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TRAUMATOLOGIA FORENSE 
PROFESSOR ROBERTO BLANCO 
AULA 1 
Conceito de traumatologia 
Estudo dos traumas. Trauma nada mais é do que a ação da energia que é capaz de produzir lesão. Essa energia que fere é chamada de energia vulnerante. Assim, trauma é da a ação da energia vulnerante. Se a energia fere, o resultado dessa energia é a lesão. Assim, lesão é o resultado do trauma. Os traumas e as lesões vão ser estudados na traumatologia. 
Para que o trauma possa transferir essa energia para o corpo deve haver um objeto que o faça. Objeto é qualquer material que nós tenhamos de perceber com nossos sentidos, seja ou não manufaturado pelo homem. Os que foram manufaturados para desempenhar determinado trabalho leva o nome de instrumento. Assim, todo instrumento é um objeto, mas nem todo objeto é um instrumento. 
Os objetos e instrumentos são os meios com os quais a energia vulnerante será transferida para o organismo. 
Agentes vulnerantes: 
1) Física 
1.1) Mecânica – exige o movimento do agente vulnerante, sendo o movimento do agente (ativo), da vítima (passiva) ou de ambos (misto). 
1.2) Elétrica 
1.3) Térmica 
1.4) Sonora 
1.5) Barométrica 
1.6) Luminosa 
1.7) Radiante 
2) Química 
2.1) Ácidos 
2.2) Bases 
2.3) Tóxicos
3) Biológica 
3.1) Vírus 
3.2) Bactérias 
3.3) Protozoário 
3.4) Vegetais 
3.5) Animais 
4) Mista 
4.1) Físico-química 
4.2) Biomecânica 
Agentes vulnerantes físico mecânicos: 
- Contundentes 
- Perfurante 
- Cortante 
- Misto 
• pérfuro-cortante 
• pérfuro-contunde 
• corto-contundente 
Aspecto da lesão e mecanismo de ação: 
Contundente – a lesão tem superfície plana ou romba, daí a lesão é plana (aspecto) e age predominantemente por pressão (mecanismo). A superfície de contato com o alvo é sem aresta ou ponta. 
Perfurante – o aspecto da lesão é em ponto, já que tem ponta, mas não tem gume, e o agente age por pressão. A superfície de contato com o alvo é em com uma ponta. 
Cortante – a lesão é em linha e o mecanismo de ação é predominantemente por deslizamento, mas também tem um pouco de pressão. A superfície de contato com o alvo é o gume do instrumento cortante. 
Quando se fala em lesão cortante se fala em lesão em arco de violino, já que é como se fosse um arco de violino passando sobre as cordas.
Lesões e morte das ações contundentes. 
Nada impede que um instrumento cortante ou pérfuro-cortante, como a faca, faça uma lesão contundente, desde que eu bata com o cabo, mas isso não a torna um instrumento contundente, ele continua um instrumento pérfuro-cortante. Instrumento contundente não pode ter nem ponta nem gume. A característica dos instrumentos contundentes é o peso. 
Mas, de qualquer forma, o instrumento leva o nome relacionado às lesões que ele habitualmente gera, mas ele pode agir de forma anômala sem que isso mude sua natureza. Uma espada, que seria um instrumento corto- contundente, se bater de lado na pessoa fará uma lesão contundente, mas isso não muda o tipo de instrumento que ela é. 
A pele tem como camada superficial a epiderme, logo em baixo, fica a camada basal, que fabrica, renova, as células da epiderme e também separa a epiderme da derme. Na derme é que ficam os vasos sanguíneos, os nervos. A epiderme não tem vasos. 
Essa camada basal tem reentrâncias, como se fosse uma montanha-russa, da a derme pode avançar pra dentro da epiderme, e vice-versa, não há uma distância regular. Fala-se em estrutura de colchão ou travesseiro de casca de ovo. Essas reentrâncias levam o nome de papilas dérmicas, que são relevantes para a impressão digital. 
Quando um individuo vivo recebe uma pancada, esse vasos que estão embaixo da epiderme sofrem vaso dilatação, daí fica a pele fica quente e avermelhada. Quando os vasos sanguíneos recebem essa pressão, o plasma do sangue sai dos vasos através dos seus pequenos orifício. É o extravasamento de plasma. Isso é o que se chama de rubefação ou eritema. Só ocorre em vivos porque exige a vaso dilatação. Some em 30 a 50 minutos. A rubefação é uma conseqüência de uma lesão corporal, que pode decorrer de um crime de lesão corporal ou mesmo da contravenção de vias de fato. 
Agora, se a pressão for um pouco maior, além de o vaso se dilatar, ele rompe, daí o sangue extravasa e derrama em baixo da pele, na hora que a gente olha a pele, no lugar onde houve a pancada, aparece uma mancha. Essa mancha leva o nome de equimose. Essa tanto pode acontecer no vivo como no cadáver. 
Tipos se equimose: 
1) Petéquias – palavra que vem de peste, porque a vítimas da peste apresentavam hemorragias puntiformes, parecendo uma picada de pulga. Daí hoje chama-se essas pequenas hemorragias puntiformes de petéquias. Antigamente, quando se viam petéquias, dizia-se que se tinha morrido por asfixia, mas hoje sabe-se na asfixia existem petéquias, mas em outras mortes que nada tem a ver com asfixia elas também aparecem. Em qualquer hipótese em que a pressão dentro
dos vasos aumenta, a tendência do sangue é extravasar na forma de petéquias. As vezes o que acontece é um aumento de pressão. Essa pressão pode ser de dentro empurrando pra fora (compressão) ou de fora puxando pra fora (sucção). Seja uma ou outra, quando esse sangue começar a sair, ele vai sair na forma de petéquia. 
2) Sugilação – é um conjunto de petéquias numa área de maior pressão, seja decorrente de um chupão ou de uma ventosa. Quando a pessoa está morta, o sangue desce para as partes mais baixas do corpo, daí a pressão de dentro para fora cria sugilações post mortem. 
3) Víbices - duas equimoses lineares (víbices) paralelas com centro livre, como no caso de lesão com instrumento cônico (cassetete). 
4) Manchas de Tardieu – petéquias um pouco maiores do tamanho de ervilha. Antigamente, essas manchas eras diagnosticadas como asfixia. Hoje sabemos que essas manchas aparecem em vários tipos de morte (envenenamento, infarto do miocárdio, qualquer morte que não haja extravasamento de sangue pode aparecer manchas de Tardieu). 
5) Manchas de Paltauf – quando se morre por afogamento, a água entra nos alvéolos, rompendo os capilares e, por conseqüência, vasos sanguíneos, ocorrendo hemorragia dentro do pulmão. Daí nós vemos algumas equimoses no pulmão do afogado. Essa equimoses recebem o nome de manchas Paltauf. Podem ter petéquias e manchas de Tardieu no pulmão do afogado, mas tem que ter mancha de Paltauf. Já uma pessoa que morrer por eletroplessão, infarto ou envenenamento pode ter petéquia, mancha de Tardieu, mas não terá mancha de Paltauf. Esta mancha é patognomônica de afogamento. Se você acha um cara morto na água sem essas manchas, você pode procurar outra causa de morte, porque não foi afogamento. O que de comum entre todas elas, é que são todas espécies de equimoses. 
6) Máscara equimótica de Morestin – para que uma pessoa respire, a pessoa faz movimentos de tórax, se um peso age em cima do tórax, dificulta o movimento do tórax. Quando há uma compressão do tórax o esterno fica comprimindo o coração contra a coluna, daí ele não consegue se expandir normalmente. Ele consegue mandar o sangue, mas não consegue recebê-lo porque está comprimido, daí o sangue começa a se acumular na cabeça. Nesse momento, ele em gotículas começa a extravasar em forma de petéquias. Daí, dependendo do tempo em que ele ficar submetido a essa compressão, já que o sangue não consegue voltar, depois de um tempo, aquelas petéquias viram sugilações. De repente, a face e o pescoço estão totalmente tomadas por uma máscara, como se fosse uma equimose única, mas não é isso, é como se fosse milhares e milhares de petéquias resultantes do extravasamento de sangue. Essa é a máscara de Morestin.
7) Equimose cérvico-facial de Le Dentu – é sinônimo de máscara de Morestin. A presença dessas máscaras significa compressão do tórax, porque coração consegue fazer a sístole, ou seja, bombear o sangue, mas não consegue fazer a diástole, ou seja, ele não consegue captar o sangue que ele acabou de enviar. São formas de asfixia indireta por compressão do tórax. 
8) Bossa serosa – é uma lesão em cima de um osso. Este não permite que o sangue se expanda para baixo, daí aparece um saliência na pele. É o famoso “galo”. Se o material que tem é soro, linfa, não é sangue, nos temos uma bossa serosa. 
9) Bossa sanguínea – quando tivermos uma bossa com sangue. Podemos diferenciar esta da de cima é pela cor, a sanguínea é avermelhada, roxa, azulada. A serosa não tem cor. 
10)Hematoma – as vezes os vasos rompem e um pouco de sangue extravasa e se acumula naquela área. Se for uma área corporal que não tem osso, o sangue se espalha para cima e para baixo, formando um hematoma (seria um tumor de sangue, etimologicamente). É uma bolsa de sangue que se acumula em uma cavidade que não existia, é o próprio sangue que criou essa cavidade, por isso se fala que o hematoma é uma coleção de sangue numa cavidade neo-formada. Assim, se o sangue se acumular uma das cavidades já existentes(cavidade peritonial, pleural, pericárdica) ele não é um hematoma, você tem uma coleção de sangue formando uma hemorragia interna. O hematoma tem que criar a cavidade. O hematoma não é tão visível, o que é visível é a equimose. Ele não tem representação externa, se tiver a representação externa é a bossa, se for só a cor, é uma equimose. O hematoma só é visto de por exame cadavérico ou na cirurgia. 
11) Sufusão hemorrágica – é uma equimose extensa, que se espalha pela superfície do corpo, comum quando a vítima é atingida por uma superfície plana e larga, quando ela cai sobre o solo. 
É indispensável que o perito faça, no exame cadavérico, mesmo na ausência de lesões externas, um exame da cavidade craniana, independentemente de sinais externos de prováveis lesões internas. Não raro, não há lesões externas, mas há gravíssimas lesões internas. 
Dura-máter – membrana espessa que reveste o encéfalo. Uma coleção de sangue que fica dentro do osso do crânio, mas fora da dura-máter, é chamada de hematoma extra-dural. Na medida que esse hematoma vai aumentando, ela comprime o cérebro, ocasionando lesões principalmente no bulbo e na ponte. 
Quando há esse hematoma, nas primeiras horas, a vítima não sente nada. Daí 6 horas depois, ela começa a ter dor de cabeça, visão dupla, tonteira, vômitos em jato, começa a ficar desorientada, fica agressiva. Daí, quando
isso acontece com alguém que está bebendo álcool, as pessoas pensam que aquele comportamento é produto de embriaguez, mas não é, ele está sendo vítima de um hematoma que está comprimindo o cérebro dele. Não raro, essas pessoas entram no hospital e são tratadas de embriaguez. Só se descobre a causa da morte no exame cadavérico. Agora, excepcionalmente, esse hematoma aparece em uma cadáver, quando ele está numa fogueira, sendo queimado, e o calor do fogo começa a fazer o encurtamento da musculatura, daí o sangue começa a ser empurrado e começa a extravasar no cérebro. Então, não é raro encontrar o hematoma extra-dural em cadáveres carbonizados. 
Através da forma da lesão, podemos saber qual foi o agente vulnerante que produziu aquela lesão. 
Já a tonalidade da lesão, nos temos uma idéia de há quanto tempo aquela lesão aconteceu. Já nas escoriações a crosta é o elemento importante. Na ferida, a cicatriz, na fratura, o calo ósseo. Ou seja, a descrição de determinados elementos da lesão, permitira ao operador de direito dizer qual foi o nexo temporal daquela lesão. 
Outro aspecto muito importante é a precisa localização da lesão. Essa localização fornecera ao operador de direito uma idéia de qual foi o dolo do agente. Se a equimose estiverem no pescoço, eu penso em esganadura, no rosto, penso em lesão, se estiverem próximas às áreas genitais, eu penso em crimes contra os costumes. 
No momento em que ocorre uma lesão, o vaso sanguíneo dilata e permite o extravasamento do sangue, e a visão desse sangue derramado permite identificar a equimose. Mas essa equimose tem uma forma. Imagine uma pessoa agredida com um cassetete, um tubo de PVC, fio, mangueira, bastão de basebol, daí com a pressão, o sangue extravasa, e se alinha na lateral da superfície atingida. Assim, o sangue não fica no exato local em que o objeto acertou, ele fica nas áreas adjacentes, já que é empurrado pela pressão para longe do local em que o agente vulnerante acertou. Assim, no caso desses agentes, vamos ter faixas paralelas de equimose, com um centro pálido. A espessura entre as faixas arroxeadas da uma idéia da espessura do instrumento, o tamanho da lesão da uma idéia do tamanho mínimo do instrumento. As faixas não são exatamente paralelas, porque a ponta do instrumentos bate com mais forca que a base, se a forca é maior, o sangue se espalha para mais longe na área referente à ponta do instrumento. Assim, essas manchas não são paralelas, elas são convergentes para a base, empunhadura do objeto. Ou divergentes em direção à ponta do instrumento. 
Esse aumento de sangue causado pelo aumento da pressão é chamado de sugilação. É muito comum se alegar que essas manchas são decorrentes de uma queda para fugir das agressões, mas se há vários grupos de faixas, em direções diferentes, de mesma espessura, isso indica agressão. 
Esse sangue que extravasa não recebe mais oxigênio. Daí a hemoglobina
começa a se decompor, dando origem a outras substancias de outras tonalidades. 
Assim, no 1º dia, a equimose é avermelhada. No que o tempo vai passando, o avermelhado vai virando arroxeado (1 ou 2 dias). Passados mais alguns dias, nós verificamos que a região vai ficando azulada (3 a 5 dias). Mais algum tempo, a região fica esverdeado (1 semana). Depois fica amarelado (10 a 15 dias). Depois disso, a equimose desaparece (18 a 20 dias). Assim, pela evolução da tonalidade da equimose, o perito tem uma idéia se a equimose é recente ou mais antiga. 
Assim um cara chamado Legrand Du Saulle, viu isso e comparou com o espectro da luz solar. Assim, criou o espectro equimótico de Legrand Du Saulle. 
Quem faz essa limpeza das hemoglobinas são os glóbulos brancos, daí quanto maior a área, mais demorará para tirar tudo, se tem pouco, os prazos são menores. 
Assim, se alguém chega pro perito e fala que foi espancado ontem e está com uma equimose esverdeada, dá pra saber que não foi espancado ontem. Ao contrário, se chega com uma equimose avermelhada dizendo que foi espanado há 15 dias, ele não foi espancado há tanto tempo. 
Há determinadas regiões do corpo que são muito oxigenadas, como o olho e a bolsa escrotal, daí quando o sangue extravasa na parte branca, chamada de esclerótica, nós temos uma equimose que fica em baixo de uma membrana que cobre essa parte que é a conjuntiva, daí nos temos uma equimose subconjuntival. Mas como o olho é muito oxigenado, a hemoglobina recebe oxigênio e demora mais a se decompor, assim nessas equimoses não há o espectro equimótico de Legand Du Saulle, ela pode ter 15 dias e ser vermelha. Ela pode ir sumindo ainda vermelha. Assim, ao olho não se aplica a relação coloração/tempo da lesão. Não há como auferir o nexo temporal quando há equimose subconjuntival. 
A hemorragia subconjuntival pode surgir, por exemplo, de asfixia, em razão da sugilação do sangue que não consegue voltar ao coração, não conseguem sair da cabeça. 
A forma da equimose pode indicar o que aconteceu, como, por exemplo, se tivermos estigmas ungueais ou digitais no pescoço, que são marcas de dedos ou unhas, que indicam esganadura. 
Equimose periórbitaria, famoso olho roxo, pode ser resultado de impacto direto ou de fratura na base do crânio. Ou seja, não é certo que um olho roxo tenha sido decorrente de um soco no olho, podendo ter outras origens. Quando se dá nos dois olhos, chama-se de sinal do Zorro ou do guaxinim. 
O perito não diz o que aconteceu, ele diz os vestígios. Ele não trabalha com
indícios, isso quem faz é o delegado, juiz, promotor, etc.. É aplicação do brocardo visum et repertum (ver e referir), olhar e descrever aquilo que está vendo, como uma máquina fotográfica. Só vai dar opinião se for chamado a opinar em juízo para dar parecer, mas na hora de fazer o laudo, ele só diz os vestígios da lesão, descrevendo a forma, a tonalidade e o local da lesão. 
A forma, o aspecto e a tonalidade da equimose serão utilizadas para todos os demais tipos de lesão, na medidas das suas características. 
Perceba que até agora a pele não rompeu. 
Vamos agora à escoriação. A etimologia da palavra é arrancar (ex) o revestimento (corio) do corpo, que nada mais é do que a pele. 
Na escoriação há o arrancamento da epiderme em razão de ação contundente. Não sangra, quando muito aparece um pouco de plasma. Esse plasma evapora, daí no lugar aparece uma crosta, e como o plasma é incolor, branco amarelado, assim, essa crosta é branco amarelada. Essa crosta leva o nome de crosta serosa, ou seja, só há plasma, linfa. 
Só que as vezes a crosta aprofunda um pouco mais e atinge a o alto da camada basal, onde já temos alguns vasos. Assim, a escoriação vai ter soro e sangue, daí fica avermelhado e não branco amarelado. Daí essa crosta será sero-hemática. 
Só que as vezes ela vai ainda mais fundo, e ultrapassa a derme papilar (que fica logo abaixo da camada basal, indo até a derme reticular. Aqui já há vasos sanguíneos maiores, sangra mais, daí eu vou ter uma crosta hemática. 
Mas a escoriação nunca passa da derme, se ultrapassar a derme, a lesão deixa de ser escoriação e vira ferida. A diferença entre ferida e escoriação não é extensão, mas a profundidade. A mais profunda das escoriações é mais superficial que a mais superficial das feridas. 
É interessante que na escoriação, a camada basal que sobra substitui a pele. Daí nos primeiros dias, temos a casquinha vermelha, três dias depois, ela fica castanha, depois de 5 dias, ela começa a ficar preta, mas 3 a 5 dias, ela começa a soltar em volta, mais 3 a 5 dias ela se solta inteira, da periferia pro meio. De baixo da casca há uma epiderme rosada. Uns 10 dias depois a pele esta completamente regenerada. Assim, a escoriação regenera totalmente, sem deixar vestígios. 
No entanto, na ferida, ela, por mais superficial que seja, ela atinge os planos inferiores, então não tem como ela regenerar. Então a evolução de uma ferida é através de uma cicatriz, que fica pra sempre. 
A escoriação regenera e a ferida cicatriza. 
A vítima da escoriação não pode demorar a ir ao legista, porque os vestígios podem sumir. Já a vítima da ferida pode ir muito tempo depois, já que a
cicatriz não vai sumir. 
Através da crosta da escoriação eu posso estabelecer o nexo temporal, analisando a cor, a consistência, se ela está fixa ou se soltando. A data não é precisa, é aproximada. 
Através do estudo da forma da escoriação, eu vou poder saber qual foi a forma que a lesão foi feita, como a marca dos dedos ou das unhas no pescoço no caso de esganadura. Dá pra saber se foi a mão direita ou a esquerda, se foi pela frente ou por trás. Assim, dá para estabelecer o nexo causal. Essas lesões típicas das unhas e dos dedos leva o de estigmas ungueais ou digitais, respectivamente. Estigma é marca. 
Feridas contusas 
Vamos transpor agora a barreira da pele, ultrapassando a derme, estudando as feridas. 
Vamos falar só de ferida contusa, pois estamos estudando as ações contundentes. Mas termos que compará-la com a ferida incisa, que decorre da ação cortante. A ferida incisa faz uma incisão, ela corta, a ferida contusa resulta de uma contusão, ou seja, o agente contundente não corta, ele rasga. 
Aspecto a observar 
Feridas incisas 
Feridas contusa 
Bordas 
Regulares, sem escoriações 
Irregulares, escoriadas 
Cauda de escoriação 
Pode estar presente 
Extremamente rara 
Vertentes (paredes) 
Regulares, em bisel ou verticais 
Irregulares, anfractuosas 
Traves de tecido entre as vertentes 
Em geral, ausentes 
Em geral, presentes (traves de tecido segurando uma vertente na outra) 
Fundo 
Em geral, regular 
Em geral, muito irregular 
Vasos 
Em geral, sangram mais (já que são cortados) 
Em geral, sangram menos (ficam esmagados) 
Cicatrização 
Mais estética, linear 
Menos estética, irregular
O instrumento cortante com o gume cego pode agir como se fosse um instrumento contundente. Se eu tenho uma ferida com bordas regulares e me apresentam um instrumento cego, provavelmente esse agente não fez essa ferida. 
O contrário também se aplica, se vem uma ferida com bordas irregulares e apresentam um instrumento cortante afiado, essa ferida não foi feita por esse instrumento. 
Só que as vezes a força do agente contundente é maior, podendo alcançar o osso e gerar uma fratura interna ou exposta. 
O esmagamento o tecido é esmagado, ficando amorfo. Mas quando o esmagamento é tão intenso que uma parte o corpo é separada da restante, chama-se de amputação traumática. 
Cuidado que o termo amputação é reservado para atos médicos, o termo para ação lesiva é mutilação, sendo mais correto se falar em mutilação traumática. 
Mecanismos de ação: 
1) Pressão; 
2) Tração; 
3) Torção; 
4) Deslizamento; 
Lesões mais comuns: 
1) Rubefação; 
2) Equimose; 
3) Bossa; 
4) Hematoma; 
5) Entorse/luxação; 
6) Fratura fechada; 
7) Escoriação; 
8) Ferida contusa ou incisa; 
9) Fratura exposta; 
10) Amputação; 
11) Mutilação;
12) Esmagamento. 
AULA 2 
Lesões e morte provocadas por instrumento perfurante 
Instrumento perfurante é aquele que tem a forma cilíndrica com a extremidade cônica, portanto ele é cilíndrico-cônico. Ele tem a extremidade cônica para entrar mais fácil na pele, já que a pressão vai ser maior, já que a superfície vai ser menor (Pressão = força/superfície). 
Exemplo de instrumentos perfurantes temos a agulha de seringa, por exemplo. Esses são os instrumentos perfurantes de pequeno calibre. Mas temos também os de médio calibre, como os picadores de gelo, espetos de churrasco, vergalhões com ponta. A diferença entre os calibre é a lesão que eles vão fazer. 
Agora os instrumentos perfurantes de grande calibre não existem porque eles passam para outra categoria, que seriam os pérfuro-contundentes. 
A pele tem, na derme, uma grande quantidade de fibras elásticas, elas que conferem a elasticidade que a pele tem. Quando o instrumento perfurante penetra na derme, como ele não corta, não tem gume, ele simplesmente afasta as fibras. 
Se ele é de pequeno calibre, as fibras se afastam momentaneamente, o instrumento passa e quando sai, as fibras voltam para o lugar, ficando uma lesão puntiforme ou punctória. Essa lesões são feridas, eis que ultrapassam o limite da derme. Na maioria das vezes não sangram, porque, mesmo que atinjam um vaso, quando saem as fibras dos vasos fecham. Mas elas podem ser mortais porque o instrumento pode estar infectado. 
Essas feridas que inflamam se chamam flebites. Se elas foram crônicas, os vasos começam a endurecer, daí nós temos a flebosclerose. A presença de flebites ou flebosclerose me indicam que essa pessoa que usa com muita freqüência introduzidas por meio de instrumentos perfurantes de pequeno calibre, podendo se tratar de um usuário de drogas, mas não podendo excluir pessoas que realmente precisem de medicamentos. 
Feridas punctórias na barriga de gestantes podem indicar que ela fez exames do feto, como na amniocentese, para saber o sexo do neném, se existe algum problema, etc. Mas, as vezes, o que é introduzido no útero é uma substancia tóxica para provocar o aborto, sendo que o único vestígio que o delito deixará será essa ferida puntiforme na ponta da barriga. 
Vamos agora aos instrumentos perfurantes de médio calibre. 
Esse instrumento não corta, ele só perfura. Daí no que ele entra no corpo, ele atravessas as fibras elásticas do corpo, mas como ele tem um calibre
significativo, ele afastas as fibras. Só que ele as afasta muito, de tal maneira que quando ele esta introduzido no corpo ele fica com um orifício circular. No momento em que o instrumento sair, as fibras vão tentar voltar ao aspecto natural. Mas sendo um instrumento de médio calibre, essas fitas foram esgarçadas e esticadas além de um certo limite. Então, na hora que o instrumento sair, as fibras tentam fichar o buraco, mas não conseguem. Daí a forma da ferida é de um circulo esticado, uma fenda, uma casa de botão, uma bucetinha. 
O problema é que a ferida feita pelo instrumento perfurante de médio calibre parece muito com a ferida feita pelo instrumento pérfuro-cortante de dois gumes. Só que se o perito usar uma lupa, os ângulos são agudos e cortados no pérfuro-cortante, no perfurante são agudo e repuxados. 
Como a pele é elástica, cada região do corpo tem uma linha de força que puxa a pele em um sentido. Daí, as feridas feitas pelos instrumentos perfurantes em locais próximos têm a mesma direção, já que a pele repuxa a todas da mesma forma. 
Daí criou-se as leis de Filhós: 
1) lei do paralelismo: as feridas perfurantes feitas por um instrumento de médio calibre, em uma mesma região, serão paralelas entre si. 
2) lei da semelhança: as feridas são semelhantes às feridas pérfuro- cortantes de dois gumes. 
Anos depois, um cara chamado Langer criou a lei do Polimorfismo, que diz que as feridas perfurantes quando são feitas em uma área de entrecruzamento e superposição de fibras elásticas, como na conexão do peito com o ombro, mostrarão aspecto estrelado, anômalo, ou seja, polimorfo. Eu não terei a forma definida da ferida. Daí a leis de Filhós não se aplicarão. 
O estomago é formado por músculos, sendo que as fibras estão em mais de uma direção, em camadas superpostas. Daí se você introduzir um instrumento perfurante no estomago e observar cuidadosamente essa lesão você repara que na camada superficial a ferida tem uma forma, tracionado uma direção, numa camada mais profunda a ferida vai estar em outra direção. Quanto mais camadas superpostas você tiver, maior o numero de direções você vai ter. 
Agora, se eu tiver um instrumento pérfuro-cortante de dois gumes, as feridas vão ter direções diferentes, de acordo com a incidência na qual o instrumento entrou, não tendo qualquer relação com a direção que as fibras elásticas puxam. Não se aplicarão nem a lei de Filhós e de Langer. 
Estoque é um instrumento perfurante feito com um vergalhão apontado. 
A tesoura fechada é um instrumento perfurante de médio calibre. Quando
você abre a tesoura cada lado será um instrumento pérfuro-cortante de um gume. Agora, se a tesoura for de calibre maior, ela não funcionará mais como instrumento perfurante, mas pérfuro-contundente. Mas aberta, funcionará da mesma forma como um instrumento pérfuro-cortante de um gume. 
Lesões e morte por instrumentos cortantes- 
É aquele instrumento que tem uma lâmina, que tem uma das extremidades afiadas, chamada de gume. Quanto mais afiado for o gume, menor vai ser a força que eu vou ter que aplicar, já que a superfície vai ser menor. Mas será mais fácil ainda se eu deslizar o gume, daí ele vai afastar, cortando as fibras que unem a pele. 
A ferida não será mais puntiforme, mas sim em linha, já que a extensão vai ser maior que a profundidade. Quando eu olhar as bordas dessa ferida, as bordas serão regulares, sem escoriação, os vasos na parede da ferida estão cortados, daí eles sangram muito. Essa ferida é chamada de ferida incisa. 
Uma das características dessa ferida incisa é que na hora que o agressor atinge a pele, ele está utilizando um força maior, daí ele desliza e tira. Daí se nota que a ferida é mais profunda no inicio, e vai se superficializando no final. Assim, o ponto mais profundo marca o inicio do golpe e o mais superficial a saída. As vezes o final é tão superficial que atinge apenas a derme e a epiderme, não sendo mais ferida nesse ponto, mas sim uma escoriação. Daí um cara chamado Romanese disse que essa escoriação que marca o final da ferida é chamada de cauda de escoriação. Só que pode acontecer que antes de o instrumento entrar, ele atinja apenas a superfície, e aparece uma escoriação no inicio, mas não posso chamar de cauda no inicio, porque ela fica no final. Resolveu-se chamando de escoriação de entrada e escoriação de saída. A escoriação que fica mais próxima da maior profundidade é a de entrada, e a que fica mais próxima da menor profundidade é a de saída. 
Analisando-se a ferida, podemos saber o sentido que o golpe foi dado. 
O ato de deslizar chama-se de ação em arco de violino, porque é como se o instrumento cortante fosse o arco e a pele as cordas do violino. A lesão não parece um arco de violino, o movimento é que parece. 
Mas como diferenciar uma ferida incisa feita com o objetivo de lesionar e a ferida com a finalidade médica, chamada de ferida cirúrgica, sendo essa feita pelo bisturi, que é um instrumento cortante. As características básicas das duas feridas são as mesmas. Mas o agente que visa atingir a vítima causa uma ferida com o fundo côncavo, variável. Na ferida cirúrgica, o bisturi entra, corre e sai, não tendo escoriação de entrada ou de saída, e a profundidade na entrada é igual a profundidade de saída. Além disso, o fundo é plano e não côncavo.
Mas deve-se levar em conta também a localização da ferida, já que incisões médicas não são feitas em qualquer lugar, mas em lugares específicos, a depender do intuito do médico. 
Mas guarda-se o nome ferida incisa para lesões criminosas. 
Há um grupo de feridas incisas que atingem a vítima exatamente no nível do pescoço. Se o agente cortante passa na parte anterior (da frente) ou lateral do pescoço, dá-se o nome de esgorjamento.- 
Nome da ferida 
Esgorjamento 
Degolamento 
Decapitação 
Localização no pescoço 
Antero-lateral 
Posterior (atrás) 
Independe 
Agente vulnerante 
Mais comum: cortante, pode ser pérfuro- cortante e corto- contundente 
Mais comum: cortante, pode ser pérfuro- cortante e corto- contundente 
Mais apropriado: corto- contundente. O simplesmente cortante não é suficiente, em tese 
Causa jurídica da lesão 
Predomina o suicídio 
Predomina o homicídio 
Comuns: suicídio e lesão post mortem 
Causa da morte médica 
Anemia aguda, hemorragia externa. Pode haver broncoaspiração e embolia gasosa 
Anemia aguda, hemorragia externa. Pode haver broncoaspiração e embolia gasosa 
Descerebração e anemia aguda por hemorragia externa 
Quando você passa um agente cortante no pescoço, você pode cortar a parte respiratória (cartilagens respiratórias), a parte circulatória (veia jugular ou artéria carótida) ou a parte neurológica (nervo vago que vai para o coração). A causa da morte no esgorjamento vai depender de qual foi o elemento lesionado pelo agente vulnerante. Você pode, por exemplo, morrer “afogado” por ter aspirado seu próprio sangue (haverá um aspecto de mosaico hemorrágico nos pulmões, indicando que a pessoa estava viva quando aspirou o sangue), você pode morrer de embolia gasosa porque entrou ar na veia jugular, já que o coração faz sucção, se você atingir o nervo vago, você morre de parada cardíaca porque é ele quem dá a ordem pro coração bater, pode morrer pela perda excessiva de sangue (anemia aguda), que pode atingir um ponto tal que chegue a um choque
hipovolêmico (choque em que o volume de sangue diminui), sendo a morte iminente, etc. 
Mas para saber se foi suicídio ou homicídio temos que analisar outros aspectos. 
Como a entrada é mais profunda que a saída, se a vítima for destra, ela vai fazer um corte no lado esquerdo, de cima pra baixo e de trás para frente. Assim, eu devo encontrar uma ferida na parte posterior e mais superficial na parte anterior. O lance é que a pessoa está confusa, daí ela não tem muita certeza do golpe que vai dar. Por isso é comum encontrar na vítima lesões de hesitação no punho, sendo feridas superficiais, não mortais, indicando que a vítima está tomando coragem para dar o golpe mortal, está hesitando. Mas como ela corta alguma vezes no punho e não morre, ela vai pro pescoço. Quando ela chega no pescoço, ela não dá um golpe decisivo, mas pequenas feridas pouco profundas e aos poucos ela vai aprofundando, daí, aos poucos, você nota uma ferida que tem entalhes está dizendo para o observado que o golpe veio e parou, veio de novo e parou, indicando que a vítima esta hesitando, que ela não está convicta, falando em favor do suicídio. O agressor não da golpe aos poucos, dá um golpe só. Mas não é patognomônico, essas lesões falam em favor daquelas hipóteses. 
A pessoa quando é atacada, ela para se defender de golpe usa as mãos, daí é muito comum que apareçam lesões na região palmar, na borda ulnar (osso ulna) parte de fora do antebraço. Essas lesões são as lesões de defesa. Assim, se tivermos lesões de defesa e golpe único no pescoço, não terei dúvida que estou diante de um homicídio. 
As lesões de hesitação não são mortais, porque ai não seriam de hesitação. E normalmente são agrupadas em áreas comuns de suicídio, pulso, cotovelo, área do coração e pescoço. 
O degolamento é na parte posterior do pescoço, de trás, mas, de resto, se aplica tudo o que se disse acima. 
Na decapitação, não importa de onde veio o golpe, desde que se tenha cortado a cabeça, separado do corpo. Normalmente, utiliza-se um objeto mais pesado, corto-contundente. Exemplo é a guilhotina. 
Quando o agente cortante atinge o corpo através de uma prega de pele, ele vai fazer duas feridas incisas, mas um só golpe. É o caso do golpe que pega no braço e depois no tórax, o golpe que pega na duas mamas da mulher, mas não chega no peito em baixo. Ou o caso de um gordão que emagrece e fica com as pelancas, daí pode ser que um só golpe pegue varias pregas de pele. Assim, nesses casos, um só golpe dado em uma prega de pele, vai produzir inúmeras lesões. 
Portanto, nem sempre o número de feridas vai ser igual ao numero de golpes.
Quanto mais enrugada for a pele, maior o número de feridas que aquele golpe único vai ocasionar. 
Isso acontece muito também com tiro, que vai atravessando o corpo, passando por braços e tórax, por exemplo. Assim, você pode ter varias entradas e saídas, mas um tiro só. 
Assim, as vezes uma lesão culposa pode produzir múltiplas lesões. 
Outro aspecto interessante é quando a pessoa recebe um corte horizontal e vertical no mesmo lugar, como uma cruz, ou duas diagonais, como um X. Assim, a ferida vai ficar em forma de estrela. 
Se a vítima estava viva, uma das características da vítima viva, é a retratibilidade. Isso quer dizer que quando a pele é cortada com a pessoa viva, a pela retrai, ela repuxa. Não fica fechada, linear, só fica assim, se o corpo já estiver morto. Se estiver vivo, ao receber um corte no pescoço, por exemplo, a retratibilidade da pele faria abrir uma enorme breca no pescoço. Uma pessoa que perde a mão para uma guilhotina, no lugar em que ela foi cortada, a pele retrai, deixando a parte em baixo da pele exposta. A mesma coisa com a decapitação, se a pessoa tava morta quando foi decapitada, não haverá uma retração da pele. 
Assim, voltando aos dois cortes no mesmo ponto. Quando ele recebeu o primeiro corte, a pele abriu, quando recebeu o segundo golpe, a pele já estava aberta. Daí faz-se o seguinte, escolhe-se uma das feridas e fecha-se ela. Daí quando for fechar a outra, se essa segunda a ser fechada foi a segunda a ser feita, ela não fechará em uma linha continua, mas sim quebrada. Isso que dizer que você fechou na ordem certa, ou seja, fechou primeiro a que foi primeiramente feita e em segunda a que foi feita em segundo lugar pelo agressor. 
Se você não tiver feito na ordem certa, haverá uma sobra de pele, você não consegue fechar. Daí você tem que desfazer e começar pela outra para ver se acontece o que foi dito acima. 
Lesões e morte pelos agentes mistos 
Vamos começar pelos pérfuro-cortantes. Ele tem que ter uma ponta para poder furar e pelo menos um gume para poder cortar, mas ele pode ter inúmeros gumes. Dois gumes – punhal. Três gumes – lima do serralheiro, a lesão é em forma de triângulo. Quatro gumes – estrelinha ninja (shuriken), daí a lesão vai ter forma estrelada. 
Na pérfuro-cortante de um gume, a ferida vai ser em forma de gota, tendo um ângulo agudo e um ângulo arredondado, rombo. O ângulo fechado demonstra que ali agiu o gume, no ângulo rombo sabe-se que ali entrou o dorso do objeto. Quanto mais rombo o ângulo, mais grosso o dorso, e quanto mais agudo o ângulo, mais afiado era o instrumento.
Mas isso é para o caso de a faca entrar na vertical. Se ela entrar inclinada, ela vai ter as duas bordas agudas, como se tivesse dois gumes, apesar de ser um instrumento pérfuro-cortante de um gume. 
Agora, se ele tem dois gumes, ele vai fazer uma ferida em fenda, lembrando que pode ser também um instrumento perfurante de médio calibre. Assim, tenho que olhar as bordas, se elas estiverem cortadas, pérfuro-cortante de dois gumes, se estiverem repuxadas, sem cortes, o instrumento é perfurante de médio calibre. 
A medida de gumes que o instrumento tem, mais ângulos ele terá. Assim, poderíamos imaginar um instrumento pérfuro-cortante com um sem numero de gumes, podendo fazer parecer com a ferida de um instrumento perfurante. Mas isso só em exemplo de laboratório mesmo, na prática esse instrumento não existe. 
Como o instrumento é pérfuro-cortante, se ele agir por pressão, a ferida vai ser mais profunda do que extensa. Porque se eu pegar o instrumento pérfuro-cortante e deslizá-lo, terei uma ferida incisa, mas o instrumento continuara sendo pérfuro-cortante. Não se confunde a lesão com o nome do instrumento. 
Se for de dois gumes, terá ferida em casa de botão. 
Imagine que uma faca tenha certa largura e certa profundidade. Só que a ferida é muito mais larga e profunda que a faca que a ocasionou. Isso ocorre porque quando ela penetra o agente arrasta a faca na direção do gume. A extensão da ferida será maior do que a largura da face, é o que ocorre no haraquiri japonês. Quando você corta a barriga, os intestinos pulam, daí fala-se que houve evisceração. 
Agora imagine um gordão que tem de distância da pele até a aorta tem 70 centímetros (profundidade), e eu sei isso com a minha régua, que é o instrumento indispensável do perito, sendo que tem que ser de papel, não pode ser chique, porque o Blanco é roots. Sabe-se também que por trás da aorta passa a coluna vertebral. 
Só que a faca que fez a ferida tem 30 centímetros. Mas como pode? Um perito Frances chamado Lacassagne disse que em áreas capaz de sofrerem compressão, se você usar uma pressão muito grande naquela região, você pode fazer com que a pele se aprofunde e fazer com que um instrumento de 30 centímetros alcance um órgão que está a 70 cm da pele. A pele foi comprimida, daí como, as vezes, a arma tem uma guarda, essa guarda fica marcada na pele, deixando sua assinatura. Daí você vê uma ferida em casa de botão com uma equimose de cada lado. Isso demonstra que foi aplicada grande pressão na pele. 
Esse tipo de lesão, o Lacassagne chamou esse tipo de lesão em lesão de sanfona ou de acordeón.
Uma ferida que passe por baixo da pele, mas que não entre na cavidade abaixo da pele, seja na cabeça, não entrando na caixa craniana, ou no peito, não entrando na cavidade torácica, atingindo só a pele mesmo, essa ferida leva o nome de ferida em sedenho. Por baixo da pele e fora das cavidades. 
Já quando um ferimento tem entrada e saída, ele é um ferimento transfixante. Já quando tem entrada, mas não tem saída, ele é um ferimento penetrante. Daí esse ferimento acaba em algum lugar, esse lugar é chamado de lesão em fundo de saco, outros chamam de ferida cega. É cega porque você não vê o outro lado. 
Quando for transfixante ou penetrante, ele pode ser não cavitário, ai ele é sedenho. Mas ele pode ser também cavitário, sendo normalmente mais graves porque corre muito mais risco, já que ele pode acertar órgãos internos. 
Quando o ferimento arranca parte do couro cabeludo, o nome que se dá é lesão em escalpe. Só arranca a pele, não quebra nada. 
Mas se estivermos de posse de uma haste de grande calibre, instrumento perfuro contunde, se ele penetrar na região do ânus, atrás da bolsa escrotal ou da vagina, teremos uma ferida específica. Essa região em volta do ânus se chama períneo. O nome dessa lesão é empalamento. A estaca pontiaguda entra pelo períneo. Agora, se o instrumento de haste entrar por qualquer outra parte do corpo, encravamento. A diferença é que o empalamento tem uma localização específica. 
O dente pode causar lesões diferentes a depender de qual dente se analise. Os dentes da frente são cortantes, os caninos, pérfuro-contundentes, e os molares, contundentes. Mas, de um modo geral, a arcada humana, exerce uma ação corto-contundente, sendo que ele pode arrancar pedaços, daí se dá o nome de lesão em saca-bocado. A importância para a pericia é que através da marca da dentada você pode identificar o autor da dentada. A dentada é uma lesão com assinatura. Ela é uma lesão patognomônica – essa lesão, esse instrumento, é uma associação com grau de certeza. 
Esquartejamento é diferente de espostejamento. Aquele é dividir em quatro. Este é cortar a pessoa em pedaços para, talvez, dificultar a identificação ou para ocultar o cadáver. Antigamente se espostejava a vítima para fazer publicidade de mortes. 
AULA 3 
Balística: 
Arma: Qualquer instrumento (aparelho manufaturado pelo homem) com
objetivo primordial de atacar ou defender. Arma imprópria é aquela que não foi criada para atacar, para outra finalidade, mas que podem servir para ataque. 
Da próprias, temos as de arremesso, como a zarabatana (Curare, capaz de causar paralisia no corpo), arco e flecha. 
Arma de pressão: não chegam a ser arma, usada para esportes e diversão, disparando chumbinho, que não pode passar de 6mm de diâmetro e projeto podem atingir 160 m/s. Pode ser por mola ou por pressão. Não se incluem nas armas de fogo proibidas. 
Arma de fogo, o nome, decorre do fato, porque para que o projétil seja lançado, a carga do propelente, ao queimar, produza gás, que ao se expandir, saia o tiro. 
Arma brancas levam esse nome porque tradicionalmente são confeccionadas em metal, que dão a impressão ao sol de serem brancas. São utilizadas pela força muscular. 
Nas armas de fogo, o projétil é disparado pela queima do gás que normalmente é pólvora. Quanto maior a quantidade de gás, maior a força do projétil. 
O projétil normalmente é de chumbo, que fica no estojo, local que contém a pólvora. O projétil é colocado tampando o estojo. Para queimar a pólvora, coloca-se um espoleta na base da bala. Na hora que a espoleta recebe pressão, ela solta uma faísca, dai a pólvora vai liberando gás até o momento que a pressão fica tão grande que é expelida. 
O cano da arma serve para direcionar o projétil em direção ao alvo. O projétil deve passar bem justo com o cano, sem espaço. Por isso que se usa chumbo, que é mais mole, dai pode sofrer deformações ainda dentro do cano, não deixando escapar gases. Saindo do cano, não há mais aceleração, sendo a velocidade máxima do projétil na boca da arma. Dai pra frente ele sofre desaceleração com o ar. 
O cartucho nada mais é do que o conjunto formado pelo estojo, projétil, pólvora e pela cápsula de espoletamento (espoleta). 
O cão é o que bate na espoleta. Na ponta do cão fica o percussor. 
Arma carregada é a que tem uma bala pronta para ser disparada. Arma alimentada é a que tem balas no carregador. 
O nome pistola vem de pistão, já que o cano da arma parece um pistão ao ser acionada ejetando a cápsula. 
O fabricante para otimizar a carga de gás, aumenta o tamanho do cano, que empurra o gás mais tempo, ganhando mais velocidade e alcance. O problema é que o atrito com o cano é maior, dai se aumenta o estojo para
caber mais pólvora dentro dele. O lance também é que o atrito com o cano, poderia deformar demais o chumbo, dai ele blindou o núcleo de chumbo com uma jaqueta de metal, que tem a função de diminuir o atrito da arma com o núcleo de chumbo. 
Metralhadora é construída para dar rajada, o sub-metralhadora é feita para dar tiro intermitente, mas pode dar rajada. 
Pressão é igual a forca sobre superfície. P = F/S 
Energia cinética é igual a massa vezes a velocidade ao quadrado, sobre dois. 
EC = mV2/2 
Projétil de baixa velocidade é aquele que viaja abaixo da velocidade do som (340m/s = mach 1) 
Quando viaja acima de mach 2, é de alta velocidade. Entre mach 1 e 2, média velocidade. 
A velocidade é importante para saber a energia cinética. O projétil com mais velocidade transfere mais energia que o lento, nas mesmas condições, causando lesões muito mais graves. A lesão depende muito mais da velocidade do que do peso do projétil, já que ele pode transferir mais energia, causando mais lesões. 
Coeficiente balístico – capacidade de penetração no alvo. 
Coeficiente balístico = massa/fator de ponta x calibre2 
Quando aumentar a massa, aumenta o coeficiente, um tiro mais pesado entra mais que o mais leve. A ponta é fundamental porque, quanto mais pontudo o projétil, mais ele penetra. Quanto mais bicuda a ponta, diminui o fato de ponta, aumentando o coeficiente balístico. O ultimo elemento é o calibre, que é o diâmetro do projétil. Quanto mais grosso foi o projétil, maior o calibre, mais difícil para ele entrar. Mais fino, menor o calibre, ele entra mais. 
Quanto mais grosso e maior fator de ponta, mais energia é liberada na hora que se choca com o corpo, mas ela penetra menos. 
O objetivo do projétil é transferir a energia que ele tem ao alvo. Se o alvo é de baixa densidade, macio, elástico, que não opõe grande resistência ao PAF (projétil de arma de fogo), ele vai atravessar. 
O ferimento quem tem entrada e saída, ele é chamado de transfixante. Ele sai do corpo levando ainda energia, não transferindo toda sua energia. 
Já se o PAF atinge alvo de alta densidade, duro, rígido, o alvo vai opor grande resistência ao PAF, que tem entrada, trajeto e saída. 
O ferimento nesse caso é penetrante, entra e não sai, fica dentro do corpo.
Nesse caso ele deixou toda a energia que ele trazia dentro do alvo. Portanto ferimento transfixante transfere menos energia ao alvo, já que ele atravessa o alvo, mantendo energia ao sair. 
A extremidade do projétil cônico é mais leve que sua traseira, dai com o arrasto ele tende a levantar, virar ao contrário, dar cambalhotas, etc. 
Dai, para evitar isso, faz-se saliências e reentrâncias em forma de espiral, chamadas de raias, dai essas armas diz-se que tem alma raiada (ou estriada, mas essa nomenclatura não é tão correta), em contraposição àquelas que tem almas lisas. 
Com essas raias, o projétil é obrigado a girar em seu próprio eixo, num movimento de rotação. Com essa rotação ele evita as cambalhotas, mantendo sua estabilidade na trajetória. 
A lesão de entrada depende muito da estabilidade com que o projétil entrou no corpo, pois se bater de ponta, o buraco de entrada vai ser menor, se bater de lado, vai entrar com um buraco maior. Mas o que entrou de ponta, entra mais do que o que entrou desestabilizado. 
Soma-se a isso a densidade do órgão, um menor (pulmão) vai deixar a bala passar com mais facilidade que um órgão de alta densidade (fígado). 
O projétil quando sai do cano não vem perfeitamente reto, mas vem fazendo pequenos círculos (“com formato de nuvem”), do mesmo jeito que um peão rodando que vai perdendo velocidade. Quanto maior a velocidade, menor é o movimento lateral. 
O grande movimento é chamado de movimento de precessão. 
Os pequenos movimentos, círculos internos, movimento de nutação. 
Dai quanto maior a velocidade do movimento de rotação, maior a estabilidade, porque menor a precessão e a nutação, dai é maior a penetração, com uma lesão menor, de ponta. 
Quanto menor o movimento de rotação, a nutação e a precessão aumentam, aumenta a dificuldade cresce, dai a transferência de energia aumenta, dai a extensão da lesão é maior. 
O movimento do ponto A ao ponto B, chama-se de movimento de translação. 
Cano liso não tem rotação, e se tiver, é ao acaso. Armas de cano liso são feitas para tiro de curto alcance, como as espingardas, que tem cano longo e liso. Escopeta é espingarda em castelhano. 
Essas armas disparam um tipo especial de cartucho. Até agora estudamos cartuchos de projeteis únicos. Mas existem cartuchos que não tem só um projétil, mas varias bolinhas de chumbo, chamadas de balim, e encher o
cartucho. Como os balins não são compactos, a bala leva um bucha que não deixa que o gás passe pelos balins. Por cima, para não deixar os balins caírem, coloca outra bucha. 
Esse é o cartucho de projeteis múltiplos. A bucha também sai, na frente e atrás. 
Não precisa da raia porque não vai haver o contato do balim com o cano. 
As buchas caem rápido, mas os balins seguem e começam a se afastar, se espalhar. Quanto mais longe, menos balins penetram. E como a massa é pequena, tem pouca capacidade de penetração. Assim, a grandes distâncias, ela não é muito efetiva contra grandes animais, como o homem. 
Quanto menor o balim, cabem mais balins estojo, a depender do objetivo. O cartucho é para a espingarda, a depender do calibre (.12, por exemplo), mas o número de balins pode variar. 
Pode se colocar um projétil só também, bem grande, chamado de balote. Esse balote tem as ranhuras nas laterais, já que a arma tem cano liso. Mas como o projétil é raiado, ele tem movimento de rotação, dado pelas raias. 
Se calcula o calibre de uma espingarda não pelo balim, mas sim de acordo com o diâmetro do cano. Você faz uma esfera de chumbo do diâmetro do cano, pesa ela e vê quantas são necessárias para pesar uma libra. Na 12 você precisa de 12 esferas pra completar uma libra. Quanto maior o valor numérico do calibre aumenta, o tamanho da esfera (e, por conseguinte o diâmetro do cano) diminui. 
A bucha normalmente é de papelão. Mas pode ser uma bucha pneumática, que é como se fosse um copo cheio de balins que é disparado junto com os balins, que no ar abre suas aletas laterais. Dai, durante alguns metros, os balins são mantidos dentro da bucha, que só após abre como se fosse pára- quedas. Isso faz com que as balas fiquem juntas mais tempo e mais longo. 
Quanto mais curto o cano, maior é a dispersão dos balins. 
Com a bucha pneumática, a dispersão dos balins só vai ocorrer após uma determinada distancia do cano. 
A espingarda pode ter um “choque” na ponta do cano, que serve para diminuir a dispersão dos balins. 
Assim, não é só porque os balins entraram juntos no corpo que o tiro foi de perto. Temos que avaliar a bucha utilizada, o tamanho do cano, bem como a existência do cano. 
Em projeteis únicos, o calibre pode ser medido em centésimo de polegadas (USA - .38), em milésimo de polegadas (UK - .380) e em milímetros (ALE – 7.62mm, 5,56mm). Isso gera muita confusão.
Na proporção que o calibre aumenta aqui, o diâmetro aumenta, ao contrário da espingarda, que quanto maior, menor o calibre. 
O calibre também pode ser real, que é quando se mede a boca da arma. O calibre da caixa de munição é o nominal. 
O projétil ao passar pelo cano com raias ganha estrais. Cada arma tem um número de raias, para direita ou para a esquerda. 
Todos os projéteis que saem de determinada arma tem o mesmo número de estrias e para o mesmo lado. 
Mas cada arma, mesmo que iguais, vem com defeitos microscópicos, que fazem com que seja possível identificar de qual arma o tiro saiu. 
Assim, se batiza de estrias primárias, as feitas pela arma, e secundárias, as feitas pelos defeitos. 
Existem ainda as estrias terciárias, que são as estrias provocas pelo uso da arma, de acordo com o desgaste da arma. Essas podem ser alteradas com o uso e a idade da arma. 
Há armas que o cano são escamoteáveis, ou seja, podem ser substituídos. O lance é que a identidade tem a ver com o cano e não com a arma. Se mudar o cano, não dá para identificar mais, confundindo a perícia. 
Mas ai tem outro recurso. Cada pino de percussor, que bate na espoleta, tem sua marca própria também. Assim, se a policia encontrar o estojo deflagrado e a arma, mesmo com o cano trocado, pode se comparar essa marca do percussor nos estojos. 
Outra coisa é verificar a localização dos estojos, que se estiverem um perto do outro, o cara tava atirando parado. Se tiverem separados, o cara tava em movimento. 
Esse foi o estudo de balística, estudo do deslocamento do projétil. Se for dentro da arma, balística interna, se do lado de fora, externa. Se for dentro do alvo, balística terminal. 
O projétil é um agente pérfuro-contundente. 
Se é um projétil de guerra, o objetivo é transfixar, pois saída, ele tem potencialidade de atingir outro alvo. O tiro policial não tem objetivo de transfixar, pois tem alvo definido, eis que só pode atirar em legítima defesa própria ou de terceiro. Por isso a policia deve usar projeteis de ponta romba e de chumbo mole, não revestidos por metal. 
Isso tudo dificulta a penetração. Na hora que o projétil bater no alvo, ele se deforma, parecendo um cogumelo, tendo muita dificuldade continuar atravessando o alvo, dispersando toda sua energia. Seu stopping power é maior. É normal também se fazer um orifício na ponta do projétil, com o
objetivo de criar um ponto fraco, facilitando a deformação. O nome dessa cavidade é hollowpoint. “Isso é só uma curiosidade”, velho filho da puta. 
Outra curiosidade... 
Tiro pro alto: tem menos lesividade que o tiro direto, porque tem muita resistência do ar. A tese que a velocidade do tiro pro alto é igual na subida e descida só funciona no vácuo. Quando ela desce na atmosfera, tem menos potencialidade lesiva. Se tiver trajetória de parábola, ela continua tendo muita potencialidade lesiva. 
E mais uma... 
Dizem que a bala queima, mas não é verdade. Na boca da arma, há uma língua de fogo. Mas a variação térmica do projétil é muito pequena. O projétil entra cheio de bactéria, devendo-se tomar antibiótico. 
Agora, pra fechar. 
Há possibilidade de entoxicação pelo chumbo. Assim, deve-se retirar o projétil do corpo. Mas se ele estiver em um lugar que não esteja em contato com nada, o organismo vai envolve-lo e ele vai ficar isolado. O problema é quando ele fica na articulação e não é retirado. O líquido da articulação ataca o chumbo, que se dissemina pelo organismo e pode entoxicar. 
Aula 4 
Lesões por instrumentos pérfuro-contundentes – PAF – Lesões de entrada 
A função do projétil é perfurar, mas com calibre alto e ponta rombuda, ele além de perfurar, contunde. 
O mecanismo de lesão da PAF é a pressão que exerce sobre a superfície. O grau de contusão é maior ou menor de acordo com a ponta do projétil. 
Trajeto é diferente de trajetória. O primeiro é o percurso que o PAF faz dentro do alvo. Trajetória é o percurso que o PAF da boca da arma até o alvo. 
A epiderme é destruída no ponto de contato do PAF, pois é mais rígida. A derme, que é mais elástica, ela sofre uma envaginação, e o projétil tenta atravessar, como se fosse um dedo de luva. O PAF vem sujo de diversas coisas, ele ao passar na derme, praticamente se limpa desses resíduos. A derme, após o PAF passar, volta ao seu tamanho normal. Por isso o orifício de entrada é menor que o calibre da arma. 
Por isso o desenho ficaria com a epiderme com um buraco maior, a derme com um buraco um pouco menor e suja desses resíduos, desse sarro. Essa
parede suja leva o nome de orla de enxugo,(ou orla de resíduos). Como escoriação é o arrancamento da epiderme com exposição da derme, essa área limítrofe, chama-se também de orla de escoriação, que fica por fora da orla de enxugo. 
Quando aparecerem esses indícios, há evidência de lesão por PAF. 
O conjunto dessas duas orlas, a doutrina chama de anel de fisch. 
Quando o PAF passa, os vasos da derme sangram e o tecido gorduroso fica sujo de sangue. Dai forma-se uma orla de equimose, em volta da orla de escoriação. 
Essas características são de disparos feitos à distância. 
Agora veremos a incidência do tiro. 
Se o PAF atinge a pele a 90º, ele vai lesionar a pele de uma maneira uniforme por todos os lados. A orla de escoriação terá uma forma concêntrica. Isso não quer dizer que eles estejam frente a frente, o que importa é o ângulo de incidência do tiro. 
Se o angulo de incidência é oblíquo, quando o PAF bater no corpo, o atrito dele com a parte mais próxima da pele vai ser maior, dai nesse lado vai haver mais detritos e escoriações. A orla de escoriação não será concêntrica, terá formato de uma meia lua crescente. 
A orla de escoriação vai ser importante para saber de onde veio o projétil. Quanto mais espessa a orla de escoriação em relação ao outro lado, maior será o ângulo de entrada. 
No momento do disparo, o PAF parte, mas atrás dele fica a nuvem de gás proveniente da pólvora. O gás se espalha em forma de cone, conhecido como cone de dispersão. 
A primeira camada seriam os gases superaquecidos, que são como uma língua de fogo, que pode até denunciar a sua localização. Por isso algumas armas tem um supressor de luminosidade. 
Um pouco mais adiante, esse gás já não chega mais, mas a pólvora que virou fumaça chega em forma de pequenos grãos, mas como são muito pequenos, são logo detidos pelo ar. Não alcançam uma distancia maior. 
Mas grãos de pólvora que não queimou tem uma massa maior, que vão um pouco mais longe. 
O PAF faz atrito com o cano, dai saem pequenos pedaços do cano, do projétil e da mistura iniciadora da espoleta. 
Quando encontramos uma lesão provocada exclusivamente pelo PAF, sem os elementos do cone de dispersão, temos o tiro à distancia. Mas os elementos do cone tem que naturalmente não ter alcançado. Porque se o autor usou
um travesseiro, casaco, etc. Entre a arma e a vítima, esse anteparo pode ser usado como um filtro. Assim, tem-se a impressão que ele foi feito à distância, mas foi feito à curta distância. 
As vezes esse anteparo gera resíduos, como um vidro ou madeira. Assim, tem que saber que tipo de resíduo está engastado em volta do ferimento. 
Tiro à curta distância ou à queima roupa é aquele que, além do dano do projétil, tem também as alterações provocadas pelos elementos constituintes do cone de dispersão. 
O nome é “à queima roupa” porque a pólvora de fato pode vir a queimar a roupa, principalmente a pólvora antiga, pólvora negra. Hoje a pólvora produz muito menos fumaça, por isso chamam de pólvora branca, em oposição à negra. 
De acordo com os elementos do cone que alcançam a pele, podemos saber a distância do tiro. P. Ex.: se houver a queimadura, é porque o tiro foi dado de muito perto. 
Se houver uma fumaça no ferimento, se você limpar a fumaça vai ver as pequenas partículas presas na pele. 
O tiro de muito perto deixa a queimadura, que é chamada de orla de queimadura ou orla de chamuscamento. 
Esse esfumaçamento que fica em volta também é chamado de orla de esfumaçamento ou orla de tisnado (que significa sujo). 
Aquelas granulações abaixo da orla de esfumaçamento ficam na derme, fazendo uma verdadeira tatuagem, por isso são chamados de orla de tatuagem. 
Uma vez que o cone vai abrindo, tem-se maior distância da boca do cano. Você pode medir o tamanho dessas orlas, e, fazendo experiências em laboratório, você pode saber a distância em que o tiro foi disparado. 
Quanto mais pólvora tiver, mais longe vai o cone. O cone não costuma passar de 70 centímetros. Dai, se não fizerem os testes, só da pra afirmar que foi há menos de 1 metro. 
Tiro a curta distância com incidência oblíqua: 
Não se olvide que a área mais afastada do ângulo menor escoria menos. Só que no tiro à curta distância, além da orla de fisch, o material pulverolento que sair da boca da arma vai se espalhar em área mais extensa para o lado oposto do ângulo pequeno, ficando com menor intensidade de pólvora menor, e será menor a área e mais concentrada a pólvora no ângulo que vier a bala. É o oposto da orla de escoriação que é maior na ângulo que vier a bala.
O lance é que se o ângulo for muito pequeno, essa área de resíduos pode parecer maior no lado em que a bala for disparada. 
Pode haver lesão de entrada sem enxugo, desde que haja um anteparo antes que filtre, limpe a bala. Assim, se tiver enxugo, é lesão de entrada. Se não tiver enxugo, não quer dizer que não é lesão de entrada. Pode ocorrer inclusive que um mesmo PAF entre duas vezes no mesmo corpo. Na segunda entrada não vai haver orla de enxugo porque o PAF foi limpo na primeira entrada. O enxugo quando presente, garante a primeira entrada, isso é certo. 
Tiro com o cano encostado sem osso embaixo: 
Se a boca esta apoiada na pele, todo o material que sai da boca da arma, não tem pra onde se expandir, dai todo ele vai entrar na pele. Dai vai haver a orla de fisch com uma orla de queimadura. Não vai haver orla de esfumaçamento ou de tatuagem, porque tudo entrou na pele. O tiro com cano encostado não tem material pulverolento por fora, está tudo por dentro. A pele, por se muito elástica, num exame de microscópio, as bordas dessa lesão tem fissuras, que estão querendo romper, que só não se rompem porque a pele é elástica. 
Essas fissuras na pele podem aparecer também em disparos a distância quando a bala vem com muita forca. 
Disparo com o cano encostado com osso embaixo: 
A bala passa direto pelo osso, mas quando os gases vêm, eles batem no osso e voltam, mas voltam com uma pressão muito grande e o buraco de entrada que seria proporcional ao calibre do projétil, faz um buraco muito grande. Mas o que faz esse buraco são os gases. É o fenômeno da casca da banana. A parte de dentro vira pra fora como se fosse casca de banana. Um perito chamado Hoffmann, chamou essa lesão em boca de mina, porque parecia uma boca de mina de carvão, porque ela fica toda preta em volta. Também chamou de lesão em câmara de mina. 
O buraco de entrada nesse caso é muito maior que a lesão de saída. 
Quando a bala transfixa o crânio, no buraco de entrada, ele fica sujo de pólvora, já que os gases entraram junto do crânio. Esse resíduo de pólvora no osso do crânio, chama-se sinal de Benassi, normalmente, em baixo da câmara de mina de Hoffmann, temos um sinal de Benassi. 
Só que o osso do crânio é duplo, entre as duas camadas do osso, tem uma membrana, que fica cheio de pedaços de osso. E essa bala quando bate no osso, ela fica desestabilizada, dai o buraco na parte de dentro do osso do crânio é maior do que a de fora, como se fosse a metade de um cone, que leva o nome de tronco de cone, em ângulo divergente, crescente, em bisel. 
Esse aspecto de funil leva o nome de sinal de Bonnet.
Na saída, o sinal de Bonnet fica invertido, menor na parte de dentro e maior perto da saída. 
O sinal de Benassi indica que foi encostado o tiro, o sinal de Bonnet tem em qualquer entrada e saída de bala na cabeça. 
As vezes, no local em que o tiro foi dado, a boca da arma fica desenhada no local onde foi disparado o tiro, indicando que aquele é o buraco de entrada. Esse desenho também indica que não há osso por baixo, porque senão haveria uma boca de mina de Hoffmann. A esse desenho da arma na pele, dá-se o nome de sinal de Puppe-Werkgartner. 
É possível que haja um tiro com o cano encostado e com pólvora por fora, desde que haja algum dispositivo que disperse o gás proveniente do cano da arma antes do final da boca. Assim, nesses casos há a lesão de entrada e queimadura por pólvora em cima do cano. 
Se a arma não tiver encostada com firmeza, pode ser também que ela recue um pouco e não entre tudo, ficando queimado em volta da entrada. 
Lesão de saída: 
Quando a bala sai, ele começa empurrando a derme, que é mais elástica, que, por sua vez, empurra a epiderme. Dai a bala sai. Quando ela sai, a derme e epiderme voltam para posição normal. Só que nesse caso não há a orla de escoriação. Também não há orla de enxugo, porque os resíduos já ficaram pelo corpo. 
Assim, podemos dizer que a lesão de saída é, normalmente, maior que a lesão de entrada, normalmente, não tem escoriação e nem enxugo. A irregularidade da saída, dependerá da estabilidade do PAF. As vezes as lesões de saída são tão atípicas que não se consegue saber se elas são lesões de saída. 
O mesmo acontece com a lesão de entrada, se elas forem atípicas. Dai o perito tem que ficar ligado no trajeto, já que não dá pra saber pela entrada ou saída. Ele deverá olhar lascas de osso, por exemplo. 
O lance é que a vítima esta deitada, encostada no muro, com uma carteira, o PAF não vai sair normalmente, dificultando a saída. Dai a derme empurra a epiderme até o anteparo onde o PAF sairia, ai a derme se atrita com o anteparo, nisso, a derme não tem como esticar, dai a derme não vai, dai o atrito da epiderme com o anteparo faz com que eu veja uma orla de escoriação na saída do projétil. 
Orla de escoriação normalmente não tem na saída, mas nesses casos de anteparo, a saída terá também a tal orla.
Trajeto: 
Trajeto é o percurso que a bala corre dentro do corpo humano. 
Avalia-se dentro do corpo a densidade do tecido que o PAF atingiu. Se atingir um osso, por exemplo, ele vai liberar mais energia do que se atingisse o pulmão. Neste ela passa com facilidade, despendendo menos energia pra atravessar. A lesão do pulmão tem menos “exuberância” do que uma igual no fígado, por exemplo. 
Densidade = massa/volume (do órgão) 
Quanto mais macio, menor duro, mais elástico, menos denso, e vice-versa. 
Túnel permanente e cavidades temporárias: 
Túnel permanente é quando a PAF passa e deixa um rastro, mesmo após a morte eu posso saber qual foi o trajeto do PAF, em um tiro transfixante. 
Quando o PAF vem, ele vem com uma velocidade, que pode de alta ou baixa velocidade. Se ele é de alta velocidade, tem mais energia. 
O projétil entra nos tecidos como se fosse uma lancha na água empurrando a água ao passar, quanto maior a velocidade, mais ele vai empurrar os tecidos pro lado. 
O PAF de alta velocidade, além de fazer o túnel permanente, ele ao passar pelo corpo, ele pode gerar lesões pela onda de pressão produzida por sua passagem. De acordo com a resistência maior menor dos tecidos, teremos lesões maiores ou menores. 
Nisso que o PAF vai passando, forma-se uma cavidade, que só existe enquanto o projétil ta passando, que, por isso, é chamada de cavidade temporária. Essa lesão paralela vai depender dos tecidos pelos quais ela vai passar. Depois que ele passa, a cavidade temporária tende a voltar ao normal. 
O PAF quando entra no corpo se desestabiliza, não tendo uma trajetória retilínea, em regra. No túnel permanente ele fica em pé, vai virando, etc. No que ele fica em pé, ele libera mais energia. Nisso, a cavidade temporária fica maior. Ao longo da trajetória, o PAF vai virando cambalhota e assim vai formando cavidades diferente. Além disso, a densidade do órgão que a bala atravessar também vai interferir. 
No PAF de baixa velocidade, a onda de pressão deles é muito pequenas, dai não tem força suficiente pra gerar grandes lesões de cavidade temporária. Não é que não tenha cavidade temporária, o lance é que elas são fracas. 
PAF de ponta fina passam mais facilmente, liberam menos energia, fazem cavidades temporárias menores. Quanto mais grossa a ponta, maior a cavidade temporária. PAF blindado não se deforma, causa menos cavidade
temporária. 
O trajeto é muito importante para você entender a incidência do disparo. Você parte do pressuposto que o PAF seguiu uma trajetória retilínea. Mas ele pode bater num osso e mudar o ângulo de incidência, por exemplo, dai ele serve pra ter uma idéia. 
Experiência com blocos de gelatina: 
Quem vê mythbusters, pode avançar o tape... 
Quanto mais deformável for o PAF, mais cavidade temporária ele faz. 
Lesões por arma de fogo de disparo de cartuchos múltiplos: 
O número de projéteis dependerá do número de balins que haja dentro do estojo. 
A ferida aqui dependerá da distância do alvo. 
Aqui, você não vê uma ferida, mas um conjunto de feridas. A esse conjunto de lesões dá-se o nome de rosa de tiro de Cevidalli. 
Quanto maior o diâmetro da rosa, nas mesmas condições, o tiro foi menos concentrado, mostrando que o tiro foi dado de mais longe. 
Mas não pode se olvidar do choque, que serve para retardar a dispersão dos balins. Dai isso pode fazer com que varie o diâmetro mesmo que na mesma distância. O cano serrado, ao contrario, permite a dispersão mais precoce dos balins. Há a possibilidade da bucha pneumática, que retardam a dispersão também, já que esse copinho só se abre com s balins dentro depois de estar do lado de fora do cano. 
O perito não pode se basear exclusivamente na rosa de tiro de Cevidalli, já que existem variações. Ele tem que conhecer a armar e o projétil. 
As vezes dentro da pele você encontra a bucha pneumática. Bem como as vezes do lado do buraco você vê escoriações das aletas da bucha, como no sinal de Puppe-Werkgartner, indicando que a bucha deve estar de baixo da pele. 
É muito importante analisar as vestes da vítima, pois elas podem ser capazes de filtrar os elementos do cone de dispersão. As vezes a bala passa pelas vestes e leva um pedaço pra dentro do corpo. 
Residuografia é o estudo dos gases expelidos pela arma. É possível que a mão com resíduos da pólvora. Pode estar na mão da vítima, desde que ele tenha tentado segurar a arma. 
Já não se aceita mais a pesquisa de nitritos e de nitratos para identificar a presença de pólvora, porque muitos outros produtos tem essas substâncias.
O que se busca hoje são micro partículas de metal, principalmente presentes na cápsula de espoletamento, que podem ser metais variados, mas se estiverem em quantidades compatíveis com a quantidade da cápsula, podem indicar a autoria. 
AULA 5 
Respiração orgânica e respiração celular 
Lesões e mortes causadas por asfixia 
Conceito de asfixias – mecânicas 
Chama-se asfixiologia forense. Asfixia significa falta de pulso e não falta de ar. 
Quimicamente, só dizemos que há asfixia em nível celular se houver falta de oxigênio – hipoxia – e excesso de gás carbônico - hipercapnia ou hipercarbia. Só um dos dois não é asfixia, deve haver a combinação dos dois. 
Para morrer, não é preciso que haja anoxia, que é a ausência de oxigênio, mas só a hipoxia, dês que em níveis muito baixos. 
Estudaremos a asfixia mecânica, que é tratada como uma energia vulnerante físico-quimica, porque age-se inicialmente através de um agente físico, mecânico, e, ao final, provoca uma alteração química no organismo. 
Sufocação direta pode ser a obstrução dos orifícios respiratórios. Se eu usar toalhas, a sufocação não vai deixar vestígios, se eu usar as mãos, provavelmente, vão ficar marcas dos dedos e das unhas na pele. 
Outra forma de sufocação direta pode se dar pela obstrução das vias aéreas superiores, que é a obstrução por balas, brinquedos, comida, etc., das vias respiratórias. O que acontecia com a bala Soft. 
Nos dois casos, o problema é exclusivamente respiratório. 
Outras vezes o problema é de sufocação indireta. Essa se dá quando alguém coloca um peso em cima do tórax, por exemplo. Se ela for comprimida de um modo que não consiga respirar, em 3 a 5 minutos ela morre. O nome que se dá a essa forma de sufocação indireta é compressão torácica ou do tórax. 
Quando você observa a cabeça da pessoa que estava com compressão do
tórax, você percebe que começa a aparecer um pontilhado hemorrágico. Esse pontilhado diz que há uma compressão, mas que não esta comprimindo completamente, mas só o suficiente para que o tórax não se expanda. Dai o sangue começa a acumular na cabeça, depois a extravasar graças a pressão de forma progressiva. 
Depois de um tempo parece que o cara está com uma mascara arroxeada. A essa máscara se dá o nome de máscara de Morestin. 
Essa máscara diz que um peso comprimiu o tórax de forma que o coração não conseguisse receber todo o sangue de volta, deixando o sangue se acumular nos vasos que deveriam levar o sangue de volta ao coração. 
A intensidade da máscara de Morestin diz pro perito quanto tempo o cara ficou com o peso no peito. 
Outra forma de asfixia indireta é a crucificação. Como o cara ta preso na cruz, o peso começa a forçar o corpo pra baixo, forçando a musculatura respiratória, deixando ela exausta. Dai, aos poucos, ele ia se asfixiando. 
Em se tratando de asfixia, não há sinais gerais que identifiquem-na – patognomônico. 
Petéquias são pequenas marcas de sangue, como mordidas de mosquito ou pulga. Uma petéquias um pouco maior leva o nome de mancha de Tardieu. O Tardieu quando via essas manchas tinha certeza que o cara morreu por sufocação. Mas isso já foi superado. 
Essas duas manchas indicam que na hora que ocorre um asfixia ou morte rápida, o sangue se acumula nos vasos, esses se dilatam, dai o sangue começa a extravasar, dando azo às petéquias ou manchas de Tardieu. 
Um lugar que as petéquias são bem notáveis é o globo ocular na parte esclerótica do olho, ou parte branca, que se chamam de petéquias subconjutivais. Esse é um sinal sugestivo, e não afirmativo, de asfixia. 
Asfixia por modificação do meio ambiente respirável: 
Aterramento, soterramento, confinamento são modificações qualitativas e quantitativas do ar que respiramos. 
Até 6% de oxigênio em nível celular, o ser humano suporta. Abaixo disso o cérebro começa a reclamar, tonteira, desmaio, visão turva, etc. 
Se você trocar o ambiente respirável por líquido teremos afogamento. 
Se você trocar o ambiente respirável por sólido em pó, sólido pulverolento, granuloso, há soterramento. 
Se você substituir o ambiente respirável por gases irrespiráveis ou não tóxicos, haverá confinamento. Se for gás tóxico, termos envenenamento ou entoxicação. É o caso do CO2, por exemplo.
Afogamento 
É possível o afogamento sem que o corpo esteja completamente submerso, desde que a boca e o nariz estejam. 
O afogamento pode ser com água doce ou salgada. Na prática, não faz diferença de qual o modo. 
A água salgada é mais concentrada de partículas do que a água doce. O sangue é menos concentrado do que a água salgada e mas concentrado do que a água doce. 
No momento é que há afogamento em água doce, como o sangue é mais concentrado, o glóbulo vermelho começa a receber muita água a ponto de estourar. No que ele estoura ele libera potássio (K) que é tóxico para os músculos do coração, ocorrendo o fenômeno da fibrilação ventricular, que é uma alteração do ritmo cardíaco. Assim, o coração não consegue bombear o sangue. 
Na água salgada, acontece o contrário, o sangue sai das hemácias, ficando ela murcha. 
Voltando à água doce, quando ela entra no alvéolo, faz osmose com a água do sangue, como essa é mais concentrada, ela puxa a água do alvéolo enchendo. (O afogamento em água doce leva em média 4 a 7 minutos). No afogamento em água doce o sangue fica mais diluído, menos concentrado, menos denso. 
O sangue sai do pulmão e vai para o átrio direito, descendo para o ventrículo direito, circulando o corpo e voltando para o coração, só que agora no átrio esquerdo, indo para o ventrículo esquerdo, voltando para o pulmão e recomeçando o ciclo. 
Assim, no afogamento por água doce, o sangue no átrio direito (primeiro) esta mais diluído, menos concentrado, do que no átrio esquerdo. Isso porque muita água entrou no pulmão. Assim analisando a densidade do sangue dos átrios ou ventrículos direitos e esquerdos, posso saber se foi com água doce se a densidade do lado esquerdo for menor do que a do lado direito. 
Em se tratando de água salgada, o raciocínio é invertido, o sangue perde água pro alvéolo. Assim, no exame cadavérico, vê-se a grande presença de líquido no pulmão, ocorrendo o fenômeno do edema de pulmão. É tão grande a quantidade de líquido que ele começa a voltar para a boca e narina, ocorrendo o fenômeno do cogumelo de espuma. 
Assim, o sangue fica mais concentrado no átrio esquerdo do que no átrio direito. 
Se a densidade dos átrios é idêntica, o boneco não morreu afogado, podendo ter sido jogado no mar/rio depois.
Um tal de Carrara percebeu um fenômeno interessante. Quando você coloca sal na água, a temperatura de congelamento cai. Quanto mais sal você coloca, mais baixo fica o ponto de congelamento. Assim, você pode estudar o ponto de congelamento dos sangues dos átrios esquerdo e direito para ver qual estava com mais sal e, por conseguinte, saber se morreu em água doce ou salgada. 
Afogado Branco de Parrot: necropsia branca, pericia branca, morte branca. Toda vez que você procura algo e não acha nada como causa da morte, você fala de pericia branca. A causa da morte é indeterminada. 
Dai, para solucionar isso, alguns caras vieram com a tese de que quando alguém pula numa água muito fria, haveria o choque térmico, ocasionando o grande refluxo de sangue pro coração repentinamente de modo que o coração não agüente. Poderia ocorrer também que a pessoa engoliu pequenas quantidades de água na laringe ocasionando os espasmos da glote, fechando a passagem de ar. Nesses dois casos a pessoa morre dentro d’água sem água nos pulmões. 
Portanto, o afogado branco de Parrot, na verdade não é afogado, ele morreu por problemas neurológicos, reflexos, sem deixar qualquer vestígios, mas dentro d’água. 
Outro modo de saber se a pessoa morreu afogada, é analisando se uma algas microscópicas, chamadas diatomáceas, entraram na corrente sanguínea, sendo espalhadas pelo corpo todo. 
Assim, as vezes o cara morre dentro d’água e os peixes comeram tudo, dai não dá para saber o que aconteceu. Dai se analisam os ossos para ver se ele tem algas diatomáceas na medula óssea, se tiver é porque ele aspirou água com algas, que foram parar dentro dos ossos. 
De acordo com as algas encontradas dentro dos ossos, da pra saber mais ou menos o local em que ocara morreu, porque essas algas são diferentes de região para região. Assim, mesmo que o cara tenho sido levado pela correnteza, da pra saber aonde ele morreu, pelo menos mais ou menos. Isso só no CSI Miami. 
Agora vamos estudar as lesões post mortem e intra vitam. 
Há 5 fases de afogamento, a primeira fase, ela se agita, luta contra o afogamento. Na 2ª fase ela faz uma apnéia voluntaria, segurando o ar. Só que como o gás carbônico vai aumentando dentro do sangue, esse excesso vai estimulando o bulbo, que faz a pessoa respirar, ai entramos da terceira fase, que é a hipernéia involuntária. O que mata o cara em baixo d’água não é a falta de oxigênio, é o excesso de gás carbônico. A seguir o cara entra em coma asfíxico – 4ª fase, morrendo em seguida, 5ª fase. 
Quando você olha um pulmão de um afogado, a água rompe os alvéolos, causando uma equimose. Assim, teremos as petéquias, pequenas, as
manchas de Tardieu, um pouco maiores, e agora sim, exclusiva do afogamento, as manchas de Paltauf, que são ainda maiores que as de Tardieu. 
Não há afogado sem mancha de Paultauf. 
Soterramento 
Há soterramento no sentido estrito e amplo. No amplo é aquele caso você encontra o cara literalmente em baixa da terra, mas pode ser que ele não tenha resíduos nas vias aéreas. Se ele estiver com resíduos nas vias aéreas, há o soterramento em sentido estrito. 
O material só entra no pulmão se o cara foi soterrado vivo. 
Confinamento 
O individuo fica preso num ambiente que não permite a renovação com o ar atmosférico. Por exemplo, o caso do submarino russo Kursk. 
No que a quantidade de CO2 aumenta no ambiente e cai o O2, o corpo apresenta um quadro de hipertermia, aumenta a temperatura do corpo. Assim o cara sua muito, evaporando esse suor, o ambiente fica úmido, por conta disso, o suor começa a demorar mais pra evaporar. Assim, se tivermos um quadro de suor, umidade, hipoxia e hipercapnia, esse cara morreu por confinamento em ambiente fechado. 
Mas existe confinamento em ambiente aberto, como em fossos que são estreitos e fundos. Assim, como o ar não circula lá em baixo, pode ser que a concentração de oxigênio lá chegue a 5%. Assim, após algum tempo a pessoa pode desfalecer. Ai lá no fundo tem um palmo de água, mas como o cara desfaleceu, ele se afoga em um palmo de água. 
Asfixias por constrição do pescoço 
São asfixias mecânicas. 
No momento em que o pescoço é apertado, nós podemos ter problemas em nível circulatório, arterial ou venoso; podemos ter problemas ainda na área neurológica, como no nervo vago que passa pelo pescoço, como também no seio carotídeo. Podemos ter ainda problemas respiratórios, na traquéia, laringe e no osso hióide. Podemos ter também problemas raquemedulares, quando a constrição afetar a coluna vertebral. O mais raro é o raquemedular. O mais comum é o problema circulatório, como no mata leão. 
As vezes, a pessoa para separar um briga, pega no pescoço da outra e estimula o nervo vago, que é quem manda o coração bater. Dai da uma sobrecarga nele e, em pessoas com predisposição, pode gerar uma parada cardíaca, mesmo sem querer, matando a pessoa. 
Bradicardia – oposto da taquicardia, ou seja, poucos batimentos do
coração. 
Asfixia mecânica do pescoço com as mãos é chamada de esganadura. Encontram-se marcas de dedos e de unhas no pescoço. Estigamas unguiais marca de unha, estigmas digitais, marca de dedos. 
Asfixia mecânica por meio de laço leva o nome de estrangulamento ou enforcamento. 
A diferença é que se a força que apertar o laço for o peso do corpo, termos enforcamento. Se qualquer outra força que não seja o corpo da vítima apertar o pescoço, termos estrangulamento. 
Há sinais especiais no enforcamento e estrangulamento. 
A marca deixada pela corda chama-se de sulco, analisando o sulco, podemos saber qual foi o tipo de asfixia. 
Quanto menor a superfície, o calibre da corda, precisaremos de menos força, fazendo um sulco bem visível. Se usarmos um medidor de pressão, não haverá nenhuma marca. Corda de sisal arranha o pescoço. O sulco vai depender do material utilizado, as vezes fica até um decalque do instrumento utilizado, como os elos de uma corrente. 
Quando o sulco aparece, eu posso saber se foi enforcamento ou estrangulamento. 
Se ele tava pendurado, o sulco vai ser obliquo, ascendente e vai apertar mais de um lado do que do outro, tendo profundidade variada. 
Diferentemente do estrangulamento, em que o sulco é horizontal, a profundidade do sulco é mais uniforme e ele é contínuo. 
No enforcamento, normalmente o sulco é alto, acima da laringe, acima do osso hióideo. No estrangulamento o sulco costuma ser baixo. 
Só que esses indícios são apenas sugestões, porque nada impede que a vítima estivesse ajoelhada e o agressor mais alto. Assim, seria um estrangulamento com indícios de enforcamento. Principalmente se depois da morte, o agressor pendurasse a vítima pelo pescoço. A posição e a forma do sulco são apenas sugestivos, não são patognomônicos, afirmativos. 
Enforcamento completo é aquele que não tem nenhuma parte do corpo no chão. O incompleto é aquele que a vítima tem alguma coisa apoiada no chão. 
Isso porque só o peso da cabeça já é suficiente para enforcar. 
O perito não diz se foi suicídio, homicídio ou acidente, ele só diz que foi enforcamento. 
Se o nó esta na parte de trás, posterior do pescoço, chamamos de
enforcamento típico. Se o no esta em qualquer outra parte do pescoço, chamamos de atípico. 
A parte que aperta o pescoço chama-se alça, que é sustentada pelo nó. Esse nó pode ser fixo ou corrediço. Normalmente quando ele é corrediço, ele encosta no corpo, quando é fixo ele normalmente não encosta no pescoço. Assim, se ele aparece, provavelmente teremos um nó corrediço. 
A alça pode passar mais de uma vez ao redor do pescoço, criando sulcos múltiplos ou simples. 
Na hora que o pescoço começa a ser apertado, o organismo entra em vaso dilatação, dai esses vasos podem se romper, principalmente no olho, chamada subconjuntival. 
Quando há enforcamento, há um estiramento do pescoço por conta do peso do corpo. 
A artéria carótida do pescoço, tem três divisões, interna, externa e média, chamada túnicas interna, média, etc. Quando o pescoço é esticado no enforcamento, vasos sanguíneos da carótida se rompem, causando uma equimose na túnica externa, conhecido como sinal de Friedberg. 
Mas quando esticou, a túnica interna também se rompeu, esse rasgão é conhecido como sinal de Amussat. 
Outro sinal muito importante é o que fica também na carótida quando alguém esgana com tanta força que o sinal da unha fica marcado em meia lua na carótida, conhecido como sinal de França. 
O nervo vago é protegido por uma bainha, e quando há o estiramento, há uma ruptura dessa bainha, conhecido como sinal de Dotto. 
A presença desses sinais é sugestiva e não patognomônica. 
Como no enforcamento há a vaso dilatação, as vezes você encontra o pênis do enforcado com ereção, até mesmo ejaculação. Assim, criou-se a lenda de que enforcamento é prazeroso. Chama-se de asfixia auto-erótica. 
Aula 6 
Lesões e morte causadas pela energia térmica
Calor é a variação na quantidade de energia térmica transferida de um sistema para o outro. 
Há conceitos básicos para estudar essa matéria, que são a) insolação: as lesões térmicas são causadas pelo sol; b) intermação: qualquer outra fonte de calor que não seja o sol. 
O nosso mecanismo interno de controle de calor fica na base do bulbo, denominado hipotálamo, onde funciona o centro termorregulador. É lá que saem as ordens para que o organismo se adapte a variações de temperatura. 
Atualmente sabemos que se o problema resulta de alterações no hipotálamo, as lesões são chamada de insolação. Mas se a responsabilidade não é do hipotálamo, podendo ser do sistema cardiovascular, por exemplo, então nos temos uma alteração que recebe o nome de intermação. 
Esse é o conceito moderno desses conceitos. 
Outra classificação vai depender do contato direto ou não da fonte térmica com o corpo. Se a ação do calor age no corpo de forma difusa (não há contato), então nos temos uma alteração que recebe o nome de termonose. Se há o contato, nos temos a queimadura. 
Não há queimadura do sol, há, na realidade termonose. O mesmo se eu receber o calor de uma fogueira, mas estiver distante dela. 
Os agente vulnerantes mais comuns para provocar queimaduras: a) fogo, b) liquido fervente, c) líquidos ferventes, d) gases superaquecidos, e) sólidos incandescentes, f) substancias cáusticas, g) alguns fármacos e h) vegetais. 
Os fármacos dentro do corpo sob determinadas fontes térmicas ou químicas podem gerar farmacodermites. Já a ação térmica sobe vegetais em contato com o corpo leva o nome de fotofitodermites. 
Fogo 
A proporção que o fogo vai se aproximando, o corpo tenta se defender. A primeira reação é uma vaso dilatação periférica, não conseguindo, os líquidos começam a extravasar, dai começa a haver uma elevação da epiderme. Depois a epiderme começa a se romper. 
Se notarmos tão somente a vaso dilatação na pele, avermelhada, termos o eritema, ou queimadura de 1º grau. 
Quando começa a aparecer extravasamento de líquidos vasculares, elevação e ruptura da epiderme, nos já temos o aparecimento das flictemas ou bolhas, que são as queimaduras de 2º grau. 
No momento em que a derme começa a ser agredida, essas lesões já caracterizam a escarificação da derme ou queimadura de 3º grau.
Após o fogo romper a derme, escarificar, a ação térmica é tão intensa que ocorre o fenômeno da carbonização ou 4º grau. 
Lussena classificou esses sinais e numerou-os em graus. 
Quanto mais profunda é a lesão, significa que a lesão foi maior. Entretanto a carbonização não foi tão profunda, sendo superficial. Ela nem sempre é mortal, podendo ser superficial, parcial ou geral. 
Cauterizar verruga nada mais é do que carbonizar a região. 
A carbonização, mesmo quando total ou profunda isto não significa que a pessoa morreu carbonizada. A carbonização total ocorre normalmente em organismo que já morreu de uma outra causa qualquer, ficando o corpo em contato com o fogo e sendo carbonizado. 
Não se atesta diante de um cadáver carbonizado que ele morreu de carbonização, devendo se fazer um exame profundo para saber a real razão. 
Mas como caracterizar que as lesões foram feitas pelo fogo no exame cadavérico? 
É preciso observar as características das lesões deitas pelo fogo. 
Uma forma é analisar o pelo do corpo. O pelo ao ser queimado, queima e encolhe, ficando esturricado, crestados. 
Outro jeito é: o fogo queima aonde ele encostar, podendo causar carbonização, em qualquer parte do corpo, aonde quer que ele atinja (diferentemente do líquido fervente), sendo a gravidade homogênea com o contato. 
As vestes podem influenciar também, protegendo ou amplificando a ação do fogo. 
“Onde há fogo, há fumaça”. Na fumaça há óxidos. Quando esses óxidos entram em contato com a água e com o muco da arvore respiratória, formam substancias ácidas, que reagem de forma exotérmicas, causando queimaduras internas, chamadas lesão de inalação. Se existe essa lesão, a vítima estava viva dentro do incêndio. Essa lesão pode causar o fechamento da glote, causando asfixia. Pode ser que ocorram lesões na mucosa da arvore respiratória, que pode infeccionar e levar à morte. 
Assim, se o cara foi encontrado carbonizado, mas não haviam lesões de inalação, é porque, provavelmente, ela já estava morta quando o fogo a atingiu. 
A fuligem da fumaça se deposita sobre a mucosa da árvore respiratória, nós vemos o sinal de Montalti, que nada mais é do que a fuligem na mucosa da árvore respiratória. 
Se não tem sinal de Montalti, pode ser que já estivesse morto. Se tem o
sinal, é porque tava vivo na hora do incêndio. 
Características das lesões causadas por líquido fervente 
A transferência de calor depende da superfície de contato, transferindo-se o calor do mais quente pro mais frio. 
Aqui as fases são exatamente iguais às do fogo com exceção do 4º grau. 
Aqui os pelos também não serão crestados. 
Pela gravidade, o líquido escorre, nisso ele vai esfriando, dai o ponto de contato tem uma queimadura mais intensa do que as áreas subjacente, dai dizer-se que a gravidade é decrescente a medida que o líquido escorre ao longo do corpo. 
Pode acontecer que ao esfriar o líquido junto à pele, ele se resfrie, passando a ter um aspecto sólido, deixando vestígios no corpo (pixe, cera, lacre). 
Características das lesões por sólidos incandescentes 
A ação vai ser muito parecida com a do fogo, havendo pelos crestados, carbonização, mas só onde o ferro encostar. Ficará marcada uma cicatriz capaz de representar a forma do sólido. 
Estigmatizar outrem pode configurar lesão corporal gravíssima tendo em vista a deformidade permanente. 
Lesões por vapores superaquecidos 
Pode ser vapor em uma caldeira, que, ao atingir o corpo, transfere a energia térmica para o corpo. Nesse caso também não há queimadura de 4º grau ou pelos crestados. A lesão vai ser homogênea, ao contrário dos líquidos. Assim, podemos diferenciar um do outro. Quando há grandes pressões, o vapor pode até arrancar as roupas da vítima, gerando lesões generalizadas. 
Lesões causadas por agentes cáusticos 
Serão tratados juntamente com agentes químicos. Mas já sabemos que eles causam queimaduras porque causam uma reação exotérmica, que pode queimaduras de até 4º grau. Mas não utilizamos o termo carbonização, mas sim necrose de coagulação. 
Fotofitodermite 
Normalmente é causado por limão quando exposto aos raios solares. Há uma reação com o líquido, queimando a pele. Gera lesões no máximo de 2º grau. 
Pode ocorrer com bronzeadores caseiros usando folhas de figo. Assim, tudo o que não estava protegido por roupas sofreu queimaduras. 
Lesões bolhosas que se confundem com queimaduras
Há uma quantidade muito grande de lesões bolhosas que se confundem com queimaduras de 2º grau. 
É o caso, por exemplo, das farmacodermites, reações anômalas a um determinado agente químico (remédio) que, normalmente, não produz aquele efeito. Isso é uma idiossincrasia. 
Tem que ter cuidado com a afirmativa de que a lesão bolhosa é decorrente de queimadura 
Dentro do líquido de queimadura há uma grande concentração de proteínas. Essa característica é só de queimaduras em pessoas vivas. Isso se chama sinal de Chambert. 
Em queimaduras em pessoas mortas, há o líquido, mas não há proteínas. Pode ser post mortem ou por causa da putrefação. 
Aspecto médico-legais do cadáver carbonizado 
Grave problema é identificar o carbonizado quando há uma carbonização generalizada, porque não tem mais pele, olhos, cabelo, etc. 
O cadáver carbonizado fica com os braços totalmente flexionados, como se fosse um lutador de boxe. A flexão dos músculos é tão forte que pode quebrar ossos. Isso ocorre apenas após a morte. Essa posição se dá o nome de sinal de Devergie ou do boxeur, esgrimista, saltimbanco, lutador. 
A mesma coisa se dá nos músculos inferiores. 
Para poder identificar você pode usar as digitais se elas estiverem preservadas, ou uma dobra, prega, se apresenta preservada e nessa parte dobrada tem uma tatuagem ou uma cicatriz. 
Mas se carbonizou completamente temos que procurar outras formas de identificação. 
É impressionante, mas a carbonização funciona como um isolante térmico. No momento que a superfície é carbonizada, protege-se os órgãos internos. As vezes, só. 
Nesse interior podemos encontrar elementos importantes para a identificação. 
Hoje em dia, qualquer pedaço desprezível de material preservado poderá ser utilizado para fins de exame de DNA. O problema são as regiões onde não há DNA. 
Assim, a arcada dentária funciona como identificador, se ela tiver sido preservada. 
Procura-se por eventuais cirurgias, como apendicite, ligadura de trompas, etc. Pode resolver a identidade também.
O cadáver carbonizado tem que ser aberto para averiguação. 
Fasciotomia – você corta a cobertura tendinosa do músculo quando a retração da pele após uma queimadura pode impedir o fluxo sanguíneo, causando uma isquemia. 
Dai quando isso vai pro legista, esses cortes podem ser interpretados erradamente, confundindo a fasciotomia com lesão criminosa. 
A causa mais comum de pessoas queimadas é a destruição da pele, dai a pessoa perde água e sais minerais, não sendo possível repor. Quanto maior a área queimada, maior a chance de desidratação. 
Dai Wallace criou a regras do 9 O esquema é o seguinte, você pega o corpo e divide em cabeça (9%), braços(9% x 2), pernas(9% x 2), tronco (18 %) e dorso (18%). A soma é 99%, 1 % é a área genital. Ao entrar a pessoa queimada no hospital, o medico faz o somatório das áreas queimadas para saber a área queimada. De acordo com o percentual e a profundidade modifica-se o procedimento médico. A partir de 50% o negócio começa a ficar preto. 
A segunda causa de morte é a infecção, porque sumindo a epiderme, a derme fica exposta à atuação do micróbios. 
Pode ocorrer também a já citada lesão de inalação, gerando infecções internas. 
As pessoas nos hospitais podem apresentar a úlcera de estresse de Curling. Isso não é uma úlcera, são pequenas ulcerações na mucosa gástrica, gerando uma hemorragia digestiva, podendo levar a uma anemia aguda, matando o cara. 
Modernamente, a graduação em graus foi substituída pela classificação de Krisek, agora se fala em queimaduras superficiais (1º grau), parcial - superficial ou profunda (2º grau) – essas regeneram - e totais (3º grau) – essas cicatrizam. 
Ele não fez menção à carbonização. 
Mecanismos de transferência de energia térmica 
1) condução – contato entre os sistemas. 
2) Irradiação – a onda térmica alcança o sistema receptor estando a fonte distante. 
3) Convexão/convecção – sucessivas camadas de ar ou líquido fazem a comunicação (cachoeira, ventilador). 
4) Transpiração – perda de calor graças à evaporação do suor liberado na pele.
Quem avisa pro corpo que ele tem que suar é o hipotálamo (lembra ainda?). 
A primeira ordem é vaso dilatação periférica, ao mesmo tempo os pelos são abaixados. Depois produz-se e elimina-se o suor. 
O problema é que as vezes o hipotálamo para de funcionar. Dai não se perde mais calor pela transpiração, e a temperatura interna começa a subir hipertermia. Dai fica com o corpo quente e a pele seca – sinais de insolação. 
Se perder muita água, entra em sincope térmica, desmaiando, porque o primeiro órgão principal a ficar sem água é o cérebro. 
O problema que esse pessoal de síncope morre com necropsia branca, ou seja, sem sinais. 
Agora, se o ambiente for frio, ao invés de fazer vaso dilatação, vai fazer a vaso constrição, pra não levar o frio pra dentro. O problema e que se estiver muito frio, ele fecha muito os vasos, podendo gerar uma isquemia das extremidades. Isso pode gerar a necrose dos tecidos se demorar muito, já que não chega oxigênio nos tecidos. Isso pode chegar ao extremo de amputação dos tecidos necrosados. 
Os pelos aqui ficam eriçados. 
Aqui há inibição da sudorese. Por outro lado aumenta-se o metabolismo, dai a pessoa começa a tremer para aumentar a temperatura interna. 
Há também o aumento do apetite. No calor extremo há a redução do apetite. 
OBS: encontrei a pessoa caída, o corpo quente e a pele úmida, o problema é de intermação, não é do hipotálamo. Agora, encontrei a pessoa caída, o corpo ta quente e a pele seca, temos insolação, problema no hipotálamo. 
O lance é que a intermação com o tempo acaba afetando o hipotálamo. 
Lesões causadas pelo frio 
Não são muito comuns aqui, mas temos que saber. 
Normalmente nós estamos perdendo calor constantemente para o ambiente, Só que em ambiente muito frio essa perda é muito exagerada. 
Quando estamos em muito frio, também podemos ter lesões de 1º a 3º grau. 
O 1º grau é a mesma coisa. Eritema. O 2º grau também, flictemas. 
Só que no 3º grau muda. No calor quente o que ocorre é a escarificação, aqui ocorre a granguena ou a necrose, em primeiro lugar nas extremidades.
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  • 1. TRAUMATOLOGIA FORENSE PROFESSOR ROBERTO BLANCO AULA 1 Conceito de traumatologia Estudo dos traumas. Trauma nada mais é do que a ação da energia que é capaz de produzir lesão. Essa energia que fere é chamada de energia vulnerante. Assim, trauma é da a ação da energia vulnerante. Se a energia fere, o resultado dessa energia é a lesão. Assim, lesão é o resultado do trauma. Os traumas e as lesões vão ser estudados na traumatologia. Para que o trauma possa transferir essa energia para o corpo deve haver um objeto que o faça. Objeto é qualquer material que nós tenhamos de perceber com nossos sentidos, seja ou não manufaturado pelo homem. Os que foram manufaturados para desempenhar determinado trabalho leva o nome de instrumento. Assim, todo instrumento é um objeto, mas nem todo objeto é um instrumento. Os objetos e instrumentos são os meios com os quais a energia vulnerante será transferida para o organismo. Agentes vulnerantes: 1) Física 1.1) Mecânica – exige o movimento do agente vulnerante, sendo o movimento do agente (ativo), da vítima (passiva) ou de ambos (misto). 1.2) Elétrica 1.3) Térmica 1.4) Sonora 1.5) Barométrica 1.6) Luminosa 1.7) Radiante 2) Química 2.1) Ácidos 2.2) Bases 2.3) Tóxicos
  • 2. 3) Biológica 3.1) Vírus 3.2) Bactérias 3.3) Protozoário 3.4) Vegetais 3.5) Animais 4) Mista 4.1) Físico-química 4.2) Biomecânica Agentes vulnerantes físico mecânicos: - Contundentes - Perfurante - Cortante - Misto • pérfuro-cortante • pérfuro-contunde • corto-contundente Aspecto da lesão e mecanismo de ação: Contundente – a lesão tem superfície plana ou romba, daí a lesão é plana (aspecto) e age predominantemente por pressão (mecanismo). A superfície de contato com o alvo é sem aresta ou ponta. Perfurante – o aspecto da lesão é em ponto, já que tem ponta, mas não tem gume, e o agente age por pressão. A superfície de contato com o alvo é em com uma ponta. Cortante – a lesão é em linha e o mecanismo de ação é predominantemente por deslizamento, mas também tem um pouco de pressão. A superfície de contato com o alvo é o gume do instrumento cortante. Quando se fala em lesão cortante se fala em lesão em arco de violino, já que é como se fosse um arco de violino passando sobre as cordas.
  • 3. Lesões e morte das ações contundentes. Nada impede que um instrumento cortante ou pérfuro-cortante, como a faca, faça uma lesão contundente, desde que eu bata com o cabo, mas isso não a torna um instrumento contundente, ele continua um instrumento pérfuro-cortante. Instrumento contundente não pode ter nem ponta nem gume. A característica dos instrumentos contundentes é o peso. Mas, de qualquer forma, o instrumento leva o nome relacionado às lesões que ele habitualmente gera, mas ele pode agir de forma anômala sem que isso mude sua natureza. Uma espada, que seria um instrumento corto- contundente, se bater de lado na pessoa fará uma lesão contundente, mas isso não muda o tipo de instrumento que ela é. A pele tem como camada superficial a epiderme, logo em baixo, fica a camada basal, que fabrica, renova, as células da epiderme e também separa a epiderme da derme. Na derme é que ficam os vasos sanguíneos, os nervos. A epiderme não tem vasos. Essa camada basal tem reentrâncias, como se fosse uma montanha-russa, da a derme pode avançar pra dentro da epiderme, e vice-versa, não há uma distância regular. Fala-se em estrutura de colchão ou travesseiro de casca de ovo. Essas reentrâncias levam o nome de papilas dérmicas, que são relevantes para a impressão digital. Quando um individuo vivo recebe uma pancada, esse vasos que estão embaixo da epiderme sofrem vaso dilatação, daí fica a pele fica quente e avermelhada. Quando os vasos sanguíneos recebem essa pressão, o plasma do sangue sai dos vasos através dos seus pequenos orifício. É o extravasamento de plasma. Isso é o que se chama de rubefação ou eritema. Só ocorre em vivos porque exige a vaso dilatação. Some em 30 a 50 minutos. A rubefação é uma conseqüência de uma lesão corporal, que pode decorrer de um crime de lesão corporal ou mesmo da contravenção de vias de fato. Agora, se a pressão for um pouco maior, além de o vaso se dilatar, ele rompe, daí o sangue extravasa e derrama em baixo da pele, na hora que a gente olha a pele, no lugar onde houve a pancada, aparece uma mancha. Essa mancha leva o nome de equimose. Essa tanto pode acontecer no vivo como no cadáver. Tipos se equimose: 1) Petéquias – palavra que vem de peste, porque a vítimas da peste apresentavam hemorragias puntiformes, parecendo uma picada de pulga. Daí hoje chama-se essas pequenas hemorragias puntiformes de petéquias. Antigamente, quando se viam petéquias, dizia-se que se tinha morrido por asfixia, mas hoje sabe-se na asfixia existem petéquias, mas em outras mortes que nada tem a ver com asfixia elas também aparecem. Em qualquer hipótese em que a pressão dentro
  • 4. dos vasos aumenta, a tendência do sangue é extravasar na forma de petéquias. As vezes o que acontece é um aumento de pressão. Essa pressão pode ser de dentro empurrando pra fora (compressão) ou de fora puxando pra fora (sucção). Seja uma ou outra, quando esse sangue começar a sair, ele vai sair na forma de petéquia. 2) Sugilação – é um conjunto de petéquias numa área de maior pressão, seja decorrente de um chupão ou de uma ventosa. Quando a pessoa está morta, o sangue desce para as partes mais baixas do corpo, daí a pressão de dentro para fora cria sugilações post mortem. 3) Víbices - duas equimoses lineares (víbices) paralelas com centro livre, como no caso de lesão com instrumento cônico (cassetete). 4) Manchas de Tardieu – petéquias um pouco maiores do tamanho de ervilha. Antigamente, essas manchas eras diagnosticadas como asfixia. Hoje sabemos que essas manchas aparecem em vários tipos de morte (envenenamento, infarto do miocárdio, qualquer morte que não haja extravasamento de sangue pode aparecer manchas de Tardieu). 5) Manchas de Paltauf – quando se morre por afogamento, a água entra nos alvéolos, rompendo os capilares e, por conseqüência, vasos sanguíneos, ocorrendo hemorragia dentro do pulmão. Daí nós vemos algumas equimoses no pulmão do afogado. Essa equimoses recebem o nome de manchas Paltauf. Podem ter petéquias e manchas de Tardieu no pulmão do afogado, mas tem que ter mancha de Paltauf. Já uma pessoa que morrer por eletroplessão, infarto ou envenenamento pode ter petéquia, mancha de Tardieu, mas não terá mancha de Paltauf. Esta mancha é patognomônica de afogamento. Se você acha um cara morto na água sem essas manchas, você pode procurar outra causa de morte, porque não foi afogamento. O que de comum entre todas elas, é que são todas espécies de equimoses. 6) Máscara equimótica de Morestin – para que uma pessoa respire, a pessoa faz movimentos de tórax, se um peso age em cima do tórax, dificulta o movimento do tórax. Quando há uma compressão do tórax o esterno fica comprimindo o coração contra a coluna, daí ele não consegue se expandir normalmente. Ele consegue mandar o sangue, mas não consegue recebê-lo porque está comprimido, daí o sangue começa a se acumular na cabeça. Nesse momento, ele em gotículas começa a extravasar em forma de petéquias. Daí, dependendo do tempo em que ele ficar submetido a essa compressão, já que o sangue não consegue voltar, depois de um tempo, aquelas petéquias viram sugilações. De repente, a face e o pescoço estão totalmente tomadas por uma máscara, como se fosse uma equimose única, mas não é isso, é como se fosse milhares e milhares de petéquias resultantes do extravasamento de sangue. Essa é a máscara de Morestin.
  • 5. 7) Equimose cérvico-facial de Le Dentu – é sinônimo de máscara de Morestin. A presença dessas máscaras significa compressão do tórax, porque coração consegue fazer a sístole, ou seja, bombear o sangue, mas não consegue fazer a diástole, ou seja, ele não consegue captar o sangue que ele acabou de enviar. São formas de asfixia indireta por compressão do tórax. 8) Bossa serosa – é uma lesão em cima de um osso. Este não permite que o sangue se expanda para baixo, daí aparece um saliência na pele. É o famoso “galo”. Se o material que tem é soro, linfa, não é sangue, nos temos uma bossa serosa. 9) Bossa sanguínea – quando tivermos uma bossa com sangue. Podemos diferenciar esta da de cima é pela cor, a sanguínea é avermelhada, roxa, azulada. A serosa não tem cor. 10)Hematoma – as vezes os vasos rompem e um pouco de sangue extravasa e se acumula naquela área. Se for uma área corporal que não tem osso, o sangue se espalha para cima e para baixo, formando um hematoma (seria um tumor de sangue, etimologicamente). É uma bolsa de sangue que se acumula em uma cavidade que não existia, é o próprio sangue que criou essa cavidade, por isso se fala que o hematoma é uma coleção de sangue numa cavidade neo-formada. Assim, se o sangue se acumular uma das cavidades já existentes(cavidade peritonial, pleural, pericárdica) ele não é um hematoma, você tem uma coleção de sangue formando uma hemorragia interna. O hematoma tem que criar a cavidade. O hematoma não é tão visível, o que é visível é a equimose. Ele não tem representação externa, se tiver a representação externa é a bossa, se for só a cor, é uma equimose. O hematoma só é visto de por exame cadavérico ou na cirurgia. 11) Sufusão hemorrágica – é uma equimose extensa, que se espalha pela superfície do corpo, comum quando a vítima é atingida por uma superfície plana e larga, quando ela cai sobre o solo. É indispensável que o perito faça, no exame cadavérico, mesmo na ausência de lesões externas, um exame da cavidade craniana, independentemente de sinais externos de prováveis lesões internas. Não raro, não há lesões externas, mas há gravíssimas lesões internas. Dura-máter – membrana espessa que reveste o encéfalo. Uma coleção de sangue que fica dentro do osso do crânio, mas fora da dura-máter, é chamada de hematoma extra-dural. Na medida que esse hematoma vai aumentando, ela comprime o cérebro, ocasionando lesões principalmente no bulbo e na ponte. Quando há esse hematoma, nas primeiras horas, a vítima não sente nada. Daí 6 horas depois, ela começa a ter dor de cabeça, visão dupla, tonteira, vômitos em jato, começa a ficar desorientada, fica agressiva. Daí, quando
  • 6. isso acontece com alguém que está bebendo álcool, as pessoas pensam que aquele comportamento é produto de embriaguez, mas não é, ele está sendo vítima de um hematoma que está comprimindo o cérebro dele. Não raro, essas pessoas entram no hospital e são tratadas de embriaguez. Só se descobre a causa da morte no exame cadavérico. Agora, excepcionalmente, esse hematoma aparece em uma cadáver, quando ele está numa fogueira, sendo queimado, e o calor do fogo começa a fazer o encurtamento da musculatura, daí o sangue começa a ser empurrado e começa a extravasar no cérebro. Então, não é raro encontrar o hematoma extra-dural em cadáveres carbonizados. Através da forma da lesão, podemos saber qual foi o agente vulnerante que produziu aquela lesão. Já a tonalidade da lesão, nos temos uma idéia de há quanto tempo aquela lesão aconteceu. Já nas escoriações a crosta é o elemento importante. Na ferida, a cicatriz, na fratura, o calo ósseo. Ou seja, a descrição de determinados elementos da lesão, permitira ao operador de direito dizer qual foi o nexo temporal daquela lesão. Outro aspecto muito importante é a precisa localização da lesão. Essa localização fornecera ao operador de direito uma idéia de qual foi o dolo do agente. Se a equimose estiverem no pescoço, eu penso em esganadura, no rosto, penso em lesão, se estiverem próximas às áreas genitais, eu penso em crimes contra os costumes. No momento em que ocorre uma lesão, o vaso sanguíneo dilata e permite o extravasamento do sangue, e a visão desse sangue derramado permite identificar a equimose. Mas essa equimose tem uma forma. Imagine uma pessoa agredida com um cassetete, um tubo de PVC, fio, mangueira, bastão de basebol, daí com a pressão, o sangue extravasa, e se alinha na lateral da superfície atingida. Assim, o sangue não fica no exato local em que o objeto acertou, ele fica nas áreas adjacentes, já que é empurrado pela pressão para longe do local em que o agente vulnerante acertou. Assim, no caso desses agentes, vamos ter faixas paralelas de equimose, com um centro pálido. A espessura entre as faixas arroxeadas da uma idéia da espessura do instrumento, o tamanho da lesão da uma idéia do tamanho mínimo do instrumento. As faixas não são exatamente paralelas, porque a ponta do instrumentos bate com mais forca que a base, se a forca é maior, o sangue se espalha para mais longe na área referente à ponta do instrumento. Assim, essas manchas não são paralelas, elas são convergentes para a base, empunhadura do objeto. Ou divergentes em direção à ponta do instrumento. Esse aumento de sangue causado pelo aumento da pressão é chamado de sugilação. É muito comum se alegar que essas manchas são decorrentes de uma queda para fugir das agressões, mas se há vários grupos de faixas, em direções diferentes, de mesma espessura, isso indica agressão. Esse sangue que extravasa não recebe mais oxigênio. Daí a hemoglobina
  • 7. começa a se decompor, dando origem a outras substancias de outras tonalidades. Assim, no 1º dia, a equimose é avermelhada. No que o tempo vai passando, o avermelhado vai virando arroxeado (1 ou 2 dias). Passados mais alguns dias, nós verificamos que a região vai ficando azulada (3 a 5 dias). Mais algum tempo, a região fica esverdeado (1 semana). Depois fica amarelado (10 a 15 dias). Depois disso, a equimose desaparece (18 a 20 dias). Assim, pela evolução da tonalidade da equimose, o perito tem uma idéia se a equimose é recente ou mais antiga. Assim um cara chamado Legrand Du Saulle, viu isso e comparou com o espectro da luz solar. Assim, criou o espectro equimótico de Legrand Du Saulle. Quem faz essa limpeza das hemoglobinas são os glóbulos brancos, daí quanto maior a área, mais demorará para tirar tudo, se tem pouco, os prazos são menores. Assim, se alguém chega pro perito e fala que foi espancado ontem e está com uma equimose esverdeada, dá pra saber que não foi espancado ontem. Ao contrário, se chega com uma equimose avermelhada dizendo que foi espanado há 15 dias, ele não foi espancado há tanto tempo. Há determinadas regiões do corpo que são muito oxigenadas, como o olho e a bolsa escrotal, daí quando o sangue extravasa na parte branca, chamada de esclerótica, nós temos uma equimose que fica em baixo de uma membrana que cobre essa parte que é a conjuntiva, daí nos temos uma equimose subconjuntival. Mas como o olho é muito oxigenado, a hemoglobina recebe oxigênio e demora mais a se decompor, assim nessas equimoses não há o espectro equimótico de Legand Du Saulle, ela pode ter 15 dias e ser vermelha. Ela pode ir sumindo ainda vermelha. Assim, ao olho não se aplica a relação coloração/tempo da lesão. Não há como auferir o nexo temporal quando há equimose subconjuntival. A hemorragia subconjuntival pode surgir, por exemplo, de asfixia, em razão da sugilação do sangue que não consegue voltar ao coração, não conseguem sair da cabeça. A forma da equimose pode indicar o que aconteceu, como, por exemplo, se tivermos estigmas ungueais ou digitais no pescoço, que são marcas de dedos ou unhas, que indicam esganadura. Equimose periórbitaria, famoso olho roxo, pode ser resultado de impacto direto ou de fratura na base do crânio. Ou seja, não é certo que um olho roxo tenha sido decorrente de um soco no olho, podendo ter outras origens. Quando se dá nos dois olhos, chama-se de sinal do Zorro ou do guaxinim. O perito não diz o que aconteceu, ele diz os vestígios. Ele não trabalha com
  • 8. indícios, isso quem faz é o delegado, juiz, promotor, etc.. É aplicação do brocardo visum et repertum (ver e referir), olhar e descrever aquilo que está vendo, como uma máquina fotográfica. Só vai dar opinião se for chamado a opinar em juízo para dar parecer, mas na hora de fazer o laudo, ele só diz os vestígios da lesão, descrevendo a forma, a tonalidade e o local da lesão. A forma, o aspecto e a tonalidade da equimose serão utilizadas para todos os demais tipos de lesão, na medidas das suas características. Perceba que até agora a pele não rompeu. Vamos agora à escoriação. A etimologia da palavra é arrancar (ex) o revestimento (corio) do corpo, que nada mais é do que a pele. Na escoriação há o arrancamento da epiderme em razão de ação contundente. Não sangra, quando muito aparece um pouco de plasma. Esse plasma evapora, daí no lugar aparece uma crosta, e como o plasma é incolor, branco amarelado, assim, essa crosta é branco amarelada. Essa crosta leva o nome de crosta serosa, ou seja, só há plasma, linfa. Só que as vezes a crosta aprofunda um pouco mais e atinge a o alto da camada basal, onde já temos alguns vasos. Assim, a escoriação vai ter soro e sangue, daí fica avermelhado e não branco amarelado. Daí essa crosta será sero-hemática. Só que as vezes ela vai ainda mais fundo, e ultrapassa a derme papilar (que fica logo abaixo da camada basal, indo até a derme reticular. Aqui já há vasos sanguíneos maiores, sangra mais, daí eu vou ter uma crosta hemática. Mas a escoriação nunca passa da derme, se ultrapassar a derme, a lesão deixa de ser escoriação e vira ferida. A diferença entre ferida e escoriação não é extensão, mas a profundidade. A mais profunda das escoriações é mais superficial que a mais superficial das feridas. É interessante que na escoriação, a camada basal que sobra substitui a pele. Daí nos primeiros dias, temos a casquinha vermelha, três dias depois, ela fica castanha, depois de 5 dias, ela começa a ficar preta, mas 3 a 5 dias, ela começa a soltar em volta, mais 3 a 5 dias ela se solta inteira, da periferia pro meio. De baixo da casca há uma epiderme rosada. Uns 10 dias depois a pele esta completamente regenerada. Assim, a escoriação regenera totalmente, sem deixar vestígios. No entanto, na ferida, ela, por mais superficial que seja, ela atinge os planos inferiores, então não tem como ela regenerar. Então a evolução de uma ferida é através de uma cicatriz, que fica pra sempre. A escoriação regenera e a ferida cicatriza. A vítima da escoriação não pode demorar a ir ao legista, porque os vestígios podem sumir. Já a vítima da ferida pode ir muito tempo depois, já que a
  • 9. cicatriz não vai sumir. Através da crosta da escoriação eu posso estabelecer o nexo temporal, analisando a cor, a consistência, se ela está fixa ou se soltando. A data não é precisa, é aproximada. Através do estudo da forma da escoriação, eu vou poder saber qual foi a forma que a lesão foi feita, como a marca dos dedos ou das unhas no pescoço no caso de esganadura. Dá pra saber se foi a mão direita ou a esquerda, se foi pela frente ou por trás. Assim, dá para estabelecer o nexo causal. Essas lesões típicas das unhas e dos dedos leva o de estigmas ungueais ou digitais, respectivamente. Estigma é marca. Feridas contusas Vamos transpor agora a barreira da pele, ultrapassando a derme, estudando as feridas. Vamos falar só de ferida contusa, pois estamos estudando as ações contundentes. Mas termos que compará-la com a ferida incisa, que decorre da ação cortante. A ferida incisa faz uma incisão, ela corta, a ferida contusa resulta de uma contusão, ou seja, o agente contundente não corta, ele rasga. Aspecto a observar Feridas incisas Feridas contusa Bordas Regulares, sem escoriações Irregulares, escoriadas Cauda de escoriação Pode estar presente Extremamente rara Vertentes (paredes) Regulares, em bisel ou verticais Irregulares, anfractuosas Traves de tecido entre as vertentes Em geral, ausentes Em geral, presentes (traves de tecido segurando uma vertente na outra) Fundo Em geral, regular Em geral, muito irregular Vasos Em geral, sangram mais (já que são cortados) Em geral, sangram menos (ficam esmagados) Cicatrização Mais estética, linear Menos estética, irregular
  • 10. O instrumento cortante com o gume cego pode agir como se fosse um instrumento contundente. Se eu tenho uma ferida com bordas regulares e me apresentam um instrumento cego, provavelmente esse agente não fez essa ferida. O contrário também se aplica, se vem uma ferida com bordas irregulares e apresentam um instrumento cortante afiado, essa ferida não foi feita por esse instrumento. Só que as vezes a força do agente contundente é maior, podendo alcançar o osso e gerar uma fratura interna ou exposta. O esmagamento o tecido é esmagado, ficando amorfo. Mas quando o esmagamento é tão intenso que uma parte o corpo é separada da restante, chama-se de amputação traumática. Cuidado que o termo amputação é reservado para atos médicos, o termo para ação lesiva é mutilação, sendo mais correto se falar em mutilação traumática. Mecanismos de ação: 1) Pressão; 2) Tração; 3) Torção; 4) Deslizamento; Lesões mais comuns: 1) Rubefação; 2) Equimose; 3) Bossa; 4) Hematoma; 5) Entorse/luxação; 6) Fratura fechada; 7) Escoriação; 8) Ferida contusa ou incisa; 9) Fratura exposta; 10) Amputação; 11) Mutilação;
  • 11. 12) Esmagamento. AULA 2 Lesões e morte provocadas por instrumento perfurante Instrumento perfurante é aquele que tem a forma cilíndrica com a extremidade cônica, portanto ele é cilíndrico-cônico. Ele tem a extremidade cônica para entrar mais fácil na pele, já que a pressão vai ser maior, já que a superfície vai ser menor (Pressão = força/superfície). Exemplo de instrumentos perfurantes temos a agulha de seringa, por exemplo. Esses são os instrumentos perfurantes de pequeno calibre. Mas temos também os de médio calibre, como os picadores de gelo, espetos de churrasco, vergalhões com ponta. A diferença entre os calibre é a lesão que eles vão fazer. Agora os instrumentos perfurantes de grande calibre não existem porque eles passam para outra categoria, que seriam os pérfuro-contundentes. A pele tem, na derme, uma grande quantidade de fibras elásticas, elas que conferem a elasticidade que a pele tem. Quando o instrumento perfurante penetra na derme, como ele não corta, não tem gume, ele simplesmente afasta as fibras. Se ele é de pequeno calibre, as fibras se afastam momentaneamente, o instrumento passa e quando sai, as fibras voltam para o lugar, ficando uma lesão puntiforme ou punctória. Essa lesões são feridas, eis que ultrapassam o limite da derme. Na maioria das vezes não sangram, porque, mesmo que atinjam um vaso, quando saem as fibras dos vasos fecham. Mas elas podem ser mortais porque o instrumento pode estar infectado. Essas feridas que inflamam se chamam flebites. Se elas foram crônicas, os vasos começam a endurecer, daí nós temos a flebosclerose. A presença de flebites ou flebosclerose me indicam que essa pessoa que usa com muita freqüência introduzidas por meio de instrumentos perfurantes de pequeno calibre, podendo se tratar de um usuário de drogas, mas não podendo excluir pessoas que realmente precisem de medicamentos. Feridas punctórias na barriga de gestantes podem indicar que ela fez exames do feto, como na amniocentese, para saber o sexo do neném, se existe algum problema, etc. Mas, as vezes, o que é introduzido no útero é uma substancia tóxica para provocar o aborto, sendo que o único vestígio que o delito deixará será essa ferida puntiforme na ponta da barriga. Vamos agora aos instrumentos perfurantes de médio calibre. Esse instrumento não corta, ele só perfura. Daí no que ele entra no corpo, ele atravessas as fibras elásticas do corpo, mas como ele tem um calibre
  • 12. significativo, ele afastas as fibras. Só que ele as afasta muito, de tal maneira que quando ele esta introduzido no corpo ele fica com um orifício circular. No momento em que o instrumento sair, as fibras vão tentar voltar ao aspecto natural. Mas sendo um instrumento de médio calibre, essas fitas foram esgarçadas e esticadas além de um certo limite. Então, na hora que o instrumento sair, as fibras tentam fichar o buraco, mas não conseguem. Daí a forma da ferida é de um circulo esticado, uma fenda, uma casa de botão, uma bucetinha. O problema é que a ferida feita pelo instrumento perfurante de médio calibre parece muito com a ferida feita pelo instrumento pérfuro-cortante de dois gumes. Só que se o perito usar uma lupa, os ângulos são agudos e cortados no pérfuro-cortante, no perfurante são agudo e repuxados. Como a pele é elástica, cada região do corpo tem uma linha de força que puxa a pele em um sentido. Daí, as feridas feitas pelos instrumentos perfurantes em locais próximos têm a mesma direção, já que a pele repuxa a todas da mesma forma. Daí criou-se as leis de Filhós: 1) lei do paralelismo: as feridas perfurantes feitas por um instrumento de médio calibre, em uma mesma região, serão paralelas entre si. 2) lei da semelhança: as feridas são semelhantes às feridas pérfuro- cortantes de dois gumes. Anos depois, um cara chamado Langer criou a lei do Polimorfismo, que diz que as feridas perfurantes quando são feitas em uma área de entrecruzamento e superposição de fibras elásticas, como na conexão do peito com o ombro, mostrarão aspecto estrelado, anômalo, ou seja, polimorfo. Eu não terei a forma definida da ferida. Daí a leis de Filhós não se aplicarão. O estomago é formado por músculos, sendo que as fibras estão em mais de uma direção, em camadas superpostas. Daí se você introduzir um instrumento perfurante no estomago e observar cuidadosamente essa lesão você repara que na camada superficial a ferida tem uma forma, tracionado uma direção, numa camada mais profunda a ferida vai estar em outra direção. Quanto mais camadas superpostas você tiver, maior o numero de direções você vai ter. Agora, se eu tiver um instrumento pérfuro-cortante de dois gumes, as feridas vão ter direções diferentes, de acordo com a incidência na qual o instrumento entrou, não tendo qualquer relação com a direção que as fibras elásticas puxam. Não se aplicarão nem a lei de Filhós e de Langer. Estoque é um instrumento perfurante feito com um vergalhão apontado. A tesoura fechada é um instrumento perfurante de médio calibre. Quando
  • 13. você abre a tesoura cada lado será um instrumento pérfuro-cortante de um gume. Agora, se a tesoura for de calibre maior, ela não funcionará mais como instrumento perfurante, mas pérfuro-contundente. Mas aberta, funcionará da mesma forma como um instrumento pérfuro-cortante de um gume. Lesões e morte por instrumentos cortantes- É aquele instrumento que tem uma lâmina, que tem uma das extremidades afiadas, chamada de gume. Quanto mais afiado for o gume, menor vai ser a força que eu vou ter que aplicar, já que a superfície vai ser menor. Mas será mais fácil ainda se eu deslizar o gume, daí ele vai afastar, cortando as fibras que unem a pele. A ferida não será mais puntiforme, mas sim em linha, já que a extensão vai ser maior que a profundidade. Quando eu olhar as bordas dessa ferida, as bordas serão regulares, sem escoriação, os vasos na parede da ferida estão cortados, daí eles sangram muito. Essa ferida é chamada de ferida incisa. Uma das características dessa ferida incisa é que na hora que o agressor atinge a pele, ele está utilizando um força maior, daí ele desliza e tira. Daí se nota que a ferida é mais profunda no inicio, e vai se superficializando no final. Assim, o ponto mais profundo marca o inicio do golpe e o mais superficial a saída. As vezes o final é tão superficial que atinge apenas a derme e a epiderme, não sendo mais ferida nesse ponto, mas sim uma escoriação. Daí um cara chamado Romanese disse que essa escoriação que marca o final da ferida é chamada de cauda de escoriação. Só que pode acontecer que antes de o instrumento entrar, ele atinja apenas a superfície, e aparece uma escoriação no inicio, mas não posso chamar de cauda no inicio, porque ela fica no final. Resolveu-se chamando de escoriação de entrada e escoriação de saída. A escoriação que fica mais próxima da maior profundidade é a de entrada, e a que fica mais próxima da menor profundidade é a de saída. Analisando-se a ferida, podemos saber o sentido que o golpe foi dado. O ato de deslizar chama-se de ação em arco de violino, porque é como se o instrumento cortante fosse o arco e a pele as cordas do violino. A lesão não parece um arco de violino, o movimento é que parece. Mas como diferenciar uma ferida incisa feita com o objetivo de lesionar e a ferida com a finalidade médica, chamada de ferida cirúrgica, sendo essa feita pelo bisturi, que é um instrumento cortante. As características básicas das duas feridas são as mesmas. Mas o agente que visa atingir a vítima causa uma ferida com o fundo côncavo, variável. Na ferida cirúrgica, o bisturi entra, corre e sai, não tendo escoriação de entrada ou de saída, e a profundidade na entrada é igual a profundidade de saída. Além disso, o fundo é plano e não côncavo.
  • 14. Mas deve-se levar em conta também a localização da ferida, já que incisões médicas não são feitas em qualquer lugar, mas em lugares específicos, a depender do intuito do médico. Mas guarda-se o nome ferida incisa para lesões criminosas. Há um grupo de feridas incisas que atingem a vítima exatamente no nível do pescoço. Se o agente cortante passa na parte anterior (da frente) ou lateral do pescoço, dá-se o nome de esgorjamento.- Nome da ferida Esgorjamento Degolamento Decapitação Localização no pescoço Antero-lateral Posterior (atrás) Independe Agente vulnerante Mais comum: cortante, pode ser pérfuro- cortante e corto- contundente Mais comum: cortante, pode ser pérfuro- cortante e corto- contundente Mais apropriado: corto- contundente. O simplesmente cortante não é suficiente, em tese Causa jurídica da lesão Predomina o suicídio Predomina o homicídio Comuns: suicídio e lesão post mortem Causa da morte médica Anemia aguda, hemorragia externa. Pode haver broncoaspiração e embolia gasosa Anemia aguda, hemorragia externa. Pode haver broncoaspiração e embolia gasosa Descerebração e anemia aguda por hemorragia externa Quando você passa um agente cortante no pescoço, você pode cortar a parte respiratória (cartilagens respiratórias), a parte circulatória (veia jugular ou artéria carótida) ou a parte neurológica (nervo vago que vai para o coração). A causa da morte no esgorjamento vai depender de qual foi o elemento lesionado pelo agente vulnerante. Você pode, por exemplo, morrer “afogado” por ter aspirado seu próprio sangue (haverá um aspecto de mosaico hemorrágico nos pulmões, indicando que a pessoa estava viva quando aspirou o sangue), você pode morrer de embolia gasosa porque entrou ar na veia jugular, já que o coração faz sucção, se você atingir o nervo vago, você morre de parada cardíaca porque é ele quem dá a ordem pro coração bater, pode morrer pela perda excessiva de sangue (anemia aguda), que pode atingir um ponto tal que chegue a um choque
  • 15. hipovolêmico (choque em que o volume de sangue diminui), sendo a morte iminente, etc. Mas para saber se foi suicídio ou homicídio temos que analisar outros aspectos. Como a entrada é mais profunda que a saída, se a vítima for destra, ela vai fazer um corte no lado esquerdo, de cima pra baixo e de trás para frente. Assim, eu devo encontrar uma ferida na parte posterior e mais superficial na parte anterior. O lance é que a pessoa está confusa, daí ela não tem muita certeza do golpe que vai dar. Por isso é comum encontrar na vítima lesões de hesitação no punho, sendo feridas superficiais, não mortais, indicando que a vítima está tomando coragem para dar o golpe mortal, está hesitando. Mas como ela corta alguma vezes no punho e não morre, ela vai pro pescoço. Quando ela chega no pescoço, ela não dá um golpe decisivo, mas pequenas feridas pouco profundas e aos poucos ela vai aprofundando, daí, aos poucos, você nota uma ferida que tem entalhes está dizendo para o observado que o golpe veio e parou, veio de novo e parou, indicando que a vítima esta hesitando, que ela não está convicta, falando em favor do suicídio. O agressor não da golpe aos poucos, dá um golpe só. Mas não é patognomônico, essas lesões falam em favor daquelas hipóteses. A pessoa quando é atacada, ela para se defender de golpe usa as mãos, daí é muito comum que apareçam lesões na região palmar, na borda ulnar (osso ulna) parte de fora do antebraço. Essas lesões são as lesões de defesa. Assim, se tivermos lesões de defesa e golpe único no pescoço, não terei dúvida que estou diante de um homicídio. As lesões de hesitação não são mortais, porque ai não seriam de hesitação. E normalmente são agrupadas em áreas comuns de suicídio, pulso, cotovelo, área do coração e pescoço. O degolamento é na parte posterior do pescoço, de trás, mas, de resto, se aplica tudo o que se disse acima. Na decapitação, não importa de onde veio o golpe, desde que se tenha cortado a cabeça, separado do corpo. Normalmente, utiliza-se um objeto mais pesado, corto-contundente. Exemplo é a guilhotina. Quando o agente cortante atinge o corpo através de uma prega de pele, ele vai fazer duas feridas incisas, mas um só golpe. É o caso do golpe que pega no braço e depois no tórax, o golpe que pega na duas mamas da mulher, mas não chega no peito em baixo. Ou o caso de um gordão que emagrece e fica com as pelancas, daí pode ser que um só golpe pegue varias pregas de pele. Assim, nesses casos, um só golpe dado em uma prega de pele, vai produzir inúmeras lesões. Portanto, nem sempre o número de feridas vai ser igual ao numero de golpes.
  • 16. Quanto mais enrugada for a pele, maior o número de feridas que aquele golpe único vai ocasionar. Isso acontece muito também com tiro, que vai atravessando o corpo, passando por braços e tórax, por exemplo. Assim, você pode ter varias entradas e saídas, mas um tiro só. Assim, as vezes uma lesão culposa pode produzir múltiplas lesões. Outro aspecto interessante é quando a pessoa recebe um corte horizontal e vertical no mesmo lugar, como uma cruz, ou duas diagonais, como um X. Assim, a ferida vai ficar em forma de estrela. Se a vítima estava viva, uma das características da vítima viva, é a retratibilidade. Isso quer dizer que quando a pele é cortada com a pessoa viva, a pela retrai, ela repuxa. Não fica fechada, linear, só fica assim, se o corpo já estiver morto. Se estiver vivo, ao receber um corte no pescoço, por exemplo, a retratibilidade da pele faria abrir uma enorme breca no pescoço. Uma pessoa que perde a mão para uma guilhotina, no lugar em que ela foi cortada, a pele retrai, deixando a parte em baixo da pele exposta. A mesma coisa com a decapitação, se a pessoa tava morta quando foi decapitada, não haverá uma retração da pele. Assim, voltando aos dois cortes no mesmo ponto. Quando ele recebeu o primeiro corte, a pele abriu, quando recebeu o segundo golpe, a pele já estava aberta. Daí faz-se o seguinte, escolhe-se uma das feridas e fecha-se ela. Daí quando for fechar a outra, se essa segunda a ser fechada foi a segunda a ser feita, ela não fechará em uma linha continua, mas sim quebrada. Isso que dizer que você fechou na ordem certa, ou seja, fechou primeiro a que foi primeiramente feita e em segunda a que foi feita em segundo lugar pelo agressor. Se você não tiver feito na ordem certa, haverá uma sobra de pele, você não consegue fechar. Daí você tem que desfazer e começar pela outra para ver se acontece o que foi dito acima. Lesões e morte pelos agentes mistos Vamos começar pelos pérfuro-cortantes. Ele tem que ter uma ponta para poder furar e pelo menos um gume para poder cortar, mas ele pode ter inúmeros gumes. Dois gumes – punhal. Três gumes – lima do serralheiro, a lesão é em forma de triângulo. Quatro gumes – estrelinha ninja (shuriken), daí a lesão vai ter forma estrelada. Na pérfuro-cortante de um gume, a ferida vai ser em forma de gota, tendo um ângulo agudo e um ângulo arredondado, rombo. O ângulo fechado demonstra que ali agiu o gume, no ângulo rombo sabe-se que ali entrou o dorso do objeto. Quanto mais rombo o ângulo, mais grosso o dorso, e quanto mais agudo o ângulo, mais afiado era o instrumento.
  • 17. Mas isso é para o caso de a faca entrar na vertical. Se ela entrar inclinada, ela vai ter as duas bordas agudas, como se tivesse dois gumes, apesar de ser um instrumento pérfuro-cortante de um gume. Agora, se ele tem dois gumes, ele vai fazer uma ferida em fenda, lembrando que pode ser também um instrumento perfurante de médio calibre. Assim, tenho que olhar as bordas, se elas estiverem cortadas, pérfuro-cortante de dois gumes, se estiverem repuxadas, sem cortes, o instrumento é perfurante de médio calibre. A medida de gumes que o instrumento tem, mais ângulos ele terá. Assim, poderíamos imaginar um instrumento pérfuro-cortante com um sem numero de gumes, podendo fazer parecer com a ferida de um instrumento perfurante. Mas isso só em exemplo de laboratório mesmo, na prática esse instrumento não existe. Como o instrumento é pérfuro-cortante, se ele agir por pressão, a ferida vai ser mais profunda do que extensa. Porque se eu pegar o instrumento pérfuro-cortante e deslizá-lo, terei uma ferida incisa, mas o instrumento continuara sendo pérfuro-cortante. Não se confunde a lesão com o nome do instrumento. Se for de dois gumes, terá ferida em casa de botão. Imagine que uma faca tenha certa largura e certa profundidade. Só que a ferida é muito mais larga e profunda que a faca que a ocasionou. Isso ocorre porque quando ela penetra o agente arrasta a faca na direção do gume. A extensão da ferida será maior do que a largura da face, é o que ocorre no haraquiri japonês. Quando você corta a barriga, os intestinos pulam, daí fala-se que houve evisceração. Agora imagine um gordão que tem de distância da pele até a aorta tem 70 centímetros (profundidade), e eu sei isso com a minha régua, que é o instrumento indispensável do perito, sendo que tem que ser de papel, não pode ser chique, porque o Blanco é roots. Sabe-se também que por trás da aorta passa a coluna vertebral. Só que a faca que fez a ferida tem 30 centímetros. Mas como pode? Um perito Frances chamado Lacassagne disse que em áreas capaz de sofrerem compressão, se você usar uma pressão muito grande naquela região, você pode fazer com que a pele se aprofunde e fazer com que um instrumento de 30 centímetros alcance um órgão que está a 70 cm da pele. A pele foi comprimida, daí como, as vezes, a arma tem uma guarda, essa guarda fica marcada na pele, deixando sua assinatura. Daí você vê uma ferida em casa de botão com uma equimose de cada lado. Isso demonstra que foi aplicada grande pressão na pele. Esse tipo de lesão, o Lacassagne chamou esse tipo de lesão em lesão de sanfona ou de acordeón.
  • 18. Uma ferida que passe por baixo da pele, mas que não entre na cavidade abaixo da pele, seja na cabeça, não entrando na caixa craniana, ou no peito, não entrando na cavidade torácica, atingindo só a pele mesmo, essa ferida leva o nome de ferida em sedenho. Por baixo da pele e fora das cavidades. Já quando um ferimento tem entrada e saída, ele é um ferimento transfixante. Já quando tem entrada, mas não tem saída, ele é um ferimento penetrante. Daí esse ferimento acaba em algum lugar, esse lugar é chamado de lesão em fundo de saco, outros chamam de ferida cega. É cega porque você não vê o outro lado. Quando for transfixante ou penetrante, ele pode ser não cavitário, ai ele é sedenho. Mas ele pode ser também cavitário, sendo normalmente mais graves porque corre muito mais risco, já que ele pode acertar órgãos internos. Quando o ferimento arranca parte do couro cabeludo, o nome que se dá é lesão em escalpe. Só arranca a pele, não quebra nada. Mas se estivermos de posse de uma haste de grande calibre, instrumento perfuro contunde, se ele penetrar na região do ânus, atrás da bolsa escrotal ou da vagina, teremos uma ferida específica. Essa região em volta do ânus se chama períneo. O nome dessa lesão é empalamento. A estaca pontiaguda entra pelo períneo. Agora, se o instrumento de haste entrar por qualquer outra parte do corpo, encravamento. A diferença é que o empalamento tem uma localização específica. O dente pode causar lesões diferentes a depender de qual dente se analise. Os dentes da frente são cortantes, os caninos, pérfuro-contundentes, e os molares, contundentes. Mas, de um modo geral, a arcada humana, exerce uma ação corto-contundente, sendo que ele pode arrancar pedaços, daí se dá o nome de lesão em saca-bocado. A importância para a pericia é que através da marca da dentada você pode identificar o autor da dentada. A dentada é uma lesão com assinatura. Ela é uma lesão patognomônica – essa lesão, esse instrumento, é uma associação com grau de certeza. Esquartejamento é diferente de espostejamento. Aquele é dividir em quatro. Este é cortar a pessoa em pedaços para, talvez, dificultar a identificação ou para ocultar o cadáver. Antigamente se espostejava a vítima para fazer publicidade de mortes. AULA 3 Balística: Arma: Qualquer instrumento (aparelho manufaturado pelo homem) com
  • 19. objetivo primordial de atacar ou defender. Arma imprópria é aquela que não foi criada para atacar, para outra finalidade, mas que podem servir para ataque. Da próprias, temos as de arremesso, como a zarabatana (Curare, capaz de causar paralisia no corpo), arco e flecha. Arma de pressão: não chegam a ser arma, usada para esportes e diversão, disparando chumbinho, que não pode passar de 6mm de diâmetro e projeto podem atingir 160 m/s. Pode ser por mola ou por pressão. Não se incluem nas armas de fogo proibidas. Arma de fogo, o nome, decorre do fato, porque para que o projétil seja lançado, a carga do propelente, ao queimar, produza gás, que ao se expandir, saia o tiro. Arma brancas levam esse nome porque tradicionalmente são confeccionadas em metal, que dão a impressão ao sol de serem brancas. São utilizadas pela força muscular. Nas armas de fogo, o projétil é disparado pela queima do gás que normalmente é pólvora. Quanto maior a quantidade de gás, maior a força do projétil. O projétil normalmente é de chumbo, que fica no estojo, local que contém a pólvora. O projétil é colocado tampando o estojo. Para queimar a pólvora, coloca-se um espoleta na base da bala. Na hora que a espoleta recebe pressão, ela solta uma faísca, dai a pólvora vai liberando gás até o momento que a pressão fica tão grande que é expelida. O cano da arma serve para direcionar o projétil em direção ao alvo. O projétil deve passar bem justo com o cano, sem espaço. Por isso que se usa chumbo, que é mais mole, dai pode sofrer deformações ainda dentro do cano, não deixando escapar gases. Saindo do cano, não há mais aceleração, sendo a velocidade máxima do projétil na boca da arma. Dai pra frente ele sofre desaceleração com o ar. O cartucho nada mais é do que o conjunto formado pelo estojo, projétil, pólvora e pela cápsula de espoletamento (espoleta). O cão é o que bate na espoleta. Na ponta do cão fica o percussor. Arma carregada é a que tem uma bala pronta para ser disparada. Arma alimentada é a que tem balas no carregador. O nome pistola vem de pistão, já que o cano da arma parece um pistão ao ser acionada ejetando a cápsula. O fabricante para otimizar a carga de gás, aumenta o tamanho do cano, que empurra o gás mais tempo, ganhando mais velocidade e alcance. O problema é que o atrito com o cano é maior, dai se aumenta o estojo para
  • 20. caber mais pólvora dentro dele. O lance também é que o atrito com o cano, poderia deformar demais o chumbo, dai ele blindou o núcleo de chumbo com uma jaqueta de metal, que tem a função de diminuir o atrito da arma com o núcleo de chumbo. Metralhadora é construída para dar rajada, o sub-metralhadora é feita para dar tiro intermitente, mas pode dar rajada. Pressão é igual a forca sobre superfície. P = F/S Energia cinética é igual a massa vezes a velocidade ao quadrado, sobre dois. EC = mV2/2 Projétil de baixa velocidade é aquele que viaja abaixo da velocidade do som (340m/s = mach 1) Quando viaja acima de mach 2, é de alta velocidade. Entre mach 1 e 2, média velocidade. A velocidade é importante para saber a energia cinética. O projétil com mais velocidade transfere mais energia que o lento, nas mesmas condições, causando lesões muito mais graves. A lesão depende muito mais da velocidade do que do peso do projétil, já que ele pode transferir mais energia, causando mais lesões. Coeficiente balístico – capacidade de penetração no alvo. Coeficiente balístico = massa/fator de ponta x calibre2 Quando aumentar a massa, aumenta o coeficiente, um tiro mais pesado entra mais que o mais leve. A ponta é fundamental porque, quanto mais pontudo o projétil, mais ele penetra. Quanto mais bicuda a ponta, diminui o fato de ponta, aumentando o coeficiente balístico. O ultimo elemento é o calibre, que é o diâmetro do projétil. Quanto mais grosso foi o projétil, maior o calibre, mais difícil para ele entrar. Mais fino, menor o calibre, ele entra mais. Quanto mais grosso e maior fator de ponta, mais energia é liberada na hora que se choca com o corpo, mas ela penetra menos. O objetivo do projétil é transferir a energia que ele tem ao alvo. Se o alvo é de baixa densidade, macio, elástico, que não opõe grande resistência ao PAF (projétil de arma de fogo), ele vai atravessar. O ferimento quem tem entrada e saída, ele é chamado de transfixante. Ele sai do corpo levando ainda energia, não transferindo toda sua energia. Já se o PAF atinge alvo de alta densidade, duro, rígido, o alvo vai opor grande resistência ao PAF, que tem entrada, trajeto e saída. O ferimento nesse caso é penetrante, entra e não sai, fica dentro do corpo.
  • 21. Nesse caso ele deixou toda a energia que ele trazia dentro do alvo. Portanto ferimento transfixante transfere menos energia ao alvo, já que ele atravessa o alvo, mantendo energia ao sair. A extremidade do projétil cônico é mais leve que sua traseira, dai com o arrasto ele tende a levantar, virar ao contrário, dar cambalhotas, etc. Dai, para evitar isso, faz-se saliências e reentrâncias em forma de espiral, chamadas de raias, dai essas armas diz-se que tem alma raiada (ou estriada, mas essa nomenclatura não é tão correta), em contraposição àquelas que tem almas lisas. Com essas raias, o projétil é obrigado a girar em seu próprio eixo, num movimento de rotação. Com essa rotação ele evita as cambalhotas, mantendo sua estabilidade na trajetória. A lesão de entrada depende muito da estabilidade com que o projétil entrou no corpo, pois se bater de ponta, o buraco de entrada vai ser menor, se bater de lado, vai entrar com um buraco maior. Mas o que entrou de ponta, entra mais do que o que entrou desestabilizado. Soma-se a isso a densidade do órgão, um menor (pulmão) vai deixar a bala passar com mais facilidade que um órgão de alta densidade (fígado). O projétil quando sai do cano não vem perfeitamente reto, mas vem fazendo pequenos círculos (“com formato de nuvem”), do mesmo jeito que um peão rodando que vai perdendo velocidade. Quanto maior a velocidade, menor é o movimento lateral. O grande movimento é chamado de movimento de precessão. Os pequenos movimentos, círculos internos, movimento de nutação. Dai quanto maior a velocidade do movimento de rotação, maior a estabilidade, porque menor a precessão e a nutação, dai é maior a penetração, com uma lesão menor, de ponta. Quanto menor o movimento de rotação, a nutação e a precessão aumentam, aumenta a dificuldade cresce, dai a transferência de energia aumenta, dai a extensão da lesão é maior. O movimento do ponto A ao ponto B, chama-se de movimento de translação. Cano liso não tem rotação, e se tiver, é ao acaso. Armas de cano liso são feitas para tiro de curto alcance, como as espingardas, que tem cano longo e liso. Escopeta é espingarda em castelhano. Essas armas disparam um tipo especial de cartucho. Até agora estudamos cartuchos de projeteis únicos. Mas existem cartuchos que não tem só um projétil, mas varias bolinhas de chumbo, chamadas de balim, e encher o
  • 22. cartucho. Como os balins não são compactos, a bala leva um bucha que não deixa que o gás passe pelos balins. Por cima, para não deixar os balins caírem, coloca outra bucha. Esse é o cartucho de projeteis múltiplos. A bucha também sai, na frente e atrás. Não precisa da raia porque não vai haver o contato do balim com o cano. As buchas caem rápido, mas os balins seguem e começam a se afastar, se espalhar. Quanto mais longe, menos balins penetram. E como a massa é pequena, tem pouca capacidade de penetração. Assim, a grandes distâncias, ela não é muito efetiva contra grandes animais, como o homem. Quanto menor o balim, cabem mais balins estojo, a depender do objetivo. O cartucho é para a espingarda, a depender do calibre (.12, por exemplo), mas o número de balins pode variar. Pode se colocar um projétil só também, bem grande, chamado de balote. Esse balote tem as ranhuras nas laterais, já que a arma tem cano liso. Mas como o projétil é raiado, ele tem movimento de rotação, dado pelas raias. Se calcula o calibre de uma espingarda não pelo balim, mas sim de acordo com o diâmetro do cano. Você faz uma esfera de chumbo do diâmetro do cano, pesa ela e vê quantas são necessárias para pesar uma libra. Na 12 você precisa de 12 esferas pra completar uma libra. Quanto maior o valor numérico do calibre aumenta, o tamanho da esfera (e, por conseguinte o diâmetro do cano) diminui. A bucha normalmente é de papelão. Mas pode ser uma bucha pneumática, que é como se fosse um copo cheio de balins que é disparado junto com os balins, que no ar abre suas aletas laterais. Dai, durante alguns metros, os balins são mantidos dentro da bucha, que só após abre como se fosse pára- quedas. Isso faz com que as balas fiquem juntas mais tempo e mais longo. Quanto mais curto o cano, maior é a dispersão dos balins. Com a bucha pneumática, a dispersão dos balins só vai ocorrer após uma determinada distancia do cano. A espingarda pode ter um “choque” na ponta do cano, que serve para diminuir a dispersão dos balins. Assim, não é só porque os balins entraram juntos no corpo que o tiro foi de perto. Temos que avaliar a bucha utilizada, o tamanho do cano, bem como a existência do cano. Em projeteis únicos, o calibre pode ser medido em centésimo de polegadas (USA - .38), em milésimo de polegadas (UK - .380) e em milímetros (ALE – 7.62mm, 5,56mm). Isso gera muita confusão.
  • 23. Na proporção que o calibre aumenta aqui, o diâmetro aumenta, ao contrário da espingarda, que quanto maior, menor o calibre. O calibre também pode ser real, que é quando se mede a boca da arma. O calibre da caixa de munição é o nominal. O projétil ao passar pelo cano com raias ganha estrais. Cada arma tem um número de raias, para direita ou para a esquerda. Todos os projéteis que saem de determinada arma tem o mesmo número de estrias e para o mesmo lado. Mas cada arma, mesmo que iguais, vem com defeitos microscópicos, que fazem com que seja possível identificar de qual arma o tiro saiu. Assim, se batiza de estrias primárias, as feitas pela arma, e secundárias, as feitas pelos defeitos. Existem ainda as estrias terciárias, que são as estrias provocas pelo uso da arma, de acordo com o desgaste da arma. Essas podem ser alteradas com o uso e a idade da arma. Há armas que o cano são escamoteáveis, ou seja, podem ser substituídos. O lance é que a identidade tem a ver com o cano e não com a arma. Se mudar o cano, não dá para identificar mais, confundindo a perícia. Mas ai tem outro recurso. Cada pino de percussor, que bate na espoleta, tem sua marca própria também. Assim, se a policia encontrar o estojo deflagrado e a arma, mesmo com o cano trocado, pode se comparar essa marca do percussor nos estojos. Outra coisa é verificar a localização dos estojos, que se estiverem um perto do outro, o cara tava atirando parado. Se tiverem separados, o cara tava em movimento. Esse foi o estudo de balística, estudo do deslocamento do projétil. Se for dentro da arma, balística interna, se do lado de fora, externa. Se for dentro do alvo, balística terminal. O projétil é um agente pérfuro-contundente. Se é um projétil de guerra, o objetivo é transfixar, pois saída, ele tem potencialidade de atingir outro alvo. O tiro policial não tem objetivo de transfixar, pois tem alvo definido, eis que só pode atirar em legítima defesa própria ou de terceiro. Por isso a policia deve usar projeteis de ponta romba e de chumbo mole, não revestidos por metal. Isso tudo dificulta a penetração. Na hora que o projétil bater no alvo, ele se deforma, parecendo um cogumelo, tendo muita dificuldade continuar atravessando o alvo, dispersando toda sua energia. Seu stopping power é maior. É normal também se fazer um orifício na ponta do projétil, com o
  • 24. objetivo de criar um ponto fraco, facilitando a deformação. O nome dessa cavidade é hollowpoint. “Isso é só uma curiosidade”, velho filho da puta. Outra curiosidade... Tiro pro alto: tem menos lesividade que o tiro direto, porque tem muita resistência do ar. A tese que a velocidade do tiro pro alto é igual na subida e descida só funciona no vácuo. Quando ela desce na atmosfera, tem menos potencialidade lesiva. Se tiver trajetória de parábola, ela continua tendo muita potencialidade lesiva. E mais uma... Dizem que a bala queima, mas não é verdade. Na boca da arma, há uma língua de fogo. Mas a variação térmica do projétil é muito pequena. O projétil entra cheio de bactéria, devendo-se tomar antibiótico. Agora, pra fechar. Há possibilidade de entoxicação pelo chumbo. Assim, deve-se retirar o projétil do corpo. Mas se ele estiver em um lugar que não esteja em contato com nada, o organismo vai envolve-lo e ele vai ficar isolado. O problema é quando ele fica na articulação e não é retirado. O líquido da articulação ataca o chumbo, que se dissemina pelo organismo e pode entoxicar. Aula 4 Lesões por instrumentos pérfuro-contundentes – PAF – Lesões de entrada A função do projétil é perfurar, mas com calibre alto e ponta rombuda, ele além de perfurar, contunde. O mecanismo de lesão da PAF é a pressão que exerce sobre a superfície. O grau de contusão é maior ou menor de acordo com a ponta do projétil. Trajeto é diferente de trajetória. O primeiro é o percurso que o PAF faz dentro do alvo. Trajetória é o percurso que o PAF da boca da arma até o alvo. A epiderme é destruída no ponto de contato do PAF, pois é mais rígida. A derme, que é mais elástica, ela sofre uma envaginação, e o projétil tenta atravessar, como se fosse um dedo de luva. O PAF vem sujo de diversas coisas, ele ao passar na derme, praticamente se limpa desses resíduos. A derme, após o PAF passar, volta ao seu tamanho normal. Por isso o orifício de entrada é menor que o calibre da arma. Por isso o desenho ficaria com a epiderme com um buraco maior, a derme com um buraco um pouco menor e suja desses resíduos, desse sarro. Essa
  • 25. parede suja leva o nome de orla de enxugo,(ou orla de resíduos). Como escoriação é o arrancamento da epiderme com exposição da derme, essa área limítrofe, chama-se também de orla de escoriação, que fica por fora da orla de enxugo. Quando aparecerem esses indícios, há evidência de lesão por PAF. O conjunto dessas duas orlas, a doutrina chama de anel de fisch. Quando o PAF passa, os vasos da derme sangram e o tecido gorduroso fica sujo de sangue. Dai forma-se uma orla de equimose, em volta da orla de escoriação. Essas características são de disparos feitos à distância. Agora veremos a incidência do tiro. Se o PAF atinge a pele a 90º, ele vai lesionar a pele de uma maneira uniforme por todos os lados. A orla de escoriação terá uma forma concêntrica. Isso não quer dizer que eles estejam frente a frente, o que importa é o ângulo de incidência do tiro. Se o angulo de incidência é oblíquo, quando o PAF bater no corpo, o atrito dele com a parte mais próxima da pele vai ser maior, dai nesse lado vai haver mais detritos e escoriações. A orla de escoriação não será concêntrica, terá formato de uma meia lua crescente. A orla de escoriação vai ser importante para saber de onde veio o projétil. Quanto mais espessa a orla de escoriação em relação ao outro lado, maior será o ângulo de entrada. No momento do disparo, o PAF parte, mas atrás dele fica a nuvem de gás proveniente da pólvora. O gás se espalha em forma de cone, conhecido como cone de dispersão. A primeira camada seriam os gases superaquecidos, que são como uma língua de fogo, que pode até denunciar a sua localização. Por isso algumas armas tem um supressor de luminosidade. Um pouco mais adiante, esse gás já não chega mais, mas a pólvora que virou fumaça chega em forma de pequenos grãos, mas como são muito pequenos, são logo detidos pelo ar. Não alcançam uma distancia maior. Mas grãos de pólvora que não queimou tem uma massa maior, que vão um pouco mais longe. O PAF faz atrito com o cano, dai saem pequenos pedaços do cano, do projétil e da mistura iniciadora da espoleta. Quando encontramos uma lesão provocada exclusivamente pelo PAF, sem os elementos do cone de dispersão, temos o tiro à distancia. Mas os elementos do cone tem que naturalmente não ter alcançado. Porque se o autor usou
  • 26. um travesseiro, casaco, etc. Entre a arma e a vítima, esse anteparo pode ser usado como um filtro. Assim, tem-se a impressão que ele foi feito à distância, mas foi feito à curta distância. As vezes esse anteparo gera resíduos, como um vidro ou madeira. Assim, tem que saber que tipo de resíduo está engastado em volta do ferimento. Tiro à curta distância ou à queima roupa é aquele que, além do dano do projétil, tem também as alterações provocadas pelos elementos constituintes do cone de dispersão. O nome é “à queima roupa” porque a pólvora de fato pode vir a queimar a roupa, principalmente a pólvora antiga, pólvora negra. Hoje a pólvora produz muito menos fumaça, por isso chamam de pólvora branca, em oposição à negra. De acordo com os elementos do cone que alcançam a pele, podemos saber a distância do tiro. P. Ex.: se houver a queimadura, é porque o tiro foi dado de muito perto. Se houver uma fumaça no ferimento, se você limpar a fumaça vai ver as pequenas partículas presas na pele. O tiro de muito perto deixa a queimadura, que é chamada de orla de queimadura ou orla de chamuscamento. Esse esfumaçamento que fica em volta também é chamado de orla de esfumaçamento ou orla de tisnado (que significa sujo). Aquelas granulações abaixo da orla de esfumaçamento ficam na derme, fazendo uma verdadeira tatuagem, por isso são chamados de orla de tatuagem. Uma vez que o cone vai abrindo, tem-se maior distância da boca do cano. Você pode medir o tamanho dessas orlas, e, fazendo experiências em laboratório, você pode saber a distância em que o tiro foi disparado. Quanto mais pólvora tiver, mais longe vai o cone. O cone não costuma passar de 70 centímetros. Dai, se não fizerem os testes, só da pra afirmar que foi há menos de 1 metro. Tiro a curta distância com incidência oblíqua: Não se olvide que a área mais afastada do ângulo menor escoria menos. Só que no tiro à curta distância, além da orla de fisch, o material pulverolento que sair da boca da arma vai se espalhar em área mais extensa para o lado oposto do ângulo pequeno, ficando com menor intensidade de pólvora menor, e será menor a área e mais concentrada a pólvora no ângulo que vier a bala. É o oposto da orla de escoriação que é maior na ângulo que vier a bala.
  • 27. O lance é que se o ângulo for muito pequeno, essa área de resíduos pode parecer maior no lado em que a bala for disparada. Pode haver lesão de entrada sem enxugo, desde que haja um anteparo antes que filtre, limpe a bala. Assim, se tiver enxugo, é lesão de entrada. Se não tiver enxugo, não quer dizer que não é lesão de entrada. Pode ocorrer inclusive que um mesmo PAF entre duas vezes no mesmo corpo. Na segunda entrada não vai haver orla de enxugo porque o PAF foi limpo na primeira entrada. O enxugo quando presente, garante a primeira entrada, isso é certo. Tiro com o cano encostado sem osso embaixo: Se a boca esta apoiada na pele, todo o material que sai da boca da arma, não tem pra onde se expandir, dai todo ele vai entrar na pele. Dai vai haver a orla de fisch com uma orla de queimadura. Não vai haver orla de esfumaçamento ou de tatuagem, porque tudo entrou na pele. O tiro com cano encostado não tem material pulverolento por fora, está tudo por dentro. A pele, por se muito elástica, num exame de microscópio, as bordas dessa lesão tem fissuras, que estão querendo romper, que só não se rompem porque a pele é elástica. Essas fissuras na pele podem aparecer também em disparos a distância quando a bala vem com muita forca. Disparo com o cano encostado com osso embaixo: A bala passa direto pelo osso, mas quando os gases vêm, eles batem no osso e voltam, mas voltam com uma pressão muito grande e o buraco de entrada que seria proporcional ao calibre do projétil, faz um buraco muito grande. Mas o que faz esse buraco são os gases. É o fenômeno da casca da banana. A parte de dentro vira pra fora como se fosse casca de banana. Um perito chamado Hoffmann, chamou essa lesão em boca de mina, porque parecia uma boca de mina de carvão, porque ela fica toda preta em volta. Também chamou de lesão em câmara de mina. O buraco de entrada nesse caso é muito maior que a lesão de saída. Quando a bala transfixa o crânio, no buraco de entrada, ele fica sujo de pólvora, já que os gases entraram junto do crânio. Esse resíduo de pólvora no osso do crânio, chama-se sinal de Benassi, normalmente, em baixo da câmara de mina de Hoffmann, temos um sinal de Benassi. Só que o osso do crânio é duplo, entre as duas camadas do osso, tem uma membrana, que fica cheio de pedaços de osso. E essa bala quando bate no osso, ela fica desestabilizada, dai o buraco na parte de dentro do osso do crânio é maior do que a de fora, como se fosse a metade de um cone, que leva o nome de tronco de cone, em ângulo divergente, crescente, em bisel. Esse aspecto de funil leva o nome de sinal de Bonnet.
  • 28. Na saída, o sinal de Bonnet fica invertido, menor na parte de dentro e maior perto da saída. O sinal de Benassi indica que foi encostado o tiro, o sinal de Bonnet tem em qualquer entrada e saída de bala na cabeça. As vezes, no local em que o tiro foi dado, a boca da arma fica desenhada no local onde foi disparado o tiro, indicando que aquele é o buraco de entrada. Esse desenho também indica que não há osso por baixo, porque senão haveria uma boca de mina de Hoffmann. A esse desenho da arma na pele, dá-se o nome de sinal de Puppe-Werkgartner. É possível que haja um tiro com o cano encostado e com pólvora por fora, desde que haja algum dispositivo que disperse o gás proveniente do cano da arma antes do final da boca. Assim, nesses casos há a lesão de entrada e queimadura por pólvora em cima do cano. Se a arma não tiver encostada com firmeza, pode ser também que ela recue um pouco e não entre tudo, ficando queimado em volta da entrada. Lesão de saída: Quando a bala sai, ele começa empurrando a derme, que é mais elástica, que, por sua vez, empurra a epiderme. Dai a bala sai. Quando ela sai, a derme e epiderme voltam para posição normal. Só que nesse caso não há a orla de escoriação. Também não há orla de enxugo, porque os resíduos já ficaram pelo corpo. Assim, podemos dizer que a lesão de saída é, normalmente, maior que a lesão de entrada, normalmente, não tem escoriação e nem enxugo. A irregularidade da saída, dependerá da estabilidade do PAF. As vezes as lesões de saída são tão atípicas que não se consegue saber se elas são lesões de saída. O mesmo acontece com a lesão de entrada, se elas forem atípicas. Dai o perito tem que ficar ligado no trajeto, já que não dá pra saber pela entrada ou saída. Ele deverá olhar lascas de osso, por exemplo. O lance é que a vítima esta deitada, encostada no muro, com uma carteira, o PAF não vai sair normalmente, dificultando a saída. Dai a derme empurra a epiderme até o anteparo onde o PAF sairia, ai a derme se atrita com o anteparo, nisso, a derme não tem como esticar, dai a derme não vai, dai o atrito da epiderme com o anteparo faz com que eu veja uma orla de escoriação na saída do projétil. Orla de escoriação normalmente não tem na saída, mas nesses casos de anteparo, a saída terá também a tal orla.
  • 29. Trajeto: Trajeto é o percurso que a bala corre dentro do corpo humano. Avalia-se dentro do corpo a densidade do tecido que o PAF atingiu. Se atingir um osso, por exemplo, ele vai liberar mais energia do que se atingisse o pulmão. Neste ela passa com facilidade, despendendo menos energia pra atravessar. A lesão do pulmão tem menos “exuberância” do que uma igual no fígado, por exemplo. Densidade = massa/volume (do órgão) Quanto mais macio, menor duro, mais elástico, menos denso, e vice-versa. Túnel permanente e cavidades temporárias: Túnel permanente é quando a PAF passa e deixa um rastro, mesmo após a morte eu posso saber qual foi o trajeto do PAF, em um tiro transfixante. Quando o PAF vem, ele vem com uma velocidade, que pode de alta ou baixa velocidade. Se ele é de alta velocidade, tem mais energia. O projétil entra nos tecidos como se fosse uma lancha na água empurrando a água ao passar, quanto maior a velocidade, mais ele vai empurrar os tecidos pro lado. O PAF de alta velocidade, além de fazer o túnel permanente, ele ao passar pelo corpo, ele pode gerar lesões pela onda de pressão produzida por sua passagem. De acordo com a resistência maior menor dos tecidos, teremos lesões maiores ou menores. Nisso que o PAF vai passando, forma-se uma cavidade, que só existe enquanto o projétil ta passando, que, por isso, é chamada de cavidade temporária. Essa lesão paralela vai depender dos tecidos pelos quais ela vai passar. Depois que ele passa, a cavidade temporária tende a voltar ao normal. O PAF quando entra no corpo se desestabiliza, não tendo uma trajetória retilínea, em regra. No túnel permanente ele fica em pé, vai virando, etc. No que ele fica em pé, ele libera mais energia. Nisso, a cavidade temporária fica maior. Ao longo da trajetória, o PAF vai virando cambalhota e assim vai formando cavidades diferente. Além disso, a densidade do órgão que a bala atravessar também vai interferir. No PAF de baixa velocidade, a onda de pressão deles é muito pequenas, dai não tem força suficiente pra gerar grandes lesões de cavidade temporária. Não é que não tenha cavidade temporária, o lance é que elas são fracas. PAF de ponta fina passam mais facilmente, liberam menos energia, fazem cavidades temporárias menores. Quanto mais grossa a ponta, maior a cavidade temporária. PAF blindado não se deforma, causa menos cavidade
  • 30. temporária. O trajeto é muito importante para você entender a incidência do disparo. Você parte do pressuposto que o PAF seguiu uma trajetória retilínea. Mas ele pode bater num osso e mudar o ângulo de incidência, por exemplo, dai ele serve pra ter uma idéia. Experiência com blocos de gelatina: Quem vê mythbusters, pode avançar o tape... Quanto mais deformável for o PAF, mais cavidade temporária ele faz. Lesões por arma de fogo de disparo de cartuchos múltiplos: O número de projéteis dependerá do número de balins que haja dentro do estojo. A ferida aqui dependerá da distância do alvo. Aqui, você não vê uma ferida, mas um conjunto de feridas. A esse conjunto de lesões dá-se o nome de rosa de tiro de Cevidalli. Quanto maior o diâmetro da rosa, nas mesmas condições, o tiro foi menos concentrado, mostrando que o tiro foi dado de mais longe. Mas não pode se olvidar do choque, que serve para retardar a dispersão dos balins. Dai isso pode fazer com que varie o diâmetro mesmo que na mesma distância. O cano serrado, ao contrario, permite a dispersão mais precoce dos balins. Há a possibilidade da bucha pneumática, que retardam a dispersão também, já que esse copinho só se abre com s balins dentro depois de estar do lado de fora do cano. O perito não pode se basear exclusivamente na rosa de tiro de Cevidalli, já que existem variações. Ele tem que conhecer a armar e o projétil. As vezes dentro da pele você encontra a bucha pneumática. Bem como as vezes do lado do buraco você vê escoriações das aletas da bucha, como no sinal de Puppe-Werkgartner, indicando que a bucha deve estar de baixo da pele. É muito importante analisar as vestes da vítima, pois elas podem ser capazes de filtrar os elementos do cone de dispersão. As vezes a bala passa pelas vestes e leva um pedaço pra dentro do corpo. Residuografia é o estudo dos gases expelidos pela arma. É possível que a mão com resíduos da pólvora. Pode estar na mão da vítima, desde que ele tenha tentado segurar a arma. Já não se aceita mais a pesquisa de nitritos e de nitratos para identificar a presença de pólvora, porque muitos outros produtos tem essas substâncias.
  • 31. O que se busca hoje são micro partículas de metal, principalmente presentes na cápsula de espoletamento, que podem ser metais variados, mas se estiverem em quantidades compatíveis com a quantidade da cápsula, podem indicar a autoria. AULA 5 Respiração orgânica e respiração celular Lesões e mortes causadas por asfixia Conceito de asfixias – mecânicas Chama-se asfixiologia forense. Asfixia significa falta de pulso e não falta de ar. Quimicamente, só dizemos que há asfixia em nível celular se houver falta de oxigênio – hipoxia – e excesso de gás carbônico - hipercapnia ou hipercarbia. Só um dos dois não é asfixia, deve haver a combinação dos dois. Para morrer, não é preciso que haja anoxia, que é a ausência de oxigênio, mas só a hipoxia, dês que em níveis muito baixos. Estudaremos a asfixia mecânica, que é tratada como uma energia vulnerante físico-quimica, porque age-se inicialmente através de um agente físico, mecânico, e, ao final, provoca uma alteração química no organismo. Sufocação direta pode ser a obstrução dos orifícios respiratórios. Se eu usar toalhas, a sufocação não vai deixar vestígios, se eu usar as mãos, provavelmente, vão ficar marcas dos dedos e das unhas na pele. Outra forma de sufocação direta pode se dar pela obstrução das vias aéreas superiores, que é a obstrução por balas, brinquedos, comida, etc., das vias respiratórias. O que acontecia com a bala Soft. Nos dois casos, o problema é exclusivamente respiratório. Outras vezes o problema é de sufocação indireta. Essa se dá quando alguém coloca um peso em cima do tórax, por exemplo. Se ela for comprimida de um modo que não consiga respirar, em 3 a 5 minutos ela morre. O nome que se dá a essa forma de sufocação indireta é compressão torácica ou do tórax. Quando você observa a cabeça da pessoa que estava com compressão do
  • 32. tórax, você percebe que começa a aparecer um pontilhado hemorrágico. Esse pontilhado diz que há uma compressão, mas que não esta comprimindo completamente, mas só o suficiente para que o tórax não se expanda. Dai o sangue começa a acumular na cabeça, depois a extravasar graças a pressão de forma progressiva. Depois de um tempo parece que o cara está com uma mascara arroxeada. A essa máscara se dá o nome de máscara de Morestin. Essa máscara diz que um peso comprimiu o tórax de forma que o coração não conseguisse receber todo o sangue de volta, deixando o sangue se acumular nos vasos que deveriam levar o sangue de volta ao coração. A intensidade da máscara de Morestin diz pro perito quanto tempo o cara ficou com o peso no peito. Outra forma de asfixia indireta é a crucificação. Como o cara ta preso na cruz, o peso começa a forçar o corpo pra baixo, forçando a musculatura respiratória, deixando ela exausta. Dai, aos poucos, ele ia se asfixiando. Em se tratando de asfixia, não há sinais gerais que identifiquem-na – patognomônico. Petéquias são pequenas marcas de sangue, como mordidas de mosquito ou pulga. Uma petéquias um pouco maior leva o nome de mancha de Tardieu. O Tardieu quando via essas manchas tinha certeza que o cara morreu por sufocação. Mas isso já foi superado. Essas duas manchas indicam que na hora que ocorre um asfixia ou morte rápida, o sangue se acumula nos vasos, esses se dilatam, dai o sangue começa a extravasar, dando azo às petéquias ou manchas de Tardieu. Um lugar que as petéquias são bem notáveis é o globo ocular na parte esclerótica do olho, ou parte branca, que se chamam de petéquias subconjutivais. Esse é um sinal sugestivo, e não afirmativo, de asfixia. Asfixia por modificação do meio ambiente respirável: Aterramento, soterramento, confinamento são modificações qualitativas e quantitativas do ar que respiramos. Até 6% de oxigênio em nível celular, o ser humano suporta. Abaixo disso o cérebro começa a reclamar, tonteira, desmaio, visão turva, etc. Se você trocar o ambiente respirável por líquido teremos afogamento. Se você trocar o ambiente respirável por sólido em pó, sólido pulverolento, granuloso, há soterramento. Se você substituir o ambiente respirável por gases irrespiráveis ou não tóxicos, haverá confinamento. Se for gás tóxico, termos envenenamento ou entoxicação. É o caso do CO2, por exemplo.
  • 33. Afogamento É possível o afogamento sem que o corpo esteja completamente submerso, desde que a boca e o nariz estejam. O afogamento pode ser com água doce ou salgada. Na prática, não faz diferença de qual o modo. A água salgada é mais concentrada de partículas do que a água doce. O sangue é menos concentrado do que a água salgada e mas concentrado do que a água doce. No momento é que há afogamento em água doce, como o sangue é mais concentrado, o glóbulo vermelho começa a receber muita água a ponto de estourar. No que ele estoura ele libera potássio (K) que é tóxico para os músculos do coração, ocorrendo o fenômeno da fibrilação ventricular, que é uma alteração do ritmo cardíaco. Assim, o coração não consegue bombear o sangue. Na água salgada, acontece o contrário, o sangue sai das hemácias, ficando ela murcha. Voltando à água doce, quando ela entra no alvéolo, faz osmose com a água do sangue, como essa é mais concentrada, ela puxa a água do alvéolo enchendo. (O afogamento em água doce leva em média 4 a 7 minutos). No afogamento em água doce o sangue fica mais diluído, menos concentrado, menos denso. O sangue sai do pulmão e vai para o átrio direito, descendo para o ventrículo direito, circulando o corpo e voltando para o coração, só que agora no átrio esquerdo, indo para o ventrículo esquerdo, voltando para o pulmão e recomeçando o ciclo. Assim, no afogamento por água doce, o sangue no átrio direito (primeiro) esta mais diluído, menos concentrado, do que no átrio esquerdo. Isso porque muita água entrou no pulmão. Assim analisando a densidade do sangue dos átrios ou ventrículos direitos e esquerdos, posso saber se foi com água doce se a densidade do lado esquerdo for menor do que a do lado direito. Em se tratando de água salgada, o raciocínio é invertido, o sangue perde água pro alvéolo. Assim, no exame cadavérico, vê-se a grande presença de líquido no pulmão, ocorrendo o fenômeno do edema de pulmão. É tão grande a quantidade de líquido que ele começa a voltar para a boca e narina, ocorrendo o fenômeno do cogumelo de espuma. Assim, o sangue fica mais concentrado no átrio esquerdo do que no átrio direito. Se a densidade dos átrios é idêntica, o boneco não morreu afogado, podendo ter sido jogado no mar/rio depois.
  • 34. Um tal de Carrara percebeu um fenômeno interessante. Quando você coloca sal na água, a temperatura de congelamento cai. Quanto mais sal você coloca, mais baixo fica o ponto de congelamento. Assim, você pode estudar o ponto de congelamento dos sangues dos átrios esquerdo e direito para ver qual estava com mais sal e, por conseguinte, saber se morreu em água doce ou salgada. Afogado Branco de Parrot: necropsia branca, pericia branca, morte branca. Toda vez que você procura algo e não acha nada como causa da morte, você fala de pericia branca. A causa da morte é indeterminada. Dai, para solucionar isso, alguns caras vieram com a tese de que quando alguém pula numa água muito fria, haveria o choque térmico, ocasionando o grande refluxo de sangue pro coração repentinamente de modo que o coração não agüente. Poderia ocorrer também que a pessoa engoliu pequenas quantidades de água na laringe ocasionando os espasmos da glote, fechando a passagem de ar. Nesses dois casos a pessoa morre dentro d’água sem água nos pulmões. Portanto, o afogado branco de Parrot, na verdade não é afogado, ele morreu por problemas neurológicos, reflexos, sem deixar qualquer vestígios, mas dentro d’água. Outro modo de saber se a pessoa morreu afogada, é analisando se uma algas microscópicas, chamadas diatomáceas, entraram na corrente sanguínea, sendo espalhadas pelo corpo todo. Assim, as vezes o cara morre dentro d’água e os peixes comeram tudo, dai não dá para saber o que aconteceu. Dai se analisam os ossos para ver se ele tem algas diatomáceas na medula óssea, se tiver é porque ele aspirou água com algas, que foram parar dentro dos ossos. De acordo com as algas encontradas dentro dos ossos, da pra saber mais ou menos o local em que ocara morreu, porque essas algas são diferentes de região para região. Assim, mesmo que o cara tenho sido levado pela correnteza, da pra saber aonde ele morreu, pelo menos mais ou menos. Isso só no CSI Miami. Agora vamos estudar as lesões post mortem e intra vitam. Há 5 fases de afogamento, a primeira fase, ela se agita, luta contra o afogamento. Na 2ª fase ela faz uma apnéia voluntaria, segurando o ar. Só que como o gás carbônico vai aumentando dentro do sangue, esse excesso vai estimulando o bulbo, que faz a pessoa respirar, ai entramos da terceira fase, que é a hipernéia involuntária. O que mata o cara em baixo d’água não é a falta de oxigênio, é o excesso de gás carbônico. A seguir o cara entra em coma asfíxico – 4ª fase, morrendo em seguida, 5ª fase. Quando você olha um pulmão de um afogado, a água rompe os alvéolos, causando uma equimose. Assim, teremos as petéquias, pequenas, as
  • 35. manchas de Tardieu, um pouco maiores, e agora sim, exclusiva do afogamento, as manchas de Paltauf, que são ainda maiores que as de Tardieu. Não há afogado sem mancha de Paultauf. Soterramento Há soterramento no sentido estrito e amplo. No amplo é aquele caso você encontra o cara literalmente em baixa da terra, mas pode ser que ele não tenha resíduos nas vias aéreas. Se ele estiver com resíduos nas vias aéreas, há o soterramento em sentido estrito. O material só entra no pulmão se o cara foi soterrado vivo. Confinamento O individuo fica preso num ambiente que não permite a renovação com o ar atmosférico. Por exemplo, o caso do submarino russo Kursk. No que a quantidade de CO2 aumenta no ambiente e cai o O2, o corpo apresenta um quadro de hipertermia, aumenta a temperatura do corpo. Assim o cara sua muito, evaporando esse suor, o ambiente fica úmido, por conta disso, o suor começa a demorar mais pra evaporar. Assim, se tivermos um quadro de suor, umidade, hipoxia e hipercapnia, esse cara morreu por confinamento em ambiente fechado. Mas existe confinamento em ambiente aberto, como em fossos que são estreitos e fundos. Assim, como o ar não circula lá em baixo, pode ser que a concentração de oxigênio lá chegue a 5%. Assim, após algum tempo a pessoa pode desfalecer. Ai lá no fundo tem um palmo de água, mas como o cara desfaleceu, ele se afoga em um palmo de água. Asfixias por constrição do pescoço São asfixias mecânicas. No momento em que o pescoço é apertado, nós podemos ter problemas em nível circulatório, arterial ou venoso; podemos ter problemas ainda na área neurológica, como no nervo vago que passa pelo pescoço, como também no seio carotídeo. Podemos ter ainda problemas respiratórios, na traquéia, laringe e no osso hióide. Podemos ter também problemas raquemedulares, quando a constrição afetar a coluna vertebral. O mais raro é o raquemedular. O mais comum é o problema circulatório, como no mata leão. As vezes, a pessoa para separar um briga, pega no pescoço da outra e estimula o nervo vago, que é quem manda o coração bater. Dai da uma sobrecarga nele e, em pessoas com predisposição, pode gerar uma parada cardíaca, mesmo sem querer, matando a pessoa. Bradicardia – oposto da taquicardia, ou seja, poucos batimentos do
  • 36. coração. Asfixia mecânica do pescoço com as mãos é chamada de esganadura. Encontram-se marcas de dedos e de unhas no pescoço. Estigamas unguiais marca de unha, estigmas digitais, marca de dedos. Asfixia mecânica por meio de laço leva o nome de estrangulamento ou enforcamento. A diferença é que se a força que apertar o laço for o peso do corpo, termos enforcamento. Se qualquer outra força que não seja o corpo da vítima apertar o pescoço, termos estrangulamento. Há sinais especiais no enforcamento e estrangulamento. A marca deixada pela corda chama-se de sulco, analisando o sulco, podemos saber qual foi o tipo de asfixia. Quanto menor a superfície, o calibre da corda, precisaremos de menos força, fazendo um sulco bem visível. Se usarmos um medidor de pressão, não haverá nenhuma marca. Corda de sisal arranha o pescoço. O sulco vai depender do material utilizado, as vezes fica até um decalque do instrumento utilizado, como os elos de uma corrente. Quando o sulco aparece, eu posso saber se foi enforcamento ou estrangulamento. Se ele tava pendurado, o sulco vai ser obliquo, ascendente e vai apertar mais de um lado do que do outro, tendo profundidade variada. Diferentemente do estrangulamento, em que o sulco é horizontal, a profundidade do sulco é mais uniforme e ele é contínuo. No enforcamento, normalmente o sulco é alto, acima da laringe, acima do osso hióideo. No estrangulamento o sulco costuma ser baixo. Só que esses indícios são apenas sugestões, porque nada impede que a vítima estivesse ajoelhada e o agressor mais alto. Assim, seria um estrangulamento com indícios de enforcamento. Principalmente se depois da morte, o agressor pendurasse a vítima pelo pescoço. A posição e a forma do sulco são apenas sugestivos, não são patognomônicos, afirmativos. Enforcamento completo é aquele que não tem nenhuma parte do corpo no chão. O incompleto é aquele que a vítima tem alguma coisa apoiada no chão. Isso porque só o peso da cabeça já é suficiente para enforcar. O perito não diz se foi suicídio, homicídio ou acidente, ele só diz que foi enforcamento. Se o nó esta na parte de trás, posterior do pescoço, chamamos de
  • 37. enforcamento típico. Se o no esta em qualquer outra parte do pescoço, chamamos de atípico. A parte que aperta o pescoço chama-se alça, que é sustentada pelo nó. Esse nó pode ser fixo ou corrediço. Normalmente quando ele é corrediço, ele encosta no corpo, quando é fixo ele normalmente não encosta no pescoço. Assim, se ele aparece, provavelmente teremos um nó corrediço. A alça pode passar mais de uma vez ao redor do pescoço, criando sulcos múltiplos ou simples. Na hora que o pescoço começa a ser apertado, o organismo entra em vaso dilatação, dai esses vasos podem se romper, principalmente no olho, chamada subconjuntival. Quando há enforcamento, há um estiramento do pescoço por conta do peso do corpo. A artéria carótida do pescoço, tem três divisões, interna, externa e média, chamada túnicas interna, média, etc. Quando o pescoço é esticado no enforcamento, vasos sanguíneos da carótida se rompem, causando uma equimose na túnica externa, conhecido como sinal de Friedberg. Mas quando esticou, a túnica interna também se rompeu, esse rasgão é conhecido como sinal de Amussat. Outro sinal muito importante é o que fica também na carótida quando alguém esgana com tanta força que o sinal da unha fica marcado em meia lua na carótida, conhecido como sinal de França. O nervo vago é protegido por uma bainha, e quando há o estiramento, há uma ruptura dessa bainha, conhecido como sinal de Dotto. A presença desses sinais é sugestiva e não patognomônica. Como no enforcamento há a vaso dilatação, as vezes você encontra o pênis do enforcado com ereção, até mesmo ejaculação. Assim, criou-se a lenda de que enforcamento é prazeroso. Chama-se de asfixia auto-erótica. Aula 6 Lesões e morte causadas pela energia térmica
  • 38. Calor é a variação na quantidade de energia térmica transferida de um sistema para o outro. Há conceitos básicos para estudar essa matéria, que são a) insolação: as lesões térmicas são causadas pelo sol; b) intermação: qualquer outra fonte de calor que não seja o sol. O nosso mecanismo interno de controle de calor fica na base do bulbo, denominado hipotálamo, onde funciona o centro termorregulador. É lá que saem as ordens para que o organismo se adapte a variações de temperatura. Atualmente sabemos que se o problema resulta de alterações no hipotálamo, as lesões são chamada de insolação. Mas se a responsabilidade não é do hipotálamo, podendo ser do sistema cardiovascular, por exemplo, então nos temos uma alteração que recebe o nome de intermação. Esse é o conceito moderno desses conceitos. Outra classificação vai depender do contato direto ou não da fonte térmica com o corpo. Se a ação do calor age no corpo de forma difusa (não há contato), então nos temos uma alteração que recebe o nome de termonose. Se há o contato, nos temos a queimadura. Não há queimadura do sol, há, na realidade termonose. O mesmo se eu receber o calor de uma fogueira, mas estiver distante dela. Os agente vulnerantes mais comuns para provocar queimaduras: a) fogo, b) liquido fervente, c) líquidos ferventes, d) gases superaquecidos, e) sólidos incandescentes, f) substancias cáusticas, g) alguns fármacos e h) vegetais. Os fármacos dentro do corpo sob determinadas fontes térmicas ou químicas podem gerar farmacodermites. Já a ação térmica sobe vegetais em contato com o corpo leva o nome de fotofitodermites. Fogo A proporção que o fogo vai se aproximando, o corpo tenta se defender. A primeira reação é uma vaso dilatação periférica, não conseguindo, os líquidos começam a extravasar, dai começa a haver uma elevação da epiderme. Depois a epiderme começa a se romper. Se notarmos tão somente a vaso dilatação na pele, avermelhada, termos o eritema, ou queimadura de 1º grau. Quando começa a aparecer extravasamento de líquidos vasculares, elevação e ruptura da epiderme, nos já temos o aparecimento das flictemas ou bolhas, que são as queimaduras de 2º grau. No momento em que a derme começa a ser agredida, essas lesões já caracterizam a escarificação da derme ou queimadura de 3º grau.
  • 39. Após o fogo romper a derme, escarificar, a ação térmica é tão intensa que ocorre o fenômeno da carbonização ou 4º grau. Lussena classificou esses sinais e numerou-os em graus. Quanto mais profunda é a lesão, significa que a lesão foi maior. Entretanto a carbonização não foi tão profunda, sendo superficial. Ela nem sempre é mortal, podendo ser superficial, parcial ou geral. Cauterizar verruga nada mais é do que carbonizar a região. A carbonização, mesmo quando total ou profunda isto não significa que a pessoa morreu carbonizada. A carbonização total ocorre normalmente em organismo que já morreu de uma outra causa qualquer, ficando o corpo em contato com o fogo e sendo carbonizado. Não se atesta diante de um cadáver carbonizado que ele morreu de carbonização, devendo se fazer um exame profundo para saber a real razão. Mas como caracterizar que as lesões foram feitas pelo fogo no exame cadavérico? É preciso observar as características das lesões deitas pelo fogo. Uma forma é analisar o pelo do corpo. O pelo ao ser queimado, queima e encolhe, ficando esturricado, crestados. Outro jeito é: o fogo queima aonde ele encostar, podendo causar carbonização, em qualquer parte do corpo, aonde quer que ele atinja (diferentemente do líquido fervente), sendo a gravidade homogênea com o contato. As vestes podem influenciar também, protegendo ou amplificando a ação do fogo. “Onde há fogo, há fumaça”. Na fumaça há óxidos. Quando esses óxidos entram em contato com a água e com o muco da arvore respiratória, formam substancias ácidas, que reagem de forma exotérmicas, causando queimaduras internas, chamadas lesão de inalação. Se existe essa lesão, a vítima estava viva dentro do incêndio. Essa lesão pode causar o fechamento da glote, causando asfixia. Pode ser que ocorram lesões na mucosa da arvore respiratória, que pode infeccionar e levar à morte. Assim, se o cara foi encontrado carbonizado, mas não haviam lesões de inalação, é porque, provavelmente, ela já estava morta quando o fogo a atingiu. A fuligem da fumaça se deposita sobre a mucosa da árvore respiratória, nós vemos o sinal de Montalti, que nada mais é do que a fuligem na mucosa da árvore respiratória. Se não tem sinal de Montalti, pode ser que já estivesse morto. Se tem o
  • 40. sinal, é porque tava vivo na hora do incêndio. Características das lesões causadas por líquido fervente A transferência de calor depende da superfície de contato, transferindo-se o calor do mais quente pro mais frio. Aqui as fases são exatamente iguais às do fogo com exceção do 4º grau. Aqui os pelos também não serão crestados. Pela gravidade, o líquido escorre, nisso ele vai esfriando, dai o ponto de contato tem uma queimadura mais intensa do que as áreas subjacente, dai dizer-se que a gravidade é decrescente a medida que o líquido escorre ao longo do corpo. Pode acontecer que ao esfriar o líquido junto à pele, ele se resfrie, passando a ter um aspecto sólido, deixando vestígios no corpo (pixe, cera, lacre). Características das lesões por sólidos incandescentes A ação vai ser muito parecida com a do fogo, havendo pelos crestados, carbonização, mas só onde o ferro encostar. Ficará marcada uma cicatriz capaz de representar a forma do sólido. Estigmatizar outrem pode configurar lesão corporal gravíssima tendo em vista a deformidade permanente. Lesões por vapores superaquecidos Pode ser vapor em uma caldeira, que, ao atingir o corpo, transfere a energia térmica para o corpo. Nesse caso também não há queimadura de 4º grau ou pelos crestados. A lesão vai ser homogênea, ao contrário dos líquidos. Assim, podemos diferenciar um do outro. Quando há grandes pressões, o vapor pode até arrancar as roupas da vítima, gerando lesões generalizadas. Lesões causadas por agentes cáusticos Serão tratados juntamente com agentes químicos. Mas já sabemos que eles causam queimaduras porque causam uma reação exotérmica, que pode queimaduras de até 4º grau. Mas não utilizamos o termo carbonização, mas sim necrose de coagulação. Fotofitodermite Normalmente é causado por limão quando exposto aos raios solares. Há uma reação com o líquido, queimando a pele. Gera lesões no máximo de 2º grau. Pode ocorrer com bronzeadores caseiros usando folhas de figo. Assim, tudo o que não estava protegido por roupas sofreu queimaduras. Lesões bolhosas que se confundem com queimaduras
  • 41. Há uma quantidade muito grande de lesões bolhosas que se confundem com queimaduras de 2º grau. É o caso, por exemplo, das farmacodermites, reações anômalas a um determinado agente químico (remédio) que, normalmente, não produz aquele efeito. Isso é uma idiossincrasia. Tem que ter cuidado com a afirmativa de que a lesão bolhosa é decorrente de queimadura Dentro do líquido de queimadura há uma grande concentração de proteínas. Essa característica é só de queimaduras em pessoas vivas. Isso se chama sinal de Chambert. Em queimaduras em pessoas mortas, há o líquido, mas não há proteínas. Pode ser post mortem ou por causa da putrefação. Aspecto médico-legais do cadáver carbonizado Grave problema é identificar o carbonizado quando há uma carbonização generalizada, porque não tem mais pele, olhos, cabelo, etc. O cadáver carbonizado fica com os braços totalmente flexionados, como se fosse um lutador de boxe. A flexão dos músculos é tão forte que pode quebrar ossos. Isso ocorre apenas após a morte. Essa posição se dá o nome de sinal de Devergie ou do boxeur, esgrimista, saltimbanco, lutador. A mesma coisa se dá nos músculos inferiores. Para poder identificar você pode usar as digitais se elas estiverem preservadas, ou uma dobra, prega, se apresenta preservada e nessa parte dobrada tem uma tatuagem ou uma cicatriz. Mas se carbonizou completamente temos que procurar outras formas de identificação. É impressionante, mas a carbonização funciona como um isolante térmico. No momento que a superfície é carbonizada, protege-se os órgãos internos. As vezes, só. Nesse interior podemos encontrar elementos importantes para a identificação. Hoje em dia, qualquer pedaço desprezível de material preservado poderá ser utilizado para fins de exame de DNA. O problema são as regiões onde não há DNA. Assim, a arcada dentária funciona como identificador, se ela tiver sido preservada. Procura-se por eventuais cirurgias, como apendicite, ligadura de trompas, etc. Pode resolver a identidade também.
  • 42. O cadáver carbonizado tem que ser aberto para averiguação. Fasciotomia – você corta a cobertura tendinosa do músculo quando a retração da pele após uma queimadura pode impedir o fluxo sanguíneo, causando uma isquemia. Dai quando isso vai pro legista, esses cortes podem ser interpretados erradamente, confundindo a fasciotomia com lesão criminosa. A causa mais comum de pessoas queimadas é a destruição da pele, dai a pessoa perde água e sais minerais, não sendo possível repor. Quanto maior a área queimada, maior a chance de desidratação. Dai Wallace criou a regras do 9 O esquema é o seguinte, você pega o corpo e divide em cabeça (9%), braços(9% x 2), pernas(9% x 2), tronco (18 %) e dorso (18%). A soma é 99%, 1 % é a área genital. Ao entrar a pessoa queimada no hospital, o medico faz o somatório das áreas queimadas para saber a área queimada. De acordo com o percentual e a profundidade modifica-se o procedimento médico. A partir de 50% o negócio começa a ficar preto. A segunda causa de morte é a infecção, porque sumindo a epiderme, a derme fica exposta à atuação do micróbios. Pode ocorrer também a já citada lesão de inalação, gerando infecções internas. As pessoas nos hospitais podem apresentar a úlcera de estresse de Curling. Isso não é uma úlcera, são pequenas ulcerações na mucosa gástrica, gerando uma hemorragia digestiva, podendo levar a uma anemia aguda, matando o cara. Modernamente, a graduação em graus foi substituída pela classificação de Krisek, agora se fala em queimaduras superficiais (1º grau), parcial - superficial ou profunda (2º grau) – essas regeneram - e totais (3º grau) – essas cicatrizam. Ele não fez menção à carbonização. Mecanismos de transferência de energia térmica 1) condução – contato entre os sistemas. 2) Irradiação – a onda térmica alcança o sistema receptor estando a fonte distante. 3) Convexão/convecção – sucessivas camadas de ar ou líquido fazem a comunicação (cachoeira, ventilador). 4) Transpiração – perda de calor graças à evaporação do suor liberado na pele.
  • 43. Quem avisa pro corpo que ele tem que suar é o hipotálamo (lembra ainda?). A primeira ordem é vaso dilatação periférica, ao mesmo tempo os pelos são abaixados. Depois produz-se e elimina-se o suor. O problema é que as vezes o hipotálamo para de funcionar. Dai não se perde mais calor pela transpiração, e a temperatura interna começa a subir hipertermia. Dai fica com o corpo quente e a pele seca – sinais de insolação. Se perder muita água, entra em sincope térmica, desmaiando, porque o primeiro órgão principal a ficar sem água é o cérebro. O problema que esse pessoal de síncope morre com necropsia branca, ou seja, sem sinais. Agora, se o ambiente for frio, ao invés de fazer vaso dilatação, vai fazer a vaso constrição, pra não levar o frio pra dentro. O problema e que se estiver muito frio, ele fecha muito os vasos, podendo gerar uma isquemia das extremidades. Isso pode gerar a necrose dos tecidos se demorar muito, já que não chega oxigênio nos tecidos. Isso pode chegar ao extremo de amputação dos tecidos necrosados. Os pelos aqui ficam eriçados. Aqui há inibição da sudorese. Por outro lado aumenta-se o metabolismo, dai a pessoa começa a tremer para aumentar a temperatura interna. Há também o aumento do apetite. No calor extremo há a redução do apetite. OBS: encontrei a pessoa caída, o corpo quente e a pele úmida, o problema é de intermação, não é do hipotálamo. Agora, encontrei a pessoa caída, o corpo ta quente e a pele seca, temos insolação, problema no hipotálamo. O lance é que a intermação com o tempo acaba afetando o hipotálamo. Lesões causadas pelo frio Não são muito comuns aqui, mas temos que saber. Normalmente nós estamos perdendo calor constantemente para o ambiente, Só que em ambiente muito frio essa perda é muito exagerada. Quando estamos em muito frio, também podemos ter lesões de 1º a 3º grau. O 1º grau é a mesma coisa. Eritema. O 2º grau também, flictemas. Só que no 3º grau muda. No calor quente o que ocorre é a escarificação, aqui ocorre a granguena ou a necrose, em primeiro lugar nas extremidades.