SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 20
Redação de RTs: tópicos sobre técnica de elaboração textual
                                    Minicurso,7º Workshop SBRT – Bento Gonçalves/RS

Este curso pretende discorrer sobre os padrões propostos para o texto dos produtos
SBRT, em especial a Resposta Técnica, buscando incrementos e melhorias de qualidade a
escrita técnica utilizada.

    Língua X Linguagem

                                               Linguagem: utilização do
              Língua: sistema de signos
                                                   sistema de signos


*Saussurre (1916) enfatiza que as línguas são instituições, manobras de agrupamento.
Acrescento a este olhar que, para a manutenção deste agrupamento, existe a
GRAMÁTICA NORMATIVA. Nela tem-se a “Bíblia” que tenta manter a língua
ordenada e obediente.
Mas, na prática da língua, tal obediência não se contém, já que a maneira como usamos o
código varia e se recria a todo o tempo. Esta prática lingüística denomina-se A
LINGUAGEM.

    O manuseio deste sistema de signos se abre noutras vertentes que nos levam às
     VARIEDADES LINGUÍSTICAS: usos diferentes que se faz da mesma língua.

Variedades linguísticas dependem:

      Da região em que a língua é utilizada;
      Dos costumes do grupo em que o usuário da língua vive;
      Da faixa etária dos falantes;
      Da condição sócio-econômico de quem a utiliza;
      Do grau de escolaridade desenvolvido pelo falante;
      Da intenção do emissor;
      Do contexto ou da situação em que é utilizada;
      Da pessoa a quem se destina a mensagem.




                                                                                      1
Destes, destaco os dois últimos itens como valores principais para se pensar os textos
produzidos para o SBRT:

     Qual o nosso contexto lingüístico?                 Quem é o receptor da nossa
                                                              mensagem?
A RT é um texto produzido sob preceitos
limitadores quanto à sua estrutura, conteúdo e     O cliente SBRT passeia pelos mais
suporte.                                           diversos grupos sociais, econômicos e
       Características de texto científico.        culturais.
       Normas técnicas;                            Numa categorização que leva em
       Suporte limitado.                           conta as relações de negócios, temos:
Aspectos que garantem CREDIBILIDADE DO             EI,     microempresário,    indivíduo-
TEXTO                                              empreendedor, artesão, dentre outros.

Isto nos leva à importância de se perceber e aprender a conciliar os polos:

               TEXTORECEPTOR (leitor/cliente)

 Como produzir uma escrita obediente às normas cultas da língua e acessível a todo tipo
                                     de leitor?

Já que não pode/deve haver alterações quanto ao suporte/estrutura das normas que
garantem nosso contexto linguístico, resta ajustar o máximo possível a maneira como
escrevemos para um maior alcance do público-alvo.

                Como “sintonizar” a linguagem para a Resposta Técnica?

DICAS:

  Lançar mão desinônimos para se livrar de palavras de uso restrito. Buscar equilíbrio
   quanto à pressuposição de conhecimento do leitor sobre termos técnicos.Exemplos:

“...deve-se adotar as boas práticas de fabricação para a obtenção de um produto de
qualidade e inócuo ao consumidor.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).
SUGESTÃO: “...para a obtenção de um produto de qualidade e que não cause dano ao
consumidor.”

“A escama de peixe é um tipo de osso ou cartilagem, disposta sobre a pele do peixe
dando-lhe maior hidrodinâmica e proteção.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).
SUGESTÃO: “...dando-lhe maior proteção e facilitando sua capacidade de
deslocamento na água (hidrodinâmica).


                                                                                          2
“O ácido benzóico (INS 210) é um conservante muito utilizado na indústria
farmacêutica e de alimentos...” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]).
A palavra “conservante” foi perfeitamente utilizada, pois sua escolha ampliou o
entendimento de um possível leitor desconhecedor da substância mencionada.


Ao chegar à indústria, a uva passa por um processo de desengace (separação do engaço
das bagas).
A palavra “desengace” foi muito bem explicada dentro do contexto da sentença.

É importante “prever” o quanto o usuário conhece do assunto tratado para optar ou não
ao uso de determinado conceito/palavra. Sempre que possível, ampliar o entendimento
de “termos restritos” (jargões: linguagem típica de determinado grupo profissional).

Percebe-se, portanto, que pequenos arranjos textuais ampliam a compreensão do texto,
mesmo utilizando a língua culta e suas normas. Aliás, vale ressaltar que o uso da língua
culta permite-nos aproveitar o leque extraordinário de conceitos, sinônimos,
variações verbais, etc. como aliados à escrita simplificada (leia-se: simplificada porque
fluida e não porque simplória ou superficial), em que o leitor não tenha que ir ao
dicionário para saber o significado de alguma palavra ou “desista” do texto por falta de
entendimento.

    Sob um olhar mais poético para as definições de LINGUAGEM, LEITOR,
     TEXTO e outros participantes, vale a leitura do texto “Ler o mundo”, de Affonso
     Romano de Sant’Anna. (Anexo I, destaque).

    O que é texto? Unidade global de comunicação que expressa uma ideia ou trata de
     um assunto determinado.




                                                                                       3
 Tipos de textos
O modo de se estabelecer a interação entre texto e leitor é o que vai determinar otipo
de texto a ser produzido. Isso significa que o tipo é caracterizado pela natureza linguística
de sua construção teórica, ou seja, por seus tempos verbais, aspectos lexicais e sintáticos,
relações entre seus elementos. Os principais tipos textuais são:

Narrativos                                     Discorre sobre fatos, acontecimentos.
                                               Destaca as características. Funciona como
                                               uma fotografia do momento, descrevendo
Descritivos
                                               situações, objetos, pessoas. Faz a palavra
                                               virar imagem.
                                               Estrutura-se com base na argumentação,
Dissertativos                                  exposição de ideias, concordância ou
                                               contestação justificadas.
                                               Indicam procedimentos a serem realizados.
Injuntivos                                     Como por exemplo, as receitas e manuais
                                               de instrução.

Os tipostextuaisaparecem em número limitado, como informado acima. Já os gêneros
textuais estão sempre em constante crescimento quantitativo. Eles estão ligados
diretamente às práticas sociais. Exemplo: carta, bilhete, conferência, e-mail, artigos,
entrevistas, texto científico, reportagem, notícia, nota de falecimento, etc.

Assim, um tipo textual pode aparecer em qualquer gênero textual, da mesma forma que
um único gênero pode conter mais de um tipo textual.

              Quais os tipos e gêneros textuais que abarcam os textos do SBRT?


Percebemos recorrentemente textos meramente informativos (principalmente quanto às
RTPs). Isto se dá principalmente pelo caráter também informativo do texto científico,
contudo este carrega além da informação (que expõe características, dados e formas de
utilização) uma aplicação técnica, comentários e discussões. (Ver Anexo II)




                                                                                           4
 Texto científico
Apesar de todas as regras a serem seguidas na elaboração de um texto científico
parecerem uma série de manias e peculiaridades para os não-iniciados, elas têm como
objetivo padronizar os textos produzidos pelos cientistas/pesquisadores de modo a
tornar a transmissão de informações mais rápida e precisa possível.
Antes de tudo devemos lembrar que o texto científico funciona como um outro texto
qualquer: é necessário que ele tenha começo, meio e fim, seja agradável de ler,
gramaticalmente correto, compreensível, coerente e mantenha conexões lógicas entre as
ideias nele contidas.

O texto científico versa sobre temas que podem ser tratados cientificamente, à luz da
experimentação, do raciocínio lógico, da análise, da aplicação de um método/técnica.

Seu objetivo é expor informações comprovadas ou passíveis de comprovação, divulgar
ideias próprias ou de outrem, partilhar um saber, informar.
Seu estilo é marcado pela objetividade, precisão, clareza, concisão, simplicidade e
formalidade.
Uma característica comum a praticamente todos os textos científicos é a organização nas
seguintes partes: Introdução, Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e
Conclusões. Além destes, o Título, Resumo, Palavras-chave, Figuras e Tabelas,
Agradecimentos e Referências também compõem um texto científico.
As Respostas Técnicas suportam a maior parte destas características do texto científico.
Contudo, as classificações acima citadas se adaptamda seguinte forma: Título, Resumo,
Palavras-chave, Assunto, Demanda, Solução Apresentada, Conclusões e Recomendações
e Fontes Consultadas.
A seguir, relações funcionais das partes do texto científico, elaborado para a Resposta
Técnica:
                           Texto Científico     X   Resposta Técnica
                                       Título      Título
                                     Resumo        Resumo
                              Palavras-chave       Palavras-chave
                                  Introdução       Assunto
                                   Objetivos       Demanda
       Materiais e métodos, Figuras e Tabelas      Solução Apresentada
         Resultados, Discussão e conclusões        Conclusões e Recomendações
                                 Referências       Fontes consultadas


                                                                                       5
o Título
O título de um texto científico deve ser, ao mesmo tempo, informativo e curto, ou seja,
deve relatar em poucas palavras do que trata o texto.
Exemplo: "Diversidade de libélulas em lagoa no litoral sul do Estado de São Paulo,
Brasil". Note que neste exemplo o assunto do estudo (diversidade), o objeto que foi
estudado (libélulas) e a localização geográfica (litoral sul de São Paulo, Brasil) estão
claramente informados.

Desta maneira, podemos pensar um título com a seguinte estrutura:

  Assunto do estudo + Objeto do estudo + Especificações (complementação do
 objeto do estudo, localização geográfica, estado/forma/detalhamento de um produto)

Exemplos:

                              CONSERVANTES EM SUCOS ENVASADOS
Título
                      Conservante        Sucos       Envasados
                                         Objeto do   Especificação do
Partes do título      Assunto do estudo
                                         estudo      produto tratado

                             FORNECEDORES DE ROUPAS MASCULINA
Título
                      Fornecedores       Roupas     Masculinas
                                         Objeto do  Detalhamento do
Partes do título      Assunto do estudo
                                         estudo     produto tratado

                              CARTEIRA DE EMBALAGEM LONGA VIDA
Título                ???? (Produção/confecção, Carteira de
                                                            Longa vida
                      venda, compra...)         embalagem
                                                Objeto do   Detalhamento do
Partes do título      Assunto do estudo
                                                estudo      produto tratado

                            EMBALAGEM PARA COCO RALADO SECO
Título
                      Embalagem         Coco ralado seco ??????
                                        Objeto do        Especificação do
Partes do título      Assunto do estudo
                                        estudo           produto tratado




                                                                                       6
o Resumo
Geralmente, os textos científicos vêm acompanhados de um resumo, que é a síntese dos
pontos relevantes do trabalho, redigido pelo próprio autor. É a partir deste que muitos
cientistas selecionam os artigos de interesse. No caso do SBRT, o resumo compõe junto
com o título e a solicitação, o primeiro contato contextual do usuário com a Resposta
Técnica:
Na RT, a elaboração de um resumo também requer atenção às idéias centrais do texto,
contudo restritas à identificação do objeto, seu motivo de ser e sua aplicação.
Estruturalmente, necessita ser preciso, contudo merece bastante atenção para as palavras
que o compõe, pois o resumo representa semanticamente a “manchete”/”anúncio” do
texto que se segue.

      O quê / quem
      Onde / Por que / Como

Exemplo de resumos, retirados de produtos SBRT:

Indica a Portaria nº 327/1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da
Saúde, determinando aos estabelecimentos produtores de Saneantes Domissanitários, o
cumprimento das diretrizes dos Regulamentos Técnicos - Boas Práticas de Fabricação e
Controle.

Informações sobre criação de peixes ornamentais, incluindo estrutura, qualidade da água e
alimentação.

Informações sobre espaçamento, período para plantio e a produção anual média para o
pomelo.


   o Palavras-chave: GTTE

   o Assunto: GTTE

   o Demanda: Necessita, sempre que possível e necessário, ser refinada com o cliente
     requer uma revisão ortográfica e gramatical.




                                                                                        7
o Solução apresentada

         Descreve o tipo de estudo/delineamento;
         Consiste em explicitar o que foi demandado pelo cliente em tópicos,
            subitens ou esquemas;
         Descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a
            percepção adequada e completa da pesquisa realizada de forma clara e
            precisa, sem interpretações pessoais;
         Quando pertinente, deve-se incluir ilustrações como quadros, tabelas e
            figuras (gráficos, mapas, fotos,etc., constituintes da linguagem não verbal);
         Atenção à utilização arbitrária de linguagem não verbal no texto científico. A
            imagem deve comunicar-se com o texto verbal complementando a
            informação escrita e/ou detalhando processos e procedimentos. A simples
            inserção de imagens entre parágrafos sem conexão com os discursos que o
            circudam, fragmentam o entendimento global do texto pelo leitor.


  o Conclusões e recomendações

         Resumir, apontar e reforçar as idéias principais e as contribuições
            proporcionadas pelo trabalho anteriormente descrito e analisado;
         Aconclusão deve ser analítica, interpretativa, e incluir argumentos
            explicativos. Deve ser capaz de fornecer evidências da solução da demanda,
            através da pesquisa realizada;

Dica: este é o momento ideal para se voltar à demanda e verificar se nenhum aspecto do
                   questionamento feito pelo cliente foi esquecido.

  o Fontes consultadas: observar os pressupostos na IT 02




                                                                                            8
Referências

BAGNO, Marcos. É preciso acabar com a cultura do erro. Revista Caros Amigos,
número 131, fev. 2008.

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma
proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. Ed. Atual: São Paulo, 2005.

COSCARELLI, C. V.Leitura em ambiente multimídia e a produção de inferências.In:
GUIMARÃES, Ângelo de M. (Ed.) Anais do VII Simpósio Brasileiro de Informática
na Educação. Belo Horizonte: DCC/UFMG, nov. 1996, p. 449-456.


POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de
Letras, 1996.


SANT’ANNA, Affonso Romano de. Ler o mundo. Editora Global, 2011.

SARMENTO, Leila Lauar; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática,
produção de texto. Ed. Moderna: São Paulo, 2004.

SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 2006.

SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS. [Respostas utilizadas].
Disponível em: <http://www.respostatecnica.org.br>. Acesso em: 18 novembro de
2011.




                                                                                       9
ANEXOS

Anexo I: Crônica

Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não.
Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a
propósito das recentes eleições, “que é preciso entender o recado das urnas”. Ou seja: as urnas falam, emitem
mensagens. Cartola - o sambista- dizia “as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti”.
Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho
de “cheiro de povo”. E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias
fotos com cheiro de povo.

Paixão de ler. Ler a paixão.
Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem
um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia .
O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieroglifo,
dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante deles?

Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24
letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo?
Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela
paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia.

O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos
sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os
lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra.

Diz-se que Marx pretendeu ler o inconsciente da história e descobrir os mecanismos que nela estavam
escritos/inscritos. Portanto, um economista também lê a sociedade. Os empresários e executivos, por sua vez, se
acostumaram a falar de "qualidade total". Mas seria mais apropriado falar de "leitura total". Só uma leitura não
parcial, não esquizofrênica do real pode nos ajudar na produtividade dos significados. Por isto, é legítimo e
instigante falar não apenas de uma "leitura da economia", mas de algo novo e provocador: a "economia da
leitura".

Não é só quem lê um livro, que lê.
Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto
natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim
italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas
grutas e jorros d’água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e
a água, o movimento e a eternidade.

O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade.
Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando
expressividade às comunidades.
Tudo é texto. Tudo é narração.

O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas,
na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas camadas acumuladas num simples terreno. Um


                                                                                                                   10
desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria
referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas.

Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na
verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por
nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor.

Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”. Um arqueólogo lê nas ruínas a
história antiga.
Não é só Sherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é
narração. Tudo é narração. Até o quadro “Branco sobre o branco” de Malevich conta uma estória.

Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos
títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o
“Finnegans Wake” de James Joyce: “o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita”.

Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos
lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas
com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa
bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico.

A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa
arrogância o desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e
esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é também aquele que a sociedade letrada refugou. De
resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto?

Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a
qualidade do leite, da vaca, e até (imagino) lerem o pensamento de quem está assistindo à cena. Aparelhos
sofisticadíssimos leem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S., mas os chefes
de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água, além de infecta,
está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos.

É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas
vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes leem no baralho, copo d’água, búzios.Tudo
é leitura. Tudo é decifração.
Ler é uma forma de escrever com mão alheia.

Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem,
quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também.

                          A crônica "Ler o Mundo", de Afonso Romano de Sant'Anna, é a introdução do livro de mesmo nome.




                                                                                                                     11
Anexo II: Exemplo de RT com características somente informativas

O Ácido Para-Aminobenzóico (PABA), também conhecido como vitamina H1, é tido como uma vitamina do
complexo B, de relevante importância para a síntese do ácido fólico. De natureza hidrossolúvel, não pode ser
sintetizado pelo organismo. É produzido por bactérias intestinais, estando ligado à produção de sulfas e
antibióticos. A deficiência dessa substância pode causar fadiga, prisão de ventre, irritabilidade, e
embranquecimento dos cabelos. Também pode ser encontrado em fontes naturais como: fígado, gérmen de trigo,
cereais integrais e ovos (ALVARENGA, [200-?]).
Alvarenga ([200-?]) também aponta outras propriedades adicionais do PABA, tais como: auxiliar no combate ao
embranquecimento dos cabelos, vitiligo, queimaduras solares, depressão, esquizofrenia, e até em doenças de
infertilidade feminina. Contudo, a aplicação mais conhecida é como protetor solar, colaborando na proteção dos
raios UV.

(Figura 1- Fórmula do PABA)

O ácido p-aminobenzóico foi o primeiro filtro a ser patenteado, em 1943, durante a 2ª Guerra Mundial, pelos
EUA. O exército norte-americano desenvolveu formulações com protetores solares para utilização de suas tropas,
o que permitiu que o país desenvolvesse importantes estudos na área de fotoproteção (SHAATH, 1997 apud
Silva, 2007).
Na década de 70 o uso do PABA se proliferou nas formulações de protetor solar, contudo começaram a perceber
que ocorria um elevado número de reações alérgicas a ele, o que fez com que fosse removido como ingrediente do
protetor solar comum. Além de potencialmente causar alergias, o PABA pode ser um potencial cancerígeno,
segundo pesquisas dos Cosméticos SkinDeep. Por conta desse alarde, muitas empresas de protetores solares
fazem questão de colocar nos rótulos que sua formulação é PABA free, ou seja, que não possuem essa substância,
afirmação mais ligada ao marketing, já que atualmente a maioria já não utiliza PABA (GERSTEIN, 2010).
O PABA faz parte da categoria dos primeiros filtros solares, que protegiam a pele da radiação UVB, mas eram
capazes de causar os eritemas. Atualmente com os avanços na área da bioquímica e fotobiologia utilizam-se
compostos capazes de absorver na região do UVA, ou seja, formulações que aumentam o espectro de absorção
(ROSEN, 2003 apud SANTOS, 2007).
Além da divisão pelo espectro de absorção, há também a classificação dos filtros em dois grandes grupos: os
químicos e os físicos. Os filtros químicos são aqueles que absorvem a radiação UV e a emitem na região do
infravermelho, acarretando a sensação de calor. Nesse tipo de filtro há a presença de alguns derivados de PABA.
Já os físicos são compostos inorgânicos que conseguem refletir ou absorver a radiação UV, tendo como principais
representantes: o dióxido de titânio e o óxido de zinco, ambos atualmente fabricados em partículas microfinas
para terem uma boa aceitabilidade dos consumidores (SHAATH, 1997 apud SANTOS, 2007).
A eficácia fotoprotetora de um filtro solar depende da conjunção de vários fatores. Primeiro, a questão da adesão
do filtro solar na pele, que deve formar um filme protetor, permitindo um grande acúmulo do filtro na pele, mas
com uma permeação mínima para a corrente sanguínea.
Outro fator é a quantidade a ser aplicada, já que segundo testes, a maioria das pessoas não passa a quantidade
suficiente. Depois, fatores como pH e polaridade podem interferir na absorção do filtro. Além disso, devem ser
feitos estudos de estabilidade e de como o filtro interage com a pele. Por fim, o fator mais trabalhado
recentemente, a durabilidade do produto em condições adversas, tais como água e areia (SANTOS 2007).
Atualmente, depois de comprovado o risco de causar câncer de pele o PABA não é mais utilizado nos filtros
solares, apenas seus derivados, que não oferecem riscos. Diante disso, o PABA geralmente está sendo

                                                                                                              12
administrado oralmente em complexos vitamínicos, em forma de pílula para o tratamento de sintomas
gastrointestinais, ou mesmo o seu sal de potássio é usado como remédio para algumas doenças de pele (SILVA;
PEZZA, [200-?]).

Conclusões e recomendações

Recomenda-se a visita ao site de Descritores em Ciências da Saúde, para informações mais técnicas sobre o
PABA:<http://decs.bvs.br/cgi-
bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgibin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page
=homepage&interface_language=p&search_language=p&search_exp=PABA>
Recomenda-se a visita ao site da ANVISA, para obter informações sobre as substâncias
permitidas em filtros solares:
<http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/mercosul/cosmeticos/71_00.htm>

                                                                                    RT publicada no site SBRT




                                                                                                          13
Anexo III: Novo Acordo Ortográfico
Após várias tentativas de se unificar a ortografia da língua portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009 passou a
vigorar no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de
transição para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2012.

Algumas modificações foram feitas no sentido de promover a união e proximidade dos países que têm o
português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor
Leste, Brasil e Portugal.

No entanto, não é necessário que haja aversão às alterações, pois são simples e fáceis de serem apreendidas! Além
disso, há um prazo de adaptação que dá calmaria a todo processo de mudança!

O que mudou na ortografia brasileira

O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografia da língua
portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por
Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por
Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995.

Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da
língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa
como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países.

Este guia foi elaborado de acordo com a 5.ª edição doVocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado
pela Academia Brasileira de Letras.

Mudanças no alfabeto

O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser:

                                               ABCDEFGHIJ
                                               KLMNOPQRS
                                                TUVWXYZ

As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas
em várias situações. Por exemplo:

      a. na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt);
      b. na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, windsurf,
         kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano.




                                                                                                                14
Trema

Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos
gruposgue, gui, que, qui.

                      Como era                                                    Como fica
agüentar                                                 aguentar
argüir                                                   arguir
bilíngüe                                                 bilíngue
cinqüenta                                                cinquenta
delinqüente                                              delinquente
eloqüente                                                eloquente
ensangüentado                                            ensanguentado
eqüestre                                                 equestre
freqüente                                                frequente
lingüeta                                                 lingueta
lingüiça                                                 linguiça
qüinqüênio                                               quinquênio
sagüi                                                    sagui
seqüência                                                sequência
seqüestro                                                sequestro
tranqüilo                                                tranquilo

Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano.

Mudanças nas regras de acentuação

1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico
na penúltima sílaba).

                       Como era                                                    Como fica
alcalóide                                                   alcaloide
alcatéia                                                    alcateia
andróide                                                    androide
apóia                                                       (verbo apoiar)apoia
apóio                                                       (verbo apoiar)apoio
asteróide                                                   asteroide
bóia                                                        boia

                                                                                                              15
celulóide                                                     celuloide
clarabóia                                                     claraboia
colméia                                                       colmeia
Coréia                                                        Coreia
debilóide                                                     debiloide
epopéia                                                       epopeia
estóico                                                       estoico
estréia                                                       estreia
estréio (verbo estrear)                                       estreio
geléia                                                        geleia
heróico                                                       heroico
idéia                                                         ideia
jibóia                                                        jiboia
jóia                                                          joia
odisséia                                                      odisseia
paranóia                                                      paranoia
paranóico                                                     paranoico
platéia                                                       plateia
tramóia                                                       tramoia

Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras
oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em eis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, heróis, dói (verbo doer),
sóis etc.

2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo.

                          Como era                                            Como fica
baiúca                                                     baiuca
bocaiúva                                                   bocaiuva*
cauíla                                                     cauila**
*bacaiuva = certo tipo de palmeira / **cauila = avarento

Atenção:

                      a. se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos des), o
                         acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí;
                      b. se o i ou o uforem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Exemplos:
                         guaíba, Guaíra.



                                                                                                                16
3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êeme ôo(s).

                                 Como era                                                   Como fica
abençôo                                                                        abençoo
crêem (verbo crer)                                                             creem
dêem (verbo dar)                                                               deem
dôo (verbo doar)                                                               doo
enjôo                                                                          enjoo
lêem (verbo ler)                                                               leem
magôo (verbo magoar)                                                           magoo
perdôo (verbo perdoar)                                                         perdoo
povôo (verbo povoar)                                                           povoo
vêem (verbo ver)                                                               veem
vôos                                                                           voos
zôo                                                                            zoo

4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e
pêra/pera.

                         Como era                                                  Como fica
Ele pára o carro.                                         Elepara o carro.
Ele foi ao pólo Norte.                                    Ele foi ao polo Norte.
Ele gosta de jogar pólo.                                  Ele gosta de jogar polo.
Esse gato tem pêlos brancos.                              Esse gato tempelos brancos.
Comi uma pêra.                                            Comi uma pera.

Atenção:

- Permanece o acento diferencial em pôde/pode.Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do
indicativo), na 3ª pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3ª pessoa do singular.
Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode.

- Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na
estante que foi feitapor mim.

- Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verboster evir, assim como de seus derivados
(manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos:

Ele tem dois carros. / Eles têmdois carros.
Elevemde Sorocaba. / Elesvêmde Sorocaba.
Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra.

                                                                                                                 17
Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes.
Ele detém o poder. / Eles detêm o poder.
Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas.

- É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do
acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo?

5. Não se usa mais o acento agudo no utônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do
indicativo dos verbosarguireredarguir.

6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados emguar,quarequir, como aguar, averiguar, apaziguar,
desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do
presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja:

 a. se forem pronunciadas comaouitônicos, essas formas devem ser acentuadas.Exemplos:
verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem.
verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam.

b. se forem pronunciadas comutônico, essas formas deixam de ser acentuadas.Exemplos (a vogal sublinhada é
   tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras):
   verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem.
   verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam.
                               Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela comaei tônicos.

Uso do hífen com compostos

1. Usa-se o hífen nas palavras compostas que não apresentam elementos de ligação. Exemplos: guarda-chuva,
arco-íris, boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro,
bate-boca.

*Exceções: Não se usa o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, comogirassol,
madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, paraquedismo.

2. Usa-se o hífen em compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação. Exemplos:
reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, cri-cri, glu-glu, rom-rom, pingue-pongue, zigue-zague,
esconde-esconde, pega-pega, corre-corre.

3. Não se usa o hífen em compostos que apresentam elementos de ligação. Exemplos: pé de moleque, pé de
vento, pai de todos, dia a dia, fim de semana, cor de vinho, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de
sogra.

Incluem-se nesse caso os compostos de base oracional. Exemplos: maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz
que, deus me livre, deus nos acuda, cor de burro quando foge, bicho de sete cabeças, faz de conta.

*Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-
roupa.

4. Usa-se o hífen nos compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo. Exemplos: gota-d'água, pé-
d'água.




                                                                                                                18
5. Usa-se o hífen nas palavras compostas derivadas de topônimos (nomes próprios de lugares), com ou sem
elementos de ligação.

Exemplos:

Belo Horizonte -belo-horizontino
Porto Alegre -porto-alegrense
Mato Grosso do Sul -mato-grossense-do-sul
Rio Grande do Norte -rio-grandense-do-norte
África do Sul -sul-africano

6. Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies animais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos,
raízes, sementes), tenham ou não elementos de ligação. Exemplos: bem-te-vi, peixe-espada, peixe-do-paraíso,
mico-leão-dourado, andorinha-da-serra, lebre-da-patagônia, erva-doce, ervilha-de-cheiro, pimenta-do-reino,
peroba-do-campo, cravo-da-índia.

Obs.: não se usa o hífen, quando os compostos que designam espécies botânicas e zoológicas são empregados
fora de seu sentido original. Observe a diferença de sentido entre os pares:

a)bico-de-papagaio(espécie de planta ornamental) -bico de papagaio(deformação nas vértebras).

b)olho-de-boi(espécie de peixe) -olho de boi(espécie de selo postal).Uso do hífen com prefixos

As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos (anti, super, ultra, sub etc.)
ou por elementos que podem funcionar como prefixos (aero, agro, auto, eletro, geo, hidro, macro, micro, mini,
multi, neo etc.).

Casos gerais

        1. Usa-se o hífen diante de palavra iniciada
           porh. Exemplos:
                                                                      3. Não se usa o hífen se o prefixo terminar
        anti-higiênico                                                   com letra diferente daquela com que se
        anti-histórico                                                   inicia a outra palavra. Exemplos:
        macro-história
                                                                      Autoescola
        mini-hotel                                                    Antiaéreo
        proto-história                                                Intermunicipal
        sobre-humano                                                  Supersônico
        super-homem                                                   Superinteressante
        ultra-humano                                                  Agroindustrial
                                                                      Aeroespacial
                                                                      semicírculo
        2. Usa-se o hífen se o prefixo terminar
           com a mesma letra com que se inicia a
           outra palavra. Exemplos:                          *Se o prefixo terminar por vogal e a outra palavra
                                                             começar porrous, dobram-se essas letras. Exemplos:
       micro-ondas
                                                                      Minissaia
       anti-inflacionário                                             Antirracismo
       sub-bibliotecário                                              Ultrassom
       inter-regional                                                 semirreta
Casos particulares

                                                                                                                19
1. Com os prefixossubesob, usa-se o hífen                 a palavra seguinte começar comrous,
       também diante de palavra iniciada porr.                dobram-se essas letras. Exemplos:
       Exemplos:                                              Coobrigação
       sub-região                                             Coedição
       sub-reitor                                             Coeducar
       sub-regional                                           Cofundador
       sob-roda                                               Coabitação
    2. Com os prefixoscircumepan, usa-se o hífen              Coerdeiro
       diante de palavra iniciada porm,nevogal.               Correu
       Exemplos:                                              Corresponsável
       circum-navegação                                    5. Com os prefixospreere, não se usa o hífen,
       pan-americano                                          mesmo diante de palavras começadas pore.
    3. Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem,                Exemplos:
       além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice.               Preexistente
       Exemplos:                                              Preelaborar
       além-mar / além-túmulo / aquém-mar / ex-               Reescrever
       aluno / ex-diretor / ex-prefeito / ex-                 Reedição
       presidente / pós-graduação / pré-história /         6. Na formação de palavras comab,obead,
       pré-vestibular / recém-casado / recém-                 usa-se o hífen diante de palavra começada
       nascido / sem-terra / vice-rei                         porb,dour. Exemplos:
    4. O prefixocojunta-se com o segundo                      ad-digital
       elemento, mesmo quando este se inicia                  ad-renal
       poroouh. Neste último caso, corta-se oh. Se            ob-rogar
                                                              ab-rogar

Outros casos do uso do hífen
   1. Não se usa o hífen na formação de palavras                capim-açu / amoré-guaçu / anajá-mirim
       comnãoequase. Exemplos:                             4. Usa-se o hífen para ligar duas ou mais
       (acordo de)não agressão                                  palavras que ocasionalmente se combinam,
       (isto é um)quase delito                                  formando não propriamente vocábulos, mas
   2. Commal*, usa-se o hífen quando a palavra                  encadeamentos vocabulares. Exemplos:
       seguinte começar por vogal,houl. Exemplos:               ponte Rio-Niterói / eixo Rio-São Paulo
       mal-entendido / mal-estar / mal-humorado        5. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição
       mal-limpo                                       de uma palavra ou combinação de palavras coincidir
* Quandomalsignifica doença, usa-se o hífen se não     com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte.
houver elemento de ligação. Exemplo: mal-francês. Se
houver elemento de ligação, escreve-se sem o hífen.    Exemplos:
Exemplos:mal de lázaro, mal de sete dias.                       Na cidade, conta-
    3. Usa-se o hífen com sufixos de origem tupi-               -se que ele foi viajar.
       guarani que representam formas adjetivas,                O diretor foi receber os ex-
       como açu, guaçu, mirim. Exemplos:                        -alunos




                                                                                                            20

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Planificacao anual português8ano cascais
Planificacao anual português8ano cascaisPlanificacao anual português8ano cascais
Planificacao anual português8ano cascaisMafalda Sadio
 
Redação nota 1000 no enem 2009
Redação nota 1000 no enem 2009Redação nota 1000 no enem 2009
Redação nota 1000 no enem 2009ma.no.el.ne.ves
 
Material que será usado nos dias 23 e 24
Material que será usado nos dias 23 e 24Material que será usado nos dias 23 e 24
Material que será usado nos dias 23 e 24josivaldopassos
 
Manual teccomunicação
Manual teccomunicaçãoManual teccomunicação
Manual teccomunicaçãoAndré Vasques
 
05. produção, circulação e recepção de textos
05. produção, circulação e recepção de textos05. produção, circulação e recepção de textos
05. produção, circulação e recepção de textosma.no.el.ne.ves
 
Redação nota 1000 no enem 2008
Redação nota 1000 no enem 2008Redação nota 1000 no enem 2008
Redação nota 1000 no enem 2008ma.no.el.ne.ves
 
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...universigatas
 
Contexto de produção, circulação e recepção de textos
Contexto de produção, circulação e recepção de textosContexto de produção, circulação e recepção de textos
Contexto de produção, circulação e recepção de textosma.no.el.ne.ves
 
2.3.1 descrição, narração e dissertação
2.3.1 descrição, narração e dissertação2.3.1 descrição, narração e dissertação
2.3.1 descrição, narração e dissertaçãokeliviezzi
 

Mais procurados (10)

Planificacao anual português8ano cascais
Planificacao anual português8ano cascaisPlanificacao anual português8ano cascais
Planificacao anual português8ano cascais
 
Generos textuais - Notícia
Generos textuais - NotíciaGeneros textuais - Notícia
Generos textuais - Notícia
 
Redação nota 1000 no enem 2009
Redação nota 1000 no enem 2009Redação nota 1000 no enem 2009
Redação nota 1000 no enem 2009
 
Material que será usado nos dias 23 e 24
Material que será usado nos dias 23 e 24Material que será usado nos dias 23 e 24
Material que será usado nos dias 23 e 24
 
Manual teccomunicação
Manual teccomunicaçãoManual teccomunicação
Manual teccomunicação
 
05. produção, circulação e recepção de textos
05. produção, circulação e recepção de textos05. produção, circulação e recepção de textos
05. produção, circulação e recepção de textos
 
Redação nota 1000 no enem 2008
Redação nota 1000 no enem 2008Redação nota 1000 no enem 2008
Redação nota 1000 no enem 2008
 
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...
TRAVAGLIA : MÉTODOS USADOS PELO AUTOR PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM NAS SUAS SÉR...
 
Contexto de produção, circulação e recepção de textos
Contexto de produção, circulação e recepção de textosContexto de produção, circulação e recepção de textos
Contexto de produção, circulação e recepção de textos
 
2.3.1 descrição, narração e dissertação
2.3.1 descrição, narração e dissertação2.3.1 descrição, narração e dissertação
2.3.1 descrição, narração e dissertação
 

Semelhante a Técnicas para aprimorar a redação de Respostas Técnicas (RTs

2ª série - LP 20.pptx
2ª série - LP 20.pptx2ª série - LP 20.pptx
2ª série - LP 20.pptxGoisTec
 
Slide 04 - Comunicação..pdf
Slide 04  - Comunicação..pdfSlide 04  - Comunicação..pdf
Slide 04 - Comunicação..pdfKarinyRocha4
 
Apresentação cetam 2023.pptx
Apresentação cetam 2023.pptxApresentação cetam 2023.pptx
Apresentação cetam 2023.pptxjoicisilva4
 
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptx
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptxAula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptx
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptxJailtonLira2
 
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteAula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteFrancinete Santos
 
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteAula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteFrancinete Santos
 
Linguagem de especialidade
Linguagem de especialidadeLinguagem de especialidade
Linguagem de especialidadeclaudia murta
 
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.ppt
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.pptA construção dos sentidos - Denotação e Conotação.ppt
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.pptCaroline Assis
 
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdf
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdfPLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdf
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdfssuser3646a1
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Períodovanda300
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Períodovanda300
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Períodovanda300
 
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos Costa
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos CostaFatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos Costa
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos CostaSabrina Dará
 
ideias principais das secudnarias.pdf
ideias principais das secudnarias.pdfideias principais das secudnarias.pdf
ideias principais das secudnarias.pdfKarlianaArruda1
 

Semelhante a Técnicas para aprimorar a redação de Respostas Técnicas (RTs (20)

Os Textos Técnicos e Científicos em Uma abordagem Científica
Os Textos Técnicos e Científicos em Uma abordagem CientíficaOs Textos Técnicos e Científicos em Uma abordagem Científica
Os Textos Técnicos e Científicos em Uma abordagem Científica
 
2ª série - LP 20.pptx
2ª série - LP 20.pptx2ª série - LP 20.pptx
2ª série - LP 20.pptx
 
Slide 04 - Comunicação..pdf
Slide 04  - Comunicação..pdfSlide 04  - Comunicação..pdf
Slide 04 - Comunicação..pdf
 
Apresentação cetam 2023.pptx
Apresentação cetam 2023.pptxApresentação cetam 2023.pptx
Apresentação cetam 2023.pptx
 
Textos expositivos explicativos
Textos expositivos explicativosTextos expositivos explicativos
Textos expositivos explicativos
 
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptx
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptxAula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptx
Aula_4_LN_LA_LD_2015 (3) (1).pptx
 
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteAula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
 
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francineteAula metodologia da pesquisa_profa_francinete
Aula metodologia da pesquisa_profa_francinete
 
Linguagem de especialidade
Linguagem de especialidadeLinguagem de especialidade
Linguagem de especialidade
 
2W PORTUG JENIFA.docx
2W PORTUG JENIFA.docx2W PORTUG JENIFA.docx
2W PORTUG JENIFA.docx
 
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.ppt
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.pptA construção dos sentidos - Denotação e Conotação.ppt
A construção dos sentidos - Denotação e Conotação.ppt
 
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdf
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdfPLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdf
PLANEJAMENTO 7º ANO (2023).pdf
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
 
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
Sequência Pedagógica 1  2010-11  1º PeríodoSequência Pedagógica 1  2010-11  1º Período
Sequência Pedagógica 1 2010-11 1º Período
 
Sequência 1
Sequência 1Sequência 1
Sequência 1
 
Seq.1
Seq.1Seq.1
Seq.1
 
Seq.1
Seq.1Seq.1
Seq.1
 
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos Costa
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos CostaFatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos Costa
Fatores de textualidade na produção textual - Daniela dos Santos Costa
 
ideias principais das secudnarias.pdf
ideias principais das secudnarias.pdfideias principais das secudnarias.pdf
ideias principais das secudnarias.pdf
 

Técnicas para aprimorar a redação de Respostas Técnicas (RTs

  • 1. Redação de RTs: tópicos sobre técnica de elaboração textual Minicurso,7º Workshop SBRT – Bento Gonçalves/RS Este curso pretende discorrer sobre os padrões propostos para o texto dos produtos SBRT, em especial a Resposta Técnica, buscando incrementos e melhorias de qualidade a escrita técnica utilizada.  Língua X Linguagem Linguagem: utilização do Língua: sistema de signos sistema de signos *Saussurre (1916) enfatiza que as línguas são instituições, manobras de agrupamento. Acrescento a este olhar que, para a manutenção deste agrupamento, existe a GRAMÁTICA NORMATIVA. Nela tem-se a “Bíblia” que tenta manter a língua ordenada e obediente. Mas, na prática da língua, tal obediência não se contém, já que a maneira como usamos o código varia e se recria a todo o tempo. Esta prática lingüística denomina-se A LINGUAGEM.  O manuseio deste sistema de signos se abre noutras vertentes que nos levam às VARIEDADES LINGUÍSTICAS: usos diferentes que se faz da mesma língua. Variedades linguísticas dependem:  Da região em que a língua é utilizada;  Dos costumes do grupo em que o usuário da língua vive;  Da faixa etária dos falantes;  Da condição sócio-econômico de quem a utiliza;  Do grau de escolaridade desenvolvido pelo falante;  Da intenção do emissor;  Do contexto ou da situação em que é utilizada;  Da pessoa a quem se destina a mensagem. 1
  • 2. Destes, destaco os dois últimos itens como valores principais para se pensar os textos produzidos para o SBRT: Qual o nosso contexto lingüístico? Quem é o receptor da nossa mensagem? A RT é um texto produzido sob preceitos limitadores quanto à sua estrutura, conteúdo e O cliente SBRT passeia pelos mais suporte. diversos grupos sociais, econômicos e Características de texto científico. culturais. Normas técnicas; Numa categorização que leva em Suporte limitado. conta as relações de negócios, temos: Aspectos que garantem CREDIBILIDADE DO EI, microempresário, indivíduo- TEXTO empreendedor, artesão, dentre outros. Isto nos leva à importância de se perceber e aprender a conciliar os polos: TEXTORECEPTOR (leitor/cliente) Como produzir uma escrita obediente às normas cultas da língua e acessível a todo tipo de leitor? Já que não pode/deve haver alterações quanto ao suporte/estrutura das normas que garantem nosso contexto linguístico, resta ajustar o máximo possível a maneira como escrevemos para um maior alcance do público-alvo. Como “sintonizar” a linguagem para a Resposta Técnica? DICAS:  Lançar mão desinônimos para se livrar de palavras de uso restrito. Buscar equilíbrio quanto à pressuposição de conhecimento do leitor sobre termos técnicos.Exemplos: “...deve-se adotar as boas práticas de fabricação para a obtenção de um produto de qualidade e inócuo ao consumidor.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]). SUGESTÃO: “...para a obtenção de um produto de qualidade e que não cause dano ao consumidor.” “A escama de peixe é um tipo de osso ou cartilagem, disposta sobre a pele do peixe dando-lhe maior hidrodinâmica e proteção.” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]). SUGESTÃO: “...dando-lhe maior proteção e facilitando sua capacidade de deslocamento na água (hidrodinâmica). 2
  • 3. “O ácido benzóico (INS 210) é um conservante muito utilizado na indústria farmacêutica e de alimentos...” (SBRT, 2011. RT publicada. [Grifo meu]). A palavra “conservante” foi perfeitamente utilizada, pois sua escolha ampliou o entendimento de um possível leitor desconhecedor da substância mencionada. Ao chegar à indústria, a uva passa por um processo de desengace (separação do engaço das bagas). A palavra “desengace” foi muito bem explicada dentro do contexto da sentença. É importante “prever” o quanto o usuário conhece do assunto tratado para optar ou não ao uso de determinado conceito/palavra. Sempre que possível, ampliar o entendimento de “termos restritos” (jargões: linguagem típica de determinado grupo profissional). Percebe-se, portanto, que pequenos arranjos textuais ampliam a compreensão do texto, mesmo utilizando a língua culta e suas normas. Aliás, vale ressaltar que o uso da língua culta permite-nos aproveitar o leque extraordinário de conceitos, sinônimos, variações verbais, etc. como aliados à escrita simplificada (leia-se: simplificada porque fluida e não porque simplória ou superficial), em que o leitor não tenha que ir ao dicionário para saber o significado de alguma palavra ou “desista” do texto por falta de entendimento.  Sob um olhar mais poético para as definições de LINGUAGEM, LEITOR, TEXTO e outros participantes, vale a leitura do texto “Ler o mundo”, de Affonso Romano de Sant’Anna. (Anexo I, destaque).  O que é texto? Unidade global de comunicação que expressa uma ideia ou trata de um assunto determinado. 3
  • 4.  Tipos de textos O modo de se estabelecer a interação entre texto e leitor é o que vai determinar otipo de texto a ser produzido. Isso significa que o tipo é caracterizado pela natureza linguística de sua construção teórica, ou seja, por seus tempos verbais, aspectos lexicais e sintáticos, relações entre seus elementos. Os principais tipos textuais são: Narrativos Discorre sobre fatos, acontecimentos. Destaca as características. Funciona como uma fotografia do momento, descrevendo Descritivos situações, objetos, pessoas. Faz a palavra virar imagem. Estrutura-se com base na argumentação, Dissertativos exposição de ideias, concordância ou contestação justificadas. Indicam procedimentos a serem realizados. Injuntivos Como por exemplo, as receitas e manuais de instrução. Os tipostextuaisaparecem em número limitado, como informado acima. Já os gêneros textuais estão sempre em constante crescimento quantitativo. Eles estão ligados diretamente às práticas sociais. Exemplo: carta, bilhete, conferência, e-mail, artigos, entrevistas, texto científico, reportagem, notícia, nota de falecimento, etc. Assim, um tipo textual pode aparecer em qualquer gênero textual, da mesma forma que um único gênero pode conter mais de um tipo textual. Quais os tipos e gêneros textuais que abarcam os textos do SBRT? Percebemos recorrentemente textos meramente informativos (principalmente quanto às RTPs). Isto se dá principalmente pelo caráter também informativo do texto científico, contudo este carrega além da informação (que expõe características, dados e formas de utilização) uma aplicação técnica, comentários e discussões. (Ver Anexo II) 4
  • 5.  Texto científico Apesar de todas as regras a serem seguidas na elaboração de um texto científico parecerem uma série de manias e peculiaridades para os não-iniciados, elas têm como objetivo padronizar os textos produzidos pelos cientistas/pesquisadores de modo a tornar a transmissão de informações mais rápida e precisa possível. Antes de tudo devemos lembrar que o texto científico funciona como um outro texto qualquer: é necessário que ele tenha começo, meio e fim, seja agradável de ler, gramaticalmente correto, compreensível, coerente e mantenha conexões lógicas entre as ideias nele contidas. O texto científico versa sobre temas que podem ser tratados cientificamente, à luz da experimentação, do raciocínio lógico, da análise, da aplicação de um método/técnica. Seu objetivo é expor informações comprovadas ou passíveis de comprovação, divulgar ideias próprias ou de outrem, partilhar um saber, informar. Seu estilo é marcado pela objetividade, precisão, clareza, concisão, simplicidade e formalidade. Uma característica comum a praticamente todos os textos científicos é a organização nas seguintes partes: Introdução, Objetivos, Materiais e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusões. Além destes, o Título, Resumo, Palavras-chave, Figuras e Tabelas, Agradecimentos e Referências também compõem um texto científico. As Respostas Técnicas suportam a maior parte destas características do texto científico. Contudo, as classificações acima citadas se adaptamda seguinte forma: Título, Resumo, Palavras-chave, Assunto, Demanda, Solução Apresentada, Conclusões e Recomendações e Fontes Consultadas. A seguir, relações funcionais das partes do texto científico, elaborado para a Resposta Técnica: Texto Científico X Resposta Técnica Título  Título Resumo  Resumo Palavras-chave  Palavras-chave Introdução  Assunto Objetivos  Demanda Materiais e métodos, Figuras e Tabelas  Solução Apresentada Resultados, Discussão e conclusões  Conclusões e Recomendações Referências  Fontes consultadas 5
  • 6. o Título O título de um texto científico deve ser, ao mesmo tempo, informativo e curto, ou seja, deve relatar em poucas palavras do que trata o texto. Exemplo: "Diversidade de libélulas em lagoa no litoral sul do Estado de São Paulo, Brasil". Note que neste exemplo o assunto do estudo (diversidade), o objeto que foi estudado (libélulas) e a localização geográfica (litoral sul de São Paulo, Brasil) estão claramente informados. Desta maneira, podemos pensar um título com a seguinte estrutura: Assunto do estudo + Objeto do estudo + Especificações (complementação do objeto do estudo, localização geográfica, estado/forma/detalhamento de um produto) Exemplos: CONSERVANTES EM SUCOS ENVASADOS Título Conservante Sucos Envasados Objeto do Especificação do Partes do título Assunto do estudo estudo produto tratado FORNECEDORES DE ROUPAS MASCULINA Título Fornecedores Roupas Masculinas Objeto do Detalhamento do Partes do título Assunto do estudo estudo produto tratado CARTEIRA DE EMBALAGEM LONGA VIDA Título ???? (Produção/confecção, Carteira de Longa vida venda, compra...) embalagem Objeto do Detalhamento do Partes do título Assunto do estudo estudo produto tratado EMBALAGEM PARA COCO RALADO SECO Título Embalagem Coco ralado seco ?????? Objeto do Especificação do Partes do título Assunto do estudo estudo produto tratado 6
  • 7. o Resumo Geralmente, os textos científicos vêm acompanhados de um resumo, que é a síntese dos pontos relevantes do trabalho, redigido pelo próprio autor. É a partir deste que muitos cientistas selecionam os artigos de interesse. No caso do SBRT, o resumo compõe junto com o título e a solicitação, o primeiro contato contextual do usuário com a Resposta Técnica: Na RT, a elaboração de um resumo também requer atenção às idéias centrais do texto, contudo restritas à identificação do objeto, seu motivo de ser e sua aplicação. Estruturalmente, necessita ser preciso, contudo merece bastante atenção para as palavras que o compõe, pois o resumo representa semanticamente a “manchete”/”anúncio” do texto que se segue. O quê / quem Onde / Por que / Como Exemplo de resumos, retirados de produtos SBRT: Indica a Portaria nº 327/1997, da Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, determinando aos estabelecimentos produtores de Saneantes Domissanitários, o cumprimento das diretrizes dos Regulamentos Técnicos - Boas Práticas de Fabricação e Controle. Informações sobre criação de peixes ornamentais, incluindo estrutura, qualidade da água e alimentação. Informações sobre espaçamento, período para plantio e a produção anual média para o pomelo. o Palavras-chave: GTTE o Assunto: GTTE o Demanda: Necessita, sempre que possível e necessário, ser refinada com o cliente requer uma revisão ortográfica e gramatical. 7
  • 8. o Solução apresentada  Descreve o tipo de estudo/delineamento;  Consiste em explicitar o que foi demandado pelo cliente em tópicos, subitens ou esquemas;  Descrição panorâmica dos dados levantados para propiciar ao leitor a percepção adequada e completa da pesquisa realizada de forma clara e precisa, sem interpretações pessoais;  Quando pertinente, deve-se incluir ilustrações como quadros, tabelas e figuras (gráficos, mapas, fotos,etc., constituintes da linguagem não verbal);  Atenção à utilização arbitrária de linguagem não verbal no texto científico. A imagem deve comunicar-se com o texto verbal complementando a informação escrita e/ou detalhando processos e procedimentos. A simples inserção de imagens entre parágrafos sem conexão com os discursos que o circudam, fragmentam o entendimento global do texto pelo leitor. o Conclusões e recomendações  Resumir, apontar e reforçar as idéias principais e as contribuições proporcionadas pelo trabalho anteriormente descrito e analisado;  Aconclusão deve ser analítica, interpretativa, e incluir argumentos explicativos. Deve ser capaz de fornecer evidências da solução da demanda, através da pesquisa realizada; Dica: este é o momento ideal para se voltar à demanda e verificar se nenhum aspecto do questionamento feito pelo cliente foi esquecido. o Fontes consultadas: observar os pressupostos na IT 02 8
  • 9. Referências BAGNO, Marcos. É preciso acabar com a cultura do erro. Revista Caros Amigos, número 131, fev. 2008. CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Texto e interação: uma proposta de produção textual a partir de gêneros e projetos. Ed. Atual: São Paulo, 2005. COSCARELLI, C. V.Leitura em ambiente multimídia e a produção de inferências.In: GUIMARÃES, Ângelo de M. (Ed.) Anais do VII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação. Belo Horizonte: DCC/UFMG, nov. 1996, p. 449-456. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras, 1996. SANT’ANNA, Affonso Romano de. Ler o mundo. Editora Global, 2011. SARMENTO, Leila Lauar; TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática, produção de texto. Ed. Moderna: São Paulo, 2004. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. São Paulo, Cultrix, 2006. SERVIÇO BRASILEIRO DE RESPOSTAS TÉCNICAS. [Respostas utilizadas]. Disponível em: <http://www.respostatecnica.org.br>. Acesso em: 18 novembro de 2011. 9
  • 10. ANEXOS Anexo I: Crônica Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ou não. Ou não, porque nem sempre deciframos os sinais à nossa frente. Ainda agora os jornais estão repetindo, a propósito das recentes eleições, “que é preciso entender o recado das urnas”. Ou seja: as urnas falam, emitem mensagens. Cartola - o sambista- dizia “as rosas não falam, as rosas apenas exalam o perfume que roubam de ti”. Perfumes falam. E as urnas exalaram um cheiro estranho. O presidente diz que seu partido precisa tomar banho de “cheiro de povo”. E enquanto repousava nesses feriados e tomava banho em nossas águas, ele tirou várias fotos com cheiro de povo. Paixão de ler. Ler a paixão. Como ler a paixão se a paixão é quem nos lê? Sim, a paixão é quando nossos inconscientes pergaminhos sofrem um desletrado terremoto. Na paixão somos lidos à nossa revelia . O corpo é um texto. Há que saber interpretá-lo. Alguns corpos, no entanto, vêm em forma de hieroglifo, dificílimos. Ou, a incompetência é nossa, iletrados diante deles? Quantas são as letras do alfabeto do corpo amado? Como soletrá-lo? Como sabê-lo na ponta da língua? Tem 24 letras? Quantas letras estranhas, estrangeiras nesse corpo? Como achar o ponto G na cartilha de um corpo? Quantas novas letras podem ser incorporadas nesta interminável e amorosa alfabetização? Movido pelo amor, pela paixão pode o corpo falar idiomas que antes desconhecia. O médico até que se parece com o amante. Ele também lê o corpo. Vem daí a semiologia. Ciência da leitura dos sinais. Dos sintomas. Daí partiu Freud, para ler o interior, o invisível texto estampado no inconsciente. Então, os lacanianos todos se deliciaram jogando com as letras - a letra do corpo, o corpo da letra. Diz-se que Marx pretendeu ler o inconsciente da história e descobrir os mecanismos que nela estavam escritos/inscritos. Portanto, um economista também lê a sociedade. Os empresários e executivos, por sua vez, se acostumaram a falar de "qualidade total". Mas seria mais apropriado falar de "leitura total". Só uma leitura não parcial, não esquizofrênica do real pode nos ajudar na produtividade dos significados. Por isto, é legítimo e instigante falar não apenas de uma "leitura da economia", mas de algo novo e provocador: a "economia da leitura". Não é só quem lê um livro, que lê. Um paisagista lê a vida de maneira florida e sombreada. Fazer um jardim é reler o mundo, reordenar o texto natural. A paisagem, digamos, pode ter "sotaque", assim como tem sabor e cheiro. Por isto se fala de um jardim italiano, de um jardim francês, de um jardim inglês. E quando os jardineiros barrocos instalavam assombrosas grutas e jorros d’água entre seus canteiros estavam saudando as elipses do mistério nos extremos que são a pedra e a água, o movimento e a eternidade. O urbanista e o arquiteto igualmente escrevem, melhor dito, inscrevem, um texto na prancheta da realidade. Traçados de avenidas podem ser absolutistas, militaristas, e o risco das ruas pode ser democrático dando expressividade às comunidades. Tudo é texto. Tudo é narração. O astrônomo lê o céu, lê a epopeia das estrelas. Ora, direis, ouvir & ler estrelas. Que estórias sublimes, suculentas, na Via Láctea. O físico lê o caos. Que epopéias o geógrafo lê nas camadas acumuladas num simples terreno. Um 10
  • 11. desfile de carnaval, por exemplo, é um texto. Por isto se fala de “samba enredo”. Enredo além da história pátria referida. A disposição das alas, as fantasias, a bateria, a comissão de frente são formas narrativas. Uma partida de futebol é uma forma narrativa. Saber ler uma partida - este o mérito do locutor esportivo, na verdade, um leitor esportivo. Ele, como o técnico, vê coisas no texto em jogo, que só depois de lidas por ele, por nós são percebidas. Ler, então, é um jogo. Uma disputa, uma conquista de significados entre o texto e o leitor. Paulinho da Viola dizia: "As coisas estão no mundo eu é que preciso aprender”. Um arqueólogo lê nas ruínas a história antiga. Não é só Sherazade que conta estórias. Um espetáculo de dança é narração. Uma exposição de artes plásticas é narração. Tudo é narração. Até o quadro “Branco sobre o branco” de Malevich conta uma estória. Aparentemente ler jornal é coisa simples. Não é. A forma como o jornal é feita, a diagramação, a escolha dos títulos, das fotos e ilustrações são já um discurso. E sobre isto se poderia aplicar o que Umberto Eco disse sobre o “Finnegans Wake” de James Joyce: “o primeiro discurso que uma obra faz o faz através da forma como é feita”. Estamos com vários problemas de leitura hoje. Construimos sofisticadíssimos aparelhos que sabem ler. Eles nos lêem. Nos lêem, às vezes, melhor que nós mesmos. E mais: nós é que não os sabemos ler. Isto se dá não apenas com os objetos eletrônicos em casa ou com os aparelhos capazes de dizer há quantos milhões de anos viveu certa bactéria. Situação paradoxal: não sabemos ler os aparelhos que nos lêem. Analfabetismo tecnológico. A gente vive falando mal do analfabeto. Mas o analfabeto também lê o mundo. Às vezes, sabiamente. Em nossa arrogância o desclassificamos . Mas Levi-Strauss ousou dizer que algumas sociedades iletradas eram ética e esteticamente muito sofisticadas. E penso que analfabeto é também aquele que a sociedade letrada refugou. De resto, hoje na sociedade eletrônica, quem não é de algum modo analfabeto? Vi na fazenda de um amigo aparelhos eletrônicos, que ao tirarem leite da vaca, são capazes de ler tudo sobre a qualidade do leite, da vaca, e até (imagino) lerem o pensamento de quem está assistindo à cena. Aparelhos sofisticadíssimos leem o mundo e nos dão recados. A camada de ozônio está berrando um S.O.S., mas os chefes de governo, acovardados, tapam (economicamente) o ouvido. A natureza está dizendo que a água, além de infecta, está acabando. Lemos a notícia e postergamos a tragédia para nossos netos. É preciso ler, interpretar e fazer alguma coisa com a interpretação. Feiticeiros e profetas liam mensagens nas vísceras dos animais sacrificados e paredes dos palácios. Cartomantes leem no baralho, copo d’água, búzios.Tudo é leitura. Tudo é decifração. Ler é uma forma de escrever com mão alheia. Minha vida daria um romance? Daria, se bem contado. Bem escrevê-lo são artes da narração. Mas só escreve bem, quem ao escrever sobre si mesmo, lê o mundo também. A crônica "Ler o Mundo", de Afonso Romano de Sant'Anna, é a introdução do livro de mesmo nome. 11
  • 12. Anexo II: Exemplo de RT com características somente informativas O Ácido Para-Aminobenzóico (PABA), também conhecido como vitamina H1, é tido como uma vitamina do complexo B, de relevante importância para a síntese do ácido fólico. De natureza hidrossolúvel, não pode ser sintetizado pelo organismo. É produzido por bactérias intestinais, estando ligado à produção de sulfas e antibióticos. A deficiência dessa substância pode causar fadiga, prisão de ventre, irritabilidade, e embranquecimento dos cabelos. Também pode ser encontrado em fontes naturais como: fígado, gérmen de trigo, cereais integrais e ovos (ALVARENGA, [200-?]). Alvarenga ([200-?]) também aponta outras propriedades adicionais do PABA, tais como: auxiliar no combate ao embranquecimento dos cabelos, vitiligo, queimaduras solares, depressão, esquizofrenia, e até em doenças de infertilidade feminina. Contudo, a aplicação mais conhecida é como protetor solar, colaborando na proteção dos raios UV. (Figura 1- Fórmula do PABA) O ácido p-aminobenzóico foi o primeiro filtro a ser patenteado, em 1943, durante a 2ª Guerra Mundial, pelos EUA. O exército norte-americano desenvolveu formulações com protetores solares para utilização de suas tropas, o que permitiu que o país desenvolvesse importantes estudos na área de fotoproteção (SHAATH, 1997 apud Silva, 2007). Na década de 70 o uso do PABA se proliferou nas formulações de protetor solar, contudo começaram a perceber que ocorria um elevado número de reações alérgicas a ele, o que fez com que fosse removido como ingrediente do protetor solar comum. Além de potencialmente causar alergias, o PABA pode ser um potencial cancerígeno, segundo pesquisas dos Cosméticos SkinDeep. Por conta desse alarde, muitas empresas de protetores solares fazem questão de colocar nos rótulos que sua formulação é PABA free, ou seja, que não possuem essa substância, afirmação mais ligada ao marketing, já que atualmente a maioria já não utiliza PABA (GERSTEIN, 2010). O PABA faz parte da categoria dos primeiros filtros solares, que protegiam a pele da radiação UVB, mas eram capazes de causar os eritemas. Atualmente com os avanços na área da bioquímica e fotobiologia utilizam-se compostos capazes de absorver na região do UVA, ou seja, formulações que aumentam o espectro de absorção (ROSEN, 2003 apud SANTOS, 2007). Além da divisão pelo espectro de absorção, há também a classificação dos filtros em dois grandes grupos: os químicos e os físicos. Os filtros químicos são aqueles que absorvem a radiação UV e a emitem na região do infravermelho, acarretando a sensação de calor. Nesse tipo de filtro há a presença de alguns derivados de PABA. Já os físicos são compostos inorgânicos que conseguem refletir ou absorver a radiação UV, tendo como principais representantes: o dióxido de titânio e o óxido de zinco, ambos atualmente fabricados em partículas microfinas para terem uma boa aceitabilidade dos consumidores (SHAATH, 1997 apud SANTOS, 2007). A eficácia fotoprotetora de um filtro solar depende da conjunção de vários fatores. Primeiro, a questão da adesão do filtro solar na pele, que deve formar um filme protetor, permitindo um grande acúmulo do filtro na pele, mas com uma permeação mínima para a corrente sanguínea. Outro fator é a quantidade a ser aplicada, já que segundo testes, a maioria das pessoas não passa a quantidade suficiente. Depois, fatores como pH e polaridade podem interferir na absorção do filtro. Além disso, devem ser feitos estudos de estabilidade e de como o filtro interage com a pele. Por fim, o fator mais trabalhado recentemente, a durabilidade do produto em condições adversas, tais como água e areia (SANTOS 2007). Atualmente, depois de comprovado o risco de causar câncer de pele o PABA não é mais utilizado nos filtros solares, apenas seus derivados, que não oferecem riscos. Diante disso, o PABA geralmente está sendo 12
  • 13. administrado oralmente em complexos vitamínicos, em forma de pílula para o tratamento de sintomas gastrointestinais, ou mesmo o seu sal de potássio é usado como remédio para algumas doenças de pele (SILVA; PEZZA, [200-?]). Conclusões e recomendações Recomenda-se a visita ao site de Descritores em Ciências da Saúde, para informações mais técnicas sobre o PABA:<http://decs.bvs.br/cgi- bin/wxis1660.exe/decsserver/?IsisScript=../cgibin/decsserver/decsserver.xis&task=exact_term&previous_page =homepage&interface_language=p&search_language=p&search_exp=PABA> Recomenda-se a visita ao site da ANVISA, para obter informações sobre as substâncias permitidas em filtros solares: <http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/mercosul/cosmeticos/71_00.htm> RT publicada no site SBRT 13
  • 14. Anexo III: Novo Acordo Ortográfico Após várias tentativas de se unificar a ortografia da língua portuguesa, a partir de 1º de janeiro de 2009 passou a vigorar no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o período de transição para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2012. Algumas modificações foram feitas no sentido de promover a união e proximidade dos países que têm o português como língua oficial: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal. No entanto, não é necessário que haja aversão às alterações, pois são simples e fáceis de serem apreendidas! Além disso, há um prazo de adaptação que dá calmaria a todo processo de mudança! O que mudou na ortografia brasileira O objetivo deste guia é expor ao leitor, de maneira objetiva, as alterações introduzidas na ortografia da língua portuguesa pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, por Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e, posteriormente, por Timor Leste. No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo no 54, de 18 de abril de 1995. Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. Ele não elimina todas as diferenças ortográficas observadas nos países que têm a língua portuguesa como idioma oficial, mas é um passo em direção à pretendida unificação ortográfica desses países. Este guia foi elaborado de acordo com a 5.ª edição doVocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras. Mudanças no alfabeto O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y. O alfabeto completo passa a ser: ABCDEFGHIJ KLMNOPQRS TUVWXYZ As letras k, w e y, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos dicionários da nossa língua, são usadas em várias situações. Por exemplo: a. na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), W (watt); b. na escrita de palavras e nomes estrangeiros (e seus derivados): show, playboy, playground, windsurf, kung fu, yin, yang, William, kaiser, Kafka, kafkiano. 14
  • 15. Trema Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos gruposgue, gui, que, qui. Como era Como fica agüentar aguentar argüir arguir bilíngüe bilíngue cinqüenta cinquenta delinqüente delinquente eloqüente eloquente ensangüentado ensanguentado eqüestre equestre freqüente frequente lingüeta lingueta lingüiça linguiça qüinqüênio quinquênio sagüi sagui seqüência sequência seqüestro sequestro tranqüilo tranquilo Atenção: o trema permanece apenas nas palavras estrangeiras e em suas derivadas. Exemplos: Müller, mülleriano. Mudanças nas regras de acentuação 1. Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúltima sílaba). Como era Como fica alcalóide alcaloide alcatéia alcateia andróide androide apóia (verbo apoiar)apoia apóio (verbo apoiar)apoio asteróide asteroide bóia boia 15
  • 16. celulóide celuloide clarabóia claraboia colméia colmeia Coréia Coreia debilóide debiloide epopéia epopeia estóico estoico estréia estreia estréio (verbo estrear) estreio geléia geleia heróico heroico idéia ideia jibóia jiboia jóia joia odisséia odisseia paranóia paranoia paranóico paranoico platéia plateia tramóia tramoia Atenção: essa regra é válida somente para palavras paroxítonas. Assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em eis e ói(s). Exemplos: papéis, herói, heróis, dói (verbo doer), sóis etc. 2. Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no u tônicos quando vierem depois de um ditongo. Como era Como fica baiúca baiuca bocaiúva bocaiuva* cauíla cauila** *bacaiuva = certo tipo de palmeira / **cauila = avarento Atenção: a. se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em posição final (ou seguidos des), o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, tuiuiús, Piauí; b. se o i ou o uforem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Exemplos: guaíba, Guaíra. 16
  • 17. 3. Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êeme ôo(s). Como era Como fica abençôo abençoo crêem (verbo crer) creem dêem (verbo dar) deem dôo (verbo doar) doo enjôo enjoo lêem (verbo ler) leem magôo (verbo magoar) magoo perdôo (verbo perdoar) perdoo povôo (verbo povoar) povoo vêem (verbo ver) veem vôos voos zôo zoo 4. Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/para, péla(s)/pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Como era Como fica Ele pára o carro. Elepara o carro. Ele foi ao pólo Norte. Ele foi ao polo Norte. Ele gosta de jogar pólo. Ele gosta de jogar polo. Esse gato tem pêlos brancos. Esse gato tempelos brancos. Comi uma pêra. Comi uma pera. Atenção: - Permanece o acento diferencial em pôde/pode.Pôde é a forma do passado do verbo poder (pretérito perfeito do indicativo), na 3ª pessoa do singular. Pode é a forma do presente do indicativo, na 3ª pessoa do singular. Exemplo: Ontem, ele não pôde sair mais cedo, mas hoje ele pode. - Permanece o acento diferencial em pôr/por. Pôr é verbo. Por é preposição. Exemplo: Vou pôr o livro na estante que foi feitapor mim. - Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plural dos verboster evir, assim como de seus derivados (manter, deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). Exemplos: Ele tem dois carros. / Eles têmdois carros. Elevemde Sorocaba. / Elesvêmde Sorocaba. Ele mantém a palavra. / Eles mantêm a palavra. 17
  • 18. Ele convém aos estudantes. / Eles convêm aos estudantes. Ele detém o poder. / Eles detêm o poder. Ele intervém em todas as aulas. / Eles intervêm em todas as aulas. - É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as palavras forma/fôrma. Em alguns casos, o uso do acento deixa a frase mais clara. Veja este exemplo: Qual é a forma da fôrma do bolo? 5. Não se usa mais o acento agudo no utônico das formas (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, do presente do indicativo dos verbosarguireredarguir. 6. Há uma variação na pronúncia dos verbos terminados emguar,quarequir, como aguar, averiguar, apaziguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir etc. Esses verbos admitem duas pronúncias em algumas formas do presente do indicativo, do presente do subjuntivo e também do imperativo. Veja: a. se forem pronunciadas comaouitônicos, essas formas devem ser acentuadas.Exemplos: verbo enxaguar: enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxáguem. verbo delinquir: delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínquam. b. se forem pronunciadas comutônico, essas formas deixam de ser acentuadas.Exemplos (a vogal sublinhada é tônica, isto é, deve ser pronunciada mais fortemente que as outras): verbo enxaguar: enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxaguem. verbo delinquir: delinquo, delinques, delinque, delinquem; delinqua, delinquas, delinquam. Atenção: no Brasil, a pronúncia mais corrente é a primeira, aquela comaei tônicos. Uso do hífen com compostos 1. Usa-se o hífen nas palavras compostas que não apresentam elementos de ligação. Exemplos: guarda-chuva, arco-íris, boa-fé, segunda-feira, mesa-redonda, vaga-lume, joão-ninguém, porta-malas, porta-bandeira, pão-duro, bate-boca. *Exceções: Não se usa o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, comogirassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, paraquedismo. 2. Usa-se o hífen em compostos que têm palavras iguais ou quase iguais, sem elementos de ligação. Exemplos: reco-reco, blá-blá-blá, zum-zum, tico-tico, tique-taque, cri-cri, glu-glu, rom-rom, pingue-pongue, zigue-zague, esconde-esconde, pega-pega, corre-corre. 3. Não se usa o hífen em compostos que apresentam elementos de ligação. Exemplos: pé de moleque, pé de vento, pai de todos, dia a dia, fim de semana, cor de vinho, ponto e vírgula, camisa de força, cara de pau, olho de sogra. Incluem-se nesse caso os compostos de base oracional. Exemplos: maria vai com as outras, leva e traz, diz que diz que, deus me livre, deus nos acuda, cor de burro quando foge, bicho de sete cabeças, faz de conta. *Exceções: água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima- roupa. 4. Usa-se o hífen nos compostos entre cujos elementos há o emprego do apóstrofo. Exemplos: gota-d'água, pé- d'água. 18
  • 19. 5. Usa-se o hífen nas palavras compostas derivadas de topônimos (nomes próprios de lugares), com ou sem elementos de ligação. Exemplos: Belo Horizonte -belo-horizontino Porto Alegre -porto-alegrense Mato Grosso do Sul -mato-grossense-do-sul Rio Grande do Norte -rio-grandense-do-norte África do Sul -sul-africano 6. Usa-se o hífen nos compostos que designam espécies animais e botânicas (nomes de plantas, flores, frutos, raízes, sementes), tenham ou não elementos de ligação. Exemplos: bem-te-vi, peixe-espada, peixe-do-paraíso, mico-leão-dourado, andorinha-da-serra, lebre-da-patagônia, erva-doce, ervilha-de-cheiro, pimenta-do-reino, peroba-do-campo, cravo-da-índia. Obs.: não se usa o hífen, quando os compostos que designam espécies botânicas e zoológicas são empregados fora de seu sentido original. Observe a diferença de sentido entre os pares: a)bico-de-papagaio(espécie de planta ornamental) -bico de papagaio(deformação nas vértebras). b)olho-de-boi(espécie de peixe) -olho de boi(espécie de selo postal).Uso do hífen com prefixos As observações a seguir referem-se ao uso do hífen em palavras formadas por prefixos (anti, super, ultra, sub etc.) ou por elementos que podem funcionar como prefixos (aero, agro, auto, eletro, geo, hidro, macro, micro, mini, multi, neo etc.). Casos gerais 1. Usa-se o hífen diante de palavra iniciada porh. Exemplos: 3. Não se usa o hífen se o prefixo terminar anti-higiênico com letra diferente daquela com que se anti-histórico inicia a outra palavra. Exemplos: macro-história Autoescola mini-hotel Antiaéreo proto-história Intermunicipal sobre-humano Supersônico super-homem Superinteressante ultra-humano Agroindustrial Aeroespacial semicírculo 2. Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra. Exemplos: *Se o prefixo terminar por vogal e a outra palavra começar porrous, dobram-se essas letras. Exemplos: micro-ondas Minissaia anti-inflacionário Antirracismo sub-bibliotecário Ultrassom inter-regional semirreta Casos particulares 19
  • 20. 1. Com os prefixossubesob, usa-se o hífen a palavra seguinte começar comrous, também diante de palavra iniciada porr. dobram-se essas letras. Exemplos: Exemplos: Coobrigação sub-região Coedição sub-reitor Coeducar sub-regional Cofundador sob-roda Coabitação 2. Com os prefixoscircumepan, usa-se o hífen Coerdeiro diante de palavra iniciada porm,nevogal. Correu Exemplos: Corresponsável circum-navegação 5. Com os prefixospreere, não se usa o hífen, pan-americano mesmo diante de palavras começadas pore. 3. Usa-se o hífen com os prefixos ex, sem, Exemplos: além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice. Preexistente Exemplos: Preelaborar além-mar / além-túmulo / aquém-mar / ex- Reescrever aluno / ex-diretor / ex-prefeito / ex- Reedição presidente / pós-graduação / pré-história / 6. Na formação de palavras comab,obead, pré-vestibular / recém-casado / recém- usa-se o hífen diante de palavra começada nascido / sem-terra / vice-rei porb,dour. Exemplos: 4. O prefixocojunta-se com o segundo ad-digital elemento, mesmo quando este se inicia ad-renal poroouh. Neste último caso, corta-se oh. Se ob-rogar ab-rogar Outros casos do uso do hífen 1. Não se usa o hífen na formação de palavras capim-açu / amoré-guaçu / anajá-mirim comnãoequase. Exemplos: 4. Usa-se o hífen para ligar duas ou mais (acordo de)não agressão palavras que ocasionalmente se combinam, (isto é um)quase delito formando não propriamente vocábulos, mas 2. Commal*, usa-se o hífen quando a palavra encadeamentos vocabulares. Exemplos: seguinte começar por vogal,houl. Exemplos: ponte Rio-Niterói / eixo Rio-São Paulo mal-entendido / mal-estar / mal-humorado 5. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição mal-limpo de uma palavra ou combinação de palavras coincidir * Quandomalsignifica doença, usa-se o hífen se não com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. houver elemento de ligação. Exemplo: mal-francês. Se houver elemento de ligação, escreve-se sem o hífen. Exemplos: Exemplos:mal de lázaro, mal de sete dias. Na cidade, conta- 3. Usa-se o hífen com sufixos de origem tupi- -se que ele foi viajar. guarani que representam formas adjetivas, O diretor foi receber os ex- como açu, guaçu, mirim. Exemplos: -alunos 20