 20). Dessa for-        zar o currículo escolar e seus conhecimen-     fendida por diversos campos disciplina-
                     mos que se destacam no contexto escolar        ma, a contextualização é entendida como       tos é vista como responsável principal pe-     res, que os utilizam como forma de me-
                     ou acadêmico.                                  meio de relacionar o conhecimento com         las mudanças das relações existentes no        lhorar o processo de ensino e aprendiza-
                         A transferência ou a prevalência de        a prática ou com a experiência do aluno,      contexto escolar, minimizando assim o          gem. Dessa maneira, não é uma surpre-
                     determinado significado está sujeito ao        permitindo a construção de significados       processo político de constituição dessas       sa ver tais concepções presentes nos do-
                     que Basil Bernstein (1981, 1996) deno-         para o processo de ensino e aprendizagem.     relações. Qualquer forma de organizar o        cumentos oficiais, já que a elaboração
                     mina de processo de recontextualização.        As DCNem chamam a atenção de que a            currículo não pode ser vista como uma          destes contou com a participação direta
                     Nesse processo, diferentes discursos são       contextualização deve relacionar os conhe-    questão técnica, pois ela altera as relações   de integrantes da comunidade de ensino
                     retirados de seus contextos de “origem”        cimentos escolares com as situações da vida   de poder e controle que participam da          disciplinar, com grande experiência na
                     e são recolocados em um novo contexto,         cotidiana ou da vivência para contribuir      constituição do espaço escolar.                pesquisa sobre o ensino disciplinar espe-
                     no qual novas relações de poder e con-         com a leitura e compreensão do mundo               Pesquisadores como Gouvea e Macha-        cífico, e sobre a formação inicial e conti-
                     trole, interesses e finalidades sociais são    (Brasil, 1998). De acordo com os PCNem,       do (2006) sinalizam que os documentos          nuada de professores. No entanto, as pers-
Suplemento Pedagógico APASE
                                                                                                                                                               Abordagem                               7
pectivas teóricas desses pesquisadores        81). Assim, a ideia de integração defen-            No caso das políticas curriculares nacio-      York: Macmillan, 1981.




                                                                                                                                                                                                      27 - Abril de 2011
tendem a assumir um viés mais crítico e       dida passa também pela adaptação dos           nais para o ensino médio no Brasil, o dis-          BERNSTEIN, Basil. A estruturação do dis-
relacionado à defesa de uma educação          sistemas escolares às mudanças globais         curso da contextualização apresenta como            curso pedagógico: classe, códigos e controle.
democrática, pois                             cada vez mais rápidas, sem que haja um         pontos positivos a inserção de discursos já         Petrópolis: Vozes, 1996.
       “não se trata de apenas inserir o      questionamento ou uma reflexão maior           valorizados nos contextos escolares e acadê-        BRASIL, Ministério da Educação, Secreta-
       aluno no mundo e, para tal fazer o     dessas mudanças. Ou seja, a ideia de in-       micos, fazendo com que estes discursos ad-          ria de Educação Média e Tecnológica –
       aluno compreender esse mundo.          tegrar pela contextualização aparece com-      quiram maior legitimação social, apesar de          SEMTEC. Diretrizes Curriculares Nacionais
       Trata-se do entendimento de que        prometida com o novo significado do tra-       ressignificados. Como pontos negativos,             para o Ensino Médio. Brasília: MEC/
       há um projeto de mudança a ser         balho no contexto da globalização e com        podemos destacar a redução e a submissão            SEMTEC, 1998. Acessado no endereço
       desenvolvido no mundo, de forma        a apropriação e a utilização dos conheci-      da contextualização aos princípios do mun-          www.mec.gov.br em 15/01/2000
       democrática, e diferentes conheci-     mentos pelos indivíduos.                       do do trabalho, bem como a ausência de              BRASIL, Ministério da Educação, Secreta-
       mentos precisam ser construídos            Se o contexto do trabalho é conside-       questionamentos com relação a este tipo de          ria de Educação Média e Tecnológica –
                                              rado o mais importante, a tecnologia é         discurso hegemônico.                                SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais
       para que esse projeto se desenvol-
                                              reconhecida como tema por excelência,               A fim de concluir este texto, e não de         para o Ensino Médio – Bases legais. Brasília:
       va” (Lopes et al, 2001: 4).
                                              pois permite contextualizar os conheci-        finalizar nossa reflexão e análise sobre o          MEC/SEMTEC, 1999. Acessado no ende-
    Como exemplo, podemos citar a pre-        mentos de todas as áreas e disciplinas no      tema, chamamos a atenção para a impor-              reço www.mec.gov.br em 15/01/2000
ocupação por parte das principais lide-       mundo do trabalho. Com esse viés, res-         tância de superarmos a dicotomia das aná-           BRASIL, Ministério da Educação, Secre-
ranças da comunidade disciplinar de en-       gata-se assim, pressupostos das teorias        lises políticas. Se procurarmos entender            taria de Educação Básica. Orientações
sino de química em possibilitar construir     dos eficientistas sociais nas quais a apren-   quais discursos e articulações estão pre-           Curriculares para o ensino médio. Brasília:
uma sociedade mais justa e igualitária por    dizagem está associada intimamente à           sentes na constituição de determinado dis-          MEC/SEB, volume 2, 135 p., 2006.
intermédio de uma cidadania responsá-         inserção social do indivíduo no mundo          curso político, estaremos superando as aná-         GOODSON, Ivor. F. A construção social do
vel, desenvolvendo para isso questio-         produtivo. Nessa lógica, a educação pre-       lises que apresentam as políticas como re-          currículo. Lisboa: Educa, 1997.
namentos que contribuam para a trans-         cisa apenas formar o indivíduo, enquan-        sultado de um processo simples, sem arti-           GOUVEA, Ligiane R. & MACHADO,
formação dos modelos dominantes nos           to trabalhador, de maneira que ele possa       culações, e produtos de um discurso úni-            Andrea H. Trilhando caminhos para compre-
diversos contextos da sociedade (Santos,      se inserir na estrutura social e produtiva.    co. Dessa forma, conseguiremos também               ender a contextualização no ensino de Quími-
2006; Maldaner, 2008). Muitos desses              A contextualização pelas tecnologias       pensar em outras articulações e discursos           ca. XIII ENEQ. Anais do XIII ENEQ.
discursos encontram consonância com os        visa mobilizar as competências do indi-        que promovam uma educação mais de-                  CDRom, Campinas, 7 pp., julho, 2006.
discursos de teóricos da educação, como       víduo para solucionar problemas em con-        mocrática e responsável.                            LOPES, Alice. C. Políticas de integração
Paulo Freire, que defendem uma educa-         textos apropriados, fazendo com que a                                                              curricular. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2008.
                                                                                             Referências Bibliográficas:
ção libertadora e emancipatória como          capacidade de resolver problemas possa                                                             LOPES, Alice C.; GOMES, Maria Marga-
forma de se contrapor aos processos de                                                       ABREU, Rozana G. de. A integração                   rida; LIMA, Inilcéa dos Santos. (2001) Di-
                                              ser transferida para outros contextos,
opressão e de desigualdade social.            como o contexto de produção (Lopes,            curricular na área de Ciências da Natureza,         ferentes contextos na área de Ciências da Natu-
    Enquanto essas perspectivas visam         2008). Dessa maneira, os contextos va-         Matemática e suas Tecnologias nos Parâmetros        reza, Matemática e suas Tecnologias dos
amplamente à relação dos alunos com o         lorizados nas políticas curriculares do        Curriculares para o Ensino Médio. 2002.127f.        Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino
mundo que os cerca de forma crítica, a        ensino médio são aqueles que possuem           Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Edu-          Médio: integração com base no mercado. Anais
concepção de contextualização nos docu-       potencial para aplicar e formar compe-         cação, Universidade Federal do Rio de Ja-           do III ENPEC (CD-Rom). Atibaia:
mentos oficiais aparece associada ao          tências e habilidades necessárias ao tra-      neiro, Rio de Janeiro, 2002.                        ABRAPEC, nov., 2001.
mercado de trabalho e ao mundo produ-         balhador e ao cidadão que precisa acom-        ABREU, Rozana G. de & GOMES, Maria                  MACHADO, Nilson J. Interdisciplinaridade
tivo. Ou seja, os discursos defensores dos    panhar as mudanças da sociedade. A             M. Investigando a contextualização e as             e Contextualização. In: INEP (Instituto Na-
saberes cotidianos e das experiências dos     contextualização pelas tecnologias e pelo      tecnologias em livros didáticos de Biologia e       cional de Estudos e Pesquisas Educacionais
alunos perdem seu potencial crítico e         trabalho nos documentos oficiais mostra        Química para o Ensino Médio. VI Colóquio            Anísio Teixeira). Exame Nacional do Ensino
transformador quando são retirados de         como os discursos sobre a formação para        sobre Questões Curriculares – II Colóquio           Médio (ENEM): fundamentação teórico-
seus contextos disciplinares e recolocados    o trabalho, a resolução de problemas e a       Luso-Brasileiro. Rio de Janeiro, UERJ,              metodológica. Brasília: INEP, 1999.
em um contexto oficial, onde passam a         valorização do conhecimento científico         CDRom, p. 2000-2015, 2004.                          MALDANER, Otávio A. Ensinar e apren-
estabelecer novas relações com o enfoque      são considerados de fundamental impor-         BALL, S. Cidadania global, consumo e po-            der na área das Ciências da Natureza e suas
voltado para a inserção social no mundo       tância para a vida social.                     lítica educacional. In: SILVA, L.H. (Org.).         Tecnologias com ênfase em processos interativos
produtivo, como é o caso da valorização           Nesse sentido, o discurso da contex-       A escola cidadã no contexto da                      de significação cultural. XIV ENDIPE. Anais
do trabalho e da tecnologia.                  tualização nas políticas curriculares naci-    globalização. Petrópolis: Vozes, p. 121-            do XIV ENDIPE, Porto Alegre, CDRom,
    Os contextos do trabalho e da cida-       onais é um discurso híbrido que associa        137, 1998.                                          16 pp., abril, 2008.
dania são apresentados como forma de o        concepções e pressupostos mais instru-         BERNSTEIN, Basil. On the classification and         SANTOS, Wildson. L. P Letramento em Quí-
                                                                                                                                                                            .
indivíduo identificar a teoria na prática     mentais e metodológicos, relacionados à        framing of education knowledge. In: YOUNG,          mica, educação planetária e inclusão social. Quí-
e vice-versa. Segundo os documentos, “o       resolução de problemas e melhoria da           Michael (org.). Knowledge and control. New          mica Nova. Vol. 29, n° 3, p. 611-620, 2006.
cotidiano e as relações estabelecidas com     qualidade da educação, às concepções e
o ambiente físico e social devem permi-       pressupostos mais críticos voltados para
tir dar significado a qualquer conteúdo       uma educação emancipadora e questio-
curricular, fazendo a ponte entre o que       nadora. Cabe ressaltar que não é o fato
se aprende na escola e o que se faz, vive e   do discurso da contextualização se cons-
observa no dia-a-dia” (Brasil, 1999: 82).     tituir como uma produção híbrida que            (*) Rozana Gomes de Abreu - Professora Doutora do Colégio de Aplicação da Universidade
    O contexto do trabalho é considera-       isso lhe confira uma certa positividade         Federal do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ) e Pesquisadora dos Grupos de Pesquisa “Políticas de
do o mais importante da experiência           ou negatividade a priori. É preciso anali-      currículo e cultura” e “Processos de articulação e produção de sentidos nas políticas curriculares de
curricular no ensino médio uma vez que        sar como os diferentes discursos se arti-       formação de professores”.
é “imprescindível para a compreensão          culam entre si na construção de um dis-         Alice Casimiro Lopes - Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Educação (PROPEd)
dos fundamentos científicos-tecnológicos      curso maior, no caso a contextualização,        da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coordenadora do Grupo de Pesquisa “Políticas de
dos processos produtivos” (Brasil, 1999:      e quais as suas finalidades sociais.            currículo e cultura”, www.curriculo-uerj.pro.br
Suplemento Pedagógico APASE
8                    Abordagem
                         Implicações da Prevenção da Violência para o
27 - Abril de 2011




                                  Currículo do Ensino Médio                                                                                                                                         (*)
                                                                                                                                                                          Maria Auxiliadora Elias

                     Introdução                                  pectiva teórica adotada também deste            violência, concebendo-a da seguinte         distingue dois tipos: violência em “ato”
                                                                 conceito em particular. Por último, e           forma:                                      e violência em “estado”, que podem


                     O         presente artigo tem a intenção
                               de trazer algumas contribui-
                              ções para a discussão do
                             preocupante tema da violência e
                     as possíveis repercussões para o currí-
                     culo do ensino médio. De uns tempos
                                                                 com base na pesquisa realizada pela au-
                                                                 tora intitulada Violência escolar e impli-
                                                                 cações para o currículo: o projeto pela vida,
                                                                 não à violência - tramas e traumas, serão
                                                                 elencados oito passos a serem conside-
                                                                                                                        Há violência quando, em uma
                                                                                                                        situação de interação, um ou vá-
                                                                                                                        rios atores agem de maneira di-
                                                                                                                        reta ou indireta, maciça ou
                                                                                                                        esparsa, causando danos a uma
                                                                                                                                                             ser particularmente significativos para
                                                                                                                                                             a prevenção da violência na escola.
                                                                                                                                                             Nas situações em que é possível a iden-
                                                                                                                                                             tificação da origem física dos danos
                                                                                                                                                             causados pela violência, como no caso
                     para cá, a questão da violência vem         rados na elaboração de um plano de pre-                                                     de “matar”, nos encontramos diante de
                                                                                                                        ou a mais pessoas em graus vari-
                     ocupando a pauta de discussões de va-       venção da violência, como parte inte-                                                       ato de violência. Mas, também é pos-
                                                                                                                        áveis, seja em sua integridade fí-
                     riadas reuniões pedagógicas em diver-       grante do Projeto Político Pedagógico da                                                    sível “deixar morrer de fome ou favore-
                                                                                                                        sica, seja em sua integridade
                     sos níveis, mas frequentemente fica re-     escola que, certamente, constituem im-                                                      cer condições de subnutrição”
                                                                                                                        moral, em suas posses, ou em suas
                     sumida às constatações de simples quei-     plicações para o currículo.                                                                 (MICHAUD, 1989: 11). Quer dizer,
                                                                                                                        participações simbólicas e cultu-
                     xas das violências acontecidas, sejam                                                                                                   há situações em que a violência atua,
                                                                 Aproximação ao conceito de                             rais. (MICHAUD, 1989: 11)
                     provenientes dos alunos, dos professo-                                                                                                  mas é muito difícil rastrear seus flu-
                                                                 violência                                           No conceito de violência de
                     res, ou dos funcionários. Estas têm                                                                                                     xos e indícios. Assim acontece em to-
                                                                     Dentro da imensa literatura sobre a         Michaud encontramos diversos aspec-         das as variadas formas de atuação da
                     sido, muitas vezes, deixadas de lado        violência, selecionamos, do ponto de            tos que ajudam a dar um significado
                     pela educação, sem a compreensão de                                                                                                     violência originadas em consequência
                                                                 vista teórico, duas referências de am-          ao que queremos aqui destacar. Man-         de relações sociais de dominação, de
                     que poderiam ser tratadas no âmbito         pla aceitação sobre o conceito de vio-          tendo o núcleo da natureza da violên-
                     pedagógico, por serem consideradas                                                                                                      exclusão econômica ou de privação das
                                                                 lência, susceptíveis de se relacionar har-      cia (“causar danos”), a definição intro-    necessidades básicas do ser humano,
                     questões estranhas ao currículo, que pa-    moniosa e fecundamente com as teori-            duz o aspecto do contexto (situações
                     reciam estar além do conjunto dos con-                                                                                                  como alimentação, saneamento, mo-
                                                                 as pedagógicas e curriculares.                  de interação) dentro do conceito de vi-     radia, acesso aos serviços de saúde e
                     teúdos e das disciplinas a serem ensi-          Um conceito muito significativo,            olência, o que se revela de particular
                     nadas e aprendidas. Por esse motivo, o                                                                                                  educação, etc.
                                                                 compatível com a visão da educação              importância para as ações interventivas,
                     tratamento dos problemas da violência       como forma de prevenção, redução ou             preventivas da violência e educativas da    Violência escolar
                     costumava ser remetido a agentes ex-        superação da violência, é a definição           convivência. Trata-se do reconhecimen-         Mais do que uma categoria ou
                     ternos à escola.                            de violência adotada pela Organização           to de que a violência resulta da            especificidade da violência em geral,
                         Dentro de uma perspectiva que in-       Mundial da Saúde – OMS. O Relatório             interação em contextos diferentes, que      é necessário ressaltar, de início, que a
                     tegra a prevenção da violência e a edu-     Mundial sobre a Violência e a Saúde ado-        vai desde o contexto do indivíduo e fa-     expressão “violência escolar” engloba
                     cação da convivência, tentar-se-á, do       ta como definição de violência:                 mília, escola, bairro, até contextos na-    uma multiplicidade de fenômenos di-
                     ponto de vista teórico, recolher algu-                                                      cionais e globais. Assume-se que as         versos, que, frequentemente, se apre-
                                                                        O uso intencional da força físi-
                     mas contribuições que nos ajudem a                                                          ações interventivas ou preventivas de-      sentam juntos, misturados, embara-
                                                                        ca ou do poder, real ou em ame-
                     compreender e conceituar algumas das                                                        vem ser realizadas atuando nesses con-      lhados. A violência escolar é uma cons-
                                                                        aça, contra si próprio, contra
                     faces da violência e seu tratamento no                                                      textos, como recomendam as recentes         telação.
                                                                        outra pessoa, ou contra um gru-
                     âmbito pedagógico. Esses conceitos pos-                                                     orientações de prevenção da violência.         Vejamos, por exemplo, a definição
                                                                        po ou uma comunidade, que re-
                     sibilitam estabelecer ligações e reflexos                                                   Fundamenta-se aqui a estratégia de atu-     de violência escolar de Serrano e Iborra:
                                                                        sulte ou tenha grande possibili-
                     diretos e, às vezes, indiretos ao traba-                                                    ação integrada da escola com outros ato-
                                                                        dade de resultar em lesão, mor-                                                             qualquer tipo de violência que se
                     lho educativo no âmbito da escola, re-                                                      res da sociedade nas ações de preven-
                                                                        te, dano psicológico, deficiência                                                           dá em contextos escolares. Pode
                     percutindo no currículo escolar. Espe-                                                      ção à violência.
                                                                        de desenvolvimento ou priva-                                                                ir dirigida para alunos, profes-
                     ra-se que estas reflexões possam                                                                Desse conceito de Michaud pode
                                                                        ção”. (OMS, 2002, 5).                                                                       sores ou propriedades. Esses atos
                     explicitar algumas questões que afligem                                                     ser destacada, também, a complexida-
                     a todos/as, suscitando nos leitores/as a        Esse conceito da OMS é significa-                                                              acontecem nas instalações esco-
                                                                                                                 de e interação das causas da violência:
                     necessidade de problematizar a realida-     tivo porque situa a violência desde a                                                              lares (aula, pátio, banheiros,
                                                                                                                 “um ou vários autores agem de maneira
                     de, por meio de debates e estudos para      perspectiva da sua redução e dentro do                                                             etc.), nos arredores do centro
                                                                                                                 direta ou indireta, maciça ou esparsa”,
                     a busca de pistas na direção da resolu-     marco de ações ou políticas públicas,                                                              escolar e nas atividades extra-es-
                                                                                                                 assim como as diferentes intensidades
                     ção de problemas que se manifestam          dentre elas a educação. Nesse sentido,                                                             colares. (SERRANO, 2007: 82)
                                                                                                                 da mesma (“graus variáveis”). As impli-
                     no cotidiano escolar.                       aqui se defende, também, que as ativi-          cações para os programas escolares de           Desse conceito podemos destacar
                         Assim sendo, serão apresentados, em     dades educativas possuem alta                   prevenção da violência, derivadas des-      vários aspectos importantes. O primei-
                     um primeiro momento, alguns concei-         potencialidade para prevenir a violên-          sa realidade apontam para a conveni-        ro refere-se à enorme variedade ou di-
                     tos esclarecedores sobre a violência que    cia e educar na convivência.                    ência de adoção de um conjunto de           versidade de fenômenos que abarca a
                     encaminham para a necessidade de um             O outro conceito de violência esco-         ações, propostas e atividades integra-      violência escolar: “qualquer tipo de vi-
                     trabalho educativo na linha da preven-      lhido procede de Yves Michaud. Ele se           das. O conceito de Michaud inclui, tam-     olência”. Em seguida faremos um es-
                     ção. Em um segundo momento, para            propôs elaborar uma definição de vio-           bém, a violência de tipo moral e cultu-     forço para ordenar e classificar essas
                     que possa haver a discussão articulada      lência suficientemente ampla para re-           ral, o que não deve ser esquecido.          mil caras da violência escolar, mas an-
                     com o currículo, será sinalizada a pers-    ferir-se aos diferentes fenômenos de                Em relação à ação violenta, Michaud     tes continuemos anotando outra ques-
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Ensino Médio: formação para cidadania versus submissão ao mercado de trabalho

  • 1. Suplemento Pedagógico APASE 1 27 - Abril de 2011 Ano XII nº 27 - Abril de 2011 Ensino Médio: formação para a cidadania ou submissão ao mercado de trabalho? Editorial “... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão semrpre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.” (João Guimarães Rosa - Grande Sertão: Veredas) s constantes reformas ticas adotadas, com os ajustes pro- Violência Escolar; Tipos de A aplicadas nos processos de ensino e aprendiza- gem por meio das políti- cas educacionais de cada governo de plantão nos últimos anos, resultam postos e as suas eventuais consequências. A Professora Acácia Zeneida Kuenzer, doutora em educação, atu- ando no Programa de Pós-Gradua- violência que podem ser ob- jeto de atenção da escola; Situando o conceito de Cur- rículo Escolar; e Implicações para o Currículo. em dificuldades e incoerências neste ção em Educação pela Universidade O quarto artigo do Su- importante nível de escolaridade: o Federal do Paraná, em seu artigo plemento, intitulado ”O En- Ensino Médio. Protagonista de um “Ensino Médio: formação para a ci- sino Médio: diferentes olha- dos principais embates da atualida- dadania ou submissão ao mercado de res, desafios comuns”, de de - ensino técnico versus cidadania trabalho?” faz uma interessante aná- autoria de Celso João - ou seja, a formação profissional em lise dessa dicotomia de expectativas Ferretti, Professor Doutor, confronto com a educação geral. frente ao processo de ensino-apren- atualmente colaborador do Para aprofundar a discussão des- dizagem, aos programas públicos e CEDES, enfoca os aspectos sa ambiguidade conceitual, a Comis- de política social. ra Vedovato, do livro “Trabalho e da academia e dos educadores que são deste Suplemento Pedagógico Rozana Gomes de Abreu, Pro- enfatizam a necessidade da forma- Conhecimento: dilemas na educação convidou renomados especialistas, fessora Doutora do Colégio de Apli- ção geral para consolidação dos co- do trabalhador”, de Carlos M. nesta área de estudos, para elabo- cação da Universidade Federal do nhecimentos que propicie uma atua- Gomez, Gaudêncio Frigotto, Marcos rar artigos sobre o Ensino Médio, suas Rio de Janeiro, e Alice Casimiro Arruda, Miguel Arroyo e Paolo ção cidadã da sociedade e popula- peculiaridades, conceitos, políticas Lopes, Professora Doutora do Pro- Nosella. ção, que demandam uma educação aplicadas e as implicações da violên- grama de Pós-graduação em Edu- profissionalizante. Finalmente, a Diretora de Comu- cia no currículo, com o intuito de que cação da Universidade do Rio de Ja- nicação APASE, Maria José neiro, no artigo “A contextualização Na seção Depoimento, duas es- sejam utilizados pelos supervisores de Antunes Rocha Rodrigues da nas políticas curriculares nacionais colas da região de Bragança Paulista ensino, como recurso para o seu Costa, fez a resenha da obra “A Ci- apresentam exemplos práticos de melhor desempenho no trabalho de para o ensino médio brasileiro”, fa- dadania Negada: política de exclusão ações positivas, na área artística e de acompanhamento, orientação das zem uma análise sobre a legislação, na educação e no trabalho”?, de novas mídias, para essa exigente cli- escolas e, sobretudo, um estímulo à as diretrizes e os parâmetros Gaudêncio Frigotto e Pablo Gentili. entela do Ensino Médio. reflexão e ao diálogo diante das polí- curriculares nacionais e demais do- Boa leitura! cumentos do Ensino Completando este Suplemento, Médio, tendo por base encontram-se, também, resenhas e a reflexão de diversos indicações de obras que po- autores. dem contribuir para o estudo aprofundado do tema. Comissão organizadora: O artigo “Implica- ções da Prevenção da A primeira resenha, elabo- . Albino Astolfi Neto Violência para o Currí- rada pela Supervisora de En- . Eliene Bonetti culo do Ensino Médio”, sino, Clarete Paranhos da . Irene Machado Pantelidakis da Professora Doutora Silva, é sobre o livro “Ensino . Maria Antonia de Oliveira Vedovato em Educação, Maria técnico e globalização: cida- dania ou submissão?”, de . Maria Cecília Mello Sarno Auxiliadora Elias, tem sua estrutura fun- Marcos Francisco Martins. . Maria Clara Paes Tobo damental articulada A seguinte, foi realizada . Maria José Antunes Rocha R. da Costa com: Aproximação ao pela Supervisora de Ensino, . Maria Lúcia Morrone Conceito da Violência; Maria Antonia de Olivei- . Rosângela Aparecida Ferini V. Chede
  • 2. Suplemento Pedagógico APASE 2 Abordagem Ensino Médio: formação para a cidadania ou 27 - Abril de 2011 submissão ao mercado de trabalho? Acacia Zeneida Kuenzer (*) 1. Introdução da diversidade de modalidades é que elas é a história do enfrentamento dessa têm caracterizado as reformas do Ensino se destinam a alunos com diferentes tensão, que tem levado, antes do que à Médio exige que se elucidem as Ensino Médio no Brasil tem O se constituído ao longo da história da educação brasileira como a etapa de mais difícil enfrentamento, em termos de sua concepção, estrutura e formas de origens de classe, com o que fica reforçada a inclusão dos incluídos; são, portanto, desiguais, e não apenas diversas. É esta dupla função — preparar para a continuidade de estudos e para o mundo do trabalho — que lhe confere síntese, à polarização, fazendo da dualidade estrutural a categoria de análise por excelência para a compreensão das propostas que vêm se desenvolvendo a partir dos anos 40. Após o fracasso do modelo estabe- concepções, preenchendo o discurso lacunar típico das ideologias, para que as intencionalidades decorrentes de in- teresses e visões particulares de mundo, próprias das diferentes posições de classe, venham à tona, e assim se possa exercer organização, em decorrência de sua ambiguidade, uma vez que essa não é uma lecido em 1971, com a lei nº 5692, e o direito de escolha por possíveis própria natureza de mediação entre a questão apenas pedagógica, mas política, com a acomodação do “caos” pela lei nº históricos que são necessariamente educação fundamental e a formação determinada pelas mudanças nas bases 7044/82 através de uma saída con- contraditórios, dentro dos limites da profissional stricto sensu, obtida nos materiais de produção, a partir do que servadora e nociva à classe trabalhadora, democracia possível”2. cursos superiores, incluindo os de se define a cada época, uma relação a quem não interessa um “propedêutico” Para tanto, é necessário que se analise formação de tecnólogos, em que pese peculiar entre trabalho e educação. equivocadamente apresentado como a materialidade desta etapa da Educação constituir-se, após a LDB de 1996, em Como as funções essenciais do “geral”, mas sem ser básico, voltado Básica para que se possa, não apenas fazer segunda etapa da Educação Básica. mundo da produção originam classes exclusivamente para a preparação do a crítica ao discurso ideológico, mas Como resultado, a marca de sua sociais diferenciadas com necessidades ingresso dos mais “competentes” na também perceber, nos espaços identidade continua a ser a oferta específicas, essas mesmas classes criam universidade, a discussão do ensino contraditórios das relações entre capital diferenciada e desigual, revelada pelas para si uma camada de intelectuais que médio, que vinha sendo desenvolvida e trabalho, os avanços possíveis. Com inúmeras possibilidades de organização será responsável pela sua homogeneidade, lenta, mas seriamente, no período de este intuito, serão analisados a seguir, os que oscilam entre a profissionalização, nas consciência e função, nos campos debate nacional da LDB, foi atropelada dados referentes ao acesso e à per- modalidades articulada ou subsequente, econômico, social e político. pela elaboração da proposta de manência, dado o reiterado discurso e a educação geral de caráter prope- Formar esses intelectuais é função da substitutivo do senador Darcy Ribeiro e oficial sobre a ampliação progressiva das dêutico; a modalidade articulada pode ser escola, com base nas demandas de cada pela apresentação do PL 1603/96 pela oportunidades, e a relação entre es- integrada ou concomitante, e ainda, a classe e das funções que lhes cabe Secretaria de Educação Média e colaridade média e inserção no mundo integrada também pode ocorrer nas desempenhar na divisão social e técnica Tecnológica do MEC/SEMTEC, cujo do trabalho, com vistas a analisar a modalidades regular e PROEJA. do trabalho. O exercício dessas funções conteúdo, dada a rejeição pelo Congresso propriedade do discurso sobre a am- Em tese, a diversificação de não se restringe apenas ao campo Nacional, foi aprovado por Decreto (nº pliação da empregabilidade. modalidades não é um problema em si, produtivo em si, mas abrange todas as 2208/97) e incorporado recentemente à dadas as características diferenciadas de seu público alvo, que inclui desde jovens dimensões comportamentais, ideológicas LDB, junto à retomada da integração 2. O acesso e a permanência: que frequentam o curso na faixa etária e normativas que lhe são próprias, o que entre ensino médio e educação compromisso com a democratização de 14 a 17 anos, até profissionais que exige, portanto, da escola em todos os profissional1. da oferta? níveis, a elaboração de suas propostas Essas propostas, que se sucedem ao Em recente artigo redigido com a retornam à escola, após anos de experiência, para sistematizar o segundo essas exigências. longo dos anos, são justificadas por finalidade de avaliar os resultados do I conhecimento adquirido com a Não é diferente com o Ensino Médio; diferentes discursos, que vão desde as PNE (2001-2010) e propor metas para o experiência ou apenas para obter apenas, nesse nível, por seu caráter necessidades do desenvolvimento eco- período que se inicia (II PNE – 2011- certificação que melhore suas condições intermediário, a elaboração da proposta nômico em face do “milagre brasileiro” 2020), o estudo dos dados disponíveis de trabalho; entre os jovens, há aqueles pedagógica para cada fase de desen- da década de 70, passando por uma acerca do acesso e da permanência no que, por sua condição de classe, volvimento das forças produtivas, exige pretensa proposta unitária para todos, Ensino Médio, consideradas todas as suas demandam um ensino médio o enfrentamento adequado da tensão genérica, justificada pela afirmação “o modalidades, revelou-se extremamente propedêutico que lhes assegure acesso às entre educação geral e educação ensino médio agora é para a vida” em preocupante, em que pesem os limites boas universidades, e os que, filhos da específica, em busca da síntese histo- meados dos anos 90, até a necessidade dos dados disponíveis, pouco desa- classe trabalhadora, buscam melhores ricamente possível de múltiplas deter- de formação de profissionais flexíveis que gregados e descontinuados, que não oportunidades para inserir-se no mundo minações infraestruturais e políticas que continua caracterizando os anos 2000. permitiram a elaboração de análises do trabalho, condição necessária para caracterizam cada momento. Como já se afirmou em texto anterior, históricas, dificultando a elaboração de que continuem estudando. O problema A história do Ensino Médio no Brasil “compreender as diferentes propostas que um diagnóstico mais preciso3. Contudo, 1 Lei nº 11.741 de 16 de julho de 2008, art. 34. 2 Kuenzer, Acacia. O ensino médio agora é para a vida: entre o pretendido, o dito e o feito. Campinas, Cedes, Educação e Sociedade, ano XXI, n. 70, abril de 2000, p. 16. 3 Os dados aqui apresentados, neste e no próximo ítem, em sua versão original foram publicados em Kuenzer, Acacia. O Ensino Médio no Plano Nacional de Educação 2011/2020: superando a década perdida? Campinas, Cedes, Educação e Sociedade, set de 2010, vol 31, nº 112, p. 851-873.
  • 3. Suplemento Pedagógico APASE Abordagem 3 é preciso considerar que esta dificuldade 2008, as quais, acrescidas às federais, 2008 era de apenas R$1.500,00vii. Estes dados, embora apresentem 27 - Abril de 2011 em si já é uma demonstração da política representam aproximadamente 87%; Reiteram-se, portanto, as indicações limites em face da concepção dos em curso. Mesmo assim, com os dados ressalte-se que estes percentuais têm se já feitas na Introdução deste texto: os modelos de avaliação utilizados, apontam disponíveis, na maioria brutos, é possível mantido relativamente estáveis nos problemas continuam os mesmos, a a necessidade de discutir que qualidade configurar uma realidade bastante últimos anosiv. década foi perdida para o Ensino Médio, se pretende para o Ensino Médio, na perversa. Senão, vejamos. Os dados referentes ao fluxo, que e as soluções possíveis passam pela perspectiva dos que vivem do trabalho. A primeira conclusão que se indicam o grau de eficácia desta etapa de materialização da concepção de Educação impõe é que as matrículas no Ensino ensino, mostram o crescimento da taxa Básica que, efetivamente, integre Ensino 3. A relação com o trabalho: a Médio sofreram crescente retração de repetência de 18,65 em 2000 para Fundamental e Médio, assegurando escolarização média aumenta as na década 2001/2010, quando 22,6% em 2005; de evasão, de 8,0% em continuidade mediante o estabelecimento possibilidades de inserção no comparadas à evolução das matrículas 2000, para 10,0% em 2005; do tempo de mecanismos de financiamento mundo do trabalho? ocorridas entre 1991 e 2001 e ao médio de conclusão de 3,7% para 3.8% compatíveis com a dimensão da movimento ocorrido no Ensino no mesmo períodov. demanda. Isto só será possível com o Analisado o caráter ideológico do Fundamental entre 2000 e 2008. Os dados elencados, mesmo estabelecimento de um novo pacto discurso acerca da ampliação de acesso Assim é que, se as matrículas no descontinuados e sem a necessária federativo que integre os esforços das três e da permanência no Ensino Médio, Ensino Médio cresceram 32,1% entre sistematização de modo a permitir análise esferas do Poder Público, de modo a torna-se necessário analisar a consistência 1996 e 2001, passando de aproxi- mais qualificada, permitem inferir que, permitir a reversão deste histórico quadro do discurso dominante relativo à madamente 5,7 milhões para 8,4 milhões, quanto à expansão do acesso, de desrespeito aos direitos dos que vivem ampliação da empregabilidade a partir da no quinquênio seguinte cresceram apenas permanência e sucesso, não houve do trabalho. Isto porque os dados, ampliação da escolarização. 5,6 %, passando a decrescer a partir de mudanças significativas no Ensino Médio, embora não permitam relações Para esta análise contribui o estudo 2007, de modo a configurar crescimento na vigência do Plano Nacional de consistentes, são suficientes para mostrar realizado por Ribeiro e Neder (2009), que negativo de -8,4% de 2000 a 2008, Educação 2000/2010. que a oferta é majoritariamente pública, analisa a desocupação entre os jovens segundo os dados do INEPi. Esta retração Pode-se afirmar, portanto, que para o urbana e para os brancos; os se acentua entre 2008 e 2009, atingindo Ensino Médio, apesar do discurso oficial indicadores de acesso, sucesso e um percentual de – 3,2, sendo que, em professar a ampliação da oferta, esta foi permanência apresentam evolução 2008, foram 8.369.389 matrículas contra uma década perdida. Evidencia-se, desta negativa, os fluxos apresentam 8.337.160 em 2009; ou seja, em apenas forma, o caráter ideológico de tal represamento e a distorção idade/ um ano, uma diferença de 32.229 proposição. A prioridade na aplicação série atinge a metade das matrículas. matrículas a menos. Verifica-se, portanto, dos recursos ocorreu no Ensino E, de quebra, pelo menos a metade que na década passada, o acesso ao Ensino Fundamental, primeira etapa da das matrículas é noturna, atendendo Médio não apenas não se ampliou, como Educação Básica, que praticamente a alunos trabalhadores. diminuiu aproximadamente 8,5%, atingiu a universalização. Embora Com relação à qualidade, os dados considerados os dados disponíveis até louvável o atingimento desta meta, é de disponíveis são os do ENEM e do 2008. Mantida esta tendência, a retração se lamentar que tenha ocorrido a partir IDEB, e, embora possam ser pode ter sido ainda maior, se considerado da retração do acesso ao Ensino Médio, discutíveis do ponto de vista da o ano seguinte. que não foi adequadamente contemplado concepção de avaliação adotada pelos Esses dados, contudo, precisam ser com os investimentos públicos. docentes e especialistas compro- desagregados para permitir uma melhor Quando são analisadas outras metidos com a qualidade da educação análise, embora se disponha apenas de dimensões, como por exemplo, a infra- para os que vivem do trabalho, dados descontinuados. Das matriculas em estrutura, as conclusões não são muito reforçam os matizes da desqua- 2008, apenas 252.661 se localizaram no diferentes; no período de 2001 a 2007, lificação da oferta e do descaso do campo, ou seja, aproximadamente 3%. passou-se de 46 para 47,4 as escolas setor público com o Ensino Médio, Dos matriculados, apenas 48% têm entre que tinham biblioteca, telefone e como já evidenciaram os dados 15 e 17 anos; esta taxa era de 45,3 em copiadora. Já com os computadores, acima analisados. 2005. A distorção idade série cresceu de houve elevação do indicador; de 78,4 Os dados do Índice de pobres e não pobres, tomando como 0,38 para 0,54 entre 2000 e 2007ii. % das escolas que tinham este Desenvolvimento da Educação Brasileira referência desvantagens relativas à Em 2006, do total dos matriculados equipamento em 2000, passou-se para – IDEB, disponibilizados pelo INEPviii, escolaridade. no ensino médio nesta faixa etária, 94,1 em 2007, porém apenas 70% delas mostram que, em 2007, no Ensino O estudo foi realizado com jovens a 58,4% eram brancos e 37,4 % eram fizeram uso pedagógico em 2007 vi . Médio, as escolas privadas alcançaram partir dos 18 anos, para os quais a negros. Registre-se, também, que não há média de 5,6, enquanto as escolas públicas inserção no mundo do trabalho prevalece Em 2007, 41,3% das matrículas foram informações sobre o número e a atingiram a média de 3,2. Em face da sobre a frequência à escola. Em 2006, feitas no turno noturno; como qualidade destes equipamentos, o que priorização da expansão e melhoria da segundo os dados da Pesquisa Nacional aproximadamente a metade dos torna o dado pouco expressivo. qualidade do Ensino Fundamental pelo de Amostra Domiciliar (PNAD), matriculados têm 18 anos e mais, elas Um dado relevante, e que explica em PNE 2000/2010, a estagnação do Ensino aproximadamente 52% dos jovens provavelmente referem-se, em sua grande parte o descompromisso do Médio também no que diz respeito à inseridos na População Economicamente expressiva maioria, a alunos que Estado, diz respeito ao custo do aluno do qualidade, era previsível. Ativa-PEA, não estudavam, percentual trabalham ou procuram trabalhoiii. Ensino Médio. Enquanto na Organização Já os dados do ENEM para o ano de que cai para 31% para os jovens de 17 Quanto ao vínculo administrativo, o para a Cooperação e Desenvolvimento 2009 mostram que os 1000 piores anos. Ou seja, o ingresso no mercado de esforço é majoritariamente público Econômico - OCDE, em 2004, este custo resultados foram obtidos por escolas trabalho se dá com a desistência do direito estadual, responsável por aproxi- equivalia a R$ 13.000,00, na Argentina públicas, sendo 97,8% estaduais. à escolarização, para muito madamente 85,8% das matriculas m e no Chile a R$ 2.000,00; no Brasil em (ENEM 2009) trabalhadores. Para fins de estudo, os
  • 4. Suplemento Pedagógico APASE 4 Abordagem jovens foram separados entre pobres e Apontam os autores algumas variáveis hipótese de que a educação geral, antes Desnuda-se, desta forma, o discurso 27 - Abril de 2011 não pobres, e em faixas etárias. Merece que podem contribuir para as maiores reservada à elite, quando disponibilizada do Banco Mundial nos anos 90, que destaque que os autores tomam a taxas de desocupação dos jovens pobres aos trabalhadores, banalizou-se e impactou significativamente a decisão categoria juventude de forma concreta, mais escolarizados: “background familiar desqualificou-se. Ou seja, o Ensino acerca da ruptura entre educação pro- admitindo a sua imensa heterogeneidade e qualidade da educação” (Ribeiro e Médio se caracteriza, a partir de meados fissional e tecnológica e educação geral, em decorrência de vários indicadores, Neder, 2009, p.505). da década de 90, pela dualidade invertida no Brasil e na América Latina (Zibas, contemplando, entre eles a precarização Em que pese a necessidade da (Kuenzer, 2010)4. 1993, Kuenzer, 1997). cultural e econômica; por isso, falam em realização de outros estudos para melhor Segundo a autora, esse modelo Do ponto de vista das políticas “juventudes”. Consideram, contudo, a compreender essas relações, entre eles a começou a ser invertido desde a metade públicas para o Ensino Médio, esta é a necessidade de estudar a relação entre comparação da taxa de desocupação dos dos anos 90, na esteira das políticas do questão crucial a ser enfrentada: a mera escolaridade e trabalho principalmente jovens pobres que concluem o Ensino Banco Mundial para os países pobres, ampliação do acesso em propostas que entre os mais fragilizados economi- Médio nas modalidades educação geral, que propunha a oferta de educação geral não atendem às necessidades de camente, posto que demandam ações educação profissional integrada ao Ensino para os jovens, que não deveriam se participação social e produtiva dos que públicas mais imediatas (Ribeiro e Neder, Médio (regular e PROEJA), e ensino profissionalizar precocemente. Assim é vivem do trabalho não é suficiente, 2009, p. 478). técnico, as conclusões apresentadas pelo que, no Brasil, o Decreto 2208/97 embora se tenha claro que esta As conclusões relativas às taxas de estudo permitem fortalecer o poder separou a educação profissional e ampliação é urgente e necessária, com desocupação são as esperadas: entre os explicativo da hipótese que tem sido tecnológica do ensino médio, inter- a qualidade possível. jovens mais pobres, a taxa de deso- levantada por Zibas (1993 e 2002) e rompendo uma trajetória histórica A busca de uma nova qualidade não cupação é maior. O que causa surpresa é Kuenzer (2006 e 2007): se a modalidade construída desde os anos 40 pelas pode justificar inércia na expansão da o que os dados revelam a partir da relação disponível para os jovens trabalhadores é Escolas Técnicas Federais, que se oferta. Há metas, contudo, que precisam entre anos de escolaridade e desocupação o Ensino Médio de educação geral, caracterizavam por ofertar educação ser priorizadas, para cuja efetivação torna- (p. 485). preferencialmente noturno, de fato passa profissional pública de qualidade e com se necessário vultoso financiamento, a ser Não obstante as taxas de escolaridade a ser essa “a escola para os filhos dos isso permitindo aos jovens o acesso ao equacionado por estratégias de cola- entre os mais pobres terem aumentado boração entre as esferas do como resposta à complexificação do Poder Público. trabalho e à elevação dos requisitos de Dentre elas, a mais im- escolaridade para acesso a emprego, portante, é a disponibilização apontando os autores como característica ampliada da oferta de edu- deste segmento na atualidade “a vivência cação profissional integrada com maior intensidade, da simul- ao ensino médio para os que taneidade de várias fases que marcam sua vivem do trabalho, como transição para a vida adulta”, (p. 493) estratégia de enfrentamento ainda prevalece a saída antecipada da dos efeitos perversos da escola, como mostram os indicadores dualidade invertida. Embora apresentados no item anterior. o Governo tenha investido Ao tratar da relação entre escolaridade significativamente nesta e desocupação, a hipótese que prevalece ampliação, as vagas ainda são é que a baixa escolaridade é um dos reduzidas. fatores que dificulta a inserção no mundo outros”, revestida antes de caráter emprego e ao ensino superior. Contudo, há ainda outro ponto a do trabalho, a par da diminuição dos certificatório do que da qualidade social Para os filhos da burguesia e pequena enfrentar, em que pese a seletividade que postos de trabalho e da disponibilidade, necessária para favorecer uma inclusão burguesia, as escolas médias de educação continua caracterizando, por diversos no mercado de trabalho, de trabalhadores menos subordinada, como já apontamos geral, ofertadas pela iniciativa privada, mecanismos, entre eles a avaliação para desempregados mais velhos e experientes. em outros estudos. Ou, quando se continuam a atender às suas demandas ingresso e a mera transposição da versão Contudo, os resultados obtidos pelo “disponibiliza” a versão média de de acesso ao ensino superior; para os tradicional do ensino técnico, que acaba estudo mostram que a taxa de desocu- educação geral para os trabalhadores, isso estratos médios e para parcela menos por gerar índices elevados de evasão e pação dos jovens mais pobres que têm se faz via oferta precarizada. precarizada da classe trabalhadora, os repetência, indicadores que se acentuam entre 11 a 14 de anos de estudos, o que Segundo as autoras, o que está cursos de educação profissional e na versão PROEJA, onde a evasão tem corresponderia ao Ensino Médio, pelo ocorrendo é a inversão da proposta dual tecnológica ofertados pelo setor público, estado próxima de 50%: a ampliação da menos incompleto, não se reduziu; ao que, até os primeiros anos da década de embora de reduzida oferta, atendem à oferta da modalidade integrada não contrário, se elevou, mostrando que o 1990 ofertava a escola média de educação necessidade de inserção no mercado de resolve de todo o problema. Há que esforço educacional deste segmento não geral para a burguesia e a escola trabalho, com o que viabilizam seu acesso construir uma proposta de ensino médio diminui suas dificuldades de obtenção de profissional para os trabalhadores. E, ao ensino superior, na busca por as- integrado que supere a mera justaposição ocupação. Assim, são os jovens pobres, dadas as condições de precarização que censão social. Para os segmentos da classe dos componentes geral e específico dos mesmo escolarizados, os que têm mais as escolas médias públicas que atendem trabalhadora mais precarizados econo- currículos, sem cair no engodo de projetos dificuldade de acesso a trabalho (Ribeiro os que vivem do trabalho têm micamente, a dualidade invertida: a com reduzida sistematização do co- e Neder, 2009, p. 505). apresentado, as autoras trabalham com a escola de educação geral desqualificada. nhecimento a negar a necessidade de 4 Kuenzer, Acacia. O Ensino Médio no Plano Nacional de Educação 2011/2020: superando a década perdida? Campinas, Cedes, Educação e Sociedade, set 2010, vol. 31, nº 112, p. 851-873.
  • 5. Suplemento Pedagógico APASE Abordagem 5 formação teórica para os trabalhadores, com vistas à competitividade, para o que necessidade do estabelecimento de de Educação 2001-2008 27 - Abril de 2011 mediante uma rigorosa articulação entre a redução dos custos da força de trabalho padrões mínimos de qualidade precisa iv Dados do IBGE/PNAD, sistematizados teoria e prática a partir da prática social contribui decisivamente. E, se for possível avançar, de modo a subsidiar a for- pelo INEP/DTDIE e dos processos de trabalho. Ou seja, há culpar a vítima pela sua própria explo- mulação de metas relativas à infraes- v Dados da Avaliação do plano Nacional que investir em um rigoroso trabalho de ração, melhor. trutura física e pedagógica; temas antigos de Educação 2001-2008 organização curricular para esta moda- Para tanto, contribui decisivamente a precisam ser retomados, tais como vi Idem lidade, o que se associa à meta de quali- oferta de Ensino Médio de educação geral construções escolares apropriadas ao vii Idem, p. ficar os docentes, mediante formação precarizado que, sem preparar efeti- Ensino Médio, considerando as carac- vii sistemaideb.inep.gov.br, consulta em inicial e continuada. vamente para o mundo do trabalho, pelo terísticas das “juventudes” que as 01/08/2010. Outra questão a considerar é que a menos reforça o desenvolvimento de frequentam; equipamentos, laboratórios, mera expansão das vagas públicas com algumas competências cognitivas básicas, bibliotecas e outros espaços culturais e Referências bibliográficas qualidade, embora absolutamente neces- acompanhado de disciplinamento ideo- desportivos precisam ser disponi- KUENZER, Acacia Z. Ensino médio e sária, pode não ser suficiente, pois os lógico, nos termos das demandas de um bilizados, pois não há como ter profissional: as políticas do estado neoliberal. trabalhadores mais precarizados econo- mercado cada vez mais polarizado e qualidade em espaços precários. São Paulo, Cortez, 1997, 104 p micamente podem não ter condições desumano. Por outro lado, há novas dimensões a KUENZER, Acacia Z. A Educação materiais efetivas para frequentar a escola Enfrentar esta relação supõe a média, ou porque trabalham (os dados construção de um Ensino Médio com contemplar, com destaque para as profissional nos anos 2000: a dimensão mostram que a evasão aumenta a partir outra qualidade para a classe traba- políticas de assistência ao estudante e subordinada das políticas de inclusão. do 18 anos), ou porque não dispõem de lhadora: não a qualidade requerida para a constituição de espaços e projetos Educação & Sociedade, Campinas, recursos suficientes ou mesmo de pelo mercado, mas a qualidade pedagógicos que atendam à diversidade vol.27, n. 96 – Especial - p. 877-910, 2007 motivação para estar em curso distante demandada pela inclusão na vida social cultural, étnica e de gênero, que assegurem KUENZER, A Z. Da dualidade assumida de sua realidade e de suas necessidades, e produtiva, em respeito aos direitos acessibilidade e que sejam inclusivas; e à dualidade negada: o discurso da ou tudo isso ao mesmo tempo. Assim, de cidadania. que ofereçam segurança. flexibilização justifica a inclusão excludente. além da oferta de vagas, e da reorga- Isto implica em muitos movimentos Finalmente, a sociedade civil precisa Educação e Sociedade, n.100, 2007. nização curricular, são necessários os a serem deflagrados pela sociedade civil exercer efetivamente controle sobre as RIBEIRO, Rosane, NEDER, Henrique. programas de assistência ao estudante, organizada. Sem a preocupação de políticas e programas públicos, exigindo Juventude(s): desocupação, pobreza e que promovam a gratuidade assistida ordená-los por ordem de importância, ampliação dos investimentos, realizando escolaridade. Nova Economia. Belo mediante bolsas de estudo, auxílio merecem destaque o investimento na diagnósticos e acompanhando a execução Horizonte, 19(31), p. 475-506, set/dez, alimentação, vale transporte, material construção coletiva de uma nova proposta das metas físico-financeiras, o que exige 2009. didático gratuito ou outras modalidades pedagógica que, contemplando a diver- mobilização e organização. ZIBAS, Dagmar M. L. A função social do de apoio que possam assegurar o acesso sidade, articule formação científica e Para concluir, não é demais ensino médio na América Latina: é sempre e a permanência. sócio-histórica à formação tecnológica, relembrar que a elaboração desta nova possível o consenso? Cadernos de Pesquisa, promovendo autonomia intelectual e ética síntese não é um problema pedagógico, São Paulo, FCC, n. 85, p. 26-32, maio, 4. A qualidade que queremos mediante o domínio teórico-metodológico mas um problema político, uma vez 1993 do conhecimento socialmente produzido que a dualidade estrutural, na versão ZIBAS, Dagmar M. L. A reforma do Em estudos anteriores, temos e acumulado, de modo a preparar os atual de dualidade invertida, tem suas Ensino Médio no Chile: vitrina para a mostrado que, no regime de acumulação jovens para atender e superar as raízes na forma de organização da América Latina? Cadernos de Pesquisa, flexível, a relação entre o mercado de revoluções na base técnica de produção sociedade, expressando as relações São Paulo, FCC, n. 115, p. 233-262, trabalho e a escola se dá mediante um com seus perversos impactos sobre a vida entre capital e trabalho; em que pesem março, 2002. processo que articula dialeticamente individual e coletiva. Seja mediante uma os avanços que possam ocorrer com a exclusão e inclusão; a exclusão includente modalidade politécnica ou profissional, ampliação da oferta e com a melhoria Documentos pelo mercado, que expulsa os traba- esta proposta deverá integrar, neces- da qualidade mediante políticas MEC. Inep. Avaliação do Plano Nacional lhadores para inseri-los em pontos mais sariamente, ciência, tecnologia, trabalho precarizados das cadeias produtivas, onde e cultura. Isto significa dizer que a públicas, é preciso compreender que de Educação – 2001/2008. 2009 sua força de trabalho seja consumida unitariedade da escola média será não é possível superar a dualidade CNE. Indicações para subsidiar a predatoriamente. Já a escola articula-se a assegurada pela garantia do acesso, da estrutural a partir da escola, senão a construção do Plano Nacional de Educação este movimento pela inclusão excludente, permanência e do sucesso em escolas de partir de transformações na própria 2011/2020, 2009. ou seja, inclui em propostas precarizadas qualidade, independentemente da origem sociedade. CONAE 2010. Construindo o Sistema que não detêm a qualidade necessária para de classe de seus alunos; a modalidade, Nacional Articulado de Educação: o Plano ampliar as possibilidades de inclusão no se integrada ou de educação geral, desde Nacional de Educação, Diretrizes e i mundo do trabalho de forma melhor que assegurada a qualidade, deve Dados da Sinopse Estatística da Educação Estratégias. qualificada. Como resultado, muitas contemplar os interesses e necessidades Básica, INEP/MEC ii vezes o certificado não é suficiente para dos seus alunos. Dados da Avaliação do Plano Nacional Sites assegurar a inclusão. Há, contudo, que ressalvar a neces- de Educação 2001-2008 www.inep.gov.br A dualidade invertida é uma das sidade tanto de ampliar a oferta da iii Dados da Avaliação do Plano Nacional sistemaideb.inep.gov.br muitas mediações pelas quais esta modalidade integrada quanto de investir dialética ocorre, uma vez que atende às maciçamente na qualidade da modalidade necessidades de exercício de trabalho de educação geral, com a finalidade de precarizado em vários pontos das cadeias reverter os efeitos perversos da dualidade produtivas, como imperativo de invertida. (*) Doutora em Educação, Professora Titular aposentada, atuando no Programa de Pós-graduação compressão do custo final dos produtos Para tanto, a discussão acerca da em Educação da Universidade Federal do Paraná, Pesquisadora 1ª do CNPq.
  • 6. Suplemento Pedagógico APASE 6 Abordagem A contextualização nas políticas curriculares 27 - Abril de 2011 nacionais para o ensino médio brasileiro Rozana Gomes de Abreu e Alice Casimiro Lopes (*) A s políticas curriculares na- cionais, nas duas últimas décadas, enfocaram concei- tos considerados importantes por diversos setores da sociedade. Con- ceitos como interdisciplinaridade, contex- estabelecidas. O novo foco e ordena- mento, segundo Bernstein, leva em con- ta as lutas e os interesses predominantes dos grupos envolvidos no processo e pode produzir novos significados. A recon- textualização deve ser entendida assumin- “contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro lugar, as- sumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto” (Bra- sil, 1999: 79), reforçando a relação entre teoria e prática. As OCNem reafirmam a oficiais colaboram para uma visão reducionista do termo, porque a contextualização parece ser algo exterior que vem, com a finalidade de atrair os alunos, dar significado aos conteúdos es- colares. As teorias relacionadas à psico- tualização, competências, cidadania e do o caráter híbrido da cultura (Ball, importância do ensino contextualizado logia da aprendizagem são muitas vezes tecnologia são centrais em todos os do- 1998), na medida em que cada contexto para a superação de um ensino exclusiva- citadas nos documentos com o intuito de cumentos curriculares oficiais desde en- não possui uma hierarquia a priori, as- mente disciplinar, reducionista e enciclo- valorizar os conhecimentos prévios dos tão. Inicialmente introduzidos pela Lei sim como as relações de poder e contro- pédico (Brasil, 2006). Os textos oficiais alunos, fazendo com que esses se tornem de Diretrizes e Bases da Educação, esses le não apresentam somente relações ver- apontam que os jovens não relacionam os participantes ativos do processo de apren- conceitos são contemplados nas Diretri- ticais, elas podem se entrecruzar. conhecimentos escolares com suas vidas dizagem. Dessa forma, a contextualização zes Curriculares Nacionais (DCNem), Nesse sentido, é preciso entender as pessoais nem com as questões sociais e apresenta-se mais como um recurso nos Parâmetros Curriculares Nacionais políticas curriculares como resultados de políticas em geral. Afirmam ainda, que o metodológico, baseados em princípios (PCNem), nas Orientações Curriculares disputas, internas e externas, às quais vi- ensino atual está descontextualizado, pois epistemológicos e psicológicos, na medi- Nacionais (OCNem), no Exame Nacio- sam a produzir e a instituir determina- os conhecimentos são transpostos do con- da em que discutem como ensinar me- nal do Ensino Médio (ENEM), configu- das identidades, utilizando para isso re- texto de sua produção original para o con- lhor os indivíduos para que estes possam rando algumas das políticas curriculares cursos humanos, materiais e simbólicos. texto escolar sem que sejam feitas pontes compreender o mundo em que vivem estabelecidas para o ensino médio no As políticas curriculares são produções entre contextos mais próximos e signifi- (Abreu, 2002; Abreu & Gomes, 2004; Brasil, no período citado. híbridas de diferentes discursos, curri- cativos para o aluno. Lopes; 2008). Tais políticas promovem a difusão de culares ou não, na tentativa de estabele- Os discursos oficiais respondem de A contextualização como princípio de sentidos, práticas e recursos que orien- cer a legitimação de determinada relação certa forma às críticas sobre a disci- organização curricular do ensino médio tam as mudanças propostas pelo campo ou finalidade social. plinaridade e a fragmentação do conheci- brasileiro pretende facilitar a aplicação e oficial. É por isso que os discursos que Compreender quais os discursos hí- mento, que tanto a academia quanto a a relação dos conhecimentos escolares na apresentam esses conceitos devem ser bridos envolvidos nesse processo de recon- sociedade fazem. Defende-se que a compreensão das experiências pessoais, analisados no sentido de entendermos as textualização pode permitir identificar as contextualização possibilitaria uma visão bem como facilitar o processo de cons- ressignificações ocorridas quando diferen- “novas” relações de poder e controle que mais integrada dos diferentes conhecimen- trução dos conhecimentos abstratos na tes sujeitos precisam se articular e esta- as reformas promovem. É preciso enten- tos e um diálogo maior entre os campos escola a partir do aproveitamento das ex- belecer um discurso, que servirá de base der quais os discursos valorizados pelos disciplinares. Entretanto, essa perspectiva periências pessoais. Baseados na concep- para outras ações políticas e promoverá documentos oficiais e como eles podem tende a desconsiderar os interesses e as ção de aprendizagem situada de David a legitimação de um determinado senti- ser reinterpretados dentro de novos con- relações de poder que os diferentes cam- Stein (Brasil, 1999), os documentos ofi- do. Não devemos menosprezar a força textos por diferentes sujeitos, bem como pos de conhecimento estabelecem na so- ciais valorizam a vivência de situações que as políticas curriculares oficiais pos- quais os seus desdobramentos sociais, ciedade quando lutam por espaço, recur- cotidianas dos alunos para a construção suem, mesmo com os diversos mecanis- políticos, culturais e educacionais. sos e legitimação (Goodson, 1997). do conhecimento, e como esse tipo de mos de resistência que a prática pedagó- Nos documentos oficiais da reforma Desconsideram também as diversas prá- aprendizagem pode ser utilizada em ou- gica desenvolve. do ensino médio, o discurso da con- ticas pedagógicas realizadas nas diferentes tras situações. Nessa perspectiva, a O discurso sobre a contextualização textualização aparece associado à ideia de escolas do nosso país, dentre as quais a contextualização valoriza os saberes pré- é interessante porque, antes mesmo da integração, considerada a principal meta contextualização é utilizada para contribuir vios dos alunos, recuperando de certa sua circulação nos documentos oficiais, a ser alcançada pelas mudanças preconi- para o desenvolvimento do conhecimento forma ideias do progressivismo de ele já era defendido pelo contexto esco- zadas. Machado, um dos elaboradores e escolar, bem como para a discussão das Dewey, que hoje aparecem lar. Podemos dizer que tal fato colabora consultores do ENEM, argumenta que “a relações sociais, políticas e econômicas de ressignificados nos documentos oficiais para que os discursos oficiais tenham uma contextualização enriquece os canais de nossa sociedade. Ressaltamos que a pers- (Lopes, 2008). aceitação melhor perante o contexto so- comunicação entre bagagem cultural, qua- pectiva oficial apresenta a contextualização A valorização dos saberes cotidianos, cial. No entanto, isso não significa afir- se sempre tácita, e as formas explícitas ou de forma neutra e técnica, uma vez que a dos saberes prévios dos alunos e das teo- mar que os sentidos que prevalecem na explicitáveis de manifestação do conheci- introdução de uma nova forma de organi- rias de aprendizagem significativa é de- definição desses documentos são os mes- mento” (Machado, 1999: 20). Dessa for- zar o currículo escolar e seus conhecimen- fendida por diversos campos disciplina- mos que se destacam no contexto escolar ma, a contextualização é entendida como tos é vista como responsável principal pe- res, que os utilizam como forma de me- ou acadêmico. meio de relacionar o conhecimento com las mudanças das relações existentes no lhorar o processo de ensino e aprendiza- A transferência ou a prevalência de a prática ou com a experiência do aluno, contexto escolar, minimizando assim o gem. Dessa maneira, não é uma surpre- determinado significado está sujeito ao permitindo a construção de significados processo político de constituição dessas sa ver tais concepções presentes nos do- que Basil Bernstein (1981, 1996) deno- para o processo de ensino e aprendizagem. relações. Qualquer forma de organizar o cumentos oficiais, já que a elaboração mina de processo de recontextualização. As DCNem chamam a atenção de que a currículo não pode ser vista como uma destes contou com a participação direta Nesse processo, diferentes discursos são contextualização deve relacionar os conhe- questão técnica, pois ela altera as relações de integrantes da comunidade de ensino retirados de seus contextos de “origem” cimentos escolares com as situações da vida de poder e controle que participam da disciplinar, com grande experiência na e são recolocados em um novo contexto, cotidiana ou da vivência para contribuir constituição do espaço escolar. pesquisa sobre o ensino disciplinar espe- no qual novas relações de poder e con- com a leitura e compreensão do mundo Pesquisadores como Gouvea e Macha- cífico, e sobre a formação inicial e conti- trole, interesses e finalidades sociais são (Brasil, 1998). De acordo com os PCNem, do (2006) sinalizam que os documentos nuada de professores. No entanto, as pers-
  • 7. Suplemento Pedagógico APASE Abordagem 7 pectivas teóricas desses pesquisadores 81). Assim, a ideia de integração defen- No caso das políticas curriculares nacio- York: Macmillan, 1981. 27 - Abril de 2011 tendem a assumir um viés mais crítico e dida passa também pela adaptação dos nais para o ensino médio no Brasil, o dis- BERNSTEIN, Basil. A estruturação do dis- relacionado à defesa de uma educação sistemas escolares às mudanças globais curso da contextualização apresenta como curso pedagógico: classe, códigos e controle. democrática, pois cada vez mais rápidas, sem que haja um pontos positivos a inserção de discursos já Petrópolis: Vozes, 1996. “não se trata de apenas inserir o questionamento ou uma reflexão maior valorizados nos contextos escolares e acadê- BRASIL, Ministério da Educação, Secreta- aluno no mundo e, para tal fazer o dessas mudanças. Ou seja, a ideia de in- micos, fazendo com que estes discursos ad- ria de Educação Média e Tecnológica – aluno compreender esse mundo. tegrar pela contextualização aparece com- quiram maior legitimação social, apesar de SEMTEC. Diretrizes Curriculares Nacionais Trata-se do entendimento de que prometida com o novo significado do tra- ressignificados. Como pontos negativos, para o Ensino Médio. Brasília: MEC/ há um projeto de mudança a ser balho no contexto da globalização e com podemos destacar a redução e a submissão SEMTEC, 1998. Acessado no endereço desenvolvido no mundo, de forma a apropriação e a utilização dos conheci- da contextualização aos princípios do mun- www.mec.gov.br em 15/01/2000 democrática, e diferentes conheci- mentos pelos indivíduos. do do trabalho, bem como a ausência de BRASIL, Ministério da Educação, Secreta- mentos precisam ser construídos Se o contexto do trabalho é conside- questionamentos com relação a este tipo de ria de Educação Média e Tecnológica – rado o mais importante, a tecnologia é discurso hegemônico. SEMTEC. Parâmetros Curriculares Nacionais para que esse projeto se desenvol- reconhecida como tema por excelência, A fim de concluir este texto, e não de para o Ensino Médio – Bases legais. Brasília: va” (Lopes et al, 2001: 4). pois permite contextualizar os conheci- finalizar nossa reflexão e análise sobre o MEC/SEMTEC, 1999. Acessado no ende- Como exemplo, podemos citar a pre- mentos de todas as áreas e disciplinas no tema, chamamos a atenção para a impor- reço www.mec.gov.br em 15/01/2000 ocupação por parte das principais lide- mundo do trabalho. Com esse viés, res- tância de superarmos a dicotomia das aná- BRASIL, Ministério da Educação, Secre- ranças da comunidade disciplinar de en- gata-se assim, pressupostos das teorias lises políticas. Se procurarmos entender taria de Educação Básica. Orientações sino de química em possibilitar construir dos eficientistas sociais nas quais a apren- quais discursos e articulações estão pre- Curriculares para o ensino médio. Brasília: uma sociedade mais justa e igualitária por dizagem está associada intimamente à sentes na constituição de determinado dis- MEC/SEB, volume 2, 135 p., 2006. intermédio de uma cidadania responsá- inserção social do indivíduo no mundo curso político, estaremos superando as aná- GOODSON, Ivor. F. A construção social do vel, desenvolvendo para isso questio- produtivo. Nessa lógica, a educação pre- lises que apresentam as políticas como re- currículo. Lisboa: Educa, 1997. namentos que contribuam para a trans- cisa apenas formar o indivíduo, enquan- sultado de um processo simples, sem arti- GOUVEA, Ligiane R. & MACHADO, formação dos modelos dominantes nos to trabalhador, de maneira que ele possa culações, e produtos de um discurso úni- Andrea H. Trilhando caminhos para compre- diversos contextos da sociedade (Santos, se inserir na estrutura social e produtiva. co. Dessa forma, conseguiremos também ender a contextualização no ensino de Quími- 2006; Maldaner, 2008). Muitos desses A contextualização pelas tecnologias pensar em outras articulações e discursos ca. XIII ENEQ. Anais do XIII ENEQ. discursos encontram consonância com os visa mobilizar as competências do indi- que promovam uma educação mais de- CDRom, Campinas, 7 pp., julho, 2006. discursos de teóricos da educação, como víduo para solucionar problemas em con- mocrática e responsável. LOPES, Alice. C. Políticas de integração Paulo Freire, que defendem uma educa- textos apropriados, fazendo com que a curricular. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2008. Referências Bibliográficas: ção libertadora e emancipatória como capacidade de resolver problemas possa LOPES, Alice C.; GOMES, Maria Marga- forma de se contrapor aos processos de ABREU, Rozana G. de. A integração rida; LIMA, Inilcéa dos Santos. (2001) Di- ser transferida para outros contextos, opressão e de desigualdade social. como o contexto de produção (Lopes, curricular na área de Ciências da Natureza, ferentes contextos na área de Ciências da Natu- Enquanto essas perspectivas visam 2008). Dessa maneira, os contextos va- Matemática e suas Tecnologias nos Parâmetros reza, Matemática e suas Tecnologias dos amplamente à relação dos alunos com o lorizados nas políticas curriculares do Curriculares para o Ensino Médio. 2002.127f. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino mundo que os cerca de forma crítica, a ensino médio são aqueles que possuem Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Edu- Médio: integração com base no mercado. Anais concepção de contextualização nos docu- potencial para aplicar e formar compe- cação, Universidade Federal do Rio de Ja- do III ENPEC (CD-Rom). Atibaia: mentos oficiais aparece associada ao tências e habilidades necessárias ao tra- neiro, Rio de Janeiro, 2002. ABRAPEC, nov., 2001. mercado de trabalho e ao mundo produ- balhador e ao cidadão que precisa acom- ABREU, Rozana G. de & GOMES, Maria MACHADO, Nilson J. Interdisciplinaridade tivo. Ou seja, os discursos defensores dos panhar as mudanças da sociedade. A M. Investigando a contextualização e as e Contextualização. In: INEP (Instituto Na- saberes cotidianos e das experiências dos contextualização pelas tecnologias e pelo tecnologias em livros didáticos de Biologia e cional de Estudos e Pesquisas Educacionais alunos perdem seu potencial crítico e trabalho nos documentos oficiais mostra Química para o Ensino Médio. VI Colóquio Anísio Teixeira). Exame Nacional do Ensino transformador quando são retirados de como os discursos sobre a formação para sobre Questões Curriculares – II Colóquio Médio (ENEM): fundamentação teórico- seus contextos disciplinares e recolocados o trabalho, a resolução de problemas e a Luso-Brasileiro. Rio de Janeiro, UERJ, metodológica. Brasília: INEP, 1999. em um contexto oficial, onde passam a valorização do conhecimento científico CDRom, p. 2000-2015, 2004. MALDANER, Otávio A. Ensinar e apren- estabelecer novas relações com o enfoque são considerados de fundamental impor- BALL, S. Cidadania global, consumo e po- der na área das Ciências da Natureza e suas voltado para a inserção social no mundo tância para a vida social. lítica educacional. In: SILVA, L.H. (Org.). Tecnologias com ênfase em processos interativos produtivo, como é o caso da valorização Nesse sentido, o discurso da contex- A escola cidadã no contexto da de significação cultural. XIV ENDIPE. Anais do trabalho e da tecnologia. tualização nas políticas curriculares naci- globalização. Petrópolis: Vozes, p. 121- do XIV ENDIPE, Porto Alegre, CDRom, Os contextos do trabalho e da cida- onais é um discurso híbrido que associa 137, 1998. 16 pp., abril, 2008. dania são apresentados como forma de o concepções e pressupostos mais instru- BERNSTEIN, Basil. On the classification and SANTOS, Wildson. L. P Letramento em Quí- . indivíduo identificar a teoria na prática mentais e metodológicos, relacionados à framing of education knowledge. In: YOUNG, mica, educação planetária e inclusão social. Quí- e vice-versa. Segundo os documentos, “o resolução de problemas e melhoria da Michael (org.). Knowledge and control. New mica Nova. Vol. 29, n° 3, p. 611-620, 2006. cotidiano e as relações estabelecidas com qualidade da educação, às concepções e o ambiente físico e social devem permi- pressupostos mais críticos voltados para tir dar significado a qualquer conteúdo uma educação emancipadora e questio- curricular, fazendo a ponte entre o que nadora. Cabe ressaltar que não é o fato se aprende na escola e o que se faz, vive e do discurso da contextualização se cons- observa no dia-a-dia” (Brasil, 1999: 82). tituir como uma produção híbrida que (*) Rozana Gomes de Abreu - Professora Doutora do Colégio de Aplicação da Universidade O contexto do trabalho é considera- isso lhe confira uma certa positividade Federal do Rio de Janeiro (CAp-UFRJ) e Pesquisadora dos Grupos de Pesquisa “Políticas de do o mais importante da experiência ou negatividade a priori. É preciso anali- currículo e cultura” e “Processos de articulação e produção de sentidos nas políticas curriculares de curricular no ensino médio uma vez que sar como os diferentes discursos se arti- formação de professores”. é “imprescindível para a compreensão culam entre si na construção de um dis- Alice Casimiro Lopes - Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Educação (PROPEd) dos fundamentos científicos-tecnológicos curso maior, no caso a contextualização, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e coordenadora do Grupo de Pesquisa “Políticas de dos processos produtivos” (Brasil, 1999: e quais as suas finalidades sociais. currículo e cultura”, www.curriculo-uerj.pro.br
  • 8. Suplemento Pedagógico APASE 8 Abordagem Implicações da Prevenção da Violência para o 27 - Abril de 2011 Currículo do Ensino Médio (*) Maria Auxiliadora Elias Introdução pectiva teórica adotada também deste violência, concebendo-a da seguinte distingue dois tipos: violência em “ato” conceito em particular. Por último, e forma: e violência em “estado”, que podem O presente artigo tem a intenção de trazer algumas contribui- ções para a discussão do preocupante tema da violência e as possíveis repercussões para o currí- culo do ensino médio. De uns tempos com base na pesquisa realizada pela au- tora intitulada Violência escolar e impli- cações para o currículo: o projeto pela vida, não à violência - tramas e traumas, serão elencados oito passos a serem conside- Há violência quando, em uma situação de interação, um ou vá- rios atores agem de maneira di- reta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ser particularmente significativos para a prevenção da violência na escola. Nas situações em que é possível a iden- tificação da origem física dos danos causados pela violência, como no caso para cá, a questão da violência vem rados na elaboração de um plano de pre- de “matar”, nos encontramos diante de ou a mais pessoas em graus vari- ocupando a pauta de discussões de va- venção da violência, como parte inte- ato de violência. Mas, também é pos- áveis, seja em sua integridade fí- riadas reuniões pedagógicas em diver- grante do Projeto Político Pedagógico da sível “deixar morrer de fome ou favore- sica, seja em sua integridade sos níveis, mas frequentemente fica re- escola que, certamente, constituem im- cer condições de subnutrição” moral, em suas posses, ou em suas sumida às constatações de simples quei- plicações para o currículo. (MICHAUD, 1989: 11). Quer dizer, participações simbólicas e cultu- xas das violências acontecidas, sejam há situações em que a violência atua, Aproximação ao conceito de rais. (MICHAUD, 1989: 11) provenientes dos alunos, dos professo- mas é muito difícil rastrear seus flu- violência No conceito de violência de res, ou dos funcionários. Estas têm xos e indícios. Assim acontece em to- Dentro da imensa literatura sobre a Michaud encontramos diversos aspec- das as variadas formas de atuação da sido, muitas vezes, deixadas de lado violência, selecionamos, do ponto de tos que ajudam a dar um significado pela educação, sem a compreensão de violência originadas em consequência vista teórico, duas referências de am- ao que queremos aqui destacar. Man- de relações sociais de dominação, de que poderiam ser tratadas no âmbito pla aceitação sobre o conceito de vio- tendo o núcleo da natureza da violên- pedagógico, por serem consideradas exclusão econômica ou de privação das lência, susceptíveis de se relacionar har- cia (“causar danos”), a definição intro- necessidades básicas do ser humano, questões estranhas ao currículo, que pa- moniosa e fecundamente com as teori- duz o aspecto do contexto (situações reciam estar além do conjunto dos con- como alimentação, saneamento, mo- as pedagógicas e curriculares. de interação) dentro do conceito de vi- radia, acesso aos serviços de saúde e teúdos e das disciplinas a serem ensi- Um conceito muito significativo, olência, o que se revela de particular nadas e aprendidas. Por esse motivo, o educação, etc. compatível com a visão da educação importância para as ações interventivas, tratamento dos problemas da violência como forma de prevenção, redução ou preventivas da violência e educativas da Violência escolar costumava ser remetido a agentes ex- superação da violência, é a definição convivência. Trata-se do reconhecimen- Mais do que uma categoria ou ternos à escola. de violência adotada pela Organização to de que a violência resulta da especificidade da violência em geral, Dentro de uma perspectiva que in- Mundial da Saúde – OMS. O Relatório interação em contextos diferentes, que é necessário ressaltar, de início, que a tegra a prevenção da violência e a edu- Mundial sobre a Violência e a Saúde ado- vai desde o contexto do indivíduo e fa- expressão “violência escolar” engloba cação da convivência, tentar-se-á, do ta como definição de violência: mília, escola, bairro, até contextos na- uma multiplicidade de fenômenos di- ponto de vista teórico, recolher algu- cionais e globais. Assume-se que as versos, que, frequentemente, se apre- O uso intencional da força físi- mas contribuições que nos ajudem a ações interventivas ou preventivas de- sentam juntos, misturados, embara- ca ou do poder, real ou em ame- compreender e conceituar algumas das vem ser realizadas atuando nesses con- lhados. A violência escolar é uma cons- aça, contra si próprio, contra faces da violência e seu tratamento no textos, como recomendam as recentes telação. outra pessoa, ou contra um gru- âmbito pedagógico. Esses conceitos pos- orientações de prevenção da violência. Vejamos, por exemplo, a definição po ou uma comunidade, que re- sibilitam estabelecer ligações e reflexos Fundamenta-se aqui a estratégia de atu- de violência escolar de Serrano e Iborra: sulte ou tenha grande possibili- diretos e, às vezes, indiretos ao traba- ação integrada da escola com outros ato- dade de resultar em lesão, mor- qualquer tipo de violência que se lho educativo no âmbito da escola, re- res da sociedade nas ações de preven- te, dano psicológico, deficiência dá em contextos escolares. Pode percutindo no currículo escolar. Espe- ção à violência. de desenvolvimento ou priva- ir dirigida para alunos, profes- ra-se que estas reflexões possam Desse conceito de Michaud pode ção”. (OMS, 2002, 5). sores ou propriedades. Esses atos explicitar algumas questões que afligem ser destacada, também, a complexida- a todos/as, suscitando nos leitores/as a Esse conceito da OMS é significa- acontecem nas instalações esco- de e interação das causas da violência: necessidade de problematizar a realida- tivo porque situa a violência desde a lares (aula, pátio, banheiros, “um ou vários autores agem de maneira de, por meio de debates e estudos para perspectiva da sua redução e dentro do etc.), nos arredores do centro direta ou indireta, maciça ou esparsa”, a busca de pistas na direção da resolu- marco de ações ou políticas públicas, escolar e nas atividades extra-es- assim como as diferentes intensidades ção de problemas que se manifestam dentre elas a educação. Nesse sentido, colares. (SERRANO, 2007: 82) da mesma (“graus variáveis”). As impli- no cotidiano escolar. aqui se defende, também, que as ativi- cações para os programas escolares de Desse conceito podemos destacar Assim sendo, serão apresentados, em dades educativas possuem alta prevenção da violência, derivadas des- vários aspectos importantes. O primei- um primeiro momento, alguns concei- potencialidade para prevenir a violên- sa realidade apontam para a conveni- ro refere-se à enorme variedade ou di- tos esclarecedores sobre a violência que cia e educar na convivência. ência de adoção de um conjunto de versidade de fenômenos que abarca a encaminham para a necessidade de um O outro conceito de violência esco- ações, propostas e atividades integra- violência escolar: “qualquer tipo de vi- trabalho educativo na linha da preven- lhido procede de Yves Michaud. Ele se das. O conceito de Michaud inclui, tam- olência”. Em seguida faremos um es- ção. Em um segundo momento, para propôs elaborar uma definição de vio- bém, a violência de tipo moral e cultu- forço para ordenar e classificar essas que possa haver a discussão articulada lência suficientemente ampla para re- ral, o que não deve ser esquecido. mil caras da violência escolar, mas an- com o currículo, será sinalizada a pers- ferir-se aos diferentes fenômenos de Em relação à ação violenta, Michaud tes continuemos anotando outra ques-