O documento descreve os principais elementos da narrativa épica, incluindo enredo, tipos de narrativa, foco narrativo, personagens, tempo, espaço e visão geral. Aborda também o herói épico e o anti-herói na literatura brasileira.
7. O ESPAÇO
Lugares onde transcorrem as narraPvas; o espaço, assim como o tempo,
está ligado a um Ppo de narraPva específica.
TIPOS DE ESPAÇO NARRATIVO
FÍSICO
lugar bsico onde transcorrem eventos
caráter tradicional
PSICOLÓGICO
conflitos existenciais da personagem
técnicas de revelação interior
SOCIAL
realidades sociais que permeiam a história
raça, exclusão, engajamento...
9. O GÊNERO ÉPICO
Na serra de Ibiapaba, numa de suas encostas mais altas encontrei um jegue.
Estava voltada para o lado leste e me pareceu que descorPnava o
panorama. Mas quando me aproximei, percebi que era cego.
Perguntei-lhe o que fazia nas encostas daquela serra. Ele me respondeu que
sempre Pvera vontade de ficar ali, parado, descorPnando o panorama
árido. Mas o homem não permiPa que ele abandonasse o trabalho e se
dirigisse àquele síPo. Só houve um meio de o homem deixá-lo ir: era
tornando-se inúPl. E ele tornou-se cego e ali estava.
– Mas você não pode ver o panorama – eu lhe disse. Não tem importância –
ele respondeu –, eu posso imaginá-lo.
FRANÇA JÚNIOR, Oswaldo. O jegue cedo. In.: As laranjas iguais; contos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
narrador tempo espaço
enredo personagem
visão objePva ficção caráter dinâmico
predomínio do pretérito prosa ou verso
12. Esta luta durou minutos; o índio, com os pés apoiados fortemente nas
pernas da onça, e o corpo inclinado sobre a forquilha, manPnha assim
imóvel a fera que há pouco corria a mata não encontrando obstáculos à sua
passagem.
Quando o animal, quase asfixiado pela estrangulação, já não fazia senão
uma fraca resistência, o selvagem, segurando sempre a forquilha, meteu a
mão debaixo da túnica e Prou uma corda de !cum que Pnha enrolada à
cintura em muitas voltas.
Nas pontas desta corda havia dois laços que ele abriu com os dentes e
passou nas patas dianteiras, ligando-as fortemente uma a outra; depois fez
o mesmo às pernas, e acabou por amarrar as duas mandíbulas, de modo
que a onça não pudesse abrir a boca.
ALENCAR, José de. O guarani. In.: Obras completas. São Paulo: Montecristo Editora, 2012. Edição digital.
O HERÓI ÉPICO
corajoso forte inteligente
virtuoso modelo a ser seguido
parte de sua terra enfrenta perigos mil volta coroado de glórias
epopeias árcades romances românRcos indianistas
14. Dona Margarida tocou a campainha com decisão e subiu a pequena escada
que dava acesso à casa. Disse à criada que desejava falar à dona da casa.
Dona SalusPana, que esperava tudo, menos aquela visita portadora de
semelhante mensagem, não tardou mandar entrar as duas mulheres.
Ambas estavam bem vesPdas e nada denunciava o que as trazia ali. […] A
mãe de Cassi, depois de ouvi-la, pensou um pouco e disse com um ar um
tanto irônico:
– Que é que a senhora quer que eu faça? […]
– Que se case comigo.
Dona SalusPana ficou lívida; a intervenção da mulaPnha a exasperou.
Olhou-a cheia de malvadez e indignação, demorando o olhar
propositadamente. Por fim, expectorou:
– Que é que você diz, sua negra? […]
15. Na rua, Clara pensou em tudo aquilo, naquela dolorosa cena que Pnha
presenciado e no vexame que sofrera. Agora é que Pnha a noção exata da
sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente
nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz,
para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito
menos no conceito de todos. […]
A educação que recebera, de mimos e vigilâncias, era errônea. Ela devia ter
aprendido da boca de seus pais que a sua honesPdade de moça e de
mulher Pnha todos por inimigos, mas isto ao vivo, com exemplos,
claramente… O bonde vinha cheio. Olhou todos aqueles homens e
mulheres… Não haveria um talvez, entre toda aquela gente de ambos os
sexos, que não fosse indiferente à sua desgraça… Ora, uma mulaPnha, filha
de um carteiro! O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era
educar o caráter, revesPr-se de vontade […] e bater-se contra todos os que
se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social ou
moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a
covardia com que elas o admiPam…
16. Chegaram em casa; Joaquim ainda não Pnha vindo. Dona Margarida relatou
a entrevista, por entre choro e os soluços da filha e da mãe.
Num dado momento, Clara ergueu-se da cadeira em que se sentara e
abraçou muito fortemente sua mãe, com um grade acento de desespero:
– Mamãe! Mamãe!
– Que é minha filha?
– Nós não somos nada nesta vida.
O ANTI-HERÓI
não é virtuoso nem corajoso;
BARRETO, Lima. Clara dos Anjos. Belo Horizonte: ItaPaia, 2001.
problemaPza a condição do homem moderno;
representa setores oprimidos/excluídos da sociedade [nicho?].
Rpos regionais moradores das periferias
mulheres negros
crianças de rua homossexuais
ex-presidiários imigrantes
18. Na na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis
anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava:
– Ai que preguiça!...
e não dizia mais nada. Ficava no canto da maloca, trepado no jirau de
pixaúba, espiando o trabalho dos outros e principalmente os dois manos
que Pnha, Maanape já velhinho e Jiguê na força de homem. O diverPmento
dele era decepar cabeça de saúva. vivia deitado mas si punha os olhos em
dinheiro, Macunaíma dandava para ganhar vintém. E também espertava
quando a família ia tomar banho no rio, todos juntos e nus. Passava o
tempo todo do banho dando mergulho, e as mulheres soltavam gritos
gozados por causa dos guaimuns diz-que habitnado a água doce por lá. No
mucambo si alguma cunhã se aproximava dele para fazer fesPnha,
Macunaíma punha a mão na graça dela, cunhatã se afastava. Nos machos
guspia na cara. Porém respeitava os velhos e frequentava com aplicação a
murua a poracê o terê o bacorocô a cucuicogue, todas essas danças
religiosas da tribo.
19. Quando era para dormir trepava no macuru pequenininho sempre se
esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava debaixo do berço, o
herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos bem. Então,
adormecia sonhando palavras feitas, imoralidades estrambólicas e dava
patadas no ar.
Nas conversas das mulheres no pino do dia o assunto eram sempre as
peraltagens do herói. As mulheres se riam muito simpaPzadas, falando que
“espinho que pinica, de pequeño já traz ponta”, e numa pajelança Rei Nagô
fez um discurso e avisou que o herói era inteligente.
O MALANDRO
e esperto, sagaz, ágil;
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte/Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 2000.
seu triunfo está ligado à astúcia e à improvisação;
vive do jogo, da trapaça e até de pequenos furtos;
não está dentro da ordem [é um anP-herói], mas aproveita-se dela para triunfar.
Leonardo Filho Macunaíma
João Grilo Geraldo Viramundo
João Miramar Serafim Ponte Grande