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MEDICINA TIBETANA
              Livro 10


 Uma publliicação desttiinada ao esttudo da Mediiciina Tiibettana,,
 Uma pub cação des nada ao es udo da Med c na T be ana
ediittada pella Biiblliiotteca de Obrras e Arrquiivos Tiibettanos,, Dha--
ed ada pe a B b o eca de Ob as e A qu vos T be anos Dha
                               rramsalla,, ÍÍndiia
                                 amsa a nd a
MEDICINA TIBETANA
         Livro 10


     Drra.. Lobsang Dollma Khangkarr
     D a L o b s a n g D o ma K h a n g k a
            Drr.. Lobsang Rapgay
             D Lo bs a ng Ra p ga y
                Drr.. Barrrry Cllarrk
                 D Ba y C a k




               Traduzido por:
         Williams Ribeiro de Farias
         Dra. Yeda Ribeiro de Farias




            EDIITORA CHAKPORII
            ED TORA CHAKPOR




2
Título original: Tibetan Medicine Series 9
    ©1985 Library of Tibetan Works and Archives
                  Dharamsala, Índia




                         1998
Direitos de edição em línguas portuguesa e espanhola
        adquiridos pela EDITORA CHAKPORI
          Caixa Postal 6636 - CEP 13084-970
                Campinas - SP - Brasil




                                                       3
ÍNDICE


UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA .............................................. 5
    O Corpo Saudável ................................................................ 12
    O Corpo Doente ................................................................... 13
    Métodos de Diagnóstico ....................................................... 16
    Tratamento ........................................................................... 18
    Farmacologia ........................................................................ 19
A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA MEDICINA TIBETANA.......... 22
    Introdução............................................................................. 22
    Capítulo 27 ........................................................................... 23
    Capítulo 28 ........................................................................... 29
    Capítulo 29 ........................................................................... 35
    Capítulo 30 ........................................................................... 39
UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA .................................... 42
    Urinálise Básica .................................................................... 43
    Pré-requisitos........................................................................ 43
    Coleta da urina ..................................................................... 44
    Recipientes ........................................................................... 45
    Varinhas ............................................................................... 45
    Horário da coleta .................................................................. 45
    Horário de exame ................................................................. 46
    Processo de análise ............................................................. 46
DOENÇAS DE RLUNG E SEU TRATAMENTO ........................................... 67
    1. Etiologia ............................................................................ 70
    2. Agentes Patológicos ......................................................... 70
    3. Classificação ..................................................................... 72
    4. Sinais e Sintomas ............................................................. 75
    5. Terapêutica ....................................................................... 83
YOGA DO RELAXAMENTO
UM MÉTODO TIBETANO PARA PROPORCIONAR UMA SAÚDE MELHOR ..... 90




4
UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA

                 Dra. Lobsang Dolma Khangkar


       Recentemente, começamos a realizar em nossa consciên-
cia que o conforto proporcionado pela ciência e pela tecnologia não
necessariamente e nem sempre torna a vida mais fácil para nós,
quando não consideramos o fator humano no desenvolvimento. No
entanto, podemos afirmar que enfrentamos mais e mais situações
que produzem grande stress e tensão. Apesar de cuidarmos muito
melhor de nós mesmos, ingerindo alimentos bastante nutritivos, e
possuindo toda espécie de facilidades com relação aos cuidados
com a saúde, a vida tem significado pouco mais que trabalho e
preocupações. Obviamente, não podemos desfrutar de boa saúde
estando meramente saudáveis fisicamente. Temos que estar sau-
dáveis mentalmente.
       A interpretação tibetana de saúde origina-se dos ensina-
mentos do Buda Sakyamuni que viveu na Índia no século 5 a.C. A
saúde total, disse ele, é o equilíbrio entre o adequado funciona-
mento do corpo e da mente e, sem o desenvolvimento de um, o
outro não pode funcionar de uma maneira saudável.
       O corpo humano é estudado em termos da teoria hByung-
was, ou seja, esta estrutura é composta de cinco elementos (em
tibetano: hByung-was; em sânscrito: mahabhutas) e sem estes
nenhuma unidade de vida pode existir. Cada um destes cinco (ter-
ra, água, fogo, ar e espaço) possui uma função específica e apesar
de serem estruturalmente opostos um ao outro, trabalham em sim-
biose no aspecto funcional, através de várias combinações e per-
mutações. Uma unidade elementar adquire suas características

                                                                  5
particulares, principalmente, em decorrência da combinação pre-
dominante de grupos de elementos específicos em uma unidade
maior. Por exemplo, um gênero alimentício é determinado como
pesado e doce porque é composto primariamente dos elementos
terra e água os quais contém intrinsecamente estas potências.
        Em geral, o elemento predominante constitui 50% e a por-
ção remanescente da unidade estrutural está representada pelos
outros elementos em iguais proporções.
        Um elemento é uma unidade composta de átomos. Sob este
aspecto, a teoria atômica moderna, na qual átomos são compostos
de prótons, elétrons e nêutrons, não é inconsistente com os princí-
pios médicos tibetanos dos cinco elementos. Peso, coesão, eletri-
cidade, movimento e relações espaciais envolvem estas funções e
potências primárias dos elementos terra, água, fogo, ar e espaço.
De muitas maneiras, os elementos podem ser comparados ao pro-
toplasma de que se constitui uma célula. Sais inorgânicos, água e
carboidratos orgânicos e gorduras podem ser identificados com a
estrutura e as funções dos elementos água e terra, enquanto pro-
teínas são, por um lado, similares ao fogo e, por outro lado, aos
elementos fogo e ar. Os elementos ar e espaço garantem a sim-
biose da água e da terra, por um lado, e do fogo e ar por outro lado,
através do controle sobre o arranjo e a organização destes elemen-
tos opostos.
        Os três humores (em tibetano nepas; em sânscrito doshas),
que são rLung (em sânscrito vayu), mKris-pa (em sânscrito pitta) e
Bad-kan (em sânscrito kapha), são as representações biológicas
dos cinco elementos e responsáveis por todas as atividades do
corpo. Entre os três, rLung é o mais importante na saúde e na
doença. É o responsável pelo estímulo, pela concentração patoló-
gica e pela infiltração de mKris-pa e Bad-kan, não considerando o
desgaste natural do corpo quando este está em desequilíbrio. Suas
características funcionais de leveza e mobilidade garantem sua
presença tanto nos distúrbios frios como quentes. Além disso, sua
qualidade funcional agressiva (áspera) antagoniza facilmente

6
outras células e tecidos corporais. É rLung que assegura o arranjo
e a organização espacial das unidades mKris-pa e Bad-kan, os
quais não poderiam coexistir em harmonia, uma vez que possuem
características extremamente opostas. Alguns tendem a interpretar
os três nepas como conceitos abstratos semelhante ao sistema de
meridianos da medicina chinesa. Mas não é assim. Os humores
são compostos físicos que possuem diferentes qualidades físicas.
De fato, há três tipos principais em cada nepa, o grosseiro, o sutil e
o mais sutil. O rLung mais sutil é o substrato físico da conclusão e
da realização das ações virtuosas e não virtuosas (em sânscrito
karma) que determina a morte e o nascimento. É rLung quem
transfere uma vida para outra, como a base física do eu (eu cons-
ciente). Enquanto estruturalmente rLung é composto dos elemen-
tos ar e espaço, tecnicamente é definido em termos de suas
qualidades funcionais. É descrito como "aquele que é áspero, leve,
frio, móvel, compacto e sutil". Qualquer desequilíbrio de uma ou
mais destas qualidades, seja resultante de aumento, redução ou
alteração, resulta em sua patogenicidade. A causa primordial de
rLung é o apego, uma das três negatividades. Uma vez que, por
natureza, o apego é emocional, ele influencia sua contraparte físi-
ca, rLung. Apesar da patogenicidade de rLung resultar na morbida-
de de todas as seis qualidades funcionais, eventualmente um
grupo particular de qualidades é predominantemente alterada. A
ignorância sobre como as coisas existem na realidade faz com que
a mente considere tais fenômenos ou objetos como desejáveis ou
indesejáveis através da superposição de qualidades que os objetos
não possuem. Conseqüentemente, a consciência adquire qualida-
des como flutuação e mobilidade, que produzem mudanças físicas
correspondentes elevando rLung e concentrando-o em várias
regiões do corpo. Apesar de rLung estar presente em todo corpo,
em proporções variadas, seus sítios principais são a pele, os teci-
dos ósseos, as articulações, a região pélvica e principalmente o
intestino grosso.


                                                                    7
Basicamente, rLung coordena todas as atividades muscula-
res e conscientes do corpo através do sistema nervoso central e
periférico, conhecidos como sistema nervoso branco na anatomia
tibetana. Os cinco tipos de rLung, de acordo com suas funções
são:
- rLung da sustentação
- rLung ascendente
- rLung metabólico
- rLung descendente
- rLung infiltrativo
         Estes cinco tipos de rLung são responsáveis pelos batimen-
tos cardíacos, ritmo respiratório, pelos movimentos do estômago e
atividades voluntárias e involuntárias do corpo. O rLung da susten-
tação está localizado principalmente no coração e suas funções
principais são a respiração e a deglutição dos alimentos. O rLung
ascendente está localizado na garganta e é responsável principal-
mente pela fala e pela voz. O rLung metabólico está localizado no
estômago e intestino delgado e auxilia na assimilação das enzimas
até os produtos finais da digestão e na separação nos vários ele-
mentos teciduais. Localizado no cólon e pelve, o rLung descenden-
te é responsável pela eliminação de fezes, urina , sêmen e sangue
menstrual. O rLung infiltrativo, localizado no coração, é responsá-
vel principalmente pelo funcionamento dos canais circulatórios no
corpo.
         mKris-pa é o segundo dos humores. Apesar de sua forma
grosseira ser a bile produzida no fígado e armazenada na vesícula
biliar, suas características são encontradas em todo corpo na for-
ma de energia produzida predominantemente pelos elementos fogo
e ar. mKris-pa é a energia que produz calor e que determina o
tempo de vida de uma célula. É identificado principalmente com a
vesícula biliar, a porção média do estômago, intestino delgado,
sangue, sistema linfático e pele. Controla a temperatura corporal,
realiza funções metabólicas, estimula o processo digestivo através
de substâncias bioquímicas denominadas enzimas, juntamente

8
com uma combinação de calor ou temperatura endotérmica do tra-
to gastro-intestinal. Estruturalmente, mKris-pa é composto de fogo
e ar, enquanto funcionalmente é descrito como "aquele que é quen-
te, pungente, oleoso, leve, fétido, purgativo e aderente".O mKris-pa
não-patogênico adquire morbidade quando uma ou mais de suas
características, particularmente as três primeiras, sofrem elevação,
redução ou uma ruptura.
        Basicamente, mKris-pa é causado pelo ódio, a um nível
primordial. O estado móvel e energético da mente proporcionado
pelo ódio ou aversão afeta a estrutura molecular do corpo ocasio-
nando alterações de uma forma homóloga e, como resultado, os
elementos fogo e ar predominam no corpo. Quando fatores exter-
nos, influências sazonais, padrões comportamentais e dietas pro-
dutoras de mKris-pa estão presentes, prolifera e afeta os tecidos,
concentrando-se em uma região particular do corpo. Há cinco tipos
principais de mKris-pa:
- mKris-pa metabólico
- mKris-pa da transformação
- mKris-pa da determinação
- mKris-pa da visão
- mKris-pa da coloração
        O mKris-pa metabólico está localizado entre o estômago e o
duodeno e sua função principal é digerir o alimento, separar
nutrientes e produtos residuais, gerar energia, fornecendo vigor e
brilho ao corpo. Além disso, ele promove a formação saudável dos
mKris-pa remanescentes. Localizado no fígado está o mKris-pa da
transformação e sua função principal é a conversão do alimento
nos sete constituintes corporais. O mKris-pa da determinação que
está localizado no coração determina a geração de várias atitudes
mentais, tais como orgulho, desejo, etc. Na pele está localizado o
mKris-pa da coloração, o qual controla a compleição da pele.
        Bad-kan é definido como "aquele que é pesado, gorduroso,
frio, estável, macio, adesivo e embotado" e estruturalmente predo-
mina em sua composição os elementos água e terra. Quando fato-

                                                                  9
res endógenos na forma de dieta, padrões de comportamento,
traumas ou microrganismos invadem e afetam o corpo, resultam na
proliferação de Bad-kan. Suas características funcionais normais
como peso, untuosidade e outras elevam-se, reduzem-se ou são
alteradas. A nível primordial, o embotamento mental está relacio-
nado com a formação de Bad-kan no corpo. Há cinco tipos de Bad-
kan:
- Bad-kan da sustentação
- Bad-kan da mistura
- Bad-kan da experimentação
- Bad-kan da satisfação
- Bad-kan da conexão
        O Bad-kan da sustentação está localizado no tórax e sua
função principal é sustentar os outros quatro Bad-kan e manter a
circulação dos fluidos corporais. Na primeira porção do estômago
está o Bad-kan da mistura cuja principal função é agitar e misturar
o alimento. O sabor dos gêneros alimentícios é determinado pelo
Bad-kan da experimentação que se encontra na língua enquanto
que a satisfação sexual é controlada pelo Bad-kan da satisfação,
localizado na cabeça. O Bad-kan da conexão equivale ao líquido
sinovial, encontrado entre as articulações, que lubrifica e dá elasti-
cidade às mesmas.
        O conhecimento dos humores, suas funções e característi-
cas é um fator importante na determinação da saúde. Ao mesmo
tempo, é vital analisar as relações dos humores com os vários
estados mentais. O fato de que estas predisposições psicológicas
representam um papel vital na determinação da saúde e das doen-
ças pode ser observado nos vários níveis da vida humana. Cada
forma individual externa expressa as qualidades e os poderes da
mente os quais por sua vez são determinados pelos tipos de emo-
ções às quais o indivíduo está habituado. A mente controla o sis-
tema nervoso que por sua vez regula o sistema muscular. Os
músculos, em seguida, determinam a forma e as funções da face e
do corpo.

10
Basicamente, as estruturas do corpo, tais como os ossos,
os músculos, a pele e os cabelos, dependem muito da nutrição
tecidual. A nutrição dos tecidos é regulada pela composição do
plasma sanguíneo, controlado pela atividade dos sistemas glandu-
lar e digestivo, os quais refletem as condições das glândulas endó-
crinas, do estômago, dos intestinos e do sistema nervoso. Como
resultado de disparidades funcionais são encontrados diferentes
grupos de indivíduos, por exemplo, entre homens altos e delgados
e aqueles baixos e cheios. A mente é um fenômeno complexo com
diversas dimensões. A variação e a concentração mentais, que são
os meios principais de controle da mente, ensinados por Buda,
precisam ser moldadas pelo hábito do pensamento lógico. Todo
ser humano nasce com diferentes capacidades intelectuais, mas a
filosofia budista enfatiza que todo indivíduo possui basicamente o
potencial para desenvolver a mente e livrá-la de todos os bloqueios
e defeitos. Isto é possível cultivando-se hábitos de raciocínio preci-
so, através do estudo da lógica, da disciplina mental e da observa-
ção e concentração profundas da natureza do eu e de todos os
fenômenos. Exercitar e utilizar a mente, assim como o corpo,
levam ao refinamento, enquanto as observações superficiais, uma
rápida sucessão de impressões e a perda da disciplina intelectual
bloqueia o desenvolvimento da mente.
         Quando estamos expostos ao rigor das estações, quando
nossas refeições são ora abundantes, ora inadequadas, quando
conseguimos alimento e abrigo através de extremo esforço físico e
mental, esgotando-nos quando lutamos contra a desigualdade físi-
ca e aprendendo a nos tornar mais pacientes e tolerantes frente às
adversidades, emerge o melhor de nós. Tais adaptações do indiví-
duo à disciplina determina mudanças definidas no sistema nervo-
so, nas glândulas endócrinas e nos processos mentais. O
organismo adquire uma melhor integração e maior vigor para ven-
cer as dificuldades da existência. Provavelmente, pode-se dizer
com um certo grau de verdade que a inatividade e um modo de


                                                                   11
vida complacente tem elevado o surgimento de mais sofrimentos
físicos. Assim como músculos e órgãos, a inteligência e o senso de
moral atrofiam pela falta de exercícios e uso adequado.
        Os pensamentos podem gerar distúrbios orgânicos e, além
disso, a instabilidade da vida moderna, repleta de trabalho e tensão
cria estados mentais que produzem desequilíbrios psicológicos e
orgânicos, mais observados no estômago e intestinos, além de
ocasionar deficiências nutricionais e a passagem de microrganis-
mos intestinais no sistema circulatório. Tais doenças são quase
desconhecidas em grupos sociais onde a vida é mais simples,
onde a ansiedade é menos constante. Da mesma forma, aqueles
que mantém a paz e o controle da mente são imunes a doenças
orgânicas e psicológicas.
        A seguir descreveremos uma introdução aos princípios da
medicina tibetana, os quais devem ser estudados dentro dos con-
ceitos psicossomáticos já referidos.
O Corpo Saudável
       Uma pessoa é constituída de cinco agregados que são for-
ma, sentimento, reconhecimento, vontade e consciência. O objetivo
básico da saúde é manter a simbiose dos três humores, dos sete
constituintes físicos e das três substâncias excretadas e assegurar
seu funcionamento normal no corpo.
1. Os Sete Constituintes Físicos
       São os constituintes teciduais básicos e servem como base
para o corpo. São eles: Nutrientes essenciais, Sangue, Músculos,
Gordura, Ossos, Medula óssea e Fluido regenerativo.
       Os nutrientes essenciais são a porção útil do alimento já
ingerido, o qual é convertido nos demais constituintes físicos, tal
como sangue. O sangue é a fonte da vida, sustenta e produz os
tecidos musculares, a partir dos quais é produzido o tecido adipo-


 N. do T.: Refere-se ao modo de vida de pessoas pusilânimes e ego-
cêntricas.

12
so. Quando a gordura se solidifica, são produzidos os ossos, a par-
tir dos quais forma-se a medula óssea. A medula age como a fonte
do fluido regenerativo, tal como o sêmen nos homens.
2. As Três Substâncias Excretadas
        As fezes são o resíduo sólido separado dos nutrientes nos
intestinos pelo rLung descendente. A urina é o resíduo líquido fil-
trado do sangue pelos rins e o suor é a substância residual do teci-
do adiposo.
        A maneira de assegurar a saúde é através da observação
de padrões dietéticos e comportamentais adequados e do desen-
volvimento mental resultando no funcionamento saudável dos três
principais fatores fisiológicos (humores, constituintes físicos e
excreções).
O Corpo Doente
       As doenças surgem quando ocorre uma ruptura no funcio-
namento normal dos três fatores fisiológicos, resultante de dieta
inadequada, padrões comportamentais incorretos, traumas ou
infecções.
1.Causas das Doenças
       A causa raiz de todas as doenças é a ignorância no que diz
respeito à natureza das coisas. Isto ocasiona o nascimento dentro
do ciclo da existência e os seres são expostos a toda sorte de
sofrimentos, tais como as doenças. É esta ignorância que dá ori-
gem aos outros pensamentos negativos, sendo os mais importan-
tes o desejo, a aversão e o embotamento da mente, os quais por
sua vez alteram as funções orgânicas e produzem respectivamente
rLung, mKris-pa e Bad-kan. Apesar destes três humores gerarem
um corpo saudável quando em simbiose, basicamente são reco-
nhecidos como distúrbios, uma vez que possuem a capacidade de
produzir várias doenças.
2.Condições Precipitantes das Doenças
       Estes são fatores sem os quais uma doença não pode ama-
durecer e se manifestar. Isto significa que mesmo estando presen-

                                                                 13
te uma causa básica, sem estes uma doença não ocorrerá. Há
quatro condições precipitantes principais: dieta imprópria, padrões
comporta-mentais impróprios, influências sazonais e outros fatores.
        Por exemplo, a ingestão de carne e bebidas alcoólicas sob
o sol produzirá um distúrbio de mKris-pa, enquanto que a exposi-
ção ao frio durante o inverno causará um desequilíbrio de Bad-kan,
assim como sentar-se sob um sol muito quente durante o verão
pode causar mKris-pa.
3. Patogênese
        Refere-se ao estágio de desenvolvimento da doença no
corpo. Geralmente, os estágios são os seguintes:
-Pele: A doença espalha-se primeiro sobre a pele.
-Tecidos musculares: Depois desenvolve-se nos músculos.
-Vasos: Representado por nervos, veias, artérias, vasos linfáticos.
Dos tecidos musculares a doença espalha-se e circula nos vários
vasos do corpo.
-Ossos: Depois penetra nos ossos onde se adere.
-Órgãos vitais: Representados pelo coração, pulmões, fígado, baço
e rins. Durante este estágio, a doença concentra-se nos órgãos
vitais.
-Órgãos ocos vitais: Finalmente uma doença estabelece-se nos
órgãos ocos, ou seja, estômago, intestinos, vesícula biliar, órgãos
regenerativos ou bexiga.
4. Sítios Patológicos
        Tendo se desenvolvido através destes estágios, a doença
localiza-se finalmente em um local particular do corpo, dependendo
de fatores etiológicos. Há três sítios principais relacionados aos
três humores: Bad-kan – região superior a partir do diafragma –
mKris-pa – entre o diafragma e a pelve – e rLung – abaixo da
região pélvica.
5. Trajetórias Patológicas
        É a rota percorrida pela doença quando se desenvolve no
corpo, com relação ao humor predominantemente afetado.


14
a) Trajetórias patológicas de rLung: Os principais caminhos
de rLung envolvem os seguintes órgãos:
-Ossos: um dos sete constituintes físicos
-Ouvidos: um dos cinco órgãos sensoriais
-Pele: uma das três excreções, aqui relacionada à sudorese
-Coração: um dos cinco órgãos vitais
-Cólon: um dos seis órgãos ocos
        b) Trajetórias patológicas de mKris-pa: Os principais cami-
nhos de mKris-pa envolvem os seguintes órgãos:
-Sangue: um dos sete constituintes físicos
-Suor: uma das três excreções
-Olhos: um dos cinco órgãos sensoriais
-Fígado: um dos cinco órgãos vitais
-Intestino delgado: um dos seis órgãos ocos
        c) Trajetórias patológicas de Bad-kan: Os principais cami-
nhos de Bad-kan envolvem os seguintes órgãos:
-Nutrientes essenciais, músculos, gordura, medula óssea e fluido
regenerativo: entre os sete constituintes físicos
-Nariz e língua: entre os cinco órgãos sensoriais
-Pulmões, baço e rins: entre os seis órgãos ocos
-Fezes e urina: dentre as substâncias excretadas
6. Predisposições Patológicas
        Referem-se aos fatores que favorecem os humores tais
como grupo etário, estações do ano, clima e regiões.
-Grupos etários: Idosos são mais susceptíveis a rLung, adultos a
mKris-pa e crianças a Bad-kan.
-Localização: Regiões frias favorecem rLung, locais muito secos
predispõem a mKris-pa e a umidade favorece Bad-kan.
-Clima e estação: As doenças de rLung são mais predominantes
durante as chuvas de verão e o frio, ao anoitecer e ao amanhecer;
mKris-pa ocorre durante os outonos ensolarados, ao meio-dia e à
noite e Bad-kan predomina durante as primaveras chuvosas, no
frio e na umidade das manhãs e do anoitecer.


                                                                 15
Métodos de Diagnóstico
        Há três métodos principais de diagnóstico: visual, toque e
interrogatório.
1. Diagnóstico Visual: Envolve o exame físico, tais como língua e
urina. A língua vermelha, seca e áspera na textura, com pequenos
pontos vermelhos nas bordas é característica de um distúrbio de
rLung. Uma camada de muco amarelado recobrindo a língua é um
sinal de mKris-pa, enquanto Bad-kan é demonstrado por uma lín-
gua úmida coberta de muco.
        A análise da urina é utilizada tanto para diagnóstico como
para prognóstico. Há três estágios nos quais a amostra de urina
deve ser analisada e em cada um são estudadas diferentes quali-
dades.
-Na amostra colhida recentemente são analisados os seguintes
fatores: coloração, vapor, odor e bolhas.
-Na amostra em repouso analisam-se: depósitos.
-Na amostra em que a urina mudou sua coloração são analisados:
período de transfomação, forma de transformação e fatores que
ocorrem após a transformação.
2. Diagnóstico pelo Toque: Refere-se ao exame do pulso. A doença
é identificada pelos sinais e sintomas. A relação entre estes dois
pode ser comparada ao fogo e fumaça. A leitura do pulso é uma
arte em si pois requer anos de familiarização com as áreas do pul-
so.
        O pulso esquerdo de um homem é lido primeiro, enquanto
na mulher analisa-se primeiramente o pulso direito. Para um
paciente do sexo masculino, os dedos da mão direita do médico
examinam o seguinte:




      Polpa digital     divisão superior    divisão inferior
      indicador         coração             intestino delgado

16
médio             baço                 estômago
       anular            rim esquerdo         órgãos reprodutores
       Os dedos da mão esquerda examinam o seguinte:
       Polpa digital       divisão superior      divisão inferior
       indicador           pulmões               intestino grosso
       médio               fígado                vesícula biliar
       anular              rim direito           bexiga urinária
        No caso de uma mulher, os dedos que examinam os pul-
mões e o coração são trocados.
        a) Pulso constitucional: Mesmo em um indivíduo saudável o
pulso é variável. Isto ocorre pois o temperamento e a predisposição
individuais diferem como consequência de um desenvolvimento
genético atribuído às três causas seguintes:
-karma
-padrões dietéticos e comportamentais da mãe
-dominância do esperma e dos elementos
        Como resultado há três tipos de pulsos constitucionais:
masculino, feminino e neutro. O pulso masculino é volumoso e
grosseiro, enquanto o feminino é rápido e fino. O pulso neutro é
lento e suave.
        b) Pulso sazonal: O ritmo do pulso muda de acordo com as
diferentes estações do ano. É importante conservar este aspecto
em mente durante a leitura do pulso. O pulso na primavera é por
natureza fino e tenso, no verão é volumoso e longo, no outono é
áspero e curto e no inverno o batimento é lento e suave.
        c) Pulso saudável: Um pulso saudável é aquele que bate
cinco vezes, com um ritmo regular durante um ciclo respiratório ou
aproximadamente 75 vezes por minuto. Os batimentos não devem
ser fortes, lentos, profundos ou superficiais, vazios ou rápidos, etc.
Geralmente, se durante um ciclo respiratório o pulso bate mais do
que cinco vezes, isto significa um distúrbio quente e se forem



                                                                    17
detectados menos que cinco batimentos o distúrbio é considerado
frio.
        d) Pulso doente: Para examinar o pulso de uma pessoa que
está doente é importante, primeiramente conhecer aquelas carac-
terísticas ou batimentos comuns às doenças quentes e frias.
-Pulsos das doenças quentes – Há seis tipos principais de pulsos
nestes casos: forte, superficial, arredondado, rápido, tenso e duro.
-Pulsos das doenças frias – Há seis tipos: fraco, profundo, decres-
cente, lento, vazio e frouxo.
        e) Pulso de doenças específicas: As doenças de rLung
apresentam pulso superficial e vazio quando pressionado. As
doenças de mKris-pa apresentam pulso fino e tenso e as doenças
de Bad-kan, pulso profundo e decrescente.
3. Diagnóstico pelo Interrogatório: Envolve o questionamento do
paciente sobre sua dieta, padrões de comportamento e sintomas
para determinar a doença.
Tratamento
        Uma vez diagnosticada a doença, o médico conta com qua-
tro métodos terapêuticos:
-dieta
-padrões de comportamento
-medicamento
-terapias secundárias ou acessórias
1. Dieta: Muitos distúrbios que não sejam sérios e que não causem
maiores problemas devem ser tratados com dieta. A qualidade, o
sabor e a potência dos alimentos corrige o desequilíbrio. Por
exemplo, carne envelhecida por um ano, manteiga, açúcar masca-
vo, alho, cebola, leite quente, vinho, sopas, etc. corrigem doenças
de rLung.
2. Padrões de comportamento: A dieta deve ser combinada com a
correção de padrões comportamentais. Por exemplo, um paciente
sofrendo de rLung deve permanecer em um local morno e pouco
claro, deve fazer amizade com pessoas de disposição tranquila.

18
3. Terapêutica medicamentosa: Podem ser de alívio e eliminativas.
Há cinco tipos de medicações de alívio:
-decocções
-pós
-pílulas
-xaropes
-manteigas medicinais
        Estão incluídos também vinhos medicinais, emplastros
secativos, cinzas medicinais e outros.
        As medicações de eliminação também podem ser de cinco
tipos:
-purgativas
-eméticas
-inalatórias
-supositórios
-enemas
4. Terapias secundárias: Esta linha de tratamento é indicada tam-
bém para prevenção. Podem ser de três tipos, ou seja, suaves,
fortes e agressivas. A terapia suave inclui técnicas de fomentação,
massagem, hidroterapia e outros. As mais fortes referem-se às
venisecções, à termoterapia e à acupuntura entre outras. Já as
terapias agressivas envolvem a dissecção, as incisões, excisões,
perfurações, suturas e outras.
Farmacologia
        O alcance da ciência das drogas é expansivo. Trata-se de
nomenclatura, sinônimos, características morfológicas, proprieda-
des, ações das drogas e assim por diante.
        A preparação de drogas envolve a manipulação de vegetais,
minerais e animais. A maioria das drogas são coletadas de plantas
selvagens e requerem o conhecimento completo da origem geográ-
fica e do habitat das plantas, posto que cada uma possui potência
intrínseca e suas propriedades são afetadas pelo habitat geográfi-
co. A coleta deve ser feita apenas em áreas onde as plantas cres-

                                                                 19
çam adequadamente. Plantas medicinais com propriedades frias
devem crescer em áreas onde não fiquem expostas diretamente ao
sol ou a qualquer outra forma de calor. Da mesma maneira, as
plantas medicinais quentes devem ser cultivadas em áreas onde
estejam diretamente expostas ao sol. As áreas cultivadas devem
ser limpas, secas, suficientemente úmidas, livre de pestes e ani-
mais peçonhentos e mantidas na temperatura correta.
        As raízes, ramos e talos devem ser colhidos durante o
outono, depois de cessado o processo vegetativo. As folhas, a sei-
va e as sementes devem ser colhidos durante o sétimo e o oitavo
meses na época da floração, quando a fotossíntese está mais ati-
va. As flores, frutas e sementes devem ser colhidas durante o
verão, na época da polinização e durante o período maturativo.
Cascas e secreções devem ser colhidas na primavera antes de
iniciar o processo vegetativo. Geralmente, as plantas medicinais
purgativas devem ser coletadas na primavera. A preparação dos
ingredientes envolve processos de secagem, seleção, desintoxica-
ção e neutralização.
        Na farmacologia não mecanicista, a preparação das drogas
envolve o fortalecimento espiritual. O médico desenvolve práticas
espirituais por meio das quais transforma a si próprio em uma
divindade relacionada ao tipo de medicamento. Realiza então um
elaborado ritual e assim a divindade fortalece a droga adicionando-
lhe potências àquelas que já existiam.
        Basicamente, Buda ensinou que não há um único ingredien-
te sobre a terra que não possua algum tipo de propriedade terapêu-
tica. A dificuldade reside em conhecer quais são estas
propriedades. Ao mesmo tempo, é virtualmente impossível isolar
uma droga medicinal em particular e decidir que aquela é a res-
ponsável pelo principal resultado terapêutico. O princípio sobre o
qual tais resultados são obtidos é determinado por uma complexa
interação de ações de componentes estruturais dos ingredientes
em uma droga. Por exemplo, a droga Genciana-15. A genciana é
especificada na nomenclatura porque é o ingrediente principal,

20
enquanto o número 15 indica o número de ingredientes utilizados
na droga.
       Outro aspecto importante que será mencionado é a dificul-
dade em isolar drogas que possam ser indicadas para quaisquer
tipos de uma doença mais abrangente. Por exemplo, no caso do
câncer, no qual os médicos tibetanos têm obtido boas respostas
dos pacientes que procuram tratamento, não há uma única droga
que seja indicada especialmente para aquele tipo de câncer. A
melhor prescrição dependerá da localização, do envolvimento de
órgãos importantes, das condições gerais do paciente e das com-
plicações secundárias. Um paciente com câncer abdominal, entre-
tanto, será tratado com medicamentos inteiramente diferentes
daqueles indicados para um câncer de fígado.




                                                              21
A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA
               MEDICINA TIBETANA
                 Extraído do Tantra Explicativo

                          Dr. Barry Clark

Introdução
        O artigo a seguir é uma tradução da Seção sobre Terapêuti-
ca e abrange quatro capítulos do Tantra Explicativo.
        Este Tantra em particular contém um sumário detalhado dos
principais aspectos do sistema médico tibetano tradicional. Seus
procedimentos diagnósticos têm se tornado relativamente famosos.
Sobre este aspecto, no que diz respeito à patologia, às regras die-
téticas e aos fatores comportamentais alguma coisa tem sido escri-
to em inglês, mas quase nada surgiu até agora para explicar os
princípios básicos nos quais o tratamento é realmente efetuado.
        Os capítulos que seguem revelam as contingências gerais
para todas as grandes categorias de doenças sindrômicas e os
significados estão ilustrados por metáforas e similares distintos.
Em nenhuma parte os efeitos terapêuticos dos sabores e das
potências de determinadas substâncias são melhor compreendidas
do que no sistema médico tibetano e aqui são citados muitos
exemplos específicos, juntamente com instruções detalhadas para
equilibrar as energias sutis do corpo de acordo com fatores com-

   Os “Quatro Tantras” ou “Gyud-bzhi”, a obra mais fundamental e
importante da literatura médica tibetana, contém de forma condensada,
a essência de todos os ensinamentos da medicina tibetana. Ainda não
traduzido completamente para uma língua Ocidental, é dividido em
quatro tratados: Tantra Raiz, Tantra Explicativo, Tantra da Instrução
Oral e Tantra Final.

22
portamentais e ambientais. A seção sobre as terapias para perda e
ganho de peso descreve dietas apropriadas e fatores medicinais,
jejum e evacuação.
       O capítulo final contém seções detalhadas e resumidas
sobre o tratamento dos desequilíbrios dos humores corporais atra-
vés da abordagem quádrupla tradicional de dieta, comportamento,
medicamentos e terapia acessória. Estes devem ser administrados
de maneira gradual, isto é, cada um dos quatro é aplicado sucessi-
vamente apenas quando o precedente se provou inadequado. Os
métodos terapêuticos recomendados para desequilíbrios humorais
duplos ou triplos também estão incluídos e em geral consistem de
combinações entre as terapêuticas apropriadas para distúrbios
humorais simples.
       Que esta breve apresentação das palavras de Buda, manti-
das em forma de diálogo, sirva para ajudar a aumentar o interesse
no assunto da medicina tibetana, até o momento em que todos os
seus ensinamentos nos Quatro Tantras possam ser claramente e
corretamente apresentados ao mundo. O diálogo se mantém por
cento e cinquenta e seis capítulos.
Capítulo 27
         Então o sábio Yi le' Kye perguntou:
         – "Oh mestre, sábio Rig Pai Yeshe, como posso aprender o
princípio da terapêutica? Poderia o Rei dos Médicos explicar, por
favor?"
         Disse o mestre:
         – "Oh grande sábio, ouça. Uma vez diagnosticada a doença,
com relação ao tratamento, devo apresentar os princípios da tera-
pêutica (que são dois): técnicas terapêuticas e medidas medica-
mentosas. Primeiramente devo apresentar os procedimentos
terapêuticos. Apesar de certamente existirem incontáveis medidas
medicamentosas, utilizá-las sem as técnicas terapêuticas é como
atirar flechas no escuro. Esta (seção) possui três partes:
1. Técnicas Terapêuticas Gerais

                                                                23
1.1. O método de cura: Qualquer tipo de distúrbio de rLung, mKris-
pa, etc. deve ser eliminado de sua localização na época de acumu-
lação. Caso não se proceda desta forma nos distúrbios de rLung,
ao chegar a época das chuvas, quando estas doenças aumentam e
se desenvolvem (fortalecem), surgem conseqüentemente os dese-
quilíbrios de outros humores. Deve-se portanto tratá-los (por
exemplo) através de compostos, supositórios ou por pacificação,
que não alterem os demais (humores). Entretanto, se outras doen-
ças humorais são produzidas, então deve-se tratar aquela mais
predominante (primeiramente) seguido pelo tratamento dos outros
desequilíbrios humorais secundários.
1.2. O tratamento curativo: São os medicamentos para pacificação
e para eliminação. Na época de acúmulo (de rLung) deve-se pacifi-
car (a doença) enquanto que na época de amadurecimento (por
exemplo, nas monções) deve-se tratá-la com medicamentos para
eliminação.
        Na época de pacificação (por exemplo, de rLung), o médico
deve ser cuidadoso com relação à dieta e aos padrões comporta-
mentais de forma a não desequilibrar (os demais humores). Entre-
tanto, quando circunstâncias e condições (correspondentes estão
presentes) fora da época, (ocorrerão, às vezes) acúmulo e amadu-
recimento dos distúrbios (humorais). Como é difícil tratar (um dis-
túrbio humoral) uma vez passada sua época, deve-se curá-la
imediatamente (através de medicamentos). O tratamento deve ser
administrado de 24 em 24 horas, de acordo com as refeições e
aplicado discriminadamente de acordo com a doença (isto é, nos
horários em que o desequilíbrio humoral está em seu pico). Há dez
métodos de administrá-lo. O medicamento deve ser administrado:
1) quando o estômago está vazio (no começo da manhã);
2) imediatamente antes da refeição;
3) no meio da refeição;
4) imediatamente após a refeição;
5) entre os bocados de alimentos;
6) em seguida à digestão;

24
7) em nenhum momento (específico), ou seja, repetidamente em
pequenas doses, como indicado, por exemplo, na asma brônquica;
8) misturado com o alimento (como no caso da anorexia);
9) imediatamente antes e imediatamente depois de uma refeição
(como no caso de soluços) ou
10) à noite, ao deitar-se (quando a refeição noturna já foi digerida,
por exemplo, para doenças localizadas acima da garganta.
         Administrar medicamentos para todas as (doenças) em
horários não correspondentes (aos desequilíbrios humorais) e
(apenas) quando a digestão já ocorreu é um sistema insensato e
seria difícil combater o coração da doença (portanto, a administra-
ção do medicamento nos horários apropriados) é como distinguir
entre pontos (pretos e brancos).
1.3. Extensão do tratamento: Sempre que o tratamento para qual-
quer doença for instituído e o paciente apresentar muito escarro ou
muco, com sensação de peso no corpo, anorexia, indigestão, res-
secamento do fluxo (dos constituintes corporais e das excreções)
ou decomposição (das excreções), eliminação irregular de fezes e
urina, debilidade e fraqueza da voz, estes são sinais de que a
doença (ainda) não foi curada completamente (ou que não está
sendo acumulada para que o tratamento seja capaz de eliminá-la),
e toda vez que uma doença é pacificada, surgem sinais contrários
a estes citados acima. (Até que a doença seja eliminada, deve-se
insistir firmemente com o) tratamento e uma vez que isto ocorra,
não devem ser aplicadas terapias supérfluas.
2. Técnicas Terapêuticas Individuais
2.1. (Qualquer patologia) acompanhada de indigestão: Quando o
calor digestivo está reduzido, os alimentos sólidos e líquidos
(nutrientes) não serão digeridos. Assim, esta indigestão combinada
com (distúrbio humoral de) rLung ou outro, mistura-se com os obje-
tos da lesão (ou seja, os sete constituintes corporais e as excre-
ções). Deve-se portanto administrar o medicamento para
amadurecer a doença ou para aumentar o calor digestivo e assim
reduzir o problema. Quando surgem os sinais de que isto ocorreu,

                                                                  25
deve-se eliminar a doença através de sua localização mais próxi-
ma (isto é, um emético se estiver localizada na região superior do
corpo e através de purgação se localizada na região inferior).
        Se surgirem vômitos ou diarréia, estes processos não
devem ser bloqueados com medicação. Até que a doença tenha
amadurecido não se deve aplicar purgativos, pois resultará em
desequilíbrios humorais que se combinam com os constituintes
corporais, prejudicando-os. (Isto pode ser comparado, por exem-
plo, a espremer o líquido dos grãos da cerveja antes que tenham
fermentado, ou seja, estragaria os grãos).
2.2. Desequilíbrios humorais simples: Com relação a tais distúrbios
não acompanhados por indigestão, a causa é gerada por um ata-
que inicial de um desequilíbrio de rLung causado por fatores com-
portamentais não saudáveis seguido pelo ataque de outros
distúrbios.
        Se (condições precipitantes) dietéticas e comportamentais
não estiverem presentes na época do ano, (quando o distúrbio
humoral simples) surgiria naturalmente, então o distúrbio se acu-
mulará em sua própria localização (natural), permanecerá por um
longo tempo e não adquirirá força (não se manifestará). Por exem-
plo, é como um conflito entre rivais: o mais fraco não retaliará até
que tenha encontrado ajuda de outros. (Da mesma forma), quando
as condições precipitantes forem encontradas, o distúrbio adquirirá
força e se manifestará a partir de sua localização. Antes (do início
de outros desequilíbrios), ocorrerá um distúrbio de rLung e por este
motivo os outros humores serão perturbados. Quando (os fatores
dietéticos e comportamentais adequados) reduzirem o distúrbio de
rLung, o mKris-pa digestivo (ganhará força) e quando (o distúrbio
anterior – rLung – que não estava amadurecido) amadurecer, será
como vento dispersando o último. (Este vento ou rLung) deve ser
interrompido de tal forma que a doença possa ser acumulada inter-
namente. Por exemplo, é como acabar com o vento para permitir
que a chuva caia.


26
O próximo passo é eliminar (o distúrbio através de purgação
ou emese) utilizando o percurso mais próximo. Se não for capaz de
coletar a doença internamente, nos membros e em regiões exter-
nas, quando a mesma foi disseminada, deve-se realizar externa-
mente uma venisecção nas “entradas das veias” e também “limpá-
las por dentro”.
2.3. Doenças combinadas, ou seja, duplas ou triplas: São distúr-
bios (humorais) acompanhados por uma doença secundária. Por
exemplo, quando (mKris-pa) eleva-se de sua localização natural
(pela força de rLung) e penetra em outro sítio (por exemplo, de
rLung), ele retorna para sua localização anterior para prejudicar e
alterar (o rLung que lá se instalou). Quando a força (de rLung)
diminui, deve-se tratar (o distúrbio de mKris-pa em sua própria
localização). (Mas se rLung) adquirir força posteriormente, por
estar sendo tratado este distúrbio secundário, a doença primária de
mKris-pa localizada em seu próprio sítio será curada sem necessi-
tar tratamento. Por exemplo, é semelhante ao chefe que confia em
um assistente, (um cúmplice para cometer um roubo. Se o conspi-
rador principal for dominado, é fácil levar a melhor sobre o cúmpli-
ce).
3. Técnicas Terapêuticas Específicas
3.1. Se o médico falhar em definir (a natureza da doença) e se
encontrar dúvidas, deve-se tratar experimentalmente a doença
indeterminada, da maneira como um gato permanece na espera
(por um rato), se suspeitar de um distúrbio de rLung, administre
apenas medicamentos para rLung em pequenas doses e então

   A técnica da venissecção consiste na retirada de algumas gotas de
sangue de pontos específicos, após a separação do sangue impuro
com medicamentos apropriados. É um ato médico extremamente bené-
fico no tratamento da obesidade, dos processos infecciosos, nos ede-
mas, processos dolorosos, gota, úlceras e doenças hematológicas,
observadas as contra-indicações. Se estudado corretamente sob
supervisão de médicos tibetanos, pode ser utilizado com grandes
benefícios no Ocidente.

                                                                 27
faça as alterações no tratamento se as condições não responde-
rem.
3.2. Quando se diagnosticou (a doença), determinou-se sua natu-
reza e estando o médico convencido daquilo que deve tratar (a
doença), de uma maneira direta, deve ser como hastear uma ban-
deira no topo de uma montanha.
3.3. Se a medida tomada não atacou a doença, o médico deve
seguir seu caminho e tratar da maneira como se treina um cavalo a
ter fôlego para vencer uma corrida. De acordo com a razão pela
qual o tratamento não realizou sua função, deve-se amadurecer,
acumular ou separar os elementos da doença.
3.4. Tendo examinado porque o tratamento anterior do paciente foi
inadequado, excessivo ou errôneo, o médico deve tratar a doença
como um pescador fisgando seu peixe (isto é, de uma maneira
precisa e direta, após determinar quais) falhas (das três acima)
afetou o tratamento anterior.
3.5. No caso de uma doença séria, deve-se aplicar fatores dietéti-
cos e comportamentais, medicamentos e terapias acessórias, ou
seja, tratar com medidas terapêuticas poderosas, como alguém
que luta (para eliminar) seu inimigo ao encontrá-lo em um desfila-
deiro estreito.
3.6. Se o distúrbio é leve, deve-se aplicar gradualmente as terapias
dietética, comportamental, medicamentosa e acessória, uma de
cada vez, ou seja, deve-se tratar a doença como aquele que sobe
uma escada degrau por degrau.
3.7. No caso de um distúrbio humoral simples, assim como o herói
subjuga seu adversário (de maneira direta e sem erros), deve-se
tratar com compostos que não prejudiquem os outros humores.
3.8. Nos distúrbios (que envolvem) desequilíbrios humorais duplos
ou triplos, deve-se tratar de um modo equilibrado, ou seja, como
um árbitro que resolve uma contenda entre inimigos.
3.9. Em todos os casos relacionados com os objetos da lesão,
devem ser aplicados dez fatores e o tratamento deve ser de acordo


28
com o nível (da doença), ou seja, como a carga de um dzo ou a
carga de um carneiro (pois estas não devem ser trocadas). Da
mesma maneira, medicamentos suaves devem ser administrados
para uma patologia leve e um medicamento poderoso deve ser
administrado para uma doença grave. Assim foi dito.
      Desta maneira, o capítulo 27 expõe as terapêuticas gerais
do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito
Ramos.
Capítulo 28
         Então o sábio Yid Les Kyes perguntou:
         – "Oh Mestre sábio Rig Pai Yeshe-la, após ensinar-nos
resumidamente que as técnicas terapêuticas específicas possuem
nove aspectos, qual sua (explicação) extensiva e detalhada? Oh
Supremo Rei dos médicos, por favor, explique-nos isto." E assim
foi dito.
         O Mestre respondeu:
         – "Oh grande sábio, ouça.
3.1. Se estiver em dúvida quando analisar os sintomas de uma
doença, o médico deve curar “como um gato caça um rato”:
         Por exemplo: No caso de um distúrbio de rLung, deve-se
administrar a sopa de tornozelo de carneiro como prova. No caso
de um distúrbio de mKris-pa, deve-se utilizar uma solução de
Swertia chirata como prova. Em um distúrbio de Bad-kan, deve-se
aplicar os três sais de rocha (em forma de decocção). Como prova
para infecções parasitárias ou para doenças gástricas e do intesti-
no grosso deve-se aplicar o composto Garuda-5. Como prova nas
doenças do sangue e (neuralgia) a decocção de Iris germanica
com quatro ingredientes deve ser utilizada. No caso de distúrbios
causados por compostos venenosos, deve-se administrar um com-
posto acumulador (por exemplo, decocção coletora de 13 ingre-
dientes). Na combinação de distúrbios frios e quentes, deve-se


    Resultado do cruzamento do iaque com a vaca.

                                                                29
considerar sua própria experiência como prova (por exemplo, fato-
res dietéticos e comportamentais com os quais esteja familiariza-
do). Para checar a indicação do uso de um laxante, deve-se admi-
administrar a decocção sNa-Sel-Khrog ("roncos suaves"). Como
prova (para confirmar se é apropriado) aplicar moxabustão, deve-
se utilizar uma fomentação de óleo quente. Da mesma forma,
como prova para a aplicação de venissecção, deve-se aspergir
água fria ou aplicar uma pedra fria. Para testar a presença de
secreção purulenta, deve-se perfurar com uma cureta-oca-quente
(instrumento cirúrgico).
        No caso de outras doenças de diagnóstico duvidoso (ou
suspeito), como prova, deve-se recorrer à administração de
pequenas quantidades dos compostos medicamentosos apropria-
dos. Em todos os casos de combinação e semelhança de duas
doenças (humorais) o médico deve fazer a comparação do distúr-
bio através da administração do remédio (apropriado), que seja de
importância primordial para tratar (a doença).
        O médico deve manter-se cauteloso, mais do que explícito
(em um esforço calmo para definir a natureza da doença). Às
vezes deve-se falar em termos dissimulados, melhor que fazer
pronunciamentos claros.
3.2. “Como içar uma bandeira no pico de uma montanha”:
        Uma vez definindo e estando convencido da natureza da
doença, pode-se estabelecer quais as causas e condições que a
produziram e depois qual a natureza e a localização que a doença
adotará nos seus estágios finais. O médico pode então afirmar
como a doença deve ser tratada e qual o período de tempo será
necessário para efetuar a cura. Entretanto, se a cura não for possí-
vel, deve-se revelar o momento da morte (se for iminente). Estes
diálogos que tornam os fatos conhecidos para todos assemelham-
se à bandeira tremulando sobre o topo da montanha.
3.3. “Como quem conduz um cavalo selvagem ao longo do cami-
nho desejado”:


30
Se o medicamento não dominar a doença, será difícil para o
primeiro entrar no caminho desejado (isto é, da cura). Medicamen-
tos frios administrados como tratamento para uma febre não ama-
durecida agirão sobre seus cúmplices (ou seja, rLung e Bad-kan) e
,ao elevar estes outros dois, eleva-se a febre em si. Por conseguin-
te, estes cúmplices, rLung e Bad-kan, devem ser separados pela
decocção (de Iris germanica-4 e outras). Doenças do sangue
(combinadas com) o sangue constitucional puro são semelhantes à
mistura de água e leite. Portanto, deve-se separar o sangue resi-
dual através da administração da decocção dos três frutos do
mirabólano, assim como se procede para ser possível realizar uma
venissecção. Se não os separar desta maneira, o procedimento
resultará em distúrbio dos constituintes corporais. Por exemplo, em
casos de infiltração de Bad-kan marrom e febre por toxinas, deve-
se coletar a doença para erradicá-la. Se a doença não for coletada,
as medidas terapêuticas posteriores irão dispersar a doença
novamente ao invés de curá-la. Em casos de febre oculta, deve-se
primeiramente remover a camada fria assentada por rLung ou Bad-
kan através de medicamentos fortes que aqueçam. Isto é necessá-
rio, pois do contrário, por causa dos fatores frios, a febre não res-
ponde favoravelmente à medicação fria.
        Em todos os casos de indigestão, deve-se amadurecer a
doença ou administrar medicamentos que induzem ao aquecimen-
to. Quando obtém sinais de que dominou o pico da doença, deve-
se purgá-la através do caminho mais próximo (isto é, com purgati-
vos ou eméticos, como for apropriado).
        Um purgativo preliminar erradica todas as doenças, porém
se não for capaz de eliminá-la com este procedimento, será como
a água que se encontra com o gelo (assim como o gelo não será
derretido, a doença não será disseminada).
3.4. "Como um Rei pescador":
        Quando um paciente foi tratado previamente por outro
médico, e sua patologia não respondeu ao tratamento por medica-
ção excessivamente forte, inadequada ou errada, deve-se exami-

                                                                  31
nar completamente, porque nenhuma recuperação aconteceu. Se a
doença não foi pacificada em conseqüência de tratamento inade-
quado, deve-se administrar um medicamento mais forte. No caso
de tratamento errôneo, que permitiu que a doença se desenvolves-
se mais, deve-se mudar o composto. Se o tratamento anterior foi
muito forte, surgiu uma doença secundária, e portanto deve-se eli-
miná-la com a medicação apropriada.
3.5. "Encontrando o inimigo em um desfiladeiro":
        No caso de doenças envolvendo uma febre alta, deve-se
aplicar o medicamento denominado "quatro águas" e (venissecção
na veia conhecida como "pequeno ponto" são), respectivamente,
as "águas" da terapia medicamentosa e acessória. O jejum é a
"água" da terapia dietética e permanecer em local frio é a "água" da
terapia comportamental.
        No caso de uma doença fria grave, deve-se "acender os
quatro fogos": o “fogo” da terapia medicamentosa é um composto
com todos os tipos de ingredientes que induzem ao aquecimento,
enquanto que o “fogo” da terapia acessória é o moxabustão. Ali-
mentos fortemente aquecedores e nutritivos constituem o "fogo" da
terapia dietética, enquanto permanecer em locais aquecidos ves-
tindo roupas quentes constituem o "fogo" dos fatores comporta-
mentais. Se o tratamento não for aplicado desta maneira, a doença
se desenvolverá colocando em risco a vida do paciente.
3.6. "Subindo degrau por degrau uma escada":
        Nas doenças leves, deve-se primeiro recorrer cautelosa-
mente aos fatores comportamentais. Se a doença não for elimina-
da, deve-se determinar quais os alimentos benéficos e quais os
prejudiciais, administrando-os de acordo. Se este procedimento
não aliviar o problema (deve-se avaliar) qual a medicação, com
poder frio ou com poder quente, é benéfica e administrar (adequa-
damente). No caso destes métodos não erradicarem a doença,


  Linguagem figurada referindo-se ao poder refrigerante comum em
todos os quatro ingredientes do medicamento.

32
deve-se retirar a doença de sua localização através da terapia
acessória.
3.7. "Como o herói que vence o inimigo":
        Este é o caso de todas as doenças humorais simples de
rLung, mKris-pa ou Bad-kan, quando são eliminadas com o trata-
mento apropriado, sem produzir nenhuma outra doença secundá-
ria. Quando o médico falha na compreensão deste fato, quaisquer
das doze reações de desequilíbrio pode ocorrer. Quando um trata-
mento errado falha em aliviar a doença em si, será criada uma
doença secundária; por exemplo, ao utilizar dieta e medicamentos
com sabor amargo e picante em um distúrbio de rLung, esta não
será aliviada e resultará em uma reação de desequilibrio de Bad-
kan e mKris-pa, respectivamente. Ao utilizar medicamentos e dieta
com sabor salgado e picante em uma doença de mKris-pa, esta
não será aliviada e surgirá um desequilíbrio de Bad-kan e rLung,
respectivamente, em virtude destes dois sabores. Medicamentos e
dieta com sabor amargo e salgado administrados em uma patolo-
gia de Bad-kan falharão em eliminá-la e provocarão reações de
desequilíbrio de rLung e mKris-pa respectivamente.
        Através da combinação de tais condições insalubres, será
produzida uma reação de desequilíbrio humoral triplo, enquanto
que uma medicação e dieta excessivamente fortes aliviarão a
doença mas não sem gerar uma condição secundária posterior.
Por exemplo, medicamentos, dieta, etc. extremamente doces e
salgados aliviarão rLung, mas produzirão respectivamente dese-
quilíbrios de Bad-kan e mKris-pa . Além disso, medicamentos, etc.
com sabores azedos e picantes aliviarão Bad-kan e elevarão res-
pectivamente rLung e mKris-pa. Compostos doces e amargos ali-
viarão mKris-pa e produzirão respectivamente Bad-kan e rLung.
3.8. “Como um chefe resolve contendas”:
        Nas doenças humorais duplas e triplas, deve-se administrar
um medicamento equilibrado que possua poderes mornos e frios
em sua combinação, por exemplo, Terminalia chebula e exsudato
mineral possuem geralmente um efeito medicamentoso balancea-

                                                                33
do sobre as doenças humorais combinadas. Em tais casos, os
ingredientes suplementares individuais recomendados devem ser
adicionados de acordo com a localização e a natureza humoral,
etc. fundamental da doença.
        Os ingredientes adicionais recomendados em cada caso
são os seguintes: Myristica fragrans, nos distúrbios cardíacos;
resina do bambu para os pulmões; Crocus sativus para o fígado,
Syzigium aromaticum para o canal vital, Elletaria cardamomum
para os rins, Amomum sabulatum para o baço e Punica granatum e
Piper longum para o estômago.
        Deve-se adicionar Swertia chirata e pepino amargo nos
casos de distúrbio de mKris-pa secundário; Myristica fragrans, uma
planta menispermácea e sopa dos três tipos de ossos para doen-
ças de rLung; Iris germanica, Coriandrum sativum e Chaeromeles
tibetica para Bad-kan; Adhatoda vasica e Picrorhiza kurroa para
distúrbios do sangue; resina de Shorea robusta, Cassia fetida e
Cannabis indicadas para doenças da linfa e almíscar e resina de
Baellium indiana para infecções e distúrbios causados por espíri-
tos.
        Estes ingredientes adicionais devem ser compostos con-
forme a necessidade, de acordo com a doença e seus sintomas.
Quando quaisquer destas condições forem combinadas, não
importa quantas sejam, todos os ingredientes suplementares adi-
cionais devem ser administrados. Em casos de doenças combina-
das duplas ou triplas, conforme os humores estejam igualmente
desequilibrados ou se um ou mais predominam, devem ser adicio-
nados os ingredientes suplementares apropriados ao medicamen-
to, de acordo com o humor ou humores predominantes. Ou trata-se
alternativamente o humor mais desequilibrado previamente, tratan-
do-se os outros em seguida, ou remove-se a doença de uma vez
com o medicamento que se opõe diretamente. Por exemplo, a
febre de mKris-pa deve ser eliminada ao meio-dia e à meia-noite,
ou seja, aplicando-se medicamentos e fatores dietéticos com pode-
res frios nestes horários de febre. Ao anoitecer e pela manhã,

34
antes de fazer qualquer atividade, deve-se manter o calor digestivo
e tratar qualquer desequilíbrio frio de Bad-kan com medicamentos
e fatores dietéticos quentes. À noite e por volta do amanhecer
deve-se cuidar de rLung, ou seja, respondendo imediatamente ao
mais leve desequilíbrio de rLung com medicamentos e fatores die-
téticos nutritivos com poder de aquecer.
        Se um humor eleva-se excessivamente, ele antagonizará os
restantes dois humores como um filho que sobrepuja seus dois
irmãos pelo seu maior poder e riqueza. Porém, se um humor se
reduz, isto deveria ser corrigido assim como uma má esposa (que
se tornou má apenas por desleixo). Portanto, deve-se eliminar as
elevações e reduções de quaisquer humores e restaurá-los a um
estado de equilíbrio. Os constituintes corporais são como materiais
de produção e não devem ser desperdiçados. Uma vez que o
estômago é como um campo, deve-se manter o calor digestivo.
Assim, aquele que compreender estes princípios se tornará um
médico.
3.9. "Não colocando a carga de um dzo sobre um carneiro e vice-
versa":
        Através dos dez objetos do distúrbio (os sete constituintes
corporais e as três excreções), do ambiente, das estações do ano
(e horas do dia), da natureza humoral, vigor e hábitos da pessoa,
sua idade, dos elementos naturais do distúrbio e do calor digestivo
deve-se examinar minuciosamente os sintomas mais sutis. Se
estes são todos semelhantes em sua natureza, deve-se administrar
uma terapia medicamentosa forte que seja apropriada. Se não for o
caso, deve-se aplicar uma dosagem moderada e conveniente.
        E assim foi dito. Este foi o vigésimo-oitavo capítulo expondo
as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a
Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos da Cura.
Capítulo 29
      Então, o sábio Rig Pai Yeshe-la falou o seguinte:



                                                                  35
– "Oh grande sábio, ouça. Embora as técnicas terapêuticas
sejam numerosas, elas são agrupadas em dois tipos: gerais e
específicas.
        Com relação às técnicas gerais, há dois objetos de cura e,
portanto, dois métodos terapêuticos. Os dois objetos de cura são:
aqueles que necessitam adquirir vigor devem ganhar peso e os
demais que estão acima do peso devem perdê-lo através do jejum.
        O ganho de peso requer cinco fatores:
1. O objeto (o paciente)
2. O método (os meios utilizados)
3. As vantagens
4. As falhas (pelo uso excessivo)
5. As técnicas (para tratar este último)
        Com relação ao objeto, quando o paciente está gravemente
afetado por um desequilíbrio de rLung ou com uma deficiência dos
constituintes corporais, nos casos de cansaço em recém casados,
hemorragia pós-parto, lesão perfurante do pulmão, na velhice, na
perda do sono, no ascetismo, tristeza, cansaço após exercícios ou
no verão, o tratamento para ganho de peso deve ser aplicado inva-
riavelmente. Este deve ser feito a partir de uma dieta nutritiva com
carne de carneiro, açúcar de cana bruto, açúcar branco, manteiga,
leite, iogurte, cerveja de grãos, etc. Com relação à medicação,
deve-se administrar uma manteiga medicinal adequada para o dis-
túrbio. As terapias acessórias como supositórios, banhos medici-
nais e massagens devem ser aplicados, enquanto que o ganho de
peso pode ser adquirido por meio de fatores comportamentais tais
como dormir, relaxar e conservar a mente feliz. Através destes
meios adquire-se vigor e todas as doenças são eliminadas.
        E então, do mesmo modo que alguém abusa no ganho de
poder (e produz efeitos por seus abusos), o uso excessivo dos
métodos acima produz obesidade e conseqüentemente desenvolve
úlceras, crescimentos tumorais, embotamento mental, disúria, pre-
sença de muco na garganta e elevação de Bad-kan. Nestes casos,
os fatores dietéticos e a medicação para reduzir Bad-kan e gordura

36
serão benéficos. Por exemplo, A resina de Baellium indiana, exsu-
dato mineral e a casca da Berberis em um composto concentrado
com mel removerá todos os tipos de obesidade. Outra alternativa é
a composição dos três frutos da Terminalia chebula com mel ou
gengibre selvagem, hidróxido de potássio, Embelia ribes, Emblica
officinalis e farinha de cevada não torrada adicionados ao mel
removerá a obesidade. Portanto o ganho de peso deve ser mode-
rado uma vez que é melhor permanecer magro.
        A perda de peso envolve cinco fatores:
1. O objeto (o paciente que necessita perder peso)
2. O métodos (através dos quais o peso será reduzido)
3. Os benefícios
4. As falhas (com a aplicação excessiva)
5. As técnicas terapêuticas (para tratar o último)
        Com relação ao objeto a ser tratado, nos casos de indiges-
tão (daquele que se alimenta habitualmente de dietas gordurosas),
nas doenças de rLung manifestada com "rígidez da coxa", febres
infecciosas, micção excessiva, úlceras internas, gota, reumatismo,
doenças do baço, doenças da laringe, distúrbios cerebrais, doen-
ças cardíacas, diarréia febril, vômitos, torpor, anorexia, constipa-
ção, retenção urinária, obesidade, distúrbios linfáticos e síndromes
combinadas mKris-pa/Bad-kan graves, se o paciente é um adulto
forte, o tratamento deve ser através do jejum durante o inverno (por
três dias). A medicação nestes casos é de dois tipos: pacificação e
purgação.
        A pacificação requer o equilíbrio dos elementos de rLung,
mKris-pa e Bad-kan perturbados, através de uma combinação de
fatores dietéticos e comportamentais, medicamentos e terapia
acessória. Se o paciente está debilitado, ele deve abster-se de ali-
mentos sólidos e líquidos por três dias e depois disso, ingerir
pequenas quantidades de alimentos leves, de fácil digestão. Se o
paciente possui um vigor moderado, (ele deve jejuar) e deve-se
prescrever decocções, pós medicinais, etc. e quaisquer composi-
ções que sejam benéficas para a produção de calor e amadureci-

                                                                 37
mento de Bad-kan. No caso de uma pessoa forte, o tratamento
deve ser como descrito acima acompanhado de exercícios este-
nuantes durante a noite e o dia, assim como terapias acessórias
como sudoríficos, moxabustão, fomentação, embrocação e venis-
secção.
        A evacuação é realizada através do amadurecimento da
doença e sua eliminação. Se a doença localiza-se na fase pré-
digestiva (isto é, no estômago), a eliminação deve ser feita através
de uma composição emética, enquanto que se estiver na fase pós
digestiva, deve-se expeli-la através de enema. Se a doença estiver
disseminada, como no caso de uma moléstia dos canais, deve-se
aplicar um purgativo ou um limpador dos canais.
        A pacificação e a evacuação reduzem o vigor, mas os bene-
fícios dos mesmos são o clareamento dos órgãos dos sentidos,
luminosidade física, um apetite saudável, energia em todas as
ações, sede e fome equilibradas e fácil eliminação das fezes e
gases intestinais.
        A aplicação excessiva destes métodos desgasta os consti-
tuintes corporais, gera enfraquecimento, vertigem, insônia, embo-
tamento da compleição, rouquidão, debilidade dos sentidos, sede,
anorexia, dor na panturrilhas, nas coxas, no cóccix, costelas, cora-
ção e crânio, crises de febre contagiosa, náuseas e distúrbios de
rLung. Nestes casos, todos os métodos para ganho de peso serão
benéficos, em especial, o paciente deve ingerir carne de animais
carnívoros, aplicar supositórios e dormir estando com a fome
saciada. Portanto, o indivíduo ganhará peso até ficar rechonchudo.
Para aquele que necessita ganhar peso não há nada mais vitali-
zante que a carne. Resumindo, não se deve fazer nada que reduza
o vigor daquele que adquiriu peso (pelos métodos acima). Entre-
tanto, se a terapia de eliminação provar ser necessária, deve ser
utilizado apenas um laxante suave. Se a perda de peso é obrigató-
ria, deve-se evitar a terapia para aumento de peso, mas no caso de
uma elevação de rLung, se os demais humores estiverem reduzi-
dos, deve-se aplicar a terapia de ganho de peso. O método de tra-

38
tamento será o mesmo quando qualquer constituinte corporal e seu
humor relacionado estiverem elevados ou reduzidos (exceto no
caso de rLung, onde o tratamento é o mesmo se rLung eleva-se e
o constituinte corporal se reduz ou vice-versa).
       Este foi o vigésimo-nono capítulo, apresentando dois méto-
dos terapêuticos do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral
Secreta dos Oito Ramos.
Capítulo 30
        Então o sábio Rig Pai Yeshe disse o seguinte:
        – “Oh grande sábio ouça; o ensinamento quanto ao trata-
mento de desequilíbrios específicos dos três humores é o seguinte:
        Nas doenças de rLung combinadas, o óleo de gergelim é
superior (quando ingerido, além de tratar o desequilíbrio) com fato-
res dietéticos pesados, oleosos, macios, geradores de calor, assim
como o açúcar de cana bruto, a cerveja de grãos, manteiga enve-
lhecida, carne de carneiro estocada há um ano, carne de marmota,
cavalo, macaco, alho e cebola, etc. Quanto aos fatores comporta-
mentais, deve-se permanecer em locais aquecidos e tranquilos,
ouvir conversas agradáveis em companhia de pessoas amigas,
dormir e vestir roupas quentes. Com relação aos medicamentos,
deve-se preparar a sopa dos três tipos de ossos nutritivos (o osso
do tornozelo, do quarto traseiro e do quarto dianteiro de um carnei-
ro), além da administração da sopa cujo ingrediente deve ser uma
cabeça de carneiro que tenha sido conservada durante três anos, a
decocção das quatro essências (carne envelhecida, cerveja de
grãos maduros, manteiga envelhecida e açúcar de cana envelheci-
do) e a decocção de “Assafétida-3”. O pó de Myristica fragrans e
assafétida também deve ser prescrito e devem ser preparadas as
sopas medicinais de manteiga clarificada, de carne de carneiro, de
alho e de cerveja de grãos, as manteigas medicinais de Myristica
fragrans, de alho, de acônito, de osso humano, das três frutas
(Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica oficinalis) e das
três raízes. Tratamentos rápidos devem ser administrados recor-

                                                                 39
rendo-se a alimentos, medicamentos, etc. que possuem sabores
doce, azedo e salgado, com poderes resfriantes. Recomenda-se a
aplicação de um supositório de manteiga envelhecida. Como tera-
pia acessória, deve-se massagear com manteiga envelhecida por
um ano, aplicar fomentações nos pontos dolorosos e moxabustão
nos pontos localizados no topo da cabeça, etc. e nos pontos secre-
tos de rLung.
        Nos distúrbios de mKris-pa a manteiga fresca é superior.
Devem ser tratados com carne de vaca fresca, carne de animais
montanheses, águas frias, chá preto, iogurte e manteiga de leite de
vaca e cabra, mingaus de cinzas e dente de leão amarelo, de grãos
finos, de farinha de cevada torrada e outros alimentos com poderes
frios. O comportamento recomendado exige que o paciente fre-
qüente ambientes com brisas e campinas verdejantes, que perma-
neça sentado sob a sombra das árvores, relaxado e tranquilo na
beira de rios ou de outros locais frescos, e submeta-se à aplicação
de fomentações frias, com fragrância suave. Os três tipos de medi-
camentos são aqueles à base de ervas, decocções e remédios
com ingredientes não nativos selecionados. De acordo com a gra-
vidade de uma febre, deve-se administrar cânfora (o mais potente),
Santalum album ou bile de animais (o mais suave). Resumindo,
deve-se tratar as doenças de mKris-pa com sabores doces, amar-
gos e adstringentes e com medicamentos de poderes frios. São
recomendados especialmente purgativos de sabor doce. Como
terapia acessória, o médico deve aplicar sudoríficos, utilizar uma
fonte de água (ou seja, chuveiro frio ou banho sob qualquer casca-
ta), proceder com venisecção de uma veia relacionada com a
doença ou com aplicação de fomentação fria.
        Para os distúrbios de Bad-kan, o mel branco é superior.
Além disto, o tratamento deve ser feito através de fatores dietéticos
como carne de carneiro, de peixe, iaque selvagem, lince e abutre,
assim como grãos envelhecidos, bolinhos quentes feitos de farinha
de cevada, cerveja de grãos maduros, água fervida fria, decocção
de gengibre e outros alimentos que aqueçam, em pequenas quan-

40
tidades, com poderes leves. Com relação aos padrões comporta-
mentais, o paciente deve aquecer-se próximo ao fogo ou sob o sol,
usar roupas quentes, exercitar-se mentalmente e fisicamente em
um local seco e abster-se de dormir (durante a tarde). Através dos
medicamentos deve-se administrar decocções concentradas sal-
gadas ou picantes e combinar as sementes da Punica granatum e
Rhododendron anthopogonoides com medicamentos calcinados.
Resumindo, deve-se adotar medicamentos com poderes leves,
ásperos e pungentes e com sabores picantes e azedos. São reco-
mendados especificamente eméticos com poderes pungentes e
ásperos. Como terapia acessória, o médico deve aplicar fomenta-
ções de sal aquecido, bolas de terra ou de pele de animais. Nos
casos extremamente graves de Bad-kan, estão indicados moxa-
bustão ou um procedimento cirúrgico para o qual se utiliza um ins-
trumento semelhante a uma colher.
        Assim, as doenças de rLung devem ser tratadas com supo-
sitórios e fatores nutritivos, distúrbios de mKris-pa, com purgação e
fatores com poderes frios e as doenças de Bad-kan, através de
eméticos e fatores com poderes quentes. Nos distúrbios combina-
dos de rLung e mKris-pa, deve-se adotar fatores frios e nutritivos,
enquanto que nas moléstias combinadas de Bad-kan e mKris-pa, o
tratamento deve ser através de fatores com poderes leves e frios.
Já a combinação de rLung e Bad-kan deve ser tratada com fatores
nutritivos quentes, enquanto que nas patologias triplas combinadas
dos humores devem ser utilizados métodos com poderes frios,
nutritivos e leves.
        Mais essencialmente, todas as doenças quentes serão tra-
tadas com fatores frios; todas as patologias fundamentalmente frias
devem ser tratadas como Bad-kan. No caso de uma doença com-
binada rLung-quente, o tratamento envolverá fatores oleosos;
moléstias rLung-frias necessitam de fatores que aqueçam.
        E assim foi dito. Este é o trigésimo capítulo, apresentando
as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a
Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos.

                                                                  41
UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA

                       Dr. Lobsang Rapgay


         A tradição médica tibetana é provavelmente o sistema de
medicina menos conhecido e a única ciência documentada que
desfruta de uma ininterrupta continuidade há mais de 2500 anos.
Originalmente, o Ayurveda, o sistema de medicina da Índia, foi pra-
ticado no Tibete, e médicos tibetanos e indianos viajavam freqüen-
temente entre os dois países para promover e trocar informações
médicas. Assim, a partir do século 7, médicos gregos, persas e
chineses visitaram o Tibete a convite de reis tibetanos para com-
partilharem e ensinarem suas ciências médicas. No século 8,
Yuthok Yontem Gonpo, o mais famoso médico tibetano na história
da medicina, organizou o sistema tibetano atual.
         Um médico tibetano utiliza numerosos procedimentos diag-
nósticos, incluindo a urinálise que um dos métodos mais importan-
tes. O diagnóstico pela urina é originário dos gregos e esta
afirmação é sustentada em numerosos textos sobre a história da
medicina, inclusive pelo mais competente deles, escrito por Desi
Sangye Gyatso, ministro do 5º Dalai Lama, médico, historiador e
escritor. Ele cita textos antigos e um destes, o “Sutra de Manjush-
ri”, afirma: “Os chineses especializaram-se na arte da acupuntura,
os indianos em plantas medicinais, enquanto os gregos aperfeiçoa-
ram os métodos diagnósticos (urinálise)”.
         A urinálise é utilizada pelo médico tibetano tanto para detec-
tar um estado de saúde, como um desvio do mesmo. É utilizado
rotineiramente, em associação a outros procedimentos não apenas
para obter informações clínicas válidas sobre a saúde do paciente,
mas também para diagnosticar patologias orgânicas, sua severida-

42
de e o prognóstico, através de técnicas inteiramente diferentes do
sistema moderno de urinálise.
Urinálise Básica
       A urinálise é exame de rotina em todos os pacientes vistos
no consultório médico e é repetido a cada visita – às vezes é
necessário um exame diário por períodos que duram de uma a
duas semanas, em doenças graves e específicas. Quando o médi-
co não é capaz de examinar o paciente pessoalmente, o exame de
uma amostra de urina é o único procedimento confiável disponível
para ele. A questão sobre se um tratamento pode ser prescrito
simplesmente com base na urinálise é um tema de discussão entre
os médicos tibetanos. Porém, muitos médicos experientes podem
fazer um diagnóstico e um tratamento completos apenas com um
exame da urina (dados fornecidos e disponíveis na história da
medicina).
       A urinálise de rotina envolve quatro procedimentos básicos:
1.Exame físico: envolve análise da coloração, odor e presença de
vapor ou névoa.
2.Depósitos: envolve observação de sedimentos e formação de
“mucina”.
3.Exame da amostra após transformação: momento em que ocorre
a mudança, a maneira como ela ocorre e as características pós-
mudança.
4.Testes para definir diagnóstico e determinar procedimentos tera-
pêuticos: testes para avaliar linha de tratamento e testes para
determinar intoxicação.
Pré-requisitos
      A concentração da urina, sua aparência física e coloração
variam completamente no período de 24 horas e depende parcial-
mente da dieta ingerida pelo paciente e de suas atividades. Por
exemplo, a ingestão de chá forte, de vegetais verdes leves, intensa
ansiedade e depressão afetam a urina dando-lhe uma característi-
ca rLung. Após as refeições, surgem depósitos de Bad-kan, tais

                                                                 43
como glicosúria e após intensa atividade física devem ocorrer
depósitos mKris-pa, tais como proteinúria. Dependendo do fluido
ingerido, as substâncias normalmente conservadas ou excretadas
em pequenas quantidades devem surgir na urina em maior concen-
tração e substâncias normalmente excretadas podem ficar retidas.
A temperatura e o clima também afetam a quantidade de urina eli-
minada e a sudorese profusa reduz sua quantidade. A ingestão de
certas bebidas diuréticas, como o café, chá e álcool, a presença de
tremores, nervosismo, ansiedade e fluidos endovenosos resultam
em aumento na excreção de urina. Esta eliminação é significante-
mente reduzida com a redução na ingestão de fluidos e com
aumento do aporte de alimentos salgados e azedos.
        Para evitar que estes fatores influenciem na aparência e na
composição da urina, um conjunto de exigências é recomendado e
deve ser observado pelo menos um dia antes do exame. As princi-
pais exigências são:
-evitar dieta hipoproteica, chá forte e vegetais verdes leves
-evitar dieta excessivamente rica e, particularmente, com excesso
de alimentos oleosos e especiarias
-evitar uso excessivo de carboidratos comuns, como açúcar
-evitar ingestão excessiva de fluidos
-evitar relações sexuais
-dormir regularmente
-evitar atividades físicas estenuantes
-evitar situações de ansiedade e depressão tanto quanto possível.
        A observação destes pré-requisitos é particularmente rele-
vante no caso de um paciente já habituado a quaisquer das dietas
citadas. Para observá-las, ele deve procurar a orientação do médi-
co.
Coleta da urina
      Para que a urinálise produza seus resultados, a urina deve
ser adequadamente colhida. O primeiro jato deve ser desprezado
uma vez que, provavelmente, esteja contaminado com bactérias e

44
produtos finais do metabolismo. O jato médio deve ser coletado e a
quantidade deve preencher cerca de meia xícara de chá. A coleta
inadequada pode invalidar os achados do exame, particularmente
se o recipiente não estiver limpo.
Recipientes
         Aqueles utilizados para coletar urina são específicos e
devem estar completamente limpos e secos antes da amostra ser
coletada. Sem estes cuidados iniciais, os resultados serão pouco
significativos, se não insignificantes. Recipientes de cerâmica, por-
celana ou mesmo de aço polido são apropriados. Qualquer outro
recipiente, por exemplo, de barro, cobre ou ferro, não devem ser
utilizados. A coloração deve ser branca, pois outras cores podem
refletir-se na amostra.
Varinhas
        Tradicionalmente, são utilizadas três varinhas retiradas das
fibras utilizadas no fabrico de vassouras medindo cerca de um pé
de comprimento. Um cordão é amarrado firmemente a uma pole-
gada de uma das extremidades. A outra extremidade é separada
para formar um triângulo de forma que a urina possa ser vigorosa-
mente agitada. O uso de quaisquer varinhas de madeira prepara-
das de maneira similar são perfeitamente convenientes.
Horário da coleta
        Em geral, a primeira urina eliminada pela manhã, mais con-
centrada e, portanto, mais adequada à análise. Freqüentemente,
no entanto, a primeira amostra da manhã pode ser impossível de
se obter. Nestes casos permite-se que seja colhida uma amostra
da micção anterior ao desjejum da manhã. A primeira urina da
manhã deve ser aquela eliminada após 4 horas, uma vez que qual-
quer micção anterior a este horário contém, provavelmente, excre-
ções renais e metabólicas em grandes proporções para o volume
total de urina.


                                                                  45
Horário de exame
       A urina deve ser examinada tão logo possível, preferencial-
mente por volta do nascer do sol. O exame deve ser feito à luz do
dia e não sob luz elétrica, uma vez que a coloração da urina não
pode ser observada claramente.
Processo de análise
        De maneira diferente dos métodos modernos de urinálise,
os médicos tibetanos estudam várias características físicas, tais
como coloração, odor, etc., na forma de informações patológicas
sobre a maioria das doenças. Há nove características principais de
urina, estudadas em termos dos três estágios por que passa a
temperatura da amostra. As primeiras quatro, denominadas colora-
ção, odor, vapor e bolhas, são analisadas durante o primeiro está-
gio, quando a urina está fresca. Quando a amostra está morna, os
sedimentos e a mucina são examinados e finalmente, no estágio
final, quando está fria, observa-se o momento em que a mudança
ocorre e as alterações após esta transformação.
1. Exame físico
        Envolve a avaliação da coloração, do odor, do vapor e das
bolhas quando a urina está fresca. As várias características de
cada um destes aspectos e sua relação com a patologia estão
categorizados formando um sistema de referência e diagnóstico
altamente efetivo.
1.1. Coloração: Esta é a qualidade física mais visível da urina. É
determinada principalmente pela concentração, pigmentos alimen-
tares, sangue e a presença de uma patologia. A quantidade de
líquidos ingerida também afeta a coloração. Durante as estações,
particularmente o verão e o inverno, a coloração é afetada distin-
tamente pela presença de calor no verão e pela sua ausência no
inverno.
        Normalmente, a coloração da urina é amarela ou âmbar,
principalmente resultante da presença de um pigmento amarelo,
um tipo de mKris-pa. Durante o desenvolvimento da doença, a

46
coloração da urina sofre nítidas alterações resultantes da presença
de pigmentos normalmente ausentes. Pigmentos biliares podem
produzir uma coloração amarela ou marrom-amarelada ou mesmo
esverdeada; a hemoglobina dá uma coloração marrom-
avermelhada e a melanina faz com que a urina adquira cor mar-
rom-enegrecida.
        A coloração é normalmente diagnóstica quando correspon-
de à concentração da urina. Uma amostra eliminada recentemente
é normalmente transparente, mas pode apresentar uma aparência
turva resultante da presença de fosfatos e carbonatos, se a amos-
tra é alcalina.
        Patologicamente, uma coloração amarelo-avermelhada,
concentrada, indica doença quente ou inflamatória, enquanto uma
amostra transparente, diluída e aquosa indica doença fria ou não-
inflamatória. No caso da urina não estar concentrada, quer esteja
amarelada ou avermelhada, não estará indicando necessariamente
uma condição inflamatória. Da mesma maneira, se a urina estiver
concentrada, suas características diluídas e aquosas podem não
indicar uma condição não-inflamatória.
        Agentes como corantes, vitaminas e mesmo os alimentos
podem alterar a coloração da urina, portanto, esta pode ser fre-
qüentemente duvidosa. Por esta razão, é de vital importância ava-
liar a coloração patológica da urina juntamente com as demais
características patológicas da mesma.
1.2. Odor: Este é basicamente afetado pelos produtos finais do
metabolismo dos alimentos. A urina de um diabético pode apresen-
tar um odor resultante da presença de acetona (um tipo de Bad-
kan). Nas infecções do trato urinário, a urina pode ser malcheirosa
por causa dos agentes infecciosos. Certos alimentos podem impor
um odor característico e normalmente, nestes casos, a causa é
uma indigestão.
        Urina com odor forte, penetrante e concentrada indica doen-
ça inflamatória ou quente enquanto a ausência ou a presença de
um odor mínimo significa doença não-inflamatória.

                                                                 47
1.3. Vapor: Não é visível quando a urina está fresca e, portanto, a
amostra fria de urina deve ser aquecida por um minuto ou até sua
temperatura normal para que sejam estudadas as características
do vapor. A qualidade do vapor e a velocidade com que desapare-
ce são os principais fatores a observar. Uma grande quantidade de
vapor que desaparece rapidamente indica doença inflamatória,
enquanto a ausência ou uma quantidade mínima de vapor significa
uma doença não-inflamatória. Uma quantidade moderada que
desaparece de maneira variada indica presença de ambos os fato-
res, frio e quente.
1.4. Bolhas: A maneira como as bolhas se formam, sua velocidade
e a razão do desaparecimento, a coloração e a localização são
fatores a serem observados. Em certas doenças, não há formação
de bolhas, mesmo quando a urina é agitada vigorosamente e este
sinal indica, freqüentemente, severidade da doença. Quando há
dificuldade em se determinar a coloração da urina, deve-se mistu-
rá-la e estudar a coloração das bolhas nas bordas do recipiente.
         As bolhas que surgem nas doenças inflamatórias são
pequenas (do tamanho de uma cabeça de alfinete), formam duas
ou mais camadas sobre a superfície e desaparecem rapidamente
após serem agitadas. Nas doenças não-inflamatórias as bolhas
são cheias, grandes ou pequenas, em grande quantidade e perma-
necem longo tempo após a amostra ser agitada. As bolhas repre-
sentam a característica mais consistente e confiável do exame de
urina e, portanto, devem ser estudadas detalhadamente.
2. Análise dos depósitos
2.1. Sedimentos: Substâncias metabólicas normalmente acumula-
das ou excretadas em pequenas quantidades podem surgir em
grandes concentrações na urina e substâncias normalmente excre-
tadas podem ser retidas.
         Os médicos tibetanos classificam os sedimentos de acordo
com os três processos fisiológicos do corpo. Podem ser sedimen-
tos de rLung, semelhantes a fios de cabelos, espalhados em quan-
tidade moderada na urina, ou sedimentos de mKris-pa, com

48
aparência de névoa e escuros, geralmente concentrados no centro
da amostra de urina. Os sedimentos de Bad-kan são como partícu-
las de areia, concentrados principalmente no fundo do recipiente.
        A quantidade de sedimentos, o local onde se localizam, a
coloração e a forma indicam uma patologia específica. Geralmente,
a presença profusa de sedimentos indica doença inflamatória
enquanto a ausência ou uma quantidade mínima indica doença
não-inflamatória. Entretanto, a mera presença de sedimentos não
deve indicar necessariamente a presença de um distúrbio inflama-
tório. Na verdade, a forma e o tipo de sedimentos determinam a
natureza da patologia. A presença de granulações de areia, indi-
cam a existência de uma doença inflamatória em primeiro plano ou
é um sinal de distúrbio inflamatório secundário.
2.2.Mucina: É uma formação oleosa como a nata que permanece
sobre a superfície do leite. A presença maciça de mucina indica
processo inflamatório, enquanto a ausência ou uma mínima quan-
tidade significa processo não-inflamatório. Sua localização, colora-
ção e quantidade devem ser observadas para fins diagnósticos.
3. Exame da urina após a transformação
        Após um minuto ou mais, a urina recém eliminada torna-se
fria e ocorrem mudanças em sua coloração e concentração. O
momento em que a alteração acontece é patologicamente significa-
tivo e é determinado em termos de quando a urina esfria. Igual-
mente importante para o propósito do diagnóstico é a maneira
como a urina se transforma ou, principalmente, se do centro para a
periferia ou se do fundo para a superfície.
3.1. Momento em que ocorre a transformação: Estabelecer o
momento no qual a coloração e a concentração se alteram é pato-
logicamente significativo. Quando estas alterações ocorrem antes
que a urina esteja fria, é uma indicação de doença inflamatória.
Entretanto, quando a mudança ocorre depois que a urina esfriou, é
um sinal de processo não-inflamatório. Quando a mudança ocorre
simultaneamente com o resfriamento da urina, geralmente coexis-
tem ambas as condições, inflamatória e não-inflamatória. A coexis-

                                                                 49
tência de ambos não significa necessariamente que um único
órgão esteja afetado pelos dois processos, quente ou frio. Na ver-
dade, indica que um órgão constitucionalmente não-inflamatório, tal
como o rim, está acometido por um processo inflamatório. Para
analisar este procedimento a urina deve ser primeiramente aqueci-
da à temperatura normal.
        As variações sazonais, entretanto, influenciam na velocida-
de e na maneira como a urina se transforma. Por exemplo, durante
o inverno a urina sofre mudanças na coloração e na concentração
imediatamente após ter sido eliminada, um efeito resultante da bai-
xa temperatura. No verão, as mudanças ocorrem um considerável
período de tempo após a urina ter sido eliminada e são ocasiona-
das pela ação do calor.
3.2. Modo como as transformações ocorrem: No caso de proces-
sos inflamatórios, a mudança de coloração e concentração ocorre
do fundo para a superfície enquanto que nos processos não-
inflamatórios as mudanças ocorrem da periferia para o centro do
recipiente.
3.3. Qualidades pós-transformações: Como a amostra de urina
está disponível apenas depois que já esfriou, a maioria das análi-
ses clínicas são feitas em termos de características pós-
transformações, ou seja, coloração, bolhas e depósitos.

        Cada uma das nove características da urina são altamente
significantes. Elas determinam não apenas a doença específica,
mas também sua cronicidade ou intensidade, auxiliando também
na decisão sobre o tipo de tratamento a ser administrado. Este
último dado é de vital importância, pois para cada doença há uma
enorme variedade de medicamentos disponíveis. Para prescrever
a correta combinação de medicamentos, o médico deve estar
consciente quanto ao tipo de processo fisiopatológico envolvido,
sua severidade e quanto à presença de complicações secundárias.
A análise da urina fornece informações conclusivas sobre estes
fatores.

50
Entretanto, um diagnóstico preciso depende principalmente
de perícia, experiência e da habilidade do médico em relacionar
clinicamente seus achados, a partir de todos os procedimentos
diagnósticos e da história completa do paciente. Pelo fato da urina
ser tão variável e facilmente influenciável por fatores que não têm
relação direta com a doença, as características da urina são enga-
nosas com frequência. Conseqüentemente, a coloração da urina
pode não ter qualquer relação com o atual problema do paciente.
Por exemplo, influências sazonais no verão podem fazer com que
a urina de doença não-inflamatória tenha uma coloração amarela.
No caso de uma doença crônica como o câncer gástrico, os sinto-
mas e as características da urina são freqüentemente suprimidas
pelas condições mais imediatas do paciente. Como este desenvol-
ve extremo stress e tensão e não é capaz de modificar sua doença,
sua urina estará claramente dominada pelos sintomas de seu esta-
do psicológico atual. As bolhas serão grandes, desaparecem rapi-
damente e conseqüentemente o médico que não obtiver a história
médica completa fará um diagnóstico incorreto deixando sem defi-
nição o problema real da pessoa.
        A orientação para os iniciantes é observar tantas corres-
pondências quantas forem possíveis nas características da urina.
Por exemplo, se a coloração estiver alterada mas não concordar
com os achados quanto à concentração, bolhas e sedimentos, o
diagnóstico deve ser feito com base na conformidade de caracte-
rísticas principais. Inicialmente, no treinamento para fazer uma
análise da urina, a avaliação em termos dos três processos fisiopa-
tológicos é absolutamente essencial. O primeiro dos três, rLung
(atividade humoral), está associado com as funções do sistema
nervoso central e periférico; mKris-pa (energia humoral), está rela-
cionado com os sistemas endócrino e secretório e Bad-kan (estru-
tura humoral), com os sistemas digestivos e de fluidos corporais.
Cada um destes três são identificados fisiologicamente com órgãos
específicos, tecidos e mecanismos do corpo e, portanto, ser capaz
de determinar seu envolvimento e patogenicidade no processo da

                                                                 51
doença significa fornecer dados para atingir um diagnóstico corre-
to. Tomemos como exemplo uma amostra que apresenta uma uri-
na transparente, de coloração aquosa, com bolhas grandes, em
pequena quantidade que desaparecem instantaneamente após a
agitação. O tamanho das bolhas, sua transparência e coloração
indicam uma patologia de rLung. No entanto, a pequena quantida-
de de bolhas e seu rápido desaparecimento indicam claramente a
presença de um processo inflamatório.
        Clinicamente, há dois locais normalmente associados com
tais características do exemplo acima, o estômago e os rins. O
estômago como sítio patológico neste caso está instantaneamente
excluído, pois a natureza diluída e aquosa, assim como as bolhas
esparsas indicam claramente um envolvimento do rim. Isto ocorre
porque apesar dos dois órgãos serem intrinsecamente sítios de
Bad-kan, o rim é predominantemente um órgão Bad-kan fluido
enquanto o estômago é um órgão Bad-kan sólido. O diagnóstico
final, então, é processo inflamatório dos rins.
4. Características da urina normal
-coloração              -âmbar ou palha
-odor                   -moderado ou tolerável
-vapor                  -moderado
-bolhas                 -tamanho de pequenas ervilhas, moderada quantidade,
                        espalhadas sobre a superfície, no máximo em duas
                        camadas, não desaparecem instantaneamente nem
                        permanecem completamente após a agitação
-sedimentos             -moderado, cobre a superfície
-mucina                 -moderada
-momento da             -aproximadamente no mesmo momento em que a urina
 transformação          se resfria
-maneira como           -da periferia para o centro
 ocorre
-características pós-   -clara, cor palha ou âmbar com moderada quantidade
transformação           de sedimentos.
       Clinicamente, uma urina saudável com todas as caracterís-
ticas mencionadas é raramente encontrada.

52
5. Urina patológica
        Como a clínica médica tibetana é apresentada em termos
dos três processos fisiopatológicos, as características da urina são
classificadas de maneira similar.
5.1.Urina rLung:
-coloração  -azulada, aquosa e transparente
-odor       -leve ou ausente
-vapor      -moderado ou insignificante
-bolhas     -grandes como “olhos de búfalo”, permanecem por algum tempo
            após agitação e desaparecem entre bolhas de tamanho moderado
            que permanecem longo tempo dependendo da patologia.
-sedimentos -geralmente nenhum, entretanto, em algumas doenças de rLung
            estão presentes depósitos semelhantes a fios de cabelo.
-mucina     -ausente
       Na determinação de uma doença de rLung, apesar de todas
as características clínicas da urina serem importantes, a coloração
e a estrutura das bolhas são as mais conclusivas. Apesar destas
bolhas serem descritas como grandes, não significa que todas as
bolhas sejam iguais. Melhor, a maioria das bolhas apresentam
tamanho moderado (como ervilhas) e ao agitar a amostra surgem
algumas poucas bolhas grandes entre estas. Quando a urina é
azulada, clara e com a agitação surgem grandes bolhas que desa-
parecem instantaneamente quando cessa, está indicando um pro-
cesso inflamatório secundário. Isto é diagnosticado como rLung
inflamatório. No entanto, quando a urina é clara e as bolhas per-
manecem após a agitação, este é um caso de rLung não-
inflamatório.
       Apesar de processos inflamatórios de rLung apresentarem
eventualmente grande quantidade de bolhas, estas são mais trans-
parentes do que nos casos de doença não-inflamatória de rLung e
desaparecem de maneira errática. Nos casos de rLung não-
inflamatório, as bolhas são densas tornando-se difícil ver o fundo
do recipiente claramente e ao tentar retirar as bolhas do centro do
mesmo com a varinha, as bolhas permanecem na superfície.

                                                                  53
Uma introdução à medicina tibetana
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Uma introdução à medicina tibetana

  • 1. MEDICINA TIBETANA Livro 10 Uma publliicação desttiinada ao esttudo da Mediiciina Tiibettana,, Uma pub cação des nada ao es udo da Med c na T be ana ediittada pella Biiblliiotteca de Obrras e Arrquiivos Tiibettanos,, Dha-- ed ada pe a B b o eca de Ob as e A qu vos T be anos Dha rramsalla,, ÍÍndiia amsa a nd a
  • 2. MEDICINA TIBETANA Livro 10 Drra.. Lobsang Dollma Khangkarr D a L o b s a n g D o ma K h a n g k a Drr.. Lobsang Rapgay D Lo bs a ng Ra p ga y Drr.. Barrrry Cllarrk D Ba y C a k Traduzido por: Williams Ribeiro de Farias Dra. Yeda Ribeiro de Farias EDIITORA CHAKPORII ED TORA CHAKPOR 2
  • 3. Título original: Tibetan Medicine Series 9 ©1985 Library of Tibetan Works and Archives Dharamsala, Índia 1998 Direitos de edição em línguas portuguesa e espanhola adquiridos pela EDITORA CHAKPORI Caixa Postal 6636 - CEP 13084-970 Campinas - SP - Brasil 3
  • 4. ÍNDICE UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA .............................................. 5 O Corpo Saudável ................................................................ 12 O Corpo Doente ................................................................... 13 Métodos de Diagnóstico ....................................................... 16 Tratamento ........................................................................... 18 Farmacologia ........................................................................ 19 A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA MEDICINA TIBETANA.......... 22 Introdução............................................................................. 22 Capítulo 27 ........................................................................... 23 Capítulo 28 ........................................................................... 29 Capítulo 29 ........................................................................... 35 Capítulo 30 ........................................................................... 39 UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA .................................... 42 Urinálise Básica .................................................................... 43 Pré-requisitos........................................................................ 43 Coleta da urina ..................................................................... 44 Recipientes ........................................................................... 45 Varinhas ............................................................................... 45 Horário da coleta .................................................................. 45 Horário de exame ................................................................. 46 Processo de análise ............................................................. 46 DOENÇAS DE RLUNG E SEU TRATAMENTO ........................................... 67 1. Etiologia ............................................................................ 70 2. Agentes Patológicos ......................................................... 70 3. Classificação ..................................................................... 72 4. Sinais e Sintomas ............................................................. 75 5. Terapêutica ....................................................................... 83 YOGA DO RELAXAMENTO UM MÉTODO TIBETANO PARA PROPORCIONAR UMA SAÚDE MELHOR ..... 90 4
  • 5. UMA INTRODUÇÃO À MEDICINA TIBETANA Dra. Lobsang Dolma Khangkar Recentemente, começamos a realizar em nossa consciên- cia que o conforto proporcionado pela ciência e pela tecnologia não necessariamente e nem sempre torna a vida mais fácil para nós, quando não consideramos o fator humano no desenvolvimento. No entanto, podemos afirmar que enfrentamos mais e mais situações que produzem grande stress e tensão. Apesar de cuidarmos muito melhor de nós mesmos, ingerindo alimentos bastante nutritivos, e possuindo toda espécie de facilidades com relação aos cuidados com a saúde, a vida tem significado pouco mais que trabalho e preocupações. Obviamente, não podemos desfrutar de boa saúde estando meramente saudáveis fisicamente. Temos que estar sau- dáveis mentalmente. A interpretação tibetana de saúde origina-se dos ensina- mentos do Buda Sakyamuni que viveu na Índia no século 5 a.C. A saúde total, disse ele, é o equilíbrio entre o adequado funciona- mento do corpo e da mente e, sem o desenvolvimento de um, o outro não pode funcionar de uma maneira saudável. O corpo humano é estudado em termos da teoria hByung- was, ou seja, esta estrutura é composta de cinco elementos (em tibetano: hByung-was; em sânscrito: mahabhutas) e sem estes nenhuma unidade de vida pode existir. Cada um destes cinco (ter- ra, água, fogo, ar e espaço) possui uma função específica e apesar de serem estruturalmente opostos um ao outro, trabalham em sim- biose no aspecto funcional, através de várias combinações e per- mutações. Uma unidade elementar adquire suas características 5
  • 6. particulares, principalmente, em decorrência da combinação pre- dominante de grupos de elementos específicos em uma unidade maior. Por exemplo, um gênero alimentício é determinado como pesado e doce porque é composto primariamente dos elementos terra e água os quais contém intrinsecamente estas potências. Em geral, o elemento predominante constitui 50% e a por- ção remanescente da unidade estrutural está representada pelos outros elementos em iguais proporções. Um elemento é uma unidade composta de átomos. Sob este aspecto, a teoria atômica moderna, na qual átomos são compostos de prótons, elétrons e nêutrons, não é inconsistente com os princí- pios médicos tibetanos dos cinco elementos. Peso, coesão, eletri- cidade, movimento e relações espaciais envolvem estas funções e potências primárias dos elementos terra, água, fogo, ar e espaço. De muitas maneiras, os elementos podem ser comparados ao pro- toplasma de que se constitui uma célula. Sais inorgânicos, água e carboidratos orgânicos e gorduras podem ser identificados com a estrutura e as funções dos elementos água e terra, enquanto pro- teínas são, por um lado, similares ao fogo e, por outro lado, aos elementos fogo e ar. Os elementos ar e espaço garantem a sim- biose da água e da terra, por um lado, e do fogo e ar por outro lado, através do controle sobre o arranjo e a organização destes elemen- tos opostos. Os três humores (em tibetano nepas; em sânscrito doshas), que são rLung (em sânscrito vayu), mKris-pa (em sânscrito pitta) e Bad-kan (em sânscrito kapha), são as representações biológicas dos cinco elementos e responsáveis por todas as atividades do corpo. Entre os três, rLung é o mais importante na saúde e na doença. É o responsável pelo estímulo, pela concentração patoló- gica e pela infiltração de mKris-pa e Bad-kan, não considerando o desgaste natural do corpo quando este está em desequilíbrio. Suas características funcionais de leveza e mobilidade garantem sua presença tanto nos distúrbios frios como quentes. Além disso, sua qualidade funcional agressiva (áspera) antagoniza facilmente 6
  • 7. outras células e tecidos corporais. É rLung que assegura o arranjo e a organização espacial das unidades mKris-pa e Bad-kan, os quais não poderiam coexistir em harmonia, uma vez que possuem características extremamente opostas. Alguns tendem a interpretar os três nepas como conceitos abstratos semelhante ao sistema de meridianos da medicina chinesa. Mas não é assim. Os humores são compostos físicos que possuem diferentes qualidades físicas. De fato, há três tipos principais em cada nepa, o grosseiro, o sutil e o mais sutil. O rLung mais sutil é o substrato físico da conclusão e da realização das ações virtuosas e não virtuosas (em sânscrito karma) que determina a morte e o nascimento. É rLung quem transfere uma vida para outra, como a base física do eu (eu cons- ciente). Enquanto estruturalmente rLung é composto dos elemen- tos ar e espaço, tecnicamente é definido em termos de suas qualidades funcionais. É descrito como "aquele que é áspero, leve, frio, móvel, compacto e sutil". Qualquer desequilíbrio de uma ou mais destas qualidades, seja resultante de aumento, redução ou alteração, resulta em sua patogenicidade. A causa primordial de rLung é o apego, uma das três negatividades. Uma vez que, por natureza, o apego é emocional, ele influencia sua contraparte físi- ca, rLung. Apesar da patogenicidade de rLung resultar na morbida- de de todas as seis qualidades funcionais, eventualmente um grupo particular de qualidades é predominantemente alterada. A ignorância sobre como as coisas existem na realidade faz com que a mente considere tais fenômenos ou objetos como desejáveis ou indesejáveis através da superposição de qualidades que os objetos não possuem. Conseqüentemente, a consciência adquire qualida- des como flutuação e mobilidade, que produzem mudanças físicas correspondentes elevando rLung e concentrando-o em várias regiões do corpo. Apesar de rLung estar presente em todo corpo, em proporções variadas, seus sítios principais são a pele, os teci- dos ósseos, as articulações, a região pélvica e principalmente o intestino grosso. 7
  • 8. Basicamente, rLung coordena todas as atividades muscula- res e conscientes do corpo através do sistema nervoso central e periférico, conhecidos como sistema nervoso branco na anatomia tibetana. Os cinco tipos de rLung, de acordo com suas funções são: - rLung da sustentação - rLung ascendente - rLung metabólico - rLung descendente - rLung infiltrativo Estes cinco tipos de rLung são responsáveis pelos batimen- tos cardíacos, ritmo respiratório, pelos movimentos do estômago e atividades voluntárias e involuntárias do corpo. O rLung da susten- tação está localizado principalmente no coração e suas funções principais são a respiração e a deglutição dos alimentos. O rLung ascendente está localizado na garganta e é responsável principal- mente pela fala e pela voz. O rLung metabólico está localizado no estômago e intestino delgado e auxilia na assimilação das enzimas até os produtos finais da digestão e na separação nos vários ele- mentos teciduais. Localizado no cólon e pelve, o rLung descenden- te é responsável pela eliminação de fezes, urina , sêmen e sangue menstrual. O rLung infiltrativo, localizado no coração, é responsá- vel principalmente pelo funcionamento dos canais circulatórios no corpo. mKris-pa é o segundo dos humores. Apesar de sua forma grosseira ser a bile produzida no fígado e armazenada na vesícula biliar, suas características são encontradas em todo corpo na for- ma de energia produzida predominantemente pelos elementos fogo e ar. mKris-pa é a energia que produz calor e que determina o tempo de vida de uma célula. É identificado principalmente com a vesícula biliar, a porção média do estômago, intestino delgado, sangue, sistema linfático e pele. Controla a temperatura corporal, realiza funções metabólicas, estimula o processo digestivo através de substâncias bioquímicas denominadas enzimas, juntamente 8
  • 9. com uma combinação de calor ou temperatura endotérmica do tra- to gastro-intestinal. Estruturalmente, mKris-pa é composto de fogo e ar, enquanto funcionalmente é descrito como "aquele que é quen- te, pungente, oleoso, leve, fétido, purgativo e aderente".O mKris-pa não-patogênico adquire morbidade quando uma ou mais de suas características, particularmente as três primeiras, sofrem elevação, redução ou uma ruptura. Basicamente, mKris-pa é causado pelo ódio, a um nível primordial. O estado móvel e energético da mente proporcionado pelo ódio ou aversão afeta a estrutura molecular do corpo ocasio- nando alterações de uma forma homóloga e, como resultado, os elementos fogo e ar predominam no corpo. Quando fatores exter- nos, influências sazonais, padrões comportamentais e dietas pro- dutoras de mKris-pa estão presentes, prolifera e afeta os tecidos, concentrando-se em uma região particular do corpo. Há cinco tipos principais de mKris-pa: - mKris-pa metabólico - mKris-pa da transformação - mKris-pa da determinação - mKris-pa da visão - mKris-pa da coloração O mKris-pa metabólico está localizado entre o estômago e o duodeno e sua função principal é digerir o alimento, separar nutrientes e produtos residuais, gerar energia, fornecendo vigor e brilho ao corpo. Além disso, ele promove a formação saudável dos mKris-pa remanescentes. Localizado no fígado está o mKris-pa da transformação e sua função principal é a conversão do alimento nos sete constituintes corporais. O mKris-pa da determinação que está localizado no coração determina a geração de várias atitudes mentais, tais como orgulho, desejo, etc. Na pele está localizado o mKris-pa da coloração, o qual controla a compleição da pele. Bad-kan é definido como "aquele que é pesado, gorduroso, frio, estável, macio, adesivo e embotado" e estruturalmente predo- mina em sua composição os elementos água e terra. Quando fato- 9
  • 10. res endógenos na forma de dieta, padrões de comportamento, traumas ou microrganismos invadem e afetam o corpo, resultam na proliferação de Bad-kan. Suas características funcionais normais como peso, untuosidade e outras elevam-se, reduzem-se ou são alteradas. A nível primordial, o embotamento mental está relacio- nado com a formação de Bad-kan no corpo. Há cinco tipos de Bad- kan: - Bad-kan da sustentação - Bad-kan da mistura - Bad-kan da experimentação - Bad-kan da satisfação - Bad-kan da conexão O Bad-kan da sustentação está localizado no tórax e sua função principal é sustentar os outros quatro Bad-kan e manter a circulação dos fluidos corporais. Na primeira porção do estômago está o Bad-kan da mistura cuja principal função é agitar e misturar o alimento. O sabor dos gêneros alimentícios é determinado pelo Bad-kan da experimentação que se encontra na língua enquanto que a satisfação sexual é controlada pelo Bad-kan da satisfação, localizado na cabeça. O Bad-kan da conexão equivale ao líquido sinovial, encontrado entre as articulações, que lubrifica e dá elasti- cidade às mesmas. O conhecimento dos humores, suas funções e característi- cas é um fator importante na determinação da saúde. Ao mesmo tempo, é vital analisar as relações dos humores com os vários estados mentais. O fato de que estas predisposições psicológicas representam um papel vital na determinação da saúde e das doen- ças pode ser observado nos vários níveis da vida humana. Cada forma individual externa expressa as qualidades e os poderes da mente os quais por sua vez são determinados pelos tipos de emo- ções às quais o indivíduo está habituado. A mente controla o sis- tema nervoso que por sua vez regula o sistema muscular. Os músculos, em seguida, determinam a forma e as funções da face e do corpo. 10
  • 11. Basicamente, as estruturas do corpo, tais como os ossos, os músculos, a pele e os cabelos, dependem muito da nutrição tecidual. A nutrição dos tecidos é regulada pela composição do plasma sanguíneo, controlado pela atividade dos sistemas glandu- lar e digestivo, os quais refletem as condições das glândulas endó- crinas, do estômago, dos intestinos e do sistema nervoso. Como resultado de disparidades funcionais são encontrados diferentes grupos de indivíduos, por exemplo, entre homens altos e delgados e aqueles baixos e cheios. A mente é um fenômeno complexo com diversas dimensões. A variação e a concentração mentais, que são os meios principais de controle da mente, ensinados por Buda, precisam ser moldadas pelo hábito do pensamento lógico. Todo ser humano nasce com diferentes capacidades intelectuais, mas a filosofia budista enfatiza que todo indivíduo possui basicamente o potencial para desenvolver a mente e livrá-la de todos os bloqueios e defeitos. Isto é possível cultivando-se hábitos de raciocínio preci- so, através do estudo da lógica, da disciplina mental e da observa- ção e concentração profundas da natureza do eu e de todos os fenômenos. Exercitar e utilizar a mente, assim como o corpo, levam ao refinamento, enquanto as observações superficiais, uma rápida sucessão de impressões e a perda da disciplina intelectual bloqueia o desenvolvimento da mente. Quando estamos expostos ao rigor das estações, quando nossas refeições são ora abundantes, ora inadequadas, quando conseguimos alimento e abrigo através de extremo esforço físico e mental, esgotando-nos quando lutamos contra a desigualdade físi- ca e aprendendo a nos tornar mais pacientes e tolerantes frente às adversidades, emerge o melhor de nós. Tais adaptações do indiví- duo à disciplina determina mudanças definidas no sistema nervo- so, nas glândulas endócrinas e nos processos mentais. O organismo adquire uma melhor integração e maior vigor para ven- cer as dificuldades da existência. Provavelmente, pode-se dizer com um certo grau de verdade que a inatividade e um modo de 11
  • 12. vida complacente tem elevado o surgimento de mais sofrimentos físicos. Assim como músculos e órgãos, a inteligência e o senso de moral atrofiam pela falta de exercícios e uso adequado. Os pensamentos podem gerar distúrbios orgânicos e, além disso, a instabilidade da vida moderna, repleta de trabalho e tensão cria estados mentais que produzem desequilíbrios psicológicos e orgânicos, mais observados no estômago e intestinos, além de ocasionar deficiências nutricionais e a passagem de microrganis- mos intestinais no sistema circulatório. Tais doenças são quase desconhecidas em grupos sociais onde a vida é mais simples, onde a ansiedade é menos constante. Da mesma forma, aqueles que mantém a paz e o controle da mente são imunes a doenças orgânicas e psicológicas. A seguir descreveremos uma introdução aos princípios da medicina tibetana, os quais devem ser estudados dentro dos con- ceitos psicossomáticos já referidos. O Corpo Saudável Uma pessoa é constituída de cinco agregados que são for- ma, sentimento, reconhecimento, vontade e consciência. O objetivo básico da saúde é manter a simbiose dos três humores, dos sete constituintes físicos e das três substâncias excretadas e assegurar seu funcionamento normal no corpo. 1. Os Sete Constituintes Físicos São os constituintes teciduais básicos e servem como base para o corpo. São eles: Nutrientes essenciais, Sangue, Músculos, Gordura, Ossos, Medula óssea e Fluido regenerativo. Os nutrientes essenciais são a porção útil do alimento já ingerido, o qual é convertido nos demais constituintes físicos, tal como sangue. O sangue é a fonte da vida, sustenta e produz os tecidos musculares, a partir dos quais é produzido o tecido adipo-  N. do T.: Refere-se ao modo de vida de pessoas pusilânimes e ego- cêntricas. 12
  • 13. so. Quando a gordura se solidifica, são produzidos os ossos, a par- tir dos quais forma-se a medula óssea. A medula age como a fonte do fluido regenerativo, tal como o sêmen nos homens. 2. As Três Substâncias Excretadas As fezes são o resíduo sólido separado dos nutrientes nos intestinos pelo rLung descendente. A urina é o resíduo líquido fil- trado do sangue pelos rins e o suor é a substância residual do teci- do adiposo. A maneira de assegurar a saúde é através da observação de padrões dietéticos e comportamentais adequados e do desen- volvimento mental resultando no funcionamento saudável dos três principais fatores fisiológicos (humores, constituintes físicos e excreções). O Corpo Doente As doenças surgem quando ocorre uma ruptura no funcio- namento normal dos três fatores fisiológicos, resultante de dieta inadequada, padrões comportamentais incorretos, traumas ou infecções. 1.Causas das Doenças A causa raiz de todas as doenças é a ignorância no que diz respeito à natureza das coisas. Isto ocasiona o nascimento dentro do ciclo da existência e os seres são expostos a toda sorte de sofrimentos, tais como as doenças. É esta ignorância que dá ori- gem aos outros pensamentos negativos, sendo os mais importan- tes o desejo, a aversão e o embotamento da mente, os quais por sua vez alteram as funções orgânicas e produzem respectivamente rLung, mKris-pa e Bad-kan. Apesar destes três humores gerarem um corpo saudável quando em simbiose, basicamente são reco- nhecidos como distúrbios, uma vez que possuem a capacidade de produzir várias doenças. 2.Condições Precipitantes das Doenças Estes são fatores sem os quais uma doença não pode ama- durecer e se manifestar. Isto significa que mesmo estando presen- 13
  • 14. te uma causa básica, sem estes uma doença não ocorrerá. Há quatro condições precipitantes principais: dieta imprópria, padrões comporta-mentais impróprios, influências sazonais e outros fatores. Por exemplo, a ingestão de carne e bebidas alcoólicas sob o sol produzirá um distúrbio de mKris-pa, enquanto que a exposi- ção ao frio durante o inverno causará um desequilíbrio de Bad-kan, assim como sentar-se sob um sol muito quente durante o verão pode causar mKris-pa. 3. Patogênese Refere-se ao estágio de desenvolvimento da doença no corpo. Geralmente, os estágios são os seguintes: -Pele: A doença espalha-se primeiro sobre a pele. -Tecidos musculares: Depois desenvolve-se nos músculos. -Vasos: Representado por nervos, veias, artérias, vasos linfáticos. Dos tecidos musculares a doença espalha-se e circula nos vários vasos do corpo. -Ossos: Depois penetra nos ossos onde se adere. -Órgãos vitais: Representados pelo coração, pulmões, fígado, baço e rins. Durante este estágio, a doença concentra-se nos órgãos vitais. -Órgãos ocos vitais: Finalmente uma doença estabelece-se nos órgãos ocos, ou seja, estômago, intestinos, vesícula biliar, órgãos regenerativos ou bexiga. 4. Sítios Patológicos Tendo se desenvolvido através destes estágios, a doença localiza-se finalmente em um local particular do corpo, dependendo de fatores etiológicos. Há três sítios principais relacionados aos três humores: Bad-kan – região superior a partir do diafragma – mKris-pa – entre o diafragma e a pelve – e rLung – abaixo da região pélvica. 5. Trajetórias Patológicas É a rota percorrida pela doença quando se desenvolve no corpo, com relação ao humor predominantemente afetado. 14
  • 15. a) Trajetórias patológicas de rLung: Os principais caminhos de rLung envolvem os seguintes órgãos: -Ossos: um dos sete constituintes físicos -Ouvidos: um dos cinco órgãos sensoriais -Pele: uma das três excreções, aqui relacionada à sudorese -Coração: um dos cinco órgãos vitais -Cólon: um dos seis órgãos ocos b) Trajetórias patológicas de mKris-pa: Os principais cami- nhos de mKris-pa envolvem os seguintes órgãos: -Sangue: um dos sete constituintes físicos -Suor: uma das três excreções -Olhos: um dos cinco órgãos sensoriais -Fígado: um dos cinco órgãos vitais -Intestino delgado: um dos seis órgãos ocos c) Trajetórias patológicas de Bad-kan: Os principais cami- nhos de Bad-kan envolvem os seguintes órgãos: -Nutrientes essenciais, músculos, gordura, medula óssea e fluido regenerativo: entre os sete constituintes físicos -Nariz e língua: entre os cinco órgãos sensoriais -Pulmões, baço e rins: entre os seis órgãos ocos -Fezes e urina: dentre as substâncias excretadas 6. Predisposições Patológicas Referem-se aos fatores que favorecem os humores tais como grupo etário, estações do ano, clima e regiões. -Grupos etários: Idosos são mais susceptíveis a rLung, adultos a mKris-pa e crianças a Bad-kan. -Localização: Regiões frias favorecem rLung, locais muito secos predispõem a mKris-pa e a umidade favorece Bad-kan. -Clima e estação: As doenças de rLung são mais predominantes durante as chuvas de verão e o frio, ao anoitecer e ao amanhecer; mKris-pa ocorre durante os outonos ensolarados, ao meio-dia e à noite e Bad-kan predomina durante as primaveras chuvosas, no frio e na umidade das manhãs e do anoitecer. 15
  • 16. Métodos de Diagnóstico Há três métodos principais de diagnóstico: visual, toque e interrogatório. 1. Diagnóstico Visual: Envolve o exame físico, tais como língua e urina. A língua vermelha, seca e áspera na textura, com pequenos pontos vermelhos nas bordas é característica de um distúrbio de rLung. Uma camada de muco amarelado recobrindo a língua é um sinal de mKris-pa, enquanto Bad-kan é demonstrado por uma lín- gua úmida coberta de muco. A análise da urina é utilizada tanto para diagnóstico como para prognóstico. Há três estágios nos quais a amostra de urina deve ser analisada e em cada um são estudadas diferentes quali- dades. -Na amostra colhida recentemente são analisados os seguintes fatores: coloração, vapor, odor e bolhas. -Na amostra em repouso analisam-se: depósitos. -Na amostra em que a urina mudou sua coloração são analisados: período de transfomação, forma de transformação e fatores que ocorrem após a transformação. 2. Diagnóstico pelo Toque: Refere-se ao exame do pulso. A doença é identificada pelos sinais e sintomas. A relação entre estes dois pode ser comparada ao fogo e fumaça. A leitura do pulso é uma arte em si pois requer anos de familiarização com as áreas do pul- so. O pulso esquerdo de um homem é lido primeiro, enquanto na mulher analisa-se primeiramente o pulso direito. Para um paciente do sexo masculino, os dedos da mão direita do médico examinam o seguinte: Polpa digital divisão superior divisão inferior indicador coração intestino delgado 16
  • 17. médio baço estômago anular rim esquerdo órgãos reprodutores Os dedos da mão esquerda examinam o seguinte: Polpa digital divisão superior divisão inferior indicador pulmões intestino grosso médio fígado vesícula biliar anular rim direito bexiga urinária No caso de uma mulher, os dedos que examinam os pul- mões e o coração são trocados. a) Pulso constitucional: Mesmo em um indivíduo saudável o pulso é variável. Isto ocorre pois o temperamento e a predisposição individuais diferem como consequência de um desenvolvimento genético atribuído às três causas seguintes: -karma -padrões dietéticos e comportamentais da mãe -dominância do esperma e dos elementos Como resultado há três tipos de pulsos constitucionais: masculino, feminino e neutro. O pulso masculino é volumoso e grosseiro, enquanto o feminino é rápido e fino. O pulso neutro é lento e suave. b) Pulso sazonal: O ritmo do pulso muda de acordo com as diferentes estações do ano. É importante conservar este aspecto em mente durante a leitura do pulso. O pulso na primavera é por natureza fino e tenso, no verão é volumoso e longo, no outono é áspero e curto e no inverno o batimento é lento e suave. c) Pulso saudável: Um pulso saudável é aquele que bate cinco vezes, com um ritmo regular durante um ciclo respiratório ou aproximadamente 75 vezes por minuto. Os batimentos não devem ser fortes, lentos, profundos ou superficiais, vazios ou rápidos, etc. Geralmente, se durante um ciclo respiratório o pulso bate mais do que cinco vezes, isto significa um distúrbio quente e se forem 17
  • 18. detectados menos que cinco batimentos o distúrbio é considerado frio. d) Pulso doente: Para examinar o pulso de uma pessoa que está doente é importante, primeiramente conhecer aquelas carac- terísticas ou batimentos comuns às doenças quentes e frias. -Pulsos das doenças quentes – Há seis tipos principais de pulsos nestes casos: forte, superficial, arredondado, rápido, tenso e duro. -Pulsos das doenças frias – Há seis tipos: fraco, profundo, decres- cente, lento, vazio e frouxo. e) Pulso de doenças específicas: As doenças de rLung apresentam pulso superficial e vazio quando pressionado. As doenças de mKris-pa apresentam pulso fino e tenso e as doenças de Bad-kan, pulso profundo e decrescente. 3. Diagnóstico pelo Interrogatório: Envolve o questionamento do paciente sobre sua dieta, padrões de comportamento e sintomas para determinar a doença. Tratamento Uma vez diagnosticada a doença, o médico conta com qua- tro métodos terapêuticos: -dieta -padrões de comportamento -medicamento -terapias secundárias ou acessórias 1. Dieta: Muitos distúrbios que não sejam sérios e que não causem maiores problemas devem ser tratados com dieta. A qualidade, o sabor e a potência dos alimentos corrige o desequilíbrio. Por exemplo, carne envelhecida por um ano, manteiga, açúcar masca- vo, alho, cebola, leite quente, vinho, sopas, etc. corrigem doenças de rLung. 2. Padrões de comportamento: A dieta deve ser combinada com a correção de padrões comportamentais. Por exemplo, um paciente sofrendo de rLung deve permanecer em um local morno e pouco claro, deve fazer amizade com pessoas de disposição tranquila. 18
  • 19. 3. Terapêutica medicamentosa: Podem ser de alívio e eliminativas. Há cinco tipos de medicações de alívio: -decocções -pós -pílulas -xaropes -manteigas medicinais Estão incluídos também vinhos medicinais, emplastros secativos, cinzas medicinais e outros. As medicações de eliminação também podem ser de cinco tipos: -purgativas -eméticas -inalatórias -supositórios -enemas 4. Terapias secundárias: Esta linha de tratamento é indicada tam- bém para prevenção. Podem ser de três tipos, ou seja, suaves, fortes e agressivas. A terapia suave inclui técnicas de fomentação, massagem, hidroterapia e outros. As mais fortes referem-se às venisecções, à termoterapia e à acupuntura entre outras. Já as terapias agressivas envolvem a dissecção, as incisões, excisões, perfurações, suturas e outras. Farmacologia O alcance da ciência das drogas é expansivo. Trata-se de nomenclatura, sinônimos, características morfológicas, proprieda- des, ações das drogas e assim por diante. A preparação de drogas envolve a manipulação de vegetais, minerais e animais. A maioria das drogas são coletadas de plantas selvagens e requerem o conhecimento completo da origem geográ- fica e do habitat das plantas, posto que cada uma possui potência intrínseca e suas propriedades são afetadas pelo habitat geográfi- co. A coleta deve ser feita apenas em áreas onde as plantas cres- 19
  • 20. çam adequadamente. Plantas medicinais com propriedades frias devem crescer em áreas onde não fiquem expostas diretamente ao sol ou a qualquer outra forma de calor. Da mesma maneira, as plantas medicinais quentes devem ser cultivadas em áreas onde estejam diretamente expostas ao sol. As áreas cultivadas devem ser limpas, secas, suficientemente úmidas, livre de pestes e ani- mais peçonhentos e mantidas na temperatura correta. As raízes, ramos e talos devem ser colhidos durante o outono, depois de cessado o processo vegetativo. As folhas, a sei- va e as sementes devem ser colhidos durante o sétimo e o oitavo meses na época da floração, quando a fotossíntese está mais ati- va. As flores, frutas e sementes devem ser colhidas durante o verão, na época da polinização e durante o período maturativo. Cascas e secreções devem ser colhidas na primavera antes de iniciar o processo vegetativo. Geralmente, as plantas medicinais purgativas devem ser coletadas na primavera. A preparação dos ingredientes envolve processos de secagem, seleção, desintoxica- ção e neutralização. Na farmacologia não mecanicista, a preparação das drogas envolve o fortalecimento espiritual. O médico desenvolve práticas espirituais por meio das quais transforma a si próprio em uma divindade relacionada ao tipo de medicamento. Realiza então um elaborado ritual e assim a divindade fortalece a droga adicionando- lhe potências àquelas que já existiam. Basicamente, Buda ensinou que não há um único ingredien- te sobre a terra que não possua algum tipo de propriedade terapêu- tica. A dificuldade reside em conhecer quais são estas propriedades. Ao mesmo tempo, é virtualmente impossível isolar uma droga medicinal em particular e decidir que aquela é a res- ponsável pelo principal resultado terapêutico. O princípio sobre o qual tais resultados são obtidos é determinado por uma complexa interação de ações de componentes estruturais dos ingredientes em uma droga. Por exemplo, a droga Genciana-15. A genciana é especificada na nomenclatura porque é o ingrediente principal, 20
  • 21. enquanto o número 15 indica o número de ingredientes utilizados na droga. Outro aspecto importante que será mencionado é a dificul- dade em isolar drogas que possam ser indicadas para quaisquer tipos de uma doença mais abrangente. Por exemplo, no caso do câncer, no qual os médicos tibetanos têm obtido boas respostas dos pacientes que procuram tratamento, não há uma única droga que seja indicada especialmente para aquele tipo de câncer. A melhor prescrição dependerá da localização, do envolvimento de órgãos importantes, das condições gerais do paciente e das com- plicações secundárias. Um paciente com câncer abdominal, entre- tanto, será tratado com medicamentos inteiramente diferentes daqueles indicados para um câncer de fígado. 21
  • 22. A PRÁTICA E A TEORIA DA TERAPÊUTICA NA MEDICINA TIBETANA Extraído do Tantra Explicativo Dr. Barry Clark Introdução O artigo a seguir é uma tradução da Seção sobre Terapêuti- ca e abrange quatro capítulos do Tantra Explicativo. Este Tantra em particular contém um sumário detalhado dos principais aspectos do sistema médico tibetano tradicional. Seus procedimentos diagnósticos têm se tornado relativamente famosos. Sobre este aspecto, no que diz respeito à patologia, às regras die- téticas e aos fatores comportamentais alguma coisa tem sido escri- to em inglês, mas quase nada surgiu até agora para explicar os princípios básicos nos quais o tratamento é realmente efetuado. Os capítulos que seguem revelam as contingências gerais para todas as grandes categorias de doenças sindrômicas e os significados estão ilustrados por metáforas e similares distintos. Em nenhuma parte os efeitos terapêuticos dos sabores e das potências de determinadas substâncias são melhor compreendidas do que no sistema médico tibetano e aqui são citados muitos exemplos específicos, juntamente com instruções detalhadas para equilibrar as energias sutis do corpo de acordo com fatores com-  Os “Quatro Tantras” ou “Gyud-bzhi”, a obra mais fundamental e importante da literatura médica tibetana, contém de forma condensada, a essência de todos os ensinamentos da medicina tibetana. Ainda não traduzido completamente para uma língua Ocidental, é dividido em quatro tratados: Tantra Raiz, Tantra Explicativo, Tantra da Instrução Oral e Tantra Final. 22
  • 23. portamentais e ambientais. A seção sobre as terapias para perda e ganho de peso descreve dietas apropriadas e fatores medicinais, jejum e evacuação. O capítulo final contém seções detalhadas e resumidas sobre o tratamento dos desequilíbrios dos humores corporais atra- vés da abordagem quádrupla tradicional de dieta, comportamento, medicamentos e terapia acessória. Estes devem ser administrados de maneira gradual, isto é, cada um dos quatro é aplicado sucessi- vamente apenas quando o precedente se provou inadequado. Os métodos terapêuticos recomendados para desequilíbrios humorais duplos ou triplos também estão incluídos e em geral consistem de combinações entre as terapêuticas apropriadas para distúrbios humorais simples. Que esta breve apresentação das palavras de Buda, manti- das em forma de diálogo, sirva para ajudar a aumentar o interesse no assunto da medicina tibetana, até o momento em que todos os seus ensinamentos nos Quatro Tantras possam ser claramente e corretamente apresentados ao mundo. O diálogo se mantém por cento e cinquenta e seis capítulos. Capítulo 27 Então o sábio Yi le' Kye perguntou: – "Oh mestre, sábio Rig Pai Yeshe, como posso aprender o princípio da terapêutica? Poderia o Rei dos Médicos explicar, por favor?" Disse o mestre: – "Oh grande sábio, ouça. Uma vez diagnosticada a doença, com relação ao tratamento, devo apresentar os princípios da tera- pêutica (que são dois): técnicas terapêuticas e medidas medica- mentosas. Primeiramente devo apresentar os procedimentos terapêuticos. Apesar de certamente existirem incontáveis medidas medicamentosas, utilizá-las sem as técnicas terapêuticas é como atirar flechas no escuro. Esta (seção) possui três partes: 1. Técnicas Terapêuticas Gerais 23
  • 24. 1.1. O método de cura: Qualquer tipo de distúrbio de rLung, mKris- pa, etc. deve ser eliminado de sua localização na época de acumu- lação. Caso não se proceda desta forma nos distúrbios de rLung, ao chegar a época das chuvas, quando estas doenças aumentam e se desenvolvem (fortalecem), surgem conseqüentemente os dese- quilíbrios de outros humores. Deve-se portanto tratá-los (por exemplo) através de compostos, supositórios ou por pacificação, que não alterem os demais (humores). Entretanto, se outras doen- ças humorais são produzidas, então deve-se tratar aquela mais predominante (primeiramente) seguido pelo tratamento dos outros desequilíbrios humorais secundários. 1.2. O tratamento curativo: São os medicamentos para pacificação e para eliminação. Na época de acúmulo (de rLung) deve-se pacifi- car (a doença) enquanto que na época de amadurecimento (por exemplo, nas monções) deve-se tratá-la com medicamentos para eliminação. Na época de pacificação (por exemplo, de rLung), o médico deve ser cuidadoso com relação à dieta e aos padrões comporta- mentais de forma a não desequilibrar (os demais humores). Entre- tanto, quando circunstâncias e condições (correspondentes estão presentes) fora da época, (ocorrerão, às vezes) acúmulo e amadu- recimento dos distúrbios (humorais). Como é difícil tratar (um dis- túrbio humoral) uma vez passada sua época, deve-se curá-la imediatamente (através de medicamentos). O tratamento deve ser administrado de 24 em 24 horas, de acordo com as refeições e aplicado discriminadamente de acordo com a doença (isto é, nos horários em que o desequilíbrio humoral está em seu pico). Há dez métodos de administrá-lo. O medicamento deve ser administrado: 1) quando o estômago está vazio (no começo da manhã); 2) imediatamente antes da refeição; 3) no meio da refeição; 4) imediatamente após a refeição; 5) entre os bocados de alimentos; 6) em seguida à digestão; 24
  • 25. 7) em nenhum momento (específico), ou seja, repetidamente em pequenas doses, como indicado, por exemplo, na asma brônquica; 8) misturado com o alimento (como no caso da anorexia); 9) imediatamente antes e imediatamente depois de uma refeição (como no caso de soluços) ou 10) à noite, ao deitar-se (quando a refeição noturna já foi digerida, por exemplo, para doenças localizadas acima da garganta. Administrar medicamentos para todas as (doenças) em horários não correspondentes (aos desequilíbrios humorais) e (apenas) quando a digestão já ocorreu é um sistema insensato e seria difícil combater o coração da doença (portanto, a administra- ção do medicamento nos horários apropriados) é como distinguir entre pontos (pretos e brancos). 1.3. Extensão do tratamento: Sempre que o tratamento para qual- quer doença for instituído e o paciente apresentar muito escarro ou muco, com sensação de peso no corpo, anorexia, indigestão, res- secamento do fluxo (dos constituintes corporais e das excreções) ou decomposição (das excreções), eliminação irregular de fezes e urina, debilidade e fraqueza da voz, estes são sinais de que a doença (ainda) não foi curada completamente (ou que não está sendo acumulada para que o tratamento seja capaz de eliminá-la), e toda vez que uma doença é pacificada, surgem sinais contrários a estes citados acima. (Até que a doença seja eliminada, deve-se insistir firmemente com o) tratamento e uma vez que isto ocorra, não devem ser aplicadas terapias supérfluas. 2. Técnicas Terapêuticas Individuais 2.1. (Qualquer patologia) acompanhada de indigestão: Quando o calor digestivo está reduzido, os alimentos sólidos e líquidos (nutrientes) não serão digeridos. Assim, esta indigestão combinada com (distúrbio humoral de) rLung ou outro, mistura-se com os obje- tos da lesão (ou seja, os sete constituintes corporais e as excre- ções). Deve-se portanto administrar o medicamento para amadurecer a doença ou para aumentar o calor digestivo e assim reduzir o problema. Quando surgem os sinais de que isto ocorreu, 25
  • 26. deve-se eliminar a doença através de sua localização mais próxi- ma (isto é, um emético se estiver localizada na região superior do corpo e através de purgação se localizada na região inferior). Se surgirem vômitos ou diarréia, estes processos não devem ser bloqueados com medicação. Até que a doença tenha amadurecido não se deve aplicar purgativos, pois resultará em desequilíbrios humorais que se combinam com os constituintes corporais, prejudicando-os. (Isto pode ser comparado, por exem- plo, a espremer o líquido dos grãos da cerveja antes que tenham fermentado, ou seja, estragaria os grãos). 2.2. Desequilíbrios humorais simples: Com relação a tais distúrbios não acompanhados por indigestão, a causa é gerada por um ata- que inicial de um desequilíbrio de rLung causado por fatores com- portamentais não saudáveis seguido pelo ataque de outros distúrbios. Se (condições precipitantes) dietéticas e comportamentais não estiverem presentes na época do ano, (quando o distúrbio humoral simples) surgiria naturalmente, então o distúrbio se acu- mulará em sua própria localização (natural), permanecerá por um longo tempo e não adquirirá força (não se manifestará). Por exem- plo, é como um conflito entre rivais: o mais fraco não retaliará até que tenha encontrado ajuda de outros. (Da mesma forma), quando as condições precipitantes forem encontradas, o distúrbio adquirirá força e se manifestará a partir de sua localização. Antes (do início de outros desequilíbrios), ocorrerá um distúrbio de rLung e por este motivo os outros humores serão perturbados. Quando (os fatores dietéticos e comportamentais adequados) reduzirem o distúrbio de rLung, o mKris-pa digestivo (ganhará força) e quando (o distúrbio anterior – rLung – que não estava amadurecido) amadurecer, será como vento dispersando o último. (Este vento ou rLung) deve ser interrompido de tal forma que a doença possa ser acumulada inter- namente. Por exemplo, é como acabar com o vento para permitir que a chuva caia. 26
  • 27. O próximo passo é eliminar (o distúrbio através de purgação ou emese) utilizando o percurso mais próximo. Se não for capaz de coletar a doença internamente, nos membros e em regiões exter- nas, quando a mesma foi disseminada, deve-se realizar externa- mente uma venisecção nas “entradas das veias” e também “limpá- las por dentro”. 2.3. Doenças combinadas, ou seja, duplas ou triplas: São distúr- bios (humorais) acompanhados por uma doença secundária. Por exemplo, quando (mKris-pa) eleva-se de sua localização natural (pela força de rLung) e penetra em outro sítio (por exemplo, de rLung), ele retorna para sua localização anterior para prejudicar e alterar (o rLung que lá se instalou). Quando a força (de rLung) diminui, deve-se tratar (o distúrbio de mKris-pa em sua própria localização). (Mas se rLung) adquirir força posteriormente, por estar sendo tratado este distúrbio secundário, a doença primária de mKris-pa localizada em seu próprio sítio será curada sem necessi- tar tratamento. Por exemplo, é semelhante ao chefe que confia em um assistente, (um cúmplice para cometer um roubo. Se o conspi- rador principal for dominado, é fácil levar a melhor sobre o cúmpli- ce). 3. Técnicas Terapêuticas Específicas 3.1. Se o médico falhar em definir (a natureza da doença) e se encontrar dúvidas, deve-se tratar experimentalmente a doença indeterminada, da maneira como um gato permanece na espera (por um rato), se suspeitar de um distúrbio de rLung, administre apenas medicamentos para rLung em pequenas doses e então  A técnica da venissecção consiste na retirada de algumas gotas de sangue de pontos específicos, após a separação do sangue impuro com medicamentos apropriados. É um ato médico extremamente bené- fico no tratamento da obesidade, dos processos infecciosos, nos ede- mas, processos dolorosos, gota, úlceras e doenças hematológicas, observadas as contra-indicações. Se estudado corretamente sob supervisão de médicos tibetanos, pode ser utilizado com grandes benefícios no Ocidente. 27
  • 28. faça as alterações no tratamento se as condições não responde- rem. 3.2. Quando se diagnosticou (a doença), determinou-se sua natu- reza e estando o médico convencido daquilo que deve tratar (a doença), de uma maneira direta, deve ser como hastear uma ban- deira no topo de uma montanha. 3.3. Se a medida tomada não atacou a doença, o médico deve seguir seu caminho e tratar da maneira como se treina um cavalo a ter fôlego para vencer uma corrida. De acordo com a razão pela qual o tratamento não realizou sua função, deve-se amadurecer, acumular ou separar os elementos da doença. 3.4. Tendo examinado porque o tratamento anterior do paciente foi inadequado, excessivo ou errôneo, o médico deve tratar a doença como um pescador fisgando seu peixe (isto é, de uma maneira precisa e direta, após determinar quais) falhas (das três acima) afetou o tratamento anterior. 3.5. No caso de uma doença séria, deve-se aplicar fatores dietéti- cos e comportamentais, medicamentos e terapias acessórias, ou seja, tratar com medidas terapêuticas poderosas, como alguém que luta (para eliminar) seu inimigo ao encontrá-lo em um desfila- deiro estreito. 3.6. Se o distúrbio é leve, deve-se aplicar gradualmente as terapias dietética, comportamental, medicamentosa e acessória, uma de cada vez, ou seja, deve-se tratar a doença como aquele que sobe uma escada degrau por degrau. 3.7. No caso de um distúrbio humoral simples, assim como o herói subjuga seu adversário (de maneira direta e sem erros), deve-se tratar com compostos que não prejudiquem os outros humores. 3.8. Nos distúrbios (que envolvem) desequilíbrios humorais duplos ou triplos, deve-se tratar de um modo equilibrado, ou seja, como um árbitro que resolve uma contenda entre inimigos. 3.9. Em todos os casos relacionados com os objetos da lesão, devem ser aplicados dez fatores e o tratamento deve ser de acordo 28
  • 29. com o nível (da doença), ou seja, como a carga de um dzo ou a carga de um carneiro (pois estas não devem ser trocadas). Da mesma maneira, medicamentos suaves devem ser administrados para uma patologia leve e um medicamento poderoso deve ser administrado para uma doença grave. Assim foi dito. Desta maneira, o capítulo 27 expõe as terapêuticas gerais do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos. Capítulo 28 Então o sábio Yid Les Kyes perguntou: – "Oh Mestre sábio Rig Pai Yeshe-la, após ensinar-nos resumidamente que as técnicas terapêuticas específicas possuem nove aspectos, qual sua (explicação) extensiva e detalhada? Oh Supremo Rei dos médicos, por favor, explique-nos isto." E assim foi dito. O Mestre respondeu: – "Oh grande sábio, ouça. 3.1. Se estiver em dúvida quando analisar os sintomas de uma doença, o médico deve curar “como um gato caça um rato”: Por exemplo: No caso de um distúrbio de rLung, deve-se administrar a sopa de tornozelo de carneiro como prova. No caso de um distúrbio de mKris-pa, deve-se utilizar uma solução de Swertia chirata como prova. Em um distúrbio de Bad-kan, deve-se aplicar os três sais de rocha (em forma de decocção). Como prova para infecções parasitárias ou para doenças gástricas e do intesti- no grosso deve-se aplicar o composto Garuda-5. Como prova nas doenças do sangue e (neuralgia) a decocção de Iris germanica com quatro ingredientes deve ser utilizada. No caso de distúrbios causados por compostos venenosos, deve-se administrar um com- posto acumulador (por exemplo, decocção coletora de 13 ingre- dientes). Na combinação de distúrbios frios e quentes, deve-se  Resultado do cruzamento do iaque com a vaca. 29
  • 30. considerar sua própria experiência como prova (por exemplo, fato- res dietéticos e comportamentais com os quais esteja familiariza- do). Para checar a indicação do uso de um laxante, deve-se admi- administrar a decocção sNa-Sel-Khrog ("roncos suaves"). Como prova (para confirmar se é apropriado) aplicar moxabustão, deve- se utilizar uma fomentação de óleo quente. Da mesma forma, como prova para a aplicação de venissecção, deve-se aspergir água fria ou aplicar uma pedra fria. Para testar a presença de secreção purulenta, deve-se perfurar com uma cureta-oca-quente (instrumento cirúrgico). No caso de outras doenças de diagnóstico duvidoso (ou suspeito), como prova, deve-se recorrer à administração de pequenas quantidades dos compostos medicamentosos apropria- dos. Em todos os casos de combinação e semelhança de duas doenças (humorais) o médico deve fazer a comparação do distúr- bio através da administração do remédio (apropriado), que seja de importância primordial para tratar (a doença). O médico deve manter-se cauteloso, mais do que explícito (em um esforço calmo para definir a natureza da doença). Às vezes deve-se falar em termos dissimulados, melhor que fazer pronunciamentos claros. 3.2. “Como içar uma bandeira no pico de uma montanha”: Uma vez definindo e estando convencido da natureza da doença, pode-se estabelecer quais as causas e condições que a produziram e depois qual a natureza e a localização que a doença adotará nos seus estágios finais. O médico pode então afirmar como a doença deve ser tratada e qual o período de tempo será necessário para efetuar a cura. Entretanto, se a cura não for possí- vel, deve-se revelar o momento da morte (se for iminente). Estes diálogos que tornam os fatos conhecidos para todos assemelham- se à bandeira tremulando sobre o topo da montanha. 3.3. “Como quem conduz um cavalo selvagem ao longo do cami- nho desejado”: 30
  • 31. Se o medicamento não dominar a doença, será difícil para o primeiro entrar no caminho desejado (isto é, da cura). Medicamen- tos frios administrados como tratamento para uma febre não ama- durecida agirão sobre seus cúmplices (ou seja, rLung e Bad-kan) e ,ao elevar estes outros dois, eleva-se a febre em si. Por conseguin- te, estes cúmplices, rLung e Bad-kan, devem ser separados pela decocção (de Iris germanica-4 e outras). Doenças do sangue (combinadas com) o sangue constitucional puro são semelhantes à mistura de água e leite. Portanto, deve-se separar o sangue resi- dual através da administração da decocção dos três frutos do mirabólano, assim como se procede para ser possível realizar uma venissecção. Se não os separar desta maneira, o procedimento resultará em distúrbio dos constituintes corporais. Por exemplo, em casos de infiltração de Bad-kan marrom e febre por toxinas, deve- se coletar a doença para erradicá-la. Se a doença não for coletada, as medidas terapêuticas posteriores irão dispersar a doença novamente ao invés de curá-la. Em casos de febre oculta, deve-se primeiramente remover a camada fria assentada por rLung ou Bad- kan através de medicamentos fortes que aqueçam. Isto é necessá- rio, pois do contrário, por causa dos fatores frios, a febre não res- ponde favoravelmente à medicação fria. Em todos os casos de indigestão, deve-se amadurecer a doença ou administrar medicamentos que induzem ao aquecimen- to. Quando obtém sinais de que dominou o pico da doença, deve- se purgá-la através do caminho mais próximo (isto é, com purgati- vos ou eméticos, como for apropriado). Um purgativo preliminar erradica todas as doenças, porém se não for capaz de eliminá-la com este procedimento, será como a água que se encontra com o gelo (assim como o gelo não será derretido, a doença não será disseminada). 3.4. "Como um Rei pescador": Quando um paciente foi tratado previamente por outro médico, e sua patologia não respondeu ao tratamento por medica- ção excessivamente forte, inadequada ou errada, deve-se exami- 31
  • 32. nar completamente, porque nenhuma recuperação aconteceu. Se a doença não foi pacificada em conseqüência de tratamento inade- quado, deve-se administrar um medicamento mais forte. No caso de tratamento errôneo, que permitiu que a doença se desenvolves- se mais, deve-se mudar o composto. Se o tratamento anterior foi muito forte, surgiu uma doença secundária, e portanto deve-se eli- miná-la com a medicação apropriada. 3.5. "Encontrando o inimigo em um desfiladeiro": No caso de doenças envolvendo uma febre alta, deve-se aplicar o medicamento denominado "quatro águas" e (venissecção na veia conhecida como "pequeno ponto" são), respectivamente, as "águas" da terapia medicamentosa e acessória. O jejum é a "água" da terapia dietética e permanecer em local frio é a "água" da terapia comportamental. No caso de uma doença fria grave, deve-se "acender os quatro fogos": o “fogo” da terapia medicamentosa é um composto com todos os tipos de ingredientes que induzem ao aquecimento, enquanto que o “fogo” da terapia acessória é o moxabustão. Ali- mentos fortemente aquecedores e nutritivos constituem o "fogo" da terapia dietética, enquanto permanecer em locais aquecidos ves- tindo roupas quentes constituem o "fogo" dos fatores comporta- mentais. Se o tratamento não for aplicado desta maneira, a doença se desenvolverá colocando em risco a vida do paciente. 3.6. "Subindo degrau por degrau uma escada": Nas doenças leves, deve-se primeiro recorrer cautelosa- mente aos fatores comportamentais. Se a doença não for elimina- da, deve-se determinar quais os alimentos benéficos e quais os prejudiciais, administrando-os de acordo. Se este procedimento não aliviar o problema (deve-se avaliar) qual a medicação, com poder frio ou com poder quente, é benéfica e administrar (adequa- damente). No caso destes métodos não erradicarem a doença,  Linguagem figurada referindo-se ao poder refrigerante comum em todos os quatro ingredientes do medicamento. 32
  • 33. deve-se retirar a doença de sua localização através da terapia acessória. 3.7. "Como o herói que vence o inimigo": Este é o caso de todas as doenças humorais simples de rLung, mKris-pa ou Bad-kan, quando são eliminadas com o trata- mento apropriado, sem produzir nenhuma outra doença secundá- ria. Quando o médico falha na compreensão deste fato, quaisquer das doze reações de desequilíbrio pode ocorrer. Quando um trata- mento errado falha em aliviar a doença em si, será criada uma doença secundária; por exemplo, ao utilizar dieta e medicamentos com sabor amargo e picante em um distúrbio de rLung, esta não será aliviada e resultará em uma reação de desequilibrio de Bad- kan e mKris-pa, respectivamente. Ao utilizar medicamentos e dieta com sabor salgado e picante em uma doença de mKris-pa, esta não será aliviada e surgirá um desequilíbrio de Bad-kan e rLung, respectivamente, em virtude destes dois sabores. Medicamentos e dieta com sabor amargo e salgado administrados em uma patolo- gia de Bad-kan falharão em eliminá-la e provocarão reações de desequilíbrio de rLung e mKris-pa respectivamente. Através da combinação de tais condições insalubres, será produzida uma reação de desequilíbrio humoral triplo, enquanto que uma medicação e dieta excessivamente fortes aliviarão a doença mas não sem gerar uma condição secundária posterior. Por exemplo, medicamentos, dieta, etc. extremamente doces e salgados aliviarão rLung, mas produzirão respectivamente dese- quilíbrios de Bad-kan e mKris-pa . Além disso, medicamentos, etc. com sabores azedos e picantes aliviarão Bad-kan e elevarão res- pectivamente rLung e mKris-pa. Compostos doces e amargos ali- viarão mKris-pa e produzirão respectivamente Bad-kan e rLung. 3.8. “Como um chefe resolve contendas”: Nas doenças humorais duplas e triplas, deve-se administrar um medicamento equilibrado que possua poderes mornos e frios em sua combinação, por exemplo, Terminalia chebula e exsudato mineral possuem geralmente um efeito medicamentoso balancea- 33
  • 34. do sobre as doenças humorais combinadas. Em tais casos, os ingredientes suplementares individuais recomendados devem ser adicionados de acordo com a localização e a natureza humoral, etc. fundamental da doença. Os ingredientes adicionais recomendados em cada caso são os seguintes: Myristica fragrans, nos distúrbios cardíacos; resina do bambu para os pulmões; Crocus sativus para o fígado, Syzigium aromaticum para o canal vital, Elletaria cardamomum para os rins, Amomum sabulatum para o baço e Punica granatum e Piper longum para o estômago. Deve-se adicionar Swertia chirata e pepino amargo nos casos de distúrbio de mKris-pa secundário; Myristica fragrans, uma planta menispermácea e sopa dos três tipos de ossos para doen- ças de rLung; Iris germanica, Coriandrum sativum e Chaeromeles tibetica para Bad-kan; Adhatoda vasica e Picrorhiza kurroa para distúrbios do sangue; resina de Shorea robusta, Cassia fetida e Cannabis indicadas para doenças da linfa e almíscar e resina de Baellium indiana para infecções e distúrbios causados por espíri- tos. Estes ingredientes adicionais devem ser compostos con- forme a necessidade, de acordo com a doença e seus sintomas. Quando quaisquer destas condições forem combinadas, não importa quantas sejam, todos os ingredientes suplementares adi- cionais devem ser administrados. Em casos de doenças combina- das duplas ou triplas, conforme os humores estejam igualmente desequilibrados ou se um ou mais predominam, devem ser adicio- nados os ingredientes suplementares apropriados ao medicamen- to, de acordo com o humor ou humores predominantes. Ou trata-se alternativamente o humor mais desequilibrado previamente, tratan- do-se os outros em seguida, ou remove-se a doença de uma vez com o medicamento que se opõe diretamente. Por exemplo, a febre de mKris-pa deve ser eliminada ao meio-dia e à meia-noite, ou seja, aplicando-se medicamentos e fatores dietéticos com pode- res frios nestes horários de febre. Ao anoitecer e pela manhã, 34
  • 35. antes de fazer qualquer atividade, deve-se manter o calor digestivo e tratar qualquer desequilíbrio frio de Bad-kan com medicamentos e fatores dietéticos quentes. À noite e por volta do amanhecer deve-se cuidar de rLung, ou seja, respondendo imediatamente ao mais leve desequilíbrio de rLung com medicamentos e fatores die- téticos nutritivos com poder de aquecer. Se um humor eleva-se excessivamente, ele antagonizará os restantes dois humores como um filho que sobrepuja seus dois irmãos pelo seu maior poder e riqueza. Porém, se um humor se reduz, isto deveria ser corrigido assim como uma má esposa (que se tornou má apenas por desleixo). Portanto, deve-se eliminar as elevações e reduções de quaisquer humores e restaurá-los a um estado de equilíbrio. Os constituintes corporais são como materiais de produção e não devem ser desperdiçados. Uma vez que o estômago é como um campo, deve-se manter o calor digestivo. Assim, aquele que compreender estes princípios se tornará um médico. 3.9. "Não colocando a carga de um dzo sobre um carneiro e vice- versa": Através dos dez objetos do distúrbio (os sete constituintes corporais e as três excreções), do ambiente, das estações do ano (e horas do dia), da natureza humoral, vigor e hábitos da pessoa, sua idade, dos elementos naturais do distúrbio e do calor digestivo deve-se examinar minuciosamente os sintomas mais sutis. Se estes são todos semelhantes em sua natureza, deve-se administrar uma terapia medicamentosa forte que seja apropriada. Se não for o caso, deve-se aplicar uma dosagem moderada e conveniente. E assim foi dito. Este foi o vigésimo-oitavo capítulo expondo as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos da Cura. Capítulo 29 Então, o sábio Rig Pai Yeshe-la falou o seguinte: 35
  • 36. – "Oh grande sábio, ouça. Embora as técnicas terapêuticas sejam numerosas, elas são agrupadas em dois tipos: gerais e específicas. Com relação às técnicas gerais, há dois objetos de cura e, portanto, dois métodos terapêuticos. Os dois objetos de cura são: aqueles que necessitam adquirir vigor devem ganhar peso e os demais que estão acima do peso devem perdê-lo através do jejum. O ganho de peso requer cinco fatores: 1. O objeto (o paciente) 2. O método (os meios utilizados) 3. As vantagens 4. As falhas (pelo uso excessivo) 5. As técnicas (para tratar este último) Com relação ao objeto, quando o paciente está gravemente afetado por um desequilíbrio de rLung ou com uma deficiência dos constituintes corporais, nos casos de cansaço em recém casados, hemorragia pós-parto, lesão perfurante do pulmão, na velhice, na perda do sono, no ascetismo, tristeza, cansaço após exercícios ou no verão, o tratamento para ganho de peso deve ser aplicado inva- riavelmente. Este deve ser feito a partir de uma dieta nutritiva com carne de carneiro, açúcar de cana bruto, açúcar branco, manteiga, leite, iogurte, cerveja de grãos, etc. Com relação à medicação, deve-se administrar uma manteiga medicinal adequada para o dis- túrbio. As terapias acessórias como supositórios, banhos medici- nais e massagens devem ser aplicados, enquanto que o ganho de peso pode ser adquirido por meio de fatores comportamentais tais como dormir, relaxar e conservar a mente feliz. Através destes meios adquire-se vigor e todas as doenças são eliminadas. E então, do mesmo modo que alguém abusa no ganho de poder (e produz efeitos por seus abusos), o uso excessivo dos métodos acima produz obesidade e conseqüentemente desenvolve úlceras, crescimentos tumorais, embotamento mental, disúria, pre- sença de muco na garganta e elevação de Bad-kan. Nestes casos, os fatores dietéticos e a medicação para reduzir Bad-kan e gordura 36
  • 37. serão benéficos. Por exemplo, A resina de Baellium indiana, exsu- dato mineral e a casca da Berberis em um composto concentrado com mel removerá todos os tipos de obesidade. Outra alternativa é a composição dos três frutos da Terminalia chebula com mel ou gengibre selvagem, hidróxido de potássio, Embelia ribes, Emblica officinalis e farinha de cevada não torrada adicionados ao mel removerá a obesidade. Portanto o ganho de peso deve ser mode- rado uma vez que é melhor permanecer magro. A perda de peso envolve cinco fatores: 1. O objeto (o paciente que necessita perder peso) 2. O métodos (através dos quais o peso será reduzido) 3. Os benefícios 4. As falhas (com a aplicação excessiva) 5. As técnicas terapêuticas (para tratar o último) Com relação ao objeto a ser tratado, nos casos de indiges- tão (daquele que se alimenta habitualmente de dietas gordurosas), nas doenças de rLung manifestada com "rígidez da coxa", febres infecciosas, micção excessiva, úlceras internas, gota, reumatismo, doenças do baço, doenças da laringe, distúrbios cerebrais, doen- ças cardíacas, diarréia febril, vômitos, torpor, anorexia, constipa- ção, retenção urinária, obesidade, distúrbios linfáticos e síndromes combinadas mKris-pa/Bad-kan graves, se o paciente é um adulto forte, o tratamento deve ser através do jejum durante o inverno (por três dias). A medicação nestes casos é de dois tipos: pacificação e purgação. A pacificação requer o equilíbrio dos elementos de rLung, mKris-pa e Bad-kan perturbados, através de uma combinação de fatores dietéticos e comportamentais, medicamentos e terapia acessória. Se o paciente está debilitado, ele deve abster-se de ali- mentos sólidos e líquidos por três dias e depois disso, ingerir pequenas quantidades de alimentos leves, de fácil digestão. Se o paciente possui um vigor moderado, (ele deve jejuar) e deve-se prescrever decocções, pós medicinais, etc. e quaisquer composi- ções que sejam benéficas para a produção de calor e amadureci- 37
  • 38. mento de Bad-kan. No caso de uma pessoa forte, o tratamento deve ser como descrito acima acompanhado de exercícios este- nuantes durante a noite e o dia, assim como terapias acessórias como sudoríficos, moxabustão, fomentação, embrocação e venis- secção. A evacuação é realizada através do amadurecimento da doença e sua eliminação. Se a doença localiza-se na fase pré- digestiva (isto é, no estômago), a eliminação deve ser feita através de uma composição emética, enquanto que se estiver na fase pós digestiva, deve-se expeli-la através de enema. Se a doença estiver disseminada, como no caso de uma moléstia dos canais, deve-se aplicar um purgativo ou um limpador dos canais. A pacificação e a evacuação reduzem o vigor, mas os bene- fícios dos mesmos são o clareamento dos órgãos dos sentidos, luminosidade física, um apetite saudável, energia em todas as ações, sede e fome equilibradas e fácil eliminação das fezes e gases intestinais. A aplicação excessiva destes métodos desgasta os consti- tuintes corporais, gera enfraquecimento, vertigem, insônia, embo- tamento da compleição, rouquidão, debilidade dos sentidos, sede, anorexia, dor na panturrilhas, nas coxas, no cóccix, costelas, cora- ção e crânio, crises de febre contagiosa, náuseas e distúrbios de rLung. Nestes casos, todos os métodos para ganho de peso serão benéficos, em especial, o paciente deve ingerir carne de animais carnívoros, aplicar supositórios e dormir estando com a fome saciada. Portanto, o indivíduo ganhará peso até ficar rechonchudo. Para aquele que necessita ganhar peso não há nada mais vitali- zante que a carne. Resumindo, não se deve fazer nada que reduza o vigor daquele que adquiriu peso (pelos métodos acima). Entre- tanto, se a terapia de eliminação provar ser necessária, deve ser utilizado apenas um laxante suave. Se a perda de peso é obrigató- ria, deve-se evitar a terapia para aumento de peso, mas no caso de uma elevação de rLung, se os demais humores estiverem reduzi- dos, deve-se aplicar a terapia de ganho de peso. O método de tra- 38
  • 39. tamento será o mesmo quando qualquer constituinte corporal e seu humor relacionado estiverem elevados ou reduzidos (exceto no caso de rLung, onde o tratamento é o mesmo se rLung eleva-se e o constituinte corporal se reduz ou vice-versa). Este foi o vigésimo-nono capítulo, apresentando dois méto- dos terapêuticos do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos. Capítulo 30 Então o sábio Rig Pai Yeshe disse o seguinte: – “Oh grande sábio ouça; o ensinamento quanto ao trata- mento de desequilíbrios específicos dos três humores é o seguinte: Nas doenças de rLung combinadas, o óleo de gergelim é superior (quando ingerido, além de tratar o desequilíbrio) com fato- res dietéticos pesados, oleosos, macios, geradores de calor, assim como o açúcar de cana bruto, a cerveja de grãos, manteiga enve- lhecida, carne de carneiro estocada há um ano, carne de marmota, cavalo, macaco, alho e cebola, etc. Quanto aos fatores comporta- mentais, deve-se permanecer em locais aquecidos e tranquilos, ouvir conversas agradáveis em companhia de pessoas amigas, dormir e vestir roupas quentes. Com relação aos medicamentos, deve-se preparar a sopa dos três tipos de ossos nutritivos (o osso do tornozelo, do quarto traseiro e do quarto dianteiro de um carnei- ro), além da administração da sopa cujo ingrediente deve ser uma cabeça de carneiro que tenha sido conservada durante três anos, a decocção das quatro essências (carne envelhecida, cerveja de grãos maduros, manteiga envelhecida e açúcar de cana envelheci- do) e a decocção de “Assafétida-3”. O pó de Myristica fragrans e assafétida também deve ser prescrito e devem ser preparadas as sopas medicinais de manteiga clarificada, de carne de carneiro, de alho e de cerveja de grãos, as manteigas medicinais de Myristica fragrans, de alho, de acônito, de osso humano, das três frutas (Terminalia chebula, Terminalia belerica e Emblica oficinalis) e das três raízes. Tratamentos rápidos devem ser administrados recor- 39
  • 40. rendo-se a alimentos, medicamentos, etc. que possuem sabores doce, azedo e salgado, com poderes resfriantes. Recomenda-se a aplicação de um supositório de manteiga envelhecida. Como tera- pia acessória, deve-se massagear com manteiga envelhecida por um ano, aplicar fomentações nos pontos dolorosos e moxabustão nos pontos localizados no topo da cabeça, etc. e nos pontos secre- tos de rLung. Nos distúrbios de mKris-pa a manteiga fresca é superior. Devem ser tratados com carne de vaca fresca, carne de animais montanheses, águas frias, chá preto, iogurte e manteiga de leite de vaca e cabra, mingaus de cinzas e dente de leão amarelo, de grãos finos, de farinha de cevada torrada e outros alimentos com poderes frios. O comportamento recomendado exige que o paciente fre- qüente ambientes com brisas e campinas verdejantes, que perma- neça sentado sob a sombra das árvores, relaxado e tranquilo na beira de rios ou de outros locais frescos, e submeta-se à aplicação de fomentações frias, com fragrância suave. Os três tipos de medi- camentos são aqueles à base de ervas, decocções e remédios com ingredientes não nativos selecionados. De acordo com a gra- vidade de uma febre, deve-se administrar cânfora (o mais potente), Santalum album ou bile de animais (o mais suave). Resumindo, deve-se tratar as doenças de mKris-pa com sabores doces, amar- gos e adstringentes e com medicamentos de poderes frios. São recomendados especialmente purgativos de sabor doce. Como terapia acessória, o médico deve aplicar sudoríficos, utilizar uma fonte de água (ou seja, chuveiro frio ou banho sob qualquer casca- ta), proceder com venisecção de uma veia relacionada com a doença ou com aplicação de fomentação fria. Para os distúrbios de Bad-kan, o mel branco é superior. Além disto, o tratamento deve ser feito através de fatores dietéticos como carne de carneiro, de peixe, iaque selvagem, lince e abutre, assim como grãos envelhecidos, bolinhos quentes feitos de farinha de cevada, cerveja de grãos maduros, água fervida fria, decocção de gengibre e outros alimentos que aqueçam, em pequenas quan- 40
  • 41. tidades, com poderes leves. Com relação aos padrões comporta- mentais, o paciente deve aquecer-se próximo ao fogo ou sob o sol, usar roupas quentes, exercitar-se mentalmente e fisicamente em um local seco e abster-se de dormir (durante a tarde). Através dos medicamentos deve-se administrar decocções concentradas sal- gadas ou picantes e combinar as sementes da Punica granatum e Rhododendron anthopogonoides com medicamentos calcinados. Resumindo, deve-se adotar medicamentos com poderes leves, ásperos e pungentes e com sabores picantes e azedos. São reco- mendados especificamente eméticos com poderes pungentes e ásperos. Como terapia acessória, o médico deve aplicar fomenta- ções de sal aquecido, bolas de terra ou de pele de animais. Nos casos extremamente graves de Bad-kan, estão indicados moxa- bustão ou um procedimento cirúrgico para o qual se utiliza um ins- trumento semelhante a uma colher. Assim, as doenças de rLung devem ser tratadas com supo- sitórios e fatores nutritivos, distúrbios de mKris-pa, com purgação e fatores com poderes frios e as doenças de Bad-kan, através de eméticos e fatores com poderes quentes. Nos distúrbios combina- dos de rLung e mKris-pa, deve-se adotar fatores frios e nutritivos, enquanto que nas moléstias combinadas de Bad-kan e mKris-pa, o tratamento deve ser através de fatores com poderes leves e frios. Já a combinação de rLung e Bad-kan deve ser tratada com fatores nutritivos quentes, enquanto que nas patologias triplas combinadas dos humores devem ser utilizados métodos com poderes frios, nutritivos e leves. Mais essencialmente, todas as doenças quentes serão tra- tadas com fatores frios; todas as patologias fundamentalmente frias devem ser tratadas como Bad-kan. No caso de uma doença com- binada rLung-quente, o tratamento envolverá fatores oleosos; moléstias rLung-frias necessitam de fatores que aqueçam. E assim foi dito. Este é o trigésimo capítulo, apresentando as técnicas terapêuticas específicas do Tantra da Quintessência, a Tradição Oral Secreta dos Oito Ramos. 41
  • 42. UM GUIA PARA A URINÁLISE MÉDICA TIBETANA Dr. Lobsang Rapgay A tradição médica tibetana é provavelmente o sistema de medicina menos conhecido e a única ciência documentada que desfruta de uma ininterrupta continuidade há mais de 2500 anos. Originalmente, o Ayurveda, o sistema de medicina da Índia, foi pra- ticado no Tibete, e médicos tibetanos e indianos viajavam freqüen- temente entre os dois países para promover e trocar informações médicas. Assim, a partir do século 7, médicos gregos, persas e chineses visitaram o Tibete a convite de reis tibetanos para com- partilharem e ensinarem suas ciências médicas. No século 8, Yuthok Yontem Gonpo, o mais famoso médico tibetano na história da medicina, organizou o sistema tibetano atual. Um médico tibetano utiliza numerosos procedimentos diag- nósticos, incluindo a urinálise que um dos métodos mais importan- tes. O diagnóstico pela urina é originário dos gregos e esta afirmação é sustentada em numerosos textos sobre a história da medicina, inclusive pelo mais competente deles, escrito por Desi Sangye Gyatso, ministro do 5º Dalai Lama, médico, historiador e escritor. Ele cita textos antigos e um destes, o “Sutra de Manjush- ri”, afirma: “Os chineses especializaram-se na arte da acupuntura, os indianos em plantas medicinais, enquanto os gregos aperfeiçoa- ram os métodos diagnósticos (urinálise)”. A urinálise é utilizada pelo médico tibetano tanto para detec- tar um estado de saúde, como um desvio do mesmo. É utilizado rotineiramente, em associação a outros procedimentos não apenas para obter informações clínicas válidas sobre a saúde do paciente, mas também para diagnosticar patologias orgânicas, sua severida- 42
  • 43. de e o prognóstico, através de técnicas inteiramente diferentes do sistema moderno de urinálise. Urinálise Básica A urinálise é exame de rotina em todos os pacientes vistos no consultório médico e é repetido a cada visita – às vezes é necessário um exame diário por períodos que duram de uma a duas semanas, em doenças graves e específicas. Quando o médi- co não é capaz de examinar o paciente pessoalmente, o exame de uma amostra de urina é o único procedimento confiável disponível para ele. A questão sobre se um tratamento pode ser prescrito simplesmente com base na urinálise é um tema de discussão entre os médicos tibetanos. Porém, muitos médicos experientes podem fazer um diagnóstico e um tratamento completos apenas com um exame da urina (dados fornecidos e disponíveis na história da medicina). A urinálise de rotina envolve quatro procedimentos básicos: 1.Exame físico: envolve análise da coloração, odor e presença de vapor ou névoa. 2.Depósitos: envolve observação de sedimentos e formação de “mucina”. 3.Exame da amostra após transformação: momento em que ocorre a mudança, a maneira como ela ocorre e as características pós- mudança. 4.Testes para definir diagnóstico e determinar procedimentos tera- pêuticos: testes para avaliar linha de tratamento e testes para determinar intoxicação. Pré-requisitos A concentração da urina, sua aparência física e coloração variam completamente no período de 24 horas e depende parcial- mente da dieta ingerida pelo paciente e de suas atividades. Por exemplo, a ingestão de chá forte, de vegetais verdes leves, intensa ansiedade e depressão afetam a urina dando-lhe uma característi- ca rLung. Após as refeições, surgem depósitos de Bad-kan, tais 43
  • 44. como glicosúria e após intensa atividade física devem ocorrer depósitos mKris-pa, tais como proteinúria. Dependendo do fluido ingerido, as substâncias normalmente conservadas ou excretadas em pequenas quantidades devem surgir na urina em maior concen- tração e substâncias normalmente excretadas podem ficar retidas. A temperatura e o clima também afetam a quantidade de urina eli- minada e a sudorese profusa reduz sua quantidade. A ingestão de certas bebidas diuréticas, como o café, chá e álcool, a presença de tremores, nervosismo, ansiedade e fluidos endovenosos resultam em aumento na excreção de urina. Esta eliminação é significante- mente reduzida com a redução na ingestão de fluidos e com aumento do aporte de alimentos salgados e azedos. Para evitar que estes fatores influenciem na aparência e na composição da urina, um conjunto de exigências é recomendado e deve ser observado pelo menos um dia antes do exame. As princi- pais exigências são: -evitar dieta hipoproteica, chá forte e vegetais verdes leves -evitar dieta excessivamente rica e, particularmente, com excesso de alimentos oleosos e especiarias -evitar uso excessivo de carboidratos comuns, como açúcar -evitar ingestão excessiva de fluidos -evitar relações sexuais -dormir regularmente -evitar atividades físicas estenuantes -evitar situações de ansiedade e depressão tanto quanto possível. A observação destes pré-requisitos é particularmente rele- vante no caso de um paciente já habituado a quaisquer das dietas citadas. Para observá-las, ele deve procurar a orientação do médi- co. Coleta da urina Para que a urinálise produza seus resultados, a urina deve ser adequadamente colhida. O primeiro jato deve ser desprezado uma vez que, provavelmente, esteja contaminado com bactérias e 44
  • 45. produtos finais do metabolismo. O jato médio deve ser coletado e a quantidade deve preencher cerca de meia xícara de chá. A coleta inadequada pode invalidar os achados do exame, particularmente se o recipiente não estiver limpo. Recipientes Aqueles utilizados para coletar urina são específicos e devem estar completamente limpos e secos antes da amostra ser coletada. Sem estes cuidados iniciais, os resultados serão pouco significativos, se não insignificantes. Recipientes de cerâmica, por- celana ou mesmo de aço polido são apropriados. Qualquer outro recipiente, por exemplo, de barro, cobre ou ferro, não devem ser utilizados. A coloração deve ser branca, pois outras cores podem refletir-se na amostra. Varinhas Tradicionalmente, são utilizadas três varinhas retiradas das fibras utilizadas no fabrico de vassouras medindo cerca de um pé de comprimento. Um cordão é amarrado firmemente a uma pole- gada de uma das extremidades. A outra extremidade é separada para formar um triângulo de forma que a urina possa ser vigorosa- mente agitada. O uso de quaisquer varinhas de madeira prepara- das de maneira similar são perfeitamente convenientes. Horário da coleta Em geral, a primeira urina eliminada pela manhã, mais con- centrada e, portanto, mais adequada à análise. Freqüentemente, no entanto, a primeira amostra da manhã pode ser impossível de se obter. Nestes casos permite-se que seja colhida uma amostra da micção anterior ao desjejum da manhã. A primeira urina da manhã deve ser aquela eliminada após 4 horas, uma vez que qual- quer micção anterior a este horário contém, provavelmente, excre- ções renais e metabólicas em grandes proporções para o volume total de urina. 45
  • 46. Horário de exame A urina deve ser examinada tão logo possível, preferencial- mente por volta do nascer do sol. O exame deve ser feito à luz do dia e não sob luz elétrica, uma vez que a coloração da urina não pode ser observada claramente. Processo de análise De maneira diferente dos métodos modernos de urinálise, os médicos tibetanos estudam várias características físicas, tais como coloração, odor, etc., na forma de informações patológicas sobre a maioria das doenças. Há nove características principais de urina, estudadas em termos dos três estágios por que passa a temperatura da amostra. As primeiras quatro, denominadas colora- ção, odor, vapor e bolhas, são analisadas durante o primeiro está- gio, quando a urina está fresca. Quando a amostra está morna, os sedimentos e a mucina são examinados e finalmente, no estágio final, quando está fria, observa-se o momento em que a mudança ocorre e as alterações após esta transformação. 1. Exame físico Envolve a avaliação da coloração, do odor, do vapor e das bolhas quando a urina está fresca. As várias características de cada um destes aspectos e sua relação com a patologia estão categorizados formando um sistema de referência e diagnóstico altamente efetivo. 1.1. Coloração: Esta é a qualidade física mais visível da urina. É determinada principalmente pela concentração, pigmentos alimen- tares, sangue e a presença de uma patologia. A quantidade de líquidos ingerida também afeta a coloração. Durante as estações, particularmente o verão e o inverno, a coloração é afetada distin- tamente pela presença de calor no verão e pela sua ausência no inverno. Normalmente, a coloração da urina é amarela ou âmbar, principalmente resultante da presença de um pigmento amarelo, um tipo de mKris-pa. Durante o desenvolvimento da doença, a 46
  • 47. coloração da urina sofre nítidas alterações resultantes da presença de pigmentos normalmente ausentes. Pigmentos biliares podem produzir uma coloração amarela ou marrom-amarelada ou mesmo esverdeada; a hemoglobina dá uma coloração marrom- avermelhada e a melanina faz com que a urina adquira cor mar- rom-enegrecida. A coloração é normalmente diagnóstica quando correspon- de à concentração da urina. Uma amostra eliminada recentemente é normalmente transparente, mas pode apresentar uma aparência turva resultante da presença de fosfatos e carbonatos, se a amos- tra é alcalina. Patologicamente, uma coloração amarelo-avermelhada, concentrada, indica doença quente ou inflamatória, enquanto uma amostra transparente, diluída e aquosa indica doença fria ou não- inflamatória. No caso da urina não estar concentrada, quer esteja amarelada ou avermelhada, não estará indicando necessariamente uma condição inflamatória. Da mesma maneira, se a urina estiver concentrada, suas características diluídas e aquosas podem não indicar uma condição não-inflamatória. Agentes como corantes, vitaminas e mesmo os alimentos podem alterar a coloração da urina, portanto, esta pode ser fre- qüentemente duvidosa. Por esta razão, é de vital importância ava- liar a coloração patológica da urina juntamente com as demais características patológicas da mesma. 1.2. Odor: Este é basicamente afetado pelos produtos finais do metabolismo dos alimentos. A urina de um diabético pode apresen- tar um odor resultante da presença de acetona (um tipo de Bad- kan). Nas infecções do trato urinário, a urina pode ser malcheirosa por causa dos agentes infecciosos. Certos alimentos podem impor um odor característico e normalmente, nestes casos, a causa é uma indigestão. Urina com odor forte, penetrante e concentrada indica doen- ça inflamatória ou quente enquanto a ausência ou a presença de um odor mínimo significa doença não-inflamatória. 47
  • 48. 1.3. Vapor: Não é visível quando a urina está fresca e, portanto, a amostra fria de urina deve ser aquecida por um minuto ou até sua temperatura normal para que sejam estudadas as características do vapor. A qualidade do vapor e a velocidade com que desapare- ce são os principais fatores a observar. Uma grande quantidade de vapor que desaparece rapidamente indica doença inflamatória, enquanto a ausência ou uma quantidade mínima de vapor significa uma doença não-inflamatória. Uma quantidade moderada que desaparece de maneira variada indica presença de ambos os fato- res, frio e quente. 1.4. Bolhas: A maneira como as bolhas se formam, sua velocidade e a razão do desaparecimento, a coloração e a localização são fatores a serem observados. Em certas doenças, não há formação de bolhas, mesmo quando a urina é agitada vigorosamente e este sinal indica, freqüentemente, severidade da doença. Quando há dificuldade em se determinar a coloração da urina, deve-se mistu- rá-la e estudar a coloração das bolhas nas bordas do recipiente. As bolhas que surgem nas doenças inflamatórias são pequenas (do tamanho de uma cabeça de alfinete), formam duas ou mais camadas sobre a superfície e desaparecem rapidamente após serem agitadas. Nas doenças não-inflamatórias as bolhas são cheias, grandes ou pequenas, em grande quantidade e perma- necem longo tempo após a amostra ser agitada. As bolhas repre- sentam a característica mais consistente e confiável do exame de urina e, portanto, devem ser estudadas detalhadamente. 2. Análise dos depósitos 2.1. Sedimentos: Substâncias metabólicas normalmente acumula- das ou excretadas em pequenas quantidades podem surgir em grandes concentrações na urina e substâncias normalmente excre- tadas podem ser retidas. Os médicos tibetanos classificam os sedimentos de acordo com os três processos fisiológicos do corpo. Podem ser sedimen- tos de rLung, semelhantes a fios de cabelos, espalhados em quan- tidade moderada na urina, ou sedimentos de mKris-pa, com 48
  • 49. aparência de névoa e escuros, geralmente concentrados no centro da amostra de urina. Os sedimentos de Bad-kan são como partícu- las de areia, concentrados principalmente no fundo do recipiente. A quantidade de sedimentos, o local onde se localizam, a coloração e a forma indicam uma patologia específica. Geralmente, a presença profusa de sedimentos indica doença inflamatória enquanto a ausência ou uma quantidade mínima indica doença não-inflamatória. Entretanto, a mera presença de sedimentos não deve indicar necessariamente a presença de um distúrbio inflama- tório. Na verdade, a forma e o tipo de sedimentos determinam a natureza da patologia. A presença de granulações de areia, indi- cam a existência de uma doença inflamatória em primeiro plano ou é um sinal de distúrbio inflamatório secundário. 2.2.Mucina: É uma formação oleosa como a nata que permanece sobre a superfície do leite. A presença maciça de mucina indica processo inflamatório, enquanto a ausência ou uma mínima quan- tidade significa processo não-inflamatório. Sua localização, colora- ção e quantidade devem ser observadas para fins diagnósticos. 3. Exame da urina após a transformação Após um minuto ou mais, a urina recém eliminada torna-se fria e ocorrem mudanças em sua coloração e concentração. O momento em que a alteração acontece é patologicamente significa- tivo e é determinado em termos de quando a urina esfria. Igual- mente importante para o propósito do diagnóstico é a maneira como a urina se transforma ou, principalmente, se do centro para a periferia ou se do fundo para a superfície. 3.1. Momento em que ocorre a transformação: Estabelecer o momento no qual a coloração e a concentração se alteram é pato- logicamente significativo. Quando estas alterações ocorrem antes que a urina esteja fria, é uma indicação de doença inflamatória. Entretanto, quando a mudança ocorre depois que a urina esfriou, é um sinal de processo não-inflamatório. Quando a mudança ocorre simultaneamente com o resfriamento da urina, geralmente coexis- tem ambas as condições, inflamatória e não-inflamatória. A coexis- 49
  • 50. tência de ambos não significa necessariamente que um único órgão esteja afetado pelos dois processos, quente ou frio. Na ver- dade, indica que um órgão constitucionalmente não-inflamatório, tal como o rim, está acometido por um processo inflamatório. Para analisar este procedimento a urina deve ser primeiramente aqueci- da à temperatura normal. As variações sazonais, entretanto, influenciam na velocida- de e na maneira como a urina se transforma. Por exemplo, durante o inverno a urina sofre mudanças na coloração e na concentração imediatamente após ter sido eliminada, um efeito resultante da bai- xa temperatura. No verão, as mudanças ocorrem um considerável período de tempo após a urina ter sido eliminada e são ocasiona- das pela ação do calor. 3.2. Modo como as transformações ocorrem: No caso de proces- sos inflamatórios, a mudança de coloração e concentração ocorre do fundo para a superfície enquanto que nos processos não- inflamatórios as mudanças ocorrem da periferia para o centro do recipiente. 3.3. Qualidades pós-transformações: Como a amostra de urina está disponível apenas depois que já esfriou, a maioria das análi- ses clínicas são feitas em termos de características pós- transformações, ou seja, coloração, bolhas e depósitos. Cada uma das nove características da urina são altamente significantes. Elas determinam não apenas a doença específica, mas também sua cronicidade ou intensidade, auxiliando também na decisão sobre o tipo de tratamento a ser administrado. Este último dado é de vital importância, pois para cada doença há uma enorme variedade de medicamentos disponíveis. Para prescrever a correta combinação de medicamentos, o médico deve estar consciente quanto ao tipo de processo fisiopatológico envolvido, sua severidade e quanto à presença de complicações secundárias. A análise da urina fornece informações conclusivas sobre estes fatores. 50
  • 51. Entretanto, um diagnóstico preciso depende principalmente de perícia, experiência e da habilidade do médico em relacionar clinicamente seus achados, a partir de todos os procedimentos diagnósticos e da história completa do paciente. Pelo fato da urina ser tão variável e facilmente influenciável por fatores que não têm relação direta com a doença, as características da urina são enga- nosas com frequência. Conseqüentemente, a coloração da urina pode não ter qualquer relação com o atual problema do paciente. Por exemplo, influências sazonais no verão podem fazer com que a urina de doença não-inflamatória tenha uma coloração amarela. No caso de uma doença crônica como o câncer gástrico, os sinto- mas e as características da urina são freqüentemente suprimidas pelas condições mais imediatas do paciente. Como este desenvol- ve extremo stress e tensão e não é capaz de modificar sua doença, sua urina estará claramente dominada pelos sintomas de seu esta- do psicológico atual. As bolhas serão grandes, desaparecem rapi- damente e conseqüentemente o médico que não obtiver a história médica completa fará um diagnóstico incorreto deixando sem defi- nição o problema real da pessoa. A orientação para os iniciantes é observar tantas corres- pondências quantas forem possíveis nas características da urina. Por exemplo, se a coloração estiver alterada mas não concordar com os achados quanto à concentração, bolhas e sedimentos, o diagnóstico deve ser feito com base na conformidade de caracte- rísticas principais. Inicialmente, no treinamento para fazer uma análise da urina, a avaliação em termos dos três processos fisiopa- tológicos é absolutamente essencial. O primeiro dos três, rLung (atividade humoral), está associado com as funções do sistema nervoso central e periférico; mKris-pa (energia humoral), está rela- cionado com os sistemas endócrino e secretório e Bad-kan (estru- tura humoral), com os sistemas digestivos e de fluidos corporais. Cada um destes três são identificados fisiologicamente com órgãos específicos, tecidos e mecanismos do corpo e, portanto, ser capaz de determinar seu envolvimento e patogenicidade no processo da 51
  • 52. doença significa fornecer dados para atingir um diagnóstico corre- to. Tomemos como exemplo uma amostra que apresenta uma uri- na transparente, de coloração aquosa, com bolhas grandes, em pequena quantidade que desaparecem instantaneamente após a agitação. O tamanho das bolhas, sua transparência e coloração indicam uma patologia de rLung. No entanto, a pequena quantida- de de bolhas e seu rápido desaparecimento indicam claramente a presença de um processo inflamatório. Clinicamente, há dois locais normalmente associados com tais características do exemplo acima, o estômago e os rins. O estômago como sítio patológico neste caso está instantaneamente excluído, pois a natureza diluída e aquosa, assim como as bolhas esparsas indicam claramente um envolvimento do rim. Isto ocorre porque apesar dos dois órgãos serem intrinsecamente sítios de Bad-kan, o rim é predominantemente um órgão Bad-kan fluido enquanto o estômago é um órgão Bad-kan sólido. O diagnóstico final, então, é processo inflamatório dos rins. 4. Características da urina normal -coloração -âmbar ou palha -odor -moderado ou tolerável -vapor -moderado -bolhas -tamanho de pequenas ervilhas, moderada quantidade, espalhadas sobre a superfície, no máximo em duas camadas, não desaparecem instantaneamente nem permanecem completamente após a agitação -sedimentos -moderado, cobre a superfície -mucina -moderada -momento da -aproximadamente no mesmo momento em que a urina transformação se resfria -maneira como -da periferia para o centro ocorre -características pós- -clara, cor palha ou âmbar com moderada quantidade transformação de sedimentos. Clinicamente, uma urina saudável com todas as caracterís- ticas mencionadas é raramente encontrada. 52
  • 53. 5. Urina patológica Como a clínica médica tibetana é apresentada em termos dos três processos fisiopatológicos, as características da urina são classificadas de maneira similar. 5.1.Urina rLung: -coloração -azulada, aquosa e transparente -odor -leve ou ausente -vapor -moderado ou insignificante -bolhas -grandes como “olhos de búfalo”, permanecem por algum tempo após agitação e desaparecem entre bolhas de tamanho moderado que permanecem longo tempo dependendo da patologia. -sedimentos -geralmente nenhum, entretanto, em algumas doenças de rLung estão presentes depósitos semelhantes a fios de cabelo. -mucina -ausente Na determinação de uma doença de rLung, apesar de todas as características clínicas da urina serem importantes, a coloração e a estrutura das bolhas são as mais conclusivas. Apesar destas bolhas serem descritas como grandes, não significa que todas as bolhas sejam iguais. Melhor, a maioria das bolhas apresentam tamanho moderado (como ervilhas) e ao agitar a amostra surgem algumas poucas bolhas grandes entre estas. Quando a urina é azulada, clara e com a agitação surgem grandes bolhas que desa- parecem instantaneamente quando cessa, está indicando um pro- cesso inflamatório secundário. Isto é diagnosticado como rLung inflamatório. No entanto, quando a urina é clara e as bolhas per- manecem após a agitação, este é um caso de rLung não- inflamatório. Apesar de processos inflamatórios de rLung apresentarem eventualmente grande quantidade de bolhas, estas são mais trans- parentes do que nos casos de doença não-inflamatória de rLung e desaparecem de maneira errática. Nos casos de rLung não- inflamatório, as bolhas são densas tornando-se difícil ver o fundo do recipiente claramente e ao tentar retirar as bolhas do centro do mesmo com a varinha, as bolhas permanecem na superfície. 53