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Um projeto web fatídico
por Frederick van Amstel (2004)
www.usabilidoido.com.br
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Vida de designer é difícil,
principalmente quando o cliente não sabe
o que quer. Fica pior quando tem um
atendimento molenga no meio.
A história a seguir aconteceu comigo,
quando eu trabalhava como webdesigner
numa agência de propaganda, em 2004.
“Briefing” recebido do
atendimento: o cartão da
empresa e um CD-
Rom com fotos. Ordem de
trabalho: fazer um site.
— posso ser criativo?
— pode.
— ok.
Nota: a logo e o nome da empresa foram ocultados nas
imagens a seguir.
Proposta1: Layout arrojado, usando cores leves e foco em texto. A televisão ao lado seria
o elemento de alto-impacto do site, com música e animação de alta qualidade ao estilo
Lifemotion. A proposta incluia interatividade com o público através de fóruns de discussão
e lista de email.
Proposta 2: Mudada as cores, um layout mais pesado seguindo as seguintes
recomendações do diretor de marketing: "Aquele verde não serviu. Nós trabalhamos com
madeira, precisamos de uma cor mais forte. Veja o site o concorrente, que legal." Os
serviços do site foram cortados fora, junto com os textos.
Proposta 3: A agência decidiu que a última versão ainda não
estava com as cores que o cliente ia gostar. Ok, melhoramos.
Proposta 4:"Eles querem algo mais arrojado. Disseram que a gente era tão
criativo e que agora estávamos falhando. O site precisa de animação, eles
gostam de bossa." Ok, grrr, farei um site 100% Flash. Querem tosqueira, vão
ter tosqueira. Hmm... até que esse passarinho não ficou mau.
Proposta 5: "Porque o site não está ocupando todo o espaço na tela? Isso é desperdício",
disse o diretor de lá. Não gostaram das cores e nem do *chuif* passarinho. Tiver que
voltar ao HTML porque Flash ajustado a 100% da tela é muito complicado.
Proposta 6: "Eles querem vermelho! E mais destaque nos links centrais, só
texto é pouco". Adicionei uns rollovers e chutei o balde no menu, como
era feito há 4 anos atrás.
Proposta 7: Bem, hoje estou com paciência. Vejamos, deixo a foto mais
bonita (cores distorcidas), coloco um vermelho no centro, varredura arrojada
e uma sequência de animação bonita. Vualá! Minha moral está voltando.
Proposta 8: É, concordei que teria que fazer outra coisa bem diferente, senão não íamos
sair do lugar. Pra começar o fundo dessa logo complicada vai ser branco. Fora isso, vou
me esforçar para usar elemento visuais isolados e chamativos. Degradés, fusão, botões.
O cliente não sabia o que
queria. O atendimento só
repassava as solicitações. O
designer (eu) não tinha como
defender o projeto.
Resultado: o cliente perdeu a
paciência e mandou cancelar o
projeto.
Lições aprendidas: exigir
contato direto com o cliente,
fazer wireframes antes de
layout, documentar a defesa do
design.
Fim!!!
Frederick van Amstel (2004)
www.usabilidoido.com.br
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Projeto web fatídico: 8 propostas rejeitadas

  • 1. Um projeto web fatídico por Frederick van Amstel (2004) www.usabilidoido.com.br @usabilidoido
  • 2. Vida de designer é difícil, principalmente quando o cliente não sabe o que quer. Fica pior quando tem um atendimento molenga no meio. A história a seguir aconteceu comigo, quando eu trabalhava como webdesigner numa agência de propaganda, em 2004.
  • 3. “Briefing” recebido do atendimento: o cartão da empresa e um CD- Rom com fotos. Ordem de trabalho: fazer um site.
  • 4. — posso ser criativo? — pode. — ok. Nota: a logo e o nome da empresa foram ocultados nas imagens a seguir.
  • 5. Proposta1: Layout arrojado, usando cores leves e foco em texto. A televisão ao lado seria o elemento de alto-impacto do site, com música e animação de alta qualidade ao estilo Lifemotion. A proposta incluia interatividade com o público através de fóruns de discussão e lista de email.
  • 6. Proposta 2: Mudada as cores, um layout mais pesado seguindo as seguintes recomendações do diretor de marketing: "Aquele verde não serviu. Nós trabalhamos com madeira, precisamos de uma cor mais forte. Veja o site o concorrente, que legal." Os serviços do site foram cortados fora, junto com os textos.
  • 7. Proposta 3: A agência decidiu que a última versão ainda não estava com as cores que o cliente ia gostar. Ok, melhoramos.
  • 8. Proposta 4:"Eles querem algo mais arrojado. Disseram que a gente era tão criativo e que agora estávamos falhando. O site precisa de animação, eles gostam de bossa." Ok, grrr, farei um site 100% Flash. Querem tosqueira, vão ter tosqueira. Hmm... até que esse passarinho não ficou mau.
  • 9. Proposta 5: "Porque o site não está ocupando todo o espaço na tela? Isso é desperdício", disse o diretor de lá. Não gostaram das cores e nem do *chuif* passarinho. Tiver que voltar ao HTML porque Flash ajustado a 100% da tela é muito complicado.
  • 10. Proposta 6: "Eles querem vermelho! E mais destaque nos links centrais, só texto é pouco". Adicionei uns rollovers e chutei o balde no menu, como era feito há 4 anos atrás.
  • 11. Proposta 7: Bem, hoje estou com paciência. Vejamos, deixo a foto mais bonita (cores distorcidas), coloco um vermelho no centro, varredura arrojada e uma sequência de animação bonita. Vualá! Minha moral está voltando.
  • 12. Proposta 8: É, concordei que teria que fazer outra coisa bem diferente, senão não íamos sair do lugar. Pra começar o fundo dessa logo complicada vai ser branco. Fora isso, vou me esforçar para usar elemento visuais isolados e chamativos. Degradés, fusão, botões.
  • 13. O cliente não sabia o que queria. O atendimento só repassava as solicitações. O designer (eu) não tinha como defender o projeto.
  • 14. Resultado: o cliente perdeu a paciência e mandou cancelar o projeto.
  • 15. Lições aprendidas: exigir contato direto com o cliente, fazer wireframes antes de layout, documentar a defesa do design.
  • 16. Fim!!! Frederick van Amstel (2004) www.usabilidoido.com.br @usabilidoido