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Apresentação Oral de Português - Episódio no Hotel Central.
E - João da Ega - Bastos A - Tomás de Alencar - Pia C - Carlos da Maia - Bekas
Ato I - Vila Balzac
(Carlos vai à Vila Balzac, visitar Ega de surpresa)
Carlos (bate desesperadamente à porta da sala e ninguém responde) - Ceús , tenho a bondade de vir
visitá-lo e ninguém me recebe !? O que é feito das boas maneiras?
(Carlos vai embora e no dia seguinte encontra Ega e confronta-o com a situação)
Carlos: Ontem, decidi ir visitá-lo, por cortesia e apesar de ter ouvido barulhos do interior da sua
habitação e ter batido desenfriadamente à porta, fiquei perplexo por ninguém me ter recebido.
Ega: Estou estupefacto com a incompetência dos meus serviçais. Desde já lamento que tenha passado
por tal transtorno. Visite-me novamente amanhã que decerto o receberei.
(os dois compadres dão um aperto de mão e segue cada um pra sua vida)
(Carlos bate a porta e Ega recebe-o com a maior pompa)
(Ega recebe o com um enorme sorriso e abraça-o com cumplicidade)
Ega: Bem vindo, ilustre doutor, ao humilde tugúrio do filósofo , entra, não faças cerimónia, que a
circunstância assim não o exige. (desloca-se ate a uma mesa e agarra numa garrafa de champagne).
Carlos (com um ar espelhado a contemplar o champagne e ao deparar-se com uma panoplia de obras
filosoficas pega no copo): é sempre gratificante rever-te.
(Bebem champagne e conversam sobre a Condessa de Gouvarinho)
Carlos: É verdade! Então, noutro dia, que tal, em casa dos Gouvarinhos? Eu infelizmente não pôde ir.
Ega: Não perdeste nada, o serão foi tremendamente aborrecido. Acontece que o Gouvarinho maçou-me
o tempo inteiro com politiquices e a Condessa com o pingo no nariz mais parecia uma cascata em
movimento.
(Carlos fica desagradado com o assunto)
Ega: Pareces incomodado, a ruiva já não alimenta as tuas fantasias? Por sinal é cá um pedaço (pisca o
olho)
Carlos: Embora à primeira vista me tenha provocado uns calores pela espinha acima (exprime um
sorriso maroto), mas infelizmente acontece que mal a conheci, o calor se desvaneceu (desapontado).
Ega: Tu es um especime raro Carlitos, mais pareces um autentico D.Juan, aproximas-te das madames,
fita-las, galanteia-las, simpatizas com elas mas a triste verdade é que no fim ficas a chupar no dedo. Ao
invés de as procurares, deixa que o destino faça a sua parte que no momento certo, aparecerá a mulher
certa.
Carlos: Lamento ter de anuir. Desculpa pela indelicadeza mas tenho que me ausentar.
Ega: Não fico enfadado desde que aceites jantar comigo amanhã no Hotel Central.
Carlos: Negócio Fechado.
(No dia seguinte, Ega chama o mordomo e solicita-lhe que leve um recado a Carlos)
Ega: Leopoldo aproxime-se.
Leopoldo: Que deseja senhor?
Ega: Preciso que leve esta carta a convidar o sr Alencar para um jantar e que informe o doutor que o
jantar será adiado em virtude de uma encontro de filosofos que terei amanhã.
Ato II - Hotel Central
(No dia do jantar Carlos e Ega encontram-se e dirigem-se para o peristilo do Hotel Central e avista uma
carruagem)
(Carlos e Ega ficam de olhos regalados ao avistar uma donzela , elegantemente bem vestida, loira e
extremamente bela)
Ega: Ulálá ;)
Carlos: Que divindade!
(Sentam-se e entretanto Alencar chega)
Ega: Carlos, este é Tomás de Alencar, amigo íntimo de teu pai, Pedro da Maia.
Alencar: A tua cara não é estranha, rapaz. Agora que te vejo, recordo-me do teu pai... Como é que te
chamas mesmo?
Carlos: Carlos.
Alencar: O teu pai queria antes batizar-se Afonso mas em virtude de uns romances que a tua formosa
mãe lia, decidiu-se chamar-te Carlos Eduardo inspirado no principe ingles.5
(Alencar e Carlos abraçam-se)
(Inicia-se o jantar e começam a falar sobre as suas ideologias)
Ega: Ve lá Alencar que estavamos a vir na direção do hotel, quando nos deparamos, com uma mulher
dislumbrante: loira, bonita e elegante.
Alencar: É de onde?
Ega: Pelo que me disse o Dâmaso é da família dos Castros Gomes. Viajaram de Bordeus para cá.
Carlos: Ela é realmente uma dama e mais importante do que isso, é uma deusa !
Carlos: Não divaguemos, centremo-nos antes em assuntos concretos realmente importantes e
abandonemos a realidade abstrata que é o campo dos sentimentos. O que pensam do crime da
Mouraria que já se encontra retratado em obras realistas?
Alencar: Não abordemos essa literatura latrinária à hora asseada do jantar.
Ega: Alencar como podes ser defensor acérrimo do romantismo?! Fica sabendo que é no naturalismo
que reside a verdade absoluta pois este não tem receio de dissecar a fundo as entranhas e repudiar
tudo aquilo que não corresponda à realidade nua e crua.
Carlos: Rapazes não mencionemos este assunto à mesa.
Alencar: Mudemos de assunto, então o que acham da situação economica do país? Há uns dias atras
abordei o assunto, numa conversa com o Cohen, que como sabe é governador do banco nacional. Ele
assegurou que o empréstimo era inevitável e um procedimento habitual das instituições financeiras. e
que colocava o país numa posição de enorme fragilidade que iria culminar num desfecho inevitável, a
bancarrota de Portugal.
Carlos: Embora eu não seja um iluminado na matéria, a mim parece me que sucessivos empréstimos
colocam o país numa situação cada vez mais gravosa que culminará na bancarrota de Portugal.
Alencar: o próprio Cohen, como que lavando as mãos, posicionou-se da mesma forma.
Alencar: Na minha perspetiva, a reversão da situação económica é simples: há que manter um suave
aroma revolucionário a pairar sobre o ar e na véspera de lançamento dos empréstimos, encetar uma
proclamação caputada da República para assustar os mercados. Há que evitar o descalabre total a todo
o custo.
Ega: A bancarrota seria esplêndida. Há que erradicar a monarquia e os seus representantes medíocres
bem como os fantasmas já antigos da dívida e o crasso pessoal do constitucionalismo.
Carlos: Como diria o Cohen se aqui estivesses , deves moderar-te nas palavras e não ser tão drástico,
afinal ainda há talento e saber.
Alencar(ansioso pra falar cofiava o bigode): Eu cá acho que deveríamos adotar um modelo político
semelhante ao dos USA, uma república governada por génios e construída sobre os alicerces dos ideiais
da revolução francesa.
Ega: Fantástico seria mesmo uma invasão espanhola.
Alencar: Ega não sejas rídiculo.
Ega: Em primeiro lugar se a tal invasão sucedesse não haveria perda total da independência, embora
eles tenham falanges maiores, a verdade é que não conseguiriam dizimar num abrir e fechar de olhos o
nosso país e nunca ninguem aceitaria brandamente que Portugal fosse anexado por Espanha,
especialmente os nossos aliados que nos apoiariam com o intuito de receber uma colónia aqui ou além.
Admito que levaríamos uma sova e que teríamos que pagar uma indemnização elevadíssima mas
obliterados não o seríamos. Finda a guerra, sucumbiria a monarquia e começariamos um novo capitulo
na história de Portugal que decerto seria mais grandioso , fazendo civilização como outrora.
Ega: Alencar deixa-te de patriotismos provincianos.
Alencar: O nosso país até pode assemelhar-se a uma velha carcaça, mas é a terra onde nascemos , por
isso, há que defendê-la com a nossa vida. Mudemos de assunto.
Ega: Mal se detetasse a primeira guarnição espanhola à porta do país e a população em massa fugiria
como uma lebre! Vai ser uma debandada única na história!
Alencar: Abaixo o traidor!
Carlos (muito sério): Não senhor... Ninguém há de fugir, e há de se morrer bem.
Ega: Para mim não só os Lisboetas como os restantes portugueses são da gente mais cobarde e sem
caráter da Europa.
Carlos: Devemos ser mais moderados, a coragem mede-se pelos atos. Agora vou apreciar o meu
charuto.
(Carlos afasta-se para ir fumar)
(Ouve-se uma gritaria vinda da mesa - Alencar e Ega discutem)
Alencar: vocês filosóficos julgam-se o expoente máximo da sabedoria, mas filosofos da tua indole não
passam de escumalha.
Ega: Deixa lá que esses floriados tão intrinsecos ao romantismo , fazem dos romantistas gente superior,
mas não passam de cretinos.
Ega: Craveiro é que um poeta com P grande, um entendido na matéria e um homem sensato ao optar
pelo realismo.
Alencar: O Craveiro não passa de um inculto paladino do Realismo, que mais parece um sujeito sem
instrução.
Ega: Eu bem sei por que tu falas, Alencar e o motivo não é nobre. É por causa do epigrama que ele te
fez:
O Alencar de Alenquer,
Aceso com a primavera...
Ega: É delicioso, é das melhores coisas do Craveiro. Nunca ouviste, Carlos? É sublime.
Carlos: Para mim o Craveiro é mais um desmesurado nas palavras, um raquítico.
Alencar: Se o Craveirete não fosse um fraco , já o tinha feito rolar Chiado abaixo.
Ega: Era dramático esmagar um crânio desses.
Alencar: Mas eu cá esborrachava-o. (poe as maos em posição de ataque)
Carlos: Então, Alencar! Que tolice... Isso vale lá pena!...
Ega: Não passas de um cobarde!
Alencar: Estás te a habilitar !
Carlos: Acalmem-se , não vão criar espalhafato aqui no Hotel Central.
(Alencar prepara se para sair disparado mas Carlos impede-o)
Carlos: Vamos, façam as pazes. Dêem lá um aperto de mãos
Alencar: Devemos evitar que se forme uma nuvem negra entre mim e o Ega.
Ega: Brindemos!
(os tres brindam e Ega e Alencar abraçam-se)
Ato III - Depois de sairem do hotel central
Alencar: Parece-me que hoje me portei como um gentleman, não?
Carlos: Pois portaste-te
Alencar: E agora vamos lá por esse Aterro fora… Mas deixa-me ir ali primeiro comprar um pacote de
tabaco...
(Alencar aparece de cigarro na boca)
(Caminham pelo Aterro fora)
Carlos: Lisboa era bem mais divertida, disse Carlos.
Alencar: Era outra coisa, meu Carlos! Vivia-se! Não existiriam esses ares científicos, toda essa palhada
filosófica, esses badamecos positivistas... Mas havia coração, rapaz.
(Entram numa taberna e bebem, Carlos quer pagar mas Alencar não o deixa)
Alencar: Eu é que faço a honra da bodega, meu Carlos! Nos palácios os outros pagarão... Cá na taberna
pago eu!
(Saem da taberna e vao para o Ramalhete)
Alencar: Tem bom ar esta vossa casa... Pois entra tu, meu rapaz, que eu vou andando por aqui para a
minha toca.
Alencar: E hás-de ir lá jantar um dia. Não te posso dar um banquete, mas hás-de ter uma sopa e um
assado.
Carlos: Não queres subir um bocado, Alencar?
Alencar: Obrigado mas nao, rapaz, (abraçando) Carlos. E agradeço-te isso, porque sei que vem do
coração... Todos vocês têm coração. Pois adeus, meu rapaz. Queres tu um charuto?
(Carlos aceitou)
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FIM

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  • 1. Apresentação Oral de Português - Episódio no Hotel Central. E - João da Ega - Bastos A - Tomás de Alencar - Pia C - Carlos da Maia - Bekas Ato I - Vila Balzac (Carlos vai à Vila Balzac, visitar Ega de surpresa) Carlos (bate desesperadamente à porta da sala e ninguém responde) - Ceús , tenho a bondade de vir visitá-lo e ninguém me recebe !? O que é feito das boas maneiras? (Carlos vai embora e no dia seguinte encontra Ega e confronta-o com a situação) Carlos: Ontem, decidi ir visitá-lo, por cortesia e apesar de ter ouvido barulhos do interior da sua habitação e ter batido desenfriadamente à porta, fiquei perplexo por ninguém me ter recebido. Ega: Estou estupefacto com a incompetência dos meus serviçais. Desde já lamento que tenha passado por tal transtorno. Visite-me novamente amanhã que decerto o receberei. (os dois compadres dão um aperto de mão e segue cada um pra sua vida) (Carlos bate a porta e Ega recebe-o com a maior pompa) (Ega recebe o com um enorme sorriso e abraça-o com cumplicidade) Ega: Bem vindo, ilustre doutor, ao humilde tugúrio do filósofo , entra, não faças cerimónia, que a circunstância assim não o exige. (desloca-se ate a uma mesa e agarra numa garrafa de champagne). Carlos (com um ar espelhado a contemplar o champagne e ao deparar-se com uma panoplia de obras filosoficas pega no copo): é sempre gratificante rever-te. (Bebem champagne e conversam sobre a Condessa de Gouvarinho) Carlos: É verdade! Então, noutro dia, que tal, em casa dos Gouvarinhos? Eu infelizmente não pôde ir. Ega: Não perdeste nada, o serão foi tremendamente aborrecido. Acontece que o Gouvarinho maçou-me o tempo inteiro com politiquices e a Condessa com o pingo no nariz mais parecia uma cascata em movimento. (Carlos fica desagradado com o assunto) Ega: Pareces incomodado, a ruiva já não alimenta as tuas fantasias? Por sinal é cá um pedaço (pisca o olho)
  • 2. Carlos: Embora à primeira vista me tenha provocado uns calores pela espinha acima (exprime um sorriso maroto), mas infelizmente acontece que mal a conheci, o calor se desvaneceu (desapontado). Ega: Tu es um especime raro Carlitos, mais pareces um autentico D.Juan, aproximas-te das madames, fita-las, galanteia-las, simpatizas com elas mas a triste verdade é que no fim ficas a chupar no dedo. Ao invés de as procurares, deixa que o destino faça a sua parte que no momento certo, aparecerá a mulher certa. Carlos: Lamento ter de anuir. Desculpa pela indelicadeza mas tenho que me ausentar. Ega: Não fico enfadado desde que aceites jantar comigo amanhã no Hotel Central. Carlos: Negócio Fechado. (No dia seguinte, Ega chama o mordomo e solicita-lhe que leve um recado a Carlos) Ega: Leopoldo aproxime-se. Leopoldo: Que deseja senhor? Ega: Preciso que leve esta carta a convidar o sr Alencar para um jantar e que informe o doutor que o jantar será adiado em virtude de uma encontro de filosofos que terei amanhã. Ato II - Hotel Central (No dia do jantar Carlos e Ega encontram-se e dirigem-se para o peristilo do Hotel Central e avista uma carruagem) (Carlos e Ega ficam de olhos regalados ao avistar uma donzela , elegantemente bem vestida, loira e extremamente bela) Ega: Ulálá ;) Carlos: Que divindade! (Sentam-se e entretanto Alencar chega) Ega: Carlos, este é Tomás de Alencar, amigo íntimo de teu pai, Pedro da Maia. Alencar: A tua cara não é estranha, rapaz. Agora que te vejo, recordo-me do teu pai... Como é que te chamas mesmo? Carlos: Carlos.
  • 3. Alencar: O teu pai queria antes batizar-se Afonso mas em virtude de uns romances que a tua formosa mãe lia, decidiu-se chamar-te Carlos Eduardo inspirado no principe ingles.5 (Alencar e Carlos abraçam-se) (Inicia-se o jantar e começam a falar sobre as suas ideologias) Ega: Ve lá Alencar que estavamos a vir na direção do hotel, quando nos deparamos, com uma mulher dislumbrante: loira, bonita e elegante. Alencar: É de onde? Ega: Pelo que me disse o Dâmaso é da família dos Castros Gomes. Viajaram de Bordeus para cá. Carlos: Ela é realmente uma dama e mais importante do que isso, é uma deusa ! Carlos: Não divaguemos, centremo-nos antes em assuntos concretos realmente importantes e abandonemos a realidade abstrata que é o campo dos sentimentos. O que pensam do crime da Mouraria que já se encontra retratado em obras realistas? Alencar: Não abordemos essa literatura latrinária à hora asseada do jantar. Ega: Alencar como podes ser defensor acérrimo do romantismo?! Fica sabendo que é no naturalismo que reside a verdade absoluta pois este não tem receio de dissecar a fundo as entranhas e repudiar tudo aquilo que não corresponda à realidade nua e crua. Carlos: Rapazes não mencionemos este assunto à mesa. Alencar: Mudemos de assunto, então o que acham da situação economica do país? Há uns dias atras abordei o assunto, numa conversa com o Cohen, que como sabe é governador do banco nacional. Ele assegurou que o empréstimo era inevitável e um procedimento habitual das instituições financeiras. e que colocava o país numa posição de enorme fragilidade que iria culminar num desfecho inevitável, a bancarrota de Portugal. Carlos: Embora eu não seja um iluminado na matéria, a mim parece me que sucessivos empréstimos colocam o país numa situação cada vez mais gravosa que culminará na bancarrota de Portugal. Alencar: o próprio Cohen, como que lavando as mãos, posicionou-se da mesma forma. Alencar: Na minha perspetiva, a reversão da situação económica é simples: há que manter um suave aroma revolucionário a pairar sobre o ar e na véspera de lançamento dos empréstimos, encetar uma proclamação caputada da República para assustar os mercados. Há que evitar o descalabre total a todo o custo.
  • 4. Ega: A bancarrota seria esplêndida. Há que erradicar a monarquia e os seus representantes medíocres bem como os fantasmas já antigos da dívida e o crasso pessoal do constitucionalismo. Carlos: Como diria o Cohen se aqui estivesses , deves moderar-te nas palavras e não ser tão drástico, afinal ainda há talento e saber. Alencar(ansioso pra falar cofiava o bigode): Eu cá acho que deveríamos adotar um modelo político semelhante ao dos USA, uma república governada por génios e construída sobre os alicerces dos ideiais da revolução francesa. Ega: Fantástico seria mesmo uma invasão espanhola. Alencar: Ega não sejas rídiculo. Ega: Em primeiro lugar se a tal invasão sucedesse não haveria perda total da independência, embora eles tenham falanges maiores, a verdade é que não conseguiriam dizimar num abrir e fechar de olhos o nosso país e nunca ninguem aceitaria brandamente que Portugal fosse anexado por Espanha, especialmente os nossos aliados que nos apoiariam com o intuito de receber uma colónia aqui ou além. Admito que levaríamos uma sova e que teríamos que pagar uma indemnização elevadíssima mas obliterados não o seríamos. Finda a guerra, sucumbiria a monarquia e começariamos um novo capitulo na história de Portugal que decerto seria mais grandioso , fazendo civilização como outrora. Ega: Alencar deixa-te de patriotismos provincianos. Alencar: O nosso país até pode assemelhar-se a uma velha carcaça, mas é a terra onde nascemos , por isso, há que defendê-la com a nossa vida. Mudemos de assunto. Ega: Mal se detetasse a primeira guarnição espanhola à porta do país e a população em massa fugiria como uma lebre! Vai ser uma debandada única na história! Alencar: Abaixo o traidor! Carlos (muito sério): Não senhor... Ninguém há de fugir, e há de se morrer bem. Ega: Para mim não só os Lisboetas como os restantes portugueses são da gente mais cobarde e sem caráter da Europa. Carlos: Devemos ser mais moderados, a coragem mede-se pelos atos. Agora vou apreciar o meu charuto. (Carlos afasta-se para ir fumar) (Ouve-se uma gritaria vinda da mesa - Alencar e Ega discutem) Alencar: vocês filosóficos julgam-se o expoente máximo da sabedoria, mas filosofos da tua indole não passam de escumalha. Ega: Deixa lá que esses floriados tão intrinsecos ao romantismo , fazem dos romantistas gente superior, mas não passam de cretinos. Ega: Craveiro é que um poeta com P grande, um entendido na matéria e um homem sensato ao optar pelo realismo.
  • 5. Alencar: O Craveiro não passa de um inculto paladino do Realismo, que mais parece um sujeito sem instrução. Ega: Eu bem sei por que tu falas, Alencar e o motivo não é nobre. É por causa do epigrama que ele te fez: O Alencar de Alenquer, Aceso com a primavera... Ega: É delicioso, é das melhores coisas do Craveiro. Nunca ouviste, Carlos? É sublime. Carlos: Para mim o Craveiro é mais um desmesurado nas palavras, um raquítico. Alencar: Se o Craveirete não fosse um fraco , já o tinha feito rolar Chiado abaixo. Ega: Era dramático esmagar um crânio desses. Alencar: Mas eu cá esborrachava-o. (poe as maos em posição de ataque) Carlos: Então, Alencar! Que tolice... Isso vale lá pena!... Ega: Não passas de um cobarde! Alencar: Estás te a habilitar ! Carlos: Acalmem-se , não vão criar espalhafato aqui no Hotel Central. (Alencar prepara se para sair disparado mas Carlos impede-o) Carlos: Vamos, façam as pazes. Dêem lá um aperto de mãos Alencar: Devemos evitar que se forme uma nuvem negra entre mim e o Ega. Ega: Brindemos! (os tres brindam e Ega e Alencar abraçam-se) Ato III - Depois de sairem do hotel central Alencar: Parece-me que hoje me portei como um gentleman, não? Carlos: Pois portaste-te Alencar: E agora vamos lá por esse Aterro fora… Mas deixa-me ir ali primeiro comprar um pacote de tabaco... (Alencar aparece de cigarro na boca) (Caminham pelo Aterro fora)
  • 6. Carlos: Lisboa era bem mais divertida, disse Carlos. Alencar: Era outra coisa, meu Carlos! Vivia-se! Não existiriam esses ares científicos, toda essa palhada filosófica, esses badamecos positivistas... Mas havia coração, rapaz. (Entram numa taberna e bebem, Carlos quer pagar mas Alencar não o deixa) Alencar: Eu é que faço a honra da bodega, meu Carlos! Nos palácios os outros pagarão... Cá na taberna pago eu! (Saem da taberna e vao para o Ramalhete) Alencar: Tem bom ar esta vossa casa... Pois entra tu, meu rapaz, que eu vou andando por aqui para a minha toca. Alencar: E hás-de ir lá jantar um dia. Não te posso dar um banquete, mas hás-de ter uma sopa e um assado. Carlos: Não queres subir um bocado, Alencar? Alencar: Obrigado mas nao, rapaz, (abraçando) Carlos. E agradeço-te isso, porque sei que vem do coração... Todos vocês têm coração. Pois adeus, meu rapaz. Queres tu um charuto? (Carlos aceitou) Carlos: Então aí tens um charuto, filho! Xau, meu rapaz. (Vai-se embora) FIM