1) O documento descreve a inauguração do Parque do Ibirapuera em 1954, contada pela perspectiva de uma menina de 9 anos que esteve presente no evento.
2) Também fala sobre a primeira Bienal Internacional do Livro de São Paulo, realizada em 1970, que desafiou previsões pessimistas sobre o futuro do livro.
3) Relata um ato ecumênico realizado na Catedral da Sé em 1975, após a morte do jornalista Vladimir Herzog durante a ditadura militar, que reuniu 8 mil pessoas
2. COORDENAÇÃOEEDIÇÃO:ANACAROLINASACOMAN;PAUTAEREPORTAGEM:DANIELTRIELLI,EDISONVEIGAEJULIANARAVELLI;EDITORADEARTE:ANDREAPAHIM;EDITORES-ASSISTENTESDEARTE:ADRIANOARAUJOETHIAGOJARDIM,VivianeJorge;
EDIÇÃODEFOTOGRAFIA:EDUARDONICOLAU;FOTÓGRAFOS:DANIELTEIXEIRA,EDUARDONICOLAU,JFDIORIO,HÉLVIOROMERO,MÔNICAZARATTINI,NILTONFUKUDA,SÉRGIONEVESETIAGOQUEIROZ;TRATAMENTODEIMAGENS:CARLAREJIANE
MONFILIER;MULTIMÍDIANAWEB:JULIANARAVELLI,DANIELTRIELLIEEDGARMACIEL(TEXTO);VINICIUSSUEIRO,RENANKIKUCHEETIAGOHENRIQUE(DESIGN);ESTADÃOFAVORITOS:EDITOR-ASSISTENTE:DANIELTRIELLI;DESIGNER:AKIRAYAMAMOTO
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DACIDADE
abredepoisda
festa
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AediçãodeaniversáriodeSãoPaulocontinua
naINTERNET.OESTADOcriouumsitecomos
principaiseventosdacidadedesde1954,
datadafestado4.ºCentenárioedainauguração
doIbirapuera,asmemóriasmaisantigas
publicadasnesteespecial.
Nessalinhadotempo,
oleitorvaipoder
explorarfatosque
mudaramacidadepara
sempre,comoaabertura
daAVENIDA23DEMAIO,em
1969,acriaçãodoRODÍZIO
DEVEÍCULOS,em1995,ea
aplicaçãodaLEICIDADE
LIMPA,quetransformou
radicalmenteapaisagem
dacapital,em2007.
TambémháumQUIZpara
quemquisertestar
osconhecimentos
sobrecuriosidadesda
históriapaulistana.
Alémdisso,o
ESTADÃOFAVORITOS,
aplicativodo
ESTADOparaTABLETS
eCELULARES,lança
oespecialSP461.Ele
mostraaevolução
dacidadedécada
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1954,emMAISDECEM
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imponente Dodge verde
dotio parou nafrente de
casa. Era sempre uma
festa quando ele e a tia
chegavam. Aquele, en-
tretanto, seria um dia
diferente. A visita não fi-
cariarestritaaoalmoçofar-
toeaobompapocomafamí-
lia. Em 21 de agosto de 1954, Cecilia
Marisa Cifú, de 69 anos, entrou no
carrocom“cheirinhobomdecouro”
em direção àquela que se tornaria a
sua melhor memória da infância: a
inauguração do Parque do Ibirapue-
ra, na zona sul da capital.
“Meus tios haviam combinado
commeuspais,maseunãosabiaaon-
de iríamos. Foi surpresa chegar ao
parque.” Na época, a dona de casa
tinha 9 anos. Recorda o movimento,
as pessoas “bonitas e arrumadas” e a
gritaria. “Nunca tinha visto nada tão
amplo, tão cheio de cor.” Naquele
dia, ela recebeu aval dos pais para se
fartar de algodão-doce, pipoca e sor-
vete. Passou mal de tanto comer.
ComprojetoarquitetônicodeOs-
car Niemeyer e paisagístico de Otá-
vio Augusto Teixeira Mendes, o Ibi-
rapuera foi chamado de “o mais mo-
derno logradouro público do mun-
do”.Antesdenascer,existiaumpân-
tano na região. O plantio de árvores
– eucaliptos, principalmente – e a
drenagemdaáguatornaramoproje-
to possível.
Aprevisão era inaugurá-lona festa
dos 400 anos da cidade, em janeiro,
mas as obras atrasaram. Quando
abriu as portas, em agosto, o público
também pôde conferir a Exposição
do4.ºCentenário, comparque de di-
versões,mostrasdeEstadosbrasilei-
rosede28países,alémdeummuseu
de cera. Para Cecilia, as figuras pare-
ciam vivas, algumas tão terríveis que
“causariampesadelosemmuitagen-
te”. Após conferi-las, resolveu per-
guntar a um guarda se ainda tinha
muitacoisaparaver.Ospaiseostios
começaramagargalhar.Sóaíelaper-
cebeu:o guardatambém era decera.
Ao longo da vida, Cecilia testemu-
nhououtrosacontecimentoshistóri-
cos da cidade. Chorou com o fim do
bonde, em março de 1968 (leia mais
na página 9). Em outubro do mesmo
ano, sentiu pavor na Batalha da Ma-
riaAntonia.Elaestavaemumaótica,
no centro, quando o conflito entre
alunosdaUniversidadedeSãoPaulo
(USP) e do Mackenzie começou.
Mas de tudo o que viu e viveu, a
inauguraçãodoIbirapueraaindaocu-
pa um canto especial no coração. O
evento foi um alento para a menina
que, um ano antes, havia enfrentado
meses de choro e tristeza pela doen-
ça e morte da avó. “Foi a primeira
festa após um período triste.”
Cecilia voltou ao parque várias ve-
zes durante a juventude, depois de
casada e com o filho. “É especial.
Uma referência para o paulistano. O
tempo passou e o Ibirapuera se tor-
nou um dos ícones de São Paulo.”
Emseisdécadas,oparque recebeu
algunsdosmaisimportantesespetá-
culos e exposições da capital. Hoje,
abriga 494 espécies de plantas e 218
de animais. Até 90 mil pessoas visi-
tamolocal pordia, nosfins desema-
na e feriados. Em 2005, enfim ga-
nhou o Auditório doIbirapuera, úni-
ca obra de Niemeyer que ainda não
haviasaídodopapel./JULIANARAVELLI
m 1970, a produção edi-
torial no Brasil engati-
nhava.Naquelemomen-
to, já circulavam pelo
mundoteoriasqueanunciavam
ofimdolivro.Desafiandoprevi-
sões pessimistas, nasceu a 1.ª
Bienal Internacional do Livro
de São Paulo. Alfredo Weis-
zflog,de70anos,hojepresiden-
te da Editora Melhoramentos,
participou da feira, assim como
de todas que se seguiram.
“Na época, não havia profis-
sionalismonenhum”,diz.“Brin-
coqueaprimeiravezemquefui
paraFrankfurt(sededamaiorfei-
ra do setor no mundo), em 1969,
senteinacalçada echoreiaover
como era a produção de livros
deles e a nossa.”
Idealizada por Francisco Ma-
tarazzoSobrinho,oCiccilloMa-
tarazzo, a bienal paulistana foi
realizada pela Câmara Brasilei-
ra do Livro (CBL) entre 15 e 30
de agosto. Editoras do País e de
outras 23 nações participaram
da iniciativa, que atraiu 40 mil
visitantes. Naquela edição, o
eventorecebeuoescritorargen-
tino Jorge Luis Borges.
Minutos antes da abertura,
instalações elétricas ainda
eram concluídas, pregos eram
batidos, escadas, arrastadas, e
vassouras tentavam colocar al-
guma ordem no edifício que
também recebia a Bienal Inter-
nacional de Arte, no Parque do
Ibirapuera, na zona sul.
“Os estandes eram de madei-
ra.Sóem1984passamosateres-
tandes-padrão”, diz Weiszflog.
“Nocomeço,afeirasótinhauma
entrada e uma saída. Era o que a
gentechamavade‘caminhodera-
to’. As pessoas tinham de passar
portodososestandesatésair.”
Com o tempo, tudo mudou. A
bienalcresceueseprofissionali-
zou. Em 1996, foi para o Expo
Center Norte. Em 2002, para o
Centro de Exposições Imigran-
tes,e,em2006,paraoAnhembi.
“Hoje, as bienais são grandes
eventos.Nocomeço,eratãomo-
desto,singelo,quehojenãofaria
sucesso.” A última edição, em
2014,teve720milvisitantes./J.R.
Cecilia
Marisa
Cifú. ‘Eu
nunca tinha
visto nada
tão amplo,
tão cheio
de cor’
HÉLVIOROMERO/ESTADÃO
e
%HermesFileInfo:H-2:20150125:
H2 Especial DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO
3. VLADIMIR
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APÓSaMORTEDO
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DITADURA
jornalista,
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deescolhero
QUEBRaDO,um
ARTISTAempânico
UMviolão
oS GENERAIS
presidente
anhangabaú
tenso
emclima oo oo oo
******************************
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO
exta-feira, 31 de
outubro de
1975. Em plena
ditadura, oito
mil pessoas se
reuniramnaCa-
tedral da Sé,
centro de São
Paulo, para um
atoecumênicocomandadope-
lo então cardeal-arcebispo de
São Paulo, d. Paulo Evaristo
Arns, pelo rabino da Confede-
ração Israelita Paulista, Henry
Isaac Sobel, e pelo reverendo
Jaime Nelson Wright, pastor
presbiteriano.Umasemanade-
pois de o jornalista Vladimir
Herzog, o Vlado, ter sido mor-
tonosporõesdoExército,ace-
lebraçãoeraumdesafioaoregi-
me militar.
“Eu era estudante (do 3.º ano
deJornalismo,naEscoladeComu-
nicação e Artes da Universidade
de São Paulo), aluno do Vlado e
foca (jornalista iniciante) dele
naTVCultura”,recorda-seoho-
je consultor de comunicação
GabrielPriolli,naépocacom22
anos.“Fomosparalámorrendo
de medo, achando que, no fim,
todosseríamospresos.Erauma
tensão muito grande, apesar de
sabermosqueestávamoscalça-
dos politicamente, graças ao
apoiodocardeal,dorabinoedo
reverendo. Os religiosos foram
nosso escudo protetor.”
Priolli lembra bem do temor
quesentiaaoolharparaospré-
dios ao redor da Praça da Sé e
vê-los tomados por policiais,
munidos de câmeras e, claro,
armas.
Entãoestudantede Letrasna
FaculdadedeFilosofia,Letrase
CiênciasHumanas (FFLCH), o
hoje jornalista Dirceu Rodri-
gues também tinha 22 anos na-
quele dia e foi até a Praça da Sé
com outros quatro estudantes.
“Eu morava numa travessa
da Brigadeiro Luís Antônio.
Nos encontramos na minha re-
pública e de lá partimos”, con-
ta. “Nossa rua ficava próxima
deumdepartamentodoExérci-
to.Tinhaguardaarmadootem-
po todo.”
Rodrigueslembraque,aman-
dodoExército,otrânsitodeveí-
culosnaregiãocentralfoiinver-
tidonaqueledia,paradificultar
achegadaàPraçadaSédecarro
ou de transporte público. Ele
foiapécomosamigos.“Estáva-
mos apreensivos, com medo
mesmo,pois o clima era horro-
roso”,contaojornalista.“Lem-
bro da emoção que foi o culto.
Quandoterminou,saímosrapi-
dinho. Sabíamos apenas que
acabávamos de testemunhar
um momento bem negro da
nossa história.” / EDISON VEIGA
obre quebrar o
violão e jogá-lo
no público, Sér-
gio Ricardo disse
a um amigo:
“Não podia ter
feito outra coi-
sa”. E completou: “Que estra-
gou minha carreira, nada. Te-
nho um lastro atrás de mim. E
esse público que me vaiou?.”
A conversa foi publicada pelo
Estado, em 22 de outubro de
1967, um dia após a final do 3.º
Festival de Música Popular Bra-
sileira. Na noite anterior, em
um teatro da Avenida Brigadei-
ro Luís Antônio, na Bela Vista,
jovens mudavam o rumo da mú-
sica no País, entoavam canções
que entrariam para a história e
desafiavam a ditadura militar.
O jornalista Zuza Homem de
Mello, de 81 anos, era técnico
de som da TV Record na época,
emissora que exibia o evento.
Conta que, naquele festival, a
vaia ganhou tanta importância
quanto os aplausos. “Lembro
da luta que foi fazer com que os
cantores fossem ouvidos.”
Após a confusão com Sérgio
Ricardo, Caetano Veloso anda-
va de um lado para o outro,
preocupado com o que aconte-
ceria quando também subisse
ao palco. Nada perto, porém,
do pânico que tomou conta de
Gilberto Gil em uma das elimi-
natórias. Foi preciso buscá-lo
no hotel para que cantasse.
Segundo Zuza, as principais
canções finalistas foram a gran-
de marca do festival. “Eram qua-
tro músicas de tal nível que qual-
quer uma que vencesse não te-
ria problema. A melhor grava-
ção de Roda Viva é aquela.”
Mas a noite de 21 de outubro
de 1967 foi de Edu Lobo e Marí-
lia Medalha. Ovacionados, fize-
ram muita gente chorar com
Ponteio, a campeã do festival.
Zuza revela que esta era a sua
preferida. “Era uma música que
me tocava profundamente”,
diz. “O júri preferia músicas
com conteúdo político. Se o jú-
ri preferia, imagina o público.”
Domingo no Parque, com Gil e
Os Mutantes, ficou em segundo
lugar, seguida por Roda Viva, in-
terpretada por Chico Buarque e
o MPB-4, e Alegria, Alegria, com
Caetano e os Beat Boys.
O último festival da Record
foi exibido em 1969. Chico, Gil,
Caetano e Edu viraram ícones.
E naquele teatro da Brigadeiro
hoje fica o Teatro Renault, um
dosprincipaispalcosparamusi-
cais na cidade. / JULIANA RAVELLI
oVale do
Anhanga-
baúpare-
cia “uma
torneira
aberta” de
tanta gente que chegava para a
última e maior passeata das Di-
retas Já na capital paulista, em
17 de abril de 1984. No meio da
multidão, o físico e ativista cul-
tural José Luiz Goldfarb, hoje
com57anoseprofessordeHis-
tóriadaCiência naPUC-SP,via
comprazeromovimentohistó-
rico do qual participava. “Era
muitolindo.Agenteque estava
nomovimento,erajovem,acre-
ditava que ia ganhar”, lembra.
“Sótinhavistoumacenadaque-
la,doValedoAnhangabaúlota-
dodaquelejeito,em1970,quan-
do a seleção tricampeã chegou
do México.”
Goldfarb, que sete anos de-
poissetornariacuradordoPrê-
mioJabuti,eraumativomilitan-
te a favor da aprovação da Pro-
posta de Emenda Constitucio-
nalDante de Oliveira na Câma-
ra dos Deputados, que coloca-
ria um fim efetivo na ditadura,
ao exigir o fim do voto indireto
para presidente. Esteve no mo-
vimento em São Paulo desde o
primeiro protesto, que juntou
15 milpessoas na Praça Charles
Miller, em novembro de 1983.
“Aindaerapequeno,masjásen-
sibilizou.”
Háexatos31anos,tambémno
aniversário de São Paulo, cerca
de 500 mil pessoas se reuniram
na Praça da Sé para o primeiro
grande comício das Diretas na
cidade. Goldfarb, claro, estava
lá. “Foi uma loucura, estava su-
perespremido.Efoiummomen-
to legal, porque juntou muitos
artistas e políticos, como Ulys-
ses Guimarães e Lula.”
O maior comício, no
entanto, seria o do
Anhangabaú,quereu-
niu 1,5 milhão de pes-
soas. E poderia não ter
acontecido. “Houve uma cer-
ta vacilação, um certo receio se
valeria a pena provocar o regi-
me mais uma vez”, conta Gold-
farb.Mas,nomeiodessaindefi-
nição, ele se viu em uma posi-
ção privilegiada para conseguir
uma informação que poucos ti-
nham. Na época, Goldfarb tra-
balhavaemumlivrocomdepoi-
mentosdepessoasqueconvive-
ram com o físico Mário Schen-
berg(1914-1990).“Umadaspes-
soas que queria entrevistar era
um senador chamado Fernan-
doHenriqueCardoso”,lembra.
Ele foi até a casa de FHC em
Ibiúna,nointeriorpaulista,con-
seguiu a entrevista e um pouco
mais. “Tive de interromper 500
vezesaconversaporquetodaho-
ratelefonavaJorgedaCunhaLi-
ma (então secretário de Cultura e
representante do governador
Franco Montoro no Comitê Pró-
Diretas) para falar com o FHC
sobreanecessidadedosegundo
comício.Foiengraçado,porque
ele pedia para eu desligar o gra-
vadortodavezqueprecisavadis-
cutir com o Jorge. No fim, saí
feliz,porquepercebiqueiater.”
Depois do 17 de abril históri-
co, era hora de acompanhar a
votaçãodaemenda,nodia25do
mesmomês.Foram298votosa
favor, mas a proposta não che-
gouaosdoisterçosnecessários.
GoldfarbviuoresultadodoIbi-
rapuera, onde uma multidão
acompanhava a votação. “Aca-
bou ali aquele movimento, mas
foi muito importante para o
País.Nãotinhamaisvolta.”Cin-
co anos depois, após a eleição e
morte de Tancredo Neves e o
mandatodeJoséSarney,osbra-
sileirosfinalmentevotariampa-
ra presidente.
Hoje, o Anhangabaú ainda é
palco dahistória de São Paulo e
do País. Lá ocorrem manifesta-
ções, como os atos contra o au-
mentoda tarifa de ônibus orga-
nizados pelo Movimento Passe
Livre (MPL). E também é um
local de festas: hoje mesmo vai
passarporaliaPedaladadeAni-
versáriodeSãoPaulo,promovi-
dapelaPrefeitura,apartirdas8
horas. / DANIEL TRIELLI
Dirceu
Rodrigues.
‘Estávamos
apreensivos,
com medo’
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H6 Especial DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO
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OPRIMEIROJOGODA
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NOVINHOEMFOLHA.
DEIXASAUDADE
SELEÇÃONO ESTÁDIO
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n
n
o início dos anos
1990,aaidsassom-
brava o mundo. A
ParadaGaydemo-
raria alguns anos
até ganhar as ruas
da capital. E, ape-
sar das conquis-
tas desde 1960, a
mulher brasileira
ainda lutava para se desvenci-
lhar da visão tradicional de seu
papel na sociedade. Quando
chegou para seu primeiro show
no Brasil, em 1993, a já supers-
tar Madonna era uma das pou-
casquecolocavamodedonafe-
rida. Falava sobre sexo, aids e
homofobia nas apresentações.
Foiassim,comaudácia,quea
turnê The Girlie Show tomou o
Estádio do Morumbi, na zona
sul, em 3 de novembro. Rachel
Perez,de42anos,tinha20quan-
dofoiassistir à cantora, da qual
era fã desde 1984. “Era uma
quarta-feira.Chegueidemadru-
gada, às4 horas. Fiqueio dia in-
teironafila.Nemfuitrabalhar.”
Semanas antes de Madonna,
nos dias 15 e 17 de outubro, o
Morumbi recebeu outro supe-
rastro. Michael Jackson apre-
sentou ali a turnê Dangerous
World Tour para 200 mil pes-
soas.Foisuasegundapassagem
peloPaís;aprimeirahaviaacon-
tecidoem1974,comoJackson5.
Aexpectativa paraaapresen-
tação de Madonna era grande.
Naquela época, os shows eram
umaincógnita.Seminternetpa-
ra pesquisar, era preciso vascu-
lhar jornais e revistas – muitas
eve atraso de até
quatro horas. Cho-
veutantoqueacon-
centração ficou
inundada. As arqui-
bancadasde alvena-
ria não puderam ser construí-
das, e o jeito foi montar as de
madeira.Ailuminaçãotambém
nãoestavapronta.Masossuces-
sivos problemas não importa-
vam,afinal,acasaeranova,per-
manente. Em fevereiro de 1991,
ocarnavalpaulistanofinalmen-
teganhouasuapassareladefini-
tiva, o Polo Cultural e Esporti-
voGrandeOtelo,maisconheci-
do como Sambódromo do
Anhembi, na zona norte.
O analista contábil Luiz Car-
los da Silva, de 54 anos, estava
lá. Desfilou em uma ala da Ro-
sas de Ouro, campeã naquele
ano, ao lado da Camisa Verde e
Branco. “A gente já imaginava
que seria maravilhoso, como a
Sapucaí,noRio.Foiumchoque.
Osambódromoeramuitogran-
de, bonito e cheio de TV.”
Integrante da Rosas desde
1979,Silvaestavahabituadoaos
desfilesna Avenida Tiradentes,
tambémnazonanorte.“Naque-
la época, era mais folia. A gente
passavamandandobeijinhopa-
ra as arquibancadas. Não paga-
va (entrada). O povão mesmo
era quem desfilava e, depois,
voltava para ver o resto.”
Com projeto inicial de Oscar
Niemeyer – que também havia
criado a Marquês de Sapucaí,
no Rio –, o Anhembi era o que
faltava para a profissionaliza-
ção do carnaval paulistano, se-
gundodirigentesdafolianaépo-
ca. “As mudanças foram com o
decorrerdotempo.Hoje,temo
desfile técnico. Naquela época
nãotinhaisso.Agenteensaiava
naquadra,narua.Agora,émui-
taregraparaseguir.Éumnegó-
cio bem profissional.”
Em1991,aRosas levouo títu-
locomoenredosobreasmulhe-
res.“Agentefezumafestadana-
da”,dizSilva,quehá 21anosto-
ca surdo de primeira na bateria
daagremiação.Em1992,aesco-
la foi bicampeã com samba em
homenagem a São Paulo.
No primeiro carnaval, as ar-
quibancadastinhamespaçopa-
ra25milpessoas.Hoje,acapaci-
dade total é de 29.199, contan-
docamarotes, mesas e cadeiras
depista.Com530metrosdeex-
tensãoe14delargura,apassare-
la do Anhembi não é só o palco
das escolas. Recebe shows, fei-
ras e até mesmo eventos auto-
mobilísticos, como a Fórmula
Indy, realizada no local entre
2010 e 2013. / JULIANA RAVELLI
aquele já histórico 12
dejunhode2014,pou-
cos conheciam tão
bem a Arena Corin-
thians,popularmentechamada
de Itaquerão, quanto Severino
Santos da Silva, o Barba, per-
nambucanode44anos,corintia-
no desde criança, morador de
São Miguel Paulista, extremo
leste paulistano.
EraaesperadaaberturadaCo-
padoMundoe,emcampo,ase-
leçãobrasileirainauguravaotor-
neio enfrentando o time da
Croácia.Namodernaarquiban-
cada,entreos62.103torcedores
estavaBarba–umdoscercade2
mil operários que construíram
o estádio do Corinthians. “Tra-
balheiaquidesdeoprimeirodia
das obras, em 2011”, conta ele,
que ganhou o ingresso para ver
ojogo,assimcomotodososope-
rários das arenas – as partidas
foram sorteadas entre eles.
“Eu nunca tinha visto um jo-
godoBrasilemumestádio.Cho-
rei muito quando a bola come-
çouarolar”,admite.“Veracasa
cheia deu um gostinho especial
paramim.Afinal,euvioestádio
nascer,agramaserplantada,tu-
do ser construído.” Antes, Bar-
basó tinhaidoaoPacaembu– e
em jogos do seu Corinthians.
“A primeira vez que pisei lá eu
tinha 12 anos e fui com minha
mãe, Maria Virgínia, também
corintiana,edoisdosmeusoito
irmãos”, lembra.
Tirando a parte futebolística
– porque ninguém aqui quer fi-
carlembrandodaquelesfamige-
rados7a1–,oMundialnoBrasil
foi um sucesso, muito superior
às previsões pessimistas do ti-
po“imaginanaCopa”quecircu-
lavamantes de o torneio come-
çar.ESãoPaulo,depatinhofeio
entreascidades-sedeacabouse
revelandoumbadaladodestino
turístico.
A Vila Madalena, tradicional
bairroboêmiodazonaoeste,se
tornou ponto de encontro de
torcedores brasileiroseestran-
geirosacadajogo–e,principal-
mente, após as partidas. Pare-
ciaumcarnavalnomeiodoano.
Carros nem sequer conse-
guiamtransitarpelasprincipais
ruas da região, e as festas inva-
diam a madrugada. O pico de
gente no bairro foi no dia 4 de
julho,quando70milpessoasas-
sistiramdeláàpartidadasquar-
tasdefinalentreBrasileColôm-
bia.Nocentro,oValedoAnhan-
gabaú também lotou todos os
dias, com o palco oficial da Fifa
– a chamada Fan Fest.
Deacordocombalançodivul-
gado pela São Paulo Turismo
(SPTuris),495.859turistaspas-
saram pela capital durante os
30dias do evento futebolístico.
Dessetotal,299.322erambrasi-
leiros e 196.547, estrangeiros –
umterçooriundodaArgentina.
Obrasileirogastouemmédia
R$ 2,2 mil, enquanto o estran-
geiro desembolsou R$ 4,8 mil.
APrefeitura estima ter gastado
de R$ 30 milhões a R$ 40 mi-
lhõescomoperaçõesrelaciona-
dasao evento– sem considerar
osinvestimentoseminfraestru-
tura. Ao mesmo tempo, a arre-
cadação foi de R$ 1 bilhão, de
acordo com a administração
municipal. / EDISON VEIGA
Luiz Carlos
da Silva.
‘Foi um
choque’
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H10 Especial DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 O ESTADO DE S. PAULO
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oengenheiro e indus-
trial Herminio Marsi-
cano era um desses sujeitos vi-
sionários,queenxergamofutu-
ro nas obras do presente. Pelo
menos é assim que dele se lem-
brasuanetaMariaTerezaRodri-
gues, hoje advogada e diretora
de Relações Institucionais de
uma empresa energética.
“MinhafamíliamoravanoJar-
dimEuropae,quandoelesoube
que estavam para construir um
shoppingcenteraliperto,come-
çouadiscursarparatodos:aqui-
loiriamudarobairro,ocompor-
tamento do paulistano, seria
um marco”, diz.
Marsicano decidiu investir
no empreendimento. Com-
proudezcotase,nodiadainau-
guração,em28denovembrode
1966, convidou Maria Tereza,
entãocom13anos,paraafesta–
que teve show de Chico Buar-
que, Nara Leão, Eliana Pittman
e Chico Anysio, para mais de 5
milpessoas.“Todasaslojaschi-
quesda(Rua)Augustasemuda-
ram para o shopping.”
OavôdeMariaTerezamorre-
ria dois anos depois. Não veria
SãoPaulosetransformarnater-
ra dos shoppings – hoje são
maisde50espalhadospelacida-
de. As cotas da família foram
vendidas em seguida. “Mas o
Iguatemi segue sendo o ‘nosso
shopping’”, diz ela.
Antes dele, a cidade experi-
mentouoconceitomultifuncio-
naldoConjuntoNacional,aber-
to na Avenida Paulista em 1956.
O arquiteto David Libeskind
(1928-2014) projetou o prédio
de modo que o térreo fosse in-
terligado com o espaço público
externo. / E.V.
importadas–paraobteralguma
informação.“Sabíamossóarou-
pa principal que ela iria usar,
que estava de cabelo curtinho e
os adereços de Vogue.”
Àtarde,quandoRacheljáesta-
va no estádio, uma surpresa.
“Entrou no palco uma mulher
encapuzada,pequena,dandoor-
dem para todo lado. Na hora,
coloquei o binóculo e vi aquela
mulher maravilhosa. Chorei do
começoaofim”,dizRachel,que
hoje integra o fã-clube e portal
brasileiro Estilo Madonna.
O show começou às 21 horas;
86milpessoasviram,eufóricas,
a apresentação que evocava os
cabarés eos anos 1970.Madon-
na falou palavrões em portu-
guês, cantou Garota de Ipanema
em inglês e dedicou In This Life
para dois amigos que haviam
morrido de aids.
Paty Prudente, de 42 anos,
saiusozinhadeMaceióparaver
a estrela. “Cheguei um dia an-
tes.Meutiomelevouaoestádio
e esperou até do fim do lado de
fora.” Para Paty, que coordena
ofã-clubeMinsane,entreosmo-
mentosmaismarcantes estão a
música Everybody, a última da
apresentação,eahoraemquea
cantora levantou sobre os om-
bros a camisa da seleção brasi-
leira. “Chorei muito.”
Além de Madonna e Michael,
Queen, Kiss e Menudos já ha-
viam passado pelo Morumbi. E
a vocação para grandes shows
continua.Oúltimoaseapresen-
tar no estádio foi o Foo Figh-
ters, na sexta-feira. / J.R.
FOTOS: HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO
oramapenas500partici-
pantes, conforme algu-
mas estimativas. Ou 2
mil, de acordo com ou-
tras. Apesar dos núme-
rosmodestos,aprimeira
edição da Parada Gay de São
Paulo foi um marco. “Ocupa-
mos as ruas durante o dia e nos
tornamos visíveis”, recorda-se
o ativista Roberto de Jesus,
mais conhecido como Beto de
Jesus,hojecom52anos,umdos
organizadores daquele evento.
“Nofinal,euchoravamuito.De
felicidade.”
A marcha que nos anos se-
guintes ocuparia a Avenida
Paulista – com término naPra-
ça Roosevelt – teve, em 1997,
um trajeto do Estádio do Pa-
caembuatéaBarraFunda.For-
mado em Filosofia e Teologia,
Beto acumulara experiência
no movimento operário da zo-
nalestenosanos1980e,naépo-
ca, coordenava um programa
social para crianças na então
SecretariadoMenordoEstado
de São Paulo.
“A Parada foi organizada por
sete grupos de ativistas gays e
dois núcleos de partidos políti-
cos, um do PT (Partido dos Tra-
balhadores), outro do PSTU
(PartidoSocialistadosTrabalha-
dores Unificado)”, lembra Beto,
atualmenteconsultornasáreas
de HIV, diversidade e combate
àhomofobianoambientedetra-
balho, além de ocupar o posto
desecretárioparaAméricaLati-
naeCaribedaAssociaçãoInter-
nacionaldeGayseLésbicas(IL-
GA, na sigla em inglês).
“Foi mambembe, mas comu-
nitário.Demoramosseismeses
para organizar tudo, em diver-
sasreuniões,nasquaispintáva-
mos os convites à mão, um a
um”, conta. “No diada marcha,
nossocarrode somera umave-
lha Kombi, com um microfone
que tinha apenas 2 metros de
fio.Masaspessoasestavamfeli-
zes e, no fundo, era isso o que
mais importava.”
Dissidente do grupo que
atualmenteorganizaoevento–
agorachamadodeParadadoOr-
gulhoLGBT–,Betodedicou-se,
apartirde2002,acriarmarchas
semelhantes em outros locais
do País. “Mas nunca deixei de
estarpresentenaParadadeSão
Paulo. Embora discorde do
atualformato,vouatodasasedi-
ções. Não mais pela festa, mas
por dever cívico.”
De1997paracá,aParadacres-
ceu.Osnúmerossãodiscrepan-
tes, mas considerando as esti-
mativasdaorganização,orecor-
de teria sido em 2012, com 4,5
milhões de participantes. / E.V.
Rachel
Perez.
‘Chorei do
começo ao
fim’
Beto de
Jesus. ‘As
pessoas
estavam
felizes’
APEOESPparabenizaSãoPaulopelosseus461anos!Nós, professores, sabemos que a educação é o passaporte para o futuro.
Sabemos também que uma nação constrói seu futuro cotidianamente. Edu-
cação pública, gratuita, de qualidade para todos os paulistanos é, portanto,
fundamental para que a capital do nosso estado seja cada vez mais justa e
ofereça mais qualidade de vida à sua população.
Para tanto, Estado e Município precisam valorizar seus professores. Esta-
mos em luta por essa valorização. Entre todas as categorias profissionais com
formação de nível superior, temos os menores salários. Para alcançarmos a
equiparação com as demais categorias, como prevê a meta 17 do Plano Nacio-
nal de Educação, os professores estaduais precisam de 75,33% de aumento.
Mas a previsão do Governo Estadual é zero de reajuste.
Não vamos aceitar. Se não houver
negociação, as escolas estaduais vão parar!
Maria Izabel Azevedo Noronha
Presidenta da APEOESP
Informe Publicitário
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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 Especial H11