DeClara n.º 75 Abril 2024 - O Jornal digital do Agrupamento de Escolas Clara ...
Memórias póstumas: a vida e morte de Brás Cubas
1.
2. Ao verme
que
primeiro roeu as frias
carnes
do meu cadáver
dedico
como saudosa
lembrança
estas
Memórias póstumas
- Brás Cubas
3. Algum tempo hesitei se deveria abrir estas
memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é se,
poria em primeiro lugar meu nascimento ou
minha morte.
Suposto o uso vulgar seja começar pelo
nascimento, duas considerações me levaram
a adotar diferentes métodos: a primeira é que
eu não sou propriamente um autor defunto,
mas um defunto autor.
A segunda é que o autor ficaria assim mais
galante, mais novo.
4. O fundador da minha família foi um certo
Damião Cubas, que nasceu na primeira
metade do século XVIII.
Era tanoeiro de oficio, fez-se lavrador, plantou,
colheu, permutou o seu produto por boas e
honradas patacas.
Morreu de penúria, mas deixou um grosso
cabedal, a um filho, licenciado Luís Cubas.
A partir daí começa a linhagem dos meus
avós, dos avós que minha família sempre
confessou.
Daniel Cubas era afinal de contas um
tanoeiro, ao passo que Luís Cubas estudou
em Coimbra.
6. Logo que nasci fui dado como herói da nossa
casa.
Meu tio João, o antigo oficial de infantaria,
achava-me um certo olhar de Bonaparte.
Meu tio Ildefonso, então simples padre
farejava-me cônego.
A vizinhança veio cumprimentar o recém-nascido,
e que nas primeiras semanas foram
muitas as visitas em nossa casa.
Sem contar os mimos, os beijinhos, as
admirações e as bênçãos.
Meu batizado me referiam de tal respeito, sem
contar que foi a maior festa dos anos
seguintes 1806, batizei-me na igreja de São
Domingos, uma terça- feira de março, sendo
padrinhos o Coronel Rodrigues de Matos e
sua Senhora.
7. Com 5 anos, merecia o apelido “menino
diabo”, fui dos mais malignos do meu tempo,
arguto,indiscreto, traquinas e voluntariosos.
Por pirraça quebrei a cabeça da escrava, por
me negar uma colher de doce de coco e
ainda disse a mamãe que era ela que estava
estragando os doces.
Prudêncio, moleque de casa, era o meu
cavalo de todos os dias, punha as mãos no
chão, recebia um cordel nos queixos, á guisa
de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma
varinha a mão, batia e dava mil voltas, e ele
me obedecia sem responder nada, só as
vezes com gemidos.
8. Tinha 17 anos, já era um rapaz bonito, quando
me apaixonei por Marcela uma dama espanhola
filha de hortelão das Astúrias.
Após três dias Brás comentou com seu tio
João que desejava ir a uma “ceia de moças” na
casa de Marcela.
Durante o evento só tinha olhos para a dama e
ao final, antes de partir, se despediu lhe
roubando um beijo.
Brás levou trinta dias para conquista o coração
de Marcela.
O romance teve dois momentos: a fase
“consular”, quando seu amor era dividido com o
de Xavier; depois a fase “cesariana”, quando
dominava completamente o coração da
espanhola.
9. A passagem da primeira para a segunda
etapa do relacionamento, porém, não foi
barata: Brás Cubas precisou arrecadar
dinheiro de seu pai, de sua mãe, e até sacar
quantias do banco sem o consentimento
paterno, tudo para bajular Marcela com joias
e outros presentes. Marcela tinha diversos
objetos que mantinha em sua casa eram
presentes de antigos amantes, o que irritava
Brás.
Mas ela alegava que o amor que tinha por
ele não precisava desses artifícios, ao
mesmo tempo em que comentava algum
colar que vira numa joalheria e lhe
interessava…
10. O romance de Brás Cubas e Marcela durou
“quinze meses e onze contos
de réis”.
A essa altura o pai do rapaz descobriu os
saques indevidos de seu banco e decidiu
mandá-lo para Portugal, estudar em Coimbra.
Sabendo da ideia do pai foi atrás de Marcela,
convidá-la para acompanhá-lo, mas negou.
Cubas se revoltou e ao caminho parou na
melhor loja e comprou um presente mais
bonito e o mais caro da loja, voltou e o
entregou a Marcela, que estava descansando.
Rapidamente quando ela viu seus olhos
brilharam, prometeu fazê-la glamorosa e
acompanhá-lo para Portugal, que topou, mas
não foi.
11. Brás, entrou no navio rumo a Europa.
Estavam a bordo onze passageiros, entre eles
um louco com sua mulher além do
comandante e sua esposa, uma senhora tísica
(com tuberculose pulmonar), prestes a falecer.
No primeiro dia pensei em me matar, no
segundo pensei em virar padre, no terceiro
beber até cair e no quarto pensei escrever
uma carta para Marcela , no quinto pensei na
Europa e sexto nas noites sem dormir.
Depois de alguns dias a mulher do
comandante morre e é jogada ao mar.
12. Volta ao Brasil, quando sua mãe esta
morrendo.
Lá estavam seu pai, sua irmã, já casada com
Cotrim, seu tio João e dona Eusébio, todos
tristes. Quando encarou sua mãe, que não via
há nove anos, pálida, seca, apenas pegou
suas mãos, sem saber soltar uma palavra.
No dia seguinte ela faleceu e pela primeira
vez Brás Cubas sentia a morte
verdadeiramente de perto, numa pessoa
amada, carinhosa, cheia de bondade.
13. Seu pai estava planejando colocar Brás no
cargo de deputado e estava planejando do
seu filho se casar com Virgília.
Virgília era uma moça atrevida com quinze ou
dezesseis anos e voluntariosa.
Porém aparece a figura de lobo neves que
“rouba” Virgília de Brás Cubas.
E seu pai fica indignado que isso tenha
acontecido á um Cubas, e morre logo em
seguida.
14. De vez em quando eu me lembro que Lobo
Neves se casou com Virgília e foi para São
Paulo, e me lembrava também que ele já era
deputado, não que isso me afetava muito.
Mas mesmo com o casamento, Brás Cubas
continuava apaixonado por Virgília.
Lobo Neves vai embora da cidade para
trabalhar e leva Virgília junto.
15. Assim os anos se passaram até 1842,quando
vi à distancia uma mulher esplendida, era ela,
até então não sabia que ela tinha voltado de
São Paulo.
Só reconheci Virgília aos poucos passos,
estava outra, a natureza e a arte a havia
aperfeiçoado.
Brás reencontra Virgília em uma festa .
Passei a frequentar a casa de Vigília e Lobo
Neves e logo me tornei amigo intimo, regada
a olhadas e sorrisos nosso amor é como uma
planta que cresce muito rápido.
16. Não me lembro quantos dias demorou para
ela me olhar intensamente de paixão e um dia
ela me beijou no portão, foi um beijo tremula e
curto, mas ardente.
Assim Brás Cubas e Virgília, para esconder a
traição, que já estava sendo desconfiada por
outros, mantêm um relacionamento ás
escondidas, na casa da Dona Plácida, “ ex-funcionária”
de Virgília.
17. Lobo Neves recebe um cargo de Ministro do
Maranhão, e quer levar Brás Cubas como
secretário, mas não aceita o cargo em função
do número do decreto e do dia 13.
O decreto é o número 13 do dia 13, isso me
trás recordações fúnebres, meu pai morreu no
dia 13 às 13horas, 13 dias depois de ir no
jantar com 13 pessoas, minha mãe morreu no
parto do décimo terceiro filho, numa casa do
número 13 e esse filho morreu com 13 anos.
18. Virgília fica grávida de Brás Cubas, filho que
ela perde antes do nascimento.
Brás Cubas conhece Nhã-Loló. Filha de um
amigo do seu falecido pai.
Cubas recebe uma carta de Quincas Barba,
que antes era um mendigo, mas agora rico
graças a uma herança recebida. Ele cria uma
nova filosofia: o Humanitismo.
O tempo passa e no dia 31, Lobo Neves
recebe novamente o cargo de ministro.
Dessa vez ele aceita e vai junto de Virgília
para o norte.
Brás Cubas decide se casar com Nhã- Loló,
porém ela morre antes que ele consiga fazê-lo.
Virgília e Lobo Neves voltam.
Brás Cubas já tinha 60 anos.
19. Brás Cubas decide virar deputado.
Lobo Neves morre, deixando Virgília viúva.
Virgília chorava com lagrimas de amor
verdadeiro , que um dia ela teve por mim.
Ela que tinha traído o marido com sinceridade
e com sinceridade chorava por ele.
Quincas Barba também morre, na casa de
Brás Cubas.
20. Brás cubas fica doente, a ponto de morrer.
Virgília vai visita-lo, no seu leito de morte.
Brás analisa que teve uma vida de negativas:
não alcançou celebridade, não foi ministro,
não se casou… Pelo lado “bom” dessas
negativas, nunca comprou seu pão com o
suor de seu rosto, não enlouqueceu como
Quincas, não morreu como Dona Plácida.
Fazendo as contas, seria possível imaginar
que o jogo terminou empatado.
Só um saldo positivo : “Não tive filhos, não
transmiti a nenhuma criatura o legado da
nossa miséria”.