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Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen




                                           Ano 34 • n• 301
                                           FEVEREIRO 2O12




  URGENTE!
RECICLAGEM
A PASSEIO




                                                                                                                                                 GENTE
                                         CAPA




    3 Recado                                             20 RH                                          36 Freio Solto
    A mensagem do conselho editorial                     A reflexão do psicólogo, especialista em       A opinião, a crítica e a ironia do
                                                         relações corporativas, Armando Siqueira        jornalista Joel Leite.
                                                         Neto.
    5 Cartas
    O que dizem sobre Showroom.                                                                         38 Fala Sério!
                                                         24 Capa                                        O novo tom da crônica de Maria Regina
                                                         O Programa de Renovação da Frota é um          Cyrino Corrêa.
    6 Quem Passou por Aqui                               assunto que esteve na pauta diversas
    Amigos e personalidades que visitaram a
                                                         vezes. No fim da década de 1990 as
    Assobrav e as empresas do Grupo Disal.
                                                         montadoras defendiam a inspeção                39 Quando a Bola
                                                         veicular ambiental técnica e a reciclagem.     Rola...
    8 Gente                                              O objetivo era aumentar a venda de             O comentário de Marcelo Allendes sobre
    O empresário Carlos Rodolfo Schneider, vice-         veículos 0 km já que o mercado interno         o que acontece nos gramados, quadras,
    presidente da Ciser Parafusos e Porcas, membro       registrava quedas acentuadas. Hoje, com o      piscinas...e em outros espaços também.
    do Conselho Superior de Economia da Fiesp e um       mercado aquecido, o objetivo mudou, mas
    dos líderes do M B E - Movimento Brasil Eficiente,   a necessidade é a mesma: a renovação da
    fala, entre outros assuntos, sobre o processo de     frota e a reciclagem permitirão tirar das      40 Novidades
    “desindustrialização” do Brasil.                     ruas veículos velhos que causam milhões        O que há de novo em eletrônicos,
                                                         de problemas, como engarrafamentos,            periféricos de informática e outras
                                                         acidentes e muita, muita poluição. A           utilidades.
    13 TechMania                                         ideia é aplaudida por todos, mas difícil de
    Os testes em laboratórios e em pistas de             por em prática. Por quê? Ninguém quer
    provas da indústria automobilística, segundo o       abrir mão dos próprios interesses. Uma
                                                                                                        41 Livros & Afins
    jornalista Fernando Calmon.                                                                         Nossas dicas para a sua biblioteca,
                                                         cantilena que se repete no Brasil...           cedeteca, devedeteca e pinacoteca.

    14 Comportamento                                     28 A Passeio                                   42 Vinhos & Videiras
    “A doença do muito” começa a cair de moda            Camboja, um país muito antigo, com
    até nos Estados Unidos, meca do consumo.                                                            A opinião abalizada de Arthur Azevedo,
                                                         população muito jovem, que vive, em sua        diretor executivo da ABS – Associação
    Filósofos, escritores, economistas e gurus           maioria, no campo, em pequenas vilas.
    comportamentais, todos entendem que a época                                                         Brasileira de Sommeliers – SP e editor
                                                         No coração da Península da Indochina           da revista WineStyle e do site www.
    do excesso já passou. Vivemos o momento              no Sudeste Asiático, o clima de monções
    de assumir um estilo de vida mais “franco,                                                          artwine.com.br
                                                         tropicais faz as temperaturas oscilarem
          sincero e liberto”, porque consumir            entre 10ºC e 38ºC. O Camboja tem um
             desenfreadamente é uma válvula de
               escape para não olhar para dentro de si
                                                         rico patrimônio cultural que atravessou        42 Mesa Posta
                                                         milênios e a cada dia atrai mais e mais        Receitas, segredos e informações sobre
                mesmo.                                   turistas do mundo inteiro. Confira.            a história da gastronomia com o chef

4                                                                                                       Gustavo Corrêa.
Fotos: divulgação




Carlos Rodolfo
Schneider
    “A desindustrialização é   Por Thais Martins
    uma realidade”
8
atente para esses riscos, de maneira
                                                                                   a se compatibilizar as questões
                                                                                   estruturais com a ampliação no
                                       Revista Showroom: Recentemente o            número de veículos em circulação.
                                       presidente da Mercedes-Benz, Dieter
                                       Zetsche, fez um comentário sobre            Apesar de 2011 não ter sido um




U
                                       o paradoxo que percebe na China:            ano positivo para a indústria
                                       o maior país comunista do mundo             nacional, que sofreu com fatores
                                       produz muitos carros de luxo,               como o câmbio desfavorável, a
                                       voltados a consumidores abastados.          forte concorrência dos importados
                                       Segundo ele, a China “salvou o              e a crise internacional, na visão do
                                       capitalismo”. Como o Sr. avalia o           economista Paul Singer, falar em
                                       impacto desta realidade do mercado          desindustrialização no Brasil, apesar
        m dos líderes do               automobilístico para a economia             de ser uma possibilidade, “ainda é
Movimento Brasil Eficiente             global?                                     exagero e não parece provável”. O
(MBE), que há dois anos propaga                                                    Sr. concorda? Existe ou não o risco
a urgência de ampla reforma            Carlos Rodolfo Schneider: De fato, a        concreto de desindustrialização?
fiscal como condição para que          China representa um peso enorme             Sem dúvida que existe, e não há
o País reencontre o caminho            na conjuntura internacional – e está        exagero algum nessa afirmação.
do crescimento econômico               puxando a economia. Diria até que se        Objetivamente, já estamos em franco
“sustentável, consistente, constante   a China não viesse crescendo tanto, o       processo de desindustrialização. Um
e acelerado”, o empresário Carlos      mundo estaria em recessão há muito          exemplo: tomando por base a balança
Rodolfo Schneider, vice-presidente     tempo. As montadoras são apenas             comercial de produtos manufaturados,
da Ciser Parafusos e Porcas, maior     um exemplo disso. Trata-se do maior         em 2006 – portanto, há cinco anos –,
fabricante de fixadores da América     mercado mundial de automóveis. A            tivemos o último superávit, na ordem
Latina e fornecedora do setor          classe média chinesa é formada por          de US$ 15 bilhões. Logo no ano
automotivo em sociedade com o          nada menos que 300 milhões de               seguinte, esse número se transformou
grupo holandês Nedschroef, emite       pessoas, e a classe alta é significativa.   em déficit, que foi crescendo e, em
um sinal de alerta: se não fizermos    Agora, falando da realidade brasileira      2010, chegou a US$ 70 bilhões. Uma
a lição de casa, o parque industrial   nesse segmento, nosso país vem              observação preocupante é que o
brasileiro correrá sérios riscos.      ganhando relevância global devido,          déficit é maior quanto mais intensiva
Em entrevista à Revista Showroom,      em grande parte, ao incremento do           em tecnologia for a categoria de
Schneider, que também faz              mercado interno. Já no campo das            produtos. Ainda somos altamente
parte do Conselho Superior de          exportações, seguimos perdendo              competitivos em commodities.
Economia da Federação das              competitividade. É o mercado interno        Poderíamos manter a competitividade
Indústrias do Estado de São Paulo      que tem permitido a expansão da             desse grande parque industrial que
(Fiesp), reúne argumentos e            nossa indústria automobilística. E          foi montado se fizéssemos a lição de
estatísticas para afirmar que, sim,    isso causa efeitos positivos em toda        casa – buscando a redução do Custo
o Brasil já se encontra “em franco     a economia simplesmente porque a            Brasil, a simplificação da estrutura e
processo de desindustrialização”.      cadeia produtiva do setor é bastante        a redução da carga tributária, entre
Também reflete sobre o enorme          extensa, envolvendo um enorme leque         outros fatores que contribuiriam para
crescimento da economia chinesa        de fornecedores dos mais variados           que o dólar alcançasse um ponto de
– “não fosse por isso, o mundo         setores.                                    equilíbrio mais adequado. A indústria
estaria em recessão há muito                                                       vem perdendo peso significativo na
mais tempo” – e adverte para a         Qual seria, então, o maior problema?        produção do País, em uma curva cada
necessidade de se encontrar uma        A preocupação é que o aumento da            vez mais acentuada. E, em muitos
luz na atual crise da zona do euro:    frota de automóveis não vem sendo           setores, produzir no Brasil está 36%
“Os países em desequilíbrio fiscal     acompanhado pelo crescimento                mais caro do que nos Estados Unidos
querem que os mais austeros, e         da infraestrutura do País, o que            e na Alemanha (como atesta
que cumpriram seu papel, paguem        tende a agravar os sérios problemas         estudo da Abimaq), para não
a conta. Quanto mais tarde vier        de mobilidade que enfrentamos,              falar no caso da China. Se
uma solução, mais cara ficará essa     principalmente, nas áreas urbanas. É        não se fizer alguma coisa
conta”.                                fundamental que o governo federal           para frear esse processo,
                                                                                                                  SHOWROOM




                                                                                                                             9
com centrais sindicais e diversos
                                                                                     intelectuais.
                                                                                     Também nos apoiam os
                                                                                     economistas Paulo Rabello
                                                                                     de Castro, que faz parte da
                                                                                     coordenação nacional, Raul
                                                                                     Velloso, Roberto Teixeira da Costa e
                                                                                     Yoshiaki Nakano, que foi secretário
                                             de baixa para assegurar um melhor       da Fazenda no governo paulista
                                             crescimento futuro.                     de Mário Covas e na época fez,
                                                                                     com sucesso, uma mini-reforma
                                             A crise da dívida soberana na           tributária. Integram o nosso núcleo
     o Brasil estará colocando em risco
                                             zona do euro está contida ou
     o fantástico parque industrial que                                              estratégico nomes como Antônio
                                             ainda há riscos de que o mundo
     levou anos para construir.                                                      Delfim Netto, Gustavo Loyola
                                             mergulhe em uma nova recessão?
                                                                                     e Paulo Francini. Também nos
                                             Nada está resolvido, só estará na
     O Banco Mundial divulgou                                                        apoiam os juristas Ives Gandra da
                                             hora em que todo mundo sentar e
     recentemente suas previsões                                                     Silva Martins e Gastão Toledo, o
     para a economia mundial nos             assinar um acordo. Os países em
                                                                                     ex-senador Jorge Bornhausen, o
     próximos dois anos. As notícias         desequilíbrio fiscal querem que os
                                                                                     ex-governador gaúcho Germano
     não são boas. Em meados do              mais austeros, e que cumpriram
                                                                                     Rigotto, ao lado de grandes veículos
     ano passado, a entidade havia           seu papel, paguem a conta. Quanto
                                                                                     de comunicação de todo o Brasil.
     estimado crescimento de 3,6% em         mais tarde vier uma solução, mais
     2012 e 2013, mas agora rebaixou a       cara ficará essa conta. Os governos     Como surgiram e evoluíram os
     previsão para 2,5% neste ano e 3,1%     precisarão chegar a um meio             pleitos do MBE?	
     no próximo. Em sua análise, como        termo que não vai agradar, mas
     fica a economia mundial e como a                                                Formulamos uma proposta
                                             também não poderá desagradar            consistente, que partiu de um
     economia brasileira será (ou não)       demais a todos. Não existe solução
     afetada?                                                                        diagnóstico da realidade fiscal
                                             possível sem algum sacrifício. O        brasileira elaborado, há dois anos,
     Ninguém sabe exatamente como vai
                                             grau de sacrifício é que terá que ser   pelos economistas Raul Velloso e
     ficar a Europa. Tudo isso depende
                                             negociado. 	                            Paulo Rabello de Castro, o qual
     muito do que ocorrer por lá, que
     naturalmente deverá contaminar                                                  publicamos em livro. Esse estudo
                                             O Sr. é um dos líderes do
     o restante. Haverá um período de                                                já serviu de base para decisões
                                             Movimento Brasil Eficiente (MBE),
     crescimento contido. A solução na       que se propõe a sensibilizar a          tomadas por vários governos,
     Europa requer uma ação rigorosa,        população e os governos para            inclusive o federal. Nossas
     tamanha a indisciplina fiscal que       a emergência de se reduzir a            propostas têm sido amadurecidas,
     havia: o euro representou um            carga tributária sobre o setor          aperfeiçoadas. Estamos plantando
     “cobertor” para países com menor        produtivo, além de simplificar e        e, aos poucos, colhendo os
     rigor fiscal, e alguém terá que pagar   racionalizar a estrutura tributária     resultados.
     essa conta, não existe almoço grátis.   brasileira, melhorando a gestão
     Entre outras consequências, isso        dos recursos públicos. Que apoios       O MBE chegou a formular projetos
                                             o MBE conquistou desde que foi          de lei com suas proposições de
     retraiu o comércio internacional
                                             constituído?	                           reformas... 	
     e, sim, o Brasil está sendo afetado,
                                             Mais de 100 entidades empresariais      Sim, temos chamado de “projetos
     por exemplo, com uma pressão da
                                             e não empresariais já aderiram          de lei do Brasil Eficiente”. Um
     parte de outros países sobre nosso
                                             ao movimento. Contamos,                 deles propõe a simplificação
     mercado interno, com suas sobras de
                                             por exemplo, com o apoio dos            e modernização da estrutura
     produção. Não existe mais recessão
                                             conselhos federais de Medicina,         tributária. O outro defende a
     importante que deixe algum país
                                             da OAB, dos Economistas, dos            regulamentação do artigo 67 da
     imune. Em que medida nós seremos
                                             Contabilistas, federações da            Lei de Responsabilidade Fiscal,
     impactados, vai depender do que
                                             indústria, do comércio, associações     que institui um Conselho de
     fizermos aqui. Se contivermos o gasto
                                             de diversos tipos, com registro         Gestão Fiscal no País. A exemplo
     público corrente, redirecionando
                                             especial aqui à Fenabrave, que          do Conselho Monetário Nacional,
     recursos para investimentos,

10
                                             congrega as concessionárias de          esse organismo regularia as
     poderemos aproveitar esse momento
                                             automóveis. Temos conversado            despesas e receitas da União,
O brasileiro
                                          gasta 75% do                            A Previdência também é uma
                                          ano para pagar                          questão que merece grande atenção
                                          impostos ou para                        do MBE, não?
                                                                                  Sim, a Previdência responde pelo
                                          comprar produtos                        maior rombo de caixa do poder
                                          e serviços                              público. Propomos a unificação do
                                                                                  regime próprio dos servidores e o
                                          que deveriam ser                        geral, o INSS. Deve haver um regime
                                          fornecidos pelo                         único. Isso foi aprovado no Congresso,
                                          Estado.                                 mas nunca foi regulamentado. O
                                                                                 novo funcionário público teria que se
                                                                                 enquadrar nesse regime e poderia optar
                                                                                 por uma previdência complementar,
                                                                                 como já existe para qualquer
                                                                                 trabalhador da iniciativa privada. É o
                                                                                 que prevê o PL 1992/07, em discussão
                                                                                 na Câmara Federal. A outra questão é
                                                                                 que temos no Brasil 6% da população
                                                                                 em idade de ser assistida, com mais
                                                                                 de 65 anos, e a Previdência consome
                                                                                 12% do PIB, portanto 2% do PIB para
                                                                                 cada 1% da população. Nos Estados
                                                                                 Unidos, essa relação é de um para um.
                                                                                 Em alguns países da Europa, de 0,5%
                                                                                 para 1%. Está distorcida a equação
                                                                                 da Previdência no Brasil.
                                                                                 Já a questão administrativa está
hoje praticamente fora da Lei         ajuste fiscal é a base para que se         vinculada à eficiência da gestão pública.
de Responsabilidade Fiscal.           possa restabelecer a competitividade       Não adianta querer reduzir carga
Reivindicamos ainda a criação da      da economia brasileira. Esse ajuste        tributária se não houver um trabalho
Secretaria da Despesa Pública como    engloba as questões tributárias,           paralelo para reduzir a despesa pública,
espelho da Secretaria da Receita      previdenciárias e administrativas.         pois o governo não vai abrir mão de
Federal, que trabalha muito bem a     Defendemos a modernização e a              receita enquanto tiver uma despesa
arrecadação. Então, que se trabalhe   simplificação da estrutura tributária      maior para ser coberta.
tão bem a questão da despesa          brasileira, que é obsoleta e cara, tanto
pública. Esses dois projetos,         para quem paga quanto para quem            Além da divulgação na mídia, como
redigidos pelos juristas Gastão       arrecada. Buscamos a transparência         levam adiante as propostas do
Toledo e Ives Gandra da Silva         na cobrança dos impostos: hoje, 80%        movimento?	
Martins, são base de um abaixo-       da população pensa que não paga            Temos realizado vários eventos
assinado para o qual esperamos        imposto, não tem ideia dos tributos        com a participação de autoridades
coletar 1,4 milhão de assinaturas,    embutidos nos preços, ao passo que         e lideranças. O ministro Guido
para encaminharmos ao Congresso       muitos países desenvolvidos destacam       Mantega, em um desses encontros,
como de origem popular, com mais      o imposto na nota fiscal. No mesmo         comprometeu-se em estudar nossas
força. Hoje há vários deputados e     campo, há a pesada carga tributária,       propostas. O movimento tem
senadores que já apoiam as teses      que penaliza cidadãos e empresas           caminhado bem, conseguiu uma
do movimento. E estamos criando       brasileiras. O brasileiro gasta 75%        mobilização, mas precisamos trabalhar
uma bancada do MBE.                   do ano para pagar impostos ou              com atenção especial à união das
                                      para comprar produtos e serviços           entidades para somar os esforços na
Por que motivo a reforma              que deveriam ser fornecidos pelo           direção que desejamos. 
tributária foi definida como          Estado. No MBE, propomos mudanças
prioridade?	                          na  segurança, na educação, na saúde.      Santa Catarina foi o primeiro Estado
Não se trata apenas de reforma        Melhorando a gestão pública, melhora       a aderir ao movimento. Como
tributária, mas de um verdadeiro      a qualidade dos serviços e se reduz a      está a receptividade dos outros
ajuste fiscal. Entendemos que,        necessidade de recursos – isto é, de       estados?	
                                                                                                                      SHOWROOM




                                                                                                                                 11
ao lado da reforma política, o        impostos.                                  A receptividade é boa. Estamos
                                                                                 alinhando o lançamento em
O País poupa em torno de 16% do PIB e, por
 ter uma poupança baixa, investe pouco.
 Nossa taxa de investimento gira em
 torno de 18% do PIB, o que não permite
 criar as bases para a
 competitividade.
      várias regiões do País, para a adesão não só
      do governo de cada Estado como também das
      principais entidades locais.

      Em síntese, quais são as grandes questões da
      economia brasileira, hoje?	
      Um ponto é que temos uma taxa de poupança
      muito baixa. O País poupa em torno de
      16% do PIB e, por ter uma poupança baixa,
      investe pouco. Nossa taxa de investimento gira
      em torno de 18% do PIB, o que não permite         e União. Deveria investir 5% do PIB. Precisando de
      criar as bases para a competitividade. Falta      menos recursos, o Estado diminui a pressão sobre a
      infraestrutura, investimento em tecnologia,       taxa de juros, refletindo positivamente no câmbio,
      em formação de mão de obra, educação de           equilibrando-o num nível mais adequado ao nosso
      qualidade; temos serviços públicos sofríveis.     estágio de desenvolvimento. Propomos que o gasto
      Precisamos aumentar a poupança para               público corrente cresça até um terço da taxa de
      aumentar a taxa de investimento, trazendo mais    crescimento da economia. Se isso ocorrer, entendemos
      competitividade.                                  que o País pode vir a crescer 6% ao ano, de forma
                                                        consistente e constante, permitindo, em 2020, a
      Por que, na sua opinião, a poupança no Brasil é   duplicação da renda per capita do brasileiro. E em 2030
      baixa?	                                           teremos o que chamamos de um Brasil de bônus, o que
      Primeiro, por uma questão cultural. Mais          significa que o PIB brasileiro em 2030 poderá ter um
      de 65% das famílias brasileiras gastam mais       acréscimo adicional equivalente ao PIB de hoje.
      do que ganham. Por isso se criou aqui o
      “modelo das Casas Bahia“. O brasileiro quer       A presidente Dilma Rousseff assumiu diversos
      ver se a prestação cabe no bolso, e só. Outra     compromissos no início da  campanha. O Sr. acredita
      variável que deve ser administrada para evitar    que ela terá condições de cumpri-los?	
      o endividamento das famílias é o aumento          A presidente Dilma é uma gestora, ela entrou no
      da oferta de crédito. O nível de poupança da      governo como ministra de Minas e Energia. Na época,
      sociedade, no Brasil, é de 19% a 20%, só que      eu era presidente da Centrais Elétricas de Santa Catarina
      o governo tem um déficit público nominal de       (Celesc) e representante do Estado, e íamos a reuniões
      3%; portanto, ficamos com poupança líquida        juntos. Ela reconhece os problemas que o País enfrenta
      de 16% a 17%. Por outro lado, com uma carga       e, com certeza, tem todo interesse em ver o Brasil
      tributária muito elevada, as empresas também      melhorando. Já entendeu claramente que precisamos
      têm menos poupança para fazer investimentos.      de qualquer forma aumentar a taxa de investimento
      Temos que transformar esse círculo vicioso em     do País. No Plano Brasil Maior estão propondo 23%
      virtuoso. À medida que aumente a eficiência da    em 2014. Nós entendemos que devemos chegar, no
      gestão pública, o governo vai precisar de menos   mínimo, a 25%. Logicamente que a política apresenta
      recursos para cobrir suas despesas e sobrarão     desafios para essas mudanças, mas temos que ajudá-la.
      mais recursos para investimentos.                 À medida que a sociedade demonstra com veemência
                                                        que quer essas mudanças, com certeza, tanto o
      Qual seria o percentual ideal de investimento     Executivo quanto o Legislativo estarão sensíveis a isso.
      na sua opinião?
      O poder público investe pouco no Brasil, menos

12    de 2,5% do PIB, contando municípios, estados

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Desindustrialização do Brasil é uma realidade alerta vice-presidente da Ciser

  • 1. Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen Ano 34 • n• 301 FEVEREIRO 2O12 URGENTE! RECICLAGEM
  • 2. A PASSEIO GENTE CAPA 3 Recado 20 RH 36 Freio Solto A mensagem do conselho editorial A reflexão do psicólogo, especialista em A opinião, a crítica e a ironia do relações corporativas, Armando Siqueira jornalista Joel Leite. Neto. 5 Cartas O que dizem sobre Showroom. 38 Fala Sério! 24 Capa O novo tom da crônica de Maria Regina O Programa de Renovação da Frota é um Cyrino Corrêa. 6 Quem Passou por Aqui assunto que esteve na pauta diversas Amigos e personalidades que visitaram a vezes. No fim da década de 1990 as Assobrav e as empresas do Grupo Disal. montadoras defendiam a inspeção 39 Quando a Bola veicular ambiental técnica e a reciclagem. Rola... 8 Gente O objetivo era aumentar a venda de O comentário de Marcelo Allendes sobre O empresário Carlos Rodolfo Schneider, vice- veículos 0 km já que o mercado interno o que acontece nos gramados, quadras, presidente da Ciser Parafusos e Porcas, membro registrava quedas acentuadas. Hoje, com o piscinas...e em outros espaços também. do Conselho Superior de Economia da Fiesp e um mercado aquecido, o objetivo mudou, mas dos líderes do M B E - Movimento Brasil Eficiente, a necessidade é a mesma: a renovação da fala, entre outros assuntos, sobre o processo de frota e a reciclagem permitirão tirar das 40 Novidades “desindustrialização” do Brasil. ruas veículos velhos que causam milhões O que há de novo em eletrônicos, de problemas, como engarrafamentos, periféricos de informática e outras acidentes e muita, muita poluição. A utilidades. 13 TechMania ideia é aplaudida por todos, mas difícil de Os testes em laboratórios e em pistas de por em prática. Por quê? Ninguém quer provas da indústria automobilística, segundo o abrir mão dos próprios interesses. Uma 41 Livros & Afins jornalista Fernando Calmon. Nossas dicas para a sua biblioteca, cantilena que se repete no Brasil... cedeteca, devedeteca e pinacoteca. 14 Comportamento 28 A Passeio 42 Vinhos & Videiras “A doença do muito” começa a cair de moda Camboja, um país muito antigo, com até nos Estados Unidos, meca do consumo. A opinião abalizada de Arthur Azevedo, população muito jovem, que vive, em sua diretor executivo da ABS – Associação Filósofos, escritores, economistas e gurus maioria, no campo, em pequenas vilas. comportamentais, todos entendem que a época Brasileira de Sommeliers – SP e editor No coração da Península da Indochina da revista WineStyle e do site www. do excesso já passou. Vivemos o momento no Sudeste Asiático, o clima de monções de assumir um estilo de vida mais “franco, artwine.com.br tropicais faz as temperaturas oscilarem sincero e liberto”, porque consumir entre 10ºC e 38ºC. O Camboja tem um desenfreadamente é uma válvula de escape para não olhar para dentro de si rico patrimônio cultural que atravessou 42 Mesa Posta milênios e a cada dia atrai mais e mais Receitas, segredos e informações sobre mesmo. turistas do mundo inteiro. Confira. a história da gastronomia com o chef 4 Gustavo Corrêa.
  • 3. Fotos: divulgação Carlos Rodolfo Schneider “A desindustrialização é Por Thais Martins uma realidade” 8
  • 4. atente para esses riscos, de maneira a se compatibilizar as questões estruturais com a ampliação no Revista Showroom: Recentemente o número de veículos em circulação. presidente da Mercedes-Benz, Dieter Zetsche, fez um comentário sobre Apesar de 2011 não ter sido um U o paradoxo que percebe na China: ano positivo para a indústria o maior país comunista do mundo nacional, que sofreu com fatores produz muitos carros de luxo, como o câmbio desfavorável, a voltados a consumidores abastados. forte concorrência dos importados Segundo ele, a China “salvou o e a crise internacional, na visão do capitalismo”. Como o Sr. avalia o economista Paul Singer, falar em impacto desta realidade do mercado desindustrialização no Brasil, apesar m dos líderes do automobilístico para a economia de ser uma possibilidade, “ainda é Movimento Brasil Eficiente global? exagero e não parece provável”. O (MBE), que há dois anos propaga Sr. concorda? Existe ou não o risco a urgência de ampla reforma Carlos Rodolfo Schneider: De fato, a concreto de desindustrialização? fiscal como condição para que China representa um peso enorme Sem dúvida que existe, e não há o País reencontre o caminho na conjuntura internacional – e está exagero algum nessa afirmação. do crescimento econômico puxando a economia. Diria até que se Objetivamente, já estamos em franco “sustentável, consistente, constante a China não viesse crescendo tanto, o processo de desindustrialização. Um e acelerado”, o empresário Carlos mundo estaria em recessão há muito exemplo: tomando por base a balança Rodolfo Schneider, vice-presidente tempo. As montadoras são apenas comercial de produtos manufaturados, da Ciser Parafusos e Porcas, maior um exemplo disso. Trata-se do maior em 2006 – portanto, há cinco anos –, fabricante de fixadores da América mercado mundial de automóveis. A tivemos o último superávit, na ordem Latina e fornecedora do setor classe média chinesa é formada por de US$ 15 bilhões. Logo no ano automotivo em sociedade com o nada menos que 300 milhões de seguinte, esse número se transformou grupo holandês Nedschroef, emite pessoas, e a classe alta é significativa. em déficit, que foi crescendo e, em um sinal de alerta: se não fizermos Agora, falando da realidade brasileira 2010, chegou a US$ 70 bilhões. Uma a lição de casa, o parque industrial nesse segmento, nosso país vem observação preocupante é que o brasileiro correrá sérios riscos. ganhando relevância global devido, déficit é maior quanto mais intensiva Em entrevista à Revista Showroom, em grande parte, ao incremento do em tecnologia for a categoria de Schneider, que também faz mercado interno. Já no campo das produtos. Ainda somos altamente parte do Conselho Superior de exportações, seguimos perdendo competitivos em commodities. Economia da Federação das competitividade. É o mercado interno Poderíamos manter a competitividade Indústrias do Estado de São Paulo que tem permitido a expansão da desse grande parque industrial que (Fiesp), reúne argumentos e nossa indústria automobilística. E foi montado se fizéssemos a lição de estatísticas para afirmar que, sim, isso causa efeitos positivos em toda casa – buscando a redução do Custo o Brasil já se encontra “em franco a economia simplesmente porque a Brasil, a simplificação da estrutura e processo de desindustrialização”. cadeia produtiva do setor é bastante a redução da carga tributária, entre Também reflete sobre o enorme extensa, envolvendo um enorme leque outros fatores que contribuiriam para crescimento da economia chinesa de fornecedores dos mais variados que o dólar alcançasse um ponto de – “não fosse por isso, o mundo setores. equilíbrio mais adequado. A indústria estaria em recessão há muito vem perdendo peso significativo na mais tempo” – e adverte para a Qual seria, então, o maior problema? produção do País, em uma curva cada necessidade de se encontrar uma A preocupação é que o aumento da vez mais acentuada. E, em muitos luz na atual crise da zona do euro: frota de automóveis não vem sendo setores, produzir no Brasil está 36% “Os países em desequilíbrio fiscal acompanhado pelo crescimento mais caro do que nos Estados Unidos querem que os mais austeros, e da infraestrutura do País, o que e na Alemanha (como atesta que cumpriram seu papel, paguem tende a agravar os sérios problemas estudo da Abimaq), para não a conta. Quanto mais tarde vier de mobilidade que enfrentamos, falar no caso da China. Se uma solução, mais cara ficará essa principalmente, nas áreas urbanas. É não se fizer alguma coisa conta”. fundamental que o governo federal para frear esse processo, SHOWROOM 9
  • 5. com centrais sindicais e diversos intelectuais. Também nos apoiam os economistas Paulo Rabello de Castro, que faz parte da coordenação nacional, Raul Velloso, Roberto Teixeira da Costa e Yoshiaki Nakano, que foi secretário de baixa para assegurar um melhor da Fazenda no governo paulista crescimento futuro. de Mário Covas e na época fez, com sucesso, uma mini-reforma A crise da dívida soberana na tributária. Integram o nosso núcleo o Brasil estará colocando em risco zona do euro está contida ou o fantástico parque industrial que estratégico nomes como Antônio ainda há riscos de que o mundo levou anos para construir. Delfim Netto, Gustavo Loyola mergulhe em uma nova recessão? e Paulo Francini. Também nos Nada está resolvido, só estará na O Banco Mundial divulgou apoiam os juristas Ives Gandra da hora em que todo mundo sentar e recentemente suas previsões Silva Martins e Gastão Toledo, o para a economia mundial nos assinar um acordo. Os países em ex-senador Jorge Bornhausen, o próximos dois anos. As notícias desequilíbrio fiscal querem que os ex-governador gaúcho Germano não são boas. Em meados do mais austeros, e que cumpriram Rigotto, ao lado de grandes veículos ano passado, a entidade havia seu papel, paguem a conta. Quanto de comunicação de todo o Brasil. estimado crescimento de 3,6% em mais tarde vier uma solução, mais 2012 e 2013, mas agora rebaixou a cara ficará essa conta. Os governos Como surgiram e evoluíram os previsão para 2,5% neste ano e 3,1% precisarão chegar a um meio pleitos do MBE? no próximo. Em sua análise, como termo que não vai agradar, mas fica a economia mundial e como a Formulamos uma proposta também não poderá desagradar consistente, que partiu de um economia brasileira será (ou não) demais a todos. Não existe solução afetada? diagnóstico da realidade fiscal possível sem algum sacrifício. O brasileira elaborado, há dois anos, Ninguém sabe exatamente como vai grau de sacrifício é que terá que ser pelos economistas Raul Velloso e ficar a Europa. Tudo isso depende negociado. Paulo Rabello de Castro, o qual muito do que ocorrer por lá, que naturalmente deverá contaminar publicamos em livro. Esse estudo O Sr. é um dos líderes do o restante. Haverá um período de já serviu de base para decisões Movimento Brasil Eficiente (MBE), crescimento contido. A solução na que se propõe a sensibilizar a tomadas por vários governos, Europa requer uma ação rigorosa, população e os governos para inclusive o federal. Nossas tamanha a indisciplina fiscal que a emergência de se reduzir a propostas têm sido amadurecidas, havia: o euro representou um carga tributária sobre o setor aperfeiçoadas. Estamos plantando “cobertor” para países com menor produtivo, além de simplificar e e, aos poucos, colhendo os rigor fiscal, e alguém terá que pagar racionalizar a estrutura tributária resultados. essa conta, não existe almoço grátis. brasileira, melhorando a gestão Entre outras consequências, isso dos recursos públicos. Que apoios O MBE chegou a formular projetos o MBE conquistou desde que foi de lei com suas proposições de retraiu o comércio internacional constituído? reformas... e, sim, o Brasil está sendo afetado, Mais de 100 entidades empresariais Sim, temos chamado de “projetos por exemplo, com uma pressão da e não empresariais já aderiram de lei do Brasil Eficiente”. Um parte de outros países sobre nosso ao movimento. Contamos, deles propõe a simplificação mercado interno, com suas sobras de por exemplo, com o apoio dos e modernização da estrutura produção. Não existe mais recessão conselhos federais de Medicina, tributária. O outro defende a importante que deixe algum país da OAB, dos Economistas, dos regulamentação do artigo 67 da imune. Em que medida nós seremos Contabilistas, federações da Lei de Responsabilidade Fiscal, impactados, vai depender do que indústria, do comércio, associações que institui um Conselho de fizermos aqui. Se contivermos o gasto de diversos tipos, com registro Gestão Fiscal no País. A exemplo público corrente, redirecionando especial aqui à Fenabrave, que do Conselho Monetário Nacional, recursos para investimentos, 10 congrega as concessionárias de esse organismo regularia as poderemos aproveitar esse momento automóveis. Temos conversado despesas e receitas da União,
  • 6. O brasileiro gasta 75% do A Previdência também é uma ano para pagar questão que merece grande atenção impostos ou para do MBE, não? Sim, a Previdência responde pelo comprar produtos maior rombo de caixa do poder e serviços público. Propomos a unificação do regime próprio dos servidores e o que deveriam ser geral, o INSS. Deve haver um regime fornecidos pelo único. Isso foi aprovado no Congresso, Estado. mas nunca foi regulamentado. O novo funcionário público teria que se enquadrar nesse regime e poderia optar por uma previdência complementar, como já existe para qualquer trabalhador da iniciativa privada. É o que prevê o PL 1992/07, em discussão na Câmara Federal. A outra questão é que temos no Brasil 6% da população em idade de ser assistida, com mais de 65 anos, e a Previdência consome 12% do PIB, portanto 2% do PIB para cada 1% da população. Nos Estados Unidos, essa relação é de um para um. Em alguns países da Europa, de 0,5% para 1%. Está distorcida a equação da Previdência no Brasil. Já a questão administrativa está hoje praticamente fora da Lei ajuste fiscal é a base para que se vinculada à eficiência da gestão pública. de Responsabilidade Fiscal. possa restabelecer a competitividade Não adianta querer reduzir carga Reivindicamos ainda a criação da da economia brasileira. Esse ajuste tributária se não houver um trabalho Secretaria da Despesa Pública como engloba as questões tributárias, paralelo para reduzir a despesa pública, espelho da Secretaria da Receita previdenciárias e administrativas. pois o governo não vai abrir mão de Federal, que trabalha muito bem a Defendemos a modernização e a receita enquanto tiver uma despesa arrecadação. Então, que se trabalhe simplificação da estrutura tributária maior para ser coberta. tão bem a questão da despesa brasileira, que é obsoleta e cara, tanto pública. Esses dois projetos, para quem paga quanto para quem Além da divulgação na mídia, como redigidos pelos juristas Gastão arrecada. Buscamos a transparência levam adiante as propostas do Toledo e Ives Gandra da Silva na cobrança dos impostos: hoje, 80% movimento? Martins, são base de um abaixo- da população pensa que não paga Temos realizado vários eventos assinado para o qual esperamos imposto, não tem ideia dos tributos com a participação de autoridades coletar 1,4 milhão de assinaturas, embutidos nos preços, ao passo que e lideranças. O ministro Guido para encaminharmos ao Congresso muitos países desenvolvidos destacam Mantega, em um desses encontros, como de origem popular, com mais o imposto na nota fiscal. No mesmo comprometeu-se em estudar nossas força. Hoje há vários deputados e campo, há a pesada carga tributária, propostas. O movimento tem senadores que já apoiam as teses que penaliza cidadãos e empresas caminhado bem, conseguiu uma do movimento. E estamos criando brasileiras. O brasileiro gasta 75% mobilização, mas precisamos trabalhar uma bancada do MBE.  do ano para pagar impostos ou com atenção especial à união das para comprar produtos e serviços entidades para somar os esforços na Por que motivo a reforma que deveriam ser fornecidos pelo direção que desejamos.  tributária foi definida como Estado. No MBE, propomos mudanças prioridade? na  segurança, na educação, na saúde. Santa Catarina foi o primeiro Estado Não se trata apenas de reforma Melhorando a gestão pública, melhora a aderir ao movimento. Como tributária, mas de um verdadeiro a qualidade dos serviços e se reduz a está a receptividade dos outros ajuste fiscal. Entendemos que, necessidade de recursos – isto é, de estados? SHOWROOM 11 ao lado da reforma política, o impostos. A receptividade é boa. Estamos alinhando o lançamento em
  • 7. O País poupa em torno de 16% do PIB e, por ter uma poupança baixa, investe pouco. Nossa taxa de investimento gira em torno de 18% do PIB, o que não permite criar as bases para a competitividade. várias regiões do País, para a adesão não só do governo de cada Estado como também das principais entidades locais. Em síntese, quais são as grandes questões da economia brasileira, hoje? Um ponto é que temos uma taxa de poupança muito baixa. O País poupa em torno de 16% do PIB e, por ter uma poupança baixa, investe pouco. Nossa taxa de investimento gira em torno de 18% do PIB, o que não permite e União. Deveria investir 5% do PIB. Precisando de criar as bases para a competitividade. Falta menos recursos, o Estado diminui a pressão sobre a infraestrutura, investimento em tecnologia, taxa de juros, refletindo positivamente no câmbio, em formação de mão de obra, educação de equilibrando-o num nível mais adequado ao nosso qualidade; temos serviços públicos sofríveis. estágio de desenvolvimento. Propomos que o gasto Precisamos aumentar a poupança para público corrente cresça até um terço da taxa de aumentar a taxa de investimento, trazendo mais crescimento da economia. Se isso ocorrer, entendemos competitividade. que o País pode vir a crescer 6% ao ano, de forma consistente e constante, permitindo, em 2020, a Por que, na sua opinião, a poupança no Brasil é duplicação da renda per capita do brasileiro. E em 2030 baixa? teremos o que chamamos de um Brasil de bônus, o que Primeiro, por uma questão cultural. Mais significa que o PIB brasileiro em 2030 poderá ter um de 65% das famílias brasileiras gastam mais acréscimo adicional equivalente ao PIB de hoje. do que ganham. Por isso se criou aqui o “modelo das Casas Bahia“. O brasileiro quer A presidente Dilma Rousseff assumiu diversos ver se a prestação cabe no bolso, e só. Outra compromissos no início da  campanha. O Sr. acredita variável que deve ser administrada para evitar que ela terá condições de cumpri-los? o endividamento das famílias é o aumento A presidente Dilma é uma gestora, ela entrou no da oferta de crédito. O nível de poupança da governo como ministra de Minas e Energia. Na época, sociedade, no Brasil, é de 19% a 20%, só que eu era presidente da Centrais Elétricas de Santa Catarina o governo tem um déficit público nominal de (Celesc) e representante do Estado, e íamos a reuniões 3%; portanto, ficamos com poupança líquida juntos. Ela reconhece os problemas que o País enfrenta de 16% a 17%. Por outro lado, com uma carga e, com certeza, tem todo interesse em ver o Brasil tributária muito elevada, as empresas também melhorando. Já entendeu claramente que precisamos têm menos poupança para fazer investimentos. de qualquer forma aumentar a taxa de investimento Temos que transformar esse círculo vicioso em do País. No Plano Brasil Maior estão propondo 23% virtuoso. À medida que aumente a eficiência da em 2014. Nós entendemos que devemos chegar, no gestão pública, o governo vai precisar de menos mínimo, a 25%. Logicamente que a política apresenta recursos para cobrir suas despesas e sobrarão desafios para essas mudanças, mas temos que ajudá-la. mais recursos para investimentos. À medida que a sociedade demonstra com veemência que quer essas mudanças, com certeza, tanto o Qual seria o percentual ideal de investimento Executivo quanto o Legislativo estarão sensíveis a isso. na sua opinião? O poder público investe pouco no Brasil, menos 12 de 2,5% do PIB, contando municípios, estados