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. 135
No seu livro Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de iden-
tidades coletivas nos anos 90, a antropóloga Regina Facchini1
divide as origens
do movimento homossexual brasileiro em duas “ondas”, entre fins da década
de 70 e os anos 1980.2
Com antecedentes em mobilizações acontecidas em
outros países desde fins da década de 1960, e a partir de redes de sociabilidade
estabelecidas nas grandes cidades,3
os primeiros grupos militantes homosse-
xuais surgiram no Brasil no final dos anos 1970, no contexto da “abertura”
política que anunciava o final da ditadura militar.Aliada ao Movimento Femi-
nista e ao Movimento Negro, aquela “primeira onda” do Movimento Homos-
sexual continha propostas de transformação para o conjunto da sociedade, no
sentido de abolir hierarquias de gênero e lutar contra a repressão sexual, fonte
de autoritarismo e de produção de violência e desigualdade. Pertenceram a
essa fase o grupo Somos de Afirmação Homossexual, de São Paulo, e o jornal
Lampião da Esquina, editado no Rio de Janeiro, experiências seminais de or-
ganização política alternativa, que promoviam a reflexão em torno da sujeição
do indivíduo às convenções de uma sociedade sexista, gerando espaços onde a
diversidade sexual podia ser afirmada.
1. Facchini, Regina. Sopa de Letrinhas? : movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de
Janeiro: Garamond, 2005.
2. Sobre o movimento LGBT no Brasil, ver entrevista da antropóloga Regina Facchini disponível em: http://www.clam.org.br/
publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=21&infoid=260&sid=43
3. Green, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
O Movimento LGBT brasileiro:
a questão da visibilidade na construção de um sujeito político
. 136
A “segunda onda” do movimento homossexual no Brasil corresponde a um período de au-
mento da visibilidade pública da homossexualidade, na década de 1980, com a expansão de
um mercado de bens e serviços destinado ao público homossexual e a chegada da epidemia
da Aids. Foi nesse contexto que atuaram os grupos Triângulo Rosa e Atobá, do Rio de Janeiro,
e o Grupo Gay da Bahia. O objetivo destes grupos, além das atividades comunitárias, era pro-
mover mudanças na sociedade e em diferentes níveis do governo que servissem para diminuir
a discriminação contra os homossexuais. Interessava incidir nas ações de governo, na política
partidária, no âmbito legislativo e em organizações da sociedade civil. Foi o Grupo Gay da
Bahia que coordenou a campanha pela retirada da homossexualidade do Código de Classifi-
cação de Doenças do Inamps. Durante a Constituinte de 1988, foi do Grupo Triângulo Rosa a
articulação do movimento homossexual para reivindicar a inclusão da expressão “orientação
sexual” na Constituição Federal, no artigo que proíbe discriminação por “origem, raça, sexo,
cor e idade”e no artigo que versa sobre os direitos do trabalho. Embora sem sucesso nessa ins-
tância, o combate a esse tipo de discriminação passou a ser incluído nas legislações de vários
estados e municípios.4
Diante do crescimento dos casos de Aids e da demora em ser produzida uma resposta gover-
namental, a exemplo da maioria dos países ocidentais, os militantes homossexuais foram os
gestores das primeiras mobilizações contra a epidemia, tanto no âmbito da assistência solidá-
ria à comunidade,quanto na formulação de demandas para o poder público.No final dos anos
1980, o movimento homossexual cresceu como forma de solução para essa situação, tornando
o Brasil pioneiro na resposta comunitária e governamental à Aids. Com base no acúmulo de
experiência e no conhecimento e acesso à comunidade, os grupos passaram a coordenar pro-
jetos de prevenção financiados por programas estatais de combate à Aids, os quais permitiram
que muitos se organizassem no formato de “organização não-governamental” (ONG). Houve
um aumento do número de grupos e de tipos de organizações e a expansão do movimento
por todos os estados do país.
Nos anos 1990 foram se diferenciando também grupos de gays, lésbicas, travestis, transexuais
e bissexuais, com foco em demandas específicas de cada um desses coletivos. Lembramos as
reflexões promovidas neste Curso sobre os modos complexos com que se articulam gênero e
orientação sexual e como eles se combinam com outros marcadores sociais, produzindo desi-
gualdade. A epidemia da Aids afetou gravemente as comunidades transgênero e de “homens
que fazem sexo com homens” (HSH). Os homens homossexuais conservam certas prerroga-
tivas de gênero, negadas às lésbicas, que aproximam estas últimas do Movimento Feminista.
Existem formas de violência de gênero que avizinham as experiências de mulheres lésbicas e
bissexuais àquelas vividas por travestis, por exemplo. A prostituição representa uma questão
4. VIANNA, Adriana R. B.; LACERDA, Paula. Direitos e políticas sexuais no Brasil: o panorama atual. Rio de Janeiro: CLAM/IMS, 2004.
(...) o Brasil
é pioneiro
na resposta
comunitária e
governamental
à Aids.
. 137
central na agenda política das organizações travestis. O fenômeno da segmentação dos gru-
pos intensificou-se na segunda metade dos anos 1990, acompanhado pela multiplicação das
siglas que representam demandas de reconhecimento de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais (LGBT). Às vezes acusado de produzir uma “sopa de letrinhas”, como lembra Re-
gina Facchini, “esse movimento é, sem dúvida, referência para pensar temas como diferença,
desigualdade, diversidade, identidades”.
Nessa conjuntura também foi produzida uma maior arti-
culação entre os grupos, através da celebração de encon-
tros anuais de organizações ativistas que deram origem, em
1995, à Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis
(ABGLT). Hoje, treze anos depois, a ABGLT é uma rede
nacional de 203 organizações, sendo 141 grupos de gays,
lésbicas, travestis e transexuais, e mais 62 organizações co-
laboradoras voltadas para os direitos humanos e a Aids – a
maior rede LGBT na América Latina.5
Além de um inves-
timento sistemático de esforços no combate à Aids e varia-
das articulações com órgãos públicos, a ABGLT promove
uma série de mudanças no âmbito legislativo e judicial,
orientadas para acabar com diferentes formas de discrimi-
nação e violência contra a população LGBT, notadamente
os projetos de lei 1151/95, de parcerias civis, e 122/2006,
que criminaliza a homofobia.6
Um signo distintivo da fase atual do Movimento LGBT
no Brasil é a conquista de visibilidade pública através das
Paradas que acontecem nas principais cidades de todos os
estados. As Paradas do Orgulho LGBT constituem talvez o
fenômeno social e político mais inovador do Brasil urba-
no, unindo protesto e celebração e retomando, desse modo,
as bandeiras de respeito e solidariedade levantadas pelos
movimentos que reivindicam o direito à livre expressão da
sexualidade como Direito Humano.
5. Visite o website da ABGLT: http://www.abglt.org.br/port/index.php
6. Dicas de leitura sobre projetos de lei tramitados no congresso nacional:
(1) entrevista com o juiz federal Dr. Roger Raupp Rios: http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=41&infoi
d=3162&sid=43 (2) entrevista com o Presidente da Associação Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis:
http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=21&infoid=3630&sid=43
7. Os relatórios da pesquisa realizada em diferentes cidades do Brasil e na América Latina podem ser consultados em http://www.clam.org.br/publique/
cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=57&sid=75
Em 2007 foram realizadas, segundo
a ABGLT, 300 paradas em todo o
país. Da maior delas, a Parada de São
Paulo, participaram, de acordo com
o registro da Prefeitura desta cidade,
3 milhões de pessoas. Com o apoio
de prefeituras locais, de programas
nacionais de Direitos Humanos e de
combate à discriminação e à Aids,
as Paradas do Orgulho LGBT são
freqüentadas não só por gays, lésbi-
cas, bissexuais, travestis e transexuais,
mas também por um alto número
de “simpatizantes”, entre familiares,
amigos e militantes de partidos e
diversos movimentos sociais (de 10 a
quase 40%, segundo dados colhidos
na pesquisa feita pelo Centro Latino-
Americano de Sexualidade e Direitos
Humanos), sendo habitual ver
famílias e pessoas de todas as idades
participando do evento.7
. 138
Em 2008, foi realizada a I Conferência Nacional LGBT com o tema “Direitos Humanos e Po-
líticas Públicas: o caminho para garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
transexuais”. Ao debater como eixos temáticos Direitos Humanos, Saúde, Educação, Justiça e
Segurança Pública, Cultura, Comunicação, Turismo, Trabalho e Emprego, Previdência Social,
Cidades e Esportes, a Conferência Nacional, em consonância com as Conferências Estaduais,
teve como objetivos: 1. Propor as diretrizes para a implementação de políticas públicas e o
plano de promoção da cidadania e dos direitos humanos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis
e transexuais; 2. Avaliar e propor estratégias para fortalecer o Programa Brasil sem Homo-
fobia. Os resultados desta Conferência histórica devem orientar também as nossas práticas
educativas.

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Movimento LGBT brasileiro: a questão da visibilidade na construção de um sujeito político.

  • 1. . 135 No seu livro Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de iden- tidades coletivas nos anos 90, a antropóloga Regina Facchini1 divide as origens do movimento homossexual brasileiro em duas “ondas”, entre fins da década de 70 e os anos 1980.2 Com antecedentes em mobilizações acontecidas em outros países desde fins da década de 1960, e a partir de redes de sociabilidade estabelecidas nas grandes cidades,3 os primeiros grupos militantes homosse- xuais surgiram no Brasil no final dos anos 1970, no contexto da “abertura” política que anunciava o final da ditadura militar.Aliada ao Movimento Femi- nista e ao Movimento Negro, aquela “primeira onda” do Movimento Homos- sexual continha propostas de transformação para o conjunto da sociedade, no sentido de abolir hierarquias de gênero e lutar contra a repressão sexual, fonte de autoritarismo e de produção de violência e desigualdade. Pertenceram a essa fase o grupo Somos de Afirmação Homossexual, de São Paulo, e o jornal Lampião da Esquina, editado no Rio de Janeiro, experiências seminais de or- ganização política alternativa, que promoviam a reflexão em torno da sujeição do indivíduo às convenções de uma sociedade sexista, gerando espaços onde a diversidade sexual podia ser afirmada. 1. Facchini, Regina. Sopa de Letrinhas? : movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90. Rio de Janeiro: Garamond, 2005. 2. Sobre o movimento LGBT no Brasil, ver entrevista da antropóloga Regina Facchini disponível em: http://www.clam.org.br/ publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=21&infoid=260&sid=43 3. Green, James. Além do carnaval: a homossexualidade masculina no Brasil do século XX. São Paulo: Editora UNESP, 2000. O Movimento LGBT brasileiro: a questão da visibilidade na construção de um sujeito político
  • 2. . 136 A “segunda onda” do movimento homossexual no Brasil corresponde a um período de au- mento da visibilidade pública da homossexualidade, na década de 1980, com a expansão de um mercado de bens e serviços destinado ao público homossexual e a chegada da epidemia da Aids. Foi nesse contexto que atuaram os grupos Triângulo Rosa e Atobá, do Rio de Janeiro, e o Grupo Gay da Bahia. O objetivo destes grupos, além das atividades comunitárias, era pro- mover mudanças na sociedade e em diferentes níveis do governo que servissem para diminuir a discriminação contra os homossexuais. Interessava incidir nas ações de governo, na política partidária, no âmbito legislativo e em organizações da sociedade civil. Foi o Grupo Gay da Bahia que coordenou a campanha pela retirada da homossexualidade do Código de Classifi- cação de Doenças do Inamps. Durante a Constituinte de 1988, foi do Grupo Triângulo Rosa a articulação do movimento homossexual para reivindicar a inclusão da expressão “orientação sexual” na Constituição Federal, no artigo que proíbe discriminação por “origem, raça, sexo, cor e idade”e no artigo que versa sobre os direitos do trabalho. Embora sem sucesso nessa ins- tância, o combate a esse tipo de discriminação passou a ser incluído nas legislações de vários estados e municípios.4 Diante do crescimento dos casos de Aids e da demora em ser produzida uma resposta gover- namental, a exemplo da maioria dos países ocidentais, os militantes homossexuais foram os gestores das primeiras mobilizações contra a epidemia, tanto no âmbito da assistência solidá- ria à comunidade,quanto na formulação de demandas para o poder público.No final dos anos 1980, o movimento homossexual cresceu como forma de solução para essa situação, tornando o Brasil pioneiro na resposta comunitária e governamental à Aids. Com base no acúmulo de experiência e no conhecimento e acesso à comunidade, os grupos passaram a coordenar pro- jetos de prevenção financiados por programas estatais de combate à Aids, os quais permitiram que muitos se organizassem no formato de “organização não-governamental” (ONG). Houve um aumento do número de grupos e de tipos de organizações e a expansão do movimento por todos os estados do país. Nos anos 1990 foram se diferenciando também grupos de gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais, com foco em demandas específicas de cada um desses coletivos. Lembramos as reflexões promovidas neste Curso sobre os modos complexos com que se articulam gênero e orientação sexual e como eles se combinam com outros marcadores sociais, produzindo desi- gualdade. A epidemia da Aids afetou gravemente as comunidades transgênero e de “homens que fazem sexo com homens” (HSH). Os homens homossexuais conservam certas prerroga- tivas de gênero, negadas às lésbicas, que aproximam estas últimas do Movimento Feminista. Existem formas de violência de gênero que avizinham as experiências de mulheres lésbicas e bissexuais àquelas vividas por travestis, por exemplo. A prostituição representa uma questão 4. VIANNA, Adriana R. B.; LACERDA, Paula. Direitos e políticas sexuais no Brasil: o panorama atual. Rio de Janeiro: CLAM/IMS, 2004. (...) o Brasil é pioneiro na resposta comunitária e governamental à Aids.
  • 3. . 137 central na agenda política das organizações travestis. O fenômeno da segmentação dos gru- pos intensificou-se na segunda metade dos anos 1990, acompanhado pela multiplicação das siglas que representam demandas de reconhecimento de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Às vezes acusado de produzir uma “sopa de letrinhas”, como lembra Re- gina Facchini, “esse movimento é, sem dúvida, referência para pensar temas como diferença, desigualdade, diversidade, identidades”. Nessa conjuntura também foi produzida uma maior arti- culação entre os grupos, através da celebração de encon- tros anuais de organizações ativistas que deram origem, em 1995, à Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Travestis (ABGLT). Hoje, treze anos depois, a ABGLT é uma rede nacional de 203 organizações, sendo 141 grupos de gays, lésbicas, travestis e transexuais, e mais 62 organizações co- laboradoras voltadas para os direitos humanos e a Aids – a maior rede LGBT na América Latina.5 Além de um inves- timento sistemático de esforços no combate à Aids e varia- das articulações com órgãos públicos, a ABGLT promove uma série de mudanças no âmbito legislativo e judicial, orientadas para acabar com diferentes formas de discrimi- nação e violência contra a população LGBT, notadamente os projetos de lei 1151/95, de parcerias civis, e 122/2006, que criminaliza a homofobia.6 Um signo distintivo da fase atual do Movimento LGBT no Brasil é a conquista de visibilidade pública através das Paradas que acontecem nas principais cidades de todos os estados. As Paradas do Orgulho LGBT constituem talvez o fenômeno social e político mais inovador do Brasil urba- no, unindo protesto e celebração e retomando, desse modo, as bandeiras de respeito e solidariedade levantadas pelos movimentos que reivindicam o direito à livre expressão da sexualidade como Direito Humano. 5. Visite o website da ABGLT: http://www.abglt.org.br/port/index.php 6. Dicas de leitura sobre projetos de lei tramitados no congresso nacional: (1) entrevista com o juiz federal Dr. Roger Raupp Rios: http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=41&infoi d=3162&sid=43 (2) entrevista com o Presidente da Associação Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transgêneros, Toni Reis: http://www.clam.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=21&infoid=3630&sid=43 7. Os relatórios da pesquisa realizada em diferentes cidades do Brasil e na América Latina podem ser consultados em http://www.clam.org.br/publique/ cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=57&sid=75 Em 2007 foram realizadas, segundo a ABGLT, 300 paradas em todo o país. Da maior delas, a Parada de São Paulo, participaram, de acordo com o registro da Prefeitura desta cidade, 3 milhões de pessoas. Com o apoio de prefeituras locais, de programas nacionais de Direitos Humanos e de combate à discriminação e à Aids, as Paradas do Orgulho LGBT são freqüentadas não só por gays, lésbi- cas, bissexuais, travestis e transexuais, mas também por um alto número de “simpatizantes”, entre familiares, amigos e militantes de partidos e diversos movimentos sociais (de 10 a quase 40%, segundo dados colhidos na pesquisa feita pelo Centro Latino- Americano de Sexualidade e Direitos Humanos), sendo habitual ver famílias e pessoas de todas as idades participando do evento.7
  • 4. . 138 Em 2008, foi realizada a I Conferência Nacional LGBT com o tema “Direitos Humanos e Po- líticas Públicas: o caminho para garantir a cidadania de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais”. Ao debater como eixos temáticos Direitos Humanos, Saúde, Educação, Justiça e Segurança Pública, Cultura, Comunicação, Turismo, Trabalho e Emprego, Previdência Social, Cidades e Esportes, a Conferência Nacional, em consonância com as Conferências Estaduais, teve como objetivos: 1. Propor as diretrizes para a implementação de políticas públicas e o plano de promoção da cidadania e dos direitos humanos de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais; 2. Avaliar e propor estratégias para fortalecer o Programa Brasil sem Homo- fobia. Os resultados desta Conferência histórica devem orientar também as nossas práticas educativas.